Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

15ª. AULA REFLEXO CONDICIONADO



I - PEDAGOGIA SITUADA
Se atentarmos para as nossas vivências do dia-a-dia, veremos que nossa vida constitui-se de uma contínua aquisição de hábitos, que acabam por condicionar-nos, moldando assim nossos pensamentos, nossas ações, nossa personalidade, determinando assim todo o nosso ser. No dia-a-dia infinitas sugestões do meio em que vivemos encorajam essa ou aquela ligação, esse ou aquele hábito. O discernimento deve ser assim, usado por nós à feição de leme, para que possamos orientar nosso ser, e não sermos dirigidos, condicionados pelo exterior.
II - POR QUE SUPERAR
Toda mente vibra de acordo com estímulos com os quais se identifica. Dessa forma geramos e exteriorizamos infinito potencial de forças eletromagnéticas que atuam sobre mentes que se identifiquem conosco, e nelas recolhemos ao mesmo tempo o que lhes é característico. Nessa exteriorízação de ondas atingimos a terceiros e sobretudo impregnamos nosso próprio ser. Grande é nossa responsabilidade perante os outros como para conosco mesmos. Importa, pois, ter o discernimento necessário no sentido de descondicionar eventuais hábitos ou pensamentos, ligados, por vezes mesmo inconscientemente a sugestões nocivas, assim como criar hábitos salutares que levem a fortalecer nossa postura interior, elevando-a, sublimando-a.
III - EM QUE CONSISTE
Recorramos a célebre teoria de Pavlov: em uma de suas experiências com cães, apresentou-lhes um pedaço de carne, diante do qual os cães não segregavam saliva, senão quando a carne lhes fora colocada na boca. No entanto, após repetidas experiências, os animais acabaram por formar a mencionada secreção na boca, sempre que o alimento lhes fosse apresentado à vista ou ao olfato.
Existe, assim, dois tipos de reflexos: reflexos congênitos, que no caso dos cães seria o patelar, por exemplo, e o reflexo condicionado ou adquirido que seria a reação desencadeada pelo hábito.
Com relação aos reflexos congênitos ou incondicionados, no caso do ser humano, temos por exemplo os reflexos alimentares, posturais, sexuais, detentores das vias nervosas próprias. São aqueles que permanecem em nosso perispírito no decorrer das experiências nas várias instâncias da natureza, Os reflexos condicionados ou adquiridos são aqueles que não surgem espontaneamente, mas sim conquistados pele psiquismo no curso da existência.
Os reflexos adquiridos ou condicionados, que se utilizam da intervenção necessária do córtex cerebral, desenvolvem-se sobre os reflexos preexistentes, à maneira de construções emocionais, por vezes instáveis, e sobre os alicerces das vias nervosas, que pertencem aos seguros reflexos congênitos ou absolutos. (André Luiz, in Mecanismos da Mediunidade, p. 92)
Percebemos assim, que os princípios da reflexão podem ser aplicados aos reflexos psíquicos. No caso do cão, por exemplo, o alimentar-se é um hábito, porém, um reflexo necessário, já o preferir carne é um hábito adquirido, formando novas impressões sobre um campo de sensações naturalmente consolidadas. É assim que os reflexos congênitos podem tornar-se condicionados, por mecanismos de associação. É assim, igualmente, que nossas paixões naturais, enquanto reflexos congênitos, podem tornar-se condicionamentos, gerando portanto os chamados vícios, a que já nos referimos no início deste trabalho. O que são os vícios senão nossos reflexos congênitos condicionados ao apego, gerados ou associados a situações repetidas do passado? O que são nossas fixações mentais senão condicionamentos psíquico-emocionais? E a quantas situações não condicionamos nossa forma de ser no dia-a-dia?
"Todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo." (Jo., 8 :34)
É ainda por falta de discernimento e senso crítico que vivenciamos por tanto tempo o mito, que nada mais é que auto-sugestão, um condicionamento de nosso interior ao exterior, quais talismãs, objetos sagrados, rituais, etc.
É importante, portanto, atentarmos conscientemente, racionalmente, a que tipo de hábitos mentais ou condicionamentos estamos cedendo, a quais estímulos estamos aderindo, pois na verdade, todo condicionamento é gerado por agentes de indução:
