I - PEDAGOGIA EM SITUAÇÃO
É incrível em nossos dias a crescente onda de violência entre as criaturas, a reagirem por nada, sacando uma arma e cometendo, até involuntariamente, trágicos crimes - nas ruas, no trânsito, até mesmo nos meios familiares.
E como se não bastasse, o assunto é explorado pela imprensa; rádios e emissoras de televisão, nas disputas de maiores audiências, além de ocuparem os temas preferidos nos filmes policiais e de guerra.
Somos induzidos, portanto, por essas imagens, emoções fortes, que fixam-se no subconsciente, e que tanto influenciam nosso estado de espírito, assim como nossas atitudes. Importa a nós, que buscamos viver uma conduta cristã, dar testemunhos de brandura, de compreensão e de perdão, contribuindo assim para o meio em que vivemos e para nossa própria felicidade.
O ÓDIO
II - O QUE É ÓDIO?
O ódio é uma manifestação dos sentimentos ainda primitivos do homem natural ou animal, que ainda guarda no espírito resquícios do instinto de conservação, sob as formas de defesa, de resistência. Se em seu estado natural, primeiro, o homem reagia fisicamente à agressão exterior, esta reação agora transferiu-se para questões morais: não reagimos apenas a agressões físicas, mas a toda situação em que nosso amor próprio for ferido.
III - CAUSAS
a) Em geral, o ódio é despertado por humilhações sofridas, ou quando injustiçados, maltratados, traídos no afeto, na confiança, ou quando ofendidos. São as maneiras de não aceitação das ofensas recebidas. Atingidos em nosso orgulho, sentimo-nos assim e permanecemos, então, ruminando inconformações. - É o amor-próprio ferido.
b) Existe ainda casos de antipatia irrefletida, indecifrável, que por vezes sentimos, e que explicam ódios recônditos de outras existências.
c) As manifestações de ódio são ainda sempre intensificadas por espíritos inferiores, toda vez que abrimos campo para infiltrações maldosas, ou descemos nosso nível vibratório ao alcance deles.
IV - CONSEQÜÊNCIAS
Os sentimentos decorrentes do ódio são, primeiramente o rancor, que é a própria permanência dele; ficamos alimentando sentimentos contra alguém, nas promessas feitas a nós mesmos de revide. Em segundo lugar surge a própria vingança, seja através de pensamentos, palavras ou atos.
Não nos deixemos levar ou iludir por essas manifestações desavisadas. Elas são ainda modos de expressão do ódio que está nos corroendo, e tais sentimentos acabam por desagregar nossa própria resistência.
V - POR QUE SUPERAR?
Se ponderasse que a cólera nada soluciona, que lhe altera a saúde e compromete a sua própria vida, reconheceria ser ele próprio a sua primeira vitima. Mas, outra consideração, sobretudo, deveria contê-lo, a de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não sentirá remorsos por fazer sofrer as pessoas que ama? (E.S.E., Cap. IX, item 9)
É muito infeliz aquele que necessita odiar. E quão feliz é aquele que ama, que vive essa alegria interior, e a faz esparzir a todos ao seu redor. O ódio é tão contrário à nossa natureza, que suas pesadas vibrações acabam por afetar nossa própria saúde. A maior parte das doenças não está no físico, mas é causada pelos próprios sentimentos negativos que alimentamos.
Na referida passagem evangélica fica ainda clara, em especial, a alusão àqueles que são benignos fora de casa, mas verdadeiros tiranos domésticos, que fazem os subordinados suportarem o peso de seu orgulho e de seu autoritarismo. Já aquele, cujos sentimentos não são fingidos, jamais se desmente. Pode-se enganar os homens, mas não a Deus e nem à própria consciência.
Em suma, a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede de fazer muito bem e pode levar à prática de muito mal. Isto deve ser suficiente para induzir o homem a esforçar-se para dominá-la. O espírita é concitado a isso ainda por outro motivo: o de que a cólera é contrária à caridade e à humildade cristãs. (ESE, Cap. IX, item 9)
A maioria de nós homens tem momentos de fraqueza, em que vivenciamos por vezes sentimentos negativos, nas situações até mais insignificantes. No entanto, essas vivências não excluem a possibilidade de o indivíduo ser virtuoso ou de possuir até um coração amoroso. O ódio, porém, constitui o maior obstáculo ao amor, e portanto o maior obstáculo à felicidade. Por vezes, desperdiçamos momentos ricos de iluminação interior, por vezes desperdiçamos toda uma vida mantendo-nos imantados a alguém pelo sentimento de ódio. Importa, pois, superar esse sentimento contrário à principal lei que rege as relações entre os homens: a lei do amor.
VI - COMO SUPERAR?
1) NO CASO DOS PENSAMENTOS
Buscando afastar de nossos pensamentos as idéias de revide os planos de vingança, os propósitos de reivindicar direitos por ofensas injustas. Para tanto, devemos alimentar os nossos pensamentos com idéias de compreensão, de tolerância, de perdão, de renúncia. Buscar desarmar os revides que estamos lançando ao próximo. Não importa qual será a reação de nosso opositor, importa o que se passa dentro de nós.
