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Estudando o Espiritismo
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domingo, 31 de dezembro de 2017
Publicanos no ESE
Publicanos
- Eram assim chamados, na antiga Roma, os cavalheiros arrendatários das taxas públicas, incumbidos da cobrança dos impostos e das rendas de toda espécie, quer em Roma mesma, quer nas outras partes do Império. Eram como os arrendatários gerais e arrematadores de taxas do antigo regímen na França e que ainda existem nalgumas legiões. Os riscos a que estavam sujeitos faziam que os olhos se fechassem para as riquezas que muitas vezes adquiriam e que, da parte de alguns, eram frutos de exações e de lucros escandalosos. O nome de publicano se estendeu mais tarde a todos os que superintendiam os dinheiros públicos e aos agentes subalternos. Hoje esse termo se emprega em sentido pejorativo, para designar os financistas e os agentes pouco escrupulosos de negócios. Diz-se por vezes: "Ávido como um publicano, rico como um publicano", com referência a riquezas de mau quilate.
De toda a dominação romana, o imposto foi o que os judeus mais dificilmente aceitaram e o que mais irritação causou entre eles. Dai nasceram várias revoltas, fazendo-se do caso uma questão religiosa, por ser considerada contrária à Lei. Constituiu-se, mesmo, um partido poderoso, a cuja frente se pôs um certo Judá, apelidado o Gaulonita, tendo por principio o não pagamento do imposto, Os judeus, pois, abominavam a este e, como conseqüência, a todos os que eram encarregados de arrecadá-lo, donde a aversão que votavam aos publicanos de todas as categorias, entre os quais podiam encontrar-se pessoas muito estimáveis, mas que, em virtude das suas funções, eram desprezadas, assim como os que com elas mantinham relações, os quais se viam atingidos pela mesma reprovação. Os judeus de destaque consideravam um comprometimento ter com eles intimidade.
- Eram assim chamados, na antiga Roma, os cavalheiros arrendatários das taxas públicas, incumbidos da cobrança dos impostos e das rendas de toda espécie, quer em Roma mesma, quer nas outras partes do Império. Eram como os arrendatários gerais e arrematadores de taxas do antigo regímen na França e que ainda existem nalgumas legiões. Os riscos a que estavam sujeitos faziam que os olhos se fechassem para as riquezas que muitas vezes adquiriam e que, da parte de alguns, eram frutos de exações e de lucros escandalosos. O nome de publicano se estendeu mais tarde a todos os que superintendiam os dinheiros públicos e aos agentes subalternos. Hoje esse termo se emprega em sentido pejorativo, para designar os financistas e os agentes pouco escrupulosos de negócios. Diz-se por vezes: "Ávido como um publicano, rico como um publicano", com referência a riquezas de mau quilate.
De toda a dominação romana, o imposto foi o que os judeus mais dificilmente aceitaram e o que mais irritação causou entre eles. Dai nasceram várias revoltas, fazendo-se do caso uma questão religiosa, por ser considerada contrária à Lei. Constituiu-se, mesmo, um partido poderoso, a cuja frente se pôs um certo Judá, apelidado o Gaulonita, tendo por principio o não pagamento do imposto, Os judeus, pois, abominavam a este e, como conseqüência, a todos os que eram encarregados de arrecadá-lo, donde a aversão que votavam aos publicanos de todas as categorias, entre os quais podiam encontrar-se pessoas muito estimáveis, mas que, em virtude das suas funções, eram desprezadas, assim como os que com elas mantinham relações, os quais se viam atingidos pela mesma reprovação. Os judeus de destaque consideravam um comprometimento ter com eles intimidade.
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
O homem de Jericó
Jericó era um oásis. O seu clima suave e tépido era propício para fartos pomares, roseirais e palmeiras.
Era ali que morava Zaqueu. Era um coletor de impostos para o Império Romano. Também tinha seus lucrativos negócios.
Zaqueu e sua mulher viviam isolados da vida social de Jericó. Quando davam festas, os únicos convidados eram sempre os parentes e os funcionários da alfândega.
Extremamente rico, ele tinha uma consciência de inferioridade, face ao tratamento que recebia do seu povo. Todos o desprezavam porque trabalhava para o opressor romano.
Sua consciência lhe dizia que nunca prejudicara a ninguém, pois que procurava ser justo.
Então, às vésperas da Páscoa, se espalhou a notícia de que o Rabi da Galileia, a quem chamavam Jesus de Nazaré, chegaria a cidade.
Zaqueu ouvira falar dEle e uma secreta simpatia o invadira. Aquele era o Homem que dizia que todos deveriam se amar como irmãos, que comia à mesa dos publicanos e se misturava com o povo.
Junto a numerosas pessoas, ele foi receber Jesus à entrada da cidade.
De pequena estatura, gordo, pernas curtas, por mais se pusesse na ponta dos pés, não conseguia ver coisa alguma.
Ofereceu moedas a um homem para que lhe vendesse um jumento. Pensou que subindo nele, talvez pudesse enxergar.
Mas o homem desprezou o seu dinheiro.
Pediu a um homem muito alto que o erguesse, em troca de sua bolsa cheia de moedas. Em vão.
Empurrado e pisado pela multidão, finalmente Zaqueu conseguiu ver, à beira da estrada, uma árvore.
Era uma mistura de figueira e amoreira, um sicômoro, com raízes grossas para fora da terra.
Mais do que depressa, nela subiu e sorriu feliz. Dali, ele podia ver o Mestre se aproximando.
E uniu a sua voz a de todos os demais, gritando hosanas a Jesus.
Quando o Mestre passou pela árvore, olhou para cima e ao ver aquele homem agarrado aos galhos, como se fosse um fruto, lhe disse:
Zaqueu! Desce depressa, porque hoje me convém pernoitar em tua casa.
O homem desceu rápido, correu para casa para, junto com a mulher, preparar o melhor para o conviva.
Na sua intimidade dizia que não era digno que criatura de tão nobre estirpe entrasse em sua casa.
Mentalmente, reviu os negócios. Teria lesado alguém? Teria recebido a mais?
Talvez tivesse comprado terras a preço irrisório e as vendido com lucro excessivo. Sente-se atormentar.
Quando observa o Amigo chegando, acompanhado por grande multidão, vai ao encontro dEle e exclama:
Senhor, eis que dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado! Entra na minha casa!
Jesus sorriu, um riso leve e bom como um sopro de amor.
Hoje - disse suave - veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.
Narram tradições evangélicas que, anos mais tarde, Simão Pedro convidou o antigo publicano a dirigir florescente comunidade cristã, nas terras de Cesareia.
E Zaqueu, rico de amor e humildade, foi servir a Jesus, servindo aos homens.
* * *
Somos muitos os que aguardamos por Jesus, nas estradas amarguradas em que nos encontramos.
Atendamos ao chamado e nos tornemos criaturas felizes. Sirvamos.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 18, do livro
Vida e mensagem, pelo Espírito Francisco de Paula Vitor,
psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter.
Em 23.10.2015.
A proposta do Cristo
A proposta do Cristo
Seria impossível mensurarmos a grandeza dos ensinamentos do Mestre Jesus, mas podemos afirmar que a Sua proposta é nortear o comportamento individual de cada um de nós, proporcionando-nos ensinamentos que provocam profundas reflexões e ensejam orientações que despertam para o desenvolvimento espiritual.
Para lograr objetivos, a mensagem do Evangelho fundamenta-se em dois grandes aspectos: a autoridade moral e a autoridade espiritual. A primeira refere-se à exemplificação dos ensinamentos através dos atos; a segunda, interage com a primeira, além de denotar a grandeza moral do Cristo, que transcende aos atos e palavras, faculta a modificação do ser, pelo envolvimento fluídico que provoca a Sua superioridade espiritual. A exemplo disso, Lucas (19:1-10) nos narra a passagem de Jesus por Jericó:
‘‘E tendo Jesus entrado em Jericó, ele atravessava a cidade. Havia lá um homem chamado Zaqueu, era rico e chefe dos publicanos. Ele procurava ver quem era Jesus, mas não o conseguia por causa da multidão, pois era de baixa estatura. Correu então à frente e subiu num sicômoro para ver Jesus que iria passar por ali. Quando Jesus chegou ao lugar, levantou os olhos e disse-lhe: ‘Zaqueu, desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa'. Ele desceu imediatamente e o recebeu com alegria. À vista do acontecido, todos murmuravam, dizendo: ‘Foi hospedar-se na casa de um pecador!' Zaqueu, de pé, disse ao Senhor: ‘Senhor, eis que dou a metade de meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, restituo-lhe o quádruplo'. Jesus lhe disse: ‘Hoje a salvação entrou nesta casa, porque ele também é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido.”
O diálogo, aparentemente simplista, revela grandes ensinamentos, por muitos ainda despercebidos, mas que destacam o ensinamento moral e o ensinamento espiritual. O fato de Zaqueu procurar uma melhor forma de ver Jesus revela predisposição à mudança dos atos, pois a simples presença do Rabi Galileu provocava profundas reflexões. Outro ponto indiscutível é que a mudança de Zaqueu já fazia parte dos objetivos do Mestre, tanto que, ao entrar em Jericó, percebe-o facilmente em cima de uma árvore, ansioso por um olhar, ao que Jesus corresponde, demonstrando profundos conhecimentos de psicologia transpessoal: levanta o olhar e a ele se dirige dizendo: ‘‘Zaqueu, desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa''.
O vocábulo casa , neste caso, adquire outra conotação, visto que vem antecedido de uma afirmativa verbal - ‘‘pois hoje devo ficar em tua casa''. Na frase, o verbo devo é aplicado no sentido de certeza e não de hipótese. Entendemos, com isso, que o Mestre se refere à casa mental de Zaqueu, pois a hospedagem que desejava Jesus não era apenas no lar físico, mas principalmente no seu coração, a fim de que este se modificasse. Convém ressaltar a imensa facilidade com que Jesus manipula os fluidos, pois subentende-se que Ele altera a psicosfera pessoal de Zaqueu, permitindo que este compreenda a mensagem de natureza espiritual na sua perfeita essência. E ele a entende, como se Jesus a propusesse: ‘‘Desce depressa, pois hoje devo ficar em teu coração para sempre.''
O envolvimento fluídico na questão é tão patente, que bastaram alguns momentos em contato com o Mestre para que se processassem profundas modificações morais em Zaqueu, não apenas pelo compromisso público de restituir quadruplamente (segundo a lei de Moisés), àqueles a quem prejudicou, mas por despertar nele o sentimento de caridade e desprendimento, levando-o a doar aos pobres metade dos bens que lhe pertenciam.
A autoridade espiritual de Jesus se faz presente, ao afirmar: ‘‘A salvação entrou nesta casa, porque ele também é filho de Abraão. Com efeito, o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido''. Não obstante demonstrar claramente que conhecia as mazelas que marcavam o caminho espiritual de Zaqueu, percebia nos seus pensamentos a vontade de mudar. Se não fosse verdade, estaria Jesus interferindo no livre-arbítrio daquele, modificando- o intimamente contra a sua vontade.
A receptividade de Zaqueu às sugestões fluídicas do Mestre modifica instantaneamente seu comportamento para com Deus, para com o próximo e para consigo mesmo, salvando aquela encarnação e por conseguinte reformando-se pela conversão, através de atos e não de promessas.
É oportuno recordarmos que a passagem de Zaqueu é de grande alcance e importância na condução de nossas ações. Subir no sicômoro representa a predisposição para a mudança, que funciona como agente facilitador da reforma íntima, reforma esta que se constitui no preparo da morada de nossos corações, onde o Cristo com certeza pedirá pousada.
Warwick Mota
Seria impossível mensurarmos a grandeza dos ensinamentos do Mestre Jesus, mas podemos afirmar que a Sua proposta é nortear o comportamento individual de cada um de nós, proporcionando-nos ensinamentos que provocam profundas reflexões e ensejam orientações que despertam para o desenvolvimento espiritual.
Para lograr objetivos, a mensagem do Evangelho fundamenta-se em dois grandes aspectos: a autoridade moral e a autoridade espiritual. A primeira refere-se à exemplificação dos ensinamentos através dos atos; a segunda, interage com a primeira, além de denotar a grandeza moral do Cristo, que transcende aos atos e palavras, faculta a modificação do ser, pelo envolvimento fluídico que provoca a Sua superioridade espiritual. A exemplo disso, Lucas (19:1-10) nos narra a passagem de Jesus por Jericó:
‘‘E tendo Jesus entrado em Jericó, ele atravessava a cidade. Havia lá um homem chamado Zaqueu, era rico e chefe dos publicanos. Ele procurava ver quem era Jesus, mas não o conseguia por causa da multidão, pois era de baixa estatura. Correu então à frente e subiu num sicômoro para ver Jesus que iria passar por ali. Quando Jesus chegou ao lugar, levantou os olhos e disse-lhe: ‘Zaqueu, desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa'. Ele desceu imediatamente e o recebeu com alegria. À vista do acontecido, todos murmuravam, dizendo: ‘Foi hospedar-se na casa de um pecador!' Zaqueu, de pé, disse ao Senhor: ‘Senhor, eis que dou a metade de meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, restituo-lhe o quádruplo'. Jesus lhe disse: ‘Hoje a salvação entrou nesta casa, porque ele também é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido.”
O diálogo, aparentemente simplista, revela grandes ensinamentos, por muitos ainda despercebidos, mas que destacam o ensinamento moral e o ensinamento espiritual. O fato de Zaqueu procurar uma melhor forma de ver Jesus revela predisposição à mudança dos atos, pois a simples presença do Rabi Galileu provocava profundas reflexões. Outro ponto indiscutível é que a mudança de Zaqueu já fazia parte dos objetivos do Mestre, tanto que, ao entrar em Jericó, percebe-o facilmente em cima de uma árvore, ansioso por um olhar, ao que Jesus corresponde, demonstrando profundos conhecimentos de psicologia transpessoal: levanta o olhar e a ele se dirige dizendo: ‘‘Zaqueu, desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa''.
O vocábulo casa , neste caso, adquire outra conotação, visto que vem antecedido de uma afirmativa verbal - ‘‘pois hoje devo ficar em tua casa''. Na frase, o verbo devo é aplicado no sentido de certeza e não de hipótese. Entendemos, com isso, que o Mestre se refere à casa mental de Zaqueu, pois a hospedagem que desejava Jesus não era apenas no lar físico, mas principalmente no seu coração, a fim de que este se modificasse. Convém ressaltar a imensa facilidade com que Jesus manipula os fluidos, pois subentende-se que Ele altera a psicosfera pessoal de Zaqueu, permitindo que este compreenda a mensagem de natureza espiritual na sua perfeita essência. E ele a entende, como se Jesus a propusesse: ‘‘Desce depressa, pois hoje devo ficar em teu coração para sempre.''
O envolvimento fluídico na questão é tão patente, que bastaram alguns momentos em contato com o Mestre para que se processassem profundas modificações morais em Zaqueu, não apenas pelo compromisso público de restituir quadruplamente (segundo a lei de Moisés), àqueles a quem prejudicou, mas por despertar nele o sentimento de caridade e desprendimento, levando-o a doar aos pobres metade dos bens que lhe pertenciam.
A autoridade espiritual de Jesus se faz presente, ao afirmar: ‘‘A salvação entrou nesta casa, porque ele também é filho de Abraão. Com efeito, o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido''. Não obstante demonstrar claramente que conhecia as mazelas que marcavam o caminho espiritual de Zaqueu, percebia nos seus pensamentos a vontade de mudar. Se não fosse verdade, estaria Jesus interferindo no livre-arbítrio daquele, modificando- o intimamente contra a sua vontade.
A receptividade de Zaqueu às sugestões fluídicas do Mestre modifica instantaneamente seu comportamento para com Deus, para com o próximo e para consigo mesmo, salvando aquela encarnação e por conseguinte reformando-se pela conversão, através de atos e não de promessas.
É oportuno recordarmos que a passagem de Zaqueu é de grande alcance e importância na condução de nossas ações. Subir no sicômoro representa a predisposição para a mudança, que funciona como agente facilitador da reforma íntima, reforma esta que se constitui no preparo da morada de nossos corações, onde o Cristo com certeza pedirá pousada.
Warwick Mota
O coletor de impostos
O coletor de impostos
Jericó era um oásis, situada nos confins da Judeia e Pereia. Era tradicionalmente conhecida como a cidade mais antiga da Terra, datando entre os milênios X e VII a.C. O clima suave e tépido era propício a que vicejassem as palmeiras. Era considerada um paraíso de delícias, com seus roseirais, extensas alamedas e fartos pomares.
Várias fontes, devidamente canalizadas, levavam vida e opulência a todas as artérias da cidade. Sendo o mais importante centro comercial de Israel, ao tempo de Jesus, tinha Jericó uma alfândega muito movimentada. Como um grande empório do país, possuía inúmeras casas de câmbio, casas de vendas por atacado aos varejistas da região e depósitos de mercadorias.
Ali morava um judeu, de nome Zaqueu, que arrematara em hasta pública a arrecadação dos tributos, tendo assinado um contrato com a autoridade romana pelo período de 5 anos.
Além de conduzir os interesses da aduana, ele dirigia suas transações particulares, aumentando sua fortuna com sucessivos lucros.
Desprezado pelos fariseus, por transigir com os romanos e invejado pelos saduceus, provocava a cólera dos zelotes, por considerarem ofensa aos brios de Israel pactuar com os agentes de César.
É certo que os que mais impiedosa campanha lhe moviam eram os perdedores, os que haviam disputado a função de coletor de impostos e não a conseguiram.
Zaqueu e sua mulher viviam isolados da vida social de Jericó. Quando a grande casa de família se iluminava para as festas domésticas, a prataria desfilava, o perfume do nardo se misturava ao cheiro suave das flores e das frutas, enquanto uma orquestra enchia de sons claros as salas.
Mas os convidados eram sempre e unicamente os funcionários da alfândega, os parentes de Zaqueu e um ou outro mercador. Nenhum homem importante da cidade, nem mesmo um escriba, frequentava-lhe a casa.
Enquanto acariciava os filhinhos, mais de uma vez Zaqueu sentiu apertar-se-lhe o coração, imaginando o dia em que eles descobririam os motivos pelos quais lhes era proibido brincar com os filhos dos fariseus.
Zaqueu era extremamente rico, mas tinha uma consciência de inferioridade, face ao tratamento que recebia do seu povo. Até mesmo mendigos, a não ser que fossem estrangeiros, rejeitavam a sua oferta de moedas.
Sua consciência lhe dizia que nunca prejudicara ninguém, pois que procurava ser justo.
Então, às vésperas da Páscoa, quando milhares de peregrinos passavam por Jericó, em direção a Jerusalém, numerosas pessoas trouxeram as notícias de que o Rabi da Galileia, a quem chamavam Jesus de Nazaré, chegaria à cidade.
Zaqueu já ouvira falar dEle e uma secreta simpatia o invadira. Aquele era o homem que dizia que todos deveriam se amar como irmãos, que comia à mesa dos publicanos e se misturava com o povo.
Ao cair da tarde, quando as casas comerciais fecharam suas portas, Zaqueu se dirigiu ao lar. Altos gritos, contudo, o fizeram dirigir-se à porta setentrional da cidade.
Bartimeu, o conhecido cego, gritava a plenos pulmões que Jesus de Nazaré o curara. A multidão se precipitou para a estrada. Também Zaqueu.
De pequena estatura, gordo, com o ventre arredondado, as maçãs do rosto muito largas, pernas curtas, por mais se pusesse na ponta dos pés, não conseguia ver coisa alguma.
A um homem que passava com um jumento, ofereceu moedas para lhe comprar o animal. Foi olhado com desdém.
A outro, muito alto e encorpado, perguntou se poderia erguê-lo e disse que o pagaria bem. O israelita lhe respondeu que jamais serviria de alimária a um publicano.
E Zaqueu, no meio da multidão, foi sendo empurrado, pisado.
Depois de algum tempo, conseguiu sair para a beira da estrada. Foi daí que viu um sicômoro, uma espécie de figueira. As raízes saltavam grossas e rugosas à flor da terra. Ele subiu e um largo sorriso lhe iluminou o rosto. Podia, afinal, ver Jesus.
Ébrio de felicidade, juntou-se aos gritos da multidão, que O aclamava.
Quando o Mestre passou pela árvore, olhou para cima e ao ver aquele homem agarrado aos galhos, como se fosse um fruto, lhe disse:
Zaqueu! Desce depressa, porque hoje me convém pernoitar em tua casa.
O homem desceu presto da figueira, correu para casa, dizendo para si mesmo:
Não sou digno! Não sou digno!
Mentalmente, revê os negócios. Terá lesado alguém? Terá recebido a mais? Talvez tenha comprado terras a preço irrisório e as vendido com lucro excessivo. Sente-se atormentar.
A mulher começa a preparar, com os servos, as iguarias. Perfuma a casa. Chama os filhos. Prepara o leito com panos finos, importados de Sídon. Nada é suficientemente bom para receber o Rabi.
O que fazer para ser digno? - Pensa o cobrador de impostos.
Recorda que, à conta desse gesto, poderá recrudescer o ódio dos fariseus contra Jesus.
Sai à rua. Jesus caminha devagar, com a multidão à Sua volta, como se fosse um murmúrio de maré.
Emocionado pela visita do Amigo, Zaqueu violenta a própria timidez. Como num discurso nervoso, fala alto o suficiente para ser ouvido, não somente pelo Amigo, mas inclusive pela massa popular:
Senhor, eis que dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado! Entra na minha casa!
Restituir quadruplicado era penalidade da Lei Romana e, em alguns casos, também do Código de Israel, aos que utilizassem de injustiça para com os demais. Nesse momento, Zaqueu se faz acusador e juiz de si próprio.
Jesus sorriu, um riso leve e bom como um sopro de amor.
Hoje - disse suave - veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.
Depois adentrou o lar do publicano, servindo-Se da noite para ensinar, narrando a inconfundível parábola das dez minas.
Narram tradições evangélicas que, anos mais tarde, Simão Pedro convidou o antigo publicano a dirigir florescente comunidade cristã, nas terras de Cesareia.
E Zaqueu, rico de amor e humildade, foi servir a Jesus, servindo aos homens.
01.FRANCO, Divaldo Pereira. Inesquecível diálogo. In:___. Pelos caminhos de Jesus. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. Salvador: LEAL, 1987. cap. 18.
02.______. Zaqueu, o rico de humildade. In:___. As primícias do Reino. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. Rio [de Janeiro]: SABEDORIA, 1967.
03.ROHDEN, Huberto. Zaqueu. In:___. Jesus Nazareno. 6. ed. São Paulo: União Cultural. v. II, nº 135.
04.SALGADO, Plínio. O rico humilde. In:___. Vida de Jesus. 21. ed. São Paulo: Voz do Oeste, 1978. pt. 4, cap. LX.
05.TEIXEIRA, J. Raul. Jesus e Zaqueu. In:___. Vida e mensagem. Pelo Espírito Francisco de Paula Vitor. Niterói: FRÁTER, 1993. cap. 21.
