http://www.caminhosluz.com.br/detalhe.asp?txt=2254
https://www.youtube.com/watch?v=zxS9EHwAK0k
O mesmo tema, vários artigos, para ajudar a alguém que está preparando uma exposição ou estudando um assunto
Estudando o Espiritismo
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sexta-feira, 20 de julho de 2018
Livro Alteridade, a diferença que soma
ALTERIDADE, a diferença que soma, é uma obra escrita por jornalistas, profissionais da área de comunicação e integrantes da ABRADE - Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo, a qual nos leva a refletir e debater acerca da necessidade de relacionarmos com a diversidade de pessoas e idéias, que faz parte do cotidiano de todos nós.
É um renovado parâmetro relacional que exigirá certo esforço de quem o adota, pois uma atitude alteritária não importa aceitar tudo sem senso crítico, mas a possibilidade de discordar sem confrontar ou inviabilizar o diálogo.
É com essa proposta o lançamento deste livro: colaborar para a melhoria das relações humanas, somando seus esforços aos de outras organizações da sociedade civil que acreditam num mundo mais humano, fraterno e tolerante.
É um renovado parâmetro relacional que exigirá certo esforço de quem o adota, pois uma atitude alteritária não importa aceitar tudo sem senso crítico, mas a possibilidade de discordar sem confrontar ou inviabilizar o diálogo.
É com essa proposta o lançamento deste livro: colaborar para a melhoria das relações humanas, somando seus esforços aos de outras organizações da sociedade civil que acreditam num mundo mais humano, fraterno e tolerante.
AMOR E ALTERIDADE
Ermance Dufaux
"As reuniões Espíritas oferecem grandíssimas vantagens, por permitirem que os que nelas tomam parte se esclareçam, mediante a permuta das idéias, pelas questões e observações que se façam, das quais todos aproveitam. Mas, para que produzam todos os frutos desejáveis, requerem condições especiais, que vamos examinar, porquanto erraria quem as comparasse às reuniões ordinárias."
O Livro dos Médiuns - cap. XXIX - item 324
O episódio cristão da traição de Judas encerra infindáveis leituras e lições às nossas considerações.
Jesus sabia que o fato ocorreria, mas nem por isso tomou uma atitude excludente. Mesmo sabendo da diferente postura do apóstolo, manteve-se firme nos ideais de amá-lo incondicionalmente na sua peculiar diferença.
Isso é alteridade: o estabelecimento de uma relação de paz com os diferentes, a capacidade de conviver bem com a diferença da qual o "outro" é portador.
A ética da alteridade consiste basicamente em saber lidar com o "outro", entendido aqui não apenas como o próximo ou outra pessoa, mas, além disso, como o diferente, o oposto, o distinto, o incomum ao mundo dos nossos sentidos pessoais, o desigual, que na sua realidade deve ser respeitado como é e como está, sem indiferença ou descaso, repulsa ou exclusão, em razão de suas particularidades.
Alteridade, portanto, torna-se aprendizado urgente para o futuro de nosso Movimento Social Espírita, considerando o lamentável processo de exclusão que vem ocorrendo na surdina das fileiras de serviço cristão e espírita, em função de uma homogeneidade utópica.
Conviver com os contrários e aprender a amá-los na sua diversidade constitui desafio ético aos grupamentos espiritistas no campo da alteridade, mesmo porque o mastro da nova revelação cristã preconiza a fraternidade como postura de base para relações pacíficas e mantenedoras do idealismo superior, em direção às clareiras de necessidades do homem do terceiro milênio.
A inclusão, em nome do Amor, é ação moral para nossa convivência, sem o que não faremos a dolorosa e imprescindível cirurgia de extirpação da egolatria, tão comum a todos nós - almas com pequenas aquisições nos valores essenciais da espiritualização.
Diferenças não são defeitos ou álibis para que decretemos o sectarismo e a indiferença, somente porque não compreendemos o papel dos diferentes na engrenagem da vida, executando uma "missão específica" que, quase sempre, só conseguiremos entender quando, decididamente, vencermos as etapas do processo de construção da alteridade.
Sem deixar de considerar as inúmeras variações que resultam das peculiaridades individuais, apresentemos algumas dessas etapas na caracterização do processo alteritário, tais como:
CONHECER A DIFERENÇA - é a fase de acolhimento do "outro", despindo-se de preconceitos e "estereótipos éticos" pré-formulados, guardando abertura de afeto ao diferente e à sua diferença.
COMPREENDER A DIFERENÇA - criação de avaliações parciais, não definitivas, que favoreçam a análise desse "outro", buscando entender-lhe as razões, estudar-lhe os motivos até penetrarmos na essência de seu "ser", compreendendo-o pela apreensão do "sentido" que ele tem para Deus, seu papel cooperativo no universo.
APRENDER COM A DIFERENÇA - é uma fase que une e permite acessibilidade mútua, receptividade aos sentidos do "outro"; propicia uma relação de aprendizado e o elastecimento de noções sobre como a diversidade do outro pode nos ensinar algo, buscando, se possível, aprender a amá-lo na sua particularidade.
Fácil concluir, portanto, que alteridade pode estar presente nos atos de solidariedade, empatia e respeito nas relações em sociedade, sem que, necessariamente, o Amor legítimo esteja na base de tais atitudes. Por outro lado o Amor é sempre rico de alteridade e não existe sem ela.
A faina doutrinária conduz-nos a contínuos relacionamentos com companheiros de entendimentos diversos e, inclusive, oponentes como ocorre na vida social, embora não devam as reuniões espíritas tornaremse assembléias ordinárias, aderindo a relações de insana competição ou de cruel indiferença.
O processo de alteridade será valioso nas interações entre companheiros de ideal e ocasionará, parafraseando o Codificador, "grandíssimas vantagens".
Investir no entendimento de semelhante questão auxiliar-nos-á a estabelecer uma autosondagem frente aos testemunhos da vida relacional, investigando em nós mesmos, a partir dos atritos e desencontros com o "outro", as causas reais dos sentimentos que se assomaram no caleidoscópio do mundo emocional, efetuando uma viagem segura a um "outro diferente", ainda não dominado e também desconhecido que reside em nossa intimidade.
Esse "outro diferente" é o "eu Divino" que resgataremos no aprendizado do auto-Amor, possibilitando-nos, a partir dessa conquista, excursionarmos ao mundo alheio, sem tisnar com as sombras do primarismo moral os elos de Amor que devemos entreter com todos e com tudo, em favor do soerguimento de um mundo melhor e com mais paz, uns perante os outros.
Não olvidemos, portanto, laborar por mais sólida preparação ética em nossos conjuntos doutrinários, tratando das temáticas que versem sobre a edificação de relacionamentos consistentes, com alteridade, estudando o significado de compreender e aceitar, reflexionando com demora no que seja saber criticar e discordar sem inimizade, sem oposição sistemática e dissidência declarada, sabendo discordar sem amar menos, apesar de pensar diversamente.
Mesmo que nos agastemos inicialmente pela ausência do hábito de conviver harmoniosamente com conflitos e tribulações da vida interpessoal, anelemos por novos comportamentos repletos de Amor e alteridade, aprendendo a maleabilidade, o altruísmo, a assertividade, o domínio emocional e os imperativos de vigilância sobre os impulsos menos bons, que serão promissoras sendas na conquista da ética da alteridade.
Evidentemente, não fazemos apologia ao convívio no círculo estreito de desafetos, em climas adversos; privilegiemos os afins como quesito fundamental ao bom andamento dos compromissos assumidos, aprendendo que afinidades são "lembretes" de Deus, a fim de não esquecermos o desejo de amar, e estímulos para a alegria da amizade.
Contudo, não desconsideremos que o aprendizado do Amor autêntico, a sedimentação da conduta amorosa é arregimentada na "fusão" relacional com os menos afins, os que não nos atraem, com os quais superaremos, paulatinamente, pesada fortaleza de entraves emocionais, libertando-nos para vôos mais amplos pelos céus universais pulsantes de Amor Divino, na vitória sobre o egoísmo que ainda nos aprisiona.
* * * * *
Amigo dirigente,
A responsabilidade que te cabe junto aos ofícios doutrinários é de inestimável valor.
Difundir esperança, promoção humana, delegação de responsabilidades e estímulo para viver são alguns dos inúmeros deveres a ti confiados, quando assumes os postos da direção espírita.
Pensa e medita em teus desafios.
Estás no cargo que te "onerará" com graves ocorrências na medida das tuas necessidades de aprendizado.
Não fujas da ocasião e faze o melhor que puderes. Nos terrenos do afeto com aqueles que te rodeiam, vigia tuas manifestações de carinho e atenção avaliando os efeitos de tuas ações, continuadamente.
Alteridade para ti será o desafio de aceitares cada pessoa em tua experiência evolutiva, auxiliando-a a crescer e se libertar.
Se guardares contigo os preconceitos e estereótipos, ainda que manifestes afeto e reconhecimento aos que te rodeiam, certamente obliterarás o ciclo espontâneo das relações que devem vigorar em teus ambientes de esforço.
As pessoas à tua volta nem sempre saberão traduzir a linguagem universal dos sentimentos que as envolvem, perceberão, porém, o "hiato", a reserva com que são tratadas...
Afeto para ser Divino precisa ser espontâneo, autêntico, natural.
Se guardas dificuldades em entender esse ou aquele companheiro, se não admites determinadas expressões comportamentais que diferenciam de tua formação doutrinária, se não compreendes determinadas idéias que a ti parecem desconexas da proposta espírita, tenha muito discernimento para que não te aprisiones aos grilhões do personalismo que subtrai-te a alteridade, a capacidade de entendimento com o outro.
Os dirigentes espíritas conscientes na atualidade precisarão de muita alteridade para cumprir sua missão a contento.
