NÃO JULGUEIS PARA NÃO SERDES JULGADOS
A Doutrina Espírita ensina que o ser humano, durante seu período existencial, possui a necessidade de redirecionar seus passos, afim de corrigir suas atitudes, dentre elas, o hábito de julgar e muitas vezes apontar os defeitos do outro ou ainda condená-los pelos erros cometidos.
Ainda segundo a Doutrina, para que esse ato possa ser evitado é necessário o exercício do perdão tanto para com o próximo quanto para si mesmo, além de ficar atento às próprias atitudes, considerando-se "no lugar" da outra pessoa, refletindo: "Que pensaria eu, se visse alguém fazendo o que faço?"
Segundo a educadora, pedagoga e psicóloga Arlete Corrêa "O ato de julgar vem da ignorância em não nos conhecermos, consequentemente, por não entendermos o que Jesus quis dizer com a frase: ´tirai primeiro o argueiro do teu olho e então, depois, vede como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão´", afirma.
Em entrevista à reportagem da Rádio Boa Nova, Arlete Corrêa falou sobre o hábito do pré-julgamento que grande parte da população mantém, acreditando possuir esse direito.
RBN – Por que ainda julgamos?
Arlete Corrêa – Por falta de dar atenção e tempo as nossas próprias deficiências. Em nossa condição evolutiva diante das dificuldades diárias, tendemos sempre a estabelecer opiniões e comparações, muitas vezes fazendo julgamentos precipitados dos fatos, sem ouvirmos os dois lados, sem analisarmos o contexto e a situação e, nestes casos há sempre grandes possibilidades de equivocar-nos com a atitude do outro equivocadamente.
O que a frase “Não julgueis para não serdes julgados” significa dentro do contexto evolutivo da humanidade?
Certamente, Jesus queria reiterar seu ensinamento de amor ao próximo como base da verdadeira justiça, ou seja, desejai para os outros o que desejas para vós mesmos, lembrando-nos que com o juízo que julgamos seremos julgados e que com a medida que usarmos para medirmos as atitudes do outro, seremos medidos.
A crítica oferece condições de auxiliar a pessoa criticada?
A análise do erro é sempre uma necessidade quando usada para auxiliar, para corrigir, para educar, neste sentido apontar o erro é contribuição para construção do Ser moral, psicológico e espiritual. Porém, esta análise deve estar isenta das perversas intenções de dominação do ego que estão distantes da lei do amor e da caridade porém lembremos que temos facilidade em julgar o outro, afinal olhar o problema de fora o torna sempre mais tranqüilo. Entretanto, precisamos aprender a observar nossos próprios defeitos antes de apontarmos o defeito alheio.
É possível evitar o hábito de julgar o próximo?
Ao estabelecermos um julgamento, devemos antes de tudo, colocarmo-nos no lugar do réu: se já passamos por igual situação, ao invés de lançar a crítica, talvez possamos auxiliá-lo com nossa experiência, caso contrário, é melhor calar para não cairmos nos sérios riscos de cometer uma injustiça com o outro e conosco mesmo quando agimos assim.
No Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo X, os espíritos esclarecem: “antes de reprovar a falta de alguém, consideremos se a mesma reprovação não nos pode ser aplicada”, isto quer dizer, que devemos em primeiro lugar verificar nossa condição moral em relação ao erro cometido pelo outro: como teríamos agido em seu lugar? Temos conduta adequada para orientá-lo no equívoco?
Antes de julgar, reflita:
Você conhece toda a história desta pessoa?
Você sabe o que ela passou durante toda a vida dela?
Você tem ideia do que fez com que ela se tornasse quem é hoje?
De acordo com os pesquisadores dos evangelhos, João, um dos apóstolos de Jesus, ele relata em seus escritos que os escribas e os fariseus trouxeram para o mestre da Galiléia, uma mulher que fora surpreendida em adultério e, pondo-a de pé no meio do povo, disseram a Jesus:
"Mestre, esta mulher acaba de ser surpreendida em adultério; - ora, Moisés, pela lei, ordena que se lapidem as adúlteras. Qual sobre isso a tua opinião?"- Diziam isto para o tentarem e terem de que o acusar.
Jesus, porém, abaixando-se, entrou a escrever na terra com o dedo. - Como continuassem a interrogá-lo, ele se levantou e disse: "Aquele dentre vós que estiver sem pecado, atire a primeira pedra." - Em seguida, abaixando-se de novo, continuou a escrever no chão.
- Quanto aos que o interrogavam, esses, ouvindo-o falar daquele modo, se retiraram, um após outro, afastando-se primeiro os velhos. Ficou, pois, Jesus a sós com a mulher, colocada no meio da praça.
Então, levantando-se, perguntou-lhe Jesus: "Mulher, onde estão os que te acusaram? Ninguém te condenou?" -
Ela respondeu: "Não, Senhor." Disse-lhe Jesus: "Também eu não te condenarei. Vai-te e de futuro não tornes a pecar." (S. JOÃO, cap. VIII, vv. 3 a 11.)
FONTE: Rádio Boa Nova - RBN
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Estudando o Espiritismo
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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
JULGAR É FÁCIL,ENTENDER E PERDOAR PORÉM...... por Maria Luci Sales Marques
"Não julgueis a fim de não serdes julgados".
Sabemos o quanto é difícil evitarmos comentários maldosos,infantis ou até mesmo levianos a respeito do comportamento de alguém ou diante de algumas situações que ao nosso ver consideramos completamente erradas.Acostumados a esse vício,vamos precipitadamente condenando e criticando como absolutos donos da verdade.
Ser mais prudente em nossos comentários é condição para se viver bem.
Diz-se até que,conosco também será empregado a mesma medida que usamos para medir o outro.
Bom mesmo seria o exercício diário da prudência ,visto que,é impossível muitas vezes entendermos as razões do outro.
Estamos sempre às voltas com o julgamento precipitado.Parece inevitável ou vício mesmo.Condenamos e julgamos às vezes pessoas que nem bem conhecemos.Apressados,muitas vezes nem percebemos como cruéis estamos sendo.
Quem somos nós para julgarmos com tanta maldade e convicção?Nem mesmo Jesus nos aponta o dedo criticamente.Como pai bondoso e amoroso que é,nos deixa livres.Se erramos,ele sabe depois nos ensinar com bondade infinita,mostra onde erramos,onde estamos faltando com a nossa parte.E ainda nos permite sempre recomeçar.... Costuma-se dizer que para entender o outro é aconselhável nos colocarmos no seu lugar.Pode ser.Mas por que não irmos mais além?
Além de nos colocarmos no seu lugar,aceitemos que somos imperfeitos,com histórias de vida passadas,não nascemos prontos.
Se antes dos julgamentos e das condenações antecipadas,refletíssemos,tivéssemos mais piedade,com certeza evitaríamos desgostos,raivas e arrependimentos que só nos maltratam.
O amor e o perdão.Mais uma vez é inevitável que em se tratando de nossa reforma íntima,eles não venham a contribuir conosco,serem citados.
Podemos até achar que já sabemos ou lemos tudo ou quase tudo a respeito dos mesmos.Que o assunto já foi por demais falado.
Ler e saber o que o amor e o perdão são e representam na nossa vida é uma coisa,termos aprendido a praticá-los é outra.E termos certeza que eles podem fazer muito por nós é outra maior ainda.
Somos estudantes da Universidade da Vida.E temos tarefas difíceis a cumprir.Nos colocarmos no lugar do outro é aconselhável,mas usarmos o amor e o perdão como ferramentas para o entendimento,é sem dúvida,remédio milagroso.
Somos seres humanos únicos.Cada um com seu grau de elevação moral,compreensão, discernimento e amadurecimento próprios.Há sentimentos aprisionados dentro de cada um,que somente a própria pessoa sabe porque age de tal maneira.E sabemos também que cada um ser tem o seu tempo de aperfeiçoamento próprio.É extremamente importante que compreendamos que se já recebemos,que nos foi dado o dom maior de entendimento sobre as coisas,ao outro pode não ter sido dado ainda.Esperemos.Que o seu tempo é diferente do tempo do outro.Portanto,ter paciência e conter julgamentos é mais prudente.
Somente seres humanos mais evoluídos e amadurecidos espiritualmente conseguem enxergar na pessoa que está sendo alvo de críticas e condenações,um ser necessitado de ajuda,e não um ser menor,leviano,ou inrresponsável nas ações praticados em desacordo com as leis divinas.
Fala-se nos meios espíritas que a semeadura é livre,mas a colheita obrigatória.Então,deixemos que cada um colha aquilo que plantou.
Podemos achar muito complicado para nossa cabeça,entender como uma falta como um estupro,um crime,um roubo,um político que viola as leis,não possa ser censurado com veemência.Não se trata disso,e sim deixar que Divina Providência tome conta.
São práticas terríveis,mas é também igualmente terrível querermos "apontar o dedo para o outro"abominando seu comportamento.Jesus vem nos ensinar que não devemos odiar e muito menos sermos juízes de ninguém.E o espiritismo,vem mais uma vez nos trazer luz,entendimento para este tipo de conduta humana.
Sabemos o quanto é difícil evitarmos comentários maldosos,infantis ou até mesmo levianos a respeito do comportamento de alguém ou diante de algumas situações que ao nosso ver consideramos completamente erradas.Acostumados a esse vício,vamos precipitadamente condenando e criticando como absolutos donos da verdade.
Ser mais prudente em nossos comentários é condição para se viver bem.
Diz-se até que,conosco também será empregado a mesma medida que usamos para medir o outro.
Bom mesmo seria o exercício diário da prudência ,visto que,é impossível muitas vezes entendermos as razões do outro.
Estamos sempre às voltas com o julgamento precipitado.Parece inevitável ou vício mesmo.Condenamos e julgamos às vezes pessoas que nem bem conhecemos.Apressados,muitas vezes nem percebemos como cruéis estamos sendo.
Quem somos nós para julgarmos com tanta maldade e convicção?Nem mesmo Jesus nos aponta o dedo criticamente.Como pai bondoso e amoroso que é,nos deixa livres.Se erramos,ele sabe depois nos ensinar com bondade infinita,mostra onde erramos,onde estamos faltando com a nossa parte.E ainda nos permite sempre recomeçar.... Costuma-se dizer que para entender o outro é aconselhável nos colocarmos no seu lugar.Pode ser.Mas por que não irmos mais além?
Além de nos colocarmos no seu lugar,aceitemos que somos imperfeitos,com histórias de vida passadas,não nascemos prontos.
Se antes dos julgamentos e das condenações antecipadas,refletíssemos,tivéssemos mais piedade,com certeza evitaríamos desgostos,raivas e arrependimentos que só nos maltratam.
O amor e o perdão.Mais uma vez é inevitável que em se tratando de nossa reforma íntima,eles não venham a contribuir conosco,serem citados.
Podemos até achar que já sabemos ou lemos tudo ou quase tudo a respeito dos mesmos.Que o assunto já foi por demais falado.
Ler e saber o que o amor e o perdão são e representam na nossa vida é uma coisa,termos aprendido a praticá-los é outra.E termos certeza que eles podem fazer muito por nós é outra maior ainda.
Somos estudantes da Universidade da Vida.E temos tarefas difíceis a cumprir.Nos colocarmos no lugar do outro é aconselhável,mas usarmos o amor e o perdão como ferramentas para o entendimento,é sem dúvida,remédio milagroso.
Somos seres humanos únicos.Cada um com seu grau de elevação moral,compreensão, discernimento e amadurecimento próprios.Há sentimentos aprisionados dentro de cada um,que somente a própria pessoa sabe porque age de tal maneira.E sabemos também que cada um ser tem o seu tempo de aperfeiçoamento próprio.É extremamente importante que compreendamos que se já recebemos,que nos foi dado o dom maior de entendimento sobre as coisas,ao outro pode não ter sido dado ainda.Esperemos.Que o seu tempo é diferente do tempo do outro.Portanto,ter paciência e conter julgamentos é mais prudente.
Somente seres humanos mais evoluídos e amadurecidos espiritualmente conseguem enxergar na pessoa que está sendo alvo de críticas e condenações,um ser necessitado de ajuda,e não um ser menor,leviano,ou inrresponsável nas ações praticados em desacordo com as leis divinas.
Fala-se nos meios espíritas que a semeadura é livre,mas a colheita obrigatória.Então,deixemos que cada um colha aquilo que plantou.
Podemos achar muito complicado para nossa cabeça,entender como uma falta como um estupro,um crime,um roubo,um político que viola as leis,não possa ser censurado com veemência.Não se trata disso,e sim deixar que Divina Providência tome conta.
São práticas terríveis,mas é também igualmente terrível querermos "apontar o dedo para o outro"abominando seu comportamento.Jesus vem nos ensinar que não devemos odiar e muito menos sermos juízes de ninguém.E o espiritismo,vem mais uma vez nos trazer luz,entendimento para este tipo de conduta humana.
Não julgueis a fim de que não sejais julgados
Não julgueis a fim de que não sejais julgados
Escrito por Maria Antonia Paduan
A condição de “ser com capacidade pensante”, nos coloca naturalmente na condição de uso do livre arbítrio e consequentemente como observador e juiz nas relações sociais e diante dos acontecimentos da vida. Se assim não fosse estaríamos em constante risco e a sociedade não teria regras para estabelecer os limites que favorecem a harmonia e a boa convivência. Portanto, o julgamento é necessário ainda, numa sociedade que caminha a passos lentos para a evolução. Dele, então, derivou um corpo de conhecimento – a Justiça - que estabelece os limites de ação, que cerceia o mal e torna as medidas de avaliação de atitude equilibrada para todos, e estabelece sansões, a fim de garantir a ordem no funcionamento social.
Continuamente, no dia a dia, avaliamos fatos, pessoas, condições, etc. A partir disto estabelecemos um julgamento de valores como: bom ou ruim; certo ou errado, com base na bagagem de vida adquirida no passado (encarnações anteriores) e por meio das experiências da infância, adolescência e do presente. Essa bagagem forma uma espécie de “reservatório moral”, conforme refere Hammed, na obra Renovando Atitudes.
Esse reservatório é nosso guia diante dos fatos e pessoas que julgamos. Cita o autor “em razão disso, os freqüentes julgamentos que fazemos em relação às outras pessoas nos informam sobre tudo aquilo que temos por dentro". Explicando melhor, “a forma e o material utilizados para sentenciar os outros residem dentro de nós.”
Julgar é, portanto, um ato de avaliar, criticar, de ponderar, estabelecer juízo de valores com o fito de buscar a justiça ou fazer escolhas.
No entanto, é preciso entender a que julgamento Jesus se referia conforme citado em Mateus capítulo VII, v. 1 e 2 - “Não julgueis a fim de que não sejais julgados; porque vós sereis julgados segundo houverdes julgados os outros; e se servirá para convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles”.
