Claudio C. Conti (1999)
“A matéria cósmica primitiva continha os elementos materiais, fluídicos e vitais de todos osuniversos que estadeiam suas magnificências diante da eternidade. Ela é a mãe fecunda detodas as coisas, a primeira avó e, sobretudo, a eterna geratriz. Absolutamente nãodesapareceu essa substância donde provêm as esferas siderais; não morreu essa potência, pois que ainda, incessantemente, dá à luz novas criações e incessantemente recebe,reconstituídos, os princípios dos mundos que se apagam do livro eterno.“A substância etérea, mais ou menos rarefeita, que se difunde pelos espaços interplanetários;esse fluido cósmico que enche o mundo, mais ou menos rarefeito, nas regiões imensas,opulentas de aglomerações de estrelas; mais ou menos condensado onde o céu astral aindanão brilha; mais ou menos modificado por diversas combinações, de acordo com aslocalidades da extensão, nada mais é do que a substância primitiva onde residem as forçasuniversais, donde a Natureza há tirado todas as coisas.“
A GÊNESE [1]Em 1000 A.C. eram encontradas em textos Hindus citações sobre criação do universo, deacordo com estes textos, o universo estaria sujeito à ciclos de morte e nascimento, ou seja,ciclos de criação e destruição e cada ciclo durava 4,32 bilhões de anos (curiosamente, estenúmero é próximo da idade da Terra que é de 4,6 bilhões de anos). E o Universo assim, segueseu rumo a caminho do fim...Já em 350 A.C., seiscentos e cinquenta anos depois, Aristóteles postula que o Universo éeterno... que a Terra é seu centro e que as estrelas estão na fronteira entre o universo e o nada.A vida continua, Jesus nasce, nos presenteia com sua obra grandiosa que guiará a humanidadepor gerações sem fim.Mil quinhentos e setenta e seis anos se passaram até que Thomas Digges aprimora a teoria deCopérnico que diz que o Sol seria o centro do Universo. Digges acrescenta que o Universo éinfinito em extensão e preenchido uniformemente com estrelas.Em épocas tão remotas o homem já questionava sobre a origem e o destino do universo; emépocas tão remotas, estes mesmos homens, não poderiam sequer imaginar que tantos anosdepois os homens ainda estariam questionando sobre as mesmos coisas... Qual seria o absurdodos textos Hindus? Qual seria o absurdo de Aristóteles ? Qual seria o absurdo de Digges?Existem muitos absurdos na história da humanidade, tomemos, por exemplo, o mongeGiordano Bruno. Em 1590 o monge, indo um passo a frente, diz que o Sol não é o centro doUniverso mas que o Universo é composto de inúmeros sistemas solares e fervilha com vida.Este monge, por proferir estes ensinamentos, foi aprisionado, torturado e queimado no ano de1600. Eis o absurdo...
Retornando a Aristóteles, sendo Deus eterno, o Universo também pode ser consideradoeterno, ou melhor, criado por Ele a tanto tempo... não estamos falando do “nosso” pequenouniverso, este que conhecemos e do qual o planeta Terra faz parte, mas falamos do Universomaior. Verifica-se, também, que a sua teoria das estrelas estarem na fronteira entre o universoe o nada, que a primeira vista parece um absurdo, pode, na verdade, ser considerada como oprincípio do atual conceito de “horizonte cosmológico”. O horizonte cosmológico seria afronteira além da qual, as galáxias, se existirem, se movem com velocidade superior àvelocidade da luz. Tecnicamente falando, as galáxias localizadas depois do horizontecosmológico não podem ser vista devido ao deslocamento da luz que toma grandesproporções pela distância, por isso utilizamos o termo “se existirem”.A título de curiosidade, a “fronteira” do universo pode ser estimada utilizando a Lei deHubble que descreve a expansão do universo : V=H
0
D, isto é, a velocidade “V” de umagaláxia é igual à distância “D” desta mesma galáxia multiplicada pela constante de Hubble(H
0
=65 km/s/Mpc; Mpc
megaparsecs
1Mpc=3,086x10
24
cm). Se considerarmos que umagaláxia no horizonte cosmológico estaria viajando à velocidade da luz (300000 km/s), adistância “D” é de 4615 Mpc, ou melhor, 15 bilhões de anos luz, esta seria a distância até ohorizonte cosmológico.Depois de analisarmos a teoria de Aristóteles, avancemos muitos anos a frente, ao pensamentode Digges. Como poderia o universo ser uniforme se podemos observar a olho nu que estahomogeneidade não existe pois as estrelas se concentram em uma certa região do espaçodenominada VIA LÁCTEA?Apesar de nossa visão atingir até as estrelas, o universo vai muito além disto, devemosraciocinar não em termos do pequeno, mas da imensidão. Considerando-se as dimensões daordem de bilhões de anos luz, pode-se estimar a densidade da matéria distribuída nestevolume e considera-la como uniformemente distribuída. A título de curiosidade, à umadistância de 2 bilhões de anos luz existem cerca de 1 milhão de galáxias. Esta consideração deuniformidade é chamada de “princípio cosmológico” e foi considerada por Einstein