Razão pela qual, mais que nunca, aprendas o que seja promover e delegar, a fim de permitires aos que te cruzam as vivências encontrarem o quanto antes, com o preparo elementar, os caminhos adequados de crescimento que nem sempre serão ao teu lado.
Liberta-te da idéia de uniformidade e ajuda cada qual a descobrir o seu caminho para Deus, sem jamais esquecer que cada criatura tem o seu Roteiro Divino.
Este texto faz parte da obra Laços de Afeto, de autoria de Wanderley Soares de Oliveira, pelo espírito Ermance Dufaux, publicada Editora INEDE.
O autor e a editora, autorizam a reprodução e distribuição gratuita deste texto, sem no entanto poder haver qualquer alteração de seu conteúdo e que sempre seja mencionada a sua origem.
ESPIRITISMO E ÉTICA DA ALTERIDADE
Sergio F. Aleixo
Frei Betto pergunta e responde: “O que é alteridade? É ser capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua diferença”.[1] Assim, esta nova ética filosofal quer estabelecer uma relação de entendimento e paz entre os que considera essencialmente diferentes, afinal, para um dos maiores teóricos do assunto: “O absolutamente outro é outrem; não faz número comigo”.[2] Sem discutir a real possibilidade de uma tão abismal distinção entre os filhos de um mesmo Deus, o fato é que tem sido essa a ambiência teórica que há fomentado a ânsia pelo pluralismo filosófico e doutrinário em nossas fileiras de uns tempos para cá, um espiritismo em que Kardec não seja senão mais uma das “correntes” do pensamento espírita.
O instrumento de que se servem esses irmãos mais irrequietos é justamente um discurso em que se postam como paladinos da nova ética da alteridade; tudo, é claro, para progredirem sem óbices no movimento espírita, fazendo os adeptos menos avisados crerem que não seria boa conduta opor-lhes resistência ou às suas ideias. Grosso modo, a filosofal ética alteritária não é exatamente uma novidade para o espiritismo. Pode-se dizer que é a via de luz em que, desde sempre, tem encontrado sua identidade de fé raciocinada, e não essa viela escura de novidadismos confusos em que, num minuto insano, logo a perderia.
Ninguém respeitou mais as diferenças e apreendeu o outro em sua plenitude e dignidade do que o professor Kardec. O controle universal que criou o obrigava a levar muito a sério até o que entidades de pouca elevação tinham a dizer sobre a vida espiritual. Para ele, os espíritos foram, “do menor ao maior”, meios de se informar, não reveladores predestinados.[3] Aos detratores, mesmo aos mais encarniçados, respondia serena, mas altivamente:
“O espiritismo proclama a liberdade de consciência como direito natural; reclama-a para os seus adeptos, do mesmo modo que para toda a gente. Respeita todas as convicções sinceras e faz questão da reciprocidade”.[4]
Todavia, o que saberiam realmente da filosofal ética da alteridade os que, desde a morte do mestre lionês até hoje, asseveram que Kardec está ultrapassado e oferecem aos espíritas, como solução ao suposto problema, as obras que eles próprios adotaram de outrem, escreveram por si ou receberam de espíritos? Isso não é um desrespeito à diferença? Não é uma imposição? Mais ainda: se insistem em se dizerem espíritas, negando, contudo, a validade da obra de Kardec para os dias de hoje, não se trata, pois, de uma usurpação? A verdade é que não pode haver nenhuma ética da alteridade nisso, a menos que a reciprocidade seja aí algo de somenos. Se agissem conforme a nova ética filosofal, reconheceriam ser o pensamento espírita algo “diferente” do que concebem nas suas ações de franca censura a Kardec; definitivamente, um "outro" que não é "outrem" e, afinal, bem diverso, que merece, portanto, o respeito de existir da forma mais limitada e atrasada que assim a julguem.
Mas não. Os senhores da nova ética da alteridade, paladinos do pluralismo filosófico e doutrinário dentro das fileiras espíritas, estão sempre dispostos a se proclamarem adeptos do espiritismo, embora defendam contraditórios ao pensamento kardeciano, tais como: 1) a reencarnação é castigo a espíritos falidos noutra dimensão (rustenismo); 2) incensos e defumadores são válidos, pois representam detonadores de miasmas astralinos (ramatisismo); 3) a atual filosofia espírita é limitada por não nos esclarecer as primeiras origens do universo e o plano geral da criação, faltando-lhe, assim, visão completa do todo (ubaldismo); 4) o espiritismo é uma doutrina laica, neutra quanto ao pensamento religioso e, desse modo, não cristã (laicismo pan-americano); 5) espiritismo é toda forma de interpretação que possibilite ao homem a sua espiritualização, razão pela qual, nos centros e associações espíritas, deve imperar o regime do mais livre pluralismo de concepções acerca dos postulados da doutrina (Atitude de Amor), etc., etc.
Não é soberbo que campeões da filosofal ética alteritária defendam o respeito às diferenças e, para o caso particular da diferença que caracteriza o espiritismo em si, trabalhem por diluí-la, tendo por fim transformá-lo no produto nada alteritário de suas próprias concepções, a título de "atualização", de "contribuição" a sua sobrevivência? Não é singular que, de um lado, combatam as ações doutrinantes da velha postura colonial e, de outro, não hesitem, a seu modo, em reproduzi-las contra a identidade kardeciana do espiritismo, cuja diferença deveria ser apreendida por eles na inviolável plenitude de sua dignidade? Onde então a ética da alteridade? Querem-na por obrigação alheia, mas não a impõem a si mesmos neste caso.
[1] Alteridade. In: Agencia Latinoamericana de información. http://alainet.org/active/3710〈=es
[2] LÉVINAS, E. Totalidade e infinito. Trad. José Pinto Ribeiro. Lisboa: Edições 70, 1988, p. 26.
[3] Obras Póstumas. Minha primeira iniciação no espiritismo.
[4] Obras Póstumas. Ligeira resposta aos detratores do espiritismo.
Fonte: ENSAIOS DA HORA EXTREMA
OS ESPÍRITAS E A ALTERIDADE
Jurandy Castro
Embora pouco conhecido, o vocabulário “alteridade” tem sido bastante empregado pelos trabalhadores da Espiritualidade, em suas mensagens e orientações aos encarnados, em especial, aqueles que se reuniram em torno de uma proposta visando de modo mais concreto, ao despertar e à conscientização das lideranças espíritas, para um melhor posicionamento do quadro preocupante de distanciamento do Movimento Espírita, e dos valores simples e profundos que caracterizaram o Cristianismo Primitivo. A terceira edição atualizada do dicionário Aurélio, define a palavra “alteridade” como sendo o “estado de qualidade de que é outro, distinto, diferente”. Consiste no estabelecimento de uma relação de paz com os diferentes; a arte de conviver bem com a diferença do qual o próximo é portador”.
No Congresso Espírita Brasileiro que aconteceu em outubro de 1999, foi dado destaque ao Movimento Espírita que teve seu marco inicial nos compromissos de unificação estabelecidos no Pacto Áureo de 1949. Foi verificado na visão dos trabalhadores da Espiritualidade que o movimento de unificação edificou relevantes conquistas no curso dos últimos 50 anos. O mencionado congresso reuniu as lideranças do Movimento Espírita nacional, real e sinceramente comprometidas com os ideais da Codificação, muito embora a diversidade das percepções individuais, das diferenças regionais e culturais que pudessem criar controvérsias ocasionais, se constituíram no grande mérito do conclave por ter germinado ali “o embrião das novas e saudáveis construções do futuro, no campo da unificação”. Entretanto, os companheiros da espiritualidade chamam a atenção para uma série de ocorrências, por eles testemunhadas nos interregnos da comemoração, que deixou evidente o quanto ainda temos de trabalhar para conquistarmos posturas mais evangélicas e vigilantes, a fim de nos relacionarmos com o devido respeito diante da multiplicidade das opiniões. Ditas ocorrências se constituíram em “comentários, indisposições vibratória na convivência, mágoas, discursos vaidosos, lisonjas e dissimulações próprias das pessoas invigilantes...” Note-se que no congresso estavam reunidas as lideranças do Movimento Espírita nacional... Assim também, essas ocorrências lamentáveis são rotineiras no dia a dia das nossas Casas Espíritas.
Por que, em detrimento do conhecimento adquirido, ainda nutrimos sentimentos e manifestações tão destrutivas e desagregadoras? - Poderíamos dizer que o Movimento Espírita carece de Alteridade. Analisando o problema com o apoio das obras espíritas verificamos que o Movimento Espírita padece de duas mazelas, comuns a todos nós, que precisam ser combatidas, que são: o orgulho e o personalismo com a ausência de afeto. A propósito do orgulho, Maria Modesto, trabalhadora da Espiritualidade, costuma dizer que “os espíritas estão muito orgulhosos da humildade que imaginam possuir”.
Aqueles que buscam auxílio na Casa Espírita são, em geral, assistidos, orientados amparados, consolados. Embora meritória essas práticas, cumpre nos interrogarmos com severidade: qual o sentimento que nos impulsiona nessas ações? A compaixão que nos permite sentir o sofrimento do outro e nos impele a abraçar a sua causa, ou adotamos a postura daquele que já detém algum conhecimento e orienta e ajuda sem descer do seu nível ”superior”? – Se a segunda premissa foi o móvel das nossas ações, aí está o orgulho! – Nas palestras, cursos e exposições que fazemos como nos situamos diante dos eventuais elogios e manifestações agradecidas? Se a vaidade se apresenta, lá está o orgulho que precisa ser trabalhado no íntimo para ser extinto. Até mesmo quando nos rotulamos de tímidos, e deixamos de atuar e participar, a fim de não ficarmos em evidência, revelamos mais uma faceta do nosso orgulho; aquela que não deixa que nos exponhamos devido ao medo de sermos criticados. . .
