Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A CONFERÊNCIA DE BEZERRA DE MENEZES



Na primeira noite após o memorável Congresso Espírita Brasileiro (1), fomos convocados para ouvir a palavra sóbria e cândida do paladino da unificação, Bezerra de Menezes, em ativo núcleo de nosso plano destinado aos empreendimentos voltados para o Consolador.

Ainda invadidos pelos sentimentos sublimes despertados pelo inesquecível conclave ora encerrado na cidade de Goiânia, trazíamos nossa mente imersa em profundas meditações acerca do quanto a ser feito ante as perspectivas descerradas.
No momento azado, dirigimo-nos para o salão onde se daria o conclave. Chegamos minutos antes no intuito de rever companheiros queridos que labutavam em plagas distantes e que, a convite de Bezerra, mantiveram-se ali após o congresso exclusivamente para ouvir-lhe a palestra.
A lotação era para cinco mil participantes e não havia lugares desocupados. Eram os trabalhadores do evento ora realizado, militantes da Seara em outros continentes, poetas, educadores, seareiros dos primeiros tempos, personagens da história brasileira, enfim, grupo imenso; todos comprometidos com os destinos do Espiritismo. Representações de caravaneiros de todos os estados brasileiros e dos países participantes do magno evento também estavam presentes, além dos servidores anônimos que se prestaram aos mais variados serviços de amparo e defesa pelo bem da tarefa concluída no plano físico.
Seria impossível relacionar todos, mas com intuitos que atendem a nossas ponderações do momento destacamos a presença de Robert Owen (o filho), César Lombroso, Humberto Mariotti, Milton O'Relley, Anita Garibaldi, Helena Antipoff, Edgard Armond, Torteroli, Jean Baptiste Roustaing, Benedita Fernandes, Deolindo Amorim, Herculano Pires, Carlos Imbassahy, Freitas Nobre, Toulosse Lautrec, Tarsila do Amaral, Frederico Fígner, Cassimiro de Abreu, Olavo Bilac, Castro Alves, Antônio Wantuil de Freitas, Alziro Zarur, Rui Barbosa, Antônio Luiz Sayão, Antônio Olímpio Telles de Menezes, Cairbar Schutel.
Fomos chamados para o instante aguardado. Uma pequena e singela mesa com um belíssimo ornamento de flores embelezava o palco ao lado de potente aparelho sonoro dirigido ao grande público presente. Tudo guardando extrema simplicidade. Sem cerimônias e delongas, após oração comovida por parte de nosso condutor é passada a oportunidade ao imbatível “médico dos pobres”(2):
UM NOVO TEMPO PARA O MOVIMENTO ESPÍRITA
Irmãos, Jesus seja nossa inspiração e Kardec a luz de nossos raciocínios.
O cinqüentenário do acordo de unificação, o Pacto Áureo, ainda agora enaltecido pela comunidade espírita mundial, é vitória de incomensurável quilate espiritual para a glória do Espiritismo. Os esforços não foram em vão.
Passado o conclave nosso olhar se volta, mais que nunca, para o futuro.
Sem demérito de qualquer espécie a corações que têm feito o melhor que podem, os que aqui se encontram presentes conhecem de perto a extensão das necessidades com as quais estamos lidando.
E ainda agora, enquanto muitos se encontram inebriados com a nobre comemoração face às conquistas logradas em meio século de serviço austero, atentemos para o quanto nos falta caminhar, a fim de merecermos com justiça o título de Cristãos da nova era.
EVOLUÇÃO CRONOLÓGICA DAS IDÉIAS ESPÍRITAS
Desde as primeiras idéias para a formação das bases organizativas do movimento, são passados quase cem anos. O progresso é evidente.
Entretanto, não será demais e insano afirmar que, a despeito das conquistas, encontramo-nos na infância de nosso movimento libertador ante a envergadura da missão a nós confiada na humanidade.
A progressão do ideário espírita está em boas mãos e a Falange Verdade continua o programa com sucesso, não obstante os empecilhos que são variados.
Inteiremo-nos com acerto sobre o que o momento espera de todos e façamos o que for preciso, a fim de impedirmos o prolongamento da conveniência prejudicial ao prosseguimento de planos maiores.
Os primeiros setenta anos do Espiritismo constituíram o período da consagração das origens e das bases em que se assentam a Doutrina, que lhe conferiram legitimidade. Heróis da tenacidade e fibra moral, dispostos a imolar-se pela causa, venceram o preconceito do tempo e a pressão da inferioridade humana no resguardo e defesa da empreitada de Allan Kardec. O último lance que delimitou esse período foi o Congresso Internacional de Espiritismo realizado em Paris (3), onde o arauto do bem, Leon Dénis, suportou a lâmina sutil da mentira e consolidou o perfil definitivo do Espiritismo como Doutrina dos Espíritos, eximindo-a de desfigurações que em muito prejudicariam sua feição educativa e conscientizadora.
O segundo período de mais setenta anos, que coincide com o fechamento do século e do milênio, foi o tempo da proliferação. Uma idéia universal jamais poderia ficar confinada a grupos de estudo ou experimentos da fenomenologia mediúnica de materialização; fazia-se necessária a intensificação dos conhecimentos dentro de um crescimento ordenado e defensivo na elaboração de um perfil filosófico. Eis o mérito das entidades promotoras da unificação e da multiplicação de centros espíritas. Sob o regime de controle e zelo foram predicados os seus objetivos primaciais. A literatura subsidiária provocou o questionamento, a discussão, o estudo, e com isso o aprendizado dilatou-se.
A primeira etapa consagrou o Espiritismo como ideário do bem, atraindo a simpatia e superando o preconceito; a segunda ensejou a difusão. Penetramos agora o terceiro portal de mais setenta anos, etapa na qual pretende-se a maioridade das idéias espíritas
É necessário atestar a vitalidade dos postulados espiritistas como alavanca de transformações sociais e humanas. Sua influência na cultura, nas artes, na ciência, nas leis, na filosofia e na religião conduzirá as comunidades, que lhe absorverem os princípios, a novos rumos para o bem do homem através da mudança do próprio homem.
Esse novo tempo deverá, igualmente, conduzir a efeitos salutares a nossa coletividade espírita, criando entre nós, seus adeptos, o período da atitude. O velho discurso sem prática deverá ser substituído por efetiva renovação pela educação moral. É a etapa da fraternidade na qual a ética do amor será eleita como meta essencial, e a educação como o passo seguro na direção de nossas finalidades.
Jesus definiu seus discípulos por muito se amarem, o Espírito Verdade assinalou o “amai-vos e instrui-vos” como plataforma do verdadeiro espírita, e esses ensinos deverão constituir a base do programa transformador para nossas metas ante a era nova.
Assim como nas demais fases foram programadas reencarnações missionárias, a exemplo do que sucedeu no iniciar dos séculos XIX e XX, igualmente se apronta uma geração nova para os novéis ofícios da causa, dentre os quais muitos de vós aqui presentes estão esclarecidos sobre seu auspicioso retorno às fileiras do Consolador em missões de solidariedade e renovação, enquanto os que guardam maiores compromissos na vida extra-física estão conscientes dos desafios que a todos nos esperam.
Descrevamos algo de essencial acerca dessas batalhas que enfrentaremos, para não localizarmos o “joio” onde está o “trigo” e definirmos melhor as estratégias de ação.
NOSSO MAIOR INIMIGO: O ORGULHO
Afirmamos outrora que o serviço da unificação é urgente, porém, não apressado(4). Verificamos no tempo que alguns corações sinceros e leais, entretanto, sem larga vivência espiritual, inspirados em nossa fala, elegeram a lentidão em nome da prudência e a acomodação passou a chamar-se zelo, cadenciando o ritmo das realizações necessárias ao talante de propósitos personalistas na esfera das responsabilidades comunitárias. O receio da delegação, a pretexto de ordem e vigilância, escondeu propósitos hegemônicos em corações desavisados, conquanto amantes do Espiritismo. Em verdade, a tarefa é urgente, não apressada, mas exige ousadia e dinamismo sacrificial para encetar as mudanças imperiosas no atendimento dos reclames da hora presente, e o hábito de esperar a hora ideal converteu-se, muita vez, em medida emperrante.
Ninguém pode vendar os olhos a título de caridade, porque deliberadamente o apego institucional marcou esse segundo período de nossas lides, em muitas ocasiões, com enfermiças atitudes de desamor como forte influência atávica de milenares vivências. Isso era previsível e, por fim, repetimos velhos erros religiosos...
Honrar e respeitar os antepassados e a história não significa aboná-la de todo, embora os nossos sentimentos devam ser enobrecidos no perdão, no entendimento, na oração e no trabalho. Foi o melhor que conseguimos em se considerando as imperfeições que nos são peculiares.
Na seara espírita, que declara inspirar sua ação em Jesus, o Mestre operoso, e em Kardec, o infatigável trabalhador, não deve haver o pacto insensato com os privilégios e a representatividade improdutiva. Se o Senhor deixou definido que o maior seria quem se fizesse servo de todos (5), de igual forma a função das entidades doutrinárias, de qualquer âmbito, é servir e servir sempre, mais e mais, no atendimento das extensas necessidades a vencer nas lavouras doutrinárias, cumprindo o roteiro dos deveres de orientação e apoio sem jamais avocar para si direitos ilusórios no campo do poder.
