Estudando o Espiritismo

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domingo, 12 de dezembro de 2010

Ciência e Espiritismo


Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito: 2.1. Sentidos da Palavra Ciência; 2.2. Características da Ciência; 2.3. Algumas Definições. 3. Histórico. 4. Relação entre Ciência e Religião. 5. Ciência Espírita: 5.1. Ciência Natural e Ciência Espírita; 5.2. Experimentadores Espíritas. 6. Cultivo da Ciência Espírita. 7. Conclusão.  8. bibliografia Consultada
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é mostrar que a teoria espírita não parte de idéias preconcebidas e imaginárias; é fruto de um árduo trabalho de pesquisa das inter-relações entre matéria e Espírito. Para tanto, procede da mesma forma que a ciência natural. Para que possamos desenvolver as nossas idéias, preparamos um pequeno roteiro: conceito, histórico, relação entre ciência e religião,  ciência espírita e cultivo da ciência espírita.
2. CONCEITO
2.1. SENTIDOS DA PALAVRA CIÊNCIA
A palavra ciência é usada com diversas significações. Em sentido amplo, ciência significa simplesmente conhecimento, como na expressão tomar ciência disto ou daquilo; em sentido restrito, ciência não significa um conhecimento qualquer, e sim um conhecimento que não só apreende ou registra fatos, mas os demonstra pelas suas causas determinantes ou constitutivas. (Ruiz, 1979, p. 123)
2.2. CARACTERÍSTICAS DA CIÊNCIA
Cumpre observar que as definições de ciência são numerosas. Seria  mais coerente enumerar algumas de suas características, ou seja:
2.2.1. Conhecimento pelas causas
Ao contrário do conhecimento vulgar, o conhecimento científico implica em conhecer pelas causas. Se o cientista observa a chuva, ele quer saber porque chove, dispensando a influência dos deuses. Age da mesma forma com relação a um fato político. Com respeito ao aparecimento de Napoleão Bonaparte no quadro político internacional, o cientista não dirá simplesmente que Napoleão fora um gênio militar, mas procurará as causas políticas e econômicas que o fizeram emergir no cenário mundial.  
2.2.2. Profundidade e generalidade de suas condições
O conhecimento pelas causas é o modo mais íntimo e profundo de se atingir o real. A ciência não se contenta em registrar fatos, quer também verificar a sua regularidade, a sua coerência lógica, a sua previsão etc. A ciência generaliza porque atinge a constituição íntima e a causa comum a todos os fenômenos da mesma espécie. A validade universal dos enunciados científicos confere à ciência a prerrogativa de fazer prognósticos seguros.
2.2.3. Objeto formal
A finalidade da ciência é manifestar a evidência dos fatos e não das idéias. Procede por via experimental, indutiva, objetiva; suas demonstrações consistem na apresentação das causas físicas determinantes ou constitutivas das realidades experimentalmente controladas. Não se submete a argumentos de autoridade, mas tão-somente à evidência dos fatos.
2.2.4. Controle dos fatos
Ao utilizar a observação, a experiência e os testes estatísticos tenta dar um caráter de exatidão aos fatos. Embora os enunciados científicos possam ser passíveis de revisões pela sua natureza “tentativa”, no seu estado atual de desenvolvimento, a ciência fixa degraus sólidos na subida para o integral conhecimento da realidade. (Ruiz, 1979, p. 124 a 126)
2.3. ALGUMAS DEFINIÇÕES
  • Conhecimento certo do real pelas suas causas.
  • Conjunto orgânico de conclusões certas e gerais metodicamente
  •  demonstradas e relacionadas com objeto determinado.
  • Atividade que se propõe demonstrar a verdade dos fatos experimentais e suas aplicações práticas.
  • Estudo de problemas solúveis, mediante método científico.
  • Conjunto de conhecimentos organizados relativos a uma determinada matéria, comprovados empiricamente. (Ruiz, 1979, p. 126)
3. HISTÓRICO
Garcia Morente, em Fundamentos de Filosofia, ao analisar o conceito de filosofia através dos tempos, conduz-nos à origem da ciência. Diz-nos ele que todo o conhecimento desde a Antigüidade clássica até a Idade Média era entendido como sendo filosófico. Somente a partir do século XVII, o campo imenso da filosofia começa a partir-se. Começam a sair do seio da filosofia as ciências particulares, não somente porque essas ciências vão se constituindo com seu objeto próprio, seus métodos próprios e seus progressos próprios, como também porque pouco a pouco os cultivadores vão igualmente se especializando. (1970, p. 28)
Devemos deixar claro que as ciências, por essa mesma razão se completam e uma necessita da outra. Observe que a Astronomia, a primeira das ciências, só atingiu a maioridade, depois que a Física veio revelar a lei de forças dos agentes naturais.
