Estudando o Espiritismo

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terça-feira, 31 de julho de 2012

JESUS CAMINHA SOBRE AS ÁGUAS


(Mt 14:22-33; Mc 6:45-52; Jo 6:15-21)

"Logo depois ordenou Jesus aos discípulos que embarcassem e o precedessem na outra margem, enquanto despedia o povo. Tendo-o despedido, subiu ao monte, para rezar num lugar retirado. Ao cair da noite, estava lá, sozinho. Entretanto, a barca já ia a longa distância da terra, estava açoitada pelas ondas, porque o vento era contrário. Lá pelas três horas da madrugada foi ter com eles, caminhando sobre o lago. Ao vê-lo andar sobre as águas, ficam os discípulos assustados. "É um fantasma!, diziam: soltando gritos de pavor. Mas logo Jesus lhes disse estas palavras: 'CORAGEM! sou EU; NÃO TENHAIS MEDO. Então Pedro respondeu: "Senhor; se és tu mesmo, dá-me ordem de ir ao teu encontro sobre as águas". Jesus lhe disse: "VEM!". E Pedro descendo da barca, foi ao encontro de Jesus. Percebendo porém, a fúria do vento, ficou atemorizado; e, começava afundar, gritou: "Salva-me, Senhor!". No mesmo instante, Jesus estendeu a mão e o segurou, dizendo: 'HOMENS DE POUCA FÉ, POR QUE DUVIDASTE? . E ao subirem eles à barca parou o vento. Então os que estavam na barca prostraram-se diante dele, dizendo: "Tu és verdadeiramente o Filho de Deus!" (Mt 14:22 a 33).

Kardec dá duas alternativas para uma melhor análise do fenômeno, tendo por base as leis da Natureza; em ambas hipóteses é possível a ocorrência de tal fato:

1 - Jesus, embora vivo, pôde aparecer por sobre as águas, de forma tangível, estando seu corpo em outro local (aparições tangíveis). Foi um fenômeno de emancipação da alma, que em seguida, se tornou tangível.

2 - A outra hipótese supõe que seu corpo fosse sustentado pela neutralização da gravidade pela mesma força fluídica que mantém no espaço um objeto, sem qualquer ponto de apoio.

O processo é envolver-se o Espírito com "atmosfera fluidica" que dá leveza especifica, como o ar nos balões (por analogia), permitindo a levitação. Hoje, sabe-se, também da força magnética que faz barcos andarem sobre um "colchão de ar".

Obs.: Ler GE, cap. XV; itens 41 e 42.

A Cura Definitiva


A Cura Definitiva

João da Silva Carvalho Neto
O Espiritismo caminha a passos largos para o cumprimento de seu desiderato na Terra. As idéias propostas na lucidez do pensamento Kardequiano granjeiam novos adeptos, transformando as acanhadas fileiras vitimadas pelas perseguições do passado em multidões de seguidores que quase dão um caráter de modismo ao movimento espírita.
Entretanto, os anseios imediatistas ainda povoam as mentes desprevenidas que esperam encontrar curas miraculosas ao abraçar a crença religiosa.
Lembramo-nos da pergunta de Pedro a Jesus, diante da decepção do jovem rico: "Eis que nós deixamos tudo, e te seguimos; que receberemos?" (Mt 19-27), e sentimos que, na verdade, ela encontra eco nas expectativas de uma larga legião dos modernos cristãos. Para muitos, o Espiritismo continua a ser a mesma tábua de salvação buscada em outros caminhos, onde todo o mal e toda a dor deveriam desaparecer.
Certa feita, ouvimos uma discussão acirrada, em uma casa espírita que visitávamos, sobre se o Espiritismo cura. Ainda hoje acreditamos ser polêmica essa questão, mas que se define na medida em que constituamos o que se entende, ou melhor, se espera por cura.
Se falamos da cura do corpo, certamente que não. Quem cura são os médiuns curadores, os serviços de passe, a água fluidificada, que utilizamos nos centros espíritas, mas que não são A Doutrina Espírita. São explicados e aplicados por ela, sem que dela se constituam postulado fundamental.
Postulados espíritas são a existência de Deus, a imortalidade da alma, a reencarnação, a pluralidade dos mundos habitados, a comunicabilidade entre os vivos e os chamados mortos. Muitas práticas estão incorporadas às atividades espiritistas por serem correlatas com a sua doutrina, contudo não compreendem uma ideologia, apesar de nela serem elucidadas.
Agora, se falamos da cura da alma, do espírito imortal, nenhum receituário jamais enunciou tantos medicamentos que nos libertassem do sofrimento. Na medida em que esclarece as leis da vida, e sua relação prática com o cotidiano, prepara o retorno ao estabelecimento da saúde espiritual, em toda sua plenitude. Não de inopino, é claro, já que o tempo de recuperação sempre estará ligado ao grau de comprometimento com o erro e ao esforço por se modificar em função da responsabilidade que se adquire com o saber. Dez anos, cinqüenta anos, duas encarnações, não se sabe. Velho provérbio budista afirma que "se não for em sete dias, ou em sete anos, será em sete reencarnações". Como conseqüência do aprimoramento espiritual, as doenças do corpo, que são reflexos das imperfeições do espírito, deixarão de existir, e este encontrará também a saúde.
A diferença está em que enquanto os serviços de passe, os médiuns curadores, a água fluidificada, objetivam atender ao corpo, físico ou espiritual, beneficiando-lhe mas sem imunizá-lo contra a recidiva, a aplicação do pensamento espírita reformula a própria postura do espírito diante da vida, e, como nele se alojam as matrizes primárias das enfermidades, a cura será definitiva.
Como dissemos alguns parágrafos atrás que, se falamos do corpo, certamente o Espiritismo não o cura, acho que acabamos nos contradizendo.
Talvez a Doutrina Espírita cure mesmo. Talvez seja ela a tábua de salvação para as dores do mundo. A questão continua a ser o que na verdade queremos curar; o que precisamos curar. Quanto tempo estamos dispostos a esperar. Quanto sacrifício nos dispomos a doar. E saber, por fim, se queremos a felicidade transitória do mundo ou a paz dos bem-aventurados com Jesus.
(Jornal Mundo Espírita de Outubro de 1997)

Palestra - Cura na visão espírita

http://www.youtube.com/watch?v=I6PiIHyp5LA

A CURA NA VISÃO ESPÍRITA


- uma análise baseada nas curas de Jesus -

Andrei Moreira *

A cura na visão da OMS

A saúde, na definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) está definida como um “estado de completo bem estar físico, psíquico e social e não meramente a ausência de doenças”. Essa definição, embora bastante ousada e vanguardista, data de 1949 e representa o ideal que todos nós perseguimos, mas que não conseguimos alcançar. Não conseguimos porque diante dos inúmeros desafios na vida, raros são aqueles que conseguem manter o equilíbrio em todas as áreas, quanto mais o completo bem estar, como pretende a OMS. A prática de saúde atual, a despeito de todos os avanços científicos, apresenta-se fragmentada e focada na super-especialização e no tecnicismo, e está muito longe de fornecer ao indivíduo recursos de auto-conhecimento, instrução e auto-amor que o capacite a sedimentar a busca pela saúde de forma eficaz e permanente,