e utilizadaem suas equações para descrever o universo. Pode-se até não concordar mas é assim que foi eé considerado, na cosmologia, para efeito de simplificação.Em 1916 Albert Einstein publica a TEORIA GERAL DA RELATIVIDADE relacionando oespaço, o tempo e a gravidade. Esta teoria é baseada em 3 pontos principais:1) A força da gravidade deve ser considerada como sendo uma curvatura do espaço e dotempo;2) Os objetos e a luz se movem ao longo de grandes círculos no espaço curvo;3) A curvatura do espaço e do tempo é resultante da presença de matéria.Um ano mais tarde, Einstein concluiu que poderia usar sua teoria para explicar a estrutura douniverso. Ele não pôde acreditar no próprio resultado de suas equações: o universo estava emmovimento. Seu pensamento, sem nenhum embasamento de observação, era de que ouniverso deveria ser o mesmo tanto espacial quanto temporalmente, isto é, invariável; estaidéia é chamada de “princípio cosmológico perfeito”. Assim sendo, Einstein modificou a suateoria geral da relatividade introduzindo um termo novo que ele chamou de “constantecosmológica”. Esta constante contrabalançava a força de atração da gravidade; com o valorcorreto para a constante, o resultado das equações apresentaria um universo em acordo com oprincípio cosmológico perfeito. Este foi um lamentável engano...
Três anos mais tarde o matemático russo Alexander Friedmann decidiu efetuar os cálculospara as equações de Einstein sem, no entanto, utilizar a constante cosmológica mas utilizandoalguns valores para a densidade de matéria. Os resultados descrevem alguns modelos para ouniverso, em alguns destes modelos o universo expandiria para sempre, a velocidadeconstante ou em processo de desaceleração, e em outros modelos colapsariam para, talvez,recomeçar o ciclo novamente como nos textos Hindus. Em todos os casos, contudo, ouniverso haveria começado de um estágio em que toda a massa estaria condensada em umúnico ponto.Ninguém deu muita importância, naquela época, às soluções apresentadas por Friedmann.Utilizando algumas linhas para reflexão, é possível ver que idéias de pessoas que viveram emépocas muito diferentes como nos casos dos textos Hindus, Aristóteles e Digges (1000 AC,350 AC e 1500 DC), com intervalos de até 2500 anos, ainda são considerados nos dias de hojeou como hipóteses prováveis ou como fatos comprovados. Isto ocorre nos ramos da ciênciaem que ainda não foi possível chegar ao âmago da questão, os cientistas trabalham em cimade hipóteses prováveis que podem ser modificadas a medida que novas descobertas vão sendorealizadas, descobertas que somente podem ocorrer devido à evolução, as vezes, de outrasáreas. É importante ressaltar que, nestas áreas da ciência, não se deve considerar as hipótesescomo fatos e sim como hipóteses sem, no entanto, desmerecer o trabalho grandioso de todosesses cientistas mas, apenas, limitados pelo conhecimento disponível na época em queviveram.Em 1929, Edwin Hubble publica o resultado de suas observações: o universo está emexpansão e obedece a equação V=H
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D, mencionada acima quando falava-se sobre ohorizonte cosmológico. Assim, o mundo foi convencido que as soluções apresentadas porFriedmann representavam o comportamento do universo tanto que, o próprio Einstein, em suainominável grandeza, foi a público reconhecer que a criação da constante cosmológica haviasido “o maior erro da minha vida”.A teoria do BIG BANG surgiu em 1948 pelo físico russo George Gamow. Gamow começou apensar sobre como seria o universo em seu estágio inicial, ele compreendeu que as soluçõesapresentadas por Friedmann implicavam em um universo infinitamente denso quando aexpansão teve início, então, a matéria primordial, quando o universo tinha menos de 1 minutode idade, deveria ser tão densa quanto a matéria no interior das estrelas seguindo assim umasucessão de reações de fusão nuclear. Esta teoria foi aprimorada em 1950 pelo astrofísico japonês C. Hayashi, denominada de teoria do BIG BANG À QUENTE, esta é a versão que seacredita nos dias de hoje. [2]Daremos então, um salto até o ano de 1998. Como foi apresentado acima, quando discutiu-sesobre as soluções apresentadas por Friedmann, o destino do universo dependeria somente dasua densidade, isto é, devido as forças de atração da gravidade dos corpos celestes.Imaginemos um foguete, caso a velocidade deste foguete seja maior que a velocidadenecessária para sobrepujar a força gravitacional da Terra, ele será capaz de atingir o espaço;caso a velocidade deste foguete seja igual a velocidade necessária para sobrepujar a forçagravitacional da Terra, ele ficará parado no limite do alcance da força gravitacional; caso avelocidade deste foguete seja menor que a velocidade necessária para sobrepujar a forçagravitacional da Terra, ele não atingirá o limite da força gravitacional e cairá.