O personalismo, igualmente, está presente toda vez que, inadvertidamente, adotamos atitude de intransigência e intolerância; quando nos colocamos como donos da verdade ou simplesmente desmerecemos a opinião ou as idéias de outras pessoas que, para o personalista, é visto como um concorrente. O indivíduo tem, então, visível dificuldade de trabalhar em equipe; não permite a troca de experiências com o outro; tem dificuldade de cultivar amizades sinceras, assim como não sabe ser solidário e companheiro. O orgulho e o personalismo bloqueiam sua capacidade afetiva. Essas duas mazelas – o orgulho e o personalismo – criam uma série de bloqueios capaz de enclausurar o ser e dificultar o relacionamento com os seus semelhantes.
Em trabalho de pesquisa e análise sobre o tema, Cairbar Schutel, na Espiritualidade, mostra com clareza que a trajetória da maioria daqueles que hoje trabalham nas frentes espíritas, está indelevelmente marcada por reencarnações sucessivas, no curso dos últimos 20 séculos, nas diversas religiões comprometidas com a mensagem do Evangelho, falhando, também sucessivamente, em decorrência do orgulho e do personalismo ao longo de tantas lutas. Prosseguindo, afirma ele: “segundo as conclusões de sábios psicólogos celestes, o maior obstáculo íntimo, para almas com esse perfil, seria a indisposição para o contato comunitário, o que levou a incitar o serviço de unificação, como medida apropriada para que a lição da convivência, em comunidade, pudessem ser aprendida e desenvolvida, considerando outros compromissos maiores no futuro”.
Em alguns aspectos, a ética da alteridade vem deixando a desejar e poderá, inclusive, resvalar por atalhos como acontece com a decantada “reforma íntima”, que acaba sendo uma prescrição para os outros e não para nós mesmos, ou então, acaba transformando-se em uma tentativa “obsessiva” de melhora, a qual, por ausência de preparo e de condições morais, não atinge os patamares que nós mesmos estimamos. O grande desafio da alteridade está na convivência dos diversos movimentos, entidades, instituições e correntes de igual teor, pois pelo exercício do livre-arbítrio, desenvolvem-se teorias e fundamentos, idéias e opiniões nem sempre homogêneas ou similares. Assim, o que importa, em essência, é a aceitação de determinados princípios básicos espíritas e, a partir daí, o que cada pessoa ou grupo faz com tal conhecimento, passa a ser de inteira responsabilidade do mesmo, sem a necessária concordância absoluta em todos os pontos.
Na Doutrina dos Espíritos, não há hierarquia e isto importa como conseqüência que “qualquer pessoa pode considerar-se espírita pela aceitação de sua filosofia e, principalmente, por sua prática de amor em relação ao seu semelhante”. Então, se estamos concordes quanto à existência de Deus, a imortalidade do Espírito, a pluralidade das existências sucessivas e dos mundos habitados, todos nós somos espíritas, ou não? É preciso algo mais para que sejamos considerados assim?
Ser alteritário não é “fechar os olhos” para o que acontece ao nosso redor, nem baixar a cabeça para desmandos e arbitrariedade, nem aceitar a violência, principalmente a coação moral, a ameaça e a dissimulação. Desse modo, sempre que nos sintamos agredidos ou que presenciemos a violência, é nosso dever denunciá-la e manifestar nosso descontentamento público. Isto não importará em “quebra de respeito” ou em atitude “anti-fraternal”, nem tampouco em redução no nível “vibratório”. Todos nós temos defeitos e isto não deve impedir de apontar aquilo que nos pareça negativo em relação à ordem espiritual, aquela que estabelece a igualdade plena em direitos e deveres perante o Criador. Se temos “telhado de vidro”, e o temos de verdade, não importa o que os outros possam dizer de nós, de nossas atitudes, de nossas atividades. Será até bem salutar que alguém possa apontar nossos equívocos e comprometimentos, para que possamos refletir recompor e prosseguir. A alteridade representa, pois, a relação pacífica e respeitosa em relação ao próximo, no respeito às diferenças, em termos de idéias, entendendo que o outro é diferente de nós e exerce o seu direito de “ser diferente”.
Assumir responsabilidades tem sido motivo de afastamento de muitas pessoas das lides religiosas, principalmente na seara espírita, não só para não se expor como também por ser caracterizado como um trabalho voluntário, onde todos indistintamente, sentem-se chamados a uma participação ativa. O voluntário, por muito tempo, foi visto como um “turista”, que agia sem regularidade ou assiduidade; que estaria fazendo um favor ao vir dar uma “mãozinha” e que voltava às suas atividades habituais, certo de que havia desempenhado sua cota de “caridade”.
A Doutrina Espírita reformulou esses conceitos quando nos chama a uma participação responsável, a uma conduta operante e a uma assiduidade que tornará a tarefa passível de ser realizada com êxito. O estar no mundo se traduz por uma responsabilidade pessoal, familiar e social; mas o Espiritismo nos convida ainda a uma participação ativa na Casa Espírita, onde podemos estudar trabalhar e assumir tarefas, observando o fim útil de estarmos visando ao nosso retorno à pátria espiritual, em melhores condições íntimas do que quando aqui chegamos. O trabalhador da Casa Espírita precisa estar consciente de que sua participação nas atividades da Casa não será uma realização apenas em proveito do outro, mas principalmente em seu próprio benefício. Nela começa o seu aprendizado de
doação, humildade, troca de idéias, renúncia, qualificação e evolução; que pode encaminhar os tarefeiros às atividades mais específicas e até aos cargos de dirigentes da própria Casa que freqüenta. O dirigente de uma Casa Espírita é sempre visto como aquele que tem a responsabilidade maior, e que por isso, tem que assumir todas as falhas e cobrir a irresponsabilidade de possíveis dirigentes e tarefeiros da Casa. Isso assusta e afasta outras pessoas de compartilhar do trabalho e de se preparar e substituir o dirigente. O movimento espírita ouve e repete com freqüência: São poucos os tarefeiros e a Seara é muito grande. – O servidor que amadurece moral e espiritualmente, vai percebendo que é exatamente nos momentos mais difíceis que ele precisa do labor, da auto-superação, que as escapatórias ou fugas só multiplicarão as amarguras e adiarão os compromissos e as genuínas soluções. Lutas, dissabores, cansaço, desânimo não podem impedir o tarefeiro ou o dirigente ou torná-lo vacilante perante a tarefa abraçada. Disciplina, abnegação, fé, boa-vontade, instrução e prece farão de todos, os trabalhadores escolhidos e comprometidos com a causa do Mestre Amado.
É importante que nos conscientizemos que é missão dos espíritas, divulgarem as palavras consoladoras, não só para os espíritas, mas para todas as pessoas. Se atentarmos à seguinte frase contida no texto “Missão dos Espíritas”; “Certamente falareis com pessoas que não quererão ouvir a palavra de Deus”, o espírito de Erasto certamente não estava se referindo aos que freqüentam a Casa Espírita. Sendo assim, concluímos que nossa missão vai além do que hoje estamos fazendo. Precisamos fazer a divulgação de nossa Doutrina de acordo com as nossas possibilidades. Se Jesus e Kardec foram audaciosos, plantando em terreno hostil, sendo maltratados, criticados e ultrajados; por que nós espírita devemos tranqüilos, continuar sendo levados ao sabor do vento calmo? – Por tudo isso, é importante sabermos que, para fazer parte do grupo que divulga a Doutrina dos Espíritos, além das quatro paredes do Centro Espírita, é preciso que o espírita tenha algumas especiais qualidades: a) Seja um conhecedor da Doutrina Espírita; b) Seja espírita praticante; c) Não forçar as pessoas tentando fazer proselitismo; d) respeitar as demais instituições religiosas sérias; e) Não entrar em polêmicas inúteis; f) Agir sempre com brandura e bom senso. - Encontrar pessoas que reúnam todas as qualidades mencionadas não é impossível, mas também não é fácil. A tendência natural é que acatam essa missão, os espíritas que mais usam as palavras do que os atos; o ideal, entretanto, seria para essa tarefa, os espíritas que mais valorizam os atos do que as palavras, porquanto o exemplo vale mais que as palavras.
Joana de Angelis reforça a necessidade de levarmos aos outros lugares, a essência da Doutrina, dizendo: “Cabem neste momento graves compromissos que não podem e nem devem ser postergados”. Essa educadora espiritual passa-nos os quatro procedimentos que cabem aos espíritas: 1- Proclamar a Era Nova; 2- Demonstrar a existência de mundo de causa e efeito; 3- Demonstrar a anterioridade do Espírito ao corpo; 4- Demonstrar os incomparáveis recursos saudáveis decorrentes da conduta correta, dos pensamentos edificantes e da ação do bem. E nos alerta ainda dizendo que esses procedimentos devem ser executados pelos espíritas conscientes das suas responsabilidades – aqueles que se equivocaram em outras encarnações e que agora recomeçam em condições melhores. “Ide e pregai a palavra divina. É chegada á hora em que deveis sacrificar, em favor da sua divulgação, o comodismo e as ocupações fúteis. Ide e pregai o Evangelho: os Espíritos Superiores estão convosco”, pois sois os trabalhadores da Última Hora. Alteridade torna-se necessária para a nossa missão, disse Erasto, e segundo Joana de Angelis, temos que assumir nossos compromissos. Sejamos espíritas audaciosos, levando além das quatro paredes, as palavras consoladoras de nossa Doutrina...