A cura na visão espírita

Na visão espírita, a saúde é entendida sob o prisma da imortalidade da alma e as experiências de vida como construções pessoais, intransferíveis. Emmanuel nos afirma que “Saúde é a harmonia da alma”, dando-nos a orientação precisa para compreender que o foco de atenção é o espírito imortal, viajante da eternidade, construtor de seu destino e mantenedor dos estados íntimos que constituem a saúde e a doença.
Harmonia significa sintonia com seu momento de vida, seu estágio de amadurecimento, suas necessidades psicológicas, sociais e biológicas, bem como integração com o meio e interação consciente e útil com a sociedade e o universo. Harmonia não depende de ausência de doenças, podendo se manifestar mesmo na presença destas. Chico Xavier trazia o corpo coberto de enfermidades e o coração pacificado em Deus, harmonizado com sua proposta e sua missão. Já Hitler, pegando os extremos como exemplo, trazia o corpo aparentemente saudável e a alma desarmonizada, desconectada com o seu papel no universo e em seu momento evolutivo. Harmonia representa o resultado do plantio, a resposta da vida à busca consciente por sentido e significado mais profundos, por entendimento de si mesmo e seu papel no atual contexto encarnatório, mas, sobretudo, a conseqüência natural das ações no bem particular e coletivo.
Joseph Gleber, no livro O Homem Sadio, nos propõe que ‘Saúde é a real conexão criatura-criador e a doença o contrário momentâneo de tal fato’, rementendo-nos a reflexão à relação do ser com o Pai, com a fonte de sabedoria e supremo amor. O apóstolo João nos informa que “aquele que não ama não conhece a Deus porque Deus é amor” (I João 4:8). Jesus, a manifestação direta do Pai, o “melhor e maior modelo dado por Deus aos homens (LE q625), nos advertiu que sadio, portanto, é aquele que ama, independente de sua crença, de sua posição social, econômica, política ou religiosa, visto que o amor é a síntese da ética cósmica, a própria expressão do criador, no qual “vivemos, existimos e nos movemos”, conforme asseverou Paulo de Tarso (Atos 17:28).
A cura, na visão espírita, é resultado de um movimento pessoal, de um encontro do ser consigo mesmo e com o Deus que habita em si. Ela é fruto do despertar gradual que o espírito realiza enquanto caminha em direção à morada do Pai (sua intimidade), retornando ao seio daquele que é todo justiça, poder e bondade. É resultado da harmonia que é conseqüente ao esforço de auto-superação e desenvolvimento das potencialidades amorosas da alma, virtudes divinas existentes em gérmen na intimidade humana.