Em 18.2.2016
Jericó era um oásis, situada nos confins da Judeia e Pereia. Era tradicionalmente conhecida como a cidade mais antiga da Terra, datando entre os milênios X e VII a.C. O clima suave e tépido era propício a que vicejassem as palmeiras. Era considerada um paraíso de delícias, com seus roseirais, extensas alamedas e fartos pomares.
Várias fontes, devidamente canalizadas, levavam vida e opulência a todas as artérias da cidade. Sendo o mais importante centro comercial de Israel, ao tempo de Jesus, tinha Jericó uma alfândega muito movimentada. Como um grande empório do país, possuía inúmeras casas de câmbio, casas de vendas por atacado aos varejistas da região e depósitos de mercadorias.
Ali morava um judeu, de nome Zaqueu, que arrematara em hasta pública a arrecadação dos tributos, tendo assinado um contrato com a autoridade romana pelo período de 5 anos.
Além de conduzir os interesses da aduana, ele dirigia suas transações particulares, aumentando sua fortuna com sucessivos lucros.
Desprezado pelos fariseus, por transigir com os romanos e invejado pelos saduceus, provocava a cólera dos zelotes, por considerarem ofensa aos brios de Israel pactuar com os agentes de César.
É certo que os que mais impiedosa campanha lhe moviam eram os perdedores, os que haviam disputado a função de coletor de impostos e não a conseguiram.
Zaqueu e sua mulher viviam isolados da vida social de Jericó. Quando a grande casa de família se iluminava para as festas domésticas, a prataria desfilava, o perfume do nardo se misturava ao cheiro suave das flores e das frutas, enquanto uma orquestra enchia de sons claros as salas.
Mas os convidados eram sempre e unicamente os funcionários da alfândega, os parentes de Zaqueu e um ou outro mercador. Nenhum homem importante da cidade, nem mesmo um escriba, frequentava-lhe a casa.
Enquanto acariciava os filhinhos, mais de uma vez Zaqueu sentiu apertar-se-lhe o coração, imaginando o dia em que eles descobririam os motivos pelos quais lhes era proibido brincar com os filhos dos fariseus.
Zaqueu era extremamente rico, mas tinha uma consciência de inferioridade, face ao tratamento que recebia do seu povo. Até mesmo mendigos, a não ser que fossem estrangeiros, rejeitavam a sua oferta de moedas.
Sua consciência lhe dizia que nunca prejudicara ninguém, pois que procurava ser justo.
Então, às vésperas da Páscoa, quando milhares de peregrinos passavam por Jericó, em direção a Jerusalém, numerosas pessoas trouxeram as notícias de que o Rabi da Galileia, a quem chamavam Jesus de Nazaré, chegaria à cidade.
Zaqueu já ouvira falar dEle e uma secreta simpatia o invadira. Aquele era o homem que dizia que todos deveriam se amar como irmãos, que comia à mesa dos publicanos e se misturava com o povo.
Ao cair da tarde, quando as casas comerciais fecharam suas portas, Zaqueu se dirigiu ao lar. Altos gritos, contudo, o fizeram dirigir-se à porta setentrional da cidade.
Bartimeu, o conhecido cego, gritava a plenos pulmões que Jesus de Nazaré o curara. A multidão se precipitou para a estrada. Também Zaqueu.
De pequena estatura, gordo, com o ventre arredondado, as maçãs do rosto muito largas, pernas curtas, por mais se pusesse na ponta dos pés, não conseguia ver coisa alguma.
A um homem que passava com um jumento, ofereceu moedas para lhe comprar o animal. Foi olhado com desdém.
A outro, muito alto e encorpado, perguntou se poderia erguê-lo e disse que o pagaria bem. O israelita lhe respondeu que jamais serviria de alimária a um publicano.
E Zaqueu, no meio da multidão, foi sendo empurrado, pisado.
Depois de algum tempo, conseguiu sair para a beira da estrada. Foi daí que viu um sicômoro, uma espécie de figueira. As raízes saltavam grossas e rugosas à flor da terra. Ele subiu e um largo sorriso lhe iluminou o rosto. Podia, afinal, ver Jesus.
Ébrio de felicidade, juntou-se aos gritos da multidão, que O aclamava.
Quando o Mestre passou pela árvore, olhou para cima e ao ver aquele homem agarrado aos galhos, como se fosse um fruto, lhe disse:
Zaqueu! Desce depressa, porque hoje me convém pernoitar em tua casa.
O homem desceu presto da figueira, correu para casa, dizendo para si mesmo:
Não sou digno! Não sou digno!
Mentalmente, revê os negócios. Terá lesado alguém? Terá recebido a mais? Talvez tenha comprado terras a preço irrisório e as vendido com lucro excessivo. Sente-se atormentar.
A mulher começa a preparar, com os servos, as iguarias. Perfuma a casa. Chama os filhos. Prepara o leito com panos finos, importados de Sídon. Nada é suficientemente bom para receber o Rabi.
O que fazer para ser digno? - Pensa o cobrador de impostos.
Recorda que, à conta desse gesto, poderá recrudescer o ódio dos fariseus contra Jesus.
Sai à rua. Jesus caminha devagar, com a multidão à Sua volta, como se fosse um murmúrio de maré.
Emocionado pela visita do Amigo, Zaqueu violenta a própria timidez. Como num discurso nervoso, fala alto o suficiente para ser ouvido, não somente pelo Amigo, mas inclusive pela massa popular:
Senhor, eis que dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado! Entra na minha casa!
Restituir quadruplicado era penalidade da Lei Romana e, em alguns casos, também do Código de Israel, aos que utilizassem de injustiça para com os demais. Nesse momento, Zaqueu se faz acusador e juiz de si próprio.
Jesus sorriu, um riso leve e bom como um sopro de amor.
Hoje - disse suave - veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.
Depois adentrou o lar do publicano, servindo-Se da noite para ensinar, narrando a inconfundível parábola das dez minas.
Narram tradições evangélicas que, anos mais tarde, Simão Pedro convidou o antigo publicano a dirigir florescente comunidade cristã, nas terras de Cesareia.
E Zaqueu, rico de amor e humildade, foi servir a Jesus, servindo aos homens.
01.FRANCO, Divaldo Pereira. Inesquecível diálogo. In:___. Pelos caminhos de Jesus. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. Salvador: LEAL, 1987. cap. 18.
02.______. Zaqueu, o rico de humildade. In:___. As primícias do Reino. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. Rio [de Janeiro]: SABEDORIA, 1967.
03.ROHDEN, Huberto. Zaqueu. In:___. Jesus Nazareno. 6. ed. São Paulo: União Cultural. v. II, nº 135.
04.SALGADO, Plínio. O rico humilde. In:___. Vida de Jesus. 21. ed. São Paulo: Voz do Oeste, 1978. pt. 4, cap. LX.
05.TEIXEIRA, J. Raul. Jesus e Zaqueu. In:___. Vida e mensagem. Pelo Espírito Francisco de Paula Vitor. Niterói: FRÁTER, 1993. cap. 21.
Em 18.2.2016
O REINO DE DEUS (TOLSTOI ENCONTRA ZAQUEU)
O REINO DE DEUS
(TOLSTOI ENCONTRA ZAQUEU)
Nota do compilador: Uma das passagens bem conhecidas da vida de Jesus é, sem dúvida, seu encontro com Zaqueu. Este, de estatura baixa, rico e criticado pelo povo porque desempenhava a função de coletor de impostos, subiu a uma árvore para ver Jesus. O Mestre, vendo-o, chamou-o e disse: Zaqueu, desce depressa, porque importa que eu fique hoje em tua casa. (Lucas, 19:1 a 10.) A história seguinte, descrita pelo espírito de Leon Tolstoi no livro "Ressurreição e Vida!" de sua autoria e psicografado pela médium Yvonne A. Pereira, coloca-nos numa posição privilegiada diante de tanta beleza e ensinamentos que ela nos traz.
"Tendo-lhe feito os fariseus esta pergunta: - Quando virá o reino de Deus? - Respondeu-lhes Jesus: - O reino de Deus não virá com mostras exteriores. Nem dirão: - Ei-lo aqui; ou: - Ei-lo acolá. Porque eis que o reino de Deus esta dentro de vós." (LUCAS, 17:20 e 21.)
"E tendo entrado em Jericó, atravessava Jesus a cidade. E vivia nela um homem chamado Zaqueu, e era ele um dos principais entre os publicanos, e pessoa rica. E procurava ver Jesus, para saber quem era, mas não o podia conseguir, por causa da muita gente, porque era pequeno de estatura. E correndo adiante subiu a um sicômoro para o ver, porque por ali havia ele de passar. E quando Jesus chegou àquele lugar, levantando os olhos, ali o viu, e lhe disse: - Zaqueu, desce depressa, porque importa que eu fique hoje em tua casa. E desceu ele a toda pressa, a recebeu-o, satisfeito. Vendo isso, todos murmuravam, dizendo que tinha ido hospedar-se em casa de um homem pecador. Entretanto, Zaqueu, posto na presença do Senhor, disse-lhe: - Senhor, eu estou para dar aos pobres metade dos meus bens,e naquilo em que eu tiver defraudado alguém, pagar-lhe-ei quadruplicado. Ao que lhe disse Jesus: - Hoje entrou a salvação nesta casa, porque este também é filho de Abraão. Porque o filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido." (LUCAS, 19:1 a 10.)
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Eu trouxera para a Vida do Além o desejo sincero de aprender a amar e servir o meu próximo. Creio mesmo que nos últimos tempos de minha vida intuições protetoras, bondosamente alimentadas por amigos celestes, que se compadeciam do meu pesar por não me haver sido possível ser tão fraterno para com os outros, como o desejara, falavam-me de rumos novos que deveria tomar, bem diversos daqueles que a sociedade viciosa do meu tempo me apontara.
Carreguei para o túmulo esse pesar. E esse pesar se acentuou aquém do túmulo e se transformou em aflição. Em vergonha depois. E em remorso. Compreendi por isso que, além dos umbrais da morte, o mérito que se nos permite é aquele que o Amor confere. E eu, que desejara amar, sem realmente ter amado; que fora rancoroso quando devera ser brando de coração; que usara da impaciência e do desdém - quantas vezes?! - onde se recomendariam a ternura e o interesse complacente, entendi que nada sabia, que nada fizera de bom e que urgia aprender novamente tudo o que uma alma necessita para a reabilitação de si mesma ante o próprio conceito.
Um dia (direi um dia para que os homens me entendam, porque nestas plagas espirituais não se poderá expressar assim, visto que se desconhecem os dias e as noites, para somente se integrar a mente no eterno momento), um dia roguei Àquele que É a piedade de me proporcionar ensejos de um aprendizado de legítimo Amor ao próximo, mas um aprendizado que saciasse a minha alma até às suas remotas fibras, fazendo desaparecer o complexo da ideia de desamor em que me considerava ter vivido.
Pus-me a "passear" pelo espaço ilimitado, pensativo e compungido, e por vezes recordando meus antigos passatempos pela floresta de Yasnaya Polyana1, ao passo que confabulava com a própria consciência, estabelecendo resoluções definidas e programas urgentes.
Havia pouco tempo que abandonara aos vermes aquilo que fora a minha personalidade social humana, e a mente, afeita desde o berço às paisagens russas, figurava para si própria os quadros habituais de minha terra natal: estepes geladas a se confundirem com o horizonte, onde o vento soprava levantando a neve, para reuni-la em montículos que se multiplicavam a perder de vista; as aldeias com suas "isbas", movimentadas pelo trabalho dos moradores sempre preocupados com suas lides; o gado rumorejando à hora do repouso; as camponesas palrando ou cantarolando ao recolherem as roupas que secavam ao vento desde manhã; os "trenós" e as "troikas" regressando com seus nédios proprietários, bem aquecidos e ainda mais tranquilos sob suas peliças, depois de vencerem cinco ou oito "verstás", satisfeitos com os resultados de suas compras e vendas...
Mas de súbito tudo mudou.
Vi-me perdido em campo azul-pálido, lucilante de uma aurora cujo resplendor matizava de doces coloridos a região imensa. E acolá, sentado, meditativo, como a contemplar algo que eu era impotente para também distinguir, entrevi um vulto atraente, cujo aspecto me surpreendeu. Dir-se-ia encontrar-me em presença de um daqueles discípulos do Nazareno, daqueles que, no anonimato, o seguiam em suas idas e vindas pelos contrafortes da Judéia e as planícies de trigo da Galileia.
Reparando de mais perto, e mais atentamente, compreendi que o vulto discursava para a pequena assembleia de ouvintes sentados pelo chão, à sua volta, como de uso no Oriente, e como se concedesse uma entrevista ou uma aula. Em derredor, estendia-se um panorama oriental recordando as descrições bíblicas. Veio-me a impressão de que o Tempo recuara dois milênios, transportando-me, sem que eu o percebesse, à Galileia da época da peregrinação do Senhor por suas paragens.
A luz da aurora, inalterável, incidia suavemente sobre o grupo e a pradaria em torno, com irradiações de madrepérola esbatendo claros e sombras tão singulares que eu desafio, a todos os artistas que têm passado pela Terra, a reproduzirem em suas telas um só daqueles celestes reflexos que então tive a ventura de contemplar.
Aproximei-me de mansinho do grupo entrevisto, discreto, algo curioso. E me considerei discípulo daquele provável mestre, como os outros que o rodeavam. E eis o que ouvi e presenciei:
- Retornaremos a qualquer momento para nova experimentação terrena, mestre Zaqueu... Fala-nos de ti mesmo, dos tempos apostólicos, das pregações do Nazareno expondo a sua Boa Nova, que provavelmente ouviste... Seria de muito bom proveito que levássemos, detidos nas comportas da consciência, algo estimulante, deslumbrante, desse tempo... para que, uma vez nos sentindo novamente homens, pouco a pouco se fossem destilando, pelos escapamentos da intuição, essas lições salvadoras que sabes contar, à guisa de reminiscências levadas deste plano espiritual em que nos encontramos... - rogaram sorrindo os discípulos, todos atraentes personagens, muito agradáveis de ver.
Sobressaltei-me.
- Zaqueu?... - pensei. - Mas seria aquele que subiu ao sicômoro, quando o Senhor entrava em Jericó, para vê-lo passar?... Seria aquele em cuja casa Jesus se hospedara? que oferecera ao Mestre um festim, enquanto o reino de Deus era mais uma vez ensinado aos de boa vontade, entre os convivas?... Seria possível, mesmo, que eu me encontrasse em presença de um Espírito que fora "publicano" ao tempo do Senhor, na Judeia; que viesse a conhecer alguém que, por sua vez, houvera conhecido a Jesus - Cristo?...
Excitado, aproximei-me ainda mais. Pus-me à sua frente, sentado como os outros, a olhar para ele.
Ao que observava, aquela sociedade retratava uma democracia modelar, superior em moral e fraternidade mesmo à que eu sonhara outrora para a Rússia e o mundo, nas horas de desesperança, quando observava o Mal perseguindo o Bem, a Força dominando o Direito, a Treva sobrepondo-se à Luz. Eu chegava ali sem credenciais, sem apresentações. Sentava-me entre todos, confiante, como se compartilhasse benefícios da casa paterna entre irmãos. Imiscuía-me para junto do mestre que discursava e ninguém me censurava a impertinência, não me pediam satisfações pela intromissão. Mais tarde eu soube que, se tal acontecia, era devido a mera questão de afinidades. Somente o fato de havermos todos gravitado para aquele plano valeria pela credencial, que outra não era senão aquela mesma. Quem estivesse ali, estava porque poderia e deveria estar. Mais nada. Eu estava ali. Devia estar. No Além não existem dubiedades nem meias medidas. O que é, é! E era por isso que ninguém me enxotava de junto do mestre que discursava. Eu tinha direitos a estar junto daquele mestre. E estava.
Olhei-o, àquele a quem haviam chamado Zaqueu. Semblante sereno, bondoso, enternecido, ainda jovem. Olhos cintilantes e perscrutadores, como alimentados por uma resolução invencível. Lábios finos, queixo estirado, com pequena barba negra em ponta, recordando o característico fisionômico dos varões judaicos. Tez alva, sobrancelhas espessas, mãos pequenas, pequena estatura, coifa discreta, listrada em azul forte e branco, manto azul forte, barrado de galões amarelos e borlas na ponta - eis a materialização do homem que teria sido, há dois mil anos, aquele Espírito que assim mesmo se apresentava aos seus ouvintes do mundo espiritual, disposto a cativá-los através da "regressão da memória" a essa personalidade remota que tivera sobre a Terra.
Confesso que durante meus antigos estudos sobre o Evangelho nutrira grande simpatia por essa personagem que vemos, nas páginas santas, admiradora incondicional de Jesus, dotada de inclinações generosas a serviço do próximo, desejando repartir entre a pobreza parte da própria fortuna, desinteresse raro em qualquer tempo, sobre a Terra. Eu a entrevia, então, através dos versículos de S. Lucas, um caráter profundamente terno, simples, um idealista disposto ao auxílio aos semelhantes, não obstante tratar-se de pessoa que, embora poderosa e influente na localidade em que vivia, como chefe dos cobradores de impostos que era, se via, por isso mesmo, repelida e moralmente estigmatizada por aquela sociedade preconceituosa. E foi com o coração excitado por todos os raciocínios consequentes de tais lembranças que a ouvi atender à solicitação dos discípulos:
- "A bondade do Mestre Galileu, honrando-me com uma visita e uma refeição em minha casa, eu, um renegado pela sociedade porque um "publicano" tocou-me para sempre o coração, meus amados, conforme sabeis... - ia ele dizendo. - Ele compreendeu as minhas necessidades morais de estímulo para o Bem, o meu aflitivo desejo de ser bom. Penetrou, com sua solicitude inesquecível, os mais remotos escaninhos do meu ser moral; contornou, com seu amor de Arcanjo, todas as aspirações do meu Espírito, filho de Deus, que sofria por algo sublime que lhe aclarasse as ações... E conquistou-me, assim, por toda a consumação dos séculos...
Muito sofri e chorei quando esse Mestre foi levantado no suplício da Cruz. Não, eu não o abandonei jamais, desde aquele dia em que passou por Jericó! Segui-o. E o pouco que ainda viveu depois disso teve-me em suas pegadas para ouvi-lo e admirá-lo. Eu não me ocultei das autoridades, receando censuras ou prisão, nem tive preconceitos, e tampouco me importunou a vigilância dos tiranos de Roma ou o despeito dos asseclas do Templo de Jerusalém. Achava-me bem visível entre o povo, transitando pelas ruas, embora ignorado, humilhado pela minha condição de funcionário romano... e assisti aos estertores da agonia sublime, naquela tarde do 14 de Nisan... Soube, é certo, da ressurreição que a todos revigorou de esperanças... Mas não logrei tornar a ver e ouvir o Mestre, não fui bastante merecedor dessa ventura imensa... Ele só se apresentou, depois da ressurreição, aos discípulos - homens e mulheres - e aos apóstolos...
Inconsolável por sua ausência e sentindo em mim um vazio aterrador, meu recurso para não desesperar ante a saudade e o pesar pelo desaparecimento desse Amigo incomparável foi insinuar-me entre seus discípulos, a fim de ouvir falarem dele...
Fui a Betânia, quantas vezes?!... e tentei tornar-me assíduo da granja de Lázaro, de tão gratas recordações... Mas tudo ali estava tão mudado e tão triste, depois do 14 de Nisan...
No entanto, ali, na granja de Lázaro, sob o frescor das figueiras viçosas que Marta plantara; à luz do luar, junto das oliveiras que farfalhavam docemente, ao impulso das virações que desciam do Hermon; no próprio pátio onde recendiam os lírios que Maria plantara, perdido entre o anonimato dos forasteiros que acorriam a Betânia quando ali o sabiam hospedado, eu ouvira pregações do Mestre pouco antes da Sua morte, saciando-me até à alegria e ao deslumbramento com as palavras daquela Doutrina que Ele concedia ao povo, o qual ignorava que a dois passos se ergueria a cruz, arrebatando-o da nossa vista...
Visitei Pedro, esperando consolar a minha grande dor ouvindo-o dissertar sobre Aquele que se fora do alto do Calvário, com a eloquência com que sempre soube arrebatar as multidões.
Perlustrei, choroso e desarvorado, as praias de Cafarnaum e de Genesaré, sem saber o que tentar em meu próprio socorro, mas esperançado de que os irmãos Boanerges, filhos de Zebedeu, me compreendessem e adotassem para discípulo do seu bando, como eu via que acontecia a tantos outros... (Espírito de Léon Tolstoi - Ressurreição e Vida! - Médium: Yvonne A. Pereira) - Este artigo segue em TOLSTOI ENCONTRA ZAQUEU II
(Nota do compilador: 1 = Yasnaya Polyana: localidade onde nasceu Lev Tolstoi ou Léon Tolstoi).
(TOLSTOI ENCONTRA ZAQUEU)
Nota do compilador: Uma das passagens bem conhecidas da vida de Jesus é, sem dúvida, seu encontro com Zaqueu. Este, de estatura baixa, rico e criticado pelo povo porque desempenhava a função de coletor de impostos, subiu a uma árvore para ver Jesus. O Mestre, vendo-o, chamou-o e disse: Zaqueu, desce depressa, porque importa que eu fique hoje em tua casa. (Lucas, 19:1 a 10.) A história seguinte, descrita pelo espírito de Leon Tolstoi no livro "Ressurreição e Vida!" de sua autoria e psicografado pela médium Yvonne A. Pereira, coloca-nos numa posição privilegiada diante de tanta beleza e ensinamentos que ela nos traz.
"Tendo-lhe feito os fariseus esta pergunta: - Quando virá o reino de Deus? - Respondeu-lhes Jesus: - O reino de Deus não virá com mostras exteriores. Nem dirão: - Ei-lo aqui; ou: - Ei-lo acolá. Porque eis que o reino de Deus esta dentro de vós." (LUCAS, 17:20 e 21.)
"E tendo entrado em Jericó, atravessava Jesus a cidade. E vivia nela um homem chamado Zaqueu, e era ele um dos principais entre os publicanos, e pessoa rica. E procurava ver Jesus, para saber quem era, mas não o podia conseguir, por causa da muita gente, porque era pequeno de estatura. E correndo adiante subiu a um sicômoro para o ver, porque por ali havia ele de passar. E quando Jesus chegou àquele lugar, levantando os olhos, ali o viu, e lhe disse: - Zaqueu, desce depressa, porque importa que eu fique hoje em tua casa. E desceu ele a toda pressa, a recebeu-o, satisfeito. Vendo isso, todos murmuravam, dizendo que tinha ido hospedar-se em casa de um homem pecador. Entretanto, Zaqueu, posto na presença do Senhor, disse-lhe: - Senhor, eu estou para dar aos pobres metade dos meus bens,e naquilo em que eu tiver defraudado alguém, pagar-lhe-ei quadruplicado. Ao que lhe disse Jesus: - Hoje entrou a salvação nesta casa, porque este também é filho de Abraão. Porque o filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido." (LUCAS, 19:1 a 10.)