Uma conversação, essa ou aquela leitura, a contemplação de um quadro, a idéia voltada para certo assunto, um espetáculo artístico, uma visita efetuada ou recebida, um conselho ou uma opinião representam agentes de indução, que variam segundo a natureza que lhes é característica, com resultados tanto mais amplos quanto maior se nos faça a fixação mental ao redor deles. (André Luiz, in Op. cit., p. 94)
IV - COMO SUPERAR
Diante disso tudo, fica evidente a necessidade de empregarmos o livre-arbítrio que caracteriza nossa natureza espiritual, não somente no sentido de sermos livres para escolher, mas para discernir entre o certo e o errado, de forma a libertar, engrandecer verdadeiramente o espírito.
É importante, por outro lado, não somente descondicionar nosso psiquismo, superando maus hábitos, tendências e viciações, mas antes torná-lo incondicionado por uma vivência de ordem superior, ou seja, impregnar nosso ser com hábitos e comportamentos salutares, gerados por estímulos superiores quais, conversas elevadas, a reflexão e a leitura, bons pensamentos, a oração, trabalhos de doação contínua, etc.
a) CONVERSAÇÃO ELEVADA
"O que sai da boca procede do coração, e isso contamina o homem". (Mt, 15:18)
É razoável não impedir o próximo de falar aquilo que lhe pareça conveniente, no entanto é importante reter apenas o que nos é útil e necessário. Em todos os momentos convivemos com pessoas, e todas elas são portadoras de mensagens pessoais. Se o mensageiro não traz solicitações ao bem, convém negar-lhe ouvidos.
Por outro lado, sabemos que o verbo é criador, e a alegria ou a elevação semeada volta em ondas invisíveis a reconfortar a fronte que o emite. Há imponderáveis energias edificantes geradas pelos bons pensamentos que iluminam o ambiente. É imprescindível vigiar a conversa que entretemos, pois os elementos psíquicos que exteriorizamos permanecem em nós mesmos. A palavra sempre procede de nosso coração, de nossa condição espiritual e por isso contamina a nós mesmos.
b) REFLEXÃO E LEITURAS ELEVADAS
Quase sempre os pensamentos bailam, a imaginação voa, explorando as esferas de atração. O hábito da leitura edificante sempre é salutar ao espírito, como meio de sintonia. Com mentes nobres que levam a fortalecer, a engrandecer nosso interior e nosso senso moral.
Além disso, a meditação, a reflexão, formam correntes ascensionais, que estabelecem a ligação com planos superiores, impregnando-nos com eflúvios divinos. Com o exercício, com o hábito, o ser interno vai pouco a pouco iluminando-se e descobrindo sentimentos e forças inusitadas.
c) TRABALHO E DOAÇÃO CONTíNUA
Através do trabalho somos induzidos, pelo próprio exercício do amor, à automatização do bem proceder. Do mesmo modo como os hábitos nocivos nos induzem a reflexos condicionados, o contínuo modelar de nossas atitudes no bem gera, com o tempo, comportamentos elevados de forma natural e espontânea, sem maiores esforços. Reagimos evangelicamente porque já automatizamos hábitos salutares, resultantes de nossas construções íntimas, elaboradas conscientemente.
A caridade é a maior forma de educar nosso íntimo, livrando-o das amarras forjadas pelo nosso próprio psiquismo. Renova-se a nossa existência pelo bom ânimo da consciência feliz e pela alegria interior do exercício do amor. Passamos a canalizar energias interiores, que por vezes eram desperdiçadas nos viciamentos e condicionamentos da imaginação doentia. O hábito, o treinamento da benevolência, do desejo sincero do bem, da doçura, são virtudes que só adquiriremos no próprio exercício das mesmas. É assim que, descondicionar o espírito consiste em vivenciar o bem, não por obrigação ou submissão, mas espontaneamente. E a espontaneidade só se dá a partir da regularidade com que nos dedicamos ao bem. É assim que o trabalho de reforma íntima só será efetivo quando gerado pela aplicação constante da caridade, pois só o amor, dinamizado pela razão descondiciona.

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