Embora pouco conhecido, o vocabulário “alteridade” tem sido bastante empregado pelos trabalhadores da Espiritualidade, em suas mensagens e orientações aos encarnados, em especial, aqueles que se reuniram em torno de uma proposta visando de modo mais concreto, ao despertar e à conscientização das lideranças espíritas, para um melhor posicionamento do quadro preocupante de distanciamento do Movimento Espírita, e dos valores simples e profundos que caracterizaram o Cristianismo Primitivo. A terceira edição atualizada do dicionário Aurélio, define a palavra “alteridade” como sendo o “estado de qualidade de que é outro, distinto, diferente”. Consiste no estabelecimento de uma relação de paz com os diferentes; a arte de conviver bem com a diferença do qual o próximo é portador”.
No Congresso Espírita Brasileiro que aconteceu em outubro de 1999, foi dado destaque ao Movimento Espírita que teve seu marco inicial nos compromissos de unificação estabelecidos no Pacto Áureo de 1949. Foi verificado na visão dos trabalhadores da Espiritualidade que o movimento de unificação edificou relevantes conquistas no curso dos últimos 50 anos. O mencionado congresso reuniu as lideranças do Movimento Espírita nacional, real e sinceramente comprometidas com os ideais da Codificação, muito embora a diversidade das percepções individuais, das diferenças regionais e culturais que pudessem criar controvérsias ocasionais, se constituíram no grande mérito do conclave por ter germinado ali “o embrião das novas e saudáveis construções do futuro, no campo da unificação”. Entretanto, os companheiros da espiritualidade chamam a atenção para uma série de ocorrências, por eles testemunhadas nos interregnos da comemoração, que deixou evidente o quanto ainda temos de trabalhar para conquistarmos posturas mais evangélicas e vigilantes, a fim de nos relacionarmos com o devido respeito diante da multiplicidade das opiniões. Ditas ocorrências se constituíram em “comentários, indisposições vibratória na convivência, mágoas, discursos vaidosos, lisonjas e dissimulações próprias das pessoas invigilantes...” Note-se que no congresso estavam reunidas as lideranças do Movimento Espírita nacional... Assim também, essas ocorrências lamentáveis são rotineiras no dia a dia das nossas Casas Espíritas.
Por que, em detrimento do conhecimento adquirido, ainda nutrimos sentimentos e manifestações tão destrutivas e desagregadoras? - Poderíamos dizer que o Movimento Espírita carece de Alteridade. Analisando o problema com o apoio das obras espíritas verificamos que o Movimento Espírita padece de duas mazelas, comuns a todos nós, que precisam ser combatidas, que são: o orgulho e o personalismo com a ausência de afeto. A propósito do orgulho, Maria Modesto, trabalhadora da Espiritualidade, costuma dizer que “os espíritas estão muito orgulhosos da humildade que imaginam possuir”.
Aqueles que buscam auxílio na Casa Espírita são, em geral, assistidos, orientados amparados, consolados. Embora meritória essas práticas, cumpre nos interrogarmos com severidade: qual o sentimento que nos impulsiona nessas ações? A compaixão que nos permite sentir o sofrimento do outro e nos impele a abraçar a sua causa, ou adotamos a postura daquele que já detém algum conhecimento e orienta e ajuda sem descer do seu nível ”superior”? – Se a segunda premissa foi o móvel das nossas ações, aí está o orgulho! – Nas palestras, cursos e exposições que fazemos como nos situamos diante dos eventuais elogios e manifestações agradecidas? Se a vaidade se apresenta, lá está o orgulho que precisa ser trabalhado no íntimo para ser extinto. Até mesmo quando nos rotulamos de tímidos, e deixamos de atuar e participar, a fim de não ficarmos em evidência, revelamos mais uma faceta do nosso orgulho; aquela que não deixa que nos exponhamos devido ao medo de sermos criticados. . .
O personalismo, igualmente, está presente toda vez que, inadvertidamente, adotamos atitude de intransigência e intolerância; quando nos colocamos como donos da verdade ou simplesmente desmerecemos a opinião ou as idéias de outras pessoas que, para o personalista, é visto como um concorrente. O indivíduo tem, então, visível dificuldade de trabalhar em equipe; não permite a troca de experiências com o outro; tem dificuldade de cultivar amizades sinceras, assim como não sabe ser solidário e companheiro. O orgulho e o personalismo bloqueiam sua capacidade afetiva. Essas duas mazelas – o orgulho e o personalismo – criam uma série de bloqueios capaz de enclausurar o ser e dificultar o relacionamento com os seus semelhantes.
Em trabalho de pesquisa e análise sobre o tema, Cairbar Schutel, na Espiritualidade, mostra com clareza que a trajetória da maioria daqueles que hoje trabalham nas frentes espíritas, está indelevelmente marcada por reencarnações sucessivas, no curso dos últimos 20 séculos, nas diversas religiões comprometidas com a mensagem do Evangelho, falhando, também sucessivamente, em decorrência do orgulho e do personalismo ao longo de tantas lutas. Prosseguindo, afirma ele: “segundo as conclusões de sábios psicólogos celestes, o maior obstáculo íntimo, para almas com esse perfil, seria a indisposição para o contato comunitário, o que levou a incitar o serviço de unificação, como medida apropriada para que a lição da convivência, em comunidade, pudessem ser aprendida e desenvolvida, considerando outros compromissos maiores no futuro”.
Em alguns aspectos, a ética da alteridade vem deixando a desejar e poderá, inclusive, resvalar por atalhos como acontece com a decantada “reforma íntima”, que acaba sendo uma prescrição para os outros e não para nós mesmos, ou então, acaba transformando-se em uma tentativa “obsessiva” de melhora, a qual, por ausência de preparo e de condições morais, não atinge os patamares que nós mesmos estimamos. O grande desafio da alteridade está na convivência dos diversos movimentos, entidades, instituições e correntes de igual teor, pois pelo exercício do livre-arbítrio, desenvolvem-se teorias e fundamentos, idéias e opiniões nem sempre homogêneas ou similares. Assim, o que importa, em essência, é a aceitação de determinados princípios básicos espíritas e, a partir daí, o que cada pessoa ou grupo faz com tal conhecimento, passa a ser de inteira responsabilidade do mesmo, sem a necessária concordância absoluta em todos os pontos.
Na Doutrina dos Espíritos, não há hierarquia e isto importa como conseqüência que “qualquer pessoa pode considerar-se espírita pela aceitação de sua filosofia e, principalmente, por sua prática de amor em relação ao seu semelhante”. Então, se estamos concordes quanto à existência de Deus, a imortalidade do Espírito, a pluralidade das existências sucessivas e dos mundos habitados, todos nós somos espíritas, ou não? É preciso algo mais para que sejamos considerados assim?
Ser alteritário não é “fechar os olhos” para o que acontece ao nosso redor, nem baixar a cabeça para desmandos e arbitrariedade, nem aceitar a violência, principalmente a coação moral, a ameaça e a dissimulação. Desse modo, sempre que nos sintamos agredidos ou que presenciemos a violência, é nosso dever denunciá-la e manifestar nosso descontentamento público. Isto não importará em “quebra de respeito” ou em atitude “anti-fraternal”, nem tampouco em redução no nível “vibratório”. Todos nós temos defeitos e isto não deve impedir de apontar aquilo que nos pareça negativo em relação à ordem espiritual, aquela que estabelece a igualdade plena em direitos e deveres perante o Criador. Se temos “telhado de vidro”, e o temos de verdade, não importa o que os outros possam dizer de nós, de nossas atitudes, de nossas atividades. Será até bem salutar que alguém possa apontar nossos equívocos e comprometimentos, para que possamos refletir recompor e prosseguir. A alteridade representa, pois, a relação pacífica e respeitosa em relação ao próximo, no respeito às diferenças, em termos de idéias, entendendo que o outro é diferente de nós e exerce o seu direito de “ser diferente”.
Assumir responsabilidades tem sido motivo de afastamento de muitas pessoas das lides religiosas, principalmente na seara espírita, não só para não se expor como também por ser caracterizado como um trabalho voluntário, onde todos indistintamente, sentem-se chamados a uma participação ativa. O voluntário, por muito tempo, foi visto como um “turista”, que agia sem regularidade ou assiduidade; que estaria fazendo um favor ao vir dar uma “mãozinha” e que voltava às suas atividades habituais, certo de que havia desempenhado sua cota de “caridade”.
A Doutrina Espírita reformulou esses conceitos quando nos chama a uma participação responsável, a uma conduta operante e a uma assiduidade que tornará a tarefa passível de ser realizada com êxito. O estar no mundo se traduz por uma responsabilidade pessoal, familiar e social; mas o Espiritismo nos convida ainda a uma participação ativa na Casa Espírita, onde podemos estudar trabalhar e assumir tarefas, observando o fim útil de estarmos visando ao nosso retorno à pátria espiritual, em melhores condições íntimas do que quando aqui chegamos. O trabalhador da Casa Espírita precisa estar consciente de que sua participação nas atividades da Casa não será uma realização apenas em proveito do outro, mas principalmente em seu próprio benefício. Nela começa o seu aprendizado de
doação, humildade, troca de idéias, renúncia, qualificação e evolução; que pode encaminhar os tarefeiros às atividades mais específicas e até aos cargos de dirigentes da própria Casa que freqüenta. O dirigente de uma Casa Espírita é sempre visto como aquele que tem a responsabilidade maior, e que por isso, tem que assumir todas as falhas e cobrir a irresponsabilidade de possíveis dirigentes e tarefeiros da Casa. Isso assusta e afasta outras pessoas de compartilhar do trabalho e de se preparar e substituir o dirigente. O movimento espírita ouve e repete com freqüência: São poucos os tarefeiros e a Seara é muito grande. – O servidor que amadurece moral e espiritualmente, vai percebendo que é exatamente nos momentos mais difíceis que ele precisa do labor, da auto-superação, que as escapatórias ou fugas só multiplicarão as amarguras e adiarão os compromissos e as genuínas soluções. Lutas, dissabores, cansaço, desânimo não podem impedir o tarefeiro ou o dirigente ou torná-lo vacilante perante a tarefa abraçada. Disciplina, abnegação, fé, boa-vontade, instrução e prece farão de todos, os trabalhadores escolhidos e comprometidos com a causa do Mestre Amado.
