Estudando o Espiritismo

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quarta-feira, 4 de julho de 2012

O Evangelho na Doutrina Espírita


O Evangelho na Doutrina Espírita

Marcus Alberto de Mario
do Rio de Janeiro, RJ
Alguns segmentos religiosos mantém em seu discurso uma acusação grave contra a Doutrina Espírita, a de que nossa doutrina não é baseada nos ensinos de Jesus. É comum ouvirmos padres e pastores afirmarem que o Espiritismo é doutrina do demônio, e que os espíritas desconhecem o Evangelho.
Primeiro, há necessidade de se esclarecer o entendimento sobre o demônio, palavra de origem grega, daimon, que significa gênio ou protetor familiar. Sócrates, famoso filósofo grego, dizia conversar constantemente com seu daimon, de quem recebia orientações de ordem moral. Portanto, a palavra demônio só muito mais tarde veio receber a acepção de um ser criado para fazer o mal, concepção essa contrária ao bom senso e à lógica, pois se Deus, o Criador, é todo bondade, amor e justiça, não pode criar um ser destinado, por toda a eternidade, a fazer o mal, sem condição alguma de progresso. O reconhecimento da existência do daimon sanciona a crença na imortalidade da alma, na continuidade da vida após a morte e na comunicabilidade dos espíritos com os homens, e nada tem a ver com a maldade absoluta, pois a crença espírita é a da existência de espíritos imperfeitos, ainda se comprazendo no mal, mas que, pela lei do progresso, irão caminhar paulatinamente para o bem.
Quanto à argumentação de que o Evangelho não faz parte do Espiritismo, façamos um pequeno estudo de "O Livro dos Espíritos", a obra básica da doutrina. Logo no frontispício, a página de abertura da obra, lemos: "O Livro dos Espíritos, contendo os princípios da Doutrina Espírita sobre (...) as leis morais (...) segundo o ensinamento dos Espíritos Superiores (...)". Perguntamos: que leis morais? São aquelas inscritas nos Dez Mandamentos e que servem de fundamento aos ensinos e exemplos de Jesus.
No item seis da Introdução, quando resume os pontos principais da Doutrina, baseado nos ensinos do Espíritos, Allan Kardec expressa a crença em Deus como condição básica da fé espírita. Depois informa: "A moral dos Espíritos Superiores se resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica: "fazer aos outros o que desejamos que os outros nos façam", ou seja, fazer o bem e não o mal. O homem encontra nesse princípio a regra universal de conduta, mesmo para as menores ações." Como podemos perceber, é um ensino de Jesus recomendado como princípio universal de conduta para o homem.
Na mensagem dos Espíritos Superiores que antecede os estudos na forma de perguntas e respostas, lemos: "A vaidade de certos homens, que crêem saber tudo e tudo querem explicar à sua maneira, dará origem a opiniões dissidentes; mas todos os que tiverem em vista o grande princípio de Jesus (acima referido) se confundirão no mesmo sentimento de amor ao bem e se unirão por um laço fraterno que envolverá o mundo inteiro; deixarão do lado as mesquinhas disputas de palavras para somente se ocuparem das coisas essenciais." Novamente a alusão a Jesus e seus ensinos, desta vez como roteiro para união das doutrinas religiosas.
A primeira parte de "O Livro dos Espíritos", tratando das Causas Primárias, faz um amplo estudo sobre Deus e a criação divina, e se o Espiritismo nenhuma relação tivesse com o Evangelho, não poderia construir seu edifício doutrinário na crença em Deus, pois toda a cristandade, seja ela católica ou protestante, baseia-se na crença divina.
Na segunda parte, estudando o Mundo Espírita ou dos Espíritos, compreendemos que os Espíritos são os próprios homens desencarnados, e que tudo no universo é regido pela lei de Deus, e que temos o progresso intelectual e também o progresso moral, e que é este último o que distingue as diferentes ordens de Espíritos. Mais uma vez a questão moral como base do pensamento espírita.
Quando Allan Kardec chega à terceira parte, As Leis Morais, nenhuma dúvida temos quanto a estar o Espiritismo intimamente ligado ao Evangelho. Basta lermos a questão 625: Pergunta: "Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem, para lhe servir de guia e modelo?" Resposta: "Vede Jesus." A seguir o Codificador faz este comentário: "Jesus é para o homem o tipo de perfeição moral a que pode aspirar a Humanidade na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque ele estava animado do espírito divino e foi o ser mais puro que já apareceu na Terra."
Jesus como guia e modelo da Humanidade e mais, a sua doutrina, ou seja, os seus ensinos, como expressão perfeita da lei divina fazem parte dos princípios básicos do Espiritismo, não havendo possibilidade, portanto, do espírita estar desligado do Evangelho ou não poder ser considerado cristão.
O que acontece é que o Espiritismo não considera o Evangelho ao pé da letra. Temos que o Evangelho é o conjunto de escritos dos discípulos e apóstolos sobre Jesus, recorrendo os mesmos para essa tarefa, da sua memória e de anotações diversas. Não transcreveram fielmente a vida e obra de Jesus, e cada um escreveu de acordo com seu ponto de vista, sofrendo maior ou menor influência da cultura judaica. Também o Evangelho sofreu mudanças nas traduções para outras línguas e recebeu acréscimos e decréscimos por parte da Igreja Católica, o que é fato histórico. Assim, o Espiritismo considera unicamente os ensinos morais de Jesus, tomando todo o resto da obra como subsídio histórico, o mesmo acontecendo com os escritos que compõem o Velho Testamento, ou Bíblia.
O espírita não se preocupa em decorar capítulos e versículos para recitá-los mecanicamente, pois sua meta é a vivência dos ensinos morais do Mestre Jesus, e essa vivência deve ser exercida através do amor ao próximo.
Evangelho e Espiritismo são indissociáveis, e quem afirma o contrário o faz por desconhecimento ou má fé. Não encontrando na prática espírita os fundamentos das cerimônias e dos rituais litúrgicos e nem das recitativas evangélicas de missas e sermões, condenam o Espiritismo julgando-o pela superfície, quando, se o estudassem, encontrariam a caridade recomendada por Jesus em ação, no silêncio de quem dá com a mão direita sem estender a mão esquerda para receber, como recomendou o guia e modelo da Humanidade.
(Jornal Verdade e Luz Nº 182 de Março de 2001)

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