Há de se ter em conta que nos referimos ao institucionalismo como grilhão pertinente a todos nós, sem jamais vinculá-lo a essa ou àquela entidade organizativa em particular, porque semelhante marca de nosso psiquismo, por muito tempo ainda, criará reflexos indesejáveis na obra do bem.
O institucionalismo é fruto da ação dos homens; ele em si não é o nosso adversário maior e sim os excessos que o tornam nocivo.
Nosso maior inimigo, de fato, é o orgulho em suas expressões inferiores de arrogância, inflexibilidade, perfeccionismo, autoritarismo, intolerância, preconceito e vaidade, seus frutos infelizes que, sem dúvida, insuflam a institucionalização perniciosa e incentivam o dogmatismo e a fé cega, adubando a hierarquização e o sectarismo.
Seus frutos geram sementes, e precisamos interromper essa semeadura do “joio” que sustenta a ilusão de trabalhadores desprevenidos e invigilantes.
Quando os homens forem bons farão boas instituições(6), asseverou o insigne apóstolo de Lyon, Allan Kardec.
Nossa luta deve ser íntima e não exterior, não contra organizações, mas contra nós mesmos quando em atitudes praticadas sob o manto da mentira que acostumamos a venerar em favor de vantagens pessoais.
Esses desvios perpetrados lembram os primeiros momentos do Evangelho sobre a Terra, quando teve circunscrito seu raio de ação ao Judaísmo dominante. Tal realidade levou o Mais Alto a chamar o espírito corajoso e nobre de Paulo de Tarso na ingente missão de servir para além dos muros institucionais da capital do religiosismo, e tornar universal a mensagem do Sábio Pastor.
Conclamamos novos apóstolos para a “gentilidade” nesse momento delicado de nossa seara, porque o orgulho humano reeditou, em larga amplitude, os ambientes estéreis à propagação dos ensinos do Senhor. Temos um novo centro de convergência estipulado pela egolatria humana, buscando fixar estacas demarcatórias injustas e dispensáveis para o futuro glorioso da religião cósmica da verdade e do amor.
Essa velha bagagem da alma tem solução. Melhorando os homens, melhoramos as instituições. Por isso, nossa meta prioritária jamais foi ou será incentivar dissidências a fim de comprovar a eficácia de alguma ideologia, porque, em verdade, todas cooperam para um destino comum no futuro.
Apenas não podemos mais adiar medidas, esperando que os homens acordem naturalmente para as realidades que os cercam, junto às perigosas investidas levadas a efeito pelos inimigos confessos do Evangelho do Cristo na humanidade, em ambos os planos da vida. A hora é de ação e campanha para chamar na Estrada de Damasco os que queiram suportar o sacrifício, a renúncia e a obstinação em nome de uma nobre causa que é libertar a mensagem de Jesus dos círculos impregnados de bazófia e fascinação, através de exemplos de vida e do serviço construtivo de uma mentalidade em plena identificação com a mensagem moral do Espiritismo Cristão.
A hora pede clareza e determinação para a segurança dos ideais.
Há um momento em que a atitude de amor pede a verdade a fim de escapar dos pântanos da omissão. Estamos nesse momento. As diretrizes do Espírito Verdade não pactuam com as conveniências, embora não incentive o desamor. Esse tempo é daqueles que souberem ser coerentes, sem que a coerência custe o preço da discórdia tempestuosa. O desagrado existirá, porque a verdade incomoda quem se acostumou aos caminhos largos. Estamos no tempo dos “caminhos estreitos”, e os que aceitarem perlustrá-lo não terão as coroas de glórias passageiras e nem a aclamação geral dos distraídos do caminho. Serão taxados de egoístas simplesmente por decidirem buscar a “contra-mão” das opiniões e a percorrer o caminho inverso das consagrações humanas. Entretanto, terão um “contrato de assistência” permanente e irrevogável para angariarem as condições justas ao desiderato. Contudo, justiça aqui não significa facilidades, mas ação mediadora da Divina Providência para o bom andamento dos labores encetados. Temos grupos dispostos a comprometer-se com os misteres da hora a custo de sacrifício; eles serão os apóstolos da “gentilidade” dos tempos modernos.
Respeitaremos em nome do amor a quantos ainda estagiam nas formalidades e convencionalismos. Firmaremos bases seguras fora dos limites da conveniência, para assegurar, aos mais novos que chegarão, a oportunidade de vislumbrarem horizontes que atendam as suas exigentes expectativas, com as quais renascerão no soerguimento desse período de moralização e atitude, nesse momento de Espiritismo por dentro e não fora de nossos corações.
Carecemos de um movimento espírita forte, marcado por uma cultura de raciocínios lógicos e coerentes, e por atitudes afinadas com a ética do amor.Temos sim um problema, temos um inimigo. Atitude, eis a questão. Más atitudes, eis nosso problema. Atitudes de orgulho, nosso maior inimigo.
NOSSA META ESSENCIAL: O AMOR
Para que não nos chafurdemos em análises míopes, torna-se prioritário definir nossa grande meta em auxílio aos que mourejam na coletividade doutrinária, para maximizarem seus esforços nas direções mais nobres e úteis aos deveres dessa nova etapa de maioridade espiritual.
A meta primordial é aprendermos a amarmo-nos uns aos outros, para que tudo o que for criado em nome da causa espírita reflita a essência do Espiritismo em nossas movimentações.
Nossa meta essencial é o amor, a atitude que reflete Deus em nós.
Meditemos na inolvidável pergunta do Mestre: Que galardão teremos em amar somente os que nos amam? (7)
A diversidade é uma realidade irremovível da Seara e seria utopia e inexperiência tratá-la como “joio”. Imprescindível propalar a idéia do ecumenismo afetivo entre os seareiros, para que a cultura da alteridade seja disseminada e praticada no respeito incondicional a todos os segmentos. A atitude de alteridade será o termômetro do progresso das idéias espíritas no movimento, será o “trigo” vicejante e plenificado na ética da fraternidade vivida. As instituições embebidas desse espírito promoverão o diálogo franco e transparente e construirão através das relações as transformações. O desafio está lançado.
Temos como certo que as barreiras de aproximação estão mais frágeis que se imagina em alguns setores, embora muitos apostem na impossibilidade de rompê-las. Falta habilidade para conduzir processos que desafiam a inteligência das direções segmentares, e, não propriamente, o desejo de efetivá-las. Precisaremos todos de muita humildade para construir um terreno neutro como frisou Kardec (8), e de muito amor para garantir perpetuidade às novas relações de pluralismo e convivência com as diferenças.
Voltemos a atenção para a influência dos exemplos cristãos que constituem referências decisivas para os que, legitimamente, anseiam empreender o discipulado com Jesus e Kardec. Apesar das lutas humanas, necessárias e naturais, não faltaram e não faltam as balizas na Seara para que os espíritas, dispostos ao desafio de superar a si mesmos, encontrem inspiração para travarem o bom combate em direção ao crescimento e à libertação. A jornada é árdua e o calvário é doloroso, por isso muitos preferem as poltronas macias de valores temporais nos regimes institucionais.
No entanto, a despeito da certeza que guardamos sobre a atitude de amor, devemos estar conscientes sobre as sendas a seguir, a fim de não permitirmos romantismo e ingenuidade num momento de lutas ingentes. Para isso, divulguemos a diretriz a tomar para que não aprisionemos tal meta nos sonhos fantasistas do menor esforço e das crenças improdutivas.
NOSSA DIRETRIZ INSUPERÁVEL: A RENOVAÇÃO DE ATITUDES
A renovação de atitudes na edificação de uma nova mentalidade solicita uma inevitável mudança cultural em nossos ambientes doutrinários. O repúdio ao debate e a aversão ao confronto de opiniões são expressões do institucionalismo que ainda estão presentes no psiquismo humano, muita vez realimentado por organismos e oradores respeitáveis.
Quando Jesus convocou seus discípulos ao serviço do amor “deu-lhes poder”, conforme assevera o texto de Mateus(9). Reeditar esse fato é fundamental, a fim de alcançarmos melhores condições morais ao movimento espírita. Conferir poder é propiciar respostas, caminhos, horizontes, alternativas pedagógicas para instrumentalizar e capacitar alguém para alguma coisa. O Mestre, como educador, após os ingentes deveres públicos do dia, recolhia-se em colóquios íntimos com os corações dos apóstolos, ampliava-lhes as perspectivas sobre os ensinos, dimensionava as realizações extra-físicas em torno dos feitos de todo o grupo, e respondia a questões símplices, porém, de rara profundidade moral. Era ali, naqueles momentos íntimos, que se efetivava o poder de percepção e o desenvolvimento das condições necessárias ao apostolado, porque havia debates sinceros e resolução de conflitos em clima pacífico, sob a tutela do Senhor.