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Eu trouxera para a Vida do Além o desejo sincero de aprender a amar e servir o meu próximo. Creio mesmo que nos últimos tempos de minha vida intuições protetoras, bondosamente alimentadas por amigos celestes, que se compadeciam do meu pesar por não me haver sido possível ser tão fraterno para com os outros, como o desejara, falavam-me de rumos novos que deveria tomar, bem diversos daqueles que a sociedade viciosa do meu tempo me apontara.
Carreguei para o túmulo esse pesar. E esse pesar se acentuou aquém do túmulo e se transformou em aflição. Em vergonha depois. E em remorso. Compreendi por isso que, além dos umbrais da morte, o mérito que se nos permite é aquele que o Amor confere. E eu, que desejara amar, sem realmente ter amado; que fora rancoroso quando devera ser brando de coração; que usara da impaciência e do desdém - quantas vezes?! - onde se recomendariam a ternura e o interesse complacente, entendi que nada sabia, que nada fizera de bom e que urgia aprender novamente tudo o que uma alma necessita para a reabilitação de si mesma ante o próprio conceito.
Um dia (direi um dia para que os homens me entendam, porque nestas plagas espirituais não se poderá expressar assim, visto que se desconhecem os dias e as noites, para somente se integrar a mente no eterno momento), um dia roguei Àquele que É a piedade de me proporcionar ensejos de um aprendizado de legítimo Amor ao próximo, mas um aprendizado que saciasse a minha alma até às suas remotas fibras, fazendo desaparecer o complexo da ideia de desamor em que me considerava ter vivido.
Pus-me a "passear" pelo espaço ilimitado, pensativo e compungido, e por vezes recordando meus antigos passatempos pela floresta de Yasnaya Polyana1, ao passo que confabulava com a própria consciência, estabelecendo resoluções definidas e programas urgentes.
Havia pouco tempo que abandonara aos vermes aquilo que fora a minha personalidade social humana, e a mente, afeita desde o berço às paisagens russas, figurava para si própria os quadros habituais de minha terra natal: estepes geladas a se confundirem com o horizonte, onde o vento soprava levantando a neve, para reuni-la em montículos que se multiplicavam a perder de vista; as aldeias com suas "isbas", movimentadas pelo trabalho dos moradores sempre preocupados com suas lides; o gado rumorejando à hora do repouso; as camponesas palrando ou cantarolando ao recolherem as roupas que secavam ao vento desde manhã; os "trenós" e as "troikas" regressando com seus nédios proprietários, bem aquecidos e ainda mais tranquilos sob suas peliças, depois de vencerem cinco ou oito "verstás", satisfeitos com os resultados de suas compras e vendas...
Mas de súbito tudo mudou.
Vi-me perdido em campo azul-pálido, lucilante de uma aurora cujo resplendor matizava de doces coloridos a região imensa. E acolá, sentado, meditativo, como a contemplar algo que eu era impotente para também distinguir, entrevi um vulto atraente, cujo aspecto me surpreendeu. Dir-se-ia encontrar-me em presença de um daqueles discípulos do Nazareno, daqueles que, no anonimato, o seguiam em suas idas e vindas pelos contrafortes da Judéia e as planícies de trigo da Galileia.
Reparando de mais perto, e mais atentamente, compreendi que o vulto discursava para a pequena assembleia de ouvintes sentados pelo chão, à sua volta, como de uso no Oriente, e como se concedesse uma entrevista ou uma aula. Em derredor, estendia-se um panorama oriental recordando as descrições bíblicas. Veio-me a impressão de que o Tempo recuara dois milênios, transportando-me, sem que eu o percebesse, à Galileia da época da peregrinação do Senhor por suas paragens.
A luz da aurora, inalterável, incidia suavemente sobre o grupo e a pradaria em torno, com irradiações de madrepérola esbatendo claros e sombras tão singulares que eu desafio, a todos os artistas que têm passado pela Terra, a reproduzirem em suas telas um só daqueles celestes reflexos que então tive a ventura de contemplar.
Aproximei-me de mansinho do grupo entrevisto, discreto, algo curioso. E me considerei discípulo daquele provável mestre, como os outros que o rodeavam. E eis o que ouvi e presenciei:
- Retornaremos a qualquer momento para nova experimentação terrena, mestre Zaqueu... Fala-nos de ti mesmo, dos tempos apostólicos, das pregações do Nazareno expondo a sua Boa Nova, que provavelmente ouviste... Seria de muito bom proveito que levássemos, detidos nas comportas da consciência, algo estimulante, deslumbrante, desse tempo... para que, uma vez nos sentindo novamente homens, pouco a pouco se fossem destilando, pelos escapamentos da intuição, essas lições salvadoras que sabes contar, à guisa de reminiscências levadas deste plano espiritual em que nos encontramos... - rogaram sorrindo os discípulos, todos atraentes personagens, muito agradáveis de ver.
Sobressaltei-me.
- Zaqueu?... - pensei. - Mas seria aquele que subiu ao sicômoro, quando o Senhor entrava em Jericó, para vê-lo passar?... Seria aquele em cuja casa Jesus se hospedara? que oferecera ao Mestre um festim, enquanto o reino de Deus era mais uma vez ensinado aos de boa vontade, entre os convivas?... Seria possível, mesmo, que eu me encontrasse em presença de um Espírito que fora "publicano" ao tempo do Senhor, na Judeia; que viesse a conhecer alguém que, por sua vez, houvera conhecido a Jesus - Cristo?...
Excitado, aproximei-me ainda mais. Pus-me à sua frente, sentado como os outros, a olhar para ele.
Ao que observava, aquela sociedade retratava uma democracia modelar, superior em moral e fraternidade mesmo à que eu sonhara outrora para a Rússia e o mundo, nas horas de desesperança, quando observava o Mal perseguindo o Bem, a Força dominando o Direito, a Treva sobrepondo-se à Luz. Eu chegava ali sem credenciais, sem apresentações. Sentava-me entre todos, confiante, como se compartilhasse benefícios da casa paterna entre irmãos. Imiscuía-me para junto do mestre que discursava e ninguém me censurava a impertinência, não me pediam satisfações pela intromissão. Mais tarde eu soube que, se tal acontecia, era devido a mera questão de afinidades. Somente o fato de havermos todos gravitado para aquele plano valeria pela credencial, que outra não era senão aquela mesma. Quem estivesse ali, estava porque poderia e deveria estar. Mais nada. Eu estava ali. Devia estar. No Além não existem dubiedades nem meias medidas. O que é, é! E era por isso que ninguém me enxotava de junto do mestre que discursava. Eu tinha direitos a estar junto daquele mestre. E estava.
Olhei-o, àquele a quem haviam chamado Zaqueu. Semblante sereno, bondoso, enternecido, ainda jovem. Olhos cintilantes e perscrutadores, como alimentados por uma resolução invencível. Lábios finos, queixo estirado, com pequena barba negra em ponta, recordando o característico fisionômico dos varões judaicos. Tez alva, sobrancelhas espessas, mãos pequenas, pequena estatura, coifa discreta, listrada em azul forte e branco, manto azul forte, barrado de galões amarelos e borlas na ponta - eis a materialização do homem que teria sido, há dois mil anos, aquele Espírito que assim mesmo se apresentava aos seus ouvintes do mundo espiritual, disposto a cativá-los através da "regressão da memória" a essa personalidade remota que tivera sobre a Terra.
Confesso que durante meus antigos estudos sobre o Evangelho nutrira grande simpatia por essa personagem que vemos, nas páginas santas, admiradora incondicional de Jesus, dotada de inclinações generosas a serviço do próximo, desejando repartir entre a pobreza parte da própria fortuna, desinteresse raro em qualquer tempo, sobre a Terra. Eu a entrevia, então, através dos versículos de S. Lucas, um caráter profundamente terno, simples, um idealista disposto ao auxílio aos semelhantes, não obstante tratar-se de pessoa que, embora poderosa e influente na localidade em que vivia, como chefe dos cobradores de impostos que era, se via, por isso mesmo, repelida e moralmente estigmatizada por aquela sociedade preconceituosa. E foi com o coração excitado por todos os raciocínios consequentes de tais lembranças que a ouvi atender à solicitação dos discípulos:
- "A bondade do Mestre Galileu, honrando-me com uma visita e uma refeição em minha casa, eu, um renegado pela sociedade porque um "publicano" tocou-me para sempre o coração, meus amados, conforme sabeis... - ia ele dizendo. - Ele compreendeu as minhas necessidades morais de estímulo para o Bem, o meu aflitivo desejo de ser bom. Penetrou, com sua solicitude inesquecível, os mais remotos escaninhos do meu ser moral; contornou, com seu amor de Arcanjo, todas as aspirações do meu Espírito, filho de Deus, que sofria por algo sublime que lhe aclarasse as ações... E conquistou-me, assim, por toda a consumação dos séculos...
Muito sofri e chorei quando esse Mestre foi levantado no suplício da Cruz. Não, eu não o abandonei jamais, desde aquele dia em que passou por Jericó! Segui-o. E o pouco que ainda viveu depois disso teve-me em suas pegadas para ouvi-lo e admirá-lo. Eu não me ocultei das autoridades, receando censuras ou prisão, nem tive preconceitos, e tampouco me importunou a vigilância dos tiranos de Roma ou o despeito dos asseclas do Templo de Jerusalém. Achava-me bem visível entre o povo, transitando pelas ruas, embora ignorado, humilhado pela minha condição de funcionário romano... e assisti aos estertores da agonia sublime, naquela tarde do 14 de Nisan... Soube, é certo, da ressurreição que a todos revigorou de esperanças... Mas não logrei tornar a ver e ouvir o Mestre, não fui bastante merecedor dessa ventura imensa... Ele só se apresentou, depois da ressurreição, aos discípulos - homens e mulheres - e aos apóstolos...
Inconsolável por sua ausência e sentindo em mim um vazio aterrador, meu recurso para não desesperar ante a saudade e o pesar pelo desaparecimento desse Amigo incomparável foi insinuar-me entre seus discípulos, a fim de ouvir falarem dele...
Fui a Betânia, quantas vezes?!... e tentei tornar-me assíduo da granja de Lázaro, de tão gratas recordações... Mas tudo ali estava tão mudado e tão triste, depois do 14 de Nisan...
No entanto, ali, na granja de Lázaro, sob o frescor das figueiras viçosas que Marta plantara; à luz do luar, junto das oliveiras que farfalhavam docemente, ao impulso das virações que desciam do Hermon; no próprio pátio onde recendiam os lírios que Maria plantara, perdido entre o anonimato dos forasteiros que acorriam a Betânia quando ali o sabiam hospedado, eu ouvira pregações do Mestre pouco antes da Sua morte, saciando-me até à alegria e ao deslumbramento com as palavras daquela Doutrina que Ele concedia ao povo, o qual ignorava que a dois passos se ergueria a cruz, arrebatando-o da nossa vista...
Visitei Pedro, esperando consolar a minha grande dor ouvindo-o dissertar sobre Aquele que se fora do alto do Calvário, com a eloquência com que sempre soube arrebatar as multidões.
Perlustrei, choroso e desarvorado, as praias de Cafarnaum e de Genesaré, sem saber o que tentar em meu próprio socorro, mas esperançado de que os irmãos Boanerges, filhos de Zebedeu, me compreendessem e adotassem para discípulo do seu bando, como eu via que acontecia a tantos outros... (Espírito de Léon Tolstoi - Ressurreição e Vida! - Médium: Yvonne A. Pereira) - Este artigo segue em TOLSTOI ENCONTRA ZAQUEU II
(Nota do compilador: 1 = Yasnaya Polyana: localidade onde nasceu Lev Tolstoi ou Léon Tolstoi).
JESUS NA CASA DE ZAQUEU
JESUS NA CASA DE ZAQUEU
No "O Evangelho segundo o Espiritismo", cap. XVI, item 4, encontramos a narrativa de Lucas sobre a visita de Jesus na casa de Zaqueu. Poucos buscam saber quem foi ele. Por isso, perguntamos: QUEM FOI ZAQUEU? Zaqueu foi chefe dos cobradores de impostos, talvez um dos homens mais odiados na cidade. Ficou rico por cobrar abusivos impostos. Mas, quando ouviu falar de Jesus, e que Ele estaria por perto, sabia que precisava vê-lo.
Quando Jesus passou por perto de onde Zaqueu estava, Jesus fez "um convite" que se estende até hoje para nós:
- "Ceiarei hoje em sua casa".
E Zaqueu o recebeu com alegria. Aceitou a presença de Jesus, não apenas em sua casa, mas em sua vida. Ele entendeu que não adiantava ser rico de bens materiais e pobre de bens espirituais. Reconhecendo o erro comprometeu-se em dividir metade de seus bens com os pobres e devolver quadriplicado o que cobrou abusivamente do povo. Por isso, Jesus disse:
- "Eis que a salvação entrou nesta casa".
Aqui vemos uma conversão seguido de transformação.
Porque são muitos os que se convertem, mas poucos os que se transformam.
Muitos chegam à religião, submetem-se aos rituais, cultos, dogmas, etc, mas não se transformam, não buscam saber o que Deus ou Jesus esperam delas.
Geralmente, esperam favores Dele, sem esforçarem-se para merecerem.
Porque converter-se não é só a palavra, o conhecimento, converter-se é transformar a palavra, o conhecimento em ação.
Temos que aliar o conhecimento e o sermão ao exemplo.
Porque há muitas pessoas que, na aparência, mostram seguir Jesus, mas, de fato, não o seguem; ao passo que, muitos que parecem não o seguir, estão a caminho com Ele.
Hoje os templos, as igrejas, as casas religiosas estão repletas, mas poucos buscam uma mudança em seus hábitos. Poucos esforçam-se para passar pela porta estreita, porque para passar por essa porta, é preciso deixar para trás a bagagem má, e isso, exige esforço e sacrifício. Mesmo aprendendo a Doutrina do Cristo, o Ser continua maledicente, avaro, egoísta e orgulhoso, nunca tendo complacência de ninguém; diz-se cristão, mas no trabalho, em casa, no trânsito ou na rua é um verdadeiro fariseu hipócrita, que prega a moral e a perfeição, mas longe se encontra do dever.
Portanto, nos perguntemos:
- Se Jesus nos fizesse uma visita, o que Ele encontraria em nossa casa? O que faríamos para agradá-Lo? Ele encontraria tolerância, respeito, carinho, tranqüilidade, abnegação, renúncia, esforço, sacrifício, perdão, ou brigas, discórdia, violência, intolerância, egoísmo, desrespeito?
Que possamos servir o melhor, para que Ele possa dizer:
- Hoje a salvação entrou nesta casa.
Ou seja, os membros desta casa conseguiram se salvar, se libertar, se livrar, dos sentimentos e atitudes que não condizem com os pedidos do Evangelho.
No "O Evangelho segundo o Espiritismo", cap. XVI, item 4, encontramos a narrativa de Lucas sobre a visita de Jesus na casa de Zaqueu. Poucos buscam saber quem foi ele. Por isso, perguntamos: QUEM FOI ZAQUEU? Zaqueu foi chefe dos cobradores de impostos, talvez um dos homens mais odiados na cidade. Ficou rico por cobrar abusivos impostos. Mas, quando ouviu falar de Jesus, e que Ele estaria por perto, sabia que precisava vê-lo.
Quando Jesus passou por perto de onde Zaqueu estava, Jesus fez "um convite" que se estende até hoje para nós:
- "Ceiarei hoje em sua casa".
E Zaqueu o recebeu com alegria. Aceitou a presença de Jesus, não apenas em sua casa, mas em sua vida. Ele entendeu que não adiantava ser rico de bens materiais e pobre de bens espirituais. Reconhecendo o erro comprometeu-se em dividir metade de seus bens com os pobres e devolver quadriplicado o que cobrou abusivamente do povo. Por isso, Jesus disse:
- "Eis que a salvação entrou nesta casa".
Aqui vemos uma conversão seguido de transformação.
Porque são muitos os que se convertem, mas poucos os que se transformam.
Muitos chegam à religião, submetem-se aos rituais, cultos, dogmas, etc, mas não se transformam, não buscam saber o que Deus ou Jesus esperam delas.
Geralmente, esperam favores Dele, sem esforçarem-se para merecerem.
Porque converter-se não é só a palavra, o conhecimento, converter-se é transformar a palavra, o conhecimento em ação.
Temos que aliar o conhecimento e o sermão ao exemplo.
Porque há muitas pessoas que, na aparência, mostram seguir Jesus, mas, de fato, não o seguem; ao passo que, muitos que parecem não o seguir, estão a caminho com Ele.
Hoje os templos, as igrejas, as casas religiosas estão repletas, mas poucos buscam uma mudança em seus hábitos. Poucos esforçam-se para passar pela porta estreita, porque para passar por essa porta, é preciso deixar para trás a bagagem má, e isso, exige esforço e sacrifício. Mesmo aprendendo a Doutrina do Cristo, o Ser continua maledicente, avaro, egoísta e orgulhoso, nunca tendo complacência de ninguém; diz-se cristão, mas no trabalho, em casa, no trânsito ou na rua é um verdadeiro fariseu hipócrita, que prega a moral e a perfeição, mas longe se encontra do dever.
Portanto, nos perguntemos:
- Se Jesus nos fizesse uma visita, o que Ele encontraria em nossa casa? O que faríamos para agradá-Lo? Ele encontraria tolerância, respeito, carinho, tranqüilidade, abnegação, renúncia, esforço, sacrifício, perdão, ou brigas, discórdia, violência, intolerância, egoísmo, desrespeito?
Que possamos servir o melhor, para que Ele possa dizer:
- Hoje a salvação entrou nesta casa.
Ou seja, os membros desta casa conseguiram se salvar, se libertar, se livrar, dos sentimentos e atitudes que não condizem com os pedidos do Evangelho.
ZAQUEU E LEÃO TOSTOI NO MUNDO ESPIRITUAL
https://blogdobrunotavares.wordpress.com/2017/08/09/zaqueu-e-leao-tostoi-no-mundo-espiritual-por-severino-barbosa/
ZAQUEU E LEÃO TOSTOI NO MUNDO ESPIRITUAL. PELO ESCRITOR ESPÍRITA SEVERINO BARBOSA
Data: 9 ago 2017
Autor: blogdobrunotavares
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zlt
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Desde que passei a me interessar mais intensamente pelos estudos do Evangelho, percebi que uma das figuras evangélicas admiráveis daqueles velhos tempos do Cristianismo primitivo foi Zaqueu, chefe dos publicanos, o qual prendeu-me singular atenção.
Segundo informações de Lucas, evangelista e discípulo de Paulo de Tarso (19:1-10), depois que Zaqueu recebeu Jesus em seu lar, como hóspede especial, passou a existir entre ambos uma forte e perene amizade. É que o Mestre, ao passar pela cidade de Jericó, acompanhado dos apóstolos, mulheres, homens, crianças e muitos judeus curiosos, para surpresa de todos, dirigiu seu olhar para o alto e, vendo o chefe dos publicanos, disse-lhe estas palavras: “Zaqueu, dá-te pressa em descer, porquanto preciso que me hospedes hoje em tua casa”.
O convite ao publicano foi oportuno. O Mestre estava consciente da grande importância do encontro que, de uma vez por todas, transformaria a vida de Zaqueu. E este, em invejável testemunho de humildade, postou-se ante Jesus e disse-lhe: “Senhor, dou a metade dos meus bens aos pobres; e, se causei dano a alguém, seja no que for, indenizo-o com o quádruplo”.
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JFCZ1
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A proposta do chefe dos publicanos é uma prova inequívoca da força do seu caráter. Demonstrou considerável senso de justiça e desapego dos bens materiais, duas virtudes raríssimas e, quando pronunciadas pelos homens, são mais teóricas do que práticas. Claro que o Mestre conhecia Zaqueu e sabia que ele falava a verdade, tanto que lhe respondeu nestes termos: “Esta casa recebeu hoje a salvação, porque também este é filho de Abraão. Visto que o Filho do Homem veio para procurar e salvar o que estava perdido”.
É interessante consignar, no entanto, que o fato de Jesus se haver hospedado na residência de Zaqueu, embora homem afortunado e bastante influente junto à comunidade de Jericó, mas por outro lado, considerado pelos judeus desprezível pecador, foi interpretado como verdadeiro escândalo pelos fanáticos seguidores do Judaísmo. Isto, porque era ele um publicano, ou seja, funcionário de César com atribuições de cobrar impostos dos judeus para Roma, tributos que eles consideravam extorsivos. Era esse, portanto, o motivo da profunda aversão que os judeus nutriam contra os romanos, desde que o império de César tornou a Palestina mais uma das suas diversas províncias.
Os judeus, maliciosamente, julgavam que Zaqueu havia enriquecido desonestamente. Portanto, sua fortuna era duvidosa. Claro que para eles, se o Mestre se fizera amigo e orientador daquele publicano, certamente eram de índoles semelhantes. Jesus tinha outro conceito sobre Zaqueu. Para o Mestre, no momento em que o chefe dos cobradores de tributos o recebeu em sua casa, ele já estava pronto para assimilar a mensagem da Boa Nova e, assim, iniciar o processo de sua mudança interior, para se libertar da condição de “homem velho” para “homem novo”, na feliz expressão do apóstolo Paulo de Tarso. E de acordo com a simbologia evangélica, o afortunado Zaqueu, naquela oportunidade, era o fruto amadurecido para a compreensão das coisas espirituais, ensinadas por Jesus de Nazaré.
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ZCASA1
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Todavia, que tem a ver este preâmbulo sobre o famoso personagem evangélico com Leão Tolstoi, o genial escritor e romancista russo, da época dos czares?
Tem, sim!… Senão, vejamos.
O Espírito Leão Tolstoi, no capítulo I de seu livro Ressurreição e Vida –, psicografado pela médium Yvonne A. Pereira (edição FEB), conta-nos que em costumeiro passeio pelo mundo invisível sentiu–se atraído para um grupo de Espíritos que constitui a pequena assembléia em forma de círculo, à moda oriental, todos sentados pelo chão e recebendo aulas de um mestre de baixa estatura, que mais parecia um discípulo de Jesus.
Narra o autor de Ressurreição e Vida, em sua linguagem simples e estilo suave, que o ambiente espiritual que rodeava a assembléia de estudantes espirituais era de uma beleza jamais vista por ele, dando a impressão de que o tempo recuara dois milênios, como se todos ali presentes estivessem no seio das vastas planícies de trigo da velha e encantadora Galiléia, por onde peregrinavam Jesus e seus diletos discípulos.
Leão Tolstoi, embevecido pela deslumbrante paisagem espiritual que se desdobrava à sua frente, descreve-a: “A luz da aurora, inalterável, incidia suavemente sobre o grupo e a pradaria em torno, com irradiações de madrepérola esbatendo claros e sombras tão singulares que eu desafio, a todos os artistas que têm passado pela Terra, a reproduzirem em suas telas um só daqueles celestes reflexos que então tive a ventura de contemplar”
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ZAPO
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Tolstoi, empolgado e curioso, ao se aproximar do grupo, atraído por uma estranha força magnética, que não era outra senão a que aproxima os Espíritos afins, escutou uma voz do meio da assembléia solicitar ao mestre, que chamou Zaqueu, falasse de si mesmo, dos tempos apostólicos, das pregações de Jesus sobre o Evangelho, a fim de que tais informações servissem de estimulantes lições para todos.