É importante que nos conscientizemos que é missão dos espíritas, divulgarem as palavras consoladoras, não só para os espíritas, mas para todas as pessoas. Se atentarmos à seguinte frase contida no texto “Missão dos Espíritas”; “Certamente falareis com pessoas que não quererão ouvir a palavra de Deus”, o espírito de Erasto certamente não estava se referindo aos que freqüentam a Casa Espírita. Sendo assim, concluímos que nossa missão vai além do que hoje estamos fazendo. Precisamos fazer a divulgação de nossa Doutrina de acordo com as nossas possibilidades. Se Jesus e Kardec foram audaciosos, plantando em terreno hostil, sendo maltratados, criticados e ultrajados; por que nós espírita devemos tranqüilos, continuar sendo levados ao sabor do vento calmo? – Por tudo isso, é importante sabermos que, para fazer parte do grupo que divulga a Doutrina dos Espíritos, além das quatro paredes do Centro Espírita, é preciso que o espírita tenha algumas especiais qualidades: a) Seja um conhecedor da Doutrina Espírita; b) Seja espírita praticante; c) Não forçar as pessoas tentando fazer proselitismo; d) respeitar as demais instituições religiosas sérias; e) Não entrar em polêmicas inúteis; f) Agir sempre com brandura e bom senso. - Encontrar pessoas que reúnam todas as qualidades mencionadas não é impossível, mas também não é fácil. A tendência natural é que acatam essa missão, os espíritas que mais usam as palavras do que os atos; o ideal, entretanto, seria para essa tarefa, os espíritas que mais valorizam os atos do que as palavras, porquanto o exemplo vale mais que as palavras.
Joana de Angelis reforça a necessidade de levarmos aos outros lugares, a essência da Doutrina, dizendo: “Cabem neste momento graves compromissos que não podem e nem devem ser postergados”. Essa educadora espiritual passa-nos os quatro procedimentos que cabem aos espíritas: 1- Proclamar a Era Nova; 2- Demonstrar a existência de mundo de causa e efeito; 3- Demonstrar a anterioridade do Espírito ao corpo; 4- Demonstrar os incomparáveis recursos saudáveis decorrentes da conduta correta, dos pensamentos edificantes e da ação do bem. E nos alerta ainda dizendo que esses procedimentos devem ser executados pelos espíritas conscientes das suas responsabilidades – aqueles que se equivocaram em outras encarnações e que agora recomeçam em condições melhores. “Ide e pregai a palavra divina. É chegada á hora em que deveis sacrificar, em favor da sua divulgação, o comodismo e as ocupações fúteis. Ide e pregai o Evangelho: os Espíritos Superiores estão convosco”, pois sois os trabalhadores da Última Hora. Alteridade torna-se necessária para a nossa missão, disse Erasto, e segundo Joana de Angelis, temos que assumir nossos compromissos. Sejamos espíritas audaciosos, levando além das quatro paredes, as palavras consoladoras de nossa Doutrina...
Alteridade
Carlos Pereira
Olhe para os dedos de sua mão. Eles são diferentes. Ainda bem. Exatamente por serem diferentes eles são harmoniosos quando vistos em conjunto. Já imaginou se eles fossem todos iguais? Certamente teríamos dificuldade de fazer o que fazemos de maneira tão natural. A humanidade, pode-se dizer, é semelhante a uma mão. Somos diferentes numa família. Somos diferentes numa região. Somos diferentes numa nação. A diferença é inerente, portanto, à natureza humana. Que bom que assim seja. Mesmo óbvio este raciocínio, o homem tem demonstrado ao longo de sua história ser incapaz de reconhecer e conviver pacificamente com o diverso, com o plural. Em função disso, ele tem alimentado as guerras, os movimentos de intolerância de toda sorte, as antipatias gratuitas, os separatismos, o racismo, a exclusão, a intolerância, a discórdia, o seu próprio desequilíbrio, enfim.
O que fazer para reverter este quadro de auto-aniquilamento? Praticar a alteridade. Alter... o quê? Alteridade. Significa considerar, valorizar, identificar, dialogar com o outro (alter, em latim). Diz respeito aos relacionamentos tanto entre indivíduos como entre grupos culturais. Na relação alteritária, o modo de pensar e de agir, as experiências particulares, são preservadas e levadas em conta sem que haja sobreposição, assimilação ou destruição.
Eis o desafio: estabelecer uma relação pacífica e construtiva com os diferentes. Um caminho de superação deste embate estaria baseado em três fases: identificar, entender e aprender com o contrário.
Ao se deparar com o diverso deve-se, inicialmente, retirar da mente qualquer "pré-conceito", deixar-se livre para receber o conteúdo do outro sem opinião formada. Em seguida, é necessário procurar entender as razões pelas quais o outro concebe as coisas do seu jeito, desenvolver uma certa capacidade empática para, finalmente, conquistar o aprendizado na relação, ampliando sua capacidade de entendimento e, mais ainda, de convivência fraterna.
A prática da alteridade, nos dias hodiernos, é fundamental diante do ambiente plural, amplificado pela tecnologia da Informação, pela globalização das relações, pelas conquistas democráticas e pela facilidade das comunicações. Imprescindível até pelo clima conflituoso que cresce entre os povos. Martin Luther King dizia que "Ou aprendemos a viver como irmãos, ou vamos morrer juntos como idiotas".
A sabedoria nos ensina que somente haverá crescimento quando lidamos com aqueles que pensam diferente do que a gente, porque ele, de fato, vai ter o que acrescentar no relacionamento. Quantos avanços não têm sido possíveis por causa da convivência solidária entre os aparentes divergentes. É necessário compreender, de uma vez por todas, que o tempo da inquisição já passou, embora muitos ainda teimem em querer sempre ressuscitá-lo das mais diversas formas.
E no meio espírita, pratica-se a alteridade?
Não. Ainda não. Costuma-se encarar a dissidência do pensar como oposição deliberada. Taxa-se até de obsedado àquele que queira defender de maneira equilibrada um ponto de vista. Na realidade, adota-se uma postura de discriminação. Pior. Trata-se o diferente com a indiferença. Joga-se por terra a própria condição da filosofia que pressupõe como base do conhecimento o livre pensar, a especulação sadia. O comportamento corrente, paradoxalmente, é dogmático. Joga-se por terra o emblema kardequiano que destaca a tolerância como princípio básico das relações do espírita verdadeiro. Joga-se por terra, finalmente, a própria condição cristã do amar uns aos outros que não admite o repúdio ao seu irmão simplesmente por ele possuir uma ótica diferente de enxergar a mesma realidade.
O Espiritismo, desde a sua aparição sistematizada no século XIX até hoje, tem sido vítima, sobretudo, da ausência da prática alteritária pelos nossos irmãos de outras filosofias, crenças religiosas e do meio científico. Como exigir, portanto, uma ética alteritária externa se não a exercitamos dentro de nossas fileiras?
Há muito a aprender sobre alteridade nos agrupamentos espíritas, principalmente porque o Espiritismo só poderá influenciar os vários campos do conhecimento humano se conseguir se inserir de maneira harmoniosa junto àqueles que atualmente pensam divergentemente de seus postulados. As idéias espíritas predominarão na Terra um dia pelo alteritarismo de relacionamento e não pelo autoritarismo de comportamento.
É chegada a hora de dar-nos as mãos. Diferentes, mas, ao mesmo tempo, bem iguais. Compreender que apenas a diferença é que verdadeiramente soma. "Você pode pensar que eu sou um sonhador. Mas eu não sou o único".
Carlos Pereira: Administrador, Escritor e Conferencista Espírita,é atualmente presidente da Associação de Divulgadores do Espiritismo de Pernambuco - ADE-PE. E-mail: carlosp@correios.com.br
Olhe para os dedos de sua mão. Eles são diferentes. Ainda bem. Exatamente por serem diferentes eles são harmoniosos quando vistos em conjunto. Já imaginou se eles fossem todos iguais? Certamente teríamos dificuldade de fazer o que fazemos de maneira tão natural. A humanidade, pode-se dizer, é semelhante a uma mão. Somos diferentes numa família. Somos diferentes numa região. Somos diferentes numa nação. A diferença é inerente, portanto, à natureza humana. Que bom que assim seja. Mesmo óbvio este raciocínio, o homem tem demonstrado ao longo de sua história ser incapaz de reconhecer e conviver pacificamente com o diverso, com o plural. Em função disso, ele tem alimentado as guerras, os movimentos de intolerância de toda sorte, as antipatias gratuitas, os separatismos, o racismo, a exclusão, a intolerância, a discórdia, o seu próprio desequilíbrio, enfim.
O que fazer para reverter este quadro de auto-aniquilamento? Praticar a alteridade. Alter... o quê? Alteridade. Significa considerar, valorizar, identificar, dialogar com o outro (alter, em latim). Diz respeito aos relacionamentos tanto entre indivíduos como entre grupos culturais. Na relação alteritária, o modo de pensar e de agir, as experiências particulares, são preservadas e levadas em conta sem que haja sobreposição, assimilação ou destruição.
Eis o desafio: estabelecer uma relação pacífica e construtiva com os diferentes. Um caminho de superação deste embate estaria baseado em três fases: identificar, entender e aprender com o contrário.
Ao se deparar com o diverso deve-se, inicialmente, retirar da mente qualquer "pré-conceito", deixar-se livre para receber o conteúdo do outro sem opinião formada. Em seguida, é necessário procurar entender as razões pelas quais o outro concebe as coisas do seu jeito, desenvolver uma certa capacidade empática para, finalmente, conquistar o aprendizado na relação, ampliando sua capacidade de entendimento e, mais ainda, de convivência fraterna.
