Estudando o Espiritismo

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terça-feira, 31 de julho de 2012

Cura interior - Adenáuer Novaes

“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.” Mateus, 5:4.

As Bem-aventuranças são mensagens de consolação para nós, Espíritos ainda pequenos na evolução.  São poemas de esperança a todos, para que compreendam as verdades eternas. São recados do emissário de Deus para as criaturas na Terra. Bem-aventurados os que choram, pois estão resolvendo seu carma negativo. Estão concluindo seu processo de expiação, capacitando-se a uma nova vida de oportunidades renovadoras.

O Cristo costumava perguntar àqueles que o procuravam:  Queres ser curado? Tal pergunta demonstrava sua preocupação em que o indivíduo entendesse que o desejo pessoal de quem busca é importante e fundamental fator de cura. O desejo consciente e interno de ser curado responde pela maior possibilidade de alcance do objetivo. O desejo sincero obtém resposta positiva da Vida. Nesse ponto, vemos que o Cristo tinha consciência do chamado efeito  placebo, no qual o que cura é um certo fator psicológico ou outro desconhecido, contido no desejo ou na consciência da eficácia do remédio, mas não nele em si, pela sua condição inócua. 

O desejo de ser curado deve corresponder à compreensão do porquê se está doente. Desejar ser curado sem consciência de que a doença está sendo um grande veículo de aprendizado, pode significar a perda da oportunidade de crescer, bem como a possibilidade do retorno de nova forma dolorosa de aprender.

Ser curado por alguém deve se constituir numa possibilidade do estabelecimento de um marco para o início de um novo ciclo de vida. A pergunta levaria o indivíduo a refletir sobre a força de sua vontade e a importância do desejo interno de curar-se. O desejo de cura não era tão somente do Cristo, mas, principalmente do necessitado. A iniciativa pessoal constitui-se no princípio da cura. Entregar-se à doença, sem procurar os meios de curar-se, significa contribuir para que ela continue seu ciclo de inércia da Vida. Quem tem seus males deve buscar resolvê-los com determinação e consciência de que estar doente ou sadio são estados orgânicos a ser administrados pelo Espírito.

Querer ficar curado é não atribuir ao outro a responsabilidade pelo processo de cura. O  salvador de mim mesmo sou eu. O Cristo mostrava que o remédio procurado estava no próprio indivíduo e não fora dele. O remédio é mais interno que externo. A pergunta do Cristo obriga-nos a voltar nossa atenção à nossa vida íntima, aos nossos processos internos de crescimento. Costumamos focar o olhar para os outros, não para ajudá-los, mas para desviar nossa atenção sobre o que nos incomoda. Fugimos de nós, focando os outros.

Ele poderia simplesmente dizer: levanta-te e anda. Mas preferiu falar: “Levanta-te, toma o teu leito e anda.” Acrescentava o  “toma o teu leito”, isto é, teu chão, tua estrada, tua vida, teu passado, teu mundo interior. Curar o outro não deveria eximi-lo de enfrentar sua realidade. Curar o corpo não é o mesmo que curar a alma. Temos que ter a consciência de que o corpo sadio não garante a felicidade de ninguém, tampouco ser curado significa estar livre de suas provas, necessárias à evolução.

Tomar o seu leito é estimular a força de vontade que se espera dos que desejam a cura. É estimular a utilização da energia psíquica, mobilizando-a a serviço do próprio progresso. É entender que evoluir é compromisso pessoal e intransferível. Não se evolui pelo outro, mas com o outro. Ter sido curado pelo Cristo não outorgou aos que receberam sua energia amorosa o título de salvos ou evoluídos. Viver ao lado de mestres, gurus,  santos, missionários verdadeiros, não isentará ninguém de vencer suas próprias limitações e trilhar seu próprio caminho.