A cura segundo Jesus

“E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias no meio do povo...” (Mateus 4: 23). Se analisarmos a postura terapêutica do Cristo e suas curas, encontraremos farto material simbólico e arquetípico a nos direcionar o pensamento e o sentimento para a consciência de nosso papel co-criador e auto-curativo. Analisaremos cinco curas, de forma integrada, propondo uma visão possível dentre as inúmeras sugeridas pela ação crística.
Narra-nos o evangelista Marcos (Marcos 10: 46-52), que Jesus passava pela cidade de Jericó, acompanhado por grande multidão, quando um cego que mendigava à beira o caminho, de nome Bartimeu, o filho de Timeu, ouvindo que a turba se aproximava e que o messias nazareno se encontrava dentre eles, começou a clamar: Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim. E clamava em altos brados e de tal forma que os que acompanhavam Jesus o advertiram para que não molestasse o mestre. Ele, tocado em suas fibras mais íntimas, sentindo certamente que seu momento de despertar espiritual era chegado, clama sem cessar até que o mestre, parando, manda que ele venha ter com ele. Interessante a postura de Jesus, que não vai até o cego, não se compadece do mendigo à maneira habitual, acreditando-lhe necessitado eterno. Ele ordena que ele, mesmo cego, levante-se e vá ter com ele, que se encontra no meio da multidão. Narra-nos o evangelista que Bartimeu, lançando de si a capa (tudo aquilo que encobria seu ser), levanta e vai ter com Jesus. O filho de Timeu, esquecendo-se de suas ilusórias limitações, levanta-se, mostra-se tal qual é, resgatando sua espontaneidade e naturalidade ao influxo da palavra do mestre e busca Jesus. Importante observação para todos aqueles que vivem a vida à semelhança do mendigo de Jericó, à espera da migalha alheia na forma de afeto, atenção, consideração e valor pessoal, sem conhecer as próprias capacidades e belezas, sem encarar a sua possibilidade de enfrentar a multidão dos seus desafios pessoais com otimismo e confiança em si mesmo e na vida. Tomar a iniciativa de buscar a Jesus é imprescindível atitude no caminho de reequilíbrio, pois o Cristo representa as leis divinas, a moral e a ética cósmica, transpessoal, capaz de nortear, como uma bússola segura, a nau que ameaça soçobrar nos mares da existência em busca de porto firme... Quando Bartimeu alcança Jesus, o divino pedagogo, conhecedor profundo da alma humana lhe questiona: que queres que te faça? Certamente que o Cristo, enviado celeste, sabia o que tinha para oferecer, mas àquele que busca a cura torna-se essencial a consciência do processo. Bartimeu tinha desejos, expectativas, visões que foram validadas pelo Mestre quando lhe questionou a que veio e o que desejava dele. E o filho de Timeu, tocado em sua alma pela sabedoria e maturidade lhe respondeu: Senhor, que eu veja... que eu possa enxergar os caminhos da vida por onde minhas pernas haverão de trilhar, por onde haverei de buscar a minha felicidade e a minha alegria, a realização de minha alma... Que eu veja os roteiros de luz que tu tens para me indicar a fim de que possa restabelecer a minha auto-estima e sedimentar a minha confiança na rocha firme das convicções profundas que me direcionem para a auto-sustentação e auto-gerência com dignidade e eficácia na busca pela felicidade... E as vistas de Bartimeu se abrem por ordem de Jesus, que afirma-lhe que a sua fé o havia salvado, o seu amadurecimento o havia libertado. Jesus representa o eterno amor de Deus disponibilizado para as criaturas, incondicionalmente, à espera de que estas possam usufruir desse estímulo e sustento divino na conquista de si mesmos.
Mas Jesus continua sua caminhada e vamos encontrá-lo agora na varanda do templo de Jerusalém, à beira do tanque de Betesda, ou piscina das ovelhas, como era conhecido aquele tanque cujas propriedades da água, acreditava-se, eram milagrosas. De tempos em tempos um anjo viria do alto a balançar as águas e o primeiro que lá dentro se atirasse seria curado de suas enfermidades. E essa crença era de tal forma arraigada naquele povo, que uma multidão se acotovelava naquelas paragens à espera de um milagre. Assim também a humanidade atual, que acredita que as respostas para seus dramas e a cura para as doenças do corpo e da alma virão exclusivamente de fora, da ciência, da psicologia ou da religião, e aguardam imóveis a solução miraculosa que as liberte de seu sofrimento e de seu vazio interior. Narra-nos o evangelista João (João 5: 1 – 15) que naquele local estava um homem que há 38 anos jazia enfermo, deitado sobre um catre, aguardando a cura de sua enfermidade. Jesus, em nova postura terapêutica, não aguarda seu pedido, não o conclama a vir até ele, mas reconhecendo a circunstância educativa em que o homem se inseria, vai até ele e chama-lhe pelo nome dizendo: queres ficar são? O paralítico, ainda mergulhado na parcial ilusão de sua dependência, mas certamente já amadurecido pelos anos de enfermidade e reflexão, responde a Jesus que esse era seu desejo, mas tão logo o anjo balançava as águas da piscina, outro se atirava à sua frente e ele não conseguia a cura almejada. Vigora ainda hoje na humanidade a crença de que a cura, a felicidade e a realização são frutos de disputa e que uma vez o outro tendo conquistado-a não há espaço para conquistas semelhantes ou mesmo que as haja, a disputa, a inveja e a comparação destróem as melhores aspirações... Jesus, ignorando a ilusão na alma do doente lhe chama à ordem e ao equilíbrio determinando, com seu magnetismo vigoroso, que ele se levantasse, tomasse a sua cama e andasse. A paralisia é curada e o homem tem seus membros, dantes atrofiados, rejuvenescidos e agora vigorosos para caminhar pela vida com liberdade e consciência de seu papel e dever perante si mesmo, o outro e Deus. Na seqüência da narrativa, Jesus encontra-lhe no templo, local dedicado à adoração ao Pai e o Cristo, percebendo-lhe em adoração íntima e verdadeira, presenteia-o e a nós todos com a lição magistral: “eis que já estás são (pois que reconectado ao criador); não tornes a pecar para que não te suceda algo pior”. O pecado, quando exprimido por Jesus, segundo estudiosos, tinha sentido bem diferente do que entendemos hoje. A palavra hebraica que o originou, traduzida para o grego, segundo o teólogo Jean Yves Leloup, dizia-se Hamartia, que ‘em sentido literal significa: perder o eixo, o centro, visar ao largo, ao lado, estar fora do alvo”. Assim como ele advertiu a mulher considerada adúltera (João 8:3-11), mostrando-lhe a ausência de julgamento exterior e integrando-a na posse consciente de sua experiência de vida, para que fosse e não pecasse mais, ele advertiu ao ex-paralítico da piscina e a todos nós, para que diante dos insucessos de nossos caminhos evolutivos, não nos deixássemos dominar pela culpa, orgulho e desânimo, recomeçando sempre a busca pela cura de nossas almas e o encontro da paz. Ao ex-paralítico Jesus pareceu querer dizer que agora que suas pernas estavam reabilitadas e seu coração entregue ao Senhor, que ele redimensionasse seus objetivos, propósitos e instrumentos para alcançar os alvos destinados pelo seu interesse e coração, na conquista da felicidade permanente em sua alma. Sem culpas, sem medos, sem amarras, mas com coragem, que, literalmente, significa agir com o coração. Percebemos aqui que o olhar restabelecido no cego de Jericó tem a continuidade nas pernas revitalizadas na piscina de Betesda. Mas Jesus prossegue e não pára por aí...
Em Lucas 17:11-19 vamos encontrar o mestre diante de dez leprosos, os portadores antigos do mal de Hansen da atualidade, infecção bacteriana pelo bacilo de Koch que naquela época era desconhecida. Essa doença caracteriza-se por afetar, predominantemente, o sistema nervoso e tegumentar (a pele e camadas mais superficiais), gerando lesões de grande impacto e sofrimento, nas fases mais avançadas da doença. Sem acesso à real compreensão da moléstia, os portadores da Lepra eram discriminados e estigmatizados pela sociedade, que os considerava impuros e os proscrevia em sociedades isoladas da comunidade majoritária, nos chamados vales dos leprosos, onde sofriam na solidão e no quase total abandono o avanço da doença. Aqueles doentes observavam Jesus de longe, sem coragem de se aproximarem, seguindo os preceitos sociais da época. O Cristo, em nova postura terapêutica, vendo-os se compadece e manda que eles se dirijam ao sacerdote e a ele se apresentem. Mandava a lei mosaica que quando um leproso fosse curado pelo poder divino, que ele devia se apresentar ao sacerdote para que fosse considerado purificado e pudesse se reinserir na sociedade de origem. Enquanto se dirigiam para o templo, ficaram curados e se maravilharam disso. Dos dez, apenas um retornou a agradecer ao senhor e a bendizer-lhe a intervenção divina. Jesus, vendo-o, questionou: não foram dez os curados? Onde estão os outros nove? E sem aguardar resposta disse: vá, a tua fé te curou. Embora a intervenção do alto se dê indistintamente, poucos são aqueles que cogitam de cura real e aproveitam das divinas concessões para purificar a alma nos caminhos da vida. O amor de Deus, disponível a justos e injustos, testemunha aquilo que Jesus afirmou, ao repetir as palavras do profeta Oséias: “misericórdia quero, e não sacrifício” (Oséias 6:6 e Mateus 9:13). A Hanseníase, nesse contexto, simboliza tudo aquilo que isola e afasta o homem do convívio sadio com os seus, com a sociedade de que faz parte, no cumprimento de seu papel e sua missão. A pele é símbolo da troca, do afeto. É o que nos limita e nos separa do outro, mas também é a fonte da sensibilidade e da percepção a interação com o meio, bem como o sistema nervoso representa a fonte de orientação e ação, o guia e controlador do corpo. Nessa interpretação, os hansenianos simbolizam a doença da separatividade, do isolamento, do preconceito e discriminação, em todas as formas que ela se apresente. Curando-os, Jesus convida a toda a sociedade a se reinserir no seu papel co-criador, a curar as relações que são a fonte da vida e se restabelecer na expressão da sensibilidade e do afeto inerentes às almas que se conectam com a fonte de compaixão, ternura e misericórdia que emana do Pai. Diante do olhar curado de Bartimeu, para enxergar a vida, das pernas restabelecidas do paralitico da piscina de Betesda para caminhar pela vida, Jesus nos direciona os passos convidando o candidato à cura real do espírito a assumir seu papel social como um digno representante de Deus, como um ser consciente que implementa ações transformadoras pelo afeto, que foca nas relações investido de alteridade verdadeira e que busca a sua realização na capacidade de interagir ofertando o seu melhor.
Jesus prossegue o seu caminho e agora vamos percebê-lo na região de Gadara (Mateus 8: 28-34), a encontrar os enfermos que estavam possessos e viviam nos sepulcros, tomados por uma legião de espíritos que com eles se afinizava e entrava em sintonia. Jesus, em postura terapêutica singular, não lhes dá conversa, não perdendo tempo com o mal temporário e apesar de seus protestos liberta os enfermos que haviam cedido a sua vontade à dominação da vontade alheia, pela concordância e aceitação dos pensamentos, ações e sentimentos inspirados, deixando à legião de espíritos transviados no mal a companhia da manada de porcos, símbolo da queda moral, que, perturbada pela vibração adoecida daqueles seres, se agita, precipitando-se no mar. A possessão, representando o estágio máximo do fenômeno obsessivo, simboliza a letargia espiritual, a rebeldia e a dor de estar apartado do bem e da paz. Chama-nos Jesus a atenção para a conseqüência do afastamento do bem e a intensidade de desequilíbrio a que se arroja o ser quando se desvia do amor e dos esforços por conquistá-lo. O mal, sem ter existência real, assim como a sombra, desaparece ao raiar o dia na alma do filho de Deus que deseja reencontrar-se e assumir seu destino com consciência e integridade. A liberdade relativa dada por Deus aos homens limita-se na escolha dos mecanismos de amor e de amar, visto que só há liberdade verdadeira para o bem. Quando nos transviamos na maldade ou na crueldade para conosco mesmo ou para com nosso semelhante, a vida aciona mecanismos automáticos de retorno ao equilíbrio, fazendo a separação do joio e do trigo, ainda que por meio da dor. Jesus simboliza nessa passagem, a intervenção misericordiosa de Deus pondo termo ao conluio de mentes e vontades adoecidas devido ao afastamento do bem. Libertando os endemoniados gadarenos, o Cristo convida a humanidade esclarecida a exercer a sua liberdade para o usufruto dos dons divinos, no exercício da criatividade elevada para o belo e para o bem, a serviço da educação espiritual do ser humano. O olhar de Bartimeu que enxerga os caminhos, que caminha nas pernas do paralítico da piscina de Betesda, a caminho da inserção social necessária e profícua, é agora individualizada na edificação da identidade sagrada e única do filho de Deus que desperta para seguir louvando ao senhor em seus testemunhos diários.
Finalmente, o evangelista nos apresenta a cena em que o Mestre, em dia de sábado, encontra-se no templo a louvar a Deus e desejoso de dar uma lição importante à hipocrisia religiosa dominante naquela época e em todas as épocas, cura o jovem que tinha a mão mirrada dizendo: abra-te, e ela se abriu (Lucas 6: 6 – 11). Feliz é a alma que se encontra no reconhecimento da grandeza do senhor e se identifica com ela, louvando a Deus em toda parte. Mas Jesus testemunha que mais feliz ainda são aqueles que, adorando ao senhor, não se circunscrevem à adoração dos lábios e das atitudes inúteis, fazendo da sua comunhão com o Pai um exercício de fé, vitalidade e amor prático a serviço do semelhante, a serviço do alívio da dor humana e do cultivo do otimismo e da esperança nos corações necessitados. Abrindo a mão do jovem no templo, o senhor sintetiza a proposta de cura do evangelho sugerindo-nos que o adorador de Deus abre as mãos na direção do seu irmão, estabelecendo ligações, conectando as almas e sentindo a todos como família irmanada em Deus, nosso Pai.