O Espiritismo entra nesse processo histórico dentro de uma característica sui generis, ou seja, enquanto a ciência propicia a revolução material, o Espiritismo deve propiciar a revolução moral. É que Espiritismo e Ciência se completam reciprocamente; a Ciência, sem o Espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação. O estudo das leis da matéria tinha que preceder o da espiritualidade, porque a matéria é que primeiro fere os sentidos. Se o Espiritismo tivesse vindo antes das descobertas científicas, teria abortado, como tudo quanto surge antes do tempo. (Kardec, 1975, p. 21)
4. RELAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO
A estrutura do pensamento na Idade Média estava condicionada à Escolástica, movimento filosófico religioso, que submetia a razão à fé. Havia tamanha ingerência da Igreja nas questões sociais, políticas e econômicas, que por qualquer desvio da ordem preestabelecida, muitos acabavam pagando com a própria vida por tal heresia. Acontece que as coisas se modificam e a verdade acaba por vencer os erros da ignorância.  
Galileu, em 1609, constrói o telescópio e, com isso, muda radicalmente a visão do homem quanto ao Universo e à própria vida. Porém, o Santo Ofício contrapunha: o telescópio poderia, com efeito, revelar coisas inacessíveis à vista desarmada. Mas revelava-as, no dizer dos críticos, por mediação do demônio: era uma forma de magia e, por isso, fundamentalmente uma ilusão. Copérnico, Kepler e Galileu estavam a transformar o mundo visível num jogo de sombras. O Sol não se movia, a Terra sim, o céu tinha fantasmas escondidos. (Bronowski, 1988, p. 138)
Dizia Galileu acerca do uso de citações bíblicas nos assuntos da Ciência: “Parece-me que na discussão de problemas naturais, não devemos começar pela autoridade de passagens da Escritura, mas por experiências sensíveis e demonstrações necessárias. Pois, quer a Sagrada Escritura, quer a natureza, procedem ambas da Palavra Divina. (Bronowski, 1988, p. 140)
A consciência religiosa impregna-se de tal maneira em nosso psiquismo que não somos capazes de mudá-la a contento. Observe a perseguição que Calvino imputou a Serveto, médico e cientista que vivia em França, e que escreveu um livro atacando a doutrina ortodoxa da Trindade. A fúria de Calvino foi a ponto de, sendo ele mesmo herético da Igreja Católica, ter secretamente acusado Serveto de heresia junto da Inquisição católica da França. Embora o seu livro não tivesse sido escrito nem publicado em Genebra, Calvino prendeu Serveto e queimou-o na Fogueira. (Bronowski, 1988, p. 110)
Essa divergência entre ciência e religião continua ainda nos dias que correm. Contudo, de acordo com Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, a Ciência e a Religião não puderam se entender até hoje, porque, cada uma examinando as coisas sob seu ponto de vista exclusivo, se repeliam mutuamente. Seria preciso alguma coisa para preencher o vazio que as separava, um traço de união que as aproximasse; esse traço de união está no conhecimento das leis que regem o mundo espiritual e suas relações com o mundo corporal, leis tão imutáveis como as que regem o movimento dos astros e a existência dos seres. Essas relações, uma vez constatadas pela experiência, uma luz nova se fez: a fé se dirigiu à razão e a razão não tendo encontrado nada de ilógico na fé, o materialismo foi vencido. (1984, p. 37)
5. CIÊNCIA ESPÍRITA
5.1. CIÊNCIA NATURAL E CIÊNCIA ESPÍRITA
As Ciências Naturais, com o passar do tempo, deixaram de ser dogmáticas para serem teóricas experimentais. Elas tornam-se positivas, ou seja, baseiam-se em fatos. Uma determinada teoria só existirá como lei se comprovada pelos fatos. O Espiritismo não foge a essa regra e age da mesma sorte. Assim:
Ciência Natural: o conhecimento é fundamentado na observação e experiência. Formulam-se HIPÓTESES baseadas na percepção sensorial. Sobre as hipóteses estabelecem-se, dedutivamente CONSEQÜÊNCIAS. As conseqüências serão aceitas como verdadeiras, se confirmadas pela observação e experiência — pela percepção sensorial.
Ciência Espírita: o conhecimento é fundamentado na observação e experiência mediúnicas. Formulam-se HIPÓTESES baseadas na mediunidade. Sobre as hipóteses estabelecem-se, dedutivamente CONSEQÜÊNCIAS. As conseqüências serão aceitas como verdadeiras, se confirmadas pela observação e experiência mediúnicas — pela mediunidade.