Hoje, mais que nunca, precisamos repetir tal episódio e permitir o “espírito do Senhor” na contenção de nossos impulsos de desagregação e isolamento. É urgente trabalhar por uma cultura de trocas e crescimento grupal, habituando-se a ter nossas certezas abaladas pelo conflito e pela permuta, para que ampliemos a capacidade de enxergar com mais exatidão as questões que supomos terem sido esgotadas. Essa diretriz conduzirá os homens a uma maior possibilidade de diálogo e intercâmbio, fazendo-os perceber a inconveniência do isolamento em muros de pseudo-sabedoria ou nas masmorras do autoritarismo institucional, ditando normas e idéias em nome de uma verdade exclusivista. Daí a importância de incentivarmos os dirigentes ao contato sadio com a dinâmica operacional dos centros espíritas e dos diversos segmentos da Seara, estabelecendo contatos, atualizando conceitos, tirando dúvidas, agendando encontros, criando ensejos ecumênicos para servirem de exemplos aos menos afeiçoados ao hábito da complacência com a diversidade do entendimento.
A melhor instituição será a que mais expandir as condições para o amor.
O melhor homem será o que mais apresentar tenacidade em amar.
A melhor Casa será a que mais implementar o regime de amor em grupo, imprimindo a seus deveres um caráter educacional.
Os heróis da fibra moral estão despedindo-se da Terra, porque cumpriram seu ministério de amor. Agora é o tempo dos atos solidários pela união das forças, relembrando o calvário no qual Jesus despediu-se glorioso, conferindo a continuidade da obra a quantos partilharam Seu percurso Divino.
Melhoremos o homem, despreocupemos dos excessos de medidas quanto à renovação de modelos institucionais que, inevitavelmente, surgirão sem pressa. Urgente é nossa adesão consciente aos princípios éticos da mensagem de Jesus atualizada pelo Espiritismo, sem o qual os modelos organizativos, por mais ajustados, vão ruir improfícuos.
Carecemos estabelecer programas centrados em valores éticos ao lado das bases fundamentais já esquadrinhadas pelo estudo. Favorecer os trabalhadores e lideranças com melhores noções sobre “As Leis Morais”, contidas na terceira parte de “O Livro dos Espíritos”, e aprofundar o entendimento sobre o inesquecível e universal sermão do monte de Jesus, assim como o fez Allan Kardec em “O Evangelho Segundo Espiritismo”, construindo um programa eficiente de renovação moral baseado na sábia filosofia de Jesus.
O conhecimento das verdades espíritas, por si, levará a velhas mazelas do saber se não for acompanhado pela vivência.
O fascínio resultante dos princípios espíritas não ocorre em função de estar o homem diante de conhecimentos novos que o surpreendem, mas sim porque está retomando o contato com idéias que já fizeram parte de seu patrimônio cultural, as quais não teve ele a capacidade de utilizar para a transformação de si mesmo, submetendo-se às injunções das idéias pagãs e do rompimento com a ética do bem. Destarte, é preciso hoje conjugar esse conhecimento, que é milenar, com a moralização, pela educação.
O tão decantado processo educacional de si mesmo passa pela melhor compreensão do mundo moral e suas implicações, que resultarão em melhor auto-conhecimento, pois, o “conhecimento de si mesmo é a chave do progresso individual”.(10)
Esse investimento no homem é a nossa chance de subtrair a noção inferior, que tenta subjugar o Espiritismo a mera religião de formalidades atualizadas, e colocá-lo, onde deveria estar, no patamar de roteiro lúcido de educação integral da humanidade.
A diretriz insuperável de Jesus continua como roteiro de rara oportunidade. Precisamos “conferir poder”. Como amar o próximo? Como obter abnegação? Como treinar a alteridade? Comprometimento é difícil para quem? É possível desenvolver a indulgência? Como dialogar em climas adversos? Como dialogar? O que é solidariedade e parceria? Como conceber a unificação em tempos de pluralismo? Ela é viável? Como oferecer essas condições de “poder” aos novos servidores da causa cristã? Qual o poder de transformação estamos viabilizando a homens comuns que encontram esperanças e alento nos celeiros de paz da casa espírita? Que temos feito para que as direções abram-se ao espírito de simplicidade? Que propostas temos a apresentar para facilitar um tempo de aproximação pacífica entre as várias tendências da Seara? Por que é tão importante essa aproximação?
O Espírito Verdade legou-nos o inspirado roteiro no “amai-vos e instruí-vos”. Instrução e amor, conhecimento e dinamização ética.
Levantemos a bandeira da unificação ética em torno da qual ser-nos-á possível atrair pela ação, mais que pelo discurso, ensejando a formação de pólos de congraçamento ecumênico entre nós, os espíritas com diversidade de idéias, mas num único sentimento, o do amor exalando a fraternidade.
Tomemos como lema a tríade inspirada do Codificador “trabalho, solidariedade, tolerância” (11), e cerremos esforços na campanha para que essa indicativa torne-se o programa da Casa e do movimento espírita mundial.
O trabalho opera as mudanças pela força das circunstâncias, a tolerância cria o clima indispensável para torná-las possíveis e a solidariedade é a mola propulsora capaz de fazê-las acreditáveis.
De que nos valerá conhecer a imortalidade e viver intencionalmente o materialismo? Essa foi uma indagação levantada pelo Codificador com fito de chamar-nos a atenção para a essência ética do Espiritismo.(12)
Se Kardec assim indaga quanto ao Espiritismo, perguntamo-nos de que nos valerá o Evangelho sem a vivência? Por que chamar Jesus se não atentamos para Sua presença no desenvolvimento de relações eticamente ajustadas com Seus ensinos?
Enveredemos pela religião, pela filosofia ou pela ciência, estudemos o Espiritismo ou o Evangelho, adotemos essa ou aquela prática com a qual melhor nos afeiçoemos, criemos essa ou aquela entidade para servir a novas experiências, tudo isso pouco importa se não tivermos amor. Recordemos o apóstolo Paulo em sua belíssima poesia: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”. (13)
NOSSO CAMINHO DE SOLUÇÃO: A EDUCAÇÃO
Qual a solução?
Mencionamos a meta prioritária, conhecemos a diretriz insuperável, mas todos sentimos um vácuo no coração quando pensamos nesse ideário maior confrontado com a realidade moral de nosso movimento bendito. O que fazer já sabemos. A indagação que agora toma-nos a mente é: como fazer?
A melhor campanha para a instauração de um novo tempo na Seara passa pela necessidade de melhoria das condições do centro espírita, que é a célula operadora do objetivo do Espiritismo. Lá sim se concretizam não só o conhecimento e o trabalho, mas a absorção das verdades no campo individual consentidas em colóquios íntimos e permanentes, que reproduzem os momentos de Jesus com seu colégio apostólico.
Por isso, temos que promover as Casas, de posto de socorro e alívio a núcleo de renovação social e humana, através do incentivo ao desenvolvimento de valores éticos e nobres capazes de gerar a transformação.
Para isso só há um caminho: a educação.
O núcleo espiritista deve sair do patamar de templo de crenças e assumir sua feição de escola capacitadora de virtudes e formação do homem de bem, independentemente de fazer ou não com que seus transeuntes se tornem espíritas e assumam designação religiosa formal.
Elaboremos um programa educacional centrado em valores humanos para dirigentes, trabalhadores, médiuns, pais, mães, jovens, velhos, e o apliquemos consentaneamente com as bases da Doutrina.
Saber viver e conviver serão as metas primaciais desse programa no desenvolvimento de habilidades e competências do espírito.
O que faremos para aprender a arte de amar? Como aprender a aprender? Como desenvolver afeto em grupo? Como “devolver visão a cegos, curar coxos e estropiados, limpar leprosos, expulsar demônios”?
Muitos adeptos conhecem a profundidade dos mecanismos desencarnatórios à luz dos princípios espíritas, entretanto, temos constatado quantos chegam por aqui em deploráveis condições por não se imunizarem contra os padrões morais infelizes e degeneradores.
A melhoria das possibilidades do centro espírita indiscutivelmente facilitará novos tempos para o pensamento espírita, haja vista que estaremos ali preparando o novo contingente de servidores da causa dentro de uma visão harmonizada com as implicações da hora presente. Dessa forma, estaremos retirando a Casa da feição de uma “ilha paradisíaca de espiritualidade”, projetando-a ao meio social e adestrando seus partícipes a superarem sua condição sem estabelecer uma realidade fictícia e onerosa, insufladora de conflitos e de medidas impositivas, longe das reais possibilidades de transformação que a criatura pode e precisa efetivar em si mesma.
Interagindo com o meio em permuta incessante de valores e experiências, o centro espírita sai da condição de um reduto isolado no cumprimento de sua missão, e passa a delinear a formação de uma rede de intercâmbios, fenômeno esse que vem abarcando a humanidade inteira sob a designação de globalização.
Contudo, a interação da casa doutrinária com o meio deve ser ativa a ponto de transformar-se em pólo irradiador de benesses a outras co-irmãs e, igualmente, para o agrupamento social no qual encontra-se inserida.
Por isso, mais uma vez torna-se imprescindível renovar conceitos e reciclar métodos, a fim de atingirmos os patamares de instituições multiplicadoras da mentalidade imortalista e fraternal.