Conclusão

Enxergar, caminhar, interagir e integrar, individualizar e finalmente servir, eis a síntese luminosa da proposta de cura da alma expressa no evangelho para o filho pródigo que retorna à casa paterna, em busca de aconchego, trabalho e consideração. “Vai, a tua fé te curou”, representa o coroamento de um trabalho longo de auto-burilamento, auto-consciência e superação pessoal na direção do alvo sagrado da renovação de alma para a felicidade almejada. O amparo divino não escasseia em nenhum tempo e em nenhuma época, sendo abundante fonte de nutrição e consolo, estímulo e sustento na caminhada de todo filho de Deus. Ecoa em nossos ouvidos a mensagem do Cristo aos apóstolos, diante das dificuldades e limitações da jornada a afirmar: “eis que estarei até o fim convosco”; “Aquele que perseverar até o fim será salvo”, dando-nos a exata noção da responsabilidade que nos é devida e da misericórdia que nos é concedida diuturnamente.
A visão de saúde da Organização Mundial de Saúde e a proposta espírita se interlaçam na busca pela harmonia da alma e o equilíbrio dinâmico do bem estar holístico. O Espiritismo, enquanto ciência do espírito, nos convida à individualização com Jesus, na renovação do homem velho em homem novo, vitalizado pela revelação da boa nova e as vibrações do amor. Como conseqüência desse movimento de cura interior nasce o homem de bem, que vencendo as suas dores interiores, parceiras ainda presentes no atual estágio de saúde possível ao homem da Terra, mostra-se comprometido com o coletivo, com a utilidade geral, consciente de si mesmo e conectado à fonte suprema, bebendo da fonte sagrada da inspiração superior e atento ao questionamento do mestre aos discípulos despertos para as verdades superiores da vida: e Tu, (diante da cura que construístes e conquistaste) que fazeis de especial (Mateus 5:47) ?
* Médico generalista integrante de uma equipe do PSF em BH/MG
Presidente da Associação Médico-Espírita de MG
ammsouza@hotmail.com – www.amemg.com.br


Fontes
1) A Bíblia Sagrada – tradução de João Ferreira de Almeida
2) O Consolador – Emmanuel/Francisco Cândido Xavier, Ed. Feb
3) O Homem Sadio, uma nova visão – autores diversos, psicografia de Alcione Albuquerque e Roberto Lúcio Vieira de Souza, Ed. Fonte Viva
4) O Livro dos Espíritos – Allan Kardec
5) O Romance de Maria Madalena – Jean Yves Leloup, Ed. Vozes
6) Preamble to the Constitution of the World Health Organization as adopted by the International Health Conference, New York, 19-22 June, 1946; signed on 22 July 1946 by the representatives of 61 States (Official Records of the World Health Organization, no. 2, p. 100) and entered into force on 7 April 1948.

Cura pela Fé


Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Palavras Iniciais. 4. Ação Magnética no Processo de Cura: 4.1. A Função do Fluido universal; 4.2. Níveis de Condensação do Fluido Universal; 4.3. A Ação dos Espíritos sobre a Matéria. 5. As Dimensões da Fé: 5.1. Como Sentimento Inato; 5.2. Fé Humana, Divina, Dogmática e Racional; 5.3. A Fé como Sentido da Vida. 6. Fé, Vontade, Espírito e Espiritismo: 6.1. Os Milagres derrogam as Leis Naturais? 6.2. Basta a Fé para Curar? 6.3. O Poder da Fé. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é mostrar que o magnetismo pessoal aliado a uma fé ardente e impulsionado pela vontade tem um poder ilimitado de cura.

2. CONCEITO

Cura – Ação ou efeito de curar. Tratamento, recuperação da saúde. Fig. Melhoria, regeneração, emenda;  solução.

Fé - do latim fides. O termo é empregado em muitas acepções que poderiam ser divididas em profanas e religiosas. No sentido profano, significa dar crédito na existência do fato, fazer bom juízo sobre alguém, expressar sinceridade no modo de agir etc. Quando o testemunho no qual se baseia a confiança absoluta é a revelação divina, fala-se de Fé no seu sentido religioso. A Fé, neste sentido, não é um ato irracional.  Com efeito, o espírito humano só pode aderir incondicionalmente a um objeto quando possui a certeza de que é verdadeiro (Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo).

"Ter fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que ultrapassou o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa energia constante de realização divina da personalidade. Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer "eu creio", mas afirmar: "eu sei", com todos os valores da razão tocados pela luz do sentimento". (Xavier, 1977, pergunta 354)

3. PALAVRAS INICIAIS

Para avivar o nosso interesse sobre o assunto da cura pela fé, anotaremos algumas idéias:

1. As curas relatadas no Evangelho denotam os milagres realizados por Jesus. Dentre eles, lembramos a cura de uma mulher que sofria hemorragia durantes 12 anos, a do paralítico, a dos dez leprosos, a do que tinha uma das mãos secas, a da mulher curvada, a dos possessos etc.

2. Diante desses fatos, parece-nos que Jesus estava acima das Leis Naturais. Contudo, não é o caso. É que conhecedor do magnetismo e das suas manipulações podia operar curas, que aos olhos do vulgo pareciam milagres, ou seja, acontecimentos que derrogam as leis conhecidas da matéria.

3. Aspectos dogmáticos da fé: muitas seitas cristãs acham que se deve recorrer exclusivamente à prece para obter cura dos males físicos, sem utilizar médico ou remédio.

4. O poder da fé tem sido também estudado pelos cientistas. Recentemente, em programa de televisão, houve a comunicação de uma experiência feita num hospital. Os pacientes de uma determinada doença foram separados em dois grupos: o que recebeu prece e o que não a recebeu. O grupo que recebeu vibrações através da prece à distância teve uma melhora mais rápida do que o grupo que não recebeu.

4. AÇÃO MAGNÉTICA NO PROCESSO DE CURA

4.1. A FUNÇÃO DO FLUIDO UNIVERSAL

O fluido universal é a matéria elementar primitiva, cujas modificações e transformações constituem a inumerável variedade dos corpos da Natureza. Como princípio elementar do Universo, ele assume dois estados distintos: o da imponderabilidade e o da ponderabilidade, que são os diversos níveis de condensação que a matéria pode assumir. Para uma compreensão mais clara, partamos da idéia de que Deus é a causa primária de todas as coisas. Dele vertem-se dois princípios: espiritual e material. O Espírito é individualização do princípio espiritual e o corpo físico a individualização do princípio material. O Espírito precisa do fluido universal para se comunicar com o corpo físico.

4.2. NÍVEIS DE CONDENSAÇÃO DO FLUIDO UNIVERSAL

1) Matéria. Solidificação do fluido universal.

2) Corpo Físico – células e órgãos – é o laço que prende o Espírito; é o instrumento de que este se serve para e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce a sua ação.

3) Fluido Vital é o elemento que dá vida à matéria orgânica. Pode ser denominado de magnetismo ou eletricidade.

4) Perispírito – invólucro semi-material do Espírito. Nos encarnados, serve de laço intermediário entre o Espírito e a matéria; nos Espíritos errantes, constitui o corpo fluídico do Espírito.

5) Ectoplasma – situado entre matéria densa e a matéria perispirítica – serve para a realização dos fenômenos de efeitos físicos, principalmente a materialização.