2) NO CAMPO DAS PALAVRAS
E o que dísser a seu írmão: racca, será réu no conselho. (Mt, 5: 22)
Conter as palavras que podem ser pronunciadas com resquícios de ódio, rancor, é o grande desafio para aqueles que buscam uma conduta pautada segundo os moldes evangélicos. Importa lembrar que as palavras são emitidas carregadas da vibração daquele que emite e podemos comprometer seriamente nosso próximo. Podemos incluir no campo das palavras o silenciar na hora propícia. É melhor arrepender-se por algo que deixamos de falar do que por algo que já foi dito, e não poderrmos mais voltar atrás.
Mas, por que uma simples palavra pode ter tamanha gravidade, para merecer tão severa reprovação?
- É que toda palavra ofensiva expríme um sentímento contrário à leí de amor e carídade, que deve regular as relações entre os homens, mantendo a uníão e a concórdia. (ESE, Cap. IX, item 4)
3) NO CAMPO DOS SENTIMENTOS
Bem-aventurados os mansos, porque eles possuirão a Terra. (Mt., 5:5)
Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus. (Mt., 5:9)
Por estas máximas, Jesus estabeleceu como Lei a doçura, a mansuetude, a afabilidade e a paciência. E, por conseqüência, condenou a violência, a cólera, e toda expressão descortês para com os semelhantes. (E.S.E., Cap. IX, item 4)
Mas por que a doçura e afabilidade são consideradas virtudes? Porque a doçura é uma força (virtus); é força em estado de paz, força tranqüila e doce, cheia de paciência e de mansuetude. É uma coragem sem violência, uma força sem dureza, é amor em estado de paz, mesmo na guerra, tanto mais forte quanto mais sustenta os combates. O ódio é uma fraqueza, mas o amor é força (virtus).
No entanto, não se confunda os pacíficos a que Jesus se refere com "pacifistas": os primeiros gostam da paz e estão dispostos a defendê-la, inclusive mediante a força, já os pacifistas recusam toda guerra. Não se deve portanto confundir a doçura com passividade, mas antes como poder sobre si, força interior - o que só se descobre na ação.
O PERDÃO
I - PEDAGOGIA EM SITUAÇÃO
Perdoar é um grande desafio para todos nós, nas menores coisas que nos envolvem; alguém nos resvala por descuido na rua, já recebe nossa reclamação; aquele que toma a frente na fila do ônibus é logo puxado para trás; um cumprimento menos atencioso do vizinho já nos torna inimigos ferrenhos.
Centralizamos em nós mesmos a importância de tudo e não percebemos o sentido coletivo da nossa existência. É sempre o eu, o meu, em mim, ou seja, o egocentrismo.
II - CONTEÚDO
Se perdoardes aos homens as ofensas que vos fazem, também vosso Pai Celestial vos perdoará os vossos pecados. (Mt., 6: 14)
O perdão é complemento da mansuetude, pois os que não são mansos e pacíficos não conseguem perdoar. Geralmente aquele que não consegue perdoar é uma alma sempre inquieta, insatisfeita consigo mesma, de uma sensibilidade amargurada. Aquele que perdoa é calmo, liberto, cheio de mansuetude. Perdoar alguém é receber perdão do Pai, pois libertamos a nós mesmos perante Deus.
Espiritas, não esqueçais nunca que, tanto por palavras como por atos, o perdão das Injúrias não deve ser uma expressão vazia. Pois se vos dizeis espiritas sede-o de fato: esquecei o mal que vos tenham feito, e pensai apenas numa coisa: no bem que possais fazer. (ESE., Cap. X, item 14)
Mas há duas maneiras bem diferentes de perdoar: há o perdão dos lábios e o perdão do coração (E.S.E., Cap. X, item 15). Muitos dizem "eu perdôo, mas nunca esqueço do que ele me fez." Ora, este não é o verdadeiro perdão. O que é, de fato, perdoar?
Segundo a referida passagem do Evangelho, o verdadeiro perdão consiste em esquecer o mal que nos tenham feito. No entanto, não podemos entender o "esquecimento" a que o Evangelho nos convida como o fato de "apagar as faltas" de alguém, pois não podemos considerar o que já aconteceu como anulado, como se não tivesse acontecido. Perdoar não é apagar os fatos, mas apagar o sentimento negativo em nós, ou seja, o verdadeiro perdão consiste em cessar de odiar. Perdão é a "virtus" que triunfa sobre o ódio, sobre o rancor. Perdoar é renunciar à vingança, é deixar de odiar, e por isso, quem ama verdadeiramente nem precisa perdoar, pois nunca se magoa. "O que você não me perdoaria?" Pergunta o garotinho ao pai. E o pai não encontra nada. Os pais, por exemplo, por amar os filhos não têm o que perdoar, pois o amor toma o lugar do perdão. Jesus era consumido por um amor, mas um amor universal, e por isso dizia, mesmo ao sua vida ser sacrificada:
"Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem. " (Lc., 23 :34)
Jesus nada tinha a perdoar, pois ele não tinha ódio no coração. Mesmo sendo vítima da injustiça e de agressão, em nenhum momento ele foi conduzido pelo pensamento do mal, do rancor; ao contrário, compreendia, e por isso rogava à própria justiça divina que os perdoasse.
Se ainda não conseguimos vivenciar esse amor incondicional qual Jesus, busquemos pelo menos combater o ódio em nós. Na impossibilidade de vencermos o ódio em nossos agressores, busquemos pelo menos dominar a nós mesmos. O amor é uma alegria, mas o ódio é uma tristeza a mais, e não no culpado, mas em quem a sente.
No entanto ... se por vezes fracos, aprendamos a nos perdoar também !
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