No Evangelho segundo o Espiritismo vamos encontrar clara explicação a respeito dessa recomendação de Jesus, no seguinte texto:
“A censura de conduta alheia pode ter dois motivos: reprimir o mal, ou desacreditar a pessoa cujos atos criticamos. Este último motivo jamais tem escusa, pois decorre da maledicência e da maldade. O primeiro pode ser louvável, e torna-se mesmo um dever em certos casos, pois dele pode resultar um bem, e porque sem ele o mal jamais será reprimido na sociedade.”
Em João, VIII: v. 3-11: “Então lhe trouxeram os escribas e os fariseus uma mulher que fora apanhada em adultério, e a puseram no meio, e lhe disseram: Mestre, esta mulher foi agora mesmo apanhada em adultério; e Moisés, na Lei, mandou apedrejar a estas tais. Qual é a vossa opinião sobre isto?...: Jesus lhes respondeu Aquele dentre vós que estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra... Então, erguendo-se, Jesus lhe disse: Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor. Então Jesus lhe disse: Nem eu tampouco te condenarei; vai, e não peques mais”.
Jesus manifesta claramente seus objetivos ao aproveitar cada momento e fato da época para ensinar ao seu povo a reflexão e a revisão das atitudes, bem como a necessidade de atualizar as regras da justiça social vigente.
Sua proposta era:
- reflexão sobre o modo de pensar da época - revisão de valores sociais e das próprias leis mosaicas vigentes (Olho por olho, dente por dente)
- uma ação de amor e não de condenação em relação ao próximo
- a auto avaliação como forma de melhorar-se.
Daí seus ensinamentos ultrapassarem os séculos e se manterem atualizados, servindo de código de conduta para cada um de nós, ainda hoje.
Como, então, atingir a proposta do Mestre?
Prestar atenção na forma como pensamos, que valores adotamos para guiar nossas atitudes e como agimos diariamente, pois a maledicência e a maldade revelam nossa imperfeição; daí a necessidade de atentarmos de como andam nossas atitudes. O tema nos fala sobre a importância de não julgarmos precipitadamente as criaturas e, conseqüentemente, não atirarmos a primeira pedra naqueles que nos parecem errados.
Muitas vezes, somos benevolentes para com os nossos erros e muito severos para com os erros dos outros. Temos um exemplo:
Todos os dias, Dona Maria olhava pela janela de sua cozinha em direção ao varal de roupas na casa de sua vizinha e comentava com a família:
- Nossa! Como os lençóis daquela mulher estão sujos!
No dia seguinte, novamente na cozinha e olhando mais uma vez para a sua vizinha, que estendia as roupas, Dona Maria comentava:
- Não sei como ela não tem vergonha de colocar aquelas roupas imundas no varal!
E era assim todos os dias. Dona Maria já estava habituada a olhar para o varal da vizinha e criticá-la por tanta roupa suja. Até que, um dia, não suportando mais ver aquilo, decidiu que iria chamar a atenção da vizinha.
Ao vê-la estendendo seus lençóis, correu na direção da janela da cozinha. Mas, para a sua surpresa, Dona Maria descobriu que a sua janela estava emperrada. E notou também que, ao tentar abri-la, os vidros ficavam com as marcas de sua mão. Desesperada, pegou um pano e começou a limpar os vidros. O pano ficou coberto de sujeira. Após encerrar a limpeza, ao olhar novamente para o varal da vizinha, pode ver que todas as roupas estendidas estavam limpas, alvas.
Só então percebeu que, na realidade, o que estava sujo não eram as roupas da vizinha, e sim a sua vidraça.
Na maior parte do tempo estamos observando e julgando, e quase sempre errando, porque não usamos a mesma medida para avaliar os outros que gostaríamos que usassem para nos avaliar. É necessário que sejamos mais benevolentes, retiremos a trave dos nossos olhos e não critiquemos a dos olhos dos outros.
Hammed nos propõe “Melhor do que medir ou apontar o comportamento de alguém seria tomarmos a decisão de visualizar bem fundo nossa intimidade. Os indivíduos podem ser considerados, nesses casos, excelente espelho, no qual veremos quem somos realmente”.
Afirma ele “só poderemos nos reabilitar ou reformar até onde conseguimos nos perceber; ou seja, aquilo que não está consciente em nós dificilmente conseguiremos reparar ou modificar”.
Quando não nos observamos, corremos o risco de cometermos erros, injustiças, atitudes incorretas e precipitadas, complicando nossa evolução devido aos nossos mecanismos de defesa – “processos mentais inconscientes que possibilitam ao indivíduo manter sua integridade psicológica através de uma forma – o auto-engano”.
Muitas vezes, as pessoas por não conseguirem conviver com a verdade, tentam sufocar ou enclausurar seus sentimentos e emoções no inconsciente, disfarçando-os.
Em todo comportamento humano existe uma lógica, isto é, uma maneira particular de raciocinar sobre sua verdade; portanto, julgar, medir e sentenciar os outros, não se levando em conta suas realidades, mesmo sendo consideradas preconceituosas, neuróticas ou psicóticas, é não ter bom senso ou racionalidade, pois na vida somente é válido e possível o ―auto-julgamento, afirma o autor.
Outro aspecto importante do julgamento a ser apontado é o que se julga. Julgar uma ação é diferente de julgar a criatura. Podemos julgar e considerar a prostituição moralmente errada, mas não podemos e não devemos julgar a pessoa prostituída. Ao usarmos da empatia, colocando-nos no lugar do outro, ― sentindo e pensando com ele, em vez de ― pensar a respeito dele, teremos o comportamento ideal diante dos atos e atitudes das pessoas, refere Hammed.
Como forma de melhor os vigiarmos neste aspecto devemos adotar a auto-avaliação e a meditação como importantes ferramentas de uso diário a fim de sairmos desse padrão contínuo de desacertados julgamentos.
Lembrar também que “o ser humano é um verdadeiro campo magnético. Atrai pessoas e situações, criando sintonias tanto positivas como negativas.” Se observarmos os acontecimentos e os fatos da nossa vida, e dos outros, vamos perceber que muitos deles são repetitivos. Quando adentramos num ambiente somos capazes de realizar uma leitura sensitiva daquele ambiente. O modo de ser e de agir de grupos revela sua liderança, pelo modo como o ambiente deste grupo se revela. Isto se chama sintonia, determinada pelo campo magnético de cada um.
De forma muito elucidativa Hammed diz “nossas afirmações prescreverão as águas por onde a embarcação de nossa vida deverá navegar”.
Segundo Paulo de Tarso, ―é indesculpável o homem, quem quer que seja, que se arvora em ser juiz. Porque julgando os outros, ele condena a si mesmo, pois praticará as mesmas coisas, atraindo-as para si, com seu julgamento.
Portanto, nossos julgamentos serão sempre os motivos de nossa liberdade ou de nossa prisão no processo de desenvolvimento e crescimento espiritual.
Não julgueis para não serdes julgados, propõe a mudança e melhora íntima, através da busca da melhoria diária.
Sócrates sabiamente enfatizou essa atitude quando propôs “Conhece-te a ti mesmo”, que nada mais é que o trabalho de auto-análise, de mergulho no Eu, a fim de identificarmos a nossa realidade íntima e corrigi-la dia a dia pelo esforço da renovação da atitude e não autopunição. Temos que ter o cuidado para não nos acharmos a última das criaturas após a identificação dos erros e evitar extremos. Antes, éramos o máximo, e após a conscientização, passamos a nos considerar as últimas criaturas. O Equilíbrio se faz necessário e deve ser o norteador de nossa conduta.
Bibliografia: O Evangelho segundo o Espiritismo – Allan Kardec - tradução de Salvador Gentile – Editora IDEAl, 315a. edição, 2005 – SP.
Renovando Atitudes – Francisco do Espírito Santo – ditado pelo espírito de Hammed, capitulo 10, item 1, pg 11. Editora Boa Nova, 1997 - SP.
Site: http://www.espirito.org.br/portal/palestras/irc-espiritismo/estudos-espiritas
Escrito por Maria Antonia Paduan
A condição de “ser com capacidade pensante”, nos coloca naturalmente na condição de uso do livre arbítrio e consequentemente como observador e juiz nas relações sociais e diante dos acontecimentos da vida. Se assim não fosse estaríamos em constante risco e a sociedade não teria regras para estabelecer os limites que favorecem a harmonia e a boa convivência. Portanto, o julgamento é necessário ainda, numa sociedade que caminha a passos lentos para a evolução. Dele, então, derivou um corpo de conhecimento – a Justiça - que estabelece os limites de ação, que cerceia o mal e torna as medidas de avaliação de atitude equilibrada para todos, e estabelece sansões, a fim de garantir a ordem no funcionamento social.
Continuamente, no dia a dia, avaliamos fatos, pessoas, condições, etc. A partir disto estabelecemos um julgamento de valores como: bom ou ruim; certo ou errado, com base na bagagem de vida adquirida no passado (encarnações anteriores) e por meio das experiências da infância, adolescência e do presente. Essa bagagem forma uma espécie de “reservatório moral”, conforme refere Hammed, na obra Renovando Atitudes.
Esse reservatório é nosso guia diante dos fatos e pessoas que julgamos. Cita o autor “em razão disso, os freqüentes julgamentos que fazemos em relação às outras pessoas nos informam sobre tudo aquilo que temos por dentro". Explicando melhor, “a forma e o material utilizados para sentenciar os outros residem dentro de nós.”
Julgar é, portanto, um ato de avaliar, criticar, de ponderar, estabelecer juízo de valores com o fito de buscar a justiça ou fazer escolhas.
No entanto, é preciso entender a que julgamento Jesus se referia conforme citado em Mateus capítulo VII, v. 1 e 2 - “Não julgueis a fim de que não sejais julgados; porque vós sereis julgados segundo houverdes julgados os outros; e se servirá para convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles”.
No Evangelho segundo o Espiritismo vamos encontrar clara explicação a respeito dessa recomendação de Jesus, no seguinte texto:
“A censura de conduta alheia pode ter dois motivos: reprimir o mal, ou desacreditar a pessoa cujos atos criticamos. Este último motivo jamais tem escusa, pois decorre da maledicência e da maldade. O primeiro pode ser louvável, e torna-se mesmo um dever em certos casos, pois dele pode resultar um bem, e porque sem ele o mal jamais será reprimido na sociedade.”
Em João, VIII: v. 3-11: “Então lhe trouxeram os escribas e os fariseus uma mulher que fora apanhada em adultério, e a puseram no meio, e lhe disseram: Mestre, esta mulher foi agora mesmo apanhada em adultério; e Moisés, na Lei, mandou apedrejar a estas tais. Qual é a vossa opinião sobre isto?...: Jesus lhes respondeu Aquele dentre vós que estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra... Então, erguendo-se, Jesus lhe disse: Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor. Então Jesus lhe disse: Nem eu tampouco te condenarei; vai, e não peques mais”.
Jesus manifesta claramente seus objetivos ao aproveitar cada momento e fato da época para ensinar ao seu povo a reflexão e a revisão das atitudes, bem como a necessidade de atualizar as regras da justiça social vigente.
Sua proposta era:
- reflexão sobre o modo de pensar da época - revisão de valores sociais e das próprias leis mosaicas vigentes (Olho por olho, dente por dente)
- uma ação de amor e não de condenação em relação ao próximo
- a auto avaliação como forma de melhorar-se.
Daí seus ensinamentos ultrapassarem os séculos e se manterem atualizados, servindo de código de conduta para cada um de nós, ainda hoje.
Como, então, atingir a proposta do Mestre?
Prestar atenção na forma como pensamos, que valores adotamos para guiar nossas atitudes e como agimos diariamente, pois a maledicência e a maldade revelam nossa imperfeição; daí a necessidade de atentarmos de como andam nossas atitudes. O tema nos fala sobre a importância de não julgarmos precipitadamente as criaturas e, conseqüentemente, não atirarmos a primeira pedra naqueles que nos parecem errados.
Muitas vezes, somos benevolentes para com os nossos erros e muito severos para com os erros dos outros. Temos um exemplo:
Todos os dias, Dona Maria olhava pela janela de sua cozinha em direção ao varal de roupas na casa de sua vizinha e comentava com a família:
- Nossa! Como os lençóis daquela mulher estão sujos!
No dia seguinte, novamente na cozinha e olhando mais uma vez para a sua vizinha, que estendia as roupas, Dona Maria comentava:
- Não sei como ela não tem vergonha de colocar aquelas roupas imundas no varal!
E era assim todos os dias. Dona Maria já estava habituada a olhar para o varal da vizinha e criticá-la por tanta roupa suja. Até que, um dia, não suportando mais ver aquilo, decidiu que iria chamar a atenção da vizinha.
Ao vê-la estendendo seus lençóis, correu na direção da janela da cozinha. Mas, para a sua surpresa, Dona Maria descobriu que a sua janela estava emperrada. E notou também que, ao tentar abri-la, os vidros ficavam com as marcas de sua mão. Desesperada, pegou um pano e começou a limpar os vidros. O pano ficou coberto de sujeira. Após encerrar a limpeza, ao olhar novamente para o varal da vizinha, pode ver que todas as roupas estendidas estavam limpas, alvas.
Só então percebeu que, na realidade, o que estava sujo não eram as roupas da vizinha, e sim a sua vidraça.
Na maior parte do tempo estamos observando e julgando, e quase sempre errando, porque não usamos a mesma medida para avaliar os outros que gostaríamos que usassem para nos avaliar. É necessário que sejamos mais benevolentes, retiremos a trave dos nossos olhos e não critiquemos a dos olhos dos outros.
Hammed nos propõe “Melhor do que medir ou apontar o comportamento de alguém seria tomarmos a decisão de visualizar bem fundo nossa intimidade. Os indivíduos podem ser considerados, nesses casos, excelente espelho, no qual veremos quem somos realmente”.
Afirma ele “só poderemos nos reabilitar ou reformar até onde conseguimos nos perceber; ou seja, aquilo que não está consciente em nós dificilmente conseguiremos reparar ou modificar”.
Quando não nos observamos, corremos o risco de cometermos erros, injustiças, atitudes incorretas e precipitadas, complicando nossa evolução devido aos nossos mecanismos de defesa – “processos mentais inconscientes que possibilitam ao indivíduo manter sua integridade psicológica através de uma forma – o auto-engano”.
Muitas vezes, as pessoas por não conseguirem conviver com a verdade, tentam sufocar ou enclausurar seus sentimentos e emoções no inconsciente, disfarçando-os.
Em todo comportamento humano existe uma lógica, isto é, uma maneira particular de raciocinar sobre sua verdade; portanto, julgar, medir e sentenciar os outros, não se levando em conta suas realidades, mesmo sendo consideradas preconceituosas, neuróticas ou psicóticas, é não ter bom senso ou racionalidade, pois na vida somente é válido e possível o ―auto-julgamento, afirma o autor.
Outro aspecto importante do julgamento a ser apontado é o que se julga. Julgar uma ação é diferente de julgar a criatura. Podemos julgar e considerar a prostituição moralmente errada, mas não podemos e não devemos julgar a pessoa prostituída. Ao usarmos da empatia, colocando-nos no lugar do outro, ― sentindo e pensando com ele, em vez de ― pensar a respeito dele, teremos o comportamento ideal diante dos atos e atitudes das pessoas, refere Hammed.
