Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Autotransformação - Adenáuer



“Quem diz o povo ser o Filho do homem?” Mateus, 16:13.

“Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer d e novo, não pode ver o reino de Deus.” João, 3:3.

O nascer de novo refere-se evidentemente a uma nova reencarnação. Nascer num novo corpo é a condição necessária para a evolução do Espírito na Terra. Somos os mesmos, num novo momento, envergando uma nova vestimenta, porém o mesmo Espírito em seu processo ascensional. Reencarnar é educar-se.

“Quem diz o povo ser o Filho do homem?” Perguntou o Cristo a seus apóstolos, provavelmente procurando saber quem pensavam que ele era, a fim de saber qual o sentido que o povo atribuía à sua personalidade. Sua interrogação remete-nos à preocupação com a imagem que passamos e com o sentido apreendido da mensagem que veiculamos.

Saber como é visto não é mera preocupação com a imagem pessoal, mas como sua figura serve de projeção ao outro. O que despertamos no inconsciente e no consciente das pessoas é parte importante da mensagem que queremos passar. Às vezes, o que despertamos no outro depõe contra o que efetivamente desejamos despertar. Cuidar da imagem pessoal, sem excessos que poderiam provocar uma relação artificial com os outros, não deve ser prescindido por quem lide com a veiculação de uma mensagem. Somos também responsáveis pelo que provocamos no outro.

De um ponto de vista psicológico, sem prejuízo da análise reencarnacionista, que é óbvia e coerente, podemos entender ‘o nascer de novo’ como a necessidade da renovação interior. Essa interpretação, já exaustivamente divulgada pelos que negam a reencarnação, deve ser também entendida sob outro aspecto: o renovar-se,  ou renascer a cada dia, como a necessidade de tornar consciente o inconsciente. De se descobrir à medida que evolui.

Tornar consciente o inconsciente é realizar seu mundo interior de forma harmônica e equilibrada. É trazer à tona os conflitos, que se encontram na forma de complexos inconscientes, à consciência, para a devida solução. Esse processo requer disposição e energia voltada para o mundo interior da mesma forma que a utilizamos para o mundo externo. Além dos outros princípios básicos, explicar a reencarnação é uma das atribuições dos divulgadores espíritas, porém resolver seus problemas íntimos, oriundos desta e, principalmente, de outras encarnações, significa crescer espiritualmente, renovar-se, isto é, nascer de novo.

O nascer de novo representa  a disposição constante em confessar-se, em tentar eliminar as culpas inconscientes que trazemos de outras vidas. Elas nos impõem um gasto de energia adicional para viver. Trazem-nos tristeza e desânimo para enfrentar com novo e bom ânimo as provas e expiações a que estamos sujeitos. Confessar é retirar do mundo interior, do inconsciente, o que não segredamos aos outros. É aliviar-se psicologicamente de algo que se agiganta dentro de nós impedindo-nos de sermos verdadeiros. Nascer de novo é, aos poucos, confessar-se a si mesmo e ao próximo, conscientizando-se a cada dia da importância de ser verdadeiro no que pensa e faz. Essa confissão não implica na perda de nossa intimidade, mas significa a ausência de receios quanto a expor-se quando as circunstâncias se  fizerem necessárias. Ter liberdade significa libertar-se também das prisões que erguemos em torno de nosso passado por vergonha em expô-lo, alicerçando uma culpa que se avoluma a cada encarnação. O conselho do Cristo é muito claro: ‘vai, e não peques mais’ 9.

O nascer de novo representa a disposição constante em desligar-se das relações escravizantes que impõem limites na personalidade que deseja crescer. Ligações nas quais prevalecem a baixa qualidade de relacionamento, onde não se cresce nem se permite ao  outro crescer, são sustentadas pela posse do outro. Desligar-se dessas relações possibilita o desabrochar de uma nova e mais verdadeira personalidade, livre das contingências que impedem o aprendizado ao Espírito.

O nascer de novo representa a disposição constante em acreditarmos em nós mesmos. Em reconhecer nossas potencialidades que nos capacitam a uma verdadeira atuação sobre as dificuldades que a Vida coloca à nossa frente, como degraus evolutivos. Viver buscando crescer espiritualmente é um desafio a que todos temos que enfrentar.