– Zaqueu!…
Sobressaltou-se Leão Tolstoi.
“– Mas seria aquele que subiu ao sicômoro, quando o Senhor entrava em Jericó, para vê-lo passar?… Seria aquele em cuja casa Jesus se hospedara? que oferecera ao Mestre um festim, enquanto o reino de Deus era mais uma vez ensinado aos de boa vontade, entre os convivas?… Seria possível, mesmo, que eu me encontrasse em presença de um Espírito que fora “publicano” ao tempo do Senhor, na Judéia; que viesse a conhecer alguém que, por sua vez, houvera conhecido a Jesus Cristo?…”
O Espírito Tolstoi se convenceu de que realmente estava à frente de Zaqueu, aquele que fora publicano ao tempo de Nosso Senhor Jesus Cristo. E percebeu, admirado (porque chegara ao recinto sem exibir credenciais, nem sequer apresentações), que aquela pequena assembléia retratava exemplar modelo de democracia, em tudo por tudo grandiosa em moral e fraternidade. Sentia-se no meio de verdadeiros irmãos espirituais, desprovidos de malícia e de quaisquer espécies de preconceitos. Era uma democracia toda cristã, a mesma que ele idealizava para a Rússia e o mundo, ao tempo em que esteve reencarnado, e que, como homem dedicado à Literatura, já “[…] observava o Mal perseguindo o Bem, a Força dominando o Direito, a Treva sobrepondo-se à Luz”.
O romancista do além-túmulo, felicíssimo por haver sido acolhido pelo grupo como aluno do ex–cobrador de impostos para os romanos, assim retrata a figura do antigo publicano de Jericó: “Olhei-o, àquele a quem haviam chamado Zaqueu. Semblante sereno, bondoso, enternecido, ainda jovem. Olhos cintilantes e perscrutadores, como alimentados por uma resolução invencível. Lábios finos, queixo estirado, com pequena barba negra em ponta, recordando o característico fisionômico dos varões judaicos. Tez alva, sobrancelhas espessas, mãos pequenas, pequena estatura, coifa discreta, listrada em azul forte e branco, manto azul forte, barrado de galões amarelos e borlas na ponta […]”
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.ZAPJP1
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O autor espiritual encerra a descrição: “[…] eis a materialização do homem que teria sido, há dois mil anos, aquele Espírito que assim mesmo se apresentava a seus ouvintes do mundo espiritual, disposto a cativá-los através da ‘regressão da memória’ a essa personalidade remota que tivera sobre a Terra”.
Eis aí, pois, um belo retrato do publicano Zaqueu, com residência e domicílio no mundo dos Espíritos.
O autor de Ressurreição e Vida, prosseguindo em sua narrativa, afirma que o Espírito Zaqueu declarou de viva voz perante a assembléia dos desencarnados, confirmando as informações registradas pelo evangelista Lucas, que, ao deixar a cidade de Jericó e se desligar das funções de cobrador de impostos da alfândega romana, logo após esse acontecimento, cumpriu fielmente a promessa que fizera a Jesus, partilhando todos os seus bens e recursos financeiros; uma parte doou aos pobres, outra parte à sua família, distribuiu as propriedades rurais entre os camponeses mais necessitados e, finalmente, reservou apenas o necessário para o seu sustento, por algum tempo. E como que desejando provar sua fidelidade ao Cristo, acrescentou o ex-publicano: “[…] Fizera-me errante e vagabundo para acompanhar os discípulos e ouvi-los contar às multidões as conversações íntimas que o Senhor entretivera com eles, antes do Calvário e depois da gloriosa ressurreição”
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.RVLT1
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Zaqueu foi ouvir Paulo de Tarso, em Jerusalém. Sensibilizado com a narrativa do Apóstolo sobre o seu encontro com o Cristo, na estrada de Damasco, “[…] daquele dia em diante [afirma] tudo se modificou em minha vida. Nunca mais deixei Paulo, até hoje!”
O ex-publicano de Jericó era culto. Conhecia profundamente as letras e as matemáticas. Dominava bem o hebraico (língua oficial dos judeus), o latim e o grego, além de falar fluentemente os dialetos da Galiléia, da Judéia e da Síria, usados em Jerusalém.
Com toda essa bagagem cultural, que sem dúvida o capacitara a qualquer gênero de atividade intelectual, quando os recursos se tornavam escassos, Zaqueu se apresentava às escolas mantidas pelas Sinagogas, como professor auxiliar dos escribas, ou dava aulas particulares aos filhos dos afortunados rabinos de Jerusalém.
Finalizando, passo a palavra ao Espírito Tolstoi: “Foi esse um dos mestres que encontrei aquém do túmulo. [Refere-se a Zaqueu.] Seus ensinamentos, os exemplos de ternura em favor do próximo, que me deu, revigoraram minhas
forças. Sob seus conselhos amorosos orientei-me, dispondo-me a realizações conciliadoras da consciência”.
Recomendamos a leitura do livro Ressurreição e Vida.
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ZAQUEU E LEÃO TOSTOI NO MUNDO ESPIRITUAL. PELO ESCRITOR ESPÍRITA SEVERINO BARBOSA
Data: 9 ago 2017
Autor: blogdobrunotavares
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Desde que passei a me interessar mais intensamente pelos estudos do Evangelho, percebi que uma das figuras evangélicas admiráveis daqueles velhos tempos do Cristianismo primitivo foi Zaqueu, chefe dos publicanos, o qual prendeu-me singular atenção.
Segundo informações de Lucas, evangelista e discípulo de Paulo de Tarso (19:1-10), depois que Zaqueu recebeu Jesus em seu lar, como hóspede especial, passou a existir entre ambos uma forte e perene amizade. É que o Mestre, ao passar pela cidade de Jericó, acompanhado dos apóstolos, mulheres, homens, crianças e muitos judeus curiosos, para surpresa de todos, dirigiu seu olhar para o alto e, vendo o chefe dos publicanos, disse-lhe estas palavras: “Zaqueu, dá-te pressa em descer, porquanto preciso que me hospedes hoje em tua casa”.
O convite ao publicano foi oportuno. O Mestre estava consciente da grande importância do encontro que, de uma vez por todas, transformaria a vida de Zaqueu. E este, em invejável testemunho de humildade, postou-se ante Jesus e disse-lhe: “Senhor, dou a metade dos meus bens aos pobres; e, se causei dano a alguém, seja no que for, indenizo-o com o quádruplo”.
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JFCZ1
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A proposta do chefe dos publicanos é uma prova inequívoca da força do seu caráter. Demonstrou considerável senso de justiça e desapego dos bens materiais, duas virtudes raríssimas e, quando pronunciadas pelos homens, são mais teóricas do que práticas. Claro que o Mestre conhecia Zaqueu e sabia que ele falava a verdade, tanto que lhe respondeu nestes termos: “Esta casa recebeu hoje a salvação, porque também este é filho de Abraão. Visto que o Filho do Homem veio para procurar e salvar o que estava perdido”.
É interessante consignar, no entanto, que o fato de Jesus se haver hospedado na residência de Zaqueu, embora homem afortunado e bastante influente junto à comunidade de Jericó, mas por outro lado, considerado pelos judeus desprezível pecador, foi interpretado como verdadeiro escândalo pelos fanáticos seguidores do Judaísmo. Isto, porque era ele um publicano, ou seja, funcionário de César com atribuições de cobrar impostos dos judeus para Roma, tributos que eles consideravam extorsivos. Era esse, portanto, o motivo da profunda aversão que os judeus nutriam contra os romanos, desde que o império de César tornou a Palestina mais uma das suas diversas províncias.
Os judeus, maliciosamente, julgavam que Zaqueu havia enriquecido desonestamente. Portanto, sua fortuna era duvidosa. Claro que para eles, se o Mestre se fizera amigo e orientador daquele publicano, certamente eram de índoles semelhantes. Jesus tinha outro conceito sobre Zaqueu. Para o Mestre, no momento em que o chefe dos cobradores de tributos o recebeu em sua casa, ele já estava pronto para assimilar a mensagem da Boa Nova e, assim, iniciar o processo de sua mudança interior, para se libertar da condição de “homem velho” para “homem novo”, na feliz expressão do apóstolo Paulo de Tarso. E de acordo com a simbologia evangélica, o afortunado Zaqueu, naquela oportunidade, era o fruto amadurecido para a compreensão das coisas espirituais, ensinadas por Jesus de Nazaré.
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ZCASA1
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Todavia, que tem a ver este preâmbulo sobre o famoso personagem evangélico com Leão Tolstoi, o genial escritor e romancista russo, da época dos czares?
Tem, sim!… Senão, vejamos.
O Espírito Leão Tolstoi, no capítulo I de seu livro Ressurreição e Vida –, psicografado pela médium Yvonne A. Pereira (edição FEB), conta-nos que em costumeiro passeio pelo mundo invisível sentiu–se atraído para um grupo de Espíritos que constitui a pequena assembléia em forma de círculo, à moda oriental, todos sentados pelo chão e recebendo aulas de um mestre de baixa estatura, que mais parecia um discípulo de Jesus.
Narra o autor de Ressurreição e Vida, em sua linguagem simples e estilo suave, que o ambiente espiritual que rodeava a assembléia de estudantes espirituais era de uma beleza jamais vista por ele, dando a impressão de que o tempo recuara dois milênios, como se todos ali presentes estivessem no seio das vastas planícies de trigo da velha e encantadora Galiléia, por onde peregrinavam Jesus e seus diletos discípulos.
Leão Tolstoi, embevecido pela deslumbrante paisagem espiritual que se desdobrava à sua frente, descreve-a: “A luz da aurora, inalterável, incidia suavemente sobre o grupo e a pradaria em torno, com irradiações de madrepérola esbatendo claros e sombras tão singulares que eu desafio, a todos os artistas que têm passado pela Terra, a reproduzirem em suas telas um só daqueles celestes reflexos que então tive a ventura de contemplar”
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ZAPO
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Tolstoi, empolgado e curioso, ao se aproximar do grupo, atraído por uma estranha força magnética, que não era outra senão a que aproxima os Espíritos afins, escutou uma voz do meio da assembléia solicitar ao mestre, que chamou Zaqueu, falasse de si mesmo, dos tempos apostólicos, das pregações de Jesus sobre o Evangelho, a fim de que tais informações servissem de estimulantes lições para todos.
– Zaqueu!…
Sobressaltou-se Leão Tolstoi.
“– Mas seria aquele que subiu ao sicômoro, quando o Senhor entrava em Jericó, para vê-lo passar?… Seria aquele em cuja casa Jesus se hospedara? que oferecera ao Mestre um festim, enquanto o reino de Deus era mais uma vez ensinado aos de boa vontade, entre os convivas?… Seria possível, mesmo, que eu me encontrasse em presença de um Espírito que fora “publicano” ao tempo do Senhor, na Judéia; que viesse a conhecer alguém que, por sua vez, houvera conhecido a Jesus Cristo?…”
O Espírito Tolstoi se convenceu de que realmente estava à frente de Zaqueu, aquele que fora publicano ao tempo de Nosso Senhor Jesus Cristo. E percebeu, admirado (porque chegara ao recinto sem exibir credenciais, nem sequer apresentações), que aquela pequena assembléia retratava exemplar modelo de democracia, em tudo por tudo grandiosa em moral e fraternidade. Sentia-se no meio de verdadeiros irmãos espirituais, desprovidos de malícia e de quaisquer espécies de preconceitos. Era uma democracia toda cristã, a mesma que ele idealizava para a Rússia e o mundo, ao tempo em que esteve reencarnado, e que, como homem dedicado à Literatura, já “[…] observava o Mal perseguindo o Bem, a Força dominando o Direito, a Treva sobrepondo-se à Luz”.
O romancista do além-túmulo, felicíssimo por haver sido acolhido pelo grupo como aluno do ex–cobrador de impostos para os romanos, assim retrata a figura do antigo publicano de Jericó: “Olhei-o, àquele a quem haviam chamado Zaqueu. Semblante sereno, bondoso, enternecido, ainda jovem. Olhos cintilantes e perscrutadores, como alimentados por uma resolução invencível. Lábios finos, queixo estirado, com pequena barba negra em ponta, recordando o característico fisionômico dos varões judaicos. Tez alva, sobrancelhas espessas, mãos pequenas, pequena estatura, coifa discreta, listrada em azul forte e branco, manto azul forte, barrado de galões amarelos e borlas na ponta […]”
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.ZAPJP1
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O autor espiritual encerra a descrição: “[…] eis a materialização do homem que teria sido, há dois mil anos, aquele Espírito que assim mesmo se apresentava a seus ouvintes do mundo espiritual, disposto a cativá-los através da ‘regressão da memória’ a essa personalidade remota que tivera sobre a Terra”.
Eis aí, pois, um belo retrato do publicano Zaqueu, com residência e domicílio no mundo dos Espíritos.
O autor de Ressurreição e Vida, prosseguindo em sua narrativa, afirma que o Espírito Zaqueu declarou de viva voz perante a assembléia dos desencarnados, confirmando as informações registradas pelo evangelista Lucas, que, ao deixar a cidade de Jericó e se desligar das funções de cobrador de impostos da alfândega romana, logo após esse acontecimento, cumpriu fielmente a promessa que fizera a Jesus, partilhando todos os seus bens e recursos financeiros; uma parte doou aos pobres, outra parte à sua família, distribuiu as propriedades rurais entre os camponeses mais necessitados e, finalmente, reservou apenas o necessário para o seu sustento, por algum tempo. E como que desejando provar sua fidelidade ao Cristo, acrescentou o ex-publicano: “[…] Fizera-me errante e vagabundo para acompanhar os discípulos e ouvi-los contar às multidões as conversações íntimas que o Senhor entretivera com eles, antes do Calvário e depois da gloriosa ressurreição”
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.RVLT1
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Zaqueu foi ouvir Paulo de Tarso, em Jerusalém. Sensibilizado com a narrativa do Apóstolo sobre o seu encontro com o Cristo, na estrada de Damasco, “[…] daquele dia em diante [afirma] tudo se modificou em minha vida. Nunca mais deixei Paulo, até hoje!”
O ex-publicano de Jericó era culto. Conhecia profundamente as letras e as matemáticas. Dominava bem o hebraico (língua oficial dos judeus), o latim e o grego, além de falar fluentemente os dialetos da Galiléia, da Judéia e da Síria, usados em Jerusalém.
Com toda essa bagagem cultural, que sem dúvida o capacitara a qualquer gênero de atividade intelectual, quando os recursos se tornavam escassos, Zaqueu se apresentava às escolas mantidas pelas Sinagogas, como professor auxiliar dos escribas, ou dava aulas particulares aos filhos dos afortunados rabinos de Jerusalém.
Finalizando, passo a palavra ao Espírito Tolstoi: “Foi esse um dos mestres que encontrei aquém do túmulo. [Refere-se a Zaqueu.] Seus ensinamentos, os exemplos de ternura em favor do próximo, que me deu, revigoraram minhas
forças. Sob seus conselhos amorosos orientei-me, dispondo-me a realizações conciliadoras da consciência”.
Recomendamos a leitura do livro Ressurreição e Vida.
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Jesus em casa de Zaqueu
EESE098b - Cap. XVI - Item 4
Tema: Jesus em casa de Zaqueu
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A - Texto de Apoio:
Tendo Jesus entrado em Jericó, passava pela cidade - e havia ali um homem chamado Zaqueu, chefe dos publicanos e muito rico, - o qual, desejoso de ver a Jesus, para conhecê-lo, não o conseguia devido à multidão, por ser ele de estatura muito baixa.
- Por isso, correu á frente da turba e subiu a um sicômoro, para o ver, porquanto ele tinha de passar por ali. - Chegando a esse lugar, Jesus dirigiu para o alto o olhar e, vendo-o, disse-lhe: Zaqueu, dá-te pressa em descer, porquanto preciso que me hospedes hoje em tua casa. - Zaqueu desceu imediatamente e o recebeu jubiloso. Vendo isso, todos murmuravam, a dizer: Ele foi hospedar-se em casa de um homem de má vida. (Veja-se: "Introdução", artigo - Publicanos.)
Entretanto, Zaqueu, pondo-se diante do Senhor, lhe disse: Senhor, dou a metade dos meus bens aos pobres e, se causei dano a alguém, seja no que for, indenizo-o com quatro tantos. Ao que Jesus lhe disse: Esta casa recebeu hoje a salvação, porque também este é filho de Abraão; visto que o Filho do Homem veio para procurar e salvar o que estava perdido. (S. LUCAS, cap. XIX, vv. 1 a 10.)
B - Questões para estudo e diálogo virtual:
1 - Como podemos interpretar a excessiva curiosidade de Zaqueu, por ver Jesus?
2 - Por que as pessoas que presenciaram o fato criticaram a decisão de Jesus, de hospedar-se em casa de Zaqueu?
3 - O que mudou na vida de Zaqueu, a partir do seu encontro com o Mestre?
4 - Qual o sentido da palavra "salvação", usada por Jesus?
Jesus em casa de Zaqueu - Conclusão Voltar ao estudo
Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo
Sala Virtual Evangelho
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EESE098b - Cap. XVI - Item 4
Tema: Jesus em casa de Zaqueu
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A - Conclusão do Estudo:
A riqueza tanto pode ser motivo de atraso - quando seu detentor a utiliza apenas em proveito próprio -, como ocasião de progresso espiritual - quando é colocada a serviço do próximo.
B - Questões para estudo e diálogo virtual:
1 - Como podemos interpretar a excessiva curiosidade de Zaqueu, por ver Jesus?
Sabendo da natureza dos ensinamentos de Jesus - baseado na justiça e na caridade - Zaqueu, afligia-se, por reconhecer o mau uso que fazia de sua vida e de sua riqueza; e, desejoso de dar a ambas um novo sentido, buscava encontrar o Mestre.
A consciência de Zaqueu o acusava do mau uso da riqueza, e ele buscava em Jesus a força para redimir-se.
A riqueza é a mais difícil das provas, porque favorece o desenvolvimento das paixões e bloqueia o sentimento da fraternidade, entravando o progresso das criaturas.
2 - Por que as pessoas que presenciaram o fato criticaram a decisão de Jesus, de hospedar-se em casa de Zaqueu?
Porque Zaqueu, sendo um publicano, era considerado pelos judeus como pessoa de má vida, indigno, portanto, de receber a visita do Mestre.
Jesus buscava a companhia dos errados, para auxiliá-los no caminho da própria salvação.
"(...) O Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido."
3 - O que mudou na vida de Zaqueu, a partir do seu encontro com o Mestre?
O destino que ele passou a dar a sua própria vida, pois antes cuidava apenas dos próprios interesses e de acumular bens, passando depois a reparar as faltas cometidas e a dividir sua riqueza com os necessitados.
Quando alguém se encontra com o Mestre e lhe abre o coração aos sentimentos, não pode mais viver como vivia antes, mas torna-se um novo homem, no amor e na caridade.
4 - Qual o sentido da palavra "salvação", usada por Jesus?
Jesus referia-se ao esclarecimento que lograra alcançar o espírito de Zaqueu e à caminhada que iniciava em direção ao Reino de Deus, através do auxílio ao próximo.
"Esta casa recebeu hoje a salvação porque também este é filho de Abraão."
Tema: Jesus em casa de Zaqueu
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A - Texto de Apoio:
Tendo Jesus entrado em Jericó, passava pela cidade - e havia ali um homem chamado Zaqueu, chefe dos publicanos e muito rico, - o qual, desejoso de ver a Jesus, para conhecê-lo, não o conseguia devido à multidão, por ser ele de estatura muito baixa.
- Por isso, correu á frente da turba e subiu a um sicômoro, para o ver, porquanto ele tinha de passar por ali. - Chegando a esse lugar, Jesus dirigiu para o alto o olhar e, vendo-o, disse-lhe: Zaqueu, dá-te pressa em descer, porquanto preciso que me hospedes hoje em tua casa. - Zaqueu desceu imediatamente e o recebeu jubiloso. Vendo isso, todos murmuravam, a dizer: Ele foi hospedar-se em casa de um homem de má vida. (Veja-se: "Introdução", artigo - Publicanos.)
Entretanto, Zaqueu, pondo-se diante do Senhor, lhe disse: Senhor, dou a metade dos meus bens aos pobres e, se causei dano a alguém, seja no que for, indenizo-o com quatro tantos. Ao que Jesus lhe disse: Esta casa recebeu hoje a salvação, porque também este é filho de Abraão; visto que o Filho do Homem veio para procurar e salvar o que estava perdido. (S. LUCAS, cap. XIX, vv. 1 a 10.)
B - Questões para estudo e diálogo virtual:
1 - Como podemos interpretar a excessiva curiosidade de Zaqueu, por ver Jesus?
2 - Por que as pessoas que presenciaram o fato criticaram a decisão de Jesus, de hospedar-se em casa de Zaqueu?
3 - O que mudou na vida de Zaqueu, a partir do seu encontro com o Mestre?
4 - Qual o sentido da palavra "salvação", usada por Jesus?
Jesus em casa de Zaqueu - Conclusão Voltar ao estudo
Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo
Sala Virtual Evangelho
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EESE098b - Cap. XVI - Item 4
Tema: Jesus em casa de Zaqueu
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A - Conclusão do Estudo:
A riqueza tanto pode ser motivo de atraso - quando seu detentor a utiliza apenas em proveito próprio -, como ocasião de progresso espiritual - quando é colocada a serviço do próximo.
B - Questões para estudo e diálogo virtual:
1 - Como podemos interpretar a excessiva curiosidade de Zaqueu, por ver Jesus?
Sabendo da natureza dos ensinamentos de Jesus - baseado na justiça e na caridade - Zaqueu, afligia-se, por reconhecer o mau uso que fazia de sua vida e de sua riqueza; e, desejoso de dar a ambas um novo sentido, buscava encontrar o Mestre.
A consciência de Zaqueu o acusava do mau uso da riqueza, e ele buscava em Jesus a força para redimir-se.
A riqueza é a mais difícil das provas, porque favorece o desenvolvimento das paixões e bloqueia o sentimento da fraternidade, entravando o progresso das criaturas.
2 - Por que as pessoas que presenciaram o fato criticaram a decisão de Jesus, de hospedar-se em casa de Zaqueu?
Porque Zaqueu, sendo um publicano, era considerado pelos judeus como pessoa de má vida, indigno, portanto, de receber a visita do Mestre.
Jesus buscava a companhia dos errados, para auxiliá-los no caminho da própria salvação.
"(...) O Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido."
3 - O que mudou na vida de Zaqueu, a partir do seu encontro com o Mestre?
O destino que ele passou a dar a sua própria vida, pois antes cuidava apenas dos próprios interesses e de acumular bens, passando depois a reparar as faltas cometidas e a dividir sua riqueza com os necessitados.
Quando alguém se encontra com o Mestre e lhe abre o coração aos sentimentos, não pode mais viver como vivia antes, mas torna-se um novo homem, no amor e na caridade.
4 - Qual o sentido da palavra "salvação", usada por Jesus?