Como forma de melhor os vigiarmos neste aspecto devemos adotar a auto-avaliação e a meditação como importantes ferramentas de uso diário a fim de sairmos desse padrão contínuo de desacertados julgamentos.
Lembrar também que “o ser humano é um verdadeiro campo magnético. Atrai pessoas e situações, criando sintonias tanto positivas como negativas.” Se observarmos os acontecimentos e os fatos da nossa vida, e dos outros, vamos perceber que muitos deles são repetitivos. Quando adentramos num ambiente somos capazes de realizar uma leitura sensitiva daquele ambiente. O modo de ser e de agir de grupos revela sua liderança, pelo modo como o ambiente deste grupo se revela. Isto se chama sintonia, determinada pelo campo magnético de cada um.
De forma muito elucidativa Hammed diz “nossas afirmações prescreverão as águas por onde a embarcação de nossa vida deverá navegar”.
Segundo Paulo de Tarso, ―é indesculpável o homem, quem quer que seja, que se arvora em ser juiz. Porque julgando os outros, ele condena a si mesmo, pois praticará as mesmas coisas, atraindo-as para si, com seu julgamento.
Portanto, nossos julgamentos serão sempre os motivos de nossa liberdade ou de nossa prisão no processo de desenvolvimento e crescimento espiritual.
Não julgueis para não serdes julgados, propõe a mudança e melhora íntima, através da busca da melhoria diária.
Sócrates sabiamente enfatizou essa atitude quando propôs “Conhece-te a ti mesmo”, que nada mais é que o trabalho de auto-análise, de mergulho no Eu, a fim de identificarmos a nossa realidade íntima e corrigi-la dia a dia pelo esforço da renovação da atitude e não autopunição. Temos que ter o cuidado para não nos acharmos a última das criaturas após a identificação dos erros e evitar extremos. Antes, éramos o máximo, e após a conscientização, passamos a nos considerar as últimas criaturas. O Equilíbrio se faz necessário e deve ser o norteador de nossa conduta.
Bibliografia: O Evangelho segundo o Espiritismo – Allan Kardec - tradução de Salvador Gentile – Editora IDEAl, 315a. edição, 2005 – SP.
Renovando Atitudes – Francisco do Espírito Santo – ditado pelo espírito de Hammed, capitulo 10, item 1, pg 11. Editora Boa Nova, 1997 - SP.
Site: http://www.espirito.org.br/portal/palestras/irc-espiritismo/estudos-espiritas
Não Julgueis...
Não Julgueis...
“Não julgueis, e não sereis julgados. Porque do mesmo modo que julgardes, sereis
também vós julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós
sereis medidos. Por que olhas a palha que está no olho de teu irmão e não
vês a trave que está no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu
olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão”.
Jesus
Mateus, 7:1 a 5
Esclarecimentos iniciais:
Julgar (do Latim Judicare) significa:
verbo transitivo: decidir como juiz ou árbitro; sentenciar; entender; avaliar; formar juízo; lavrar ou pronunciar sentenças; apreciar;
verbo intransitivo: formar opinião, conceito a respeito de pessoa ou coisa; ajuizar.
Existe aí uma pequena confusão. A palavra crítico (do Latim. criticu , do Grego. Kritikós) tem como significado “capaz de julgar”, mas no sentido de avaliar.
Daí decorre que geralmente pensamos na palavra “criticar” num sentido negativo - destacar falhas nos outros. Mas a palavra “criticar” significa simplesmente “avaliar”.
Entendendo as palavras do Mestre
Neste passo, as palavras de Jesus não significam estar contra o julgamento civil.
O próprio Mestre, apesar da grandiosidade de seu espírito, a despeito de ser o maior que veio a Terra (questão 625 de “O Livro dos Espíritos”), que estava em condições de exercer qualquer espécie de julgamento, não concordou em desempenhar o papel de juiz:
"Disse-Lhe então alguém do meio do povo: “Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a
herança”. Jesus respondeu-lhe: “Meu amigo, quem me constituiu juiz ou árbitro entre vós?”
Lucas, 12:13 e 14
Pedro, discípulo ocular de Jesus, em sua Primeira Epístola, no capítulo II, versículos 13 e 14, relembra o ensino do Mestre:
“Por amor do Senhor, sede submissos, pois, a toda autoridade humana, quer ao rei como soberano, quer aos
governadores como enviados por ele para castigo dos malfeitores e para favorecer as pessoas honestas”.
Como a Bíblia não se contradiz, Paulo, Apóstolo dos Gentios, reafirma:
“Admoesta-os a que sejam submissos aos magistrados e às autoridades,
sejam obedientes, estejam prontos para qualquer obra boa”.
Epístola a Tito, 3:1
e
“Cada qual seja submisso às autoridades constituídas. Porque não há autoridade
que não venha de Deus, e as que existem foram instituídas por Deus”.
Epístola aos Romanos, 13:1
Então qual o propósito de Jesus ao “ordenar”: precisamos parar de julgar?
Em Mateus, 5:17, Ele deixa claro que não queria modificar a lei ou os profetas, mas dar-lhes novo entendimento. Dessa forma Ele falava aos judeus:
1) Os judeus já estavam seguindo Jesus por onde quer que Ele fosse, na tentativa de achar alguma falha para acusá-Lo (Lucas, 6:1 a 7);
2) Os escribas e fariseus eram culpados do tipo de julgamento que Jesus estava denunciando (Lucas, 18:9 a 14);
3) Em Mateus, 5:20, Ele disse: “(…) Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus”
Quando Jesus nos disse: não julgueis para não serdes julgados, Ele quis nos dizer para não condenarmos a criatura, e não a sua atitude. Ele quis nos dizer para não denegrir a criatura, não condenar a criatura e sim o mal que ela possa ter feito.
Então, reprimir o mal é nosso dever. Censurar o mal, também, mas não as criaturas. É através do exemplo que devemos educar. As palavras, até convencem, mas os exemplos arrastam.
De um modo geral, somos benevolentes para com os nossos erros e muito severos para com os erros dos outros.
A nossa tendência é nos acharmos as criaturas mais perfeitas da face da Terra. Sempre estamos certos e os outros sempre errados.
As palavras de Jesus ensinam que existe um determinado tipo de julgamento que devemos evitar:
Tendencioso: Uma deficiência comum é permitir que nossa formação, nossos preconceitos e preferências influenciem nosso julgamento. É difícil evitar isto. Dizem que os gregos antigos às vezes realizavam julgamentos no escuro para serem influenciados somente pelos fatos.
Precipitado: Acontece com freqüência de julgarmos os outros precipitadamente, sem ter todos os fatos ou conhecer todas as circunstâncias. Muitas vezes, não temos as informações completas sobre o que realmente aconteceu. Pode ser que não entendamos o histórico ou a motivação do indivíduo acusado. Talvez não saibamos se aquele ato foi a regra ou uma exceção na vida dele. Antes de instruir a multidão a “julgar com reta justiça”, Jesus disse: “Não julgueis segundo a aparência” (João, 7:24).
Severo: Como resultado das perspectivas negativas acima citadas, ao se formular um julgamento, não raro somos severos e hipercríticos em nosso parecer, quando deveríamos temperar nossa análise com misericórdia e amor. Pedro disse: “Antes de tudo, mantenham entre vós uma ardente caridade, porque a caridade cobre a multidão de pecados” (1 Pedro, 4:8).
Dar-se bem com os outros é em grande parte uma questão de espírito. Por um lado, há um espírito amoroso e compassivo que acredita no melhor e tenta elevar e ajudar o outro. Por outro lado, há um espírito severo, insensível e julgador que se deleita em ver alguém “receber o que merece”. Este conflito está representado na espada a nós prometida pelo Mestre dos Mestres em Mateus 10:34.
Insensível: Jesus também estava condenando a atitude de pensar o pior sobre o que as pessoas fazem, em vez de pensar no melhor. Em 1 Coríntios 13:4 a 7, Paulo diz, em outras palavras, que o amor está “sempre ávido para crer no melhor”.
É verdade que podemos conhecer uma pessoa pelo que ela faz, mas geralmente seus atos estão sujeitos a pelo menos duas interpretações diferentes: uma boa e outra má. Nesse caso, qual interpretação geralmente consideramos para o que essa pessoa fez?
E Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Lucas, cap. 23:34
Com estas palavras Jesus nos ensina em primeiro lugar, que ao Pai compete o nosso julgamento;.em segundo, Ele se apresenta como defensor daqueles que O ofendem.
Isto implica dizer que, no âmbito da lei de causa e efeito, seremos bitolados pelo mesmo gabarito que usarmos contra o nosso irmão no desenrolar das nossas vidas terrenas.
Que Paz do Senhor seja com todos.
Fraternal abraço.
Marcos José Ferreira da Cruz Machado
Belo Horizonte - FEV/2009
“Não julgueis, e não sereis julgados. Porque do mesmo modo que julgardes, sereis
também vós julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós
sereis medidos. Por que olhas a palha que está no olho de teu irmão e não
vês a trave que está no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu
olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão”.
Jesus
Mateus, 7:1 a 5
Esclarecimentos iniciais:
Julgar (do Latim Judicare) significa:
verbo transitivo: decidir como juiz ou árbitro; sentenciar; entender; avaliar; formar juízo; lavrar ou pronunciar sentenças; apreciar;
verbo intransitivo: formar opinião, conceito a respeito de pessoa ou coisa; ajuizar.
Existe aí uma pequena confusão. A palavra crítico (do Latim. criticu , do Grego. Kritikós) tem como significado “capaz de julgar”, mas no sentido de avaliar.
Daí decorre que geralmente pensamos na palavra “criticar” num sentido negativo - destacar falhas nos outros. Mas a palavra “criticar” significa simplesmente “avaliar”.
Entendendo as palavras do Mestre
Neste passo, as palavras de Jesus não significam estar contra o julgamento civil.
O próprio Mestre, apesar da grandiosidade de seu espírito, a despeito de ser o maior que veio a Terra (questão 625 de “O Livro dos Espíritos”), que estava em condições de exercer qualquer espécie de julgamento, não concordou em desempenhar o papel de juiz:
"Disse-Lhe então alguém do meio do povo: “Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a
herança”. Jesus respondeu-lhe: “Meu amigo, quem me constituiu juiz ou árbitro entre vós?”
Lucas, 12:13 e 14
Pedro, discípulo ocular de Jesus, em sua Primeira Epístola, no capítulo II, versículos 13 e 14, relembra o ensino do Mestre:
“Por amor do Senhor, sede submissos, pois, a toda autoridade humana, quer ao rei como soberano, quer aos
governadores como enviados por ele para castigo dos malfeitores e para favorecer as pessoas honestas”.
Como a Bíblia não se contradiz, Paulo, Apóstolo dos Gentios, reafirma:
“Admoesta-os a que sejam submissos aos magistrados e às autoridades,
sejam obedientes, estejam prontos para qualquer obra boa”.
Epístola a Tito, 3:1
e
“Cada qual seja submisso às autoridades constituídas. Porque não há autoridade
que não venha de Deus, e as que existem foram instituídas por Deus”.
Epístola aos Romanos, 13:1
Então qual o propósito de Jesus ao “ordenar”: precisamos parar de julgar?
Em Mateus, 5:17, Ele deixa claro que não queria modificar a lei ou os profetas, mas dar-lhes novo entendimento. Dessa forma Ele falava aos judeus:
1) Os judeus já estavam seguindo Jesus por onde quer que Ele fosse, na tentativa de achar alguma falha para acusá-Lo (Lucas, 6:1 a 7);
2) Os escribas e fariseus eram culpados do tipo de julgamento que Jesus estava denunciando (Lucas, 18:9 a 14);
3) Em Mateus, 5:20, Ele disse: “(…) Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus”
Quando Jesus nos disse: não julgueis para não serdes julgados, Ele quis nos dizer para não condenarmos a criatura, e não a sua atitude. Ele quis nos dizer para não denegrir a criatura, não condenar a criatura e sim o mal que ela possa ter feito.
Então, reprimir o mal é nosso dever. Censurar o mal, também, mas não as criaturas. É através do exemplo que devemos educar. As palavras, até convencem, mas os exemplos arrastam.
De um modo geral, somos benevolentes para com os nossos erros e muito severos para com os erros dos outros.
A nossa tendência é nos acharmos as criaturas mais perfeitas da face da Terra. Sempre estamos certos e os outros sempre errados.
As palavras de Jesus ensinam que existe um determinado tipo de julgamento que devemos evitar:
Tendencioso: Uma deficiência comum é permitir que nossa formação, nossos preconceitos e preferências influenciem nosso julgamento. É difícil evitar isto. Dizem que os gregos antigos às vezes realizavam julgamentos no escuro para serem influenciados somente pelos fatos.
Precipitado: Acontece com freqüência de julgarmos os outros precipitadamente, sem ter todos os fatos ou conhecer todas as circunstâncias. Muitas vezes, não temos as informações completas sobre o que realmente aconteceu. Pode ser que não entendamos o histórico ou a motivação do indivíduo acusado. Talvez não saibamos se aquele ato foi a regra ou uma exceção na vida dele. Antes de instruir a multidão a “julgar com reta justiça”, Jesus disse: “Não julgueis segundo a aparência” (João, 7:24).
Severo: Como resultado das perspectivas negativas acima citadas, ao se formular um julgamento, não raro somos severos e hipercríticos em nosso parecer, quando deveríamos temperar nossa análise com misericórdia e amor. Pedro disse: “Antes de tudo, mantenham entre vós uma ardente caridade, porque a caridade cobre a multidão de pecados” (1 Pedro, 4:8).
Dar-se bem com os outros é em grande parte uma questão de espírito. Por um lado, há um espírito amoroso e compassivo que acredita no melhor e tenta elevar e ajudar o outro. Por outro lado, há um espírito severo, insensível e julgador que se deleita em ver alguém “receber o que merece”. Este conflito está representado na espada a nós prometida pelo Mestre dos Mestres em Mateus 10:34.
Insensível: Jesus também estava condenando a atitude de pensar o pior sobre o que as pessoas fazem, em vez de pensar no melhor. Em 1 Coríntios 13:4 a 7, Paulo diz, em outras palavras, que o amor está “sempre ávido para crer no melhor”.
É verdade que podemos conhecer uma pessoa pelo que ela faz, mas geralmente seus atos estão sujeitos a pelo menos duas interpretações diferentes: uma boa e outra má. Nesse caso, qual interpretação geralmente consideramos para o que essa pessoa fez?
E Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Lucas, cap. 23:34
Com estas palavras Jesus nos ensina em primeiro lugar, que ao Pai compete o nosso julgamento;.em segundo, Ele se apresenta como defensor daqueles que O ofendem.
Isto implica dizer que, no âmbito da lei de causa e efeito, seremos bitolados pelo mesmo gabarito que usarmos contra o nosso irmão no desenrolar das nossas vidas terrenas.