Esse processo de interação social reclama posturas novas, dentre elas a de abrir canais de permanente relação inter-institucional, na qual o centro espírita catalise fulcros de cultura e modelos experimentais, transformando-se em ambiente de diálogo e convivência para dirigentes e trabalhadores de outros grupos afins, passando suas vivências e aperfeiçoando suas realizações ao tempo em que converte-se em pólo espontâneo da união entre co-idealistas, no regime do mais livre pluralismo de concepções acerca dos postulados espíritas.
Mais uma vez a visão futurista do Codificador, prenunciando esse tempo, levou-o a declarar: “esses grupos, correspondendo-se entre si, visitando-se, permutando observações, podem, desde já, formar o núcleo da grande família espírita, que um dia consorciará todas as opiniões e unirá os homens por um único sentimento: o da fraternidade, trazendo o cunho da caridade cristã”. (14)
A criação desses pólos são medidas salutares contra o isolacionismo e, pela sua característica essencial de fortalecimento de idéias, ensejam uma relação mais participativa, descentralizadora, operando entre os grupos a prática da solidariedade.
Incentivaremos não só a renovação cultural nas casas espíritas, mas também a estruturação das entidades específicas que, pela sua neutralidade institucional, obterão um trânsito mais intenso junto à seara na dinamização de um arejamento cultural, no atendimento das necessidades humanas que abarrotam em solicitações e demandas.
Há serviço intenso a realizar, e devemos ver com bons olhos a multiplicidade de funções e a diversificação de medidas em favor dos clamores da sociedade.
Os dirigentes, ricos de boa-vontade e espírito cooperativo, anseiam por novos horizontes, todavia, tem faltado quem se disponha a dividir vivências ou a edificar um ambiente que se constitua verdadeira oficina de idéias e diálogo para a criação de caminhos novos.
Serão esses pólos as cooperativas de afeto cristão que permitirão aos servidores e condutores das responsabilidades doutrinárias renovarem esperanças, quebrando os circuitos de rotina dentro do labirinto de obrigações a que se renderam no ramerrão do centro espírita. Serão pólos de arejamento e solidariedade mútua regidos por intenso e espontâneo desejo de somar que, em última análise, é a unificação no que de mais sublime exprime o sentido dessa palavra.
UM PROGRAMA RENOVADOR PARA O CENTRO ESPÍRITA
Estamos, portanto, meus irmãos e amigos do coração, instaurando o período da unificação ética, da maioridade das idéias espíritas através do melhor aproveitamento individual dos seareiros dispostos a mais amplos vôos de renúncia, sacrifício e amor à causa.
Assim, todos nós aqui hoje reunidos estamos convocados a cerrar esforços continuados ao programa renovador de nosso abençoado movimento espírita, com vistas a ampliar na humanidade a mensagem de esperança e libertação trazida por Jesus e explicada com lucidez pelo trabalho de Allan Kardec.
Estamos em campanha.
Campanha pela unificação com amor.
Campanha pela renovação das atitudes.
Temos um problema na Seara: as más atitudes.
Temos uma solução para a Seara: novas atitudes. Seja essa a nossa campanha no bem pelos tempos novos a que todos somos chamados.
Todos aqui, mormente os que se acostumaram à docilidade e ternura de meu coração, não se surpreendam com a franqueza de minhas palavras.
Estejam certos que o sentimento é o mesmo e sempre será.
A clareza e a definição de minha fala são em obediência incondicional e servil a ordens maiores que cumpro em nome do Espírito Verdade.
Sem perder a fraternidade, vós outros que têm o acesso livre pela palavra mediúnica, levai essa mensagem ao conhecimento de todos. Aqueles que hoje aqui se encontram temerosos ante as novas chances que logo envergarão na carne, levai convosco a esperança de que em plena infância serão bafejados pelas claridades desse momento de renovação, dentro e fora das movimentações espirituais a que se matricularão. Aqueles que servem a outras fileiras de obrigações junto à humanidade, cooperem com nosso ideal incentivando a superação dos preconceitos e abrindo picadas para a penetração das idéias espíritas frente à sociedade.
Enaltecendo a comemoração, da qual ainda agora quase todos aqui presentes tivemos a benção de acompanhar junto aos irmãos no Congresso Espírita Brasileiro, peçamos ao Senhor da Vida que fortaleça sempre os ideais em nosso coração, para que as medidas salvadoras representem mãos estendidas e guiadas pelo coração sempre pulsante no bem, em favor das lutas e do aprendizado daqueles que receberam de Deus a gloriosa oportunidade de regressarem à carne no torrão brasileiro, fruindo das benesses do Consolador Prometido. Amparemos nossa bendita Seara em seus novos dias, relembrando sempre a nossos tutelados a importância do amor.
Rememoremos como fonte inspiradora de nossa campanha a sublime e inesquecível fala de nosso Mestre: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. (15)
ENCONTROS INESQUECÍVEIS
Terminada a fala de nosso benfeitor Bezerra, estávamos todos como que hipnotizados pelo afeto e pela autoridade com que externava seus conceitos.
Dissera ele muito bem acerca da surpresa que, durante muitos trechos de sua alocução, tomou-nos de assalto graças à franqueza e clareza com que explanava suas idéias.
Ele fora claro e fraterno, sendo que estávamos habituados somente com sua paternal e ilimitada complacência para com a extensão de nossas necessidades.
Percebia-se durante sua apresentação que irradiações muito intensas vinham de esferas superiores, para nós ainda desconhecidas, deixando evidenciar que, além de sua grandeza espiritual peculiar, realmente ele cumpria a determinações excelsas frente aos assuntos dissertados.
Terminada a palestra, tivemos o ensejo de presenciar encontros inesquecíveis que merecem nossos registros, para que os corações na Terra meditem sobre as realidades impostas pela imortalidade na jornada dos antigos servidores da coletividade espírita.
Destacamos o abraço fraterno entre Torteroli e Bezerra que se olharam como irmãos queridos de longa caminhada; em canto discreto do salão, percebíamos um dos mais procurados para o abraço afetivo e a palavra amiga que era Jean Baptiste Roustaing, cercado por amigos da Itália e da França; em outra cena presenciamos amigos queridos vinculados às propostas do Pacto Áureo discutindo as graves medidas que os aguardavam: ali estavam Wantuil de Freitas, Manuel de Quintão, Armando de Oliveira Assis, Osvaldo de Mello, Djalma Montenegro Farias, Militão Pacheco e outros mais. Era indisfarçável o interesse de todos em fraternizar com os nomes que fizeram história no país como Rui Barbosa e Olavo Bilac, cercados por Freitas Nobre, Carlos Imbassahy e outros políticos e religiosos. Observávamos também as caravanas vindas de vários estados e países reunindo-se a esse ou àquele coração de seu interesse no campo do aprendizado, e no caso da Caravana Mineira, composta por um grupo valoroso de servidores, estava ao centro das considerações o nosso estimado Antônio Lima tecendo alvitres quanto ao futuro.
Para nós, porém, entre tantos encontros e reencontros, ficou gravado no coração o instante de abraçarmos o nosso benfeitor Bezerra.
Acompanhando-nos, discreta como de costume, a nossa Ermance Dufaux, que tem sido o coração de nossas movimentações espirituais.
Constatei surpreendido que os olhos de Bezerra dilataram-se com o aproximar de Ermance; ele, que sempre ensaiava um termo ou outro na sua costumeira ternura, emudeceu-se, pegou as mãos delicadas da nossa amiga, beijou-as e disse:
“Filha, suas mãos representam troféus luminosos da vitória do Espiritismo nascente, quando as cedeste para a sublime consecução de “O Livro dos Espíritos”, e se anseias por torná-las úteis novamente nos serviços do bem, providenciaremos rumos a teus inspirados desejos.”
Ermance enrubesceu e lacrimejou, porque o sentimento elevado de Bezerra lhe havia sondado as profundezas da alma, percebendo-lhe a súplica velada na intensa disposição de contribuir com os destinos novos da causa.
Ela, num ímpeto generoso, mas guardando a típica fleuma de uma dama francesa, osculou com um fraterno afago a cabeleira do paladino, e sem dizer uma só palavra abraçou-o incontinente, com efusivo amor.
Terminada a atividade, olhamos para o infinito no firmamento e ficamos a meditar longamente sobre o que nos aguardava no futuro...
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(1) Realizado na cidade de Goiânia a 05 de outubro de 1999, em comemoração ao cinqüentenário do acordo de unificação, o Pacto Áureo.
(2) Nota da editora: o texto que segue é a descrição que o autor espiritual fez da palavra de Bezerra de Menezes.
(3) Congresso Internacional de Espiritismo em 1925 coordenado por Leon Dénis.
(4) Mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, na Comunhão Espírita Cristã, em 20 de abril de 1963, Uberaba - MG, publicada na revista Reformador de dezembro de 1975.
(5) Mateus, 20:26 a 27.
(6) Obras Póstumas, segunda parte, Credo Espírita, Preâmbulo.
(7) Mateus, 5:46.
(8) A Gênese, Allan Kardec, capítulo XVII, item 32.
(9) Mateus, 10:1.
(10) O Livro dos Espíritos, questão 919a.
(11) Obras Póstumas, biografia de Allan Kardec.
(12) O Livro dos Médiuns, item 350.
(13) I Coríntios, 13:1.
(14) O Livro dos Médiuns, item 334.
(15) João, 13:35.