O procedimento é idêntico. A diferença consiste na natureza das percepções consideradas. Desde que fique certificado que as percepções sensoriais e as percepções mediúnicas têm a mesma validade, o conhecimento é igualmente válido. (Curti, 1981, p. 17)
5.2. EXPERIMENTADORES ESPÍRITAS
W. Crookes falecido em 1910 inicia a era científica do Espiritismo com as suas célebres experiências realizadas de 1870 a 1874, com os médiuns Dunglas Home, Kate Fox e Florence Cook, tendo obtido a materialização completa, integral, de um Espírito falecido numa recuada época, katie King, que Crookes estudou durante três anos consecutivos, em colaboração com outros sábios ingleses, fato que teve uma repercussão mundial. Empregou método rigorosamente científico, inventando e adaptando variados aparelhos registradores. (Freire, 1955, p. 95)
Gabriel Dellane em O Fenômeno Espírita relata a criação de vários aparelhos medidores da força psíquica. A experiência de Robert Hare é sugestiva: “A longa extremidade de uma prancha foi presa a uma balança espiral, com um indicador fixo para marcar o peso. A mão do médium foi colocada sobre a outra extremidade da prancha, de modo que, qualquer pressão que houvesse, não pudesse ser exercida para baixo; mas, pelo contrário, produzisse efeito oposto, isto é, suspendesse a outra extremidade. Com grande surpresa sua, esta extremidade desceu, aumentando assim o peso de algumas libras na balança”. (1990, p. 66)
Não são poucos os nomes ligados à experimentação espírita. Cabe destacar que a maioria deles foram ao fenômeno para desmascarar os médiuns, chamados de embusteiros. Como eram cientistas e valiam-se dos fatos, acabaram sendo convencidos pela verdade mediúnica.
Os ingleses, por exemplo,  tem um aparelho, baseado nos eletroencefalogramas, destinado a medir as vibrações dos neurônios cerebrais quando um indivíduo está em transe, e verificar se se trata de fenômenos anímicos ou da inteligência de uma outra mente.
6. CULTIVO DA CIÊNCIA ESPÍRITA
  • A conquista dos segredos da natureza exige pesquisa paciente e metódica. Ninguém pretenda alcançar o conhecimento das leis naturais, agindo atabalhoadamente, sem um roteiro, sem um sistema racional, sem um método.
  • O método não significa exclusivamente ordem. Faz, também, parte integrante dele a honestidade, o amor à verdade, o equilíbrio emocional, a ausência de prejuízos doutrinários e muitas outras atitudes positivas devem aureolar o verdadeiro investigador. 
  • Lembremo-nos de que o maior inimigo do pesquisador espírita é, sem dúvida, o seu emocional, carregado muitas vezes do pensamento mágico.
  • Toda experiência carece ser cuidadosamente planejada e seus resultados submetidos a rigorosa análise. Ao legítimo pesquisador não interessa seja confirmada este ou aquele ponto vista, e sim revelado qual o que está certo. Para ele só há um objetivo: a verdade.
  • Toda experimentação precisa ser repetida um grande número de vezes, e seus resultados convém anotados cuidadosamente para posterior tratamento estatístico.
  • O Pesquisador científico do Espiritismo deve ter conhecimento das Ciências Naturais e da matemática. (Andrade, 1960, cap. II)
  • Não se aprende a ciência espírita sem tempo para reflexão. Por isso, nada de precipitação. O correto é aplicar-se de maneira exaustiva, excluir toda a influência material, e observar criteriosamente os fenômenos, tanto os bons quanto os maus.
7. CONCLUSÃO
A ciência aumentou sobremaneira a capacidade de instrumentalização do homem. Desenvolvendo tecnologias avançadas, liberou a mão de obra para atuar na área de serviços e pesquisas científicas. À medida que a ciência avança, o indivíduo fica com mais tempo livre. Os princípios espíritas auxiliam não só a dar uma direção ao tempo livre do homem como também na criação e na utilização da nova tecnologia. Sem uma clara distinção entre o bem e o mal, podemos enveredar todo o nosso progresso científico para a destruição  do nosso planeta.
O Espiritismo surgiu no momento oportuno, quando as ciências já tinham desenvolvido o método teórico-experimental, facilitando a sua aceitação com mais naturalidade. Sabe-se que cada um deve progredir por si mesmo, descobrindo as suas próprias verdades. Porém, a presença de um professor diminui o tempo que levaríamos, caso quiséssemos descobrir tudo por nós mesmos. O Espiritismo é esse professor que nos estimula o pensamento na busca da verdade e na prática da caridade como meio de salvação de nossas almas.
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ANDRADE, H. G. Novos Rumos à Experimentação Espirítica. São Paulo, Livraria Batuíra,1960.
BRONOWSKI, J. e MAZLICHE, ___. A Tradição Intelectual do Ocidente. Lisboa, Edições 70, 1988.
CURTI, R. Espiritismo e Reforma Íntima. 3. ed., São Paulo, FEESP, 1981.
DELANNE, G. O Fenômeno Espírita. 5. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1990.
FREIRE, J. Ciência e Espiritismo (Da Sabedoria Antiga à Época Contemporânea). 2 ed., Rio de Janeiro, FEB, 1955.
GARCIA MORENTE, M. Fundamentos de Filosofia - Lições Preliminares. 4. ed., São Paulo, Mestre Jou, 1970.
KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1976.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.
RUIZ, J. A. Metodologia Científica - Guia para Eficiência nos Estudos. São Paulo, Atlas, 1979.
São Paulo, 05/11/1995

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