O que se pensava que aconteceria com o universo era exatamente este exemplo do foguetecontudo, em uma conferência chamada “A Energia Desaparecida no Universo”[3], oscosmologistas tiveram que votar sobre as últimas descobertas : “Eles acreditavam nas recentesobservações de explosões de estrelas distantes, que implicava – apesar de todas asexpectativas – que o universo está crescendo a uma razão crescente?”, em outras palavras :Que a expansão do universo sofre aceleração?Caso o universo sofra aceleração, o universo tem de ser preenchido com alguma forma dematéria ou energia da qual a gravidade repila ao invés de atrair. Quarenta dentre os sessentapesquisadores presentes aceitaram os novos achados.Os cientistas responsáveis pela observação iniciam a publicação referente as conclusões daseguinte forma [4]:“Estrelas explodindo observadas a uma enorme distância mostram que a expansão cósmicapode estar acelerando – um sinal de que o universo pode estar crescendo devido a uma nova eexótica forma de energia.”E seguem pelo texto :“Um universo composto somente de matéria comum não pode crescer desta maneira, por quea gravidade é sempre atrativa. Contudo, de acordo com a teoria de Einstein, a expansão podeser acelerada se uma forma exótica de energia preencher o espaço vazio. Esta estranha“energia do vácuo” é considerada nas equações de Einstein atribuindo valores apropriados a,assim chamada, constante cosmológica.”Em uma outra publicação, outro cientista comenta sobre as conclusões [5]:“Apesar o conteúdo visível do cosmos não ser suficiente, a dinâmica celestial indica queexiste muito mais matéria que o olho pode ver...”“À uma década, eu usei o termo ‘quintessenciado’ para esta, assim chamada, matéria escura,tomando emprestado o termo de Aristóteles usado para o éter (a matéria invisível quesupostamente permeia todo o espaço).”“O universo deve ser composto de uma forma de energia mais etérea, que preenche osespaços vazios, incluindo aquele que está na frente dos nossos narizes.”Pode-se observar que ao final de alguns parágrafos existem números entre chaves, estesnúmeros correspondem à perguntas do Livro dos Espíritos [6]. Será que os Espíritosconseguiriam ser ainda mais claros?Certamente, esta matéria referenciada pelos cientistas ainda está longe de ser o fluido cósmicouniversal, pois este deve se encontrar em tão alto grau de eterização que nós, em nossasituação de iniciantes neste processo evolutivo, ainda não temos sequer condições de imaginaralgo tão sutil.Fluido ou campo?