Texto extraído do livro:

Seara Bendida (2000) - Espíritos diversos; Maria José S. Oliveira; Wanderley S. Oliveira
(Editora Dufaux)

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Estatística Braseleira - Gazeta do Sul

Casos de suicídio crescem 17,1% em dez anos
Brasília – Embora com números pouco expressivos no cenário internacional, os casos de suicídio no Brasil cresceram 17,1% no período analisado pela pesquisa do Instituto Sangari. Foi o maior aumento registrado entre as causas de morte por violência – que compreendem também acidentes de trânsito e homicídio. Em 1998, foram contabilizados 6.985 óbitos. Dez anos depois, o número passou para 9.328. A exemplo de outras formas de violência, o aumento foi constatado sobretudo em cidades do interior do Nordeste e entre grupo masculino – nos Estados, 79,1% dos suicidas são homens.
No Nordeste, a taxa de suicídio aumentou 80,1% no período analisado. O segundo maior crescimento foi apresentado pelo Centro-Oeste, com elevação de 31,1% nas taxas de morte. O fenômeno na região é atribuído sobretudo às mortes provocadas entre população indígena. Para se ter ideia, em 2008 foram registrados 100 suicídios de índios.
Apesar do aumento registrado no Nordeste, Rio Grande do Sul segue como o Estado com maior registros de suicídios no País. A taxa em 2008 era de 10,7 por 100 mil habitantes – um número considerado expressivo. (AE)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

OBSESSÃO PACÍFICA


Quando reencontrei o meu amigo Custódio Saquarema na Vida Espiritual, depois da efusão afetiva de companheiros separados desde muito, a conversa se dirigiu naturalmente para comentários em torno da nova situação.
Sabia Custódio pertencente a família espírita e, decerto, nessa condição, teria ele retirado e o máximo de vantagens da existência que vinha de largar. Pensando nisso, arrisquei uma pergunta, na expectativa de sabê-lo com excelente bagagem para o ingresso em estâncias superiores. Saquarema, contudo, sorriu, de modo vago, e informou com a fina autocrítica que eu lhe conhecia no mundo:
- Ora, meu caro, você não avalia o que seja uma obsessão disfarçada, sem qualquer mostra exterior. A Terra me devolveu para cá, na velha base do “ganhou mas não leva”. Ajuntei muita consideração e muito dinheiro; no entanto, retorno muito mais pobre do que quando parti, no rumo da reencarnação...
Percebendo que não me disponha a interrompê-lo, continuou:
- Você não ignora que renasci num lar espírita, mas, como sucede à maioria dos reencarnados, trazia comigo, jungidos ao meu clima psíquico, alguns sócios de vícios e extravagâncias do passado, que, sem o veículo de carne, se valiam de mim para se vincularem às sensações do plano terrestre, qual se eu fora uma vaca, habilitada a cooperar na alimentação e condução de pequena família... Creia que, de minha parte, havia retomado a charrua física, levando excelente programa de trabalho que, se atendido, me asseguraria precioso avanço para as vanguardas da luz. Entretanto, meus vampirizadores, ardilosos e inteligentes, agiam à socapa, sem que eu, nem de leve, lhes pressentisse a influência... E sabe como?
- ?...
- Através de simples considerações íntimas – prosseguiu Saquarema, desapontado. – Tão logo me vi saído da adolescência, com boa dose de raciocínios lógicos na cabeça, os instrutores amigos me exortaram, por meus pais, a cultivar o reino do espírito, referindo-se a estudo, abnegação, aprimoramento, mas, dentro de mim, as vozes de meus acompanhantes surgiam da mente, como fios d’água fluindo de minadouro, propiciando-me da falsa idéia de que eu falava comigo mesmo; “Coisas da alma, Custódio? Nada disso. A sua hora é de juventude, alegria, sol... Deixe a filosofia para depois...” Decorrido algum tempo, bacharelei-me. As advertências do lar se fizeram mais altas, conclamando-me ao dever; entretanto, os meus seguidores, até então invisíveis para mim, revidavam também com a zombaria inarticulada: “AgoraNão é ocasião oportuna. De que maneira harmonizar a carreira iniciante com assuntos de religião? Custódio, Custódio!... Observe o critério das maiorias, não se faça de louco!...” Casei-me e, logo após, os chamados à espiritualização recrusdesceram, em torno de mim. Meus solertes exploradores, porém, comentaram, vivazes: “Não ceda. Custódio! E as responsabilidades de família? É preciso trabalhar, ganhar dinheiro, obter posição, zelar por mulher e filhos...” A morte subtraiu-me os pais e eu, advogado e financista, já na idade madura, ainda ouvia os  Bons Espíritos, por intemédio de companheiros dedicados, requisitando-me à elevação moral pela execução dos compromissos assumidos; todavia, na casa interna se empoleiravam os argumentos de meus obsessores inflexíveis: “Custódio, você tem mais que fazeres... vida social... Você não está preparado para seara de fé...” Em seguida, meu amigo, chegaram a velhice e a doença, essas duas enfermeiras da alma, que vivem de mãos dadas na Terra. Passei a sofrer e desencantar-me. Alguns raros visitantes de minha senectude, transmitindo-me os derradeiros convites da Espiritualidade Maior, insistiam comigo, esperando que eu me consagrasse às coisas sagradas da alma; no entanto, dessa vez, os gritos de meus antigos vampirizadores se altearam, mais irônicos, assoprando-me sarcasmo, qual se fora eu mesmo a ridicularizar-me: “Você, velho Custódio?! Que vai fazer você com Espiritismo? É tarde demais... Profissão de fé, mensagens de outro mundo... Que se dirá de você, meu velho? Seus melhores amigos falarão em loucura, senilidade... Não tenha dúvida... Seus próprios filhos interditarão você, como sendo um doente mental, inapto à regência de qualquer interesse econômico... Você não está mais no tempo disso...”
Saquarema endereçou-me significativo olhar e rematou:
- Os meus perseguidores não me seviciaram o corpo, nem me conturbaram a mente. Acalentaram apenas o meu comodismo e, com isso, me impediram qualquer passo renovador. Volto da Terra, meu caro, imitando o lavrador endividado e de mãos vazias que regressa de um campo fértil, onde poderia ter amealhado inimagináveis tesouros... Sei que você ainda escreve para os homens, nossos irmãos. Conte-lhes minha pobre experiência, refira-se, junto deles, à obsessão pacífica, perigosa, mascarada... Diga-lhes alguma coisa acerca do valor do tempo, da grandeza potencial de qualquer tempo na romagem humana!...
Abracei Saquarema, de esperança voltada para tempos novos, prometendo atender-lhe a solicitação. E aqui lhe transcrevo o ensinamento pessoal, que poderá servir a muita gente, embora guarde a certeza de que, se eu andasse agora reencarnado na Terra e recebesse de alguém semelhante lição, talvez estivesse muito pouco inclinado a aproveitá-la.
XAVIER, F. C. Cartas e Crônicas, pelo Espírito Irmão X. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1974. (Capítulo 8)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Palestra de Vera

http://rabiraboni.blogspot.com/2011/02/cap-24-nao-coloqueis-candeia-debaixo-do_16.html