Na realidade o Cristo fez um convite a que o ajudado vencesse suas próprias resistências internas. Muitas vezes o que impede a cura de nossos problemas, sejam físicos ou sejam psicológicos, é uma certa inércia inicial que se apresenta na forma de resistência à mudança. Os que se encontram em aflição se situam num estado psíquico que possibilita a busca de soluções para a saída do mal que atravessam. A aflição é uma espécie de crise, e crise significa momento de mudança. É a oportunidade de se rever valores, motivações, desejos e objetivos de vida. É o ponto de referência que o Espírito poderá utilizar-se para iniciar uma nova forma de viver.

A tendência do ego em afirmar-se e submeter as circunstâncias da vida aos seus desejos exclusivos, precisa ser transformada. Ele deverá reconhecer que além dele há um centro organizador no psiquismo, que não só o direciona como também o contém. Esse centro diretor, o Self, impulsiona o desenvolvimento psíquico no sentido darealização da sua totalidade espiritual. Por mais elaborada que seja a visão de mundo do  ego, pela sua parcialidade e limitação, ela é sempre unilateral, por faltar-lhe a contraparte inconsciente.

Quando a crise se instala é o  ego quem sofre, pois ela decorre, geralmente, como resultante das frustrações de seus desejos. Bem-aventurado, portanto, é o  ego que chora por ter seus desejos ilusórios destruídos. Nesse momento poderá tonar-se apto a perceber os reais desejos de sua alma, alcançando o consolo de estar vivendo a serviço do Self.

É o ponto em que se deve mudar para uma vida melhor. É a mudança interior que deve ser buscada, muito mais que a exterior. Há pessoas que, diante da crise, resolvem mudar de lugar, de ares, de trabalho, de casa, viajar, como se a crise dependesse exclusivamente do mundo externo. A mudança deverá ser interior, a partir de uma nova concepção de mundo e da própria Vida.

Ele nos convidava a essa percepção diferente do mundo, quando declarava  “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.”  Arrepender-se é convidar a não fazer mais o que se fazia; é não entender a vida com os mesmos valores que se tinha; é, ainda, não se culpar pelo que fez no passado, mas encarar uma nova realidade que se avizinha.

Arrepender-se é autoconhecer-se. É fazer um mergulho no próprio mundo consciente e no inconsciente, a fim de modificar suas disposições internas e passar a vibrar numa faixa psíquica mais elevada. Este estágio mais adiantado é aquele que nos permite viver com a disposição de enfrentar com equilíbrio e humildade os revezes que a Vida nos apresenta.

A proximidade do reino dos céus é a certeza de que ele se encontra no nosso interior. Não é um estado externo, mas interno. É possível alcançá-lo pela sua íntima condição. Não é necessário viajar, nem buscá-lo muito longe. Não está em nenhum lugar mágico ou nas alturas dos montes, nem nas florestas virgens, nem em caminhadas intermináveis. Não se encontra no espaço infinito, mas tão somente no infinito de nossas moradas interiores.

Os aflitos poderão vivenciar inúmeras crises, desde as da infância até aquelas que exigem muita maturidade para enfrentá-las, muitas vezes oriundas de encarnações passadas. Nem todas provocam mudanças, pois a maioria das vezes não lhes aproveitamos o auge para reflexões profundas e para transformações verdadeiras. As crises que provocam mudanças são aquelas que nos exigem investimento emocional numa nova atitude. Decorrem geralmente do relacionamento com um outro, da escolha profissional, da necessidade do equilíbrio financeiro, das relações parentais. São crises que geralmente ocorrem na meia idade, e que exigem renúncia, centração, a partir de soluções duradouras.

A aflição não deve constituir o motivo único de preocupação na vida de uma pessoa. Devemos sempre
pensar que nela está uma oportunidade de crescimento. A aflição é bem-aventurada por representar a oportunidade de vitória sobre as forças contrárias à evolução da vida. Quando percebermos  que estamos num estado que pode chegar ao desequilíbrio, é conveniente que façamos uma parada para meditar, orar, e desfocar o problema, a fim de melhor captar a influência espiritual salutar, para o encontro de soluções dos conflitos e para a harmonia das idéias.

O Cristo nos convida à esperança em nós mesmos a partir do estado de espírito que nos predispõe a viverconfiantes na certeza de que um mundo interior em paz produz uma sociedade em harmonia.

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