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ZAQUEU E LEÃO TOSTOI NO MUNDO ESPIRITUAL. PELO ESCRITOR ESPÍRITA SEVERINO BARBOSA
Data: 9 ago 2017
Autor: blogdobrunotavares
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Desde que passei a me interessar mais intensamente pelos estudos do Evangelho, percebi que uma das figuras evangélicas admiráveis daqueles velhos tempos do Cristianismo primitivo foi Zaqueu, chefe dos publicanos, o qual prendeu-me singular atenção.
Segundo informações de Lucas, evangelista e discípulo de Paulo de Tarso (19:1-10), depois que Zaqueu recebeu Jesus em seu lar, como hóspede especial, passou a existir entre ambos uma forte e perene amizade. É que o Mestre, ao passar pela cidade de Jericó, acompanhado dos apóstolos, mulheres, homens, crianças e muitos judeus curiosos, para surpresa de todos, dirigiu seu olhar para o alto e, vendo o chefe dos publicanos, disse-lhe estas palavras: “Zaqueu, dá-te pressa em descer, porquanto preciso que me hospedes hoje em tua casa”.
O convite ao publicano foi oportuno. O Mestre estava consciente da grande importância do encontro que, de uma vez por todas, transformaria a vida de Zaqueu. E este, em invejável testemunho de humildade, postou-se ante Jesus e disse-lhe: “Senhor, dou a metade dos meus bens aos pobres; e, se causei dano a alguém, seja no que for, indenizo-o com o quádruplo”.
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A proposta do chefe dos publicanos é uma prova inequívoca da força do seu caráter. Demonstrou considerável senso de justiça e desapego dos bens materiais, duas virtudes raríssimas e, quando pronunciadas pelos homens, são mais teóricas do que práticas. Claro que o Mestre conhecia Zaqueu e sabia que ele falava a verdade, tanto que lhe respondeu nestes termos: “Esta casa recebeu hoje a salvação, porque também este é filho de Abraão. Visto que o Filho do Homem veio para procurar e salvar o que estava perdido”.
É interessante consignar, no entanto, que o fato de Jesus se haver hospedado na residência de Zaqueu, embora homem afortunado e bastante influente junto à comunidade de Jericó, mas por outro lado, considerado pelos judeus desprezível pecador, foi interpretado como verdadeiro escândalo pelos fanáticos seguidores do Judaísmo. Isto, porque era ele um publicano, ou seja, funcionário de César com atribuições de cobrar impostos dos judeus para Roma, tributos que eles consideravam extorsivos. Era esse, portanto, o motivo da profunda aversão que os judeus nutriam contra os romanos, desde que o império de César tornou a Palestina mais uma das suas diversas províncias.
Os judeus, maliciosamente, julgavam que Zaqueu havia enriquecido desonestamente. Portanto, sua fortuna era duvidosa. Claro que para eles, se o Mestre se fizera amigo e orientador daquele publicano, certamente eram de índoles semelhantes. Jesus tinha outro conceito sobre Zaqueu. Para o Mestre, no momento em que o chefe dos cobradores de tributos o recebeu em sua casa, ele já estava pronto para assimilar a mensagem da Boa Nova e, assim, iniciar o processo de sua mudança interior, para se libertar da condição de “homem velho” para “homem novo”, na feliz expressão do apóstolo Paulo de Tarso. E de acordo com a simbologia evangélica, o afortunado Zaqueu, naquela oportunidade, era o fruto amadurecido para a compreensão das coisas espirituais, ensinadas por Jesus de Nazaré.
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Todavia, que tem a ver este preâmbulo sobre o famoso personagem evangélico com Leão Tolstoi, o genial escritor e romancista russo, da época dos czares?
Tem, sim!… Senão, vejamos.
O Espírito Leão Tolstoi, no capítulo I de seu livro Ressurreição e Vida –, psicografado pela médium Yvonne A. Pereira (edição FEB), conta-nos que em costumeiro passeio pelo mundo invisível sentiu–se atraído para um grupo de Espíritos que constitui a pequena assembléia em forma de círculo, à moda oriental, todos sentados pelo chão e recebendo aulas de um mestre de baixa estatura, que mais parecia um discípulo de Jesus.
Narra o autor de Ressurreição e Vida, em sua linguagem simples e estilo suave, que o ambiente espiritual que rodeava a assembléia de estudantes espirituais era de uma beleza jamais vista por ele, dando a impressão de que o tempo recuara dois milênios, como se todos ali presentes estivessem no seio das vastas planícies de trigo da velha e encantadora Galiléia, por onde peregrinavam Jesus e seus diletos discípulos.
Leão Tolstoi, embevecido pela deslumbrante paisagem espiritual que se desdobrava à sua frente, descreve-a: “A luz da aurora, inalterável, incidia suavemente sobre o grupo e a pradaria em torno, com irradiações de madrepérola esbatendo claros e sombras tão singulares que eu desafio, a todos os artistas que têm passado pela Terra, a reproduzirem em suas telas um só daqueles celestes reflexos que então tive a ventura de contemplar”
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Tolstoi, empolgado e curioso, ao se aproximar do grupo, atraído por uma estranha força magnética, que não era outra senão a que aproxima os Espíritos afins, escutou uma voz do meio da assembléia solicitar ao mestre, que chamou Zaqueu, falasse de si mesmo, dos tempos apostólicos, das pregações de Jesus sobre o Evangelho, a fim de que tais informações servissem de estimulantes lições para todos.