Não por a candeia sob o alqueire - carregar a cruz quem quiser salvar a sua vida Maria Verginia Calciolari


Bem aventurados sereis quando os homens vos aborrecem e quando vos separarem, e carregarem de injurias e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do Homem. Folgai naquele dia, e exultai; porque, olhai quão grande é o vosso galardão no céu, porque desta maneira tratavam os profetas e os pais deles (Lucas, VI: 22-23).
Meus irmãos chegará o dia em que estaremos tão imbuídos de Deus, tão plenos de seu amor, que viveremos de acordo com suas leis.
Neste dia, não mais precisaremos nos recolher em templos para Adorá-lo.
Estaremos vivendo de acordo com os códigos de amor, caridade e fraternidade, seremos um com o Pai, a nossa ligação com o divino, com o amor de Deus será imediata.
Mas este dia ainda não é chegado, nós ainda estamos aprendendo amar a Deus, ainda precisamos nos recolher ao templo, à casa espírita, à igreja para orarmos; nós estamos nos desligando do mundo.
Aos poucos estamos aprendendo como é viver de acordo com as Leis de Deus.
Quando fazemos isto, quando nos desligamos do mundo, aos poucos, nossos amigos, nossos familiares se ressentem; quando trocamos uma diversão, uma balada, uma festa social para seguirmos os anseios de nossas almas somos ridicularizados.
Ao escolhermos estudar as leis que nos regem, ao escolhermos nos recolher para melhor estarmos conectados com o mundo maior, estaremos deixando de fazer alguma coisa, ou seja escolhemos adorar a Deus, e não adorar ao mundo, esta escolha nos trará tribulações, nos tratará sacrifícios necessários, nos trará rejeições de nossos amigos, de nossos parentes, de nossos irmãos.
Bem aventurados seremos se conseguirmos, apesar de todos os problemas mantermos a convicção de nossa escolha.
Jesus nos diz “Tome a sua cruz aquele que me quer seguir” isto é suporte corajosamente as tribulações que a sua fé provocar.
Pois aquele que quiser salvar a sua vida, deverá renunciá-la em nome de sua fé.
Então;
Bem aventurados seremos quando os homens nos aborrecerem com as coisas do mundo.
Bem aventurados seremos quando o mundo não nos apresentar mais nenhum atrativo.
Bem aventurados seremos quando não encontrarmos mais no mundo dos homens, à vontade da permanência,.
Bem aventurados seremos quando fugirmos das conversas vazias e fúteis.
Bem aventurados seremos quando não encontrarmos mais graça nos encontros sociais, no cuidado excessivo com o corpo.
Bem aventurados seremos quando trocarmos algumas horas de encontro social, (cinema televisão chop com os amigos) por algumas horas meditando orando, ajudando nossos irmãos.
Bem aventurados seremos quando nossos amigos nos disserem “você não é mais o mesmo, só pensa em rezar e ajudar os outros” .
Bem aventurados seremos quando dissermos ao outro, vou à Casa Espírita, ao Templo, e ele te dizer não vai não fica aqui comigo, e nos convictos dissermos “Não, eu vou, vou para estudar as palavras do Evangelho, vou buscar um sentido para minha vida”.
Bem aventurados seremos quando nos disserem você é “louco”, só pensa em rezar, em estudar.
Bem aventurados seremos quando ao tentar voltar ao convívio com nossos antigos amigos e ele nos disserem “Há, volta para Casa Espírita, para o Templo, volta para tua reza”.
Bem aventurados seremos quando o mundo não quiser mais repetir o nosso nome, porque pertencemos a nossa fé, porque pertencemos a Jesus.
Bem aventurados seremos quando estivermos tão absortos na palavra do senhor, tão emergidos na sua fé, que os homens nos odiarão por isso.
Bem aventurados seremos quando ninguém acreditar em nós, quando nos tratarem com má vontade por causa da palavra do Senhor, quando rirem do que dissermos sobre o perdão, a bondade, a solidariedade.
Bem aventurados seremos quando nos derem oportunidade de provar a sinceridade da nossa fé.
Bem aventurados seremos quando compreendermos a cegueira do nosso irmão, compreendermos a sua ignorância e o perdoarmos por não entenderem a nossa fé.
Bem aventurados seremos quando suportarmos corajosamente as tribulações da vida e não abandonarmos a nossa cruz.
Bem aventurados seremos quando nossos problemas forem maiores que nós, de maneira que nos force a desistir, mas nós resistimos e continuarmos seguindo a sua fé,
Bem aventurados seremos quando renunciarmos a todos os bens terrestres e nos entregarmos a nossa fé.
Bem aventurados seremos quando ao tomar a nossa cruz seguiremos nosso caminho com coragem a despeito de tudo.
Bem aventurados seremos quando suportarmos corajosamente as tribulações que a nossa fé nos provoca.
Bem aventurados seremos quando compreendermos que nosso tesouro esta no céu, quando compreendermos que somente salvaremos a nossa vida no dia em que renunciarmos os nossos bens, pois só então alcançaremos o Reino dos Céus.
Bem aventurados seremos quando perdermos tudo aqui em baixo, até mesmo a vida, para triunfo da verdade.
Bem aventurados seremos quando sacrificarmos os gozos terrenos pelos bens celestes.

Não ponhais a candeia debaixo do alqueire - Marcelo M Alacarini




Jesus, à época de sua passagem pela Terra, falava-nos por parábolas: já o sabemos.

A imperfeição do Homem, contudo, distorceu-Lhe ou mesmo deixou incompreendidas muitas passagens.

Lendo o Capítulo XXIV do Evangelho Segundo o Espiritismo (em que são citados os Evangelhos de Mateus, Lucas, Marcos e João) temos o enfoque a que nos referiremos.

Interpretar os textos religiosos que herdamos de nossos antepassados é um exercício tão fascinante quanto árduo, principalmente para o leigo, como a maioria de nós.

Dois pontos que dificultam as interpretações: o vocabulário e o entendimento dos costumes e valores sociais e culturais da época.
Pelo título deste, comecemos:

- Candeia: pequena luminária utilizada na época.

- Alqueire: para os dias de hoje, medida de terra (equivalente a 1,2 hectares em SP, variando no Brasil, conforme o estado e em outros países também).

O título então ficaria incompreensível, sendo entendido algo como “colocar uma luminária debaixo da terra”.

O alqueire a que se refere o texto é na verdade uma palavra vindo da cultura árabe (al kayl) designava originalmente uma das bolsas ou cestas de carga que se punha, atadas, sobre o dorso e pendente para ambos os lados dos animais usados para transporte de carga.

Assim sendo, interpretaríamos a expressão por algo como “colocar a candeia embaixo (ou dentro) de uma cesta”, ocultando-a.

A partir dessa metáfora, o Cristo colocou aos homens da época a inutilidade (ou egoísmo) de se possuir uma luz e ocultá-la.

Assim interpretou Lucas: “Ninguém há que, depois de ter acendido uma candeia, a cubra com um vaso, ou a ponha debaixo da cama; põe-na sobre o candeeiro, a fim de que os que entrem vejam a luz; - pois nada há secreto que não haja de ser descoberto, nem nada oculto que não haja de ser conhecido e de aparecer publicamente.” (Cap. VIII).

Inquirido pelos discípulos sobre o porquê de se dirigir ao povo por parábolas, o Cristo nos esclarece: “É porque, a vós outros (os discípulos), foi dado conhecer os mistérios do reino dos céus; mas, a eles, isso não lhes foi dado.”

Ainda que possa parecer contraditório, afirmando que nada deva se ocultado, no que se refere aos ensinamentos de que necessita a Humanidade, o Cristo não revelava tudo a todos, inclusive aos seus discípulos.

Não por ser algo secreto, mas por ser, ainda, incompreendido no atual estágio em que se encontravam.

E assim é em todos os aspectos do ser humano.

“Dá-se com os homens, em geral, o que se dá em particular com os indivíduos. As gerações têm sua infância, sua juventude e sua maturidade.”
Qual o pai que, tendo filhos em idade infantil, lhes ensinará coisas que só compreenderão quando adultos?

O Homem está hoje em condições de entender mais profundamente o que em tempos idos não podia.

A ciência torna a visão do homem mais penetrante, mais aberta a um horizonte incomensurável de realidades que sente ainda muito longe, mas vislumbra o caminho.

O homem de hoje já domina o átomo, já sabe da relatividade e efêmera existência de partículas que nas mesmas condições de existência, nunca o são iguais.

A ciência de hoje já não pode negar a existência de um universo muito mais rico e intangível aos nossos sentidos.

Não pode negar fenômenos da consciência, que tornam patente a permanência da individualidade humana após (e antes) a morte corporal.

Com o passar do tempo, algumas religiões que insistem em manter seus mistérios “debaixo do alqueire” vão ficando para trás.