4.3. A AÇÃO DOS ESPÍRITOS SOBRE A MATÉRIA

O Espírito, embora seja alguma coisa, difere de tudo aquilo que conhecemos por matéria. Dada a sua natureza espiritual, necessita de um elemento semi-material para que possa agir sobre a matéria (corpo físico). Allan Kardec denominou este elemento de Perispírito. Conclui-se que o Espírito somente atua sobre a matéria se fizer uso do Perispírito. Observe que no próprio processo de reencarnação há uma ligação de átomo por átomo, célula por célula do princípio espiritual com o princípio vito-material do germe.

Assim sendo, é através do perispírito que os Espíritos auxiliam na cura de uma doença. Neste caso, o médium seria apenas um intermediário.Contudo, o médium pode usar o seu próprio magnetismo e transferir as suas energias balsamizantes para o outro ser mais debilitante. Por isso, na época de Kardec, falava-se muito em magnetizadores, sendo, inclusive, um dos motivos que levou Kardec a freqüentar as reuniões de mesas girantes.

5. AS DIMENSÕES DA FÉ

5.1. A FÉ COMO SENTIMENTO INATO

Tanto na teologia cristã quanto na Doutrina Espírita, partimos do princípio de que a fé é algo inato no ser humano. É como que uma luz lançada por Deus na mente e no coração de cada crente. O fato de tomar diferentes nuances, em cada uma das diversas crenças, revela a sabedoria divina de que a compreensão da natureza depende exclusivamente da capacidade evolutiva de cada um. Freqüentar o Espiritismo não nos torna mais sábio do que o católico, do que o protestante, do que o ateu etc.

5.2. FÉ HUMANA, DIVINA, DOGMÁTICA E RACIONAL

No âmbito da Doutrina Espírita, Allan Kardec ao discutir o problema da Fé, ensina-nos que ela pode ser dividida em fé humana e divina. A Fé humana pode ser expressa como a confiança do homem em suas forças, em sua natureza e em seus propósitos de vida. É a expectativa do pedreiro que, ao começar uma construção, tem certeza que irá terminá-la. É a confiança do médico que, ao iniciar uma cirurgia, acredita que irá finalizá-la e proporcionará um alívio à pessoa enferma. A Fé divina pressupõe a confiança num ser transcendental, que se alia à fé humana. Voltando ao exemplo do pedreiro e do médico: os dois conhecem as técnicas tanto para levantar paredes quanto para recortar o corpo humano, mas submetem-se aos imperativos de uma força maior, de uma força transcendental, que é Deus. Ainda: o sentimento inato pode ser expresso como dogmático – crer cegamente num artigo de fé – ou racional – tudo passando pelo crivo da razão. É por isso que Allan  Kardec diz: “Não há inabalável senão aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade”.

5.3. A FÉ COMO SENTIDO DA VIDA

Movimentarmo-nos na vida revela uma faceta da fé. Nas ações mais ordinárias, nos atos de adoração a Deus, no cuidado com o meio ambiente estamos nos expressando como imagem e semelhança de Deus. E quanto mais aprendemos, mais vamos nos submetendo a voz de um Deus interior, que quer sempre o nosso bem. Com a captação desses conhecimentos, aprendemos que nem o nosso próprio corpo nos pertence, pois foi doado Deus para auxiliar a nossa evolução espiritual.

No que tange à manifestação da fé, o importante é respeitar cada qual em sua crença, pois embora ela tenha ligação com os aspectos históricos, culturais e ideológicos de um povo, no fundo, cada qual, só responderá por aquilo que tiver plantado dentro do seu próprio coração.

6. FÉ, VONTADE, ESPÍRITO E ESPIRITISMO

6.1. OS MILAGRES DERROGAM AS LEIS NATURAIS?

A vinda de Jesus, como vimos anteriormente, foi marcada pelos diversos milagres que realizava. Algumas vezes dizia: “tua fé te curou”. Ele curava, mas não eram todos os que podiam ser curados. Precisava de um elemento adicional, ou seja, a crença do enfermo, daquele que recebeu o fluido magnético.

No âmbito da Doutrina Espírita os fatos, considerados milagrosos, não derrogaram as leis da natureza. Foram apenas a manipulação correta do fluido universal. Assim, quando soubermos usar o nosso magnetismo e a nossa vontade conseguiremos os mesmos prodígios que conseguiram os apóstolos, depois da advertência de Jesus, a respeito da pouca fé dos mesmos. Ele disse: “Se tiverdes a fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a este monte para passar para o outro lado, e ele passará”.

6.2. BASTA A FÉ PARA CURAR?

Aqui, Allan Kardec, faz indiretamente um crítica às seitas cristãs, que apelam unicamente para a fé, não permitindo que seus adeptos vão à procura de orientação médica. O crente será curado? Basta orar para nos livramos de nossas provações? A prece auxilia, dá-nos mais força, mais energia, mas não nos livra das provas que devemos passar. Do mesmo modo é a fé. Ela auxilia-nos, mas antes de tudo, devemos ter em mente o merecimento. Será que estamos aptos para a saúde? O Espírito Irmão X, através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, relata-nos nos capítulos 25 (Cura) e 26 (Doentes e Doenças), do livro Estante de Vida e capítulo 40 (Rogativa Reajustada), do livro Luz Acima, os inconvenientes de apressar a cura do ser humano. Para conviver com a saúde, temos de nos preparar para ela.

6.3. O PODER DA FÉ

"O poder da Fé recebe uma aplicação direta e especial na ação magnética; por ela o homem age sobre o fluido, agente universal, lhe modifica as qualidades e lhe dá uma impulsão, por assim dizer, irresistível. Por isso aquele que, a um grande poder fluídico normal junta uma Fé ardente pode, apenas pela vontade dirigida para o bem, operar esses fenômenos estranhos de cura e outros que, outrora, passariam por prodígios e que não são, todavia, senão as conseqüências de uma lei natural. Tal o motivo pelo qual Jesus disse aos apóstolos: se não haveis curado é que não tínheis fé" (Kardec, 1984, cap. XIX, item 5).

7. CONCLUSÃO

Tenhamos sempre em mente o nosso aprimoramento espiritual. É somente através das virtudes evangélicas que podemos nos curar e auxiliar a cura dos outros com êxito.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: M.E.C., 1967.
KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.
XAVIER, F. C. Estante da Vida, pelo Espírito Irmão X. 3. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1974.
XAVIER, F. C. Luz Acima pelo Espírito Irmão X. 4. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1978.
XAVIER, F. C. O Consolador, pelo Espírito Emmanuel. 3. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1974.

São Paulo, 12/05/2004

Mudança


Mudança

O que implicam as mudanças? Quando elas são necessárias? Por que resistimos a elas? Estamos voltados ao cultivo da mudança interior ou buscamos mais a exterior?

         Criaturas existem que não gastam um só minuto de seu dia para se questionarem. Não se perguntam: o que tenho a meu dispor é realmente bom para mim? É autêntico ou estou preferindo me enganar? O que quero da vida? O que estou buscando? Desejo mesmo viver o que vivo, fazer o que faço? Pretendo continuar assim como estou?
         Pode parecer que as pessoas pensam sobre essas coisas. Porém, na prática, são poucas as que conseguem, realmente, compreender a essência de seus pensamentos, sentimentos e comportamentos.
         E por quê? Porque vivemos numa época em que prevalece o mais rápido, fácil e divertido, ou seja, a superficialidade, as aparências.  Assim, e por falta deste tipo de reflexão, muitos agem impensadamente, não medindo o alcance de suas atitudes e nem se dando conta das coisas ao seu redor.
         Mas, se não sabemos o que é bom e verdadeiro ou o que queremos realmente, o que estamos fazendo de nossa existência? Para aonde estamos nos conduzindo?        
         Necessitamos, portanto, adotar uma constante observação interna e externa para captarmos o real sentido das coisas. Nada existe sem uma razão de ser. Tudo o que nos envolve carrega um significado de extrema importância; no entanto, nós temos o hábito de acreditar que somos acima da média. E, por isso, não refletimos sobre os problemas e dificuldades, de modo a enfrentá-los verdadeiramente. 
         É muito difícil alterar o padrão de pensamento, sentimento e comportamento de uma vida inteira, se não sabemos exatamente quem somos e quais as nossas reais necessidades. E uma das razões para não efetuarmos as mudanças necessárias é que nos conhecemos apenas parcialmente, não compreendendo o suficiente para perceber quando tais mudanças efetivamente precisam acontecer.
         Mohandas Gandhi, mais conhecido como Mahatma Ghandi (1869-1948), indiano defensor do princípio da não-violência como um meio de protesto, certa feita disse: “Nós temos que ser a mudança.”  [1]
          E o que significa a palavra mudar? Nada mais do que, simplesmente, “dar outra direção, arrumar de outro modo, deixar uma coisa por outra, transformar.”  [2]