Jesus referia-se ao esclarecimento que lograra alcançar o espírito de Zaqueu e à caminhada que iniciava em direção ao Reino de Deus, através do auxílio ao próximo.
"Esta casa recebeu hoje a salvação porque também este é filho de Abraão."
Entrevistando Zaqueu
Entrevistando Zaqueu
León Tolstoi é o autor de Ressurreição e Vida, de Yvonne A. Pereira, que traz as informações contidas na entrevista com Zaqueu. Confira:
***
- Zaqueu, você poderia nos recordar seu encontro com Jesus, em Jericó, onde você residia?
ZAQUEU: A bondade do Mestre Galileu, honrando-me com uma visita e uma refeição em minha casa, eu, um renegado pela sociedade porque um "publicano", tocou-me para sempre o coração, conforme sabeis... Ele com- preendeu as minhas necessidades morais de estímulo para o Bem, o meu aflitivo desejo de ser bom. Penetrou, com sua solicitude inesquecível, os mais remotos escaninhos do meu ser moral; contornou, com seu amor de Arcanjo, todas as aspirações do meu Espírito, filho de Deus, que sofria por algo sublime que lhe aclarasse as ações... E conquistou-me, assim, por toda a consumação dos séculos.
- Narra o Evangelho que no dia da crucifixão de Jesus os apóstolos os abandonaram. Você estava lá naquelas horas de sofrimento?
ZAQUEU: Muito sofri e chorei quando esse Mestre foi levantado no suplício da cruz. Não, eu não o abandonei jamais, desde aquele dia em que passou por Jericó! Segui-o. E o pouco que ainda viveu depois disso teve-me em suas pegadas para ouvi-lo e admirá-lo. Eu não me ocultei das autoridades receando censuras ou prisão, nem tive preconceitos, e tampouco me importunou a vigilância dos tiranos de Roma ou o despeito dos asseclas do Templo de Jerusalém. Achava-me bem visível entre o povo, transitando pelas ruas, embora ignorado, humilhado pela minha condição de funcionário romano... E assisti aos estertores da agonia sublime naquela tarde do 14 de Nisan.
- Como foram aqueles momentos sublimes da reaparição do Cristo, após o terceiro dia de sua morte?
ZAQUEU: Soube, é certo, da ressurreição que a todos revigorou de esperanças... Mas não logrei tornar a ver e ouvir o Mestre, não fui bastante merecedor dessa ventura imensa... Ele só se apresentou, depois da ressurreição, aos discípulos – homens e mulheres – e aos apóstolos.
- O que você fez depois?
ZAQUEU: Inconsolável por sua ausência e sentindo em mim um vazio aterrador, meu recurso para não desesperar ante a saudade e o pesar pelo desaparecimento desse Amigo incomparável foi insinuar-me entre seus discípulos, a fim de ouvir falarem dele...
Fui a Betânia, quantas vezes?... e tentei tornar-me assíduo da granja de Lázaro, de tão gratas recordações... Mas tudo ali estava tão mudado e tão triste, depois do 14 de Nisan... Visitei Pedro, esperando consolar a minha grande dor ouvindo-o dissertar sobre Aquele que se fora do alto do Calvário, com a eloqüência com que sempre soube arrebatar as multidões.
León Tolstoi
Perlustrei, choroso e desarvorado, as praias de Cafarnaum e de Genesaré, sem saber o que tentar em meu próprio socorro, mas esperançado de que os irmãos Boanerges, filhos de Zebedeu, me compreendessem e adotassem para discípulo do seu bando, como eu via que acontecia a tantos outros... Mas nenhum deles sequer prestava atenção em minha insignificante pessoa... Não me olhavam, não me viam, e eu temia importuná-los dirigindo-lhes a palavra... Eram tantos os pretendentes ao aprendizado do Amor, ao redor deles! Eles tinham tantas preocupações, preparando-se, chocados, para o heróico apostolado!... E como eu era "publicano", um malvisto cobrador de impostos da alfândega romana, convenci-me, erroneamente, de que era por isso que não me recebiam.
Recolhi-me então à minha mágoa imensa, sem todavia deixar de seguir, discretamente, os apóstolos, orando para que não tardasse o socorro a vir fortalecer a fé e a esperança que eu depositava naquele reino de Deus que havia de vir. Recolhi-me, mas não desanimei.
- Zaqueu, você cumpriu a promessa que fez a Jesus de que dividiria seus bens com os pobres, quando ele esteve em sua casa?
ZAQUEU: Eu deixei Jericó, desliguei-me das funções aduaneiras, dei parte dos meus bens aos pobres, com a outra parte, provi recursos para minha família, distribuí minhas terras entre os camponeses mais necessitados, reservando o estritamente necessário à minha manutenção pelos primeiros tempos. Fiz-me errante e vagabundo para acompanhar os discípulos e ouvi-los contar às multidões as conversações intimas que o Senhor entretivera com eles, antes do Calvário e depois da gloriosa ressurreição.
- O dinheiro não acabou?
ZAQUEU: Como eu conhecesse bem as letras e as matemáticas, falando mesmo o grego, tão usado em Jerusalém, e também o latim, igualmente usado graças à influência romana, à parte os nossos dialetos da Síria, da Galiléia e da Judéia, se me escasseavam recursos apresentava-me às escolas mantidas pelas Sinagogas. Empregava-me ali como adjunto dos escribas, para as lições aos jovens, ou então nas casas particulares ricas, como professor, e assim ganhava meu sustento. Mas se não houvesse lições a transmitir era certo que nunca faltariam madeiras a serrar, aqui ou ali; águas a carregar, a fim de saciar a sede das famílias; paredes a reparar nas casas dos romanos, os quais, se eram agressivos no trato pessoal com o povo hebreu, sabiam, no entanto, remunerar com justiça aqueles que os serviam, desde que não se tratasse de escravos.
- Mas, enfim, você conseguiu ou não aproximar-se de algum dos apóstolos de Jesus?
ZAQUEU: Um dia – foi em Jerusalém – correra a nova sensacional de que certo jovem fariseu, responsável pelo apedrejamento e morte do nosso querido Estêvão, a quem o Espírito do Senhor inspirava com tantas glórias, acabara por se converter à Causa, porque o Senhor lhe aparecera em ressurreição triunfante, exatamente quando ele entrava na cidade de Damasco, para onde se dirigia tencionando prender os nossos "santos" - os primeiros cristãos assim de denominavam uns aos outros - domiciliados naquela localidade. Aparecera-lhe o Senhor e convidara-o diretamente para o seu ministério, como o fizera aos outros doze, antes de sua paixão e morte. E que, agora, já inteiramente submisso aos desejos do Mestre Nazareno, com tremendas responsabilidades pesando-lhe nos ombros, conferidas pelo mesmo Mestre, pela primeira vez ia falar à assembléia dos discípulos, em Jerusalém.
- Você foi ouvi-lo?
ZAQUEU: Fui ouvi-lo. Esse fariseu era Saulo (Saul), o de Tarso, "que é também chamado Paulo". Contou ele, à assembléia silenciosa e atenta, o seu colóquio com o Nazareno, à entrada de Damasco, e logo conquistou o coração de muitos que se achavam presentes. Foi de pé (alguns se ajoelharam) que ouvimos os pormenores da aparição do Senhor a Paulo. Muitos choraram, eu inclusive, e também Paulo.
- Você procurou Paulo para conversar?
ZAQUEU: Nunca mais deixei Paulo, até hoje! Procurei-o então, em Jerusalém. Fui recebido com afeto e bondade. Fiz-lhe a minha confissão, o que não tivera coragem de fazer aos demais discípulos. Narrei-lhe os meus sofrimentos íntimos por Jesus. Quisera servi-lo, a ele, Jesus. Sinceramente o queria! Mas não sabia como iniciar nem o que fazer. Paulo ouviu-me com solicitude digna daquele mesmo Mestre que o admoestara em Damasco. E aconselhou-me, e guiou-me!
- Você poderia nos dizer o que Paulo lhe disse?
ZAQUEU: Ele deu-me incumbências: - " Não te limites à adoração inativa, que poderá cristalizar-se em fanatismo. A Doutrina de Jesus é afanosa por excelência... E ela precisa de servos trabalhadores, enérgicos, ágeis para mil e uma peripécias, de boa-vontade para a propagação da Verdade que nos trouxe...Tu, que possuis noções da prática da beneficência, testemunha o teu amor por ele, servindo também aos teus irmãos que sofrem ou erram, pois tal é o segredo da boa prática da nova Doutrina. Nenhum de nós será tão pobre que não possa favorecer o próximo com algo que possua para distribuir: o pão, o lume, o agasalho, o bom conselho, a advertência solidária, a assistência moral no infortúnio, o ensinamento do Bem, a lição ao ignorante, a visita ao enfermo, o consolo ao encarcerado, a esperança ao triste, o trabalho ao necessitado de ganhar o próprio sustento honrosamente, a proteção ao órfão, o seu próprio coração amigo e irmão em Cristo, a prece rogando aos Céus bênçãos que aclarem os caminhos dos peregrinos da vida, o perdão àqueles que nos ferem e nos querem mal..."
- Caro amigo, depois que enfim você se tornou um dos discípulos ativos de Jesus, você pôde viver aquelas experiências, que nos mostram os evangelhos, de curar enfermos, afastar espíritos...?
ZAQUEU: Se não curei leprosos, estanquei a aflição de muitas lágrimas com exposições em torno do Mestre. Se não levantei paralíticos, pelo menos ergui a coragem da fé em muitos corações desanimados ante a incúria pelas coisas santas. Se não expulsei demônios, é certo que alijei o ateísmo, recuperando almas para o dever com Deus. E se não ressuscitei mortos, renovei esperanças na alma de muitas matronas desgostosas com a indiferença dos próprios filhos na prática do Bem, revigorei a decisão de muitos pecadores que temiam procurar o bom caminho, porque envergonhados de se apresentarem a Deus, pela oração, a fim de se renovarem para jornadas reabilitadoras.
- E como tudo isso repercutiu em sua própria evolução?
ZAQUEU: Minha alma se alegrava em Cristo, dilatavam-se os meus propósitos de progresso. Eu sentia que, de dia para dia, quando orava, mais incidiam sobre mim forças e novas bênçãos para mais se desdobrarem em operações objetivas, que tendiam a me fazer comungar com a vontade daquele Unigênito dos Céus, que um dia penetrou os umbrais pecaminosos de minha casa para me levar a salvação. E encontrei, então, dentro de mim próprio, aquele Reino de Deus que ele anunciara... Encontrei-o na paz do dever cumprido, que me embalava o coração...
León Tolstoi é o autor de Ressurreição e Vida, de Yvonne A. Pereira, que traz as informações contidas na entrevista com Zaqueu. Confira:
***
- Zaqueu, você poderia nos recordar seu encontro com Jesus, em Jericó, onde você residia?
ZAQUEU: A bondade do Mestre Galileu, honrando-me com uma visita e uma refeição em minha casa, eu, um renegado pela sociedade porque um "publicano", tocou-me para sempre o coração, conforme sabeis... Ele com- preendeu as minhas necessidades morais de estímulo para o Bem, o meu aflitivo desejo de ser bom. Penetrou, com sua solicitude inesquecível, os mais remotos escaninhos do meu ser moral; contornou, com seu amor de Arcanjo, todas as aspirações do meu Espírito, filho de Deus, que sofria por algo sublime que lhe aclarasse as ações... E conquistou-me, assim, por toda a consumação dos séculos.
- Narra o Evangelho que no dia da crucifixão de Jesus os apóstolos os abandonaram. Você estava lá naquelas horas de sofrimento?
ZAQUEU: Muito sofri e chorei quando esse Mestre foi levantado no suplício da cruz. Não, eu não o abandonei jamais, desde aquele dia em que passou por Jericó! Segui-o. E o pouco que ainda viveu depois disso teve-me em suas pegadas para ouvi-lo e admirá-lo. Eu não me ocultei das autoridades receando censuras ou prisão, nem tive preconceitos, e tampouco me importunou a vigilância dos tiranos de Roma ou o despeito dos asseclas do Templo de Jerusalém. Achava-me bem visível entre o povo, transitando pelas ruas, embora ignorado, humilhado pela minha condição de funcionário romano... E assisti aos estertores da agonia sublime naquela tarde do 14 de Nisan.
- Como foram aqueles momentos sublimes da reaparição do Cristo, após o terceiro dia de sua morte?
ZAQUEU: Soube, é certo, da ressurreição que a todos revigorou de esperanças... Mas não logrei tornar a ver e ouvir o Mestre, não fui bastante merecedor dessa ventura imensa... Ele só se apresentou, depois da ressurreição, aos discípulos – homens e mulheres – e aos apóstolos.
- O que você fez depois?
ZAQUEU: Inconsolável por sua ausência e sentindo em mim um vazio aterrador, meu recurso para não desesperar ante a saudade e o pesar pelo desaparecimento desse Amigo incomparável foi insinuar-me entre seus discípulos, a fim de ouvir falarem dele...
Fui a Betânia, quantas vezes?... e tentei tornar-me assíduo da granja de Lázaro, de tão gratas recordações... Mas tudo ali estava tão mudado e tão triste, depois do 14 de Nisan... Visitei Pedro, esperando consolar a minha grande dor ouvindo-o dissertar sobre Aquele que se fora do alto do Calvário, com a eloqüência com que sempre soube arrebatar as multidões.
León Tolstoi
Perlustrei, choroso e desarvorado, as praias de Cafarnaum e de Genesaré, sem saber o que tentar em meu próprio socorro, mas esperançado de que os irmãos Boanerges, filhos de Zebedeu, me compreendessem e adotassem para discípulo do seu bando, como eu via que acontecia a tantos outros... Mas nenhum deles sequer prestava atenção em minha insignificante pessoa... Não me olhavam, não me viam, e eu temia importuná-los dirigindo-lhes a palavra... Eram tantos os pretendentes ao aprendizado do Amor, ao redor deles! Eles tinham tantas preocupações, preparando-se, chocados, para o heróico apostolado!... E como eu era "publicano", um malvisto cobrador de impostos da alfândega romana, convenci-me, erroneamente, de que era por isso que não me recebiam.
Recolhi-me então à minha mágoa imensa, sem todavia deixar de seguir, discretamente, os apóstolos, orando para que não tardasse o socorro a vir fortalecer a fé e a esperança que eu depositava naquele reino de Deus que havia de vir. Recolhi-me, mas não desanimei.
- Zaqueu, você cumpriu a promessa que fez a Jesus de que dividiria seus bens com os pobres, quando ele esteve em sua casa?
ZAQUEU: Eu deixei Jericó, desliguei-me das funções aduaneiras, dei parte dos meus bens aos pobres, com a outra parte, provi recursos para minha família, distribuí minhas terras entre os camponeses mais necessitados, reservando o estritamente necessário à minha manutenção pelos primeiros tempos. Fiz-me errante e vagabundo para acompanhar os discípulos e ouvi-los contar às multidões as conversações intimas que o Senhor entretivera com eles, antes do Calvário e depois da gloriosa ressurreição.
- O dinheiro não acabou?
ZAQUEU: Como eu conhecesse bem as letras e as matemáticas, falando mesmo o grego, tão usado em Jerusalém, e também o latim, igualmente usado graças à influência romana, à parte os nossos dialetos da Síria, da Galiléia e da Judéia, se me escasseavam recursos apresentava-me às escolas mantidas pelas Sinagogas. Empregava-me ali como adjunto dos escribas, para as lições aos jovens, ou então nas casas particulares ricas, como professor, e assim ganhava meu sustento. Mas se não houvesse lições a transmitir era certo que nunca faltariam madeiras a serrar, aqui ou ali; águas a carregar, a fim de saciar a sede das famílias; paredes a reparar nas casas dos romanos, os quais, se eram agressivos no trato pessoal com o povo hebreu, sabiam, no entanto, remunerar com justiça aqueles que os serviam, desde que não se tratasse de escravos.
- Mas, enfim, você conseguiu ou não aproximar-se de algum dos apóstolos de Jesus?
ZAQUEU: Um dia – foi em Jerusalém – correra a nova sensacional de que certo jovem fariseu, responsável pelo apedrejamento e morte do nosso querido Estêvão, a quem o Espírito do Senhor inspirava com tantas glórias, acabara por se converter à Causa, porque o Senhor lhe aparecera em ressurreição triunfante, exatamente quando ele entrava na cidade de Damasco, para onde se dirigia tencionando prender os nossos "santos" - os primeiros cristãos assim de denominavam uns aos outros - domiciliados naquela localidade. Aparecera-lhe o Senhor e convidara-o diretamente para o seu ministério, como o fizera aos outros doze, antes de sua paixão e morte. E que, agora, já inteiramente submisso aos desejos do Mestre Nazareno, com tremendas responsabilidades pesando-lhe nos ombros, conferidas pelo mesmo Mestre, pela primeira vez ia falar à assembléia dos discípulos, em Jerusalém.
- Você foi ouvi-lo?
ZAQUEU: Fui ouvi-lo. Esse fariseu era Saulo (Saul), o de Tarso, "que é também chamado Paulo". Contou ele, à assembléia silenciosa e atenta, o seu colóquio com o Nazareno, à entrada de Damasco, e logo conquistou o coração de muitos que se achavam presentes. Foi de pé (alguns se ajoelharam) que ouvimos os pormenores da aparição do Senhor a Paulo. Muitos choraram, eu inclusive, e também Paulo.
- Você procurou Paulo para conversar?
ZAQUEU: Nunca mais deixei Paulo, até hoje! Procurei-o então, em Jerusalém. Fui recebido com afeto e bondade. Fiz-lhe a minha confissão, o que não tivera coragem de fazer aos demais discípulos. Narrei-lhe os meus sofrimentos íntimos por Jesus. Quisera servi-lo, a ele, Jesus. Sinceramente o queria! Mas não sabia como iniciar nem o que fazer. Paulo ouviu-me com solicitude digna daquele mesmo Mestre que o admoestara em Damasco. E aconselhou-me, e guiou-me!
- Você poderia nos dizer o que Paulo lhe disse?
ZAQUEU: Ele deu-me incumbências: - " Não te limites à adoração inativa, que poderá cristalizar-se em fanatismo. A Doutrina de Jesus é afanosa por excelência... E ela precisa de servos trabalhadores, enérgicos, ágeis para mil e uma peripécias, de boa-vontade para a propagação da Verdade que nos trouxe...Tu, que possuis noções da prática da beneficência, testemunha o teu amor por ele, servindo também aos teus irmãos que sofrem ou erram, pois tal é o segredo da boa prática da nova Doutrina. Nenhum de nós será tão pobre que não possa favorecer o próximo com algo que possua para distribuir: o pão, o lume, o agasalho, o bom conselho, a advertência solidária, a assistência moral no infortúnio, o ensinamento do Bem, a lição ao ignorante, a visita ao enfermo, o consolo ao encarcerado, a esperança ao triste, o trabalho ao necessitado de ganhar o próprio sustento honrosamente, a proteção ao órfão, o seu próprio coração amigo e irmão em Cristo, a prece rogando aos Céus bênçãos que aclarem os caminhos dos peregrinos da vida, o perdão àqueles que nos ferem e nos querem mal..."
- Caro amigo, depois que enfim você se tornou um dos discípulos ativos de Jesus, você pôde viver aquelas experiências, que nos mostram os evangelhos, de curar enfermos, afastar espíritos...?
ZAQUEU: Se não curei leprosos, estanquei a aflição de muitas lágrimas com exposições em torno do Mestre. Se não levantei paralíticos, pelo menos ergui a coragem da fé em muitos corações desanimados ante a incúria pelas coisas santas. Se não expulsei demônios, é certo que alijei o ateísmo, recuperando almas para o dever com Deus. E se não ressuscitei mortos, renovei esperanças na alma de muitas matronas desgostosas com a indiferença dos próprios filhos na prática do Bem, revigorei a decisão de muitos pecadores que temiam procurar o bom caminho, porque envergonhados de se apresentarem a Deus, pela oração, a fim de se renovarem para jornadas reabilitadoras.
- E como tudo isso repercutiu em sua própria evolução?
ZAQUEU: Minha alma se alegrava em Cristo, dilatavam-se os meus propósitos de progresso. Eu sentia que, de dia para dia, quando orava, mais incidiam sobre mim forças e novas bênçãos para mais se desdobrarem em operações objetivas, que tendiam a me fazer comungar com a vontade daquele Unigênito dos Céus, que um dia penetrou os umbrais pecaminosos de minha casa para me levar a salvação. E encontrei, então, dentro de mim próprio, aquele Reino de Deus que ele anunciara... Encontrei-o na paz do dever cumprido, que me embalava o coração...
Zaqueu e o encontro com o Mestre
Zaqueu e o encontro com o Mestre
Na antiga Roma, eram chamados publicanos os cavalheiros arrendatários das taxas públicas, incumbidos da cobrança dos impostos e das rendas de toda espécie, quer em Roma mesma, quer nas outras partes do Império.
Os riscos a que estavam sujeitos faziam que os olhos se fechassem para as riquezas que muitas vezes adquiriam e que, da parte de alguns, eram frutos de exações e de lucros escandalosos.
O nome se estendeu mais tarde a todos os que supervisionavam os dinheiros públicos e aos agentes subalternos. Até hoje esse termo se emprega em sentido pejorativo, para designar os financistas e os agentes pouco escrupulosos de negócios, como por ex.: “Ávido como um publicano, rico como um publicano”.
Zaqueu, embora fosse um judeu muito rico, era uma pessoa mal vista por ser um publicano, um cobrador de impostos e, ainda por cima, para os opressores: os romanos.
Mas Zaqueu estava preocupado com a vida que levava, que sabia ser contrária à lei de Deus e às leis de Moisés, e já estava propício a fazer sua reforma interior. Essa era a razão de sua tentativa desesperada de falar a Jesus, subindo a uma árvore para ser visto pelo Mestre.
Zaqueu demonstrou ter entendido a mensagem de Jesus, no momento em que se dispôs a distribuir metade de sua riqueza aos pobres e de restituir o quádruplo às pessoas que havia espoliado, ou seja, explorado.
Logo, quando Jesus profere a frase: Zaqueu, a salvação hoje entrou em tua casa, precisamos entender o significado da palavra salvação no contexto que, no caso, é sinônimo de transformação interior, que só pode ser resultado do esforço de cada um.
Jesus, ao informar que se hospedaria na casa de Zaqueu naquele dia, demonstrou também não ter preconceito, confirmando que tinha vindo para os pequeninos, aqueles que estavam dispostos a ouvir a sua mensagem, fossem eles quem fossem, ainda que publicanos.
Anne Marie Lanatois
Na antiga Roma, eram chamados publicanos os cavalheiros arrendatários das taxas públicas, incumbidos da cobrança dos impostos e das rendas de toda espécie, quer em Roma mesma, quer nas outras partes do Império.
Os riscos a que estavam sujeitos faziam que os olhos se fechassem para as riquezas que muitas vezes adquiriam e que, da parte de alguns, eram frutos de exações e de lucros escandalosos.
O nome se estendeu mais tarde a todos os que supervisionavam os dinheiros públicos e aos agentes subalternos. Até hoje esse termo se emprega em sentido pejorativo, para designar os financistas e os agentes pouco escrupulosos de negócios, como por ex.: “Ávido como um publicano, rico como um publicano”.