A Ciência e a inteligência avançam inexoráveis, como a verdade.

À medida que o Homem entende a si a ao universo, a ventura vai ficando mais próxima.

“A verdade vos libertará”, disse-nos o Cristo.

A verdade é uma só. Há formas de olhá-la, vestidas com esta ou aquela plumagem cultural.

Muito nos adiantaremos cientifica e moralmente quanto  mais esforço fizermos para iluminar nossas mentes e corações com a verdade, a razão, pois que sem ela, a construção de nossa sã consciência: a fé, não se sustentará.

Tenhamos paciência, mas, sobretudo perseverança, buscando nortear nossa vida pelo caminho da coerência, da razão, da moral cristã, enfim, pelo Evangelho do Cristo.

“Tudo o que se acha oculto será descoberto um dia e o que o homem ainda não pode compreender lhe será sucessivamente desvendado, em mundos mais adiantados, quando se houver purificado. Aqui na Terra, ele ainda se encontra em pleno nevoeiro.”

A CANDEIA DEBAIXO DO ALQUEIRE

REFLEXÕES ESPÍRITAS -  – PORQUE JESUS FALAVA POR PARÁBOLAS



TEMA: O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, de Allan Kardec – A CANDEIA DEBAIXO DO ALQUEIRE – PORQUE JESUS FALAVA POR PARÁBOLAS – Capítulo XXIV – itens 1 a 7
 




JESUS
 com a máxima “Não coloqueis a candeia sob o alqueire mas no velador” faz alusão a nossa obrigação de sermos divulgadores do bem e da verdade, não ocultando os benefícios que os conhecimentos espirituais já nos trazem à existência.
 

A
 melhor DIVULGAÇÃO que possamos oferecer aos semelhantes da mudança que o ESPIRITISMO e o EVANGELHO provocam em nossas vidas, não vem das palavras fáceis que despejamos... mas sim daATITUDE RENOVADA PELO BEM que saibamos demonstrar em cada gesto, em cada ação.
 

ELEVAR A CANDEIA
 é exatamente usar o nosso melhor a cada dia, fazendo com que nossa conduta reta, pensar reto, agir retamente, faça modificações ao nosso redor, EXEMPLIFICANDO na prática o que já sabemos.
 Muitas vezes nós espíritas confundimos ESPIRITUALIZAÇÃOcom doutrinação que aborrece, com verborragia improdutiva ou pregação desrespeitosa. Uma das características do ESPIRITISMO é exatamente a de que ele é UNIVERSALISTA, capaz de abraçar todos os povos, crenças e sentimentos religiosos sob os seus postulados de renovação para a vida imortal. 

É
 por isso que nos ambientes espíritas encontramos pessoas de todos os credos e religiões, que embora nos diferenciemos num e noutro postulado, se reunem sob o imperativo do BEM e da Regra Áurea de todos os tempos, sintetizada por Jesus no mandamento: Amai-vos uns aos outros!
 

E
m seu tempo JESUS, o pedagogo excelente utilizava-se do recurso da parábola a fim de transmitir seus ensinamentos espirituais aos homens. Quando falava ao pescador, falava do mar e dos peixes, ao lavrados da Semente e da vinha, ao homem comum da moeda perdia e do credor... Para cada um tinha o recurso adequado a fim de gravar indelevelmente nas almas os seus ensinamentos.
 

S
e o primeiro significado de cada parábola aprecia evidente, à medida que o homem se aprofunda em maturidade, ele apreende novas nuanças e matizes dessas realidades, e hoje temos estudos de psicologia profunda baseados nessas parábolas que revelam a cada faixa de entendimento algo de útil e bom.
 

E
lucida Allan Kardec: “Jesus só se exprimiu em parábolas sobre as questões, de alguma maneira abstrata, da sua doutrina. Mas, tendo feito da caridade e da humildade a condição expressa da salvação, tudo o que disse a esse respeito é perfeitamente claro, explícito e sem nenhuma ambigüidade. Assim, devia ser, porque se tratava de regra de conduta, regra que todos deviam compreender, para poderem observar”
 

“O
 Espiritismo vem atualmente lançar a sua luz sobre uma porção de pontos obscuros, mas não o faz inconsideravelmente. Os Espíritos procedem, nas suas instruções, com admirável prudência. É sucessiva e gradualmente que eles têm abordado as diversas partes já conhecidas da doutrina, e é assim que as demais partes serão reveladas no futuro, à medida que chegue o momento de fazê-las sair da obscuridade”. Continua ensinando Allan Kardec no trecho em análise.
 

P
ercebemos assim que nossa compreensão da espiritualidade também evolui com o tempo e o desenvolvimento da razão e dos sentimentos. Assim, DEUS em sua sabedoria infinita nos possibilita conforme nosso grau de entendimento aprender algo de bom que nos eleve na escala evolutiva, cada vez mais conquistando sabedoria e amor – as duas asas que nos levarão à perfeição.
 

A
 Doutrina Espírita – diz Kardec – propõe a “Pedagogia da Maturidade” reconhecendo em cada homem e mulher um ser divino em idade espiritual específica e que requer conhecimentos e exercícios peculiares à sua capacidade de compreensão. A Providência Divina em seus perfeitos mecanismos de ação encarrega-se de possibilitar a cada um o “mal e o remédio” adequados para seu crescimento, suprindo as necessidades espirituais de todos conforme seu adiantamento.
 

“A
s gerações passam também pela infância, pela juventude e pela madureza. Cada coisa deve vir a seu tempo, pois a sementeira lançada a terra, fora de tempo, não produz. Mas aquilo que a prudência manda calar momentaneamente, cedo ou tarde deve ser descoberto, porque chegando a certo grau de desenvolvimento, os homens procuram por si mesmos a luz viva; a obscuridade lhes pesa” - assim, a Doutrina dos Espíritos tem se revelado progressiva, descortinando conhecimentos na medida de nossa capacidade de apreensão.
 

T
razendo essas considerações para nosso cotidiano, podemos nos situar exatamente na condição daqueles que já entenderam a teoria da proposta do Cristo Jesus – AMAI-VOS UNS AOS OUTROS – mas nos demoramos timidamente na simples apreciação da beleza e perfeição desse princípio sem a coragem necessária para colocá-lo em PRÁTICA!
 COLOCAR A LEI DO AMOR EM PRÁTICA custa muito caro ao espírito, porque ele precisa se desvencilhar de pesados fardos a que se apega, preservando em sua bagagem pesos inúteis que o bom sendo já demonstra que devem ser descartados: EGOISMO, ORGULHO, VAIDADE... 

O
s grandes adversários da LUZ DO CONHECIMENTO ESPIRITUAL APLICADO são esses comparsas, responsáveis pelo atraso da humanidade na violência, no crime, na indiferença, na guerra e no desamor.


É
 preciso então que para que façamos brilhar a LUZ DA VERDADE o mais alto possível em nossas vidas, clareando ao nosso redor, façamos primeiramente LUZ INTERIOR, dissipando as trevas da ignorância desses monstros (EGOISMO, ORGULHO, VAIDADE) fazendo claridade... 

D
e início tímida e vacilante, mas com o combustível da boa vontade e do desejo de progresso, em breve um clarão irradiante de amor.
 

A
bandonar o orgulho humano, aquele que não “leva desaforo pra casa” é um ato de coragem admirável. O mundo cobra em seus valores perecíveis e transitórios que tenhamos sucesso, que sejamos arrogantes, que enfrentemos a “batalha da vida” como guerreiros vulgares que se matam uns aos outros na busca de brilhos ilusórios. 


O
 AMOR e a CARIDADE, porém, acendem luz imortal, não no sucesso transitório e efêmero da terra, mas na conquista de AFETO IMORTAL para nossa alma que viverá para sempre, mostrando que o gesto de humildade de hoje é o tesouro de alegrias do futuro, aquele que “o ladrão não consegue roubar...”
 

D
estruir o EGOÍSMO em nós é a real valentia de espírito, porque a sociedade enlouquecida nos ensina a CUIDAR PRIMEIRO DE NOSSOS INTERESSES PESSOAIS e nos esquecermos dos outros... Já a lição do Cristo é inequívoca: Ele ensina que devemos dar de nós mesmos até o que nos faça falta em favor do semelhante, reconhecendo em cada irmão a presença de DEUS a ser reverenciado e amado através daFRATERNIDADE PURA.
 

O ESPIRITISMO
 para erradicação do EGOÍSMO em nós oferece em suas frentes de trabalhos diversas atividades altruísticas que com um bocado de boa vontade fazem germinar a generosidade em nós s
ão creches a procura de educadores, asilos esperando a moeda e o remédio, instituições carentes de operosidade e Grupos de uma diversidade sem fim de gêneros que se dedicam à alegria pura de amar, servir, consolar e ensinar para transformar a Terra no Lar-Escola abençoado de nossa redenção. 