****

         Jesus, diante de um homem paralítico há 38 anos, pergunta-lhe: “Queres ser curado?” (João 5:6). [3]  E o homem disse que sim, que queria ser curado daquele mal.
         O Cristo sabia que a busca por alternativas e um consciente desejo de melhoria são fatores fundamentais para uma efetiva reabilitação. Tanto que, em diversas outras situações, quando alguém se recuperava, ele dizia: “Tua fé te curou”.
         Sendo assim, sua pergunta teve por objetivo levar o paralítico a refletir sobre a importância da própria força de vontade e confiança. 
         O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, ao se referir sobre a diferença entre os espíritas imperfeitos e os verdadeiros, traz:

            Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para domar as suas más inclinações; enquanto que um se compraz em seu horizonte limitado, o outro, que compreende alguma coisa de melhor, se esforça para dele de libertar e sempre o consegue quando tem vontade firme. [4]

         Entregar-se à doença, aos problemas e conflitos, às dificuldades é a mais perfeita contribuição para que todos eles continuem com seu ciclo de sofrimento, de paralisação e até de destruição, dependendo do caso. 
         Por outro lado, buscar tenazmente o equilíbrio e bem-estar significa, principalmente, não atribuir à outra pessoa a responsabilidade pelo nosso processo de reabilitação, de cura.
         O salvador de mim mesmo sou eu. Tanto que Jesus mostrou que o remédio estava no próprio paralítico e não fora dele. Assim, o necessário medicamento era mais interno que externo.
         Ele poderia simplesmente ter-lhe dito: ‘levanta-te e anda’. Mas preferiu falar:  “Levanta-te, toma o teu leito e anda.” (João 5:8)  Isto é, toma a tua estrada, tua própria pessoa e segue a tua vida.
         Com esta passagem, podemos afirmar que o Cristo fez com que o doente superasse as próprias resistências internas, estimulando-lhe a força de vontade e confiança.
         No entanto, mesmo conhecendo o fato, como ainda nos custa perceber que o que impede ou protela a solução dos problemas, sejam eles físicos ou psicológicos, é a nossa resistência às mudanças! 
         Somos ainda fortemente apegados à própria maneira de pensar e agir e, com grande frequência, recusamos tudo o que nos questione ou que aponte nossas falhas. Ainda acreditamos ser humilhante ter de admitir nossos equívocos e alterar posturas e decisões.
         É a mudança interior que deve ser buscada, muito mais que a exterior. Porém, existem indivíduos que, diante de uma situação aflitiva, resolvem viajar ou mudar de lugar, de trabalho, de casa, como se a crise dependesse única e exclusivamente do mundo externo e do local onde estão. Outros procuram mudar as pessoas com as quais convivem, arrumar a vida delas, por crerem ser seu dever rearranjar o mundo, e não a si mesmos. Há, ainda, aqueles que se escondem nos vícios, desenvolvendo manias e doenças. No entanto, agindo assim, essas pessoas jamais encontrarão o que, de fato, as preencherá íntima e plenamente.
         Para ilustrar as consequências de nossa resistência, o Espírito Hammed faz uma analogia entre a água corrente e a estagnada: “a água renovada é corrente, oriunda das chuvas, do orvalho, das nascentes, enquanto que a água estagnada é aquela que, em breve, por inércia, se deteriorará, tornando-se um foco de larvas e de putrefação.” [5]
          Quando não permitimos a mudança em nosso mundo interior, exigimos a mudança na realidade exterior. E, com isso, facilmente a culpamos por não corresponder às nossas expectativas. É óbvio, também, que a necessidade de diferentes arrumações (mudanças) em nossa existência afetará nosso comodismo e conforto. E por quê isso acontece?
         Porque, especificamente, solicitará de nós uma reciclagem de conceitos, crenças e valores; um repensar de posturas; modificações nos costumes e hábitos e um diferente direcionamento aos pensamentos e sentimentos, o que, admitamos, não é fácil tarefa, mas dependerá apenas de nós realizá-la.
         Ainda do Espírito Hammed:

            Na realidade, quem se permite mudar pode ficar, inicialmente, numa situação desconfortável, visto que poderá ficar exposto a algo que não contava ou que não havia percebido. O que acontece é que, quando alteramos o nosso ‘status quo’ – (...) modificamos nossa antiga maneira de interpretar, entender, expressar e dar sentido e importância às coisas. A partir disso, nossas zonas de estabilidade ficam temporariamente ameaçadas; nosso jeito anterior de ser e ver não funciona mais. Tudo isso acarreta uma batalha interna que gera desconfiança, medo e insegurança, até que nos reestruturemos novamente. [6]

         Em virtude desse desconforto, que é apenas inicial,no entanto, muitos permanecem paralisados em seus ‘leitos’. Não conseguem se levantar, tomar posse de sua vida e avançar. 
        Jesus também disse: “Se alguém quer vier após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Marcos 8:34)
         As mudanças necessárias não deixam de representar um processo trabalhoso, uma “cruz” que precisamos abraçar todos os dias. Todavia, Jesus deu a entender que, se o adotássemos por modelo, certamente não fracassaríamos em nossa empreitada. E segui-lo não significa que necessariamente tenhamos de mudar o caminho, mas, na grande maioria das vezes, apenas o jeito de caminhar!
         O Espírito Joanna de Ângelis assim nos estimula:

            Quando alguém aspira por mudanças para melhor, irradia energias saudáveis, do campo mental, que contribuem para a realização da meta. Através de contínuos esforços, direcionados para o objetivo, cria novos condicionamentos que levam ao êxito, como decorrência normal do querer. Nenhum milagre ou inusitado ocorre, nessa atitude que resulta do empenho individual. [7]

         No caso do paralítico, não foi Jesus quem o curou, mas o doente que se reabilitou em contato com o Cristo. Como afirma de Ângelis, nenhum milagre acontece, porque a cura é a consequência das próprias buscas. Nas palavras dos Espíritos Superiores, ela é, simplesmente, o resultado de uma firme vontade.

Silvia Helena Visnadi Pessenda

REFERÊNCIA
 [1] CARLSON, Richard; SHIELD, Benjamin (Org.). Os caminhos do coração ensaios originais sobre o amor. Rio de Janeiro: Sextante, 2000:173   (Literatura não espírita)
[2] Michaelis: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998.
[3]  BÍBLIA. Português. Bíblia de estudo Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
[4] KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. 195. ed. Araras, SP: IDE, 1996. cap. XVII, item 4.
[5] HAMMED (espírito); SANTO NETO, Francisco do Espírito (psicografado por). Um modo de entender: uma nova forma de viver. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 2004. cap. 8.
[6] HAMMED (espírito); SANTO NETO, Francisco do Espírito (psicografado por). A imensidão dos sentidos. 3. ed. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 2000: 92.
[7] ÂNGELIS, Joanna de (espírito); FRANCO, Divaldo Pereira (psicografado por). O ser consciente. Salvador, BA: Livr. Espírita Alvorada. cap. 8.