Que Paz do Senhor seja com todos.
Fraternal abraço.
Marcos José Ferreira da Cruz Machado
Belo Horizonte - FEV/2009
FLEXIBILIDADE NOS JULGAMENTOS
"Já vimos de quanta importância é a uniformidade de sentimentos, para a obtenção de bons resultados." O Livro dos Médiuns
Assunto grave e oportuno nas questões da vida interpessoal são as sentenças irredutíveis que costumamos lavrar relativamente aos outros no campo dos julgamentos.
Ainda não desenvolvemos suficiente capacidade para analisar o "outro", entendido aqui como sendo "o diferente de nós", de maneira alteritária, isenta das lentes morais que classificam as diferenças como imperfeições e limitações.
Em razão disso, e também por conveniência, basta uma só atitude infeliz de nosso próximo, pela nossa ótica, para decretarmos veredictos éticos, que serão rigorosos adjetivos identificadores da personalidade daquilo que o "outro" é, em nossa concepção.
Um homem não pode ser julgado apenas por uma atitude, por uma faceta de seu temperamento. Ter-se-ia que melhor aquilatar suas razões, seus sentidos pessoais, sua integralidade espiritual para então fazermos melhor avaliação sobre os porquês de suas ações e de seu proceder.
A precipitação e a parcialidade nesse capítulo das relações têm ensejado um "imaginário", inverossímil - fantasias calcadas em expectativas relativamente àqueles com os quais convivemos.
A influência dos papéis sociais, as tendências do homem integral, a questão da educação infantil, o momento psicológico da criatura, a interferência de desencarnados, os interesses pessoais são apenas alguns dos muitos fatores que devem ser arrolados na "arte de julgar".
Conveniências, nas quais nos encontramos amordaçados moralmente no atendimento a caprichos ou conceitos pessoais, rezam que decretemos juízos definitivos e imutáveis sobre as pessoas. Uma leve flatulência e já nos sentimos à vontade para expedir juízos. E se a pessoa em questão é alguém que não atende as nossas exigências de entendimento e afinidade, possivelmente daqui a um século ainda sustentaremos as mesmas recriminações, guardando, por conveniência, as mesmas idéias sobre nosso "réu". Nesse caso, nosso orgulho rebaixa o "outro" ao patamar das próprias lutas pessoais, e a inveja provoca uma miopia impedindo-nos de enxergar as qualidades nele existentes.
Difícil tema dos relacionamentos, porque além de convivermos com aquilo que os outros pensam que somos, ainda temos que separar aquilo que pensamos que somos, daquilo que realmente somos, deixando claro que nem mesmo nós próprios, em muitos lances, sabemos avaliar com a precisão necessária as causas de nossas ações.
Como então apressar em lavrar acusações sobre o próximo se nem a nós mesmos conhecemos com exatidão?
Devido a esse hábito enfermiço, podemos registrar algumas consequências previsíveis na vida inter-relacional, quais sejam:
- Contínua indisposição de conviver com as "pessoas-alvo" de nossos veredictos depreciativos.
- Incômodos emocionais variados, quando na presença da criatura julgada por nós.
- Tendência à maledicência na manutenção dos decretos por nós lavrados.
Carecemos analisar quais as causas desse automatismo milenar, se desejamos superá-lo o quanto antes. Em alguns casos, o complexo de inferioridade faz-se presente levándo-nos a reduzir o conceito de valor do "outro", porque assim fruímos a sensação de que somos melhores aquilatados. Outras vezes, deparamo-nos com uma situação de "projeção de auto-repulsão", recriminando no "outro" o que não aceitamos em nós.
Sem a reencarnação não poderíamos investigar esse episódio comportamental com a merecida sabedoria, analisando a influência de imperfeições que determinaram fracassos conscienciais em vidas anteriores e custaram muita amargura e dor na erraticidade. Planejando o recomeço na carne, priorizamos intensa vigilância sobre esses antigos desvarios morais, nutrindo propósitos renovadores. Retomando a oportunidade na Terra, embalados por esses sonhos de libertação e conscientização, tenderemos a ser severos com tudo que orbita em torno dos traços de caráter que desejamos vencer. Lamentavelmente tal severidade transferimos também ao nosso próximo, e chegamos mesmo a imputá-la, em alguns casos, como pertinente somente a ele, relegando mais uma vez os deveres corretivos em nós mesmos nas áreas de fragilidade.
Em verdade são variadas as causas dessa rigidez nos juízos implacáveis.
O importante é que tenhamos maleabilidade sempre na nossa vida interpessoal.
Cada homem tem seus motivos para ser como é ou fazer o que faz, ainda que palmilhando pela perversidade...
Busquemos assim a conquista da compreensão em favor da alteridade. Alteridade essa que não nos eximirá de ajuizar e pensar, mas que nos conduzirá a uma postura de predisposição ao convívio fraternal nas bases da tolerância, do perdão e do entendimento, quanto possível.
Evidentemente, não somos obrigados a ser coniventes com as atitudes do próximo, no entanto, os desafios da convivência apelam para a utilização de relativização nas análises imputadas aos corações de nossa faina diária.
Aprofundemos constantemente o entendimento sobre os motivos que levam o homem a fazer suas escolhas e a tomar suas decisões.
Elastecer a sensibilidade afetiva para galgar essa compreensão da realidade subliminar de cada criatura, penetrar na alma de cada ser, extrair a essência: sem tal exercício, ficaremos na superficialidade estabelecendo juízos parciais e sem conhecer as raízes das ações humanas, aprisionados a versões unilaterais que podem trazer-nos decepções ao longo da vida ou mesmo na Imortalidade!!!
Prudente será, portanto, que apliquemos sempre a severidade conosco próprios, procurando tirar o véu do personalismo e realizando o auto-encontro com a verdade sobre nós próprios.
Ainda assim será imprescindível a flexibilidade, o auto-perdão, a complacência para com nossas deficiências, porque quando tomamos, também para conosco, a decisão dos juízos imperdoáveis, caminhamos para o outro extremo da questão, alimentando o desamor e a culpa contra a conquista da felicidade pessoal.
Ninguém é no todo exatamente aquilo que dele pensamos ou sentimos.
Perceberemos em cada ser aquilo que constitui, em verdade, o "material da vida" que edificamos em favor do nosso progresso pessoal.
Relações mudam, quando mudamos o foco que temos sobre aqueles de nossa convivência.
Quando mantemos um foco único sobre alguém, devemos nos perguntar: Por que estamos deliberando fixar a mente nesse padrão?
Certamente perceberemos, com tempo e serenidade, a que motivos estamos atendendo; aliás esses são quesitos imprescindíveis para julgamentos mais realistas e proveitosos.
Essa descoberta será de grande valor para nós, por se tratar do divino movimento interior do autoconhecimento, lançando sondas nas regiões incognoscíveis do mundo íntimo em busca do aperfeiçoamento que nos tornará maleáveis e plenos de alteridade com o "outro" diferente, aprendendo a amar sua diferença e com ela sempre acrescer algo no auxílio e construção de uma relação pacífica e promissora
*****
Amigos,
Julgamentos definitivos excluem as possibilidades da fraternidade.
As pessoas mudam a cada dia, e nem sempre se conservam as mesmas, o que se lhes seria um direito caso isso fosse possível.
Nos ambientes espiritistas os julgamentos morais tornaram-se triviais. Em razão dos conteúdos do conhecimento com o qual laboramos, muito facilmente percebe-se as conclusões do tipo: "é personalismo", "é vaidade", "é invigilância"; tais peças da "inquisição ética" infelizmente são utilizadas como processo de exclusão institucional ou mesmo relacional. A elevadíssima expectativa que nutrimos uns para com os outros, entre espíritas, chega às raias da insensatez. Devemos sempre esperar muito de nós mesmos, e ter sempre acendrada misericórdia para com o outro.
Tal expectativa chega ao ponto de presenciarmos, inclusive, os julgamentos sobre o estado espiritual post mortem daqueles com quem convivemos ou que foram expoentes de nossas lides. Sobre os quais, comumente, imputa-se excessivo rigor acerca de como se encontram na vida dos Espíritos, face a alguns deslizes cometidos por tais corações quando na experiência carnal. Sejam graves ou não esses desatinos do comportamento alheio, é preciso destacar que o critério de maior influência na erraticidade ainda é e sempre será a consciência, acrescido da interferência protetora e educativa dos avalistas das reencarnações. Em conhecendo a "ficha espiritual dos milênios" de seus tutelados, têm eles plena e competente capacidade para ajuizar sobre os destinos futuros. E não esqueçamos que, como "instrumentos da misericórdia", tais tutores do bem só ajuízam sobre a recém-finda vivência de seu tutelado considerando o somatório de suas existências, sem jamais se fixarem nas infelizes decisões que tenha tomado ao longo de apenas uma etapa.
Para nós que temos acompanhado inúmeros processos de avaliação nessa perspectiva, aqui na vida espiritual, podemos vos afiançar que a carga de expectativa que os irmãos de ideal no plano físico colocam nos julgamentos uns sobre os outros, via de regra, não corresponde ao beneplácito com o qual é tratado cada desencarne de espíritas.
A elevada carga de expectativas que têm os companheiros destitui o sábio recurso da sensatez e da indulgência. Enquanto na vida espiritual aqueles que para os homens deveriam ser recebidos com honras quase sempre se encontram na perturbação, aqueloutros, que supondes na infelicidade em razão de suas invigilâncias, comumente, contam com o crédito do serviço no bem que realizaram, na amenização de suas faltas, e na garantia de um amparo que os permita experimentar, tão somente, a controlável amargura que terão de suportar pelo bem que podiam fazer e não fizeram...
Essa é uma empreitada decisiva do orgulho que ainda nos mantém reféns ante os novos ideais que esposamos.
Não conseguindo os vôos de amor no campo do afeto que nos possibilitaria a tolerância e a afeição incondicionais, vivemos atrelados aos pesados fardos impostos pelas relações fatigantes uns com os outros, incomodados com a ação alheia, estabelecendo cobranças que supomos justas, sobrecarregando o próprio psiquismo com agastamentos a título de "defesa doutrinária" ou de correção de fatores históricos mal talhados, sob a ótica de nossas avaliações.
Enquanto mantivermos essas sentenças imutáveis penetraremos cada dia mais as sombras de nós mesmos, revivendo velhos quadros da perseguição doentia por "amor a Deus"!!!
Quem cultiva a autenticidade e guarda a consciência tranquila na vivência dos ideais que esposa deve sempre recorrer ao diálogo, ao perdão, ao estudo atento dos fatos, objetivando fazer melhores juízos de tudo e todos, buscando penetrar na essência das experiências da convivência e, sobretudo, sempre advogando o bem e a concordância no trabalho digno e renovador, evitando as ciladas do orgulho humano a nos conduzir ao império do autoritarismo e da tirania.
Jesus poderia ter estabelecido a Verdade para Pilatos, mas não o fez. Decretaria Ele na ocasião algo que competia ao governador descobrir por si mesmo. Certamente o Mestre sabia que pouco adiantaria julgar Pilatos em sentença recriminativa de qualquer natureza moral, porque ele não aceitaria e tudo permaneceria do mesmo modo.
Abstendo-se de ajuizar com o séquito romano, Jesus ensina-nos a evitar a promoção de vínculos sutis e desgastantes, que sempre passam a existir quando decidimos, com nossa suposta autoridade, sentenciar com maus sentimentos a vida além da nossa, roubando a própria paz interior.
Razão pela qual, com o brilhantismo de sempre, Allan Kardec destacou, conforme nossa referência em estudo: "Já vimos de quanta importância é a uniformidade de sentimentos, para a obtenção de bons resultados.
Ermance Dufaux - Capítulo 18 do livro Laços de Afeto
Julgamentos - Não julgueis - links
https://cursodeespiritismo.blogspot.com.br/2016/07/nao-julgueis-fim-de-que-nao-sejais.html
https://cursodeespiritismo.blogspot.com.br/2013/10/julgamentos.html
https://cursodeespiritismo.blogspot.com.br/2013/10/julgamento-alheio.html
https://cursodeespiritismo.blogspot.com.br/2010/12/julgamentos-e-reforma-intima.html
http://www.verdadeluz.com.br/quando-passamos-julgar-o-outro-e-que-percebemos-vera-jacubowski/
https://espiritismodaalma.wordpress.com/2017/08/17/por-que-nao-devemos-julgar/#more-242
http://www.espiritoimortal.com.br/quando-voce-julga-o-outro-voce-mede-a-si-mesmo/
http://consciencial.org/apometria-espiritismo/o-erro-dos-outros-e-seu-julgamento/
https://cursodeespiritismo.blogspot.com.br/2013/10/julgamento-alheio.html
https://cursodeespiritismo.blogspot.com.br/2010/12/julgamentos-e-reforma-intima.html
http://www.verdadeluz.com.br/quando-passamos-julgar-o-outro-e-que-percebemos-vera-jacubowski/
https://espiritismodaalma.wordpress.com/2017/08/17/por-que-nao-devemos-julgar/#more-242
http://www.espiritoimortal.com.br/quando-voce-julga-o-outro-voce-mede-a-si-mesmo/
http://consciencial.org/apometria-espiritismo/o-erro-dos-outros-e-seu-julgamento/
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018
Diferença entre Casa e Lar
Casa é uma construção de cimento e tijolos.
Lar é uma construção de valores e princípios.
Casa é o nosso abrigo das chuvas, do calor, do frio...
Lar é o abrigo do medo, da dor e da solidão.
Casa é o lugar onde as pessoas entram para dormir,
usar o banheiro, comer. Onde temos pressa para sair
e retardamos a hora de voltar.
O lar é o lugar onde os membros da família anseiam
por estar nele, onde refazem suas energias,
alimentam-se de afeto e encontram o conforto do acolhimento.
É onde temos pressa de chegar e retardamos a hora de sair.
Numa casa criamos e alimentamos problemas.
O lar é o centro de resolução de problemas.
Numa casa moram pessoas
que mal se cumprimentam e se suportam.
Num lar vivem companheiros que, mesmo na divergência,
se apoiam e nas lutas se solidarizam.
Numa casa desdenha-se dos nossos valores.
No lar sonhamos juntos.
Numa casa há azedume e destrato.
Num lar sempre há lugar para a alegria.
Numa casa nascem muitas lágrimas.
Num lar plantam-se sorrisos.
A casa é um nó que oprime, sufoca.
O lar é um ninho que aconchega.
Se você ainda mora em uma Casa,
nós o (a) convidamos a transformá-la, com urgência,
em um Lar e que JESUS seja sempre o seu
convidado Especial.
Abigail Guimarães
inspirado numa reflexão de Alba Magalhães David
Lar é uma construção de valores e princípios.
Casa é o nosso abrigo das chuvas, do calor, do frio...
Lar é o abrigo do medo, da dor e da solidão.
Casa é o lugar onde as pessoas entram para dormir,
usar o banheiro, comer. Onde temos pressa para sair
e retardamos a hora de voltar.