Zaqueu, embora fosse um judeu muito rico, era uma pessoa mal vista por ser um publicano, um cobrador de impostos e, ainda por cima, para os opressores: os romanos.
Mas Zaqueu estava preocupado com a vida que levava, que sabia ser contrária à lei de Deus e às leis de Moisés, e já estava propício a fazer sua reforma interior. Essa era a razão de sua tentativa desesperada de falar a Jesus, subindo a uma árvore para ser visto pelo Mestre.
Zaqueu demonstrou ter entendido a mensagem de Jesus, no momento em que se dispôs a distribuir metade de sua riqueza aos pobres e de restituir o quádruplo às pessoas que havia espoliado, ou seja, explorado.
Logo, quando Jesus profere a frase: Zaqueu, a salvação hoje entrou em tua casa, precisamos entender o significado da palavra salvação no contexto que, no caso, é sinônimo de transformação interior, que só pode ser resultado do esforço de cada um.
Jesus, ao informar que se hospedaria na casa de Zaqueu naquele dia, demonstrou também não ter preconceito, confirmando que tinha vindo para os pequeninos, aqueles que estavam dispostos a ouvir a sua mensagem, fossem eles quem fossem, ainda que publicanos.
Anne Marie Lanatois
O Chefe dos Publicanos
José Carlos Leal
Meu nome é Zaqueu e sou chefe dos publicanos. Pra ser franco, sou um rico arrendatário de impostos. Vivo em Jericó onde a minha prosperidade tem despertado a inveja de muitos. Eu, porém, não me considero uma pessoa má, não sou perfeito em coisa alguma, porém, não sou um canalha, um traidor de meu povo como dizem muitas pessoas. O Senhor que conhece a nós todos no fundo de nossa alma sabe que estou dizendo a verdade. Sei que os fariseus me tratam como se eu fosse um colaboracionista dos romanos, os fariseus invejam a minha fortuna pessoal e se juntam aos fariseus na sua agressividade contra mim. De certo modo, sou tratado como um habitante do vales dos impuros e isso a cada vez tem sido uma carga difícil de ser carregada por mim. A gente, com o tempo, se cansa de ser humilhado, de viver sob o risinho de mofa dos passantes e agüentar a ironia dos judeus puritanos.
Foi no mês de Nissan que, pela primeira vez, tive a notícia de um certo Rabi que vinha pregando o arrependimento e a salvação. Quem me falou foi um empregado meu chamado Joab. Eu fiquei interessado e lhe perguntei:
- Juba, o sujeito de quem você me fala, não é um que batiza as pessoas no Jordão e que chama a si mesmo de A Voz que clama no deserto? Alguns fariseus afirmam que ele é louco e outros dizem que é um grande profeta. Acho que se chama João.
- Não, senhor, é outro.
- Outro. E se chama Jesus e é Galileu.
- Galileu! Você acha que algum Galileu pode ser mestre em Israel?
- Se poderia ou não, eu não sei. O que eu sei é que ele faz muitas coisas que tem causado admiração a todos que as viram. Para provar o que eu digo, basta ver a grande multidão que o acompanha.
- E o que ele prega?
- Muitas coisas, mas a principal destas é a vinda do Reino dos Céus.
- É interessante.
- Ele diz uma coisa mais interessante ainda.
- O quê?
- Ele diz que o Reino dos Céus não pertence aos soberbos e arrogantes, mas aos pobrezinhos, aos pecadores e até mesmo os ladrões e as prostitutas.
Aquelas palavras calaram fundo dentro de mim. Aquela pregação me interessava porque os fariseus e saduceus estavam me fazendo sentir como excluído da graça divina, e, agora, vinha aquele Rabi dizer que os pecadores como eu, teriam a sua parte no Reino de Deus. Que coisa maravilhosa! Desde aquele dia passei a me interessar por aquele homem. A todas as pessoas que vinham de Cafarnaum e que tivessem ouvido uma pregação dele, eu pedia que me contasse o que ele havia dito. Eles me contavam e eu ficava enlevado com aquelas palavras que, como um bálsamo, diminuíam as dores das minhas feridas interiores. Então eu, Zaqueu, o chefe dos publicanos, um homem de má fome, humilhado por todos, tinha a possibilidade de entrar no reino. Aquela era a mensagem mais bela que jamais havia ouvido.Certa manhã, Joab me procurou e com um sorriso de orelha a orelha, me falou :
- Senhor, ele vem aqui em nossa cidade.
- Ele quem, Joab?
- Jesus, o Nazareno.
- Ele vem aqui?
- Sim. Parece que chega amanhã pela manhã.
Fiquei literalmente enlouquecido. Finalmente, eu iria vê-lo e, talvez falasse com ele. Quem sabe ele me daria a honra de almoçar em minha casa? Não, eu não merecia esta honra. Por que ele almoçaria com um miserável como eu? Era bastante vê-lo. Assim, no dia seguinte, corri para a praça e o lugar estava apinhado de gente. Eu, sendo muito baixinho não podia vê-lo por mais que eu tentasse. Vi então uma árvore frondosa e eu estava com tanta vontade de ver o Nazareno que, deixando de lado a situação ridícula, subi na árvore. Aí ele me viu e, quando ele me viu, para meu espanto e felicidade, ele me falou: "Zaqueu, desce daí. Hoje vou almoçar em tua casa." Foi esse o dia mais, importante de minha vida, o dia em que ele, com essas palavras, abriram para mim as portas do Reino de Deus e eu lhe sou eternamente grato.
Meu nome é Zaqueu e sou chefe dos publicanos. Pra ser franco, sou um rico arrendatário de impostos. Vivo em Jericó onde a minha prosperidade tem despertado a inveja de muitos. Eu, porém, não me considero uma pessoa má, não sou perfeito em coisa alguma, porém, não sou um canalha, um traidor de meu povo como dizem muitas pessoas. O Senhor que conhece a nós todos no fundo de nossa alma sabe que estou dizendo a verdade. Sei que os fariseus me tratam como se eu fosse um colaboracionista dos romanos, os fariseus invejam a minha fortuna pessoal e se juntam aos fariseus na sua agressividade contra mim. De certo modo, sou tratado como um habitante do vales dos impuros e isso a cada vez tem sido uma carga difícil de ser carregada por mim. A gente, com o tempo, se cansa de ser humilhado, de viver sob o risinho de mofa dos passantes e agüentar a ironia dos judeus puritanos.
Foi no mês de Nissan que, pela primeira vez, tive a notícia de um certo Rabi que vinha pregando o arrependimento e a salvação. Quem me falou foi um empregado meu chamado Joab. Eu fiquei interessado e lhe perguntei:
- Juba, o sujeito de quem você me fala, não é um que batiza as pessoas no Jordão e que chama a si mesmo de A Voz que clama no deserto? Alguns fariseus afirmam que ele é louco e outros dizem que é um grande profeta. Acho que se chama João.
- Não, senhor, é outro.
- Outro. E se chama Jesus e é Galileu.
- Galileu! Você acha que algum Galileu pode ser mestre em Israel?
- Se poderia ou não, eu não sei. O que eu sei é que ele faz muitas coisas que tem causado admiração a todos que as viram. Para provar o que eu digo, basta ver a grande multidão que o acompanha.
- E o que ele prega?
- Muitas coisas, mas a principal destas é a vinda do Reino dos Céus.
- É interessante.
- Ele diz uma coisa mais interessante ainda.
- O quê?
- Ele diz que o Reino dos Céus não pertence aos soberbos e arrogantes, mas aos pobrezinhos, aos pecadores e até mesmo os ladrões e as prostitutas.
Aquelas palavras calaram fundo dentro de mim. Aquela pregação me interessava porque os fariseus e saduceus estavam me fazendo sentir como excluído da graça divina, e, agora, vinha aquele Rabi dizer que os pecadores como eu, teriam a sua parte no Reino de Deus. Que coisa maravilhosa! Desde aquele dia passei a me interessar por aquele homem. A todas as pessoas que vinham de Cafarnaum e que tivessem ouvido uma pregação dele, eu pedia que me contasse o que ele havia dito. Eles me contavam e eu ficava enlevado com aquelas palavras que, como um bálsamo, diminuíam as dores das minhas feridas interiores. Então eu, Zaqueu, o chefe dos publicanos, um homem de má fome, humilhado por todos, tinha a possibilidade de entrar no reino. Aquela era a mensagem mais bela que jamais havia ouvido.Certa manhã, Joab me procurou e com um sorriso de orelha a orelha, me falou :
- Senhor, ele vem aqui em nossa cidade.
- Ele quem, Joab?
- Jesus, o Nazareno.
- Ele vem aqui?
- Sim. Parece que chega amanhã pela manhã.
Fiquei literalmente enlouquecido. Finalmente, eu iria vê-lo e, talvez falasse com ele. Quem sabe ele me daria a honra de almoçar em minha casa? Não, eu não merecia esta honra. Por que ele almoçaria com um miserável como eu? Era bastante vê-lo. Assim, no dia seguinte, corri para a praça e o lugar estava apinhado de gente. Eu, sendo muito baixinho não podia vê-lo por mais que eu tentasse. Vi então uma árvore frondosa e eu estava com tanta vontade de ver o Nazareno que, deixando de lado a situação ridícula, subi na árvore. Aí ele me viu e, quando ele me viu, para meu espanto e felicidade, ele me falou: "Zaqueu, desce daí. Hoje vou almoçar em tua casa." Foi esse o dia mais, importante de minha vida, o dia em que ele, com essas palavras, abriram para mim as portas do Reino de Deus e eu lhe sou eternamente grato.
A Salvação de Zaqueu
A Salvação de Zaqueu
Salvação, Zaqueu, Arrependimento, Reparação
“Entretanto, Zaqueu, pondo-se diante do Senhor, lhe disse: Senhor, dou a metade dos meus bens aos pobres e, se causei dano a alguém, seja no que for, indenizo-o com quatro tantos. – Ao que Jesus lhe disse: Esta casa recebeu hoje a salvação, porque também este é filho de Abraão; – visto que o Filho do homem veio para procurar e salvar o que estava perdido”. (LUCAS, 19:1 a 10.)
Nos meios religiosos tradicionais a questão da salvação é muito falada, mas pouco compreendida. Pregam fórmulas diversas de alcançá-la, mas essas fórmulas são irracionais e, mesmo na Bíblia, constantemente se encontram passagens que parecem desmenti-las, ou pelo menos, mostrar que não são como as religiões normalmente pregam quando se apegam excessivamente à letra. Mesmo no meio espírita, onde não existe a figura da salvação, pois sabemos que todos os Espíritos chegarão à felicidade e à perfeição, é importante essa questão para entender o que Jesus chamou de salvação e o que ela representa.
A passagem de Zaqueu é extremamente interessante e esclarecedora nesse sentido, pois nela encontramos a questão da salvação em sua forma mais simples e natural, sem rituais, sem fórmulas, apenas a essência. Não vemos nessa passagem a figura do batismo, o “se entregar a Jesus”, nada senão o arrependimento mais sincero possível, que veio sem necessidade de ritos exteriores, mas com o mesmo efeito benéfico. Note-se que o arrependimento não foi infrutífero, não foi apenas o dizer que se arrepende, isso não é arrependimento, mas Zaqueu teve o arrependimento verdadeiro, pois veio junto com o sentimento da necessidade de reparação do mau cometido e mais ainda, pois também lhe incentivou o desapego ao doar parte de seus bens para os pobres.
Zaqueu nos deu em uma passagem a lição do verdadeiro arrependimento, do verdadeiro desapego e da verdadeira salvação, não aquela que vem de graça através de rituais, mas aquela que vem do coração, aquela que muda o rumo de uma vida para bem, que salva o que estava perecendo, aí o sentido de reparação.
Salvação, Zaqueu, Arrependimento, Reparação
“Entretanto, Zaqueu, pondo-se diante do Senhor, lhe disse: Senhor, dou a metade dos meus bens aos pobres e, se causei dano a alguém, seja no que for, indenizo-o com quatro tantos. – Ao que Jesus lhe disse: Esta casa recebeu hoje a salvação, porque também este é filho de Abraão; – visto que o Filho do homem veio para procurar e salvar o que estava perdido”. (LUCAS, 19:1 a 10.)
Nos meios religiosos tradicionais a questão da salvação é muito falada, mas pouco compreendida. Pregam fórmulas diversas de alcançá-la, mas essas fórmulas são irracionais e, mesmo na Bíblia, constantemente se encontram passagens que parecem desmenti-las, ou pelo menos, mostrar que não são como as religiões normalmente pregam quando se apegam excessivamente à letra. Mesmo no meio espírita, onde não existe a figura da salvação, pois sabemos que todos os Espíritos chegarão à felicidade e à perfeição, é importante essa questão para entender o que Jesus chamou de salvação e o que ela representa.
A passagem de Zaqueu é extremamente interessante e esclarecedora nesse sentido, pois nela encontramos a questão da salvação em sua forma mais simples e natural, sem rituais, sem fórmulas, apenas a essência. Não vemos nessa passagem a figura do batismo, o “se entregar a Jesus”, nada senão o arrependimento mais sincero possível, que veio sem necessidade de ritos exteriores, mas com o mesmo efeito benéfico. Note-se que o arrependimento não foi infrutífero, não foi apenas o dizer que se arrepende, isso não é arrependimento, mas Zaqueu teve o arrependimento verdadeiro, pois veio junto com o sentimento da necessidade de reparação do mau cometido e mais ainda, pois também lhe incentivou o desapego ao doar parte de seus bens para os pobres.
Zaqueu nos deu em uma passagem a lição do verdadeiro arrependimento, do verdadeiro desapego e da verdadeira salvação, não aquela que vem de graça através de rituais, mas aquela que vem do coração, aquela que muda o rumo de uma vida para bem, que salva o que estava perecendo, aí o sentido de reparação.
Zaqueu, amigo íntimo de Jesus
Zaqueu, amigo íntimo de Jesus
Jesus percorria pela derradeira vez os caminhos da Palestina. Deixando a Galileia, dirigira-se ao território da Judeia, além do Jordão.1 Nessa viagem, quando já próxima a hora extrema do Gólgota, encontra-se com Zaqueu às portas de Jericó.
Descrita no Velho Testamento como a Cidade das Palmeiras, 2 Jericó foi edificada numa das mais ricas zonas agrícolas de todo o Oriente Médio.3 Verdadeiro oásis no deserto, cercada por quilômetros de terra árida e rochosa, exibe – contrastando com os seus arredores – campos floridos, árvores balsâmicas, amendoeiras, romãzeiras, tamareiras, sicômoros, e, sobretudo, palmeiras. Tornou-se célebre nos temposde Jesus. Clima mitigado pela abundância de águas canalizadas, esplêndidos jardins e belas construções fizeram dela a cidade invernal da aristocracia de Jerusalém, preferência de Herodes Magno.4
Passagem obrigatória a caravanas de mercadores e peregrinos religiosos, Jericó alcançou grande importância econômica, contando com estabelecimentos bancários, várias lojas comerciais e diversos armazéns providos de toda mercadoria. Diariamente, desde as primeiras horas da manhã, negociantes, proprietários, lavradores, agentes e cambistas fervilhavam em suas ruas, entre discussões, compras, vendas e assinaturas de contratos, num febril vaivém. Somente com as primeiras sombras da noite, costumava diminuir o bulício na Cidade das Palmeiras.
Israel vivia então sob o senhorio romano, sujeito aos ditames do grande império. Como todos os povos conquistados pelos césares, pagava-lhes pesados tributos, destinados ao luxo do patriciado e à manutenção da máquina governamental, cujos exércitos, sempre crescentes, requeriam gastos mais e mais elevados.
Os judeus, mesmo oprimidos, não declinavam de suas crenças, cultivando-as com intenso ardor. Arrimados à fé dos seus patriarcas, consolidada ao longo dos séculos, mantinham-se coesos como nação, ainda quando exilados, vivendo em terras estranhas. O governo romano, então, normalmente adotava política de tolerância para com as práticas religiosas dos povos dominados.
Naqueles dias, os israelitas se preparavam para a páscoa, comemoração à sua libertação do jugo egípcio. Numerosos viajores cruzavam as estradas e caminhos do país, na direção de Jerusalém. Jericó, mais que outras localidades, regurgitava de passantes.
Jesus, com os doze, igualmente se encaminhava à capital da Judeia.5 Vencida quase toda a distância entre Cafarnaum e Jerusalém – contornando ao leste o território samaritano6 – chegou às cercanias de Jericó. Pelos caminhos, ensinava a Boa-Nova, consolava os aflitos e curava os enfermos; verdadeira multidão o acompanhava desde a Galileia.
Jericó, como já dito, constituía rota obrigatória para mercadores e peregrinos. Movimentado comércio local e acentuada circulação de riquezas em suas fronteiras garantiam- lhe elevada arrecadação tributária; despertava o interesse dos governantes e a ambição dos publicanos.
Conforme as regras estatuídas então, cabia aos publicanos coletar os impostos. Desde Caio Graco, Tribuno da Plebe nos anos 123 a.C. e 122 a.C., nova forma de concessão para arrecadação tributária fora estabelecida nas províncias asiáticas, sendo mais tarde aplicada às demais possessões romanas. Os tributos passaram a ser recolhidos mediante contrato firmado, pelo prazo de cinco anos, entre o vencedor da hasta pública e o tesouro romano, devendo o vencedor antecipar o pagamento desses tributos ao Estado. Os participantes desses leilões, naturalmente, eram homens muito ricos, com fortuna pessoal mínima de quatrocentos mil sestércios, segundo alguns historiadores.
A adoção desse sistema de arrecadação tributária, conquanto eficiente, teve graves consequências. Os publicanos, livres para cobrar quanto quisessem, exorbitavam nas taxas exigidas, multiplicando suas fortunas vertiginosamente. Movidos por indisfarçável ânsia lucrativa, tornaram-se símbolo de avidez e desonestidade, sendo detestados pela população em geral.
Zaqueu era rico publicano, chefe dos publicanos em Jericó.
Em concorrência pública, como ditava o costume, arrematara o direito à cobrança de impostos na urbe famosa. Além dos interesses da alfândega, dirigia outros negócios particulares, todos muito rentáveis; contava com grande número de empregados. Os judeus olhavam-no com desdém, como faziam a todos os publicanos, considerando-o traidor da pátria, por transigir com os romanos invasores.
Raros lhe dirigiam a palavra e, quando o faziam, quase sempre o faziam obrigados pelas circunstâncias, não disfarçando o íntimo desprezo que lhe votavam.
Ouvira falar de Jesus!
As notícias que lhe chegavam davam conta de sua amorosa mensagem, portadora de fé e esperança. Da boca popular, escutava referências a seus muitos milagres e soubera que exprobrava a conduta de fariseus e saduceus, exortando os homens ao bom caminho. Tinha conhecimento de que Ele se fazia acompanhar, sobretudo, dos simples e deserdados, que não desprezava a ninguém, considerando a todos como irmãos. Ouvira dizer, até, que entre os seus mais próximos seguidores, havia um que fora conhecido publicano.
Queria ver o novo Messias, quem sabe, falar ao Mestre nazareno.
Sua alma sonhava novos horizontes, cansada das coisas do mundo. De há muito, acalentava secreto desejo de conhecer aquele de quem se falava tantas maravilhas.
Caía a tarde na velha cidade do vale do Jordão. Seus estabelecimentos comerciais cerravam as portas, seus habitantes regressavam aos lares e os peregrinos procuravam pernoite. Desusado movimento agitava Jericó. Nos últimos dias, muito aumentara o fluxo local de caravanas com destino à Cidade Santa.
Zaqueu também findara seu trabalho, rumava para casa. Romeiros de variadas procedências anunciavam a chegada do Rabi galileu. Excitados, gesticulavam muito, diziam que Ele curara o cego Bartimeu.7
Não longe, compacta muralha humana cercava o carpinteiro galileu. Rápido, Zaqueu se acercou da multidão, empolgado pela possibilidade do ambicionado encontro. De pequena estatura, contudo, por mais tentasse, não conseguia ver Jesus. Tomado de resolução – temia perder a oportunidade há tanto esperada – correu à frente do povaréu, subiu num velho sicômoro e aguardou a passagem do Mestre.
Logo divisou a sua figura augusta, sentiu-se invadir de paz intraduzível. Atraído pelo seu amoroso magnetismo, acompanhava-lhe os menores gestos, apurava os ouvidos para escutá-lo.
Que pensamentos acudiam nessa hora a Zaqueu? Que sentimentos dominavam seu coração? Que visões contemplava seu Espírito? Talvez passasse em revista sua existência, reexaminasse os valores que lhe vinham norteando as decisões, vislumbrasse nesgas do caminho espiritual. Decerto que experimentava íntima e estranha inquietação; chegara o instante glorioso do seu encontro com a Verdade.
Aproximando-se da árvore em que se alojara o publicano, Jesus ergueu os olhos, fitando-o, e disse-lhe: “Zaqueu, desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa”.8 Zaqueu deu-se pressa em descer, recebendo-o com muita alegria. “À vista desse fato – anota o evangelista – murmuravam todos, dizendo: Foi hospedar-se na casa de um homem pecador!”.
Entrementes, Zaqueu se levantou e disse ao Senhor: “Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo-lhe o quádruplo”. Então, Jesus lhe disse: “Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido”.9
Zaqueu exultava de alegria, sentia-se no limiar de um novo mundo. Vivera até ali como os comuns de sua época, preocupado com as aquisições materiais, escravo das coisas ilusórias. Chegava agora a novo estágio evolutivo. Quais os caminhos do seu despertar espiritual? Quais os degraus superados até alcançar a condição de amigo íntimo de Jesus?
Acompanhando a sua marcha ascensional, naquilo que podemos apreciar, concluímos que muito peregrinou nas sombras dos enganos e vacilações, antes de penetrar a porta estreita, rumo à Espiritualidade superior.
Dedicou os primeiros anos de sua existência às conquistas mundanas – dinheiro, fama, status, poder – dominado pelas exigências dos prazeres egoístas, conquanto, desde antes, almejasse respirar noutra atmosfera. A alma humana nessa etapa de aprendizado, quando não nega a paternidade divina, costuma ignorá-la propositadamente, como se temesse as consequências desse reconhecimento. Intui secretamente as responsabilidades que daí advirão, e, como a dormideira, recolhe-se em si mesma, preferindo manter-se alienada acerca da existência de Deus.
A saciedade proporcionada pelas conquistas inferiores, todavia, carece de perenidade, possui existência efêmera. Não demora e a alma sente vazio inexprimível, vítima da impermanência das coisas deste mundo. Até alcançar os bens eternos, sofrerá crises periódicas desse vazio.
O filósofo pessimista alemão, Arthur Schopenhauer, observando o cotidiano do homem comum, diz que a vida é um pêndulo que oscila entre o sofrimento e o tédio. Sofremos enquanto não conseguimos o que desejamos e, quando conseguimos o que desejamos, sentimos tédio. É então que elegemos novo objeto de desejo para, novamente, oscilarmos entre o sofrimento e o tédio, numa infinita alternância.