Nascer de novo é fazer brotar a vida onde antes ela se encontrava inibida, onde não se tinham mais horizontes renovadores. Nascer de novo é um importante código da Vida que deve sempre ser evocado pelo Espírito em todas as circunstâncias de sua evolução. O Espírito deve sempre se perguntar: Há alguma outra maneira mais saudável e mais harmônica de viver? Certamente que a Vida irá mostrá-lo que há muitas opções, cuja percepção lhe é ampliada à medida que evolui. 9  João, 8:11.

O nascer de novo  também significa eliminar os medos conscientes e inconscientes. É buscar, a cada dia perceber a existência de medos não conscientizados, que, de forma subliminar, interferem em nossa disposição de viver. Medos enraizados durante as vidas sucessivas e medos adquiridos na atual encarnação. Os últimos são mais fáceis de erradicar-se, porém os primeiros exigem tempo e disposição para enfrentá-los e eliminá-los.

As nossas disposições inconscientes, oriundas das experiências alicerçadas nas vidas passadas, são poderosos determinantes comportamentais para a vida presente. Nascer de novo é despertar para necessidade de criar, conscientemente, novas disposições e motivações na vida presente.

O nascer de novo nos convida a eliminar a culpa e o remorso que trazemos inconscientes, cuja origem se perde nas vidas passadas. Quantos conflitos, alguns leves, outros graves, que não resolvemos em nosso passado reencarnatório? Eles hoje se tornam fatores degenerativos à personalidade quando seria de desejar um comportamento coerente com princípios nobres e superiores.

O convite a Nicodemos para o necessário nascer de novo deve ser ampliado também para o comportamento privado. As verdades eternas ou leis gerais da natureza são importantes para o coletivo e devem também ser aplicadas no particular. De um lado temos o dever de ensinar essas leis, quando as entendemos, e de outro, aplicá-las ao mundo interno, o que repercutirá na vida social.

Nossos conflitos não resolvidos, desta e de outras encarnações, se enredam em teias psíquico-emocionais, assumindo a feição de complexos. O nascer de novo representa a dissolução desses complexos alimentados, principalmente, nas vidas pregressas. Reconhecer, enfrentar e dissolver um  complexo, pode ser desafio que leve anos e, às vezes, encarnações.

O nascer da água e do Espírito é o modificar-se externa e internamente. É a transformação que se exterioriza a partir de uma renovação interna. A água é matéria, portanto o que se exterioriza e que serve de representação à essência. É o mundo material com suas relações. O Espírito é a própria essência do ser, que se renova a cada dia, num crescente conhecimento da lei de Deus.

O Espírito, quer encarnado quer desencarnado, utiliza suas energias psíquicas para o mundo externo nas relações com ele e para o mundo interno na suas relações consigo mesmo. Saber usar essas energias equilibradamente, nem tanto para fora nem tanto para dentro, é uma arte. São escolhas progressivas e regressivas que se alternam para a evolução do Espírito. Somos mais progressivos do que regressivos com nossas energias. Vivemos mais o mundo externo que o interno. O convite do Cristo é para não esquecermos de aplicar nossas energias também no mundo interno, o qual nos estrutura para viver o externo. Sem a renovação interior fica um grande vazio na alma. Não é fácil dirigir a energia psíquica para ambas as direções, face às exigências do mundo.

A felicidade para quem busca a renovação interior deixa de ser um desejo futuro para se tornar um meio de se alcançar a harmonia e a paz. A felicidade é um meio, e não um fim, não é um lugar, mas um estado de espírito.

Quando nos dispomos a nascer de novo a cada dia, possibilitamos que a compreensão e o perdão estejam sempre presentes diante dos equívocos do nosso próximo. Só cresce quem sabe perdoar, pois deve considerar que também seria capaz de cometer o mesmo equívoco que percebeu no outro.

O nascer de novo também é um convite a que aprendamos, a cada dia, a nos libertar das identificações excessivas com a  persona, que nada mais é do que um dos muitos papéis sociais de que nos utilizamos para viver em sociedade, sabendo utilizá-la de acordo com necessidades reais e a serviço do Self.

O Cristo nos convida à renovação interior para o alcance do estado de felicidade, passaporte para uma Vida em harmonia com o Universo.

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