O lar é o lugar onde os membros da família anseiam
por estar nele, onde refazem suas energias,
alimentam-se de afeto e encontram o conforto do acolhimento.
É onde temos pressa de chegar e retardamos a hora de sair.
Numa casa criamos e alimentamos problemas.
O lar é o centro de resolução de problemas.
Numa casa moram pessoas
que mal se cumprimentam e se suportam.
Num lar vivem companheiros que, mesmo na divergência,
se apoiam e nas lutas se solidarizam.
Numa casa desdenha-se dos nossos valores.
No lar sonhamos juntos.
Numa casa há azedume e destrato.
Num lar sempre há lugar para a alegria.
Numa casa nascem muitas lágrimas.
Num lar plantam-se sorrisos.
A casa é um nó que oprime, sufoca.
O lar é um ninho que aconchega.
Se você ainda mora em uma Casa,
nós o (a) convidamos a transformá-la, com urgência,
em um Lar e que JESUS seja sempre o seu
convidado Especial.
Abigail Guimarães
inspirado numa reflexão de Alba Magalhães David
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018
Qual é a filosofia espírita?
Qual é a filosofia espírita?
Da compreensão geral de que o Espiritismo é ou tem uma filosofia surge a necessidade de explicitá-la. Os seus adeptos reproduzem com acerto os seus aspectos filosóficos, e os separam com habilidade adquirida pelos estudos kardequianos daqueles outros científicos e religiosos. E também o caráter filosófico de uma doutrina qualquer é sempre mais discernível e menos controverso do que um seu possível elemento científico. Estas são razões pelas quais se fala numa filosofia espírita com alguma segurança.
Entretanto, a academia possui no que tange à filosofia não menos exigências e regras do que às que competem à prática das ciências. Afinal, então, o que é e como se sustenta a filosofia espírita? Tentaremos mais problematizar do que responder a este questionamento.
Do ponto de vista da filosofia como especialidade, o Espiritismo apresenta-se como filosofia popular, o que equivale a dizer, como razão argumentativa, mas não fundamentadora. Esta qualificação não precisa ser pejorativa, e mesmo algumas das melhores filosofias tiveram um cunho acentuadamente popular, como em Voltaire, Rousseau e Nietzsche. É também uma visão filosófica válida e oficial a de que a razão já está desde sempre em jogo com seus problemas específicos, e não pode ou não requer fundamentação. Ainda assim, a maior parte do que se produziu sob o título de filosofia na história humana destinava-se à fundamentação do conhecimento.
São mentes analíticas e interessadas na fundamentação das certezas a de Platão, a de Descartes, a Locke e a de Kant, alguns, portanto, dos maiores filósofos. Segundo estes a atividade filosófica não se faz propriamente sem o esforço exaustivo de sua própria crítica, de modo que qualquer filosofia digna do nome ou vai até as últimas consequências ou compra um método que já o tenha feito. Os bons filósofos populares o são por seu interesse prático (moral ou político), sem que dispensem o concurso de uma boa base metodológica. E se Kardec foi um bom filósofo popular, o que acreditamos razoável afirmar, devemos encontrar em sua prática os princípios de algum ou alguns filósofos mais analíticos, para não dizer sistemáticos (nome que à época não soava bem).
O primeiro indício de que Kardec não é um filósofo sistemático está em ele lançar mão de múltiplos conceitos e axiomas sem os justificar. Esta atitude pode significar, como dito, tanto o descompromisso com a filosofia quanto uma adoção prévia de métodos filosóficos bem estabelecidos. E não há a mais remota dúvida de que os conceitos e axiomas pressupostos por Kardec correspondem à visão eclética do saber filosófico de princípios do século XIX. Em primeiro lugar porque todos estes pressupostos pertencem à ala ortodoxa da filosofia francesa, requerendo assim pouca ou nenhuma exposição sistemática; em segundo lugar porque estas conquistas em especial eram classificadas como conquistas da ilustração e todos os autores da época estavam habituados a assumir os elementos deste grande edifício eclético e enciclopédico como ponto de partida. Pensadores tão importantes como Benjamin Constant, Madame de Staël e Tocqueville jamais se preocupam, assim como Kardec, em fundamentar o conceito de razão, ou analisar a constituição metafísica da liberdade. Ao invés disto eles os tomam do poço da filosofia iluminista e os aplicam com habilidade de filósofos práticos aos seus interesses.
Para elencar alguns dos pressupostos essenciais da classe ilustrada francesa e/ou européia dos anos 1800 a 1840 podemos citar resumidamente:
1- A fundamentação do pensamento por Descartes, com a respectiva separação entre o princípio pensante do princípio material, a constituírem os modos de ser.
2- A ideia platônica de que a matemática corresponderia ao modus operandi da natureza. Noção renascentista que foi solidificada por Galileu, Bruno e Descartes.
3- O atomismo de Diderot, que copiando Demócrito e Epicuro postulou todas as leis da física como consequências das leis que regem as partículas elementares.
4- A noção de liberdade como direito garantido por Deus, uma ideia cristã que se desenvolveu em séculos de teologia e filosofia, casando-se com as noções gregas de liberdade e culminando no axioma da liberdade humana conforme Locke, Voltaire e Rousseau.
5- A positividade da experiência como fundamento do saber, desenvolvida por Comte e imediatamente diversificada e adaptada por inúmeros pensadores e cientistas.
Poderíamos citar outros pontos, mas isto só aumentaria o volume de uma defesa que consideramos suficientemente estabelecida.
Está claro ao filósofo contemporâneo que a segurança de algumas destas pressuposições foi duramente abalada, durante o próprio século XIX e especialmente no XX. O item mais controverso hoje é o da equivalência entre matemática e natureza, ainda defendida com certa ingenuidade por muitos físicos e francamente proibida pela filosofia da ciência. O que se pode dizer hoje com sobriedade filosófica é que haja alguma correspondência entre as leis que postulamos matematicamente e o funcionamento da natureza, mas precisar a exatidão desta correspondência seria considerado uma postura dogmática.
Basta, contudo, o conhecimento do contexto histórico para lembrar que a nova filosofia responsável por questionar as certezas iluministas é de matriz alemã, e não estava plenamente acessível aos franceses da primeira metade do século XIX. Apesar de estar entre os poucos falantes de alemão da sociedade francesa da época, Allan Kardec provavelmente compartilhava da crença geral de seu povo a respeito dos germanos: a de se tratarem de um povo grosseiro recém chegado às raias da civilidade e que ensaiava suas forças intelectuais numa filosofia prolixa, mas essencialmente infrutífera.[1]
O posterior sucesso da filosofia alemã com todo o seu aparato crítico, a restauração da metafísica pelo Idealismo e as reviravoltas teológicas marcou para sempre a face da filosofia, um fenômeno que a vaidade francesa ainda digere com atraso.
A filosofia sistemática viu sua tocha ser cedida da França para a Alemanha, e desta para o mundo globalizado do pós-guerra. Resta saber em que medida isto depõe contra as filosofias práticas e populares.
Neste particular uma comparação entre Kardec e os outros filósofos populares franceses é indispensável. A maioria deles, exatamente por ser popular, sofreu minimamente com a transformação da filosofia sistemática, e a popularidade dos pensadores políticos e religiosos, dos psicólogos e moralistas franceses continuou tão irretorquível sob a luz dos sistemas alemães como quando em seu terreno natural do Iluminismo autóctone.
Redefinidos os fundamentos dos conceitos de razão e liberdade, sobre bases mais críticas e rigorosas, continuaram a viger na esfera prática as conclusões e intuições sóbrias que a análise social e psicológica francesa ou inglesa haviam efetuado em dois ricos séculos de modernidade.
A filosofia atual se esforça por refinar a fundamentação metafísica e epistemológica da razão, de Deus, da liberdade e da relação entre sujeito e objeto, etc., mas no campo prático e popular a maioria dos postulados iluministas continua a viger como moeda válida de interpretação dos fenômenos naturais e sociais. Em muitos aspectos, mudaram os caminhos, mas permaneceram os resultados da filosofia. É bem mais ingênuo ver algo de “errado” em Platão, por incompatibilidade de seus métodos com os recentes, do que dispensar os métodos recentes na apreciação de trabalhos filosóficos pregressos; e a história da filosofia continua a ser fonte de inspiração principal para os que pretendem reelaborá-la com vistas ao futuro.
Qual é, então, a base filosófica do Espiritismo, se o ecletismo espiritualista francês e o positivismo que o constituíram estão agora em cheque? Precisamente a mesma base que continuou a sustentar as outras filosofias práticas e populares após a substituição da Ilustração francesa, seu ecletismo e positivismo, pela filosofia crítica alemã.
Procurai então os defensores de Pascal, Voltaire, Rousseau, Staël e Tocqueville, e achareis o caminho para sustentar em linguagem atualizada aqueles mesmos pressupostos que fomentam o método kardequiano. E os caminhos para esta revisão técnica da filosofia espírita podem ser muitos, como muitas são as correntes mais recentes. O pragmatismo de James, a filosofia liberal e crítica de Popper e mesmo uma forma revisada da analítica existencial de Heidegger, como foi intentado por Herculano Pires, podem ser boas soluções.
Particularmente acho que a forma mais apropriada seja a da Metafísica da Subjetividade, uma variante eclética que se apropria de praticamente todas as outras correntes contemporâneas numa forma ao mesmo tempo clássica e crítica da metafísica, permitindo a validade dos conceitos-chave de Deus, imortalidade, razão e liberdade.
[1] Veja meu texto sobre Madame de Staël e o “descobrimento” da Alemanha: http://www.portalsophia.org/textos/stael/allemagneschubert.pdf
Postado por Humberto Schubert Coelho
Da compreensão geral de que o Espiritismo é ou tem uma filosofia surge a necessidade de explicitá-la. Os seus adeptos reproduzem com acerto os seus aspectos filosóficos, e os separam com habilidade adquirida pelos estudos kardequianos daqueles outros científicos e religiosos. E também o caráter filosófico de uma doutrina qualquer é sempre mais discernível e menos controverso do que um seu possível elemento científico. Estas são razões pelas quais se fala numa filosofia espírita com alguma segurança.
Entretanto, a academia possui no que tange à filosofia não menos exigências e regras do que às que competem à prática das ciências. Afinal, então, o que é e como se sustenta a filosofia espírita? Tentaremos mais problematizar do que responder a este questionamento.
Do ponto de vista da filosofia como especialidade, o Espiritismo apresenta-se como filosofia popular, o que equivale a dizer, como razão argumentativa, mas não fundamentadora. Esta qualificação não precisa ser pejorativa, e mesmo algumas das melhores filosofias tiveram um cunho acentuadamente popular, como em Voltaire, Rousseau e Nietzsche. É também uma visão filosófica válida e oficial a de que a razão já está desde sempre em jogo com seus problemas específicos, e não pode ou não requer fundamentação. Ainda assim, a maior parte do que se produziu sob o título de filosofia na história humana destinava-se à fundamentação do conhecimento.
São mentes analíticas e interessadas na fundamentação das certezas a de Platão, a de Descartes, a Locke e a de Kant, alguns, portanto, dos maiores filósofos. Segundo estes a atividade filosófica não se faz propriamente sem o esforço exaustivo de sua própria crítica, de modo que qualquer filosofia digna do nome ou vai até as últimas consequências ou compra um método que já o tenha feito. Os bons filósofos populares o são por seu interesse prático (moral ou político), sem que dispensem o concurso de uma boa base metodológica. E se Kardec foi um bom filósofo popular, o que acreditamos razoável afirmar, devemos encontrar em sua prática os princípios de algum ou alguns filósofos mais analíticos, para não dizer sistemáticos (nome que à época não soava bem).
O primeiro indício de que Kardec não é um filósofo sistemático está em ele lançar mão de múltiplos conceitos e axiomas sem os justificar. Esta atitude pode significar, como dito, tanto o descompromisso com a filosofia quanto uma adoção prévia de métodos filosóficos bem estabelecidos. E não há a mais remota dúvida de que os conceitos e axiomas pressupostos por Kardec correspondem à visão eclética do saber filosófico de princípios do século XIX. Em primeiro lugar porque todos estes pressupostos pertencem à ala ortodoxa da filosofia francesa, requerendo assim pouca ou nenhuma exposição sistemática; em segundo lugar porque estas conquistas em especial eram classificadas como conquistas da ilustração e todos os autores da época estavam habituados a assumir os elementos deste grande edifício eclético e enciclopédico como ponto de partida. Pensadores tão importantes como Benjamin Constant, Madame de Staël e Tocqueville jamais se preocupam, assim como Kardec, em fundamentar o conceito de razão, ou analisar a constituição metafísica da liberdade. Ao invés disto eles os tomam do poço da filosofia iluminista e os aplicam com habilidade de filósofos práticos aos seus interesses.
Para elencar alguns dos pressupostos essenciais da classe ilustrada francesa e/ou européia dos anos 1800 a 1840 podemos citar resumidamente:
1- A fundamentação do pensamento por Descartes, com a respectiva separação entre o princípio pensante do princípio material, a constituírem os modos de ser.
2- A ideia platônica de que a matemática corresponderia ao modus operandi da natureza. Noção renascentista que foi solidificada por Galileu, Bruno e Descartes.
3- O atomismo de Diderot, que copiando Demócrito e Epicuro postulou todas as leis da física como consequências das leis que regem as partículas elementares.
4- A noção de liberdade como direito garantido por Deus, uma ideia cristã que se desenvolveu em séculos de teologia e filosofia, casando-se com as noções gregas de liberdade e culminando no axioma da liberdade humana conforme Locke, Voltaire e Rousseau.
5- A positividade da experiência como fundamento do saber, desenvolvida por Comte e imediatamente diversificada e adaptada por inúmeros pensadores e cientistas.
Poderíamos citar outros pontos, mas isto só aumentaria o volume de uma defesa que consideramos suficientemente estabelecida.
Está claro ao filósofo contemporâneo que a segurança de algumas destas pressuposições foi duramente abalada, durante o próprio século XIX e especialmente no XX. O item mais controverso hoje é o da equivalência entre matemática e natureza, ainda defendida com certa ingenuidade por muitos físicos e francamente proibida pela filosofia da ciência. O que se pode dizer hoje com sobriedade filosófica é que haja alguma correspondência entre as leis que postulamos matematicamente e o funcionamento da natureza, mas precisar a exatidão desta correspondência seria considerado uma postura dogmática.
Basta, contudo, o conhecimento do contexto histórico para lembrar que a nova filosofia responsável por questionar as certezas iluministas é de matriz alemã, e não estava plenamente acessível aos franceses da primeira metade do século XIX. Apesar de estar entre os poucos falantes de alemão da sociedade francesa da época, Allan Kardec provavelmente compartilhava da crença geral de seu povo a respeito dos germanos: a de se tratarem de um povo grosseiro recém chegado às raias da civilidade e que ensaiava suas forças intelectuais numa filosofia prolixa, mas essencialmente infrutífera.[1]
O posterior sucesso da filosofia alemã com todo o seu aparato crítico, a restauração da metafísica pelo Idealismo e as reviravoltas teológicas marcou para sempre a face da filosofia, um fenômeno que a vaidade francesa ainda digere com atraso.