O conceito de campo foi introduzido por Faraday e Maxwell no século XIX quandodescreveram as forças existentes entre cargas e correntes elétricas; assim, um campo elétrico éuma região do espaço no âmbito de influência de uma carga elétrica que produzirá uma forçasobre outra carga dentro do âmbito de atuação da primeira; um campo magnético é produzidopor uma carga em movimento, as forças magnéticas daí resultantes são sentidas por outracarga em movimento. A teoria da relatividade unifica estes dois campos formando o campoeletromagnético.Outro tipo diferente de campo é o campo gravitacional, este tipo de campo é criado e sentidopor todos os corpos sólidos. A teoria de campo mais adequada para o campo gravitacionalseria a teoria geral da relatividade.A combinação do conceito de campo eletromagnético e o conceito dos fótons, que seria amanifestação, sob forma de partículas, das ondas eletromagnéticas, resulta no conceito decampo quantizado, aplicável a nível subatômico; as interações destes campos ocorreriamatravés da troca de partículas. Em outras palavras: campos que podem assumir a forma deenergia ou partículas. Deve-se, ainda, considerar a existência de vários outros tipos de campoformados com as várias partículas consideradas como elementares.“O campo quantizado é concebido como entidade física fundamental, um meiocontínuo que está presente em todos os pontos do espaço. As partículas não passam decondensações locais do campo, concentração de energia que vem e vão, perdendo dessaforma seu caráter individual e se dissolvendo no campo subjacente.” [7]O físico Fritjof Capra no seu livro O TAO DA FÍSICA [7], do qual foram extraídas aspalavras acima, que comparou a teoria de campo com o pensamento místico oriental sobre
Brahman
dos hindus e o
Tao
dos taoístas, que, aparentemente, constituem a mesma idéia queos Espíritos nos colocam sobre o fluido cósmico universal. Na realidade, a teoria do campoquantizado caracteriza e descreve apenas alguns dos fenômenos físicos enquanto que a teoriado fluido caracteriza e descreve todos os fenômenos que ocorrem no universo em sentidomais amplo, como se encontra no texto retirado do livro A GÊNESE e apresentada no iníciodeste ensaio.Ainda a exemplo do autor acima, talvez, apenas uma suposição, o fluido cósmico possa serexplicado pela teoria do campo unificado, uma tentativa de unificação dos diversos camposem um único campo fundamental. Einstein dedicou os últimos anos de sua vida nestatentativa sem êxito e atualmente alguns cientistas se dedicam ao estudo do desenvolvimentoda teoria das supercordas que clama ser a teoria da unificação.Pelo conhecimento existente atualmente, será que uma melhor denominação para “fluido”seria de “campo unificado”? Mesmo assim, estaríamos apenas trocando o que nãoconhecemos pelo desconhecido.O físico Murray Gell-Mann, prêmio Nobel de 1969, diz que a teoria das supercordas descreveapenas as partículas elementares e suas interações, a teoria não pode nos dizer tudo o que épossível ser conhecido sobre o universo e a matéria que este universo contém.[8]Apesar do grande progresso realizado pela ciência na área de partículas elementares, grandesquestionamentos ainda permanecem sem resposta, idéias antagônicas ainda co-existem numemaranhado de conhecimento. Isto, no entanto, não desmerece a capacidade e o trabalhodesses cientistas que buscam o conhecimento das leis que regem o universo.Para terminar, pode-se citar as palavras de André Luis [9]:“A proposição de Einstein, no entanto, não resolve o problema, porque a indagaçãoquanto à
matéria de base
para o
campo
continua desafiando o raciocínio, motivo peloqual, escrevemos da esfera extrafísica, na tentativa de analisar, mais acuradamente, ofenômeno da transmissão mediúnica, definiremos o meio sutil em que o Universo seequilibra como sendo o Fluido Cósmico ou Hálito Divino, a força para nós inabordávelque sustenta a Criação.”(grifos do autor espiritual)Obviamente esta é uma versão simplificada da história da evolução da cosmologia, muitosoutros cientistas tiveram importante participação neste processo, mas que tornaria este ensaiodemasiadamente longo e cansativo; assim como as teorias aqui apresentadas, pois visamapenas a apresentar uma linha de raciocínio e não instruir quanto a estas teorias.Referência:[1] Kardec A.; “A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo”; 36
ª
edição,FEB, 1995.[2] McCray R.; “Stars and Galaxies – a Hypertext Course”; Apostila de curso; Universidadedo Colorado, 1998.[3] ...; “Special Report : Revolution in cosmology”; Scientific American, January 1999.[4] Hogan C.J., Kirshner R.P., Suntzeff N.B.; “Surveying Space-time with Supernovae”;Scientific American, pg. 46-51January 1999.[5] Krauss L.M.; “Cosmological Antigravity”; Scientific American, pg. 53-59January 1999.[6] Kardec A.; “O Livro dos Espíritos”; 76
ª
edição, FEB, 1995.[7] F. Capra; “O Tao da Física”; Editora Cultrix, 1999.[8] M.Gell-Mann; “O Quark e o Jaguar : Aventuras no Simples e no Complexo”; EditoraRocco, 1996.[9] ANDRÉ LUIS; “Mecanismos da Mediunidade” (Psicografia de F. C. Xavier.); 15
ª
edição,FEB, 1997.
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