A prática da alteridade, nos dias hodiernos, é fundamental diante do ambiente plural, amplificado pela tecnologia da Informação, pela globalização das relações, pelas conquistas democráticas e pela facilidade das comunicações. Imprescindível até pelo clima conflituoso que cresce entre os povos. Martin Luther King dizia que "Ou aprendemos a viver como irmãos, ou vamos morrer juntos como idiotas".
A sabedoria nos ensina que somente haverá crescimento quando lidamos com aqueles que pensam diferente do que a gente, porque ele, de fato, vai ter o que acrescentar no relacionamento. Quantos avanços não têm sido possíveis por causa da convivência solidária entre os aparentes divergentes. É necessário compreender, de uma vez por todas, que o tempo da inquisição já passou, embora muitos ainda teimem em querer sempre ressuscitá-lo das mais diversas formas.
E no meio espírita, pratica-se a alteridade?
Não. Ainda não. Costuma-se encarar a dissidência do pensar como oposição deliberada. Taxa-se até de obsedado àquele que queira defender de maneira equilibrada um ponto de vista. Na realidade, adota-se uma postura de discriminação. Pior. Trata-se o diferente com a indiferença. Joga-se por terra a própria condição da filosofia que pressupõe como base do conhecimento o livre pensar, a especulação sadia. O comportamento corrente, paradoxalmente, é dogmático. Joga-se por terra o emblema kardequiano que destaca a tolerância como princípio básico das relações do espírita verdadeiro. Joga-se por terra, finalmente, a própria condição cristã do amar uns aos outros que não admite o repúdio ao seu irmão simplesmente por ele possuir uma ótica diferente de enxergar a mesma realidade.
O Espiritismo, desde a sua aparição sistematizada no século XIX até hoje, tem sido vítima, sobretudo, da ausência da prática alteritária pelos nossos irmãos de outras filosofias, crenças religiosas e do meio científico. Como exigir, portanto, uma ética alteritária externa se não a exercitamos dentro de nossas fileiras?
Há muito a aprender sobre alteridade nos agrupamentos espíritas, principalmente porque o Espiritismo só poderá influenciar os vários campos do conhecimento humano se conseguir se inserir de maneira harmoniosa junto àqueles que atualmente pensam divergentemente de seus postulados. As idéias espíritas predominarão na Terra um dia pelo alteritarismo de relacionamento e não pelo autoritarismo de comportamento.
É chegada a hora de dar-nos as mãos. Diferentes, mas, ao mesmo tempo, bem iguais. Compreender que apenas a diferença é que verdadeiramente soma. "Você pode pensar que eu sou um sonhador. Mas eu não sou o único".
Carlos Pereira: Administrador, Escritor e Conferencista Espírita,é atualmente presidente da Associação de Divulgadores do Espiritismo de Pernambuco - ADE-PE. E-mail: carlosp@correios.com.br
Espiritualidade e Alteridade – Edgard Armond por Edelso da Silva Junior
por Edelso da Silva Junior
Visivelmente entendemos que o ser humano constitui boa parte do mundo que habitamos, ou seja, a maioria dos habitantes do planeta Terra é constituída de gente como nós, com necessidades semelhantes.
Quando vemos o discurso de muitas pessoas em relação ao sentimento de piedade, de caridade em relação ao seu próximo, nos deparamos com o conceito de alteridade sendo propagada de forma textual, porém, a alteridade no discurso é fácil de compreender, mas difícil de aplicar.
Alteridade é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de penetrar no mundo do outro e conseguir vê-lo tal como ele é e não como desejaríamos que fosse.
Na era moderna (1600 d. C.) já se percebe uma preocupação sobre o tema, pois em pleno renascimento cultural na Europa, vemos a busca da racionalidade do homem, e da mudança da importância da religião para a figura humana da sociedade, o homem com suas necessidades mais urgentes e não mais a figura da religião como fator principal da sociedade. O homem renascentista acreditava que a religião vigente na Europa havia corrompido a forma de pensar o mundo, o homem e sua relação com a divindade. É fácil de entender isso, pois a visão cristã do período medieval, por exemplo, era a centralização em Deus (dentro de uma visão antropomórfica) e não no homem. O homem era problema de Deus. Ele que deveria conceder ou não as benesses aos seus filhos.
Com o pensamento espírita sendo propagado em pleno século XIX, em um país onde o racionalismo fora propagado de forma contundente e o sentimento religioso descartado como manifestação de uma postura retrógrada e nociva ao desenvolvimento do homem, como ser humano livre de amarras intelectuais. A proposta de Allan Kardec, que tivera educação positivista, dentro do perfil racionalista, científico, herdado do renascimento cultural, rompeu com isso e resgata através de sua postura em publicar “O Evangelho segundo o Espiritismo”, um cristianismo dentro de seus conceitos filosóficos e religiosos aos moldes do que foi proposto pelo Cristo na Palestina.
Para os Espíritos que sustentaram toda a obra Kardequiana a relação entre o ser humano deveria estar dentro do conceito da alteridade. A visão do ser humano e suas necessidades mais importantes, para ter importância no quadro de valores de uma sociedade justa, deveriam estar baseadas no conceito de alteridade.
Embora essa questão seja uma marca indelével na codificação Kardequiana, esse princípio de se colocar no lugar do outro, de compreender o mundo dos outros, tal como ele é e não como pensamos ou desejamos que seja, ficou em plano secundário, pois era um sentimento mais desperto em espíritos mais maduros, mais sensíveis à dor alheia. Tínhamos um espiritismo para intelectuais, mais ao gosto do positivismo francês que permeou a formação intelectual em nossa pátria no período da república.
O período que antecede a década de 1940, podemos ver um Espiritismo estagnado, disperso, de interesse em questões fenomenológicas como as materializações ou mesmo o auxílio social. Com a reestruturação da Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP) através das várias ações de Edgard Armond, seu administrador, o Espiritismo começa assumir uma forma mais ampla.
Toda a trajetória da FEESP a partir de 1940 deve ser relembrada como um divisor de águas dentro do Movimento Espírita Nacional, pois antes mesmo do período de implantação dos programas elaborados por Edgard Armond, nota-se que antecedendo à década de 1940 a Doutrina Espírita não tinha nenhum tipo de reconhecimento social e as instituições existentes, não eram unidas; não possuíam orientação para que dinamizassem suas atividades, contando assim, com a boa vontade de quem as comandava. Porém, a criação da Escola de Aprendizes do Evangelho em 6 de maio de 1950, representa o marco inicial de uma profunda transformação na maneira de se vivenciar o Espiritismo no Brasil.
Com este projeto de iniciação em massa, Armond populariza um sistema de espiritualização em que o homem desenvolve, através de programas de trabalho, seu potencial humano de se importar consigo mesmo, sua evolução espiritual e isso leva a uma atitude de alteridade, pois no processo de evolução espiritual, no autodescobrimento, o homem começa a se ver no outro, se identificar com o outro através das diversas experiências. A dor é uma dessas experiências. Embora ela seja uma experiência individual, privada, pois o outro não tem acesso à ela, mas através de sua própria experiência e dos conhecimentos que adquire, ele sabe o quanto é difícil vivê-la. A proposta da Escola de Aprendizes do Evangelho ensina ao aluno que o fato de falar da sua dor diante da dor alheia, não é o suficiente para compreendê-la no outro, pois muitas vezes isso se torna uma postura egoísta. A questão é de identificação da dor entendendo que embora humanos, temos reações diferentes diante dos desafios da vida. E é nesta diferença que aprendemos a sermos solidários uns com os outros. Somo iguais na essência, mas com experiências e maturidade diferentes, o que não nos torna maior nem menor, porém diferentes no processo de evolução e a nossa utilidade para o próximo está justamente não naquilo que temos em comum, mas sim, no que nos diferencia, pois o que nos diferencia nos completa.
Este conceito está diluído na obra Kardequiana, porém, mais especificamente em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, mas depende muito mais de uma atitude de espíritos mais maduros para o processo de compreensão, embora a questão 919 de “O Livro dos Espíritos” seja objetiva, não competia a Kardec lançar métodos que facilitasse colocar em prática as diversas possibilidades de transformações do ser humano.
Portanto é com Edgard Armond que o Espiritismo sai de seu aspecto positivista, somente científico e filosófico, muitas vezes friamente propagado, para adentrar num aspecto mais pragmático, mais objetivo no sentido de oferecer ao ser humano uma escola de reforma íntima, com metodologia própria, levando o ser humano às portas, não somente de uma iniciação científica e filosófica, mas impreterivelmente a uma iniciação espiritual onde a alteridade é um dos seus componentes fundamentais.
Visivelmente entendemos que o ser humano constitui boa parte do mundo que habitamos, ou seja, a maioria dos habitantes do planeta Terra é constituída de gente como nós, com necessidades semelhantes.
Quando vemos o discurso de muitas pessoas em relação ao sentimento de piedade, de caridade em relação ao seu próximo, nos deparamos com o conceito de alteridade sendo propagada de forma textual, porém, a alteridade no discurso é fácil de compreender, mas difícil de aplicar.
Alteridade é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de penetrar no mundo do outro e conseguir vê-lo tal como ele é e não como desejaríamos que fosse.
Na era moderna (1600 d. C.) já se percebe uma preocupação sobre o tema, pois em pleno renascimento cultural na Europa, vemos a busca da racionalidade do homem, e da mudança da importância da religião para a figura humana da sociedade, o homem com suas necessidades mais urgentes e não mais a figura da religião como fator principal da sociedade. O homem renascentista acreditava que a religião vigente na Europa havia corrompido a forma de pensar o mundo, o homem e sua relação com a divindade. É fácil de entender isso, pois a visão cristã do período medieval, por exemplo, era a centralização em Deus (dentro de uma visão antropomórfica) e não no homem. O homem era problema de Deus. Ele que deveria conceder ou não as benesses aos seus filhos.