A filosofia sistemática viu sua tocha ser cedida da França para a Alemanha, e desta para o mundo globalizado do pós-guerra. Resta saber em que medida isto depõe contra as filosofias práticas e populares.
Neste particular uma comparação entre Kardec e os outros filósofos populares franceses é indispensável. A maioria deles, exatamente por ser popular, sofreu minimamente com a transformação da filosofia sistemática, e a popularidade dos pensadores políticos e religiosos, dos psicólogos e moralistas franceses continuou tão irretorquível sob a luz dos sistemas alemães como quando em seu terreno natural do Iluminismo autóctone.
Redefinidos os fundamentos dos conceitos de razão e liberdade, sobre bases mais críticas e rigorosas, continuaram a viger na esfera prática as conclusões e intuições sóbrias que a análise social e psicológica francesa ou inglesa haviam efetuado em dois ricos séculos de modernidade.
A filosofia atual se esforça por refinar a fundamentação metafísica e epistemológica da razão, de Deus, da liberdade e da relação entre sujeito e objeto, etc., mas no campo prático e popular a maioria dos postulados iluministas continua a viger como moeda válida de interpretação dos fenômenos naturais e sociais. Em muitos aspectos, mudaram os caminhos, mas permaneceram os resultados da filosofia. É bem mais ingênuo ver algo de “errado” em Platão, por incompatibilidade de seus métodos com os recentes, do que dispensar os métodos recentes na apreciação de trabalhos filosóficos pregressos; e a história da filosofia continua a ser fonte de inspiração principal para os que pretendem reelaborá-la com vistas ao futuro.
Qual é, então, a base filosófica do Espiritismo, se o ecletismo espiritualista francês e o positivismo que o constituíram estão agora em cheque? Precisamente a mesma base que continuou a sustentar as outras filosofias práticas e populares após a substituição da Ilustração francesa, seu ecletismo e positivismo, pela filosofia crítica alemã.
Procurai então os defensores de Pascal, Voltaire, Rousseau, Staël e Tocqueville, e achareis o caminho para sustentar em linguagem atualizada aqueles mesmos pressupostos que fomentam o método kardequiano. E os caminhos para esta revisão técnica da filosofia espírita podem ser muitos, como muitas são as correntes mais recentes. O pragmatismo de James, a filosofia liberal e crítica de Popper e mesmo uma forma revisada da analítica existencial de Heidegger, como foi intentado por Herculano Pires, podem ser boas soluções.
Particularmente acho que a forma mais apropriada seja a da Metafísica da Subjetividade, uma variante eclética que se apropria de praticamente todas as outras correntes contemporâneas numa forma ao mesmo tempo clássica e crítica da metafísica, permitindo a validade dos conceitos-chave de Deus, imortalidade, razão e liberdade.
[1] Veja meu texto sobre Madame de Staël e o “descobrimento” da Alemanha: http://www.portalsophia.org/textos/stael/allemagneschubert.pdf
Postado por Humberto Schubert Coelho
Espiritismo também é filosofia
Espiritismo também é filosofia
Por Reilly Algodoal
Repetindo, a Doutrina Espírita deve ser estudada em seu tríplice aspecto: científico, filosófico e religioso.
Mas, será uma Filosofia? Vejamos:
Filosofia, etimologicamente, quer dizer amigo da sabedoria. Existe uma definição marota: “Filosofia é a ciência que, com a qual ou sem a qual, o mundo resta tal e qual”.
E tem lá sua razão de ser, pois, ao homem comum “pouco se lhe dá que a azêmola claudique, o que aspira é acicatar-lhe as ilhargas”.
Efetivamente, grande parte da Humanidade está naquele estágio evolutivo de consciência adormecida, na busca exclusiva da satisfação “insaciável” das necessidades de ordem material, que se traduzem no comer,dormir, vestir e fazer sexo. Comer não apenas um prato de comida, mas armazenar para os séculos vindouros; não apenas uma cama para dormir, mas um ou mais palacetes, alguns com maçanetas de ouro, etc.; vestir não apenas a nudez, mas abarrotar os closets com os últimos e caríssimos lançamentos da moda. Se oram, é para a satisfação destas necessidades.
Poucas pessoas começam a despertar a consciência da busca do conhecimento, visando ao enriquecimento de seu patrimônio cultural e moral. Sob o ponto de vista da Ciência, o Espiritismo investiga as leis de relação entre o mundo material e o mundo espiritual, sempre no plano existencial. No aspecto filosófico, o Espiritismo trata das questões de ordem transcendental, que estão além da percepção sensorial, v.g., a existência e atributos de
Deus; o significado da vida; os limites do livre-arbítrio e do determinismo; os problemas do ser, do destino e da dor; as origens e destinos do homem e das humanidades. Em última análise, permite-nos compreender a Justiça indefectível de Deus nas aparentes injustiças da vida.
O certo é que as diversas correntes filosóficas, notadamente as materialistas, analisam o homem pela metade, naquele percurso rápido que vai do berço ao túmulo, sem penetrar nas “causas” das diferenças individuais e sem vislumbrar a vida além da vida material.
Mas, o que é o homem? Será um corpo formado de cabeça, tronco e membros, constituído por carne, músculos, ossos, órgãos e entranhas? Será a inteligência o resultado de uma deformação acidental do córtex cerebral?
A Ciência, notadamente a Física Quântica (que trata do infinitamente pequeno), abriu novos rumos à especulação científica e filosófica, já considerado que a matéria é energia condensada e que nosso corpo é formado por centenas de trilhões de células vivas. E a Psicologia Transpessoal já constatou que o Espírito preexiste ao nascimento e sobrevive ao decesso carnal.
A Doutrina Espírita vai além. Ela diz que nosso corpo, enquanto nos serve como instrumento de manifestação no mundo material, é também o habitat onde centenas de trilhões de células nascem e morrem para renascer ainda e continuar a longa caminhada da evolução anímica; que nosso perispírito é o resultado de 1,8 bilhões de anos de evolução; que nosso espírito é o princípio inteligente do Universo, herdeiro da Eternidade, cujo nascimento se perde na noite do tempo e que fatalmente alcançará a angelitude (Vide resposta à pergunta 540 de O Livro dos Espíritos).
Assim, conforme elucida J. Herculano Pires, in: O Espírito e o Tempo, são três entidades distintas (corpo, perispírito e espírito) numa só manifestação.
Todavia, esclarece ele, “o homem trino é essencialmente uno, porque é espírito, e só este o define como ser. O perispírito e o corpo físico não são mais do que os instrumentos de sua manifestação”.
Finalmente, na introdução de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec esclarece:
“Como especialidade, O Livro dos Espíritos contém a Doutrina Espírita; como generalidade, prende-se à doutrina espiritualista, uma de cujas fases apresenta. Essa a razão por que traz no cabeçalho do seu título as palavras: Filosofia espiritualista.” (sic)
No Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. VI, item 4, in fine, aprendemos:
“Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei de Deus e consola pela fé e pela esperança.” (sic)
Por Reilly Algodoal
Repetindo, a Doutrina Espírita deve ser estudada em seu tríplice aspecto: científico, filosófico e religioso.
Mas, será uma Filosofia? Vejamos:
Filosofia, etimologicamente, quer dizer amigo da sabedoria. Existe uma definição marota: “Filosofia é a ciência que, com a qual ou sem a qual, o mundo resta tal e qual”.
E tem lá sua razão de ser, pois, ao homem comum “pouco se lhe dá que a azêmola claudique, o que aspira é acicatar-lhe as ilhargas”.
Efetivamente, grande parte da Humanidade está naquele estágio evolutivo de consciência adormecida, na busca exclusiva da satisfação “insaciável” das necessidades de ordem material, que se traduzem no comer,dormir, vestir e fazer sexo. Comer não apenas um prato de comida, mas armazenar para os séculos vindouros; não apenas uma cama para dormir, mas um ou mais palacetes, alguns com maçanetas de ouro, etc.; vestir não apenas a nudez, mas abarrotar os closets com os últimos e caríssimos lançamentos da moda. Se oram, é para a satisfação destas necessidades.
Poucas pessoas começam a despertar a consciência da busca do conhecimento, visando ao enriquecimento de seu patrimônio cultural e moral. Sob o ponto de vista da Ciência, o Espiritismo investiga as leis de relação entre o mundo material e o mundo espiritual, sempre no plano existencial. No aspecto filosófico, o Espiritismo trata das questões de ordem transcendental, que estão além da percepção sensorial, v.g., a existência e atributos de
Deus; o significado da vida; os limites do livre-arbítrio e do determinismo; os problemas do ser, do destino e da dor; as origens e destinos do homem e das humanidades. Em última análise, permite-nos compreender a Justiça indefectível de Deus nas aparentes injustiças da vida.
O certo é que as diversas correntes filosóficas, notadamente as materialistas, analisam o homem pela metade, naquele percurso rápido que vai do berço ao túmulo, sem penetrar nas “causas” das diferenças individuais e sem vislumbrar a vida além da vida material.
Mas, o que é o homem? Será um corpo formado de cabeça, tronco e membros, constituído por carne, músculos, ossos, órgãos e entranhas? Será a inteligência o resultado de uma deformação acidental do córtex cerebral?
A Ciência, notadamente a Física Quântica (que trata do infinitamente pequeno), abriu novos rumos à especulação científica e filosófica, já considerado que a matéria é energia condensada e que nosso corpo é formado por centenas de trilhões de células vivas. E a Psicologia Transpessoal já constatou que o Espírito preexiste ao nascimento e sobrevive ao decesso carnal.
A Doutrina Espírita vai além. Ela diz que nosso corpo, enquanto nos serve como instrumento de manifestação no mundo material, é também o habitat onde centenas de trilhões de células nascem e morrem para renascer ainda e continuar a longa caminhada da evolução anímica; que nosso perispírito é o resultado de 1,8 bilhões de anos de evolução; que nosso espírito é o princípio inteligente do Universo, herdeiro da Eternidade, cujo nascimento se perde na noite do tempo e que fatalmente alcançará a angelitude (Vide resposta à pergunta 540 de O Livro dos Espíritos).
Assim, conforme elucida J. Herculano Pires, in: O Espírito e o Tempo, são três entidades distintas (corpo, perispírito e espírito) numa só manifestação.
Todavia, esclarece ele, “o homem trino é essencialmente uno, porque é espírito, e só este o define como ser. O perispírito e o corpo físico não são mais do que os instrumentos de sua manifestação”.
Finalmente, na introdução de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec esclarece:
“Como especialidade, O Livro dos Espíritos contém a Doutrina Espírita; como generalidade, prende-se à doutrina espiritualista, uma de cujas fases apresenta. Essa a razão por que traz no cabeçalho do seu título as palavras: Filosofia espiritualista.” (sic)
No Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. VI, item 4, in fine, aprendemos:
“Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei de Deus e consola pela fé e pela esperança.” (sic)
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
As encarnações de Bezerra de Menezes
Adolfo Bezerra de Menezes
A Palestra teve início referindo-se a Zaqueu, a reencarnação mais antiga e conhecida de Bezerra
de Menezes. Zaqueu era um Publicano, ou seja, um coletor de impostos e era detestado tanto pelos
judeus quanto pelos romanos.
Zaqueu ansiava encontrar Jesus, até que um dia o Mestre passou por Jericó, cidade onde ele
morava e o hospedou em sua casa.
A partir desse momento, Zaqueu reparte seus bens com os seus familiares e o restante doa aos
necessitados. Passa a seguir Jesus, adotando o nome de Matias.
Matias cria a Casa De Benefícios para abrigar os desvalidos, doentes, perturbados e
abandonados do mundo. Durante as suas sucessivas reencarnações, fundou sete Casas de Benefícios.
Com exceção da última, todas foram destruídas pelos inimigos da Luz.
Para converter seu filho Taciano, reencarna-se duas vezes: uma como Quinto Varro (Irmão
Corvino) e a seguir como Quinto Celso, personagens estes narrados no Livro “AVE CRISTO”, de
Emmanuel, pela psicografia bendita de Francisco Cândido Xavier.
Posteriormente, volta à Terra como Irmão Parmênio, onde, como nas suas outras vidas, mais
uma vez é martirizado.
Finalmente, reencarna-se no Brasil como Adolfo Bezerra de Menezes, com o objetivo de
concretizar a fixação da Doutrina Espírita em terras verde-amarelas e à união de todos os espíritas,
através do Pacto Áureo, em 1949.
Em 1950, no cinquentenário de seu desencarne como Adolfo Bezerra de Menezes, é convidado
pela Mãe Santíssima a seguir para outras esferas do Universo, compatível com a sua evolução
espiritual, mas ele declina e pede à Maria para permanecer no Brasil, auxiliando, em Espírito, aos
sofredores e angustiados.
Maria concede, então, mais 50 anos a ele, autorizando-o a ficar no Planeta Terra até o ano
2000. No entanto, como podemos constatar por suas mensagens, ainda hoje ele está entre nós.
Fonte: Fronteira da Paz - http://www.fronteiradapaz.com.br/noticia.php?id=4743
O 13º apóstolo - As reencarnações de Bezerra de Menezes
O 13º apóstolo, as reencarnações de Bezerra de Menezes é um trabalho de pesquisa e dedicação intensa do
autor Jorge Damas sobre as vidas do apóstolo do Espiritismo. Retrata as reencarnações do Médico dos Pobres
como Zaqueu, Mathias, Quinto Varro, Quinto Celso e Parmênio. Um selo Novo Ser Editora.
O livro também aborda sua vida como Adolfo Bezerra de Menezes um dos mais importantes vultos do
Espiritismo no Brasil, destaca sua dedicação à medicina, ao trabalho como militante espírita e à tarefa junto à
evangelização na Pátria do Evangelho. O 13º apóstolo, as reencarnações de Bezerra de Menezes esclarece os
princípios básicos da Doutrina Espírita, com foco na reencarnação, evolução, moral evangélica, lei de causa e
efeito, mediunidade e desobsessão, dentre outros assuntos.
Autor: Jorge Damas Martins / Ano da edição: 2010 / Número de Páginas: 240 / Editora: Novo Ser
A Palestra teve início referindo-se a Zaqueu, a reencarnação mais antiga e conhecida de Bezerra
de Menezes. Zaqueu era um Publicano, ou seja, um coletor de impostos e era detestado tanto pelos
judeus quanto pelos romanos.
Zaqueu ansiava encontrar Jesus, até que um dia o Mestre passou por Jericó, cidade onde ele
morava e o hospedou em sua casa.
A partir desse momento, Zaqueu reparte seus bens com os seus familiares e o restante doa aos
necessitados. Passa a seguir Jesus, adotando o nome de Matias.
Matias cria a Casa De Benefícios para abrigar os desvalidos, doentes, perturbados e
abandonados do mundo. Durante as suas sucessivas reencarnações, fundou sete Casas de Benefícios.
Com exceção da última, todas foram destruídas pelos inimigos da Luz.
