Jesus, Zaqueu e a Árvore
A leitura do Novo Testamento livre das concepções cristalizadas pelo secular imaginário religioso cristão, abre um universo de beleza e segurança, tendo como alicerce as sólidas, não inflexíveis, lições morais trazidas pelo Mestre Jesus. O “Reino de Deus” emerge com força por todo o texto, concebendo a vida plena e feliz. Tudo no Evangelho pode ser contestado, com exceção dos ensinamentos morais do Cristo, em sua abrangência cada vez maior, quanto mais elevada se torna a capacidade humana de análise e prática dos conteúdos apreendidos. Assim, o Evangelho é luz para quem sabe abrir os olhos.
Encontramos em Lucas, do versículo 1 ao 10, no capitulo 18, uma história que, independentemente das discussões estéreis sobre sua real ocorrência, aponta para uma série de temas que podem ser desdobrados em inúmeros outros temas, dependendo da abertura de consciência e vontade de aprender. A história de Zaqueu, homem rico por suas atividades de acumulação econômica, tão comuns na história humana, capaz de qualquer artifício quando visualizava um ganho financeiro.
Este homem buscou o Cristo, em uma passagem por sua cidade, Jericó (Lc 10: 1 e 2), tocado pelas notícias que ouvira, relatando os prodígios do carpinteiro pobre, arrebanhando almas através de curas públicas mas, principalmente, pelo toque consciencial presente em seus exemplos e ensinamentos. Zaqueu foi às ruas com objetivo de encontrar Jesus. Uma tarefa que não foi difícil devido ao burburinho da multidão que o acompanhava. Postou-se em um dos caminhos do Mestre, no alto de uma árvore para melhor vê-lo, pois com a sua pequena estatura, seria obstruído facilmente pela multidão (Lc 10: 3 e 4).
E o Mestre se aproximou com a turba sedenta pelo alimento moral da suas palavras. Ao passar pela árvore, o Cristo percebeu e chamou Zaqueu para descer e se aproximar, informando-lhe que estaria em sua casa para a refeição (Lc 10: 5 e 6). Essa atitude não foi aceita por muitos que estavam ao seu redor, pois o preconceito social e religioso, não permitia a compreensão de que um homem retira dos seus erros os futuros acertos (Lc 10: 7). O Mestre, acima dessa concepção moralmente rasteira da humanidade, viu em Zaquel mais um dos seus seguidores e o convidou para integrar a comunidade dos que já compreendiam melhor sua mensagem divina.
A busca de Zaqueu por Jesus é atitude daqueles que aspiram a liberdade dos próprios defeitos morais: “E procurava ver quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura” (Lc 10: 3). Não conseguimos entender a mensagem do Cristo se estivermos no mesmo padrão de pensamento da humanidade, onde o orgulho ainda impera em parceria com o egoísmo. A multidão humana possui olhos voltados para si, dividindo-se, excluindo-se, agindo preconceituosamente, praticando agindo preconceituosamente, praticando atos escusos para alcançar qualquer artifício para ganhos pessoais. Mas, Zaqueu estava determinado a realizar o seu encontro com o Cristo: “E, correndo adiante, subiu a um sicômoro para o ver; porque havia de passar por ali” (Lc, 10: 4). A simbologia da subida na árvore nos remete a reflexões sobre o despertamento interior do Reino de Deus. Devemos nos elevar em bases sólidas, buscando conhecer profundamente a intimidade da nossa mente.
A árvore encontra-se sabiamente fincada no solo, mas lança-se ao espaço para captar vida e distribuir frutos. A elevação da nossa mente deve ter bases sólidas, como o Evangelho do Cristo, enquanto se projeta rumo a níveis superiores de compreensão. Zaqueu subiu na árvore da sabedoria, ouvindo os ensinamentos de Jesus. Ele buscou, lutou, agiu, caminhou de encontro ao Cristo. Essa postura baseia-se na humildade. Ao se considerar necessitado de aprendizagem, o ser humano abre os olhos espirituais para Deus, sabendo-se pequenino diante da imensidão do mundo criado pelo Pai. Zaqueu não organizou um encontro utilizando convenções sociais conforme sua posição de homem rico. Humildemente, encontrou em meio à multidão, a inspiração para o encontro. Assim, devemos agir no dia-a-dia. Abrir as portas para Jesus significa nos vermos em meio a um grupo social carente de crescimento moral. Permanecendo no contexto vivido, impedimos que o Cristo chegue. Agindo nesse contexto, para dele extrairmos os elementos já existentes para o crescimento moral, enxergaremos o mundo conforme os olhos de Jesus.
O Cristo, sempre presente em nossos corações, não permite que as oportunidades passem sem aproveitá-las: “E quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa. E, apressando-se, desceu, e recebeu-o alegremente”. Lc, 10:5). O Cristo convida sempre mas só o ouvimos quando nos elevamos em consciência, motivados pelo sincero desejo de crescer. Nesse momento, o Cristo imediatamente penetra nossa casa mental, ultrapassa os umbrais das portas do coração e ceia conosco, o banquete maravilhoso do alimento espiritual presente no Evangelho. Ao percebemos o convite do Cristo, a alegria que nos invade tem origem nas novas compreensões sobre nossa natureza e a formação do mundo ao redor. Para abraçar o Cristo, Zaqueu desceu alegremente da árvore. Desçamos, também, dos pedestais da vaidade e do orgulho, nos postemos em igualdade com todos os irmãos. O Espírito que evolui mais humilde se torna e caminha de braços dados com Jesus.
Mas, a transformação não ocorre sem dores. A própria sociedade ainda moldada conforme valores morais inferiores, reclama obediência a todos. Qualquer um que resolva modificar-se para melhor, irá ser censurado pelo grupo: “E, vendo todos isto, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador” (Lc 10:7). O preconceito fica patente nessa postura das pessoas que acompanhavam o Cristo. Julgaram Zaqueu por sua posição social. Ainda vemos homens denegrindo homens devido à sua opção religiosa, situação econômica, pertencimento a determinada etnia, orientação sexual, entre outros fatores. São os mesmos homens que não aprovaram o encontro de Jesus com Zaqueu. Mas, o mestre veio trazer a mensagem eterna da irmandade planetária. Não se restringiu e nem criou religiões. Veio ensinar para o ser humano. Sabia que sua mensagem passaria séculos sendo digerida, mas seria entendida um dia.
Ao receber Jesus em sua casa, Zaqueu já demonstrou sua mudança de pensamentos: “E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado”. O encontro com Jesus requer o arrependimento inicial. Zaqueu havia construído sua fortuna explorando os cidadãos, como cobrador de impostos. Mas, nesse momento, sua consciência, um conjunto eterno de leis divinas, queimava o orgulho e o egoísmo. Então, ele buscou resolver os conflitos íntimos. Materialmente tratou de devolver aquilo que havia ganhado, retirado dos que já possuíam pouco. Vamos agir também. Devolvamos ao mundo, multiplicado, os benefícios que dele recebemos. Espalhemos compreensão, recuperando as muitas discórdias que já semeamos. Não precisamos enriquecer como Zaqueu, pois a riqueza moral está no coração e não cabe em nenhum bolso ou conta bancária.
Nesse momento de elevação moral, ouviremos o amigo incondicional felicitar-nos: “Hoje veio a salvação a esta casa”
Cristiano Fadel
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