Com o pensamento espírita sendo propagado em pleno século XIX, em um país onde o racionalismo fora propagado de forma contundente e o sentimento religioso descartado como manifestação de uma postura retrógrada e nociva ao desenvolvimento do homem, como ser humano livre de amarras intelectuais. A proposta de Allan Kardec, que tivera educação positivista, dentro do perfil racionalista, científico, herdado do renascimento cultural, rompeu com isso e resgata através de sua postura em publicar “O Evangelho segundo o Espiritismo”, um cristianismo dentro de seus conceitos filosóficos e religiosos aos moldes do que foi proposto pelo Cristo na Palestina.
Para os Espíritos que sustentaram toda a obra Kardequiana a relação entre o ser humano deveria estar dentro do conceito da alteridade. A visão do ser humano e suas necessidades mais importantes, para ter importância no quadro de valores de uma sociedade justa, deveriam estar baseadas no conceito de alteridade.
Embora essa questão seja uma marca indelével na codificação Kardequiana, esse princípio de se colocar no lugar do outro, de compreender o mundo dos outros, tal como ele é e não como pensamos ou desejamos que seja, ficou em plano secundário, pois era um sentimento mais desperto em espíritos mais maduros, mais sensíveis à dor alheia. Tínhamos um espiritismo para intelectuais, mais ao gosto do positivismo francês que permeou a formação intelectual em nossa pátria no período da república.
O período que antecede a década de 1940, podemos ver um Espiritismo estagnado, disperso, de interesse em questões fenomenológicas como as materializações ou mesmo o auxílio social. Com a reestruturação da Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP) através das várias ações de Edgard Armond, seu administrador, o Espiritismo começa assumir uma forma mais ampla.
Toda a trajetória da FEESP a partir de 1940 deve ser relembrada como um divisor de águas dentro do Movimento Espírita Nacional, pois antes mesmo do período de implantação dos programas elaborados por Edgard Armond, nota-se que antecedendo à década de 1940 a Doutrina Espírita não tinha nenhum tipo de reconhecimento social e as instituições existentes, não eram unidas; não possuíam orientação para que dinamizassem suas atividades, contando assim, com a boa vontade de quem as comandava. Porém, a criação da Escola de Aprendizes do Evangelho em 6 de maio de 1950, representa o marco inicial de uma profunda transformação na maneira de se vivenciar o Espiritismo no Brasil.
Com este projeto de iniciação em massa, Armond populariza um sistema de espiritualização em que o homem desenvolve, através de programas de trabalho, seu potencial humano de se importar consigo mesmo, sua evolução espiritual e isso leva a uma atitude de alteridade, pois no processo de evolução espiritual, no autodescobrimento, o homem começa a se ver no outro, se identificar com o outro através das diversas experiências. A dor é uma dessas experiências. Embora ela seja uma experiência individual, privada, pois o outro não tem acesso à ela, mas através de sua própria experiência e dos conhecimentos que adquire, ele sabe o quanto é difícil vivê-la. A proposta da Escola de Aprendizes do Evangelho ensina ao aluno que o fato de falar da sua dor diante da dor alheia, não é o suficiente para compreendê-la no outro, pois muitas vezes isso se torna uma postura egoísta. A questão é de identificação da dor entendendo que embora humanos, temos reações diferentes diante dos desafios da vida. E é nesta diferença que aprendemos a sermos solidários uns com os outros. Somo iguais na essência, mas com experiências e maturidade diferentes, o que não nos torna maior nem menor, porém diferentes no processo de evolução e a nossa utilidade para o próximo está justamente não naquilo que temos em comum, mas sim, no que nos diferencia, pois o que nos diferencia nos completa.
Este conceito está diluído na obra Kardequiana, porém, mais especificamente em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, mas depende muito mais de uma atitude de espíritos mais maduros para o processo de compreensão, embora a questão 919 de “O Livro dos Espíritos” seja objetiva, não competia a Kardec lançar métodos que facilitasse colocar em prática as diversas possibilidades de transformações do ser humano.
Portanto é com Edgard Armond que o Espiritismo sai de seu aspecto positivista, somente científico e filosófico, muitas vezes friamente propagado, para adentrar num aspecto mais pragmático, mais objetivo no sentido de oferecer ao ser humano uma escola de reforma íntima, com metodologia própria, levando o ser humano às portas, não somente de uma iniciação científica e filosófica, mas impreterivelmente a uma iniciação espiritual onde a alteridade é um dos seus componentes fundamentais.
Alteridade - fórum espírita 2
http://www.forumespirita.net/fe/outros-temas/alteridade-so-o-espiriritismo-pode-melhor-estuda-la-e-aplica-la-seriamente/#.W1JKodJKhPY
Alteridade é uma palavra que vem ganhando uso por indagações e constatações, e particularmente os oradores espíritas, já a usam corriqueiramente.
Esse é um termo relativamente novo, tanto que a pouco os dicionários passaram a registrá-lo, mas seu significado reflete uma nova mentalidade, aquela que deverá vigorar na civilização que, certamente, irá transformar a Terra num mundo de regeneração porque se refere à aceitação das diferenças; também significa a não-indiferença, o aprender com os diferentes, o amar ou ser responsável pelo outro, aceitando e respeitando as suas diferenças.
Alteridade, palavra que representa, em sua profundidade, as leis cósmicas de convívio entre os seres.
A pessoa que a vivencia passa a ser mais fraterna em todos os sentidos, deixando de criticar, julgar, agredir...
A não-crítica, a não-agressão, o não-julgamento deixam o ser em paz consigo mesmo, com a humanidade, com a vida.
Você poderá contestar dizendo que atitudes assim tornam a criatura alienada. Mas há uma grande diferença entre analisar, estando consciente dos erros e desacertos, e julgar, criticar, enviar uma vibração negativa para o errado, seja ele uma pessoa, uma instituição ou uma nação, já que as instituições e as nações são formadas por pessoas.
Você vê uma pessoa caminhando sobre a grama de um parque para encurtar caminho, e pensa: que sujeito mais sem educação!
Nesse ato de criticar intimamente a atitude daquela pessoa você está gerando uma vibração negativa. Parte dessa vibração, desse magnetismo ou energia pesada fica em você, seu gerador, e outra parte alcança a pessoa que pisou a grama.
Por outro lado, se você apenas registrar o ato errado, mas, respeitando a diferença do outro, não criticá-lo, estará fazendo um bem a si mesmo e deixando de fazer mal ao outro.
Digamos que, agindo com alteridade, você entende que deve falar com aquela pessoa alertado-a para o erro que está cometendo, fá-lo-á afetuosamente, de forma a não humilhá-la, encontrando a melhor maneira de ser, junto a ela, uma presença benéfica.
Quando nos habituamos a tudo criticar, nosso foco de vida fica dirigido aos outros, na forma como eles se conduzem nos menores detalhes e, é claro, colocamos a nós mesmos como parâmetro nessa medição de erros, nesse julgamento contínuo que exercemos com relação a tudo e a todos. Esse fato nos leva a desenvolver de forma contínua uma vibração pesada e antagônica em relação aos outros porque sempre iremos encontrar neles o que qualificamos como errado. Além disso, estaremos também desenvolvendo nossa vaidade, ao compararmos os que consideramos errados, conosco.
Mas, se desenvolvemos a alteridade, respeitando a maneira de ser dos outros, lembrando que todos somos seres em diferentes faixas evolutivas, tornamo-nos mais leves, mais de bem com a vida, mais alegres e, é claro, mais saudáveis.
-------////////////----------
É vero amado irmão Marco,
Cito o Espiritismo como marco regulatório para disseminação do conceito alteritário, pelos motivos que venho expor:
a)- Tem suas raizes fincadas nos conceitos ensinados por Sócrates, escritos por Platão, que se exorcizaram das mazelas miticas de seus países e beberam nas fontes do Egito antigo, que por sua vez se inspiraram como outras culturas nos Atlantes...
b) Reconheçe em Bhuda um mistico diferente dos de Atenas que sacrificaram Sócrates para aceitarem a acomodação Aristotélica, e permitir que conhecimentos proporcionassem ganhos justificados legal e ética, mas que Sócrates recusou, depois Cristo e Paulo também...
c) Reconhece em Cristo figura de exemplo impar para nortear nosso viver enquanto evoluimos, e como Cristo o Espiritismo não nos pede perfeição, mas integração, solidariedade, amor ao próximo., que nada deixou escrito não sendo seu viver ortodoxia de Doutrina, diferente nos impele ao livre pensamento, e não dogmatiza, e só superficialmente pode-se lhe definir conceito de religião, unicamente pelo religare... sem intermediários.
d) Reconhece nos Ensinos dos Espíritos não a Pureza mas a desvinculação do individualismo em favor do coletivismo, norteando o pleno sentido de igualdade, veiculação livre de seus postulados sem cooptação de seguidores, formadores de prosélitos e manifestando que a razão séria como a ferramenta que o indivíduo teria para compreender e empreender sua jornada evolutiva. Se somente dessemos créditos aos puros Espíritos para compreender nossa jornada na corrupção, a ICAR estaria em melhores condições que nós Espíritas, posto que possuem os santos, mas a ICAR caminhou pela acomodação dos interesses dos poderosos como Ariostóteles, repetiram com Constantino, e são ferrenhos defensores do individualismo e formam corpo dogmático na forma e no pensa-mento ensinando filhos de Deus a pensar e a agir mas os exemplos que mostram provam que estão em engano, posto que adulteraram as leis naturais que regem os indivíduos, tanto no que diz respeito ao celibato quanto a liberdade das mulheres.