Para converter seu filho Taciano, reencarna-se duas vezes: uma como Quinto Varro (Irmão
Corvino) e a seguir como Quinto Celso, personagens estes narrados no Livro “AVE CRISTO”, de
Emmanuel, pela psicografia bendita de Francisco Cândido Xavier.
Posteriormente, volta à Terra como Irmão Parmênio, onde, como nas suas outras vidas, mais
uma vez é martirizado.
Finalmente, reencarna-se no Brasil como Adolfo Bezerra de Menezes, com o objetivo de
concretizar a fixação da Doutrina Espírita em terras verde-amarelas e à união de todos os espíritas,
através do Pacto Áureo, em 1949.
Em 1950, no cinquentenário de seu desencarne como Adolfo Bezerra de Menezes, é convidado
pela Mãe Santíssima a seguir para outras esferas do Universo, compatível com a sua evolução
espiritual, mas ele declina e pede à Maria para permanecer no Brasil, auxiliando, em Espírito, aos
sofredores e angustiados.
Maria concede, então, mais 50 anos a ele, autorizando-o a ficar no Planeta Terra até o ano
2000. No entanto, como podemos constatar por suas mensagens, ainda hoje ele está entre nós.
Fonte: Fronteira da Paz - http://www.fronteiradapaz.com.br/noticia.php?id=4743
O 13º apóstolo - As reencarnações de Bezerra de Menezes
O 13º apóstolo, as reencarnações de Bezerra de Menezes é um trabalho de pesquisa e dedicação intensa do
autor Jorge Damas sobre as vidas do apóstolo do Espiritismo. Retrata as reencarnações do Médico dos Pobres
como Zaqueu, Mathias, Quinto Varro, Quinto Celso e Parmênio. Um selo Novo Ser Editora.
O livro também aborda sua vida como Adolfo Bezerra de Menezes um dos mais importantes vultos do
Espiritismo no Brasil, destaca sua dedicação à medicina, ao trabalho como militante espírita e à tarefa junto à
evangelização na Pátria do Evangelho. O 13º apóstolo, as reencarnações de Bezerra de Menezes esclarece os
princípios básicos da Doutrina Espírita, com foco na reencarnação, evolução, moral evangélica, lei de causa e
efeito, mediunidade e desobsessão, dentre outros assuntos.
Autor: Jorge Damas Martins / Ano da edição: 2010 / Número de Páginas: 240 / Editora: Novo Ser
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018
A REFORMA PROTESTANTE E O ESPIRITISMO
A REFORMA PRO
TESTANTE E O ESPIRITISMO
O processo das reformas religiosas teve início no século XVI em decorrência dos abusos cometidos pela Igreja Católica e uma mudança na visão de mundo, fruto do pensamento renascentista que emergia na época. A burguesia comercial estava em plena expansão e a igreja condenava os lucros do crescente capitalismo. Por outro lado, os reis europeus estavam infelizes com o Papa, que cada vez mais interferia nas decisões políticas dos países do velho mundo. A igreja estava perdendo sua identidade e acabou cedendo espaço para uma reforma que mudaria o curso da história.
No século XVI uma grande revolução eclesiástica ocorreu na Europa Ocidental, levando a mudanças consideráveis na esfera religiosa que, durante todo o período medieval, estivera sob o domínio da Igreja Católica. Essa revolução nas mentalidades teve tanto causas políticas como religiosas. Muitos monarcas estavam insatisfeitos com o enorme poder que o papa exercia no mundo, ao mesmo tempo que muitos teólogos criticavam a doutrina e as práticas da Igreja, sua atitude para com a fé e seu feitio organizacional. Ideias e razões distintas deram origem a diversas comunidades eclesiais novas. HELLEN, V., NOTAKER, H. E GAARDER, J. O Livro das religiões. Item: A reforma protestante.
Há 500 anos, novas doutrinas religiosas surgiram trazendo outras perspectivas para o cristianismo que até então era monopólio da Igreja Católica. Essas doutrinas atravessaram os séculos e permanecem vivas até hoje, com novos desafios e em plena expansão.
A Pré-reforma
A pré-reforma foi o período que antecedeu a Reforma Protestante. Teve início no final século XIII e se estendeu a meados do século XVI. Suas bases ideológicas serviram como referência para reforma de Martinho Lutero. Podemos destacar nomes como o de Pedro Valdo que se converteu ao cristianismo e viveu ajudando os pobres, tomando por base apenas os ensinamentos bíblicos. Seus seguidores ficaram conhecidos como Valdenses e se reuniam as escondidas para evitar a perseguição da igreja.
O Teólogo e professor da Universidade de Oxford John Wycliffe reivindicava o retorno da Igreja primitiva limitando o clero apenas a questões religiosas, deixando a política para o Estado. Wycliffe defendia a pobreza dos padres e os organizou em grupos para divulgar os ensinos de Cristo.
Jan Huss |
Outro grande pré-reformador foi o sacerdote e intelectual da universidade de Praga Jan Huss (Ultima reencarnação de Hippolyte Léon Denizard Rivail, antes de retornar como Allan Kardec). Este lutou pela verdade cristã e contra a corrupção na Igreja. Defendia que o poder papal só podia ser obedecido se estivesse de acordo com as leis divinas e que a fé deveria ser baseada apenas nas escrituras do Novo Testamento. Seus discípulos foram denominados Hussitas, dentre eles, enfatizamos Jerônimo de Praga. Huss foi excomungado, julgado e morto na fogueira na cidade de Constança. Morreu cantando o cântico de Davi [Jesus filho de Davi tem misericórdia de mim].
Em plena época de preconceito e intolerância, Jan Huss foi considerado o 1º mártir da liberdade religiosa, dezesseis anos antes da francesa Joana d’Arc (1412-1431) ser queimada viva pelo mesmo motivo, e mais de cem anos antes do teólogo alemão Martinho Lutero apresentar suas 95 Teses, em 1517.
A Reforma
Em 31 de outubro de 1517, o sacerdote Martinho Lutero teria pregado 95 teses contra o catolicismo, em frente à igreja do castelo na cidade alemã de Wittenberg. Essas teses eram contestações às leis e dogmas da Igreja, que Lutero considerava abusivas. O monge propunha uma disputa escolástica sobre a venda de indulgências e defendia o fim do celibato, da adoração de imagens e das missas rezadas em latim.
Com o advento da imprensa gráfica na época, as ideias luteranas foram rapidamente reproduzidas e difundidas na Europa, o que evidentemente incomodou a igreja que logo se voltou contra Lutero. Inicialmente o sacerdote foi condenado por heresia e em agosto de 1518 o processo foi alterado para heresia notória. Finalmente em janeiro de 1521, Lutero foi excomungado. O monge se exilou na igreja de Wittenberg por um ano e nesse período dedicou-se a traduzir a bíblia para o idioma alemão.
As manifestações de apoio a Matinho Lutero foram imediatas. Sacerdotes de diversas localidades renunciaram ao voto de castidade, acabaram com as missas e adorações de imagens, dentre outras ações. A Igreja começou a sofrer golpes mais fortes porque alguns príncipes ambiciosos se aproveitaram do movimento das massas para confiscar bens da instituição religiosa. Numerosos camponeses empolgados pelo direito do pensamento livre iniciaram grande campanha contra a Igreja exigindo reforma agrária e social em nome do Evangelho. Esta rebelião ideológica provocou o conflito armado que ficou conhecido como a Guerra dos Camponeses (1524-1525). Em 1525 Lutero casou-se com Catarina de Bora, monja cisterciense apóstata, e teve seus filhos.
João Calvino |
Alguns anos mais tarde, Ulrico Zuinglio iniciou a reforma na Suíça, posteriormente João Calvino tratou de consolidá-la surgindo o Calvinismo. Na Inglaterra a reforma foi proferida pelo monarca Henrique VIII que desejava satisfazer as suas necessidades políticas. Henrique era casado com Catarina de Aragão, que não lhe havia dado um filho homem. O imperador então solicitou ao papa Clemente VII a anulação do casamento. Perante a recusa do papado, Henrique fez-se proclamar, em 1531, protetor da Igreja inglesa. O Ato de Supremacia, votado no parlamento em novembro de 1534 colocou Henrique e os seus sucessores na liderança da igreja, nascendo assim o Anglicanismo.
Mais tarde a reforma chegou nos países baixos estendendo-se por todo o continente europeu. Nascia naquele tempo o protestantismo com seus princípios fundamentais: Sola scriptura (Somente a Escritura), Sola gratia (Somente a Graça ou Salvação), Sola fide (Salvação Somente pela Fé) Solus Christus (Somente Cristo), Soli Deo gloria (Glória somente a Deus).
A Contrarreforma
A contrarreforma foi o movimento iniciado pela Igreja Católica a partir de 1545 em resposta a reforma protestante. Também é denominada Reforma Católica. Houve um esforço teológico, político e militar para conter a expansão do protestantismo. Seus objetivos eram espalhar a fé católica em regiões não cristianizadas; conter o avanço dos protestantes e modernizar a Igreja.
Incineração de Livros |
Foi um período marcado por conflitos que envolveu metade da Europa, como a Guerra dos 30 anos (1618-1648) que demarcou territórios, fronteiras políticas e religiosas das duas vertentes do cristianismo (catolicismo e protestantismo).
A contrarreforma se destacou pela convocação do Concílio de Trento, que determinou a retomada do Tribunal do Santo Ofício (Tribunais de Inquisição), além da criação do Index Librorum Prohibitorum, uma lista que relacionava os livros proibidos pela Igreja (livros de ciências, bruxaria e, claro, literatura protestante). O Concílio reafirmou a autoridade papal, a manutenção do celibato e a confirmação da Bíblia Vulgata (em latim) como a versão oficial da Igreja. Determinou ainda o incentivo a catequese e a criação de novas ordens religiosas, dentre elas a Companhia de Jesus (os Jesuítas), fundada por Inácio de Loiola.
Neste período de contrarreforma, a Europa atravessou um tempo sombrio proporcionado pela Igreja Católica, que foi a expansão da inquisição, que já existia desde o século XIII na França, com o objetivo de combater heresias. Com a chegada dos Tribunais do Santo Ofício na Espanha e em Portugal, milhares de protestantes, judeus, muçulmanos, artistas, pensadores e cientistas, ou mesmo qualquer pessoa que fosse capaz de contestar publicamente as ideias da igreja, foram perseguidos, torturados, julgados e mortos pela Igreja.
A importância da Reforma Protestante e seus impactos políticos e religiosos.
A reforma protestante teve um impacto significativo na história, traçando os novos rumos políticos, econômicos e religiosos da humanidade. A Igreja até então, exercia um papel controlador na política, na economia, nas ciências e nas artes. O Papa era uma figura religiosa e política e opinava em diversas decisões. Após o movimento de Martinho Lutero o poder da Igreja se declinou entre as monarquias europeias. Houve um fortalecimento dos princípios sociais e econômicos da burguesia, que passaram a ser sustentados pela aprovação do lucro, que antes a Igreja combatia.
No campo religioso a reforma proporcionou o surgimento de outras vertentes do Cristianismo. A Igreja Católica na época, dividia espaço apenas com a Igreja Ortodoxa que tinha seus maiores domínios na região oriental. Com o advento do protestantismo nasceram as Igrejas Luterana, Anglicana, Presbiteriana e Batista, que se multiplicaram e se ramificaram em outras denominações. Hoje os protestantes contabilizam 40% dos cristãos em todo o mundo.
A Reforma Protestante e o Espiritismo
Os espíritas compreendem que a Reforma Protestante foi uma preparação para a chegada da Doutrina Espírita, o Consolador Prometido. Assim como o Cristo veio para cumprir a Lei professada por Moisés, a Doutrina Espírita não veio desdizer os ensinamentos do Mestre, mas desenvolvê-los, completá-los e explicá-los, sem alegorias.
A Reforma e os movimentos que se lhe seguiram vieram ao mundo com a missão especial de exumar a “letra’’ dos Evangelhos [...] a fim de que, depois da sua tarefa, pudesse o Consolador prometido, pela voz do Espiritismo cristão, ensinar aos homens o “espírito divino’’ de todas as lições de Jesus. (XAVIER, F.C. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. Questão 295).
O espírito Humberto de Campos através da mediunidade de Chico Xavier, em uma mensagem publicada pela revista “O Reformador” na edição de setembro de 1978, narra que o espírito de Jan Huss (1369-1415), um dos mais importantes pré-reformadores, recebeu instruções de Jesus antes de retornar ao plano físico como Allan Kardec (1804-1869), para codificar a Doutrina Espírita.
“Não serás portador de invenções novas, não te deterás no problema de comodidade material à civilização, nem receberás a mordomia do dinheiro ou da autoridade temporal, mas deponho-te nas mãos a tarefa sublime de levantar corações e consciências. É indispensável estabelecer providências que amparem a fé, preservando os tesouros religiosos da criatura. Confio-te a sublime tarefa de reacender as lâmpadas da esperança no coração da humanidade.
O Evangelho do Amor permanece eclipsado no jogo de ambições desmedidas dos homens viciosos! …. Vai, meu amigo. Abrirás novos caminhos à sagrada aspiração das almas, descerrando a pesada cortina de sombras que vem absorvendo a mente humana. Na restauração da verdade, no entanto, não esperes os louros do mundo, nem a compreensão dos teus contemporâneos. ” […] (Jesus dirigindo-se a Jan Huss no plano espiritual, antes desse espírito reencarnar como Allan Kardec, como narra o Espírito Humberto de Campos em mensagem publicada pela revista “O Reformador” em setembro de 1978).
Traçando um paralelo entre as duas personalidades, encontramos várias semelhanças que reafirmam a doutrina da reencarnação. Jan Huss foi reformador da língua do seu país, como lexicógrafo emérito, tradutor do idioma tcheco. Já Allan Kardec, além de talentoso educador, foi também tradutor de livros para diferentes idiomas. Huss viu algumas de suas obras serem queimadas pela Igreja em praça pública, assim como Kardec teve 300 exemplares de obras espíritas incineradas em um ato que ficou conhecido como o auto da fé em Barcelona. Observemos também o período exato de 500 anos entre a data de nascimento de Huss e a de desencarnação de Kardec. Portanto, estamos convencidos de que o mesmo espírito, em diferentes épocas, esteve comprometido com a Doutrina do Cristo, primeiro trabalhando em defesa do Novo Testamento e posteriormente na edificação do cristianismo redivivo, através da codificação da Doutrina Espírita, o que nos leva a crer que a Reforma Protestante foi necessária para o surgimento do Espiritismo.
O movimento desencadeado pelos reformadores foi a origem da retomada do cristianismo que estava sendo desvirtuado pelos representantes católicos da época, em decorrência da depravação da natureza humana. A igreja utilizava a fé como instrumento de dominação e foi capaz de cometer atrocidades em nome de Deus para manter o seu poder. Entendendo todo esse contexto, a plêiade dos espíritos de luz, sob a égide de Jesus, julgou ser necessário a divisão do cristianismo para garantir a sua expansão e mais tarde, através do espiritismo, trazer de volta a ideia principal da doutrina cristã, como nos tempos dos discípulos de Jesus. Certamente, se a Doutrina do Cristo permanecesse apenas sob os domínios da igreja romana, o pensamento cristão estaria comprometido. Eis que então, a espiritualidade organizou a vinda de missionários para restaurar o cristianismo e garantir sua propagação.