NOVAES, Adenáuer Marcos Ferraz de. Psicologia do evangelho. 2. ed. Salvador, BA: Fundação Lar Harmonia, 2001.
JOSÉ ANTONIO (espírito); VARGAS, Ana Cristina (psicografado por). O quarto crescente. Catanduva, SP: Boa Nova Editora. 2007.
VITOR, Francisco de Paula (espírito); TEIXEIRA, José Raul (psicografado por). Quem é o Cristo? Niterói: Fráter, 1998.

Literatura não-espírita
 HUNTER, James C. O monge e o executivo. 13. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
BAKER,  Mark W. Jesus, o maior psicólogo que já existiu. 3. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2005.

Cura interior - Adenáuer Novaes

“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.” Mateus, 5:4.

As Bem-aventuranças são mensagens de consolação para nós, Espíritos ainda pequenos na evolução.  São poemas de esperança a todos, para que compreendam as verdades eternas. São recados do emissário de Deus para as criaturas na Terra. Bem-aventurados os que choram, pois estão resolvendo seu carma negativo. Estão concluindo seu processo de expiação, capacitando-se a uma nova vida de oportunidades renovadoras.

O Cristo costumava perguntar àqueles que o procuravam:  Queres ser curado? Tal pergunta demonstrava sua preocupação em que o indivíduo entendesse que o desejo pessoal de quem busca é importante e fundamental fator de cura. O desejo consciente e interno de ser curado responde pela maior possibilidade de alcance do objetivo. O desejo sincero obtém resposta positiva da Vida. Nesse ponto, vemos que o Cristo tinha consciência do chamado efeito  placebo, no qual o que cura é um certo fator psicológico ou outro desconhecido, contido no desejo ou na consciência da eficácia do remédio, mas não nele em si, pela sua condição inócua. 

O desejo de ser curado deve corresponder à compreensão do porquê se está doente. Desejar ser curado sem consciência de que a doença está sendo um grande veículo de aprendizado, pode significar a perda da oportunidade de crescer, bem como a possibilidade do retorno de nova forma dolorosa de aprender.

Ser curado por alguém deve se constituir numa possibilidade do estabelecimento de um marco para o início de um novo ciclo de vida. A pergunta levaria o indivíduo a refletir sobre a força de sua vontade e a importância do desejo interno de curar-se. O desejo de cura não era tão somente do Cristo, mas, principalmente do necessitado. A iniciativa pessoal constitui-se no princípio da cura. Entregar-se à doença, sem procurar os meios de curar-se, significa contribuir para que ela continue seu ciclo de inércia da Vida. Quem tem seus males deve buscar resolvê-los com determinação e consciência de que estar doente ou sadio são estados orgânicos a ser administrados pelo Espírito.

Querer ficar curado é não atribuir ao outro a responsabilidade pelo processo de cura. O  salvador de mim mesmo sou eu. O Cristo mostrava que o remédio procurado estava no próprio indivíduo e não fora dele. O remédio é mais interno que externo. A pergunta do Cristo obriga-nos a voltar nossa atenção à nossa vida íntima, aos nossos processos internos de crescimento. Costumamos focar o olhar para os outros, não para ajudá-los, mas para desviar nossa atenção sobre o que nos incomoda. Fugimos de nós, focando os outros.

Ele poderia simplesmente dizer: levanta-te e anda. Mas preferiu falar: “Levanta-te, toma o teu leito e anda.” Acrescentava o  “toma o teu leito”, isto é, teu chão, tua estrada, tua vida, teu passado, teu mundo interior. Curar o outro não deveria eximi-lo de enfrentar sua realidade. Curar o corpo não é o mesmo que curar a alma. Temos que ter a consciência de que o corpo sadio não garante a felicidade de ninguém, tampouco ser curado significa estar livre de suas provas, necessárias à evolução.

Tomar o seu leito é estimular a força de vontade que se espera dos que desejam a cura. É estimular a utilização da energia psíquica, mobilizando-a a serviço do próprio progresso. É entender que evoluir é compromisso pessoal e intransferível. Não se evolui pelo outro, mas com o outro. Ter sido curado pelo Cristo não outorgou aos que receberam sua energia amorosa o título de salvos ou evoluídos. Viver ao lado de mestres, gurus,  santos, missionários verdadeiros, não isentará ninguém de vencer suas próprias limitações e trilhar seu próprio caminho.

Na realidade o Cristo fez um convite a que o ajudado vencesse suas próprias resistências internas. Muitas vezes o que impede a cura de nossos problemas, sejam físicos ou sejam psicológicos, é uma certa inércia inicial que se apresenta na forma de resistência à mudança. Os que se encontram em aflição se situam num estado psíquico que possibilita a busca de soluções para a saída do mal que atravessam. A aflição é uma espécie de crise, e crise significa momento de mudança. É a oportunidade de se rever valores, motivações, desejos e objetivos de vida. É o ponto de referência que o Espírito poderá utilizar-se para iniciar uma nova forma de viver.

A tendência do ego em afirmar-se e submeter as circunstâncias da vida aos seus desejos exclusivos, precisa ser transformada. Ele deverá reconhecer que além dele há um centro organizador no psiquismo, que não só o direciona como também o contém. Esse centro diretor, o Self, impulsiona o desenvolvimento psíquico no sentido darealização da sua totalidade espiritual. Por mais elaborada que seja a visão de mundo do  ego, pela sua parcialidade e limitação, ela é sempre unilateral, por faltar-lhe a contraparte inconsciente.

Quando a crise se instala é o  ego quem sofre, pois ela decorre, geralmente, como resultante das frustrações de seus desejos. Bem-aventurado, portanto, é o  ego que chora por ter seus desejos ilusórios destruídos. Nesse momento poderá tonar-se apto a perceber os reais desejos de sua alma, alcançando o consolo de estar vivendo a serviço do Self.

É o ponto em que se deve mudar para uma vida melhor. É a mudança interior que deve ser buscada, muito mais que a exterior. Há pessoas que, diante da crise, resolvem mudar de lugar, de ares, de trabalho, de casa, viajar, como se a crise dependesse exclusivamente do mundo externo. A mudança deverá ser interior, a partir de uma nova concepção de mundo e da própria Vida.

Ele nos convidava a essa percepção diferente do mundo, quando declarava  “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.”  Arrepender-se é convidar a não fazer mais o que se fazia; é não entender a vida com os mesmos valores que se tinha; é, ainda, não se culpar pelo que fez no passado, mas encarar uma nova realidade que se avizinha.

Arrepender-se é autoconhecer-se. É fazer um mergulho no próprio mundo consciente e no inconsciente, a fim de modificar suas disposições internas e passar a vibrar numa faixa psíquica mais elevada. Este estágio mais adiantado é aquele que nos permite viver com a disposição de enfrentar com equilíbrio e humildade os revezes que a Vida nos apresenta.

A proximidade do reino dos céus é a certeza de que ele se encontra no nosso interior. Não é um estado externo, mas interno. É possível alcançá-lo pela sua íntima condição. Não é necessário viajar, nem buscá-lo muito longe. Não está em nenhum lugar mágico ou nas alturas dos montes, nem nas florestas virgens, nem em caminhadas intermináveis. Não se encontra no espaço infinito, mas tão somente no infinito de nossas moradas interiores.

Os aflitos poderão vivenciar inúmeras crises, desde as da infância até aquelas que exigem muita maturidade para enfrentá-las, muitas vezes oriundas de encarnações passadas. Nem todas provocam mudanças, pois a maioria das vezes não lhes aproveitamos o auge para reflexões profundas e para transformações verdadeiras. As crises que provocam mudanças são aquelas que nos exigem investimento emocional numa nova atitude. Decorrem geralmente do relacionamento com um outro, da escolha profissional, da necessidade do equilíbrio financeiro, das relações parentais. São crises que geralmente ocorrem na meia idade, e que exigem renúncia, centração, a partir de soluções duradouras.