Zaqueu vivia essa alternância, pendulando entre o pesar e o fastio.
Saturado do que é transitório, experimenta invencível fascínio pelo transcendente, impulsionado pelo que podemos chamar de tropismo divino; é o início da sua busca espiritual, termo da sua alienação de Deus.
Talvez ninguém lhe tivesse notado a mudança, nem mesmo os mais próximos, muitíssimo engolfados nos assuntos da matéria. Jesus, porém, atento às mais discretas manifestações de nossa alma, identifica os primeiros clarões de sua luz interior e lhe vêm à procura. Zaqueu buscava Jesus, Jesus buscava Zaqueu. Entre eles uma multidão, símbolo dos obstáculos que o publicano necessitava transpor para alcançar o Mestre. Do alto da figueira, Zaqueu espia Jesus. Encontrara o que procurava, segredava-lhe a consciência. De repente, ouve surpreso: Zaqueu, desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa.
Desde quando anelava semelhante dádiva? Que fizera para merecer tamanha bênção? Humilde, cria-se indigno de hospedar o Messias. Mas, depressa, desce e vai correndo preparar-lhe régia ceia e as melhores acomodações de sua rica residência.
A cena nos sugere oportunas reflexões.
O sicômoro ou figueira-doida, 10 como também é conhecido, com suas raízes profundas, folhas ásperas e frutos de inferior qualidade, oferece singular imagem das riquezas materiais, cuja aparência de viço, solidez e perpetuidade engana o observador menos percuciente.
Zaqueu no alto da figueira, acima da multidão, traduz o homem içado aos mais proeminentes postos o mundo. O desce depressa nos fala da imperiosidade de abandonarmos as convenções meramente humanas, para encontrarmos o Cristo.
Zaqueu transbordava alegria.
Límpidos raciocínios agora iluminavam seu espírito; trilhava os primeiros passos na senda. As posses materiais e os favores de sua elevada posição social não o haviam impedido de chegar a Jesus. Sabia-se, contudo, longe da completa emancipação espiritual, preciso era prosseguir.
À mesa, com o sublime visitante, ouvia-o com deleite, considerava quanto estivera distanciado do verdadeiro caminho. Imerso em doce onda de amor, priva pela primeira vez da intimidade de Jesus. É aí que se resolve a dar metade dos seus bens aos pobres e a restituir em quádruplo a quem haja defraudado.
…É a fase da entrega!… É a fase da consagração!
Vencida a alienação, realizada a busca, Zaqueu se entrega àquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Esvazia-se das coisas deste mundo, disposto a preencher-se das coisas celestes. Abre mão de sua riqueza… Distribui seus bens aos pobres… Indeniza a quem prejudicou… Abdica de sua posição social… Reconhece que mesmo sem o saber, sempre buscara o Cristo de Deus. Enlevado, despe sua alma, lavando com lágrimas as lembranças de suas defecções, para ouvir do Senhor:
Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido.9
Selada estava eterna aliança entre Zaqueu e Jesus.
E ali na casa de Zaqueu, ainda naquela noite, Jesus contou a parábola das dez minas– para a maioria dos exegetas – uma variante da parábola dos talentos, apesar das diferenças textuais havidas entre as duas narrativas.11
Zaqueu é uma daquelas personagens bíblicas sobre quem muito pouco se sabe. Além do episódio relatado por Lucas, não encontramos nas páginas evangélicas qualquer outra referência ao publicano de Jericó. Estudiosos do Novo Testamento, todavia, hão sustentado que tudo deixou para seguir a Jesus.
Clemente de Roma afirma que ele se tornou companheiro de viagens de Simão Pedro, sendo, mais tarde, nomeado Bispo de Cesareia Marítima, pelo Pescador de Cafarnaum.12 Clemente de Alexandria sugere que adotou o nome Matias, induzindo muitos à falsa inferência de que haja substituído Judas Iscariotes no Colégio dos Doze.13 O legendário medieval o identifica como Santo Amador, considerado o fundador do santuário francês de Rocamadour. Modernos pesquisadores da história do Cristianismo – alguns com decênios dedicados ao assunto – comungam com muito dessas tradições. Devemos, contudo, escoimar essas tradições – todas tardias, e por isso, pálidas de valor histórico – daquilo que faleça a mais severo exame.
Hoje, alguns poucos ainda pretendem que Zaqueu seja Matias, o 13º Apóstolo. Diríamos que essa é uma opinião insustentável, dado que não resiste à mais leve análise, quando na presença dos textos testemunhais desses eventos.
Atos dos Apóstolos (1:15, 21, 22, 23 e 26) registra:
Naqueles dias, Pedro levantou-se no meio dos irmãos – o número das pessoas reunidas era de mais ou menos cento e vinte e disse:
“É necessário, pois, que, dentre estes homens que nos acompanharam todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu em nosso meio, a começar do batismo de João até o dia em que dentre nós foi arrebatado, um destes se torne conosco testemunha da sua ressurreição”.
Apresentaram então dois: José, chamado Barsabás e cognominado Justo, e Matias. Lançaram a sorte sobre eles, e a sorte veio a cair em Matias, que foi então contado entre os onze apóstolos.
A leitura acima não exige mais grave meditação para infirmar a ideia de que Zaqueu seja o 13º apóstolo. Declara, literalmente, que, desde o início, tanto um quanto outro – José e Matias – tomou parte ativa na vida messiânica de Jesus. Zaqueu, como é sabido, somente o conheceria na última viagem do Mestre a Jerusalém.14
Além disso, caminhando nessa direção, assevera Eusébio de Cesareia:
E um documento ensina também que Matias – o que foi juntado à lista dos apóstolos em substituição a Judas – e o outro que com ele teve a honra de disputar a sorte foram dignos de serem dos setenta. […]15
E, mais adiante, diz: O primeiro, pois, que a sorte designou para o apostolado em substituição a Judas, o traidor, foi Matias, que também tinha sido um dos discípulos do Salvador, como já foi provado.15
De acordo, pois, com o texto ora transcrito, José e Matias pertenciam ao grupo dos setenta, 16 episódio anterior ao encontro entre Jesus e Zaqueu. Logo, conclui-se: Zaqueu não é Matias, o 13º apóstolo.
Ademais, ainda que evocado por alguns, como fonte favorável a esse entendimento, Clemente de Alexandria – longe de estear tal juízo – escreve, simplesmente:
Diz-se, portanto, que Zaqueu, ou, segundo alguns, Matias, o chefe dos publicanos, ao ouvir que o Senhor se dignou a Brasivir a ele, disse: Senhor, e se eu defraudei alguém em alguma coisa, restituo-lhe o quádruplo. E o Senhor disse, por sua vez: o Filho do homem vindo aqui, encontrou o que estava perdido.17
E, ainda, para alguns historiadores, Natanael18 foi quem tomou o lugar de Judas Iscariotes, embora habitualmente o identifiquem como o apóstolo Bartolomeu.19
À margem das dissensões históricas – válidas, mas não essenciais – subsiste a convicção da aliança entre Zaqueu e Jesus. Ditados e revelações espirituais – transmitidos a medianeiros de reconhecida credibilidade – reforçam esse pensamento.
Humberto de Campos enfatiza que Zaqueu, desde muitos anos, procurava empregar o dinheiro a benefício de todos à sua volta, voluntariamente hipotecando-se ao Mestre.20
Amélia Rodrigues conta que, com frequência, ele socorria o cego Bartimeu. Gostava de acudir a miséria alheia e suavizar as dores do próximo. Mais tarde, assistido por Jesus, foi dirigir florescente igreja cristã em terras de Cesareia.21
Léon Tolstoi declara tê-lo ouvido discursar no mundo espiritual:
– A bondade do Mestre galileu… […] tocou-me para sempre o coração […]. E conquistou-me assim, por toda a consumação dos séculos…
[…] Não, eu não o abandonei jamais, desde aquele dia em que passou por Jericó! […] Soube, é certo, da ressurreição que a todos revigorou de esperanças… Mas não logrei tornar a ver e ouvir o Mestre […]. Ele só se apresentou, depois da ressurreição, aos discípulos – homens e mulheres – e aos Apóstolos…22
Affonso Soares, amigo e confidente de Yvonne do Amaral Pereira, disse-me que a notável médium fluminense repetia sempre que Zaqueu fora o venerável Bezerra de Menezes.23
Zaqueu venceu antigas vacilações e transpôs densas barreiras, para, naquele dia memorável, tornar-se amigo íntimo de Jesus, lembrando as letras de Apocalipse (3:20):
Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele, e ele comigo.
Referências:
1 Mateus, 19:1; Marcos, 10:1; e Lucas, 9:51-53. (Para os textos evangélicos utilizamos a Bíblia Sagrada, tradução de João Ferreira de Almeida, e a Bíblia de Jerusalém.)
2 Deuteronômio, 34:1 a 3; e 2 Crônicas, 28:15.
3 Vale do Jordão. Situada a quase trezentos metros abaixo do nível do mar, numa das maiores depressões absolutas do planeta, Jericó é considerada a mais antiga cidade do mundo. Pesquisas arqueológicas apontam sua fundação entre nove e dez mil anos atrás.
4 Herodes e seu filho Arquelau embelezaram Jericó. Entre as construções mais famosas contavam-se o anfiteatro da cidade e o castelo de Kypros. Este último, construído e batizado em homenagem à mãe de Herodes.
5 Lucas, 18:31 a 34.
6 Lucas, 9:51 a 56. – Não encontrando guarida em uma das vilas da Samaria, Jesus decidiu fazer o mais longo trajeto entre as duas cidades. Possivelmente tomou a direção de Decápole e atravessou a Pereia, antes de alcançar Jericó. Dali seguiria para Betânia e Jerusalém.
7 Patronímico traduzido por filho de Timeu, conforme Marcos (10:46 a 52). Os demais evangelistas – Mateus (20:29 a 34); e Lucas (18:35 a 43) – não mencionam o nome do cego de Jericó. Diferente de Lucas, que situa esse episódio à entrada da cidade, Marcos e Mateus o descrevem como ocorrido à saída de Jericó, com este último anotando que foram dois os cegos ali curados por Jesus.
8 Jesus visitou algumas casas durante sua atividade messiânica. Revelam os evangelhos que esteve nas casas de Pedro, Levi, Jairo, Simão, Lázaro, Zaqueu e nas Bodas de Caná. Parece-nos que sempre a convite dos seus moradores, exceção feita à sua visita ao publicano de Jericó.
9 Lucas, 19:1 a 10.
10 Ficus sycomorus – Atinge 20 metros de altura.
11 Lucas, 19:11 a 27; e Mateus, 25:14 a 30.
12 Homilia III, 59 a 72.
13 Stromateis IV, cap. 6, § 35.
14 Lucas, 19:1 a 10.
15 CESAREIA, Eusébio. História eclesiástica. Wolfgang Fischer. São Paulo (SP): Novo Século, 2002. liv. I, cap. XII – Dos discípulos de nosso Salvador, it. 3. p. 28; e liv. II, cap. I – Da vida dos apóstolos depois da ascensão do Cristo, it. 1, p. 33. Disponível em: <pt.slideshare.net/OBREIRO/histria-eclesistica-eusbio-de-cesaria>.
16 Missão dos setenta discípulos – Lucas, 10:1 a 13.
17 Stromateis IV, cap. 6, § 35.
18 Referido em João, 1:45 a 51 e 21:1 e 2.
19 MCKENZIE, John L. Dicionário bíblico. Álvaro Cunha, Elsa Maria Berredo Peixoto, Gaspard Gabriel Neerick, I. F. L. Ferreira, Josué Xavier. 10. ed. São Paulo: Paulus, 2011. p. 589.
20 XAVIER, Francisco C. Boa nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 37. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2014. cap. 23, p. 149.
21 FRANCO, Divaldo P. Primícias do reino. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. 4. ed. Salvador: LEAL, 1987. p. 144, 145 e 149.
22 PEREIRA, Yvonne do Amaral. Ressurreição e vida. Pelo Espírito Léon Tolstoi. 12. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014. cap. 1, p. 20-21.
23 Affonso Borges Gallego Soares, diretor da Federação Espírita Brasileira. Pedro Camilo traz essa revelação em sua obra, Yvonne Pereira: uma heroína silenciosa.
BAUCKHAM, Richard. Jesus e as testemunhas oculares. São Paulo: Paulus, 2011. p. 151-152.
CORASSIN, Maria Luiza. A reforma agrária na Roma Antiga. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 62-63.
NICOLET, Claude. Un ensayo de historia social: el Orden Ecuestre en las postrimerias de la Republica Romana. In: Ordenes, estamentos y classes: Coloquio de historia social Saint-Cloud, 24-25 de mayo de 1967. Madrid: Siglo-Veintiuno, 1978. p. 36-51.
Samuel Nunes Magalhães
snmagalhaes@yahoo.com.br
Jesus percorria pela derradeira vez os caminhos da Palestina. Deixando a Galileia, dirigira-se ao território da Judeia, além do Jordão.1 Nessa viagem, quando já próxima a hora extrema do Gólgota, encontra-se com Zaqueu às portas de Jericó.
Descrita no Velho Testamento como a Cidade das Palmeiras, 2 Jericó foi edificada numa das mais ricas zonas agrícolas de todo o Oriente Médio.3 Verdadeiro oásis no deserto, cercada por quilômetros de terra árida e rochosa, exibe – contrastando com os seus arredores – campos floridos, árvores balsâmicas, amendoeiras, romãzeiras, tamareiras, sicômoros, e, sobretudo, palmeiras. Tornou-se célebre nos temposde Jesus. Clima mitigado pela abundância de águas canalizadas, esplêndidos jardins e belas construções fizeram dela a cidade invernal da aristocracia de Jerusalém, preferência de Herodes Magno.4
Passagem obrigatória a caravanas de mercadores e peregrinos religiosos, Jericó alcançou grande importância econômica, contando com estabelecimentos bancários, várias lojas comerciais e diversos armazéns providos de toda mercadoria. Diariamente, desde as primeiras horas da manhã, negociantes, proprietários, lavradores, agentes e cambistas fervilhavam em suas ruas, entre discussões, compras, vendas e assinaturas de contratos, num febril vaivém. Somente com as primeiras sombras da noite, costumava diminuir o bulício na Cidade das Palmeiras.
Israel vivia então sob o senhorio romano, sujeito aos ditames do grande império. Como todos os povos conquistados pelos césares, pagava-lhes pesados tributos, destinados ao luxo do patriciado e à manutenção da máquina governamental, cujos exércitos, sempre crescentes, requeriam gastos mais e mais elevados.
Os judeus, mesmo oprimidos, não declinavam de suas crenças, cultivando-as com intenso ardor. Arrimados à fé dos seus patriarcas, consolidada ao longo dos séculos, mantinham-se coesos como nação, ainda quando exilados, vivendo em terras estranhas. O governo romano, então, normalmente adotava política de tolerância para com as práticas religiosas dos povos dominados.
Naqueles dias, os israelitas se preparavam para a páscoa, comemoração à sua libertação do jugo egípcio. Numerosos viajores cruzavam as estradas e caminhos do país, na direção de Jerusalém. Jericó, mais que outras localidades, regurgitava de passantes.
Jesus, com os doze, igualmente se encaminhava à capital da Judeia.5 Vencida quase toda a distância entre Cafarnaum e Jerusalém – contornando ao leste o território samaritano6 – chegou às cercanias de Jericó. Pelos caminhos, ensinava a Boa-Nova, consolava os aflitos e curava os enfermos; verdadeira multidão o acompanhava desde a Galileia.
Jericó, como já dito, constituía rota obrigatória para mercadores e peregrinos. Movimentado comércio local e acentuada circulação de riquezas em suas fronteiras garantiam- lhe elevada arrecadação tributária; despertava o interesse dos governantes e a ambição dos publicanos.
Conforme as regras estatuídas então, cabia aos publicanos coletar os impostos. Desde Caio Graco, Tribuno da Plebe nos anos 123 a.C. e 122 a.C., nova forma de concessão para arrecadação tributária fora estabelecida nas províncias asiáticas, sendo mais tarde aplicada às demais possessões romanas. Os tributos passaram a ser recolhidos mediante contrato firmado, pelo prazo de cinco anos, entre o vencedor da hasta pública e o tesouro romano, devendo o vencedor antecipar o pagamento desses tributos ao Estado. Os participantes desses leilões, naturalmente, eram homens muito ricos, com fortuna pessoal mínima de quatrocentos mil sestércios, segundo alguns historiadores.
A adoção desse sistema de arrecadação tributária, conquanto eficiente, teve graves consequências. Os publicanos, livres para cobrar quanto quisessem, exorbitavam nas taxas exigidas, multiplicando suas fortunas vertiginosamente. Movidos por indisfarçável ânsia lucrativa, tornaram-se símbolo de avidez e desonestidade, sendo detestados pela população em geral.
Zaqueu era rico publicano, chefe dos publicanos em Jericó.
Em concorrência pública, como ditava o costume, arrematara o direito à cobrança de impostos na urbe famosa. Além dos interesses da alfândega, dirigia outros negócios particulares, todos muito rentáveis; contava com grande número de empregados. Os judeus olhavam-no com desdém, como faziam a todos os publicanos, considerando-o traidor da pátria, por transigir com os romanos invasores.
Raros lhe dirigiam a palavra e, quando o faziam, quase sempre o faziam obrigados pelas circunstâncias, não disfarçando o íntimo desprezo que lhe votavam.
Ouvira falar de Jesus!
As notícias que lhe chegavam davam conta de sua amorosa mensagem, portadora de fé e esperança. Da boca popular, escutava referências a seus muitos milagres e soubera que exprobrava a conduta de fariseus e saduceus, exortando os homens ao bom caminho. Tinha conhecimento de que Ele se fazia acompanhar, sobretudo, dos simples e deserdados, que não desprezava a ninguém, considerando a todos como irmãos. Ouvira dizer, até, que entre os seus mais próximos seguidores, havia um que fora conhecido publicano.
Queria ver o novo Messias, quem sabe, falar ao Mestre nazareno.
Sua alma sonhava novos horizontes, cansada das coisas do mundo. De há muito, acalentava secreto desejo de conhecer aquele de quem se falava tantas maravilhas.
Caía a tarde na velha cidade do vale do Jordão. Seus estabelecimentos comerciais cerravam as portas, seus habitantes regressavam aos lares e os peregrinos procuravam pernoite. Desusado movimento agitava Jericó. Nos últimos dias, muito aumentara o fluxo local de caravanas com destino à Cidade Santa.
Zaqueu também findara seu trabalho, rumava para casa. Romeiros de variadas procedências anunciavam a chegada do Rabi galileu. Excitados, gesticulavam muito, diziam que Ele curara o cego Bartimeu.7
Não longe, compacta muralha humana cercava o carpinteiro galileu. Rápido, Zaqueu se acercou da multidão, empolgado pela possibilidade do ambicionado encontro. De pequena estatura, contudo, por mais tentasse, não conseguia ver Jesus. Tomado de resolução – temia perder a oportunidade há tanto esperada – correu à frente do povaréu, subiu num velho sicômoro e aguardou a passagem do Mestre.
Logo divisou a sua figura augusta, sentiu-se invadir de paz intraduzível. Atraído pelo seu amoroso magnetismo, acompanhava-lhe os menores gestos, apurava os ouvidos para escutá-lo.
Que pensamentos acudiam nessa hora a Zaqueu? Que sentimentos dominavam seu coração? Que visões contemplava seu Espírito? Talvez passasse em revista sua existência, reexaminasse os valores que lhe vinham norteando as decisões, vislumbrasse nesgas do caminho espiritual. Decerto que experimentava íntima e estranha inquietação; chegara o instante glorioso do seu encontro com a Verdade.
Aproximando-se da árvore em que se alojara o publicano, Jesus ergueu os olhos, fitando-o, e disse-lhe: “Zaqueu, desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa”.8 Zaqueu deu-se pressa em descer, recebendo-o com muita alegria. “À vista desse fato – anota o evangelista – murmuravam todos, dizendo: Foi hospedar-se na casa de um homem pecador!”.
Entrementes, Zaqueu se levantou e disse ao Senhor: “Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo-lhe o quádruplo”. Então, Jesus lhe disse: “Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido”.9
Zaqueu exultava de alegria, sentia-se no limiar de um novo mundo. Vivera até ali como os comuns de sua época, preocupado com as aquisições materiais, escravo das coisas ilusórias. Chegava agora a novo estágio evolutivo. Quais os caminhos do seu despertar espiritual? Quais os degraus superados até alcançar a condição de amigo íntimo de Jesus?
Acompanhando a sua marcha ascensional, naquilo que podemos apreciar, concluímos que muito peregrinou nas sombras dos enganos e vacilações, antes de penetrar a porta estreita, rumo à Espiritualidade superior.
Dedicou os primeiros anos de sua existência às conquistas mundanas – dinheiro, fama, status, poder – dominado pelas exigências dos prazeres egoístas, conquanto, desde antes, almejasse respirar noutra atmosfera. A alma humana nessa etapa de aprendizado, quando não nega a paternidade divina, costuma ignorá-la propositadamente, como se temesse as consequências desse reconhecimento. Intui secretamente as responsabilidades que daí advirão, e, como a dormideira, recolhe-se em si mesma, preferindo manter-se alienada acerca da existência de Deus.
A saciedade proporcionada pelas conquistas inferiores, todavia, carece de perenidade, possui existência efêmera. Não demora e a alma sente vazio inexprimível, vítima da impermanência das coisas deste mundo. Até alcançar os bens eternos, sofrerá crises periódicas desse vazio.
O filósofo pessimista alemão, Arthur Schopenhauer, observando o cotidiano do homem comum, diz que a vida é um pêndulo que oscila entre o sofrimento e o tédio. Sofremos enquanto não conseguimos o que desejamos e, quando conseguimos o que desejamos, sentimos tédio. É então que elegemos novo objeto de desejo para, novamente, oscilarmos entre o sofrimento e o tédio, numa infinita alternância.
Zaqueu vivia essa alternância, pendulando entre o pesar e o fastio.
Saturado do que é transitório, experimenta invencível fascínio pelo transcendente, impulsionado pelo que podemos chamar de tropismo divino; é o início da sua busca espiritual, termo da sua alienação de Deus.
Talvez ninguém lhe tivesse notado a mudança, nem mesmo os mais próximos, muitíssimo engolfados nos assuntos da matéria. Jesus, porém, atento às mais discretas manifestações de nossa alma, identifica os primeiros clarões de sua luz interior e lhe vêm à procura. Zaqueu buscava Jesus, Jesus buscava Zaqueu. Entre eles uma multidão, símbolo dos obstáculos que o publicano necessitava transpor para alcançar o Mestre. Do alto da figueira, Zaqueu espia Jesus. Encontrara o que procurava, segredava-lhe a consciência. De repente, ouve surpreso: Zaqueu, desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa.
Desde quando anelava semelhante dádiva? Que fizera para merecer tamanha bênção? Humilde, cria-se indigno de hospedar o Messias. Mas, depressa, desce e vai correndo preparar-lhe régia ceia e as melhores acomodações de sua rica residência.
A cena nos sugere oportunas reflexões.