O plano invisível determina, assim, a vinda ao mundo de numerosos missionários com o objetivo de levar a efeito a renascença da religião [...]. Assim, no século XVI, aparecem as figuras veneráveis de Lutero, Calvino, Erasmo, Melanchton e outros vultos notáveis da Reforma, na Europa Central e nos Países Baixos. XAVIER, F.C. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. Cap. 20.
Não somente no campo religioso, mas também na ciência, na política e nas artes (renascimento e iluminismo), retornavam ao plano físico, espíritos encarregados de trazer novas ideias e mudar a visão distorcida que se tinha sobre diversos assuntos. Nicolau Copérnico (1473-1543), por exemplo, foi o primeiro a contradizer a igreja ao afirmar que a Terra não era o centro do universo. Teoria confirmada mais tarde por Galileu Galilei (1564 - 1642).
A [...] ideia da reforma não estava só na cabeça de Lutero, mas na de milhares de cabeças, de onde deveriam sair homens capazes de a sustentar. KARDEC, Allan. Revista espírita. Jornal de estudos psicológicos. Ano de 1866, agosto, p. 321
Por que mesmo após o advento do espiritismo existem tantas religiões?
O planeta Terra ainda é um mundo em desenvolvimento e por isso necessita de uma variedade de doutrinas religiosas que sejam compatíveis com a capacidade de discernimento de seus adeptos. Cada espírito compreende as leis de Deus de acordo com o seu grau de evolução e é por isso que ainda existem divergências doutrinárias. Toda religião tem a sua importância, se cumpre o objetivo de aproximar o homem a Deus. Aqueles que causam guerras em nome do Criador ou das religiões, ainda não progrediram ao ponto de compreender que a maldade é fruto da natureza humana.
Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos; de que esse Deus, soberanamente justo e bom, nada pode querer de injusto; que o mal vem dos homens e não dele, todos se considerarão filhos do mesmo Pai e se estenderão as mãos uns aos outros. (KARDEC, Allan. A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo).
Leon Denis destaca que “O espiritismo não é a religião do futuro, mas sim o futuro de todas as religiões. ” Pois chegará um tempo em que todas as doutrinas reconhecerão as verdades trazidas pelo cristianismo redivivo através da Doutrina Espírita e comungarão da mesma ideia, consolidando a harmonia e a paz fundamental para o bem universal. Nesses tempos, desfrutaremos de um mundo ditoso, onde o bem prevalecerá entre os homens.
REFERÊNCIAS
XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz: história da civilização à luz do Espiritismo. Pelo Espírito Emmanuel, de 17 de agosto a 21 de setembro de 1938. 33. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006.
KARDEC, Allan. A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Trad. de Guillon Ribeiro da 5. ed. francesa. 48. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
SEFFNER, Fernando. Da reforma à contra-reforma. Coleção História geral em documentos. São Paulo: Atual.
MARTINA, Giacomo. História da Igreja: de Lutero aos nossos dias. V. 1: A era da Reforma. São Paulo: Loyola, 1997.
XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006.
JOSTEIN, Gaarder. O Livro das Religiões. Jostein, Gaarde; Hellern, Victor; Notaker, Henry. Tradução: Isa Mara Lando; Revisão Técnica e Apêndice: Flávio Antônio Pierucci. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
CHAUNU, Pierre. O tempo das reformas (1250-1550): a Reforma protestante. Lugar na História, v. 49-50, Edições 70, 1993.
KARDEC, Allan. Revista espírita: jornal de estudos psicológicos. ano 12, n. 9, p. 372-374, set. 1869. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Precursores do Espiritismo – Jan Huss.
XAVIER, Francisco C. Lembrando Allan Kardec. Pelo Espírito Humberto de Campos. Reformador, ano 96, n. 1.794, p. 25(293)-26(294), set. 1978.
O MOVIMENTO LEIGO E PAUPERISTA
3 - O MOVIMENTO LEIGO E PAU PERISTA
Começaste o despojamento, liberando-te das coisas, para poderes libertar-te de ti mesmo, a fim de te entregares a Ele por inteiro.
JoANNA DE ANGELIS
A maneira pauperista como Francisco viveu em seus anos de apostolado cristão não era algo totalmente estranho ao mundo do seu tempo. Havia ordens mendicantes nos mosteiros, submissas, penitentes, isoladas do mundo, mas a possibilidade de um grupo ter com seu líder inspirador um diálogo aberto, democrático, horizontal e viverem nas cidades como ele propôs, era algo inovador.
Se recuarmos no tempo, vamos encontrar este tipo de relação no convívio de Jesus com seus discípulos, que vale lembrar eram por Ele chamados de amigos (João, 15: 15).
Antes de Francisco, algumas pessoas tentaram pautar suas vidas na mais absoluta simplicidade, tendo apenas o necessário para a subsistência e, simultaneamente, procurando ter uma religiosidade liberta de dogmas, hierarquias, castigos e recompensas. Uma religiosidade pautada na mais absoluta fidelidade ao Evangelho, o que infelizmente ia na contramão do que a Igreja entendia como vida inspirada no Evangelho.
Uma religiosidade assim haveria de causar incômodos, temores e preocupações no poder instituído.
Ter o sentimento de religiosidade sem o rótulo religioso, isto é, ser leigo ou laico era algo visto como heresia, devendo, portanto, ser reprimido pelo perigo que representava alguém poder amar a Deus e ao seu próximo de forma livre e plena. E se as pessoas ou grupos justificassem que tal conduta era inspirada nas palavras e exemplos de Jesus, aí então era um Deus nos acuda.
A heresia será a grande preocupação da Igreja na Idade Média.
Emmanuel afirma, no capítulo XVII de A Caminho da Luz, que no século XII, no sul da França, mais precisamente em Lyon, terra do nosso querido codificador, um homem abnegado ousou promover um movimento de retorno às bases do Evangelho, propondo um modo de vida pautado na simplicidade. Embora fosse um homem de negócios, Pedro de Vaux despojou-se de todos os seus bens, revertendo-os em benefício dos pobres. Além disso, custeou a tradução dos livros sagrados, a fim de que todos pudessem ler e interpretar aquilo que até então somente era acessível aos sacerdotes católicos. Não satisfeito, promoveu pregações e estudos bíblicos, configurando um movimento que foi chamado de os pobres de Lyon ou Valdenses.
Como não poderia deixar de ser, foi excomungado e perseguido juntamente com todos os que aderiram a esse movimento.
Surgiram depois os cátaros, também no sul da França, propondo um modo de vida muito simples, semelhante ao que Jesus propôs.
Os cátaros defendiam uma livre interpretação do Evangelho, sem intermediários, mas com trocas, diálogos, em que todos pudessem se expressar, desenvolver o senso crítico, a tolerância, e neste exercício crescer intelectual e moralmente.
Segundo Hermínio C. Miranda, eram características do catarismo:1010 Os cátaros e a heresia católica, Cap. 3. (N. dos autores)
• vestimentas simples;
• alimentação frugal e não carnívora (exceto peixes);
• abstinência sexual;
• renúncia à propriedade pessoal;
• prática da não violência;
• recusa ao hábito de mentir;
• não recebiam remuneração pelo sacerdócio religioso;
• viviam do trabalho manual;
• impunham as mãos para batizar;
• eram reencarnacionistas;
• rejeitavam a divindade do Cristo, a divina trindade, o inferno e o resgate dos nossos pecados pelo sangue de Jesus, defendendo que cada um é o artífice da sua própria redenção.
O fanatismo e a intolerância religiosa não conseguiu entender, respeitar nem aceitar este movimento. Era ousadia e pretensão demais e algo muito perigoso, pois se a moda pegasse, como, aliás, começou a pegar, seria a ruína da Igreja daquela época e esta teria que rever seus postulados, reconhecendo o seu distanciamento da proposta genuinamente cristã.
Os cátaros foram perseguidos e massacrados. Afirma o Espírito Joanna de Angelis que:
(...) o intolerante, assim como o fanático, somente veem o que lhes apraz, aquilo que consideram real e, portadores de narcisismo, mantêm a veleidade pessoal de que, pelo fato de aceitarem essa conduta, todas as demais pessoas estáo equivocadas quando pensam de maneira diferente.
Desse modo, autofascinados, querem salvar os demais, impondo as suas idéias, e, quando não aceitas, não se compadecem dos males que infligem, disfarçados em mecanismos salvadores.
(...) O fanático entrega-se de tal forma à maneira de crer, que somente se felicita quando sucumbem aqueles que ele pensa ser-lhe opositores, quando, em realidade, o seu adversário é ele próprio.
Ninguém tem o direito de engessar as mentes e os sentimentos alheios nas suas fórmulas, exigindo que se pense conforme lhes é imposto.1111 Entrega-te a Deus, cap. 21. (N. dos autores)
Retomando a questão da laicidade e da pobreza ou pauperismo, quando paramos para refletir sobre a relação de Francisco com os bens materiais, constatamos quanto sua vida missionária foi marcada pelo desprendimento, pela abnegação, tanto que um dos votos que faz é o da pobreza.
Não há nesta atitude um repúdio ao mundo e àquilo que o constitui, não existe um desprezo pela matéria e uma exaltação radical ao Espírito, mas uma postura de desprendimento e de relativização do que é material. Tanto não despreza que louva tudo o que Deus criou, desde uma simples pedra ou erva daninha aos raios do Sol que brilha no infinito.
Da mesma maneira que Gandhi dizia não ser contra a violência, mas a favor da paz, não havia em Francisco o desejo de afrontar os que possuem bens, a começar por seu pai que era rico e próspero comerciante. A sua não era uma atitude contra os outros ou contra o poder político, econômico, cultural vigentes, mas uma postura a favor dos valores cristãos que trouxe em sua alma e que procurou viver com radicalidade.
Recomenda o respeito a todos os ricos que vivem uma vida na fartura e no luxo, pois são filhos de Deus e possuem uma missão neste mundo. Pede que se ote por eles, de modo que consigam cumprir bem seu papel e se compadeçam dos que possuem menos.
A pobreza nos moldes franciscanos pressupõe desapego e não desprezo, partilha e não prodigalidade, diminuição do abismo entre quem tem e quem nada possui.
É espiritual e também política num sentido mais profundo, apontando para uma cidadania maior de caráter universal, portanto, divina em seus pressupostos e fins.
Ser pobre nos moldes franciscanos não significa radicalmente não ter coisas, pois temos roupas, o corpo, o conhecimento, um nome, etc.
Ê um modo de ser em que o propósito não é dominar, controlar, submeter, mas estar com as coisas, os seres e tudo o que existe numa relação, não de dominação, mas de compartilhamento e harmonia.
A revolução buscada por Francisco é em si mesma e, simultaneamente, nos corações, nas consciências, nas almas; ela é singular e plural, pessoal e coletiva, além de existencial e espiritual, refletindo-se na organização material da sociedade.
Afinal, há famintos, doentes, pobres, marginalizados, almas aprisionadas em si mesmas, logo, se não é apenas de pão que vive o homem, é também com pão que os homens se alimentam, sendo importante reparti-lo e compartilhá--lo, procurando a liberdade e a libertação de nossas próprias mesquinharias.
Francisco assume a postura de um homem que está no mundo, mas que não se escraviza a este, sabe da sua condição transitória na Terra, entende que tudo é fugaz, impermanente e nada é mais importante do que viver o Evangelho em sua plenitude.
Trabalhava permanentemente, de início restautando ermidas, depois, e sempre cuidando dos leprosos, pedindo algo para os mendigos, pregando o Evangelho e fazendo trabalhos braçais ao alcance das suas forças.
Por isso, viveu no mundo e com o mundo, com as pessoas e para as pessoas, sem isolamento nem clausura, mas numa comunhão alegre, espontânea e fraterna com todas as criaturas.
Do mesmo jeito podemos conciliar nossas atividades no lar, no ambiente profissional em que nos situamos e no espaço religioso no qual nos inserimos.
Nenhum de nós precisa viver como algum vulto do Cristianismo tenha vivido para ter êxito na atual reencarnação, mesmo porque cada qual escreve sua própria biografia, tem sua singularidade, mas estas almas abnegadas podem e devem ser sempre uma fonte de inspiração para a nossa vida cotidiana.
Não se trata de segui-las, mas aprender com elas, e também com os nossos contemporâneos, com os anônimos, com os nossos filhos e amigos, e acima de tudo com a figura simples e amiga do Homem de Nazaré.
Para realizar seu trabalho, Francisco não precisou se tornar padre, sempre esteve com leigos e se considerava também um deles.
Por força das circunstâncias, deixa-se ordenar diácono, anos mais tarde, em franco apostolado, por existir uma bula papal proibindo os leigos (cataros, valdenses, etc.) de pregarem o Evangelho, e tendo sido questionado a este respeito, numa pregação que fez em Bolonha, solicitou semelhante ordenação apenas com este objetivo e nada mais. Mas sempre foi um laico vivendo mais a religiosidade que sentia de maneira pujante em si, do que um religioso devoto enquadrado nos cânones religiosos do Catolicismo.
As pregações ou sermões que Francisco fazia eram todos baseados no Evangelho, se assemelhavam mais a uma conversação e eram repletos de exemplos, isto é, pequenas e simples histórias inspiradas no cotidiano, todas com um fundo reflexivo e moralizante.
Seu grau de instrução, académicamente falando, era modesto. Alguns livros afirmam que sabia ler e escrever, conhecia alguns cantos litúrgicos, aritmética e algo básico da vida cristã, aprendido provavelmente em alguma escola de Assis e nas frequências à Igreja. Talvez não dominasse bem o latim, mas falava o francês que aprendera com sua mãe. Sua cultura era basicamente evangélica e isso lhe bastava. Fazia questão de se dizer iletrado e destituído de qualquer expressão intelectual mais destacada.
Numa ocasião, Frei Masseu, dirigindo-se a Francisco, perguntou-lhe de forma bem direta, incisiva e ao mesmo tempo fraterna: - Por que você? Por que é a você, Francisco, que as multidões seguem, que se fascinam com a sua palavra?
Você não é inteligente, não é letrado, não é bonito, você não tem uma grande retórica. Por que você?
Francisco ficou impactado com a pergunta, porque ele levava todas as coisas a sério. Retirou-se para pensar, depois voltou e disse: - Meu irmão, tenho uma resposta, eu descobri por que a mim. Porque Deus resolveu escolher a pessoa mais vil, a pessoa menor, mais feia e mais pecadora para revelar aos outros as maravilhas que criou e segue criando.
E sem maiores recursos, este homem singelo e simples abalou os alicerces da Idade Média, propondo uma vida baseada inteiramente no amor.
J.A.
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