– Zaqueu!…
Sobressaltou-se Leão Tolstoi.
“– Mas seria aquele que subiu ao sicômoro, quando o Senhor entrava em Jericó, para vê-lo passar?… Seria aquele em cuja casa Jesus se hospedara? que oferecera ao Mestre um festim, enquanto o reino de Deus era mais uma vez ensinado aos de boa vontade, entre os convivas?… Seria possível, mesmo, que eu me encontrasse em presença de um Espírito que fora “publicano” ao tempo do Senhor, na Judéia; que viesse a conhecer alguém que, por sua vez, houvera conhecido a Jesus Cristo?…”
O Espírito Tolstoi se convenceu de que realmente estava à frente de Zaqueu, aquele que fora publicano ao tempo de Nosso Senhor Jesus Cristo. E percebeu, admirado (porque chegara ao recinto sem exibir credenciais, nem sequer apresentações), que aquela pequena assembléia retratava exemplar modelo de democracia, em tudo por tudo grandiosa em moral e fraternidade. Sentia-se no meio de verdadeiros irmãos espirituais, desprovidos de malícia e de quaisquer espécies de preconceitos. Era uma democracia toda cristã, a mesma que ele idealizava para a Rússia e o mundo, ao tempo em que esteve reencarnado, e que, como homem dedicado à Literatura, já “[…] observava o Mal perseguindo o Bem, a Força dominando o Direito, a Treva sobrepondo-se à Luz”.
O romancista do além-túmulo, felicíssimo por haver sido acolhido pelo grupo como aluno do ex–cobrador de impostos para os romanos, assim retrata a figura do antigo publicano de Jericó: “Olhei-o, àquele a quem haviam chamado Zaqueu. Semblante sereno, bondoso, enternecido, ainda jovem. Olhos cintilantes e perscrutadores, como alimentados por uma resolução invencível. Lábios finos, queixo estirado, com pequena barba negra em ponta, recordando o característico fisionômico dos varões judaicos. Tez alva, sobrancelhas espessas, mãos pequenas, pequena estatura, coifa discreta, listrada em azul forte e branco, manto azul forte, barrado de galões amarelos e borlas na ponta […]”
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O autor espiritual encerra a descrição: “[…] eis a materialização do homem que teria sido, há dois mil anos, aquele Espírito que assim mesmo se apresentava a seus ouvintes do mundo espiritual, disposto a cativá-los através da ‘regressão da memória’ a essa personalidade remota que tivera sobre a Terra”.
Eis aí, pois, um belo retrato do publicano Zaqueu, com residência e domicílio no mundo dos Espíritos.
O autor de Ressurreição e Vida, prosseguindo em sua narrativa, afirma que o Espírito Zaqueu declarou de viva voz perante a assembléia dos desencarnados, confirmando as informações registradas pelo evangelista Lucas, que, ao deixar a cidade de Jericó e se desligar das funções de cobrador de impostos da alfândega romana, logo após esse acontecimento, cumpriu fielmente a promessa que fizera a Jesus, partilhando todos os seus bens e recursos financeiros; uma parte doou aos pobres, outra parte à sua família, distribuiu as propriedades rurais entre os camponeses mais necessitados e, finalmente, reservou apenas o necessário para o seu sustento, por algum tempo. E como que desejando provar sua fidelidade ao Cristo, acrescentou o ex-publicano: “[…] Fizera-me errante e vagabundo para acompanhar os discípulos e ouvi-los contar às multidões as conversações íntimas que o Senhor entretivera com eles, antes do Calvário e depois da gloriosa ressurreição”
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Zaqueu foi ouvir Paulo de Tarso, em Jerusalém. Sensibilizado com a narrativa do Apóstolo sobre o seu encontro com o Cristo, na estrada de Damasco, “[…] daquele dia em diante [afirma] tudo se modificou em minha vida. Nunca mais deixei Paulo, até hoje!”
O ex-publicano de Jericó era culto. Conhecia profundamente as letras e as matemáticas. Dominava bem o hebraico (língua oficial dos judeus), o latim e o grego, além de falar fluentemente os dialetos da Galiléia, da Judéia e da Síria, usados em Jerusalém.
Com toda essa bagagem cultural, que sem dúvida o capacitara a qualquer gênero de atividade intelectual, quando os recursos se tornavam escassos, Zaqueu se apresentava às escolas mantidas pelas Sinagogas, como professor auxiliar dos escribas, ou dava aulas particulares aos filhos dos afortunados rabinos de Jerusalém.
Finalizando, passo a palavra ao Espírito Tolstoi: “Foi esse um dos mestres que encontrei aquém do túmulo. [Refere-se a Zaqueu.] Seus ensinamentos, os exemplos de ternura em favor do próximo, que me deu, revigoraram minhas
forças. Sob seus conselhos amorosos orientei-me, dispondo-me a realizações conciliadoras da consciência”.
Recomendamos a leitura do livro Ressurreição e Vida.
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