D
ominar a VAIDADE que carregamos no desejo de parecermos ser melhores do que somos, de ostentar qualidades que não possuímos ou poderes ainda não conquistados é um grande passo na direção do AMOR VIVENCIADO... porque despreocupados da aparência social e satisfeitos com o que REALEMNTE SOMOS criamos um espaço de LIBERDADE E PRAZER de amar sem medo e vergonha que nunca sentimos antes.
 

É
 que a VAIDADE nos deixa sempre dependente das opiniões alheias, esmolando aprovação e elogios, consideração e apreço que estão distantes de serem reais, pois são frutos do artificialismo de nossos enganos... Sendo você mesmo como é, autêntico em suas possibilidades e desejos de perfeição, um horizonte de progresso para a alma se descortina revelando a nós mesmos que somo BELAS CRIATURAS FILHAS DE DEUS e por isso mesmo dignas de nosso mais legítimo AUTO-AMOR.
 

N
ão nos faltam convites à semeadura do bem em nós mesmos, à prática legítima do amor que somente admiramos na teoria... Vamos à luta. Dentro de casa tantas vezes há alguém carente de sua compreensão. Sedento da água viva de sua amizade. Faminto de Perdão. Doente de abandono ou desprotegido pela inexperiência. EXEMPLIFIQUEMOS O BEM AMANDO O PRÓXIMO MAIS PRÓXIMO QUE NOS DIVIDE O TETO E A EXISTÊNCIA.


U
m dia, o milagre do amor que praticamos hoje – inicialmente tímido e indeciso, mais tarde desinteressado e altruístico – mais tarde se revelará para nossa surpresa a fonte perene de felicidade, iluminando a todos os que amamos pelos milagres da LUZ DO CRISTO que saibamos irradiar de nossos corações.
 

A
inda hoje, olhe ao redor, há algo a fazer, há um coração que precisa de nós, um telefone, uma mensagem, um gesto pode significar uma fagulha de luz na treva de solidão de uma alma... 

F
açamos o bem e o bem nos fará muito bem.


Trechos em estudo de O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO:


1 –
 Nem os que acendem uma luzerna a metem debaixo do alqueire, mas põem-na sobre o candeeiro, a fim de que ela dê luz a todos os que estão na casa. (Mateus, V: 15).
 
2 –
 Ninguém, pois, acende uma luzerna e a cobre com alguma vasilha, ou a põe debaixo da cama; põe-na, sim, sobre um candeeiro, para que vejam a luz os que entram. Porque não há coisa encoberta, que não haja de ser manifestada; nem escondida, que não haja de saber-se e fazer-se pública. (Lucas, VIII: 16-17).
 
3 –
 E chegando-se a ele os discípulos lhe disseram: Por que razão lhes falas tu por parábola? Ele, respondendo, lhes disse: Porque a vós outro vos é dado saber os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não lhes é concedido. Porque ao que tem, se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Por isso é que eu lhes falo em parábolas; porque eles vendo, não vêem, e ouvindo não ouvem, nem entendem. De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Vós ouvireis com os ouvidos, e não escutareis; e olhareis com os olhos, e não vereis. Porque o coração deste povo se fez pesado, e os seus ouvidos se fizeram tardos, e eles fecharam os seus olhos; para não suceder que vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e entendam no coração, e se convertam, e eu os sare. (Mateus, XIII: 10-15)
 
4 –
 Causa estranheza ouvir Jesus dizer que não se deve por a luz debaixo do alqueire, ao mesmo tempo em que esconde a toda hora o sentido das suas palavras sob o véu da alegoria, que nem todos podem compreender. Ele se explica, entretanto, dizendo aos apóstolos: Eu lhes falo em parábolas, porque eles não estão em condições de compreender certas coisas; eles vêem, olham, ouvem e não compreendem; assim, dizer-lhes tudo, ao menos agora seria inútil; mas a vós o digo, porque já vos é dado compreender esses mistérios. Ele procedia, portanto, para com o povo, como se faz com as crianças, cujas idéias ainda não se encontram desenvolvidas. Dessa maneira, indica-nos o verdadeiro sentido da máxima: “Não se deve por a candeia debaixo do alqueire, mas sobre o candeeiro, a fim de que todos os que entram possam vê-la”. Ela não diz que tenhamos de revelar inconsideravelmente todas as coisas, pois, todo ensinamento deve ser proporcional à inteligência de quem o recebe, e porque há pessoas que uma luz muito viva pode ofuscar sem esclarecer.
 Acontece com os homens, em geral, o mesmo que com os indivíduos. As gerações passam também pela infância, pela juventude e pela madureza. Cada coisa deve vir a seu tempo, pois a sementeira lançada a terra, fora de tempo, não produz. Mas aquilo que a prudência manda calar momentaneamente, cedo ou tarde deve ser descoberto, porque chegando a certo grau de desenvolvimento, os homens procuram por si mesmos a luz viva; a obscuridade lhes pesa. Como Deus lhes deu a inteligência para compreenderem e se guiarem, entre as coisas da Terra e do céu, eles querem racionalizar a sua fé. É então que não se deve por a candeia debaixo do alqueire, pois sem a luz da razão, a fé se enfraquece. (Ver cap. XIX, nº 7). 
5 – 
Se a Providência, portanto, na sua prudente sabedoria, não revela a verdade senão gradualmente, é que a vai sempre desvelando, à medida que a Humanidade amadurece para recebê-la. Ela mantém a luz em reserva, e não debaixo do alqueire. Mas os homens que a possuem, em geral, só a ocultam do vulgo com a intenção de dominá-lo. São esses os que põem verdadeiramente a luz debaixo do alqueire. É assim que todas as religiões sempre tiveram os seus mistérios, cujo exame proíbem. Mas enquanto essas religiões se atrasavam, a ciência e a inteligência avançaram e romperam o véu misterioso. O povo que se tornou adulto pode assim penetrar o fundo das coisas, e então rejeitou na sua fé o que se mostrava contrário à observação. 
Não podem substituir mistérios absolutos nesse terreno, e Jesus está com a razão quando afirma que não há nada secreto que não deva ser conhecido. Tudo o que está oculto será descoberto um dia, e o que o homem ainda não pode compreender sobre a Terra, lhe será progressivamente revelado nos mundos mais adiantados, na proporção em que ele se purificar. Aqui na Terra, ainda se perde no nevoeiro. 
6 – 
Pergunta-se que proveito o povo poderia tirar dessa infinidade de parábolas,cujo sentido estava oculto para ele. Deve notar-se que Jesus só se exprimiu em parábolas sobre as questões, de alguma maneira abstrata, da sua doutrina. Mas, tendo feito da caridade e da humildade a condição expressa da salvação, tudo o que disse a esse respeito é perfeitamente claro, explícito e sem nenhuma ambigüidade. Assim, devia ser, porque se tratava de regra de conduta, regra que todos deviam compreender, para poderem observar. Era isso o essencial para a multidão ignorante, à qual se limitava a dizer: Eis o que é necessário para se ganhar o Reino dos Céus. Sobre outras questões, só desenvolvia os seus pensamentos para os discípulos. Estando eles mais adiantado, moral e intelectualmente, Jesus podia iniciá-los nos princípios mais abstratos. Foi por isso que disse: Ao que já tem, ainda mais se dará, e terá em abundância. (Ver cap. XVIII, nº 15).
 Não obstante, mesmo com os apóstolos, tratou de modo vago sobre muitos pontos, cuja inteligência completa estava reservada aos tempos futuros. Foram esses os pontos que deram lugar a diversas interpretações, até que a Ciência, de um lado, e o Espiritismo, de outro, vieram revelar as novas leis da natureza, que tornaram compreensível o seu verdadeiro sentido. 
7 – 
O Espiritismo vem atualmente lançar a sua luz sobre uma porção de pontos obscuros, mas não o faz inconsideravelmente. Os Espíritos procedem, nas suas instruções, com admirável prudência. É sucessiva e gradualmente que eles têm abordado as diversas partes já conhecidas da doutrina, e é assim que as demais partes serão reveladas no futuro, à medida que chegue o momento de fazê-las sair da obscuridade. Se a houvessem apresentado completa desde o início, ela não teria sido acessível senão a um pequeno número e teria mesmo assustado aqueles que não se achavam preparados, o que seria prejudicial à sua propagação. Se os Espíritos, portanto, ainda não dizem tudo ostensivamente, não é porque a doutrina possua mistérios reservados aos privilegiados, nem que eles ponham a candeia debaixo do alqueire, mas por que cada coisa deve vir no tempo oportuno. Eles dão a cada idéia o tempo de amadurecer e se propagar, antes de apresentarem outra, e aos acontecimentos,o tempo de lhes preparar a aceitação.