O sicômoro ou figueira-doida, 10 como também é conhecido, com suas raízes profundas, folhas ásperas e frutos de inferior qualidade, oferece singular imagem das riquezas materiais, cuja aparência de viço, solidez e perpetuidade engana o observador menos percuciente.
Zaqueu no alto da figueira, acima da multidão, traduz o homem içado aos mais proeminentes postos o mundo. O desce depressa nos fala da imperiosidade de abandonarmos as convenções meramente humanas, para encontrarmos o Cristo.
Zaqueu transbordava alegria.
Límpidos raciocínios agora iluminavam seu espírito; trilhava os primeiros passos na senda. As posses materiais e os favores de sua elevada posição social não o haviam impedido de chegar a Jesus. Sabia-se, contudo, longe da completa emancipação espiritual, preciso era prosseguir.
À mesa, com o sublime visitante, ouvia-o com deleite, considerava quanto estivera distanciado do verdadeiro caminho. Imerso em doce onda de amor, priva pela primeira vez da intimidade de Jesus. É aí que se resolve a dar metade dos seus bens aos pobres e a restituir em quádruplo a quem haja defraudado.
…É a fase da entrega!… É a fase da consagração!
Vencida a alienação, realizada a busca, Zaqueu se entrega àquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Esvazia-se das coisas deste mundo, disposto a preencher-se das coisas celestes. Abre mão de sua riqueza… Distribui seus bens aos pobres… Indeniza a quem prejudicou… Abdica de sua posição social… Reconhece que mesmo sem o saber, sempre buscara o Cristo de Deus. Enlevado, despe sua alma, lavando com lágrimas as lembranças de suas defecções, para ouvir do Senhor:
Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido.9
Selada estava eterna aliança entre Zaqueu e Jesus.
E ali na casa de Zaqueu, ainda naquela noite, Jesus contou a parábola das dez minas– para a maioria dos exegetas – uma variante da parábola dos talentos, apesar das diferenças textuais havidas entre as duas narrativas.11
Zaqueu é uma daquelas personagens bíblicas sobre quem muito pouco se sabe. Além do episódio relatado por Lucas, não encontramos nas páginas evangélicas qualquer outra referência ao publicano de Jericó. Estudiosos do Novo Testamento, todavia, hão sustentado que tudo deixou para seguir a Jesus.
Clemente de Roma afirma que ele se tornou companheiro de viagens de Simão Pedro, sendo, mais tarde, nomeado Bispo de Cesareia Marítima, pelo Pescador de Cafarnaum.12 Clemente de Alexandria sugere que adotou o nome Matias, induzindo muitos à falsa inferência de que haja substituído Judas Iscariotes no Colégio dos Doze.13 O legendário medieval o identifica como Santo Amador, considerado o fundador do santuário francês de Rocamadour. Modernos pesquisadores da história do Cristianismo – alguns com decênios dedicados ao assunto – comungam com muito dessas tradições. Devemos, contudo, escoimar essas tradições – todas tardias, e por isso, pálidas de valor histórico – daquilo que faleça a mais severo exame.
Hoje, alguns poucos ainda pretendem que Zaqueu seja Matias, o 13º Apóstolo. Diríamos que essa é uma opinião insustentável, dado que não resiste à mais leve análise, quando na presença dos textos testemunhais desses eventos.
Atos dos Apóstolos (1:15, 21, 22, 23 e 26) registra:
Naqueles dias, Pedro levantou-se no meio dos irmãos – o número das pessoas reunidas era de mais ou menos cento e vinte e disse:
“É necessário, pois, que, dentre estes homens que nos acompanharam todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu em nosso meio, a começar do batismo de João até o dia em que dentre nós foi arrebatado, um destes se torne conosco testemunha da sua ressurreição”.
Apresentaram então dois: José, chamado Barsabás e cognominado Justo, e Matias. Lançaram a sorte sobre eles, e a sorte veio a cair em Matias, que foi então contado entre os onze apóstolos.
A leitura acima não exige mais grave meditação para infirmar a ideia de que Zaqueu seja o 13º apóstolo. Declara, literalmente, que, desde o início, tanto um quanto outro – José e Matias – tomou parte ativa na vida messiânica de Jesus. Zaqueu, como é sabido, somente o conheceria na última viagem do Mestre a Jerusalém.14
Além disso, caminhando nessa direção, assevera Eusébio de Cesareia:
E um documento ensina também que Matias – o que foi juntado à lista dos apóstolos em substituição a Judas – e o outro que com ele teve a honra de disputar a sorte foram dignos de serem dos setenta. […]15
E, mais adiante, diz: O primeiro, pois, que a sorte designou para o apostolado em substituição a Judas, o traidor, foi Matias, que também tinha sido um dos discípulos do Salvador, como já foi provado.15
De acordo, pois, com o texto ora transcrito, José e Matias pertenciam ao grupo dos setenta, 16 episódio anterior ao encontro entre Jesus e Zaqueu. Logo, conclui-se: Zaqueu não é Matias, o 13º apóstolo.
Ademais, ainda que evocado por alguns, como fonte favorável a esse entendimento, Clemente de Alexandria – longe de estear tal juízo – escreve, simplesmente:
Diz-se, portanto, que Zaqueu, ou, segundo alguns, Matias, o chefe dos publicanos, ao ouvir que o Senhor se dignou a Brasivir a ele, disse: Senhor, e se eu defraudei alguém em alguma coisa, restituo-lhe o quádruplo. E o Senhor disse, por sua vez: o Filho do homem vindo aqui, encontrou o que estava perdido.17
E, ainda, para alguns historiadores, Natanael18 foi quem tomou o lugar de Judas Iscariotes, embora habitualmente o identifiquem como o apóstolo Bartolomeu.19
À margem das dissensões históricas – válidas, mas não essenciais – subsiste a convicção da aliança entre Zaqueu e Jesus. Ditados e revelações espirituais – transmitidos a medianeiros de reconhecida credibilidade – reforçam esse pensamento.
Humberto de Campos enfatiza que Zaqueu, desde muitos anos, procurava empregar o dinheiro a benefício de todos à sua volta, voluntariamente hipotecando-se ao Mestre.20
Amélia Rodrigues conta que, com frequência, ele socorria o cego Bartimeu. Gostava de acudir a miséria alheia e suavizar as dores do próximo. Mais tarde, assistido por Jesus, foi dirigir florescente igreja cristã em terras de Cesareia.21
Léon Tolstoi declara tê-lo ouvido discursar no mundo espiritual:
– A bondade do Mestre galileu… […] tocou-me para sempre o coração […]. E conquistou-me assim, por toda a consumação dos séculos…
[…] Não, eu não o abandonei jamais, desde aquele dia em que passou por Jericó! […] Soube, é certo, da ressurreição que a todos revigorou de esperanças… Mas não logrei tornar a ver e ouvir o Mestre […]. Ele só se apresentou, depois da ressurreição, aos discípulos – homens e mulheres – e aos Apóstolos…22
Affonso Soares, amigo e confidente de Yvonne do Amaral Pereira, disse-me que a notável médium fluminense repetia sempre que Zaqueu fora o venerável Bezerra de Menezes.23
Zaqueu venceu antigas vacilações e transpôs densas barreiras, para, naquele dia memorável, tornar-se amigo íntimo de Jesus, lembrando as letras de Apocalipse (3:20):
Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele, e ele comigo.
Referências:
1 Mateus, 19:1; Marcos, 10:1; e Lucas, 9:51-53. (Para os textos evangélicos utilizamos a Bíblia Sagrada, tradução de João Ferreira de Almeida, e a Bíblia de Jerusalém.)
2 Deuteronômio, 34:1 a 3; e 2 Crônicas, 28:15.
3 Vale do Jordão. Situada a quase trezentos metros abaixo do nível do mar, numa das maiores depressões absolutas do planeta, Jericó é considerada a mais antiga cidade do mundo. Pesquisas arqueológicas apontam sua fundação entre nove e dez mil anos atrás.
4 Herodes e seu filho Arquelau embelezaram Jericó. Entre as construções mais famosas contavam-se o anfiteatro da cidade e o castelo de Kypros. Este último, construído e batizado em homenagem à mãe de Herodes.
5 Lucas, 18:31 a 34.
6 Lucas, 9:51 a 56. – Não encontrando guarida em uma das vilas da Samaria, Jesus decidiu fazer o mais longo trajeto entre as duas cidades. Possivelmente tomou a direção de Decápole e atravessou a Pereia, antes de alcançar Jericó. Dali seguiria para Betânia e Jerusalém.
7 Patronímico traduzido por filho de Timeu, conforme Marcos (10:46 a 52). Os demais evangelistas – Mateus (20:29 a 34); e Lucas (18:35 a 43) – não mencionam o nome do cego de Jericó. Diferente de Lucas, que situa esse episódio à entrada da cidade, Marcos e Mateus o descrevem como ocorrido à saída de Jericó, com este último anotando que foram dois os cegos ali curados por Jesus.
8 Jesus visitou algumas casas durante sua atividade messiânica. Revelam os evangelhos que esteve nas casas de Pedro, Levi, Jairo, Simão, Lázaro, Zaqueu e nas Bodas de Caná. Parece-nos que sempre a convite dos seus moradores, exceção feita à sua visita ao publicano de Jericó.
9 Lucas, 19:1 a 10.
10 Ficus sycomorus – Atinge 20 metros de altura.
11 Lucas, 19:11 a 27; e Mateus, 25:14 a 30.
12 Homilia III, 59 a 72.
13 Stromateis IV, cap. 6, § 35.
14 Lucas, 19:1 a 10.
15 CESAREIA, Eusébio. História eclesiástica. Wolfgang Fischer. São Paulo (SP): Novo Século, 2002. liv. I, cap. XII – Dos discípulos de nosso Salvador, it. 3. p. 28; e liv. II, cap. I – Da vida dos apóstolos depois da ascensão do Cristo, it. 1, p. 33. Disponível em: <pt.slideshare.net/OBREIRO/histria-eclesistica-eusbio-de-cesaria>.
16 Missão dos setenta discípulos – Lucas, 10:1 a 13.
17 Stromateis IV, cap. 6, § 35.
18 Referido em João, 1:45 a 51 e 21:1 e 2.
19 MCKENZIE, John L. Dicionário bíblico. Álvaro Cunha, Elsa Maria Berredo Peixoto, Gaspard Gabriel Neerick, I. F. L. Ferreira, Josué Xavier. 10. ed. São Paulo: Paulus, 2011. p. 589.
20 XAVIER, Francisco C. Boa nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 37. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2014. cap. 23, p. 149.
21 FRANCO, Divaldo P. Primícias do reino. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. 4. ed. Salvador: LEAL, 1987. p. 144, 145 e 149.
22 PEREIRA, Yvonne do Amaral. Ressurreição e vida. Pelo Espírito Léon Tolstoi. 12. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014. cap. 1, p. 20-21.
23 Affonso Borges Gallego Soares, diretor da Federação Espírita Brasileira. Pedro Camilo traz essa revelação em sua obra, Yvonne Pereira: uma heroína silenciosa.
BAUCKHAM, Richard. Jesus e as testemunhas oculares. São Paulo: Paulus, 2011. p. 151-152.
CORASSIN, Maria Luiza. A reforma agrária na Roma Antiga. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 62-63.
NICOLET, Claude. Un ensayo de historia social: el Orden Ecuestre en las postrimerias de la Republica Romana. In: Ordenes, estamentos y classes: Coloquio de historia social Saint-Cloud, 24-25 de mayo de 1967. Madrid: Siglo-Veintiuno, 1978. p. 36-51.
Samuel Nunes Magalhães
snmagalhaes@yahoo.com.br
NA CASA DE ZAQUEU
por Egdemberguer Magalhaes
"É preciso que eu me aloje hoje em vossa casa." Essas palavras, ditas por Jesus a Zaqueu (Lucas, 19:1-10), guardam, em sua simplicidade, um ensinamento muito profundo. O Cristo não diz que precisa ele próprio adentrar a casa de Zaqueu. Pela colocação das palavras, percebe-se ser uma necessidade de Zaqueu receber essa visita - e mais: vê-se a imposição da Vida perante essa necessidade e só por isso Jesus se oferece para visitar a casa daquele homem.
Assim é conosco também. Temos necessidade da presença do Cristo em nossa casa - nossa alma - e ele vem a partir do momento em que nos dispomos a atender à imposição da Vida, vindo, como acréscimo de misericórdia, para que atuemos, mesmo inconscientemente, em favor dessa doce imposição, e então o Cristo se contextualiza em nós, tornando nossa casa mais harmoniosa, mais iluminada.
Entretanto, há uma condição a ser observada nessa visita de Jesus a nossa casa: é preciso que nos livremos dos excessos em nós para que a divina presença ganhe significado, porquanto o Cristo propõe a transformação daquele que se dispõe a receber seus benefícios. Livrar-se das impurezas, o excesso que empana o brilho próprio da alma, é uma necessidade evolutiva e Zaqueu soube ser esse exemplo, válido para todos nós ainda hoje.
"É preciso que eu me aloje hoje em vossa casa." Essas palavras, ditas por Jesus a Zaqueu (Lucas, 19:1-10), guardam, em sua simplicidade, um ensinamento muito profundo. O Cristo não diz que precisa ele próprio adentrar a casa de Zaqueu. Pela colocação das palavras, percebe-se ser uma necessidade de Zaqueu receber essa visita - e mais: vê-se a imposição da Vida perante essa necessidade e só por isso Jesus se oferece para visitar a casa daquele homem.
Assim é conosco também. Temos necessidade da presença do Cristo em nossa casa - nossa alma - e ele vem a partir do momento em que nos dispomos a atender à imposição da Vida, vindo, como acréscimo de misericórdia, para que atuemos, mesmo inconscientemente, em favor dessa doce imposição, e então o Cristo se contextualiza em nós, tornando nossa casa mais harmoniosa, mais iluminada.
Entretanto, há uma condição a ser observada nessa visita de Jesus a nossa casa: é preciso que nos livremos dos excessos em nós para que a divina presença ganhe significado, porquanto o Cristo propõe a transformação daquele que se dispõe a receber seus benefícios. Livrar-se das impurezas, o excesso que empana o brilho próprio da alma, é uma necessidade evolutiva e Zaqueu soube ser esse exemplo, válido para todos nós ainda hoje.
Zaqueu, o merecedor de receber um hóspede sublime
Um homem rico, chefe dos cobradores de impostos, odiado pelos judeus, torna-se merecedor de receber, em sua casa, um hóspede muito especial. Esse homem chamava-se Zaqueu. Talvez por isso é que esse nome, em hebraico - Zacai - signifique "merecedor". Os que o viam com maus olhos não faziam ideia de que ele era um homem bom; não lhe concediam uma oportunidade de revelar quão bondoso era seu coração.
Somente o Evangelho segundo Lucas é que narra seu encontro com Jesus (capítulo 19, versículos 1 a 10). Recordemos:
"Jesus entrou em Jericó e ia atravessando a cidade. Havia aí um homem muito rico chamado Zaqueu, chefe dos recebedores de impostos. Ele procurava ver quem era Jesus, mas não o conseguia por causa da multidão, porque era de baixa estatura. Ele correu adiante, subiu a um sicômoro para o ver, quando Ele passasse por ali. Chegando Jesus àquele lugar e levantando os olhos, viu-o e disse-lhe: 'Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que eu fique hoje em tua casa.' Vendo isto, todos murmuravam e diziam: 'Ele vai hospedar-se em casa de um pecador...'. Zaqueu, entretanto, de pé, diante do Senhor disse-lhe: 'Senhor, doravante dou a metade dos meus bens aos pobres, e, se tiver defraudado alguém, restituirei o quadruplo.' Disse-lhe Jesus: 'Hoje entrou a salvação nesta casa; porquanto também este é filho de Abraão. Pois o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido.'"
Analisando cada trecho, encontramos valiosas lições.
* Jesus entrou em Jericó e ia atravessando a cidade.
Jericó - um oásis no deserto da Judéia
Esse acontecimento ocorreu dias antes da entrada de Jesus em Jerusalém, antecedendo os momentos finais de Sua missão. Ele esteve somente uma vez na cidade de Jericó (a cidade das palmeiras), situada 27 km a leste de Jerusalém, às margens do Rio Jordão. Jericó foi uma importante cidade para os hebreus, desde os tempos de Moisés. Era rota de passagem de mercadorias vindas do Oriente, a caminho para Jerusalém e o Mar Mediterrâneo.
* Havia aí um homem muito rico chamado Zaqueu, chefe dos recebedores de impostos.
Os judeus sentiam muita revolta pelo pagamento de impostos aos romanos, pois os valores arrecadados eram utilizados para manter o Império e seu exército nos locais dominados. Os judeus não se relacionavam com os publicanos, os quais consideravam impuros. Por esse motivo, Zaqueu sofria muito, embora materialmente nada lhe faltasse. Ele já possuía algum conhecimento dos feitos de Jesus e, sendo assim, guardava, no fundo do coração, o desejo de se encontrar com aquele que talvez o compreendesse.
* Ele procurava ver quem era Jesus, mas não o conseguia por causa da multidão, porque era de baixa estatura.
Quando viu que uma multidão entrava pela cidade, ficou sabendo que se tratava de Jesus. Zaqueu vivia atento ao ambiente que o rodeava, na expectativa de uma ocasião oportuna. Essa oportunidade foi ofertada por Jesus. É isso que ocorre em nossa vida. É Deus que nos concede as oportunidades de nos aproximarmos de Seus ensinamentos, mas é necessário, de nossa parte, saber aproveitar esses momentos. Não foi à toa que, estando já em casa de Zaqueu, Jesus contou a Parábola dos talentos (ou das minas), narrada por Lucas nos versículos 11 a 28 do mesmo Capítulo 19. Os talentos são as oportunidade que Deus nos concede e que cabe a nós saber aproveitar.
* Ele correu adiante, subiu a um sicômoro para o ver, quando Ele passasse por ali.
Sicómoro
Sicômoro - também conhecida como figueira-brava
Zaqueu era pequeno de estatura e, no improviso, não pensou duas vezes: subiu numa árvore, típica da região, chamada sicômoro. Nesse momento, descobrimos algo da personalidade de Zaqueu: era um homem prático, de decisões rápidas, utilizando, de maneira inteligente, aquilo que estivesse ao seu alcance.
Encontramos aqui outro detalhe importante: Zaqueu "subiu" na árvore para ver Jesus passar. Geralmente, não estamos dispostos a "subir" para Jesus; queremos que Ele "desça" até nós! Ao invés de nos elevarmos espiritual e moralmente para nos aproximarmos mais dEle, esperamos, comodamente, que Ele se aproxime de nossa pequenez espiritual.
Há igualmente outro detalhe que não pode deixar de ser notado. É a questão da árvore. Naquele momento ela serviu de apoio para Zaqueu. Esse fato representa o seguinte: somente com o apoio de nossas intenções mais elevadas, acompanhadas de atitudes decisivas, é que poderemos nos destacar espiritualmente, chamando a atenção da Espiritualidade Maior para nossa situação particular. O sicômoro representa o conjunto de boas ações que nos servirão de apoio para merecermos a atenção dos Benfeitores Espirituais.
* Chegando Jesus àquele lugar e levantando os olhos, viu-o e disse-lhe: 'Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que eu fique hoje em tua casa.'
Essa passagem do Evangelho nos leva a uma reflexão mais profunda no sentido de perguntarmos a nós mesmos: o que temos para oferecer a Jesus caso Ele nos dissesse: "É preciso que eu fique hoje em tua casa." ? Antes de receber Jesus em sua residência, Zaqueu, naquele momento, recebeu o Mestre em sua "casa" interior, em seu coração. Materialmente, ofereceu um jantar ao Mestre e àqueles que O acompanhavam. Mas, espiritualmente, fez muito mais. Ofereceu sua pronta e completa renovação espiritual, não por palavras, mas por ações práticas, imediatas, beneficiando, a um só tempo, a todos aqueles que o serviam e a quem tivesse prejudicado.
* Vendo isto, todos murmuravam e diziam: 'Ele vai hospedar-se em casa de um pecador...'.
Notamos aqui a indignação dos que acompanhavam Jesus, incluindo os próprios discípulos. Essa atitude é muito típica do ser humano. Quando as bençãos divinas se dirigem a alguém que nos seja inferior, seja material ou espiritualmente, seja intelectual ou socialmente, aceitamos o fato "numa boa"; até nos sensibilizamos, considerando como é grande a misericórdia divina. Mas, se essas bençãos são estendidas àqueles que, de alguma forma, são superiores a nós, aí descambamos para o despeito e a inveja... Zaqueu simboliza todos aqueles que, embora não tenham necessidades de ordem material, sofrem moral e/ou espiritualmente, talvez dores mais atrozes do que a penúria material. Mas, nós julgamos sem piedade esses casos; foi o que fizeram aqueles que acompanhavam Jesus naquele momento...
* Zaqueu, entretanto, de pé, diante do Senhor disse-lhe: 'Senhor, doravante dou a metade dos meus bens aos pobres, ...
Zaqueu nada pediu a Jesus, nem para si, nem para seus familiares ou amigos; ao contrário, ofereceu de si, o máximo ao seu alcance. Vejamos que ele estava "de pé". Essa postura demonstra sua prontidão, material e espiritual, para realizar o que prometera ao Mestre; interiormente, não tinha dúvidas, tamanha a alegria que sentia naquele momento de renovação em sua vida e por ter certeza de que Jesus sabia que suas intenções eram sinceras. Sentia-se compreendido e isso o deixava imensamente feliz!
O interessante é que Zaqueu não falou em repartir dinheiro mas sim "metade dos meus bens". Curioso não é mesmo? Esses "bens" que ele possuía englobavam não somente a parte material, propriamente dita, mas toda a sua influência e experiência acumulada ao longo de sua vida como homem público. Somente o dinheiro não basta para quem deseja efetivamente auxiliar quem necessita... Zaqueu era muito inteligente!
* ... e, se tiver defraudado alguém, restituirei o quadruplo.'
Mais uma vez, Zaqueu demonstra humildade, colocando em prática um dos ensinamentos de Jesus: reconciliar-se com os adversários, enquanto se está a caminho com eles. Além disso, é ele que toma a iniciativa de ir em busca daqueles a quem havia lesado financeiramente, sanando o prejuízo com uma quantia quatro vezes maior do que era devido!
* 'Hoje entrou a salvação nesta casa; porquanto também este é filho de Abraão. Pois o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido.'"
Complementando a alegria de Zaqueu, Jesus estende suas bençãos a todos daquela casa. Esse fato nos ensina que, num grupo familiar, basta que um sirva de exemplo, para que todos sejam beneficiados pela vivência do Evangelho. Jesus finaliza dizendo que todos necessitamos da providência divina, sem distinção alguma.
---
Zaqueu mereceu. E nós? Ao longo de nossa vida, o que temos feito para nossa elevação espiritual? O que temos produzido para alcançarmos a atenção da Espiritualidade Superior, a qual representa Jesus junto a nós? Será que já estamos prontos para nos tornarmos merecedores de Sua sublime visita à nossa "casa" interior? Pensemos nisso...
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