A aflição não deve constituir o motivo único de preocupação na vida de uma pessoa. Devemos sempre
pensar que nela está uma oportunidade de crescimento. A aflição é bem-aventurada por representar a oportunidade de vitória sobre as forças contrárias à evolução da vida. Quando percebermos  que estamos num estado que pode chegar ao desequilíbrio, é conveniente que façamos uma parada para meditar, orar, e desfocar o problema, a fim de melhor captar a influência espiritual salutar, para o encontro de soluções dos conflitos e para a harmonia das idéias.

O Cristo nos convida à esperança em nós mesmos a partir do estado de espírito que nos predispõe a viverconfiantes na certeza de que um mundo interior em paz produz uma sociedade em harmonia.

INTRÓITO- REFORMA ÍNTIMA SEM MARTÍRIO



Reforma íntima deve ser considerada como melhoria de nós mesmos e não a anulação de uma parte de nós considerada ruim. Uma proposta de aperfeiçoamento gradativo cujo objetivo maior é a nossa felicidade.

Quem está na reforma interior tem um referencial fundamental para se auto-analisar ao longo da caminhada educativa, um termômetro das almas que se aprimoram.


Convenhamos que há muitos companheiros queridos do nosso ideário satisfeitos com o fato de apenas evitarem o mal, entretanto, estejamos alerta para a única referência ética que servirá a cada um de nós no reino da alma liberta da vida física: Fazer todo o bem que pudermos no alcance de nossas forças.
Para isso, somente trabalhando por uma intensa metamorfose nos reinos do coração de onde procedem todos os males. Nossas imperfeições são balizas demarcatórias do que devemos evitar,um aprendizado que pode ser aproveitado para avançarmos. A postura de "ser contra"o passado é um processo de negação do que fomos,do qual a astúcia do orgulho aproveita para encobrir com ilusões acerca de nossa personalidade.
O ensino do Evangelho "reconcilia-te depressa com teu adversário enquanto estás a caminho com ele" é um roteiro claro.
Essa conciliação depende da nossa disposição de encarar a realidade sobre nós próprios, olhar para o desconhecido mundo interior, vencer as "camadas de orgulho do ego", superar as defesas que criamos para esconder as "sombras"e partir para uma decidida e gradativa investigação sobre o mundo das reações pessoais ,atravésda auto-análise, sem medo do que encontraremos.
Reformar é formar novamente, dar nova forma. Reforma íntima nada mais é que dar nova direção aos valores que já possuímos e corrigir deficiências cujas raízes ignoramos ou não temos motivação para mudar.
É dar nova direção a qualidades que foram desenvolvidas na horizontalidade evolutiva,que conduziram o homem às conquistas do mundo transitório.
Agora, sob a tutela da visão imortalista, compete-nos dirigir os valores amealhados na verticalidade para Deus, orientando as forças morais para as vitórias eternas nos rumos da elevação espiritual pelo sentimento.
O passado está arquivado como experiência intransferível e eterna; não há como matar o passado, porém, podemos vitalizá-lo com novos e mais ricos potenciais do espírito na busca do encontro comoo ser divino, cravado na intimidade profunda de nós próprios . Não há como extinguir o que aconteceu, todavia, podemos travar uma relação sadia e construtora de paz com o pretérito...
Não são poucos os companheiros que demonstram silencioso desespero quando percebem que o esforço pessoal de melhoria parece insuficiente ou sem resultados.
Para a maioria de nós,contrariedade significa que algo ou algum acontecimento não saiu como esperávamos, por isso algumas criaturas costumam dizer: nada na minha vida deu certo!
É tudo uma questão de interpretação. Quase sempre essa expressão "não deu certo" quer dizer que não saiu conforme nosso egoísmo.
O desapontamento, portanto é altamente educativo quando a alma, ao invés de optar pela tristeza e revolta, prefere enxergar o futuro diverso daquele que planejou e,no qual a grande meta da felicidade pode e deve estar incluída.
Procure retornar ao ambiente sensório lentamente trazendo essa sensação de felicidade consigo mesmo, de auto-amor.
O êxito dependerá da disciplina na assiduidade e no cultivo do desejo de melhorar sua vida integral.
O êxito dependerá da disciplina na assiduidade e no cultivo do desejo de melhorar sua vida integral.
Seja feliz sempre
Todos temos um incomparável valor perante a vida, compete-nos descobri-lo e viver plenamente

Fonte
   Wanderley S. de Oliveira/ Ermance Dufaux
Era do Espiríto
http://aeradoespirito.sites.uol.com.br

A reforma íntima e a família

A reforma íntima e a família
Uma das queixas que ouço com mais frequência é com relação à família. Que a família não acompanha as iniciativas em busca do crescimento espiritual e dareforma íntima. É realmente bastante raro ver uma família em que todos os componentes marcham lado a lado com o mesmo objetivo e sob a mesma proposta.
Esse tipo de queixa, que às vezes não chega a ser queixa, apenas um lamento, ouço de pessoas que abraçaram uma causa com convicção e gostariam que os membros familiares os seguissem. São pessoas que se tornam vegetarianas e a família continua comendo carne; são pessoas que adotaram o veganismo e os familiares os consideram exagerados; são pessoas que se dedicam a uma atividade espírita e a família reclama do tempo roubado a si.
Muitas vezes a família não compreende as peculiaridades que acompanham o processo evolutivo de um de seus integrantes. A mediunidade até hoje causa estranheza. A projeção astral, pelas condições de silêncio e sossego que exige para a sua prática, é frequentemente abandonada por seus adeptos por não terem tais condições atendidas por falta de compreensão no lar. Ovegetarianismo, por suas características que exigem ajustes no cardápio, pode ser visto, por uma família mais conservadora, como um comportamento que dá trabalho. Com o veganismo é pior, já que veganos têm uma série de restrições sobre os produtos que utilizam, já que não usam nada que tenha componente de origem animal ou que tenha sido testado em animais…
Há pessoas que se dão por contentes quando a família respeita suas convicções e seus novos hábitos, mesmo que ela não modifique os seus. Mas o mais comum, pelo que observo, é que aqueles que se convertem a uma causa gostariam muito de convencer os seus próximos a compartilhar de seus ideais.
Penso que todos devem se esforçar para aceitar as particularidades que envolvem as causas adotadas por uma pessoa próxima, de sua intimidade. Desde que isso não prejudique irremediavelmente a vida familiar, não vejo por que não respeitar a opção de cada um, mesmo que não se concorde com ela.
Por outro lado, acho que devemos respeitar sempre aqueles que não querem ou não estão preparados para nos acompanhar em nossas caminhadas. Pode ser que não seja o seu momento, já que cada um tem o seu tempo. Além disso, e isso deve ser sempre lembrado, a verdade de um não é a verdade de outro. Toda análise que fazemos é baseada em nossas experiências pessoais. Todo raciocínio que elaboramos é construído em cima de valores e crenças que interiorizamos há muito tempo. Na realidade doespírito imortal algumas crenças podem acompanhá-lo séculos afora,reencarnação após reencarnação. É difícil pra nós aceitarmos que nossa razão é parcial; é “uma” razão, não é “a” razão.
Ao abraçarmos uma nova causa nosso entusiasmo com a mesma é tão grande que gostaríamos de compartilhá-la com todos; queremos que todos sejam beneficiados com a verdade que descobrimos. Mas os motivos que nós temos para nos convencer e nos entusiasmar são “nossos” motivos, não são motivos universais.
Tolerância, nada mais valioso nessas horas. Tolerância para com os que adotaram novos costumes, novos hábitos, novas crenças, novas experiências, novos modos de pensar. E tolerância para com aqueles que, seja qual for o motivo, não comungam dessas novidades, dessas mudanças.
Somos crianças espirituais, engatinhando rumo à elevação moral e espiritual. Temos muito que aprender e desenvolver. Podemos dar um passo importante nesse sentido desenvolvendo a tolerância. Você pensa diferente? Comente, dê a sua opinião.
Morel Felipe Wilkon 
Do site Espírito Imortal