Eu teria o abecedário completo para dedilhar no meu teclado, mas fiquemos por aqui, penso que já é o suficiente por hoje.
Saúde e Paz!
--------------/////////////-
Concordo com o postulado pelo nobre irmão...
Todavida, a alteridade já se encontra inserida sistemáticamente desde a raiz no Espiritismo, é que os próprios Espíritas ainda não se deram conta disso, e ainda não praticam, mas está exarado no Livro dos Espíritos assim:
878. Podendo o homem enganar-se quanto à extensão do seu direito, que é o que
lhe fará conhecer o limite desse direito?
“O limite do direito que, com relação a si mesmo, reconhecer ao seu semelhante, em
idênticas circunstâncias e reciprocamente.”
a) - Mas, se cada um atribuir a si mesmo direitos iguais aos de seu
semelhante, que virá a ser da subordinação aos superiores?
Não será isso a anarquia de todos os poderes?
“Os direitos naturais são os mesmos para todos os homens, desde os de condição
mais humilde até os de posição mais elevada. Deus não fez uns de limo mais puro do que o
de que se serviu para fazer os outros, e todos, aos Seus olhos, são iguais. Esses direitos são
eternos. Os que o homem estabeleceu perecem com as suas instituições. Demais, cada um
sente bem a sua força ou a sua fraqueza e saberá sempre ter uma certa deferência para com
os que o mereçam por suas virtudes e sabedoria. É importante acentuar isto, para que os que
se julgam superiores conheçam seus deveres, a fim de merecer essas deferências.
A subordinação não se achará comprometida, quando a autoridade for deferida à sabedoria.”
879. Qual seria o caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza?
“O do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus, porquanto praticaria também o amor do
próximo e a caridade, sem os quais não há verdadeira justiça.”
O Ser humano desde sempre, viveu sob a bandeira do Poder... da força, dos clãs, dos partidos, enfim nenhum outro modo de exercício do poder deixou de encontrar resistência, com certa força residente na razão...
E a Doutrina Espírita em tudo tem explicado que todo poder emana da Autoridade, como acima:
A subordinação não se achará comprometida, quando a autoridade for deferida à sabedoria.
Então alteridade, pressupõe a compreensão da autoridade e da subordinação... na justa medida da evolução alcançada, individualmente.
Esse pensamento é raiz no Espiritismo desde sua criação...
Saúde e Paz!
Clique aqui para ler mais: http://www.forumespirita.net/fe/outros-temas/alteridade-so-o-espiriritismo-pode-melhor-estuda-la-e-aplica-la-seriamente/#ixzz5LpbKhTjr
Alteridade é uma palavra que vem ganhando uso por indagações e constatações, e particularmente os oradores espíritas, já a usam corriqueiramente.
Esse é um termo relativamente novo, tanto que a pouco os dicionários passaram a registrá-lo, mas seu significado reflete uma nova mentalidade, aquela que deverá vigorar na civilização que, certamente, irá transformar a Terra num mundo de regeneração porque se refere à aceitação das diferenças; também significa a não-indiferença, o aprender com os diferentes, o amar ou ser responsável pelo outro, aceitando e respeitando as suas diferenças.
Alteridade, palavra que representa, em sua profundidade, as leis cósmicas de convívio entre os seres.
A pessoa que a vivencia passa a ser mais fraterna em todos os sentidos, deixando de criticar, julgar, agredir...
A não-crítica, a não-agressão, o não-julgamento deixam o ser em paz consigo mesmo, com a humanidade, com a vida.
Você poderá contestar dizendo que atitudes assim tornam a criatura alienada. Mas há uma grande diferença entre analisar, estando consciente dos erros e desacertos, e julgar, criticar, enviar uma vibração negativa para o errado, seja ele uma pessoa, uma instituição ou uma nação, já que as instituições e as nações são formadas por pessoas.
Você vê uma pessoa caminhando sobre a grama de um parque para encurtar caminho, e pensa: que sujeito mais sem educação!
Nesse ato de criticar intimamente a atitude daquela pessoa você está gerando uma vibração negativa. Parte dessa vibração, desse magnetismo ou energia pesada fica em você, seu gerador, e outra parte alcança a pessoa que pisou a grama.
Por outro lado, se você apenas registrar o ato errado, mas, respeitando a diferença do outro, não criticá-lo, estará fazendo um bem a si mesmo e deixando de fazer mal ao outro.
Digamos que, agindo com alteridade, você entende que deve falar com aquela pessoa alertado-a para o erro que está cometendo, fá-lo-á afetuosamente, de forma a não humilhá-la, encontrando a melhor maneira de ser, junto a ela, uma presença benéfica.
Quando nos habituamos a tudo criticar, nosso foco de vida fica dirigido aos outros, na forma como eles se conduzem nos menores detalhes e, é claro, colocamos a nós mesmos como parâmetro nessa medição de erros, nesse julgamento contínuo que exercemos com relação a tudo e a todos. Esse fato nos leva a desenvolver de forma contínua uma vibração pesada e antagônica em relação aos outros porque sempre iremos encontrar neles o que qualificamos como errado. Além disso, estaremos também desenvolvendo nossa vaidade, ao compararmos os que consideramos errados, conosco.
Mas, se desenvolvemos a alteridade, respeitando a maneira de ser dos outros, lembrando que todos somos seres em diferentes faixas evolutivas, tornamo-nos mais leves, mais de bem com a vida, mais alegres e, é claro, mais saudáveis.
-------////////////----------
É vero amado irmão Marco,
Cito o Espiritismo como marco regulatório para disseminação do conceito alteritário, pelos motivos que venho expor:
a)- Tem suas raizes fincadas nos conceitos ensinados por Sócrates, escritos por Platão, que se exorcizaram das mazelas miticas de seus países e beberam nas fontes do Egito antigo, que por sua vez se inspiraram como outras culturas nos Atlantes...
b) Reconheçe em Bhuda um mistico diferente dos de Atenas que sacrificaram Sócrates para aceitarem a acomodação Aristotélica, e permitir que conhecimentos proporcionassem ganhos justificados legal e ética, mas que Sócrates recusou, depois Cristo e Paulo também...
c) Reconhece em Cristo figura de exemplo impar para nortear nosso viver enquanto evoluimos, e como Cristo o Espiritismo não nos pede perfeição, mas integração, solidariedade, amor ao próximo., que nada deixou escrito não sendo seu viver ortodoxia de Doutrina, diferente nos impele ao livre pensamento, e não dogmatiza, e só superficialmente pode-se lhe definir conceito de religião, unicamente pelo religare... sem intermediários.
d) Reconhece nos Ensinos dos Espíritos não a Pureza mas a desvinculação do individualismo em favor do coletivismo, norteando o pleno sentido de igualdade, veiculação livre de seus postulados sem cooptação de seguidores, formadores de prosélitos e manifestando que a razão séria como a ferramenta que o indivíduo teria para compreender e empreender sua jornada evolutiva. Se somente dessemos créditos aos puros Espíritos para compreender nossa jornada na corrupção, a ICAR estaria em melhores condições que nós Espíritas, posto que possuem os santos, mas a ICAR caminhou pela acomodação dos interesses dos poderosos como Ariostóteles, repetiram com Constantino, e são ferrenhos defensores do individualismo e formam corpo dogmático na forma e no pensa-mento ensinando filhos de Deus a pensar e a agir mas os exemplos que mostram provam que estão em engano, posto que adulteraram as leis naturais que regem os indivíduos, tanto no que diz respeito ao celibato quanto a liberdade das mulheres.
Eu teria o abecedário completo para dedilhar no meu teclado, mas fiquemos por aqui, penso que já é o suficiente por hoje.
Saúde e Paz!
--------------/////////////-
Concordo com o postulado pelo nobre irmão...
Todavida, a alteridade já se encontra inserida sistemáticamente desde a raiz no Espiritismo, é que os próprios Espíritas ainda não se deram conta disso, e ainda não praticam, mas está exarado no Livro dos Espíritos assim:
878. Podendo o homem enganar-se quanto à extensão do seu direito, que é o que
lhe fará conhecer o limite desse direito?
“O limite do direito que, com relação a si mesmo, reconhecer ao seu semelhante, em
idênticas circunstâncias e reciprocamente.”
a) - Mas, se cada um atribuir a si mesmo direitos iguais aos de seu
semelhante, que virá a ser da subordinação aos superiores?
Não será isso a anarquia de todos os poderes?
“Os direitos naturais são os mesmos para todos os homens, desde os de condição
mais humilde até os de posição mais elevada. Deus não fez uns de limo mais puro do que o
de que se serviu para fazer os outros, e todos, aos Seus olhos, são iguais. Esses direitos são
eternos. Os que o homem estabeleceu perecem com as suas instituições. Demais, cada um
sente bem a sua força ou a sua fraqueza e saberá sempre ter uma certa deferência para com
os que o mereçam por suas virtudes e sabedoria. É importante acentuar isto, para que os que
se julgam superiores conheçam seus deveres, a fim de merecer essas deferências.
A subordinação não se achará comprometida, quando a autoridade for deferida à sabedoria.”
879. Qual seria o caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza?
“O do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus, porquanto praticaria também o amor do
próximo e a caridade, sem os quais não há verdadeira justiça.”
O Ser humano desde sempre, viveu sob a bandeira do Poder... da força, dos clãs, dos partidos, enfim nenhum outro modo de exercício do poder deixou de encontrar resistência, com certa força residente na razão...
E a Doutrina Espírita em tudo tem explicado que todo poder emana da Autoridade, como acima:
A subordinação não se achará comprometida, quando a autoridade for deferida à sabedoria.
Então alteridade, pressupõe a compreensão da autoridade e da subordinação... na justa medida da evolução alcançada, individualmente.
Esse pensamento é raiz no Espiritismo desde sua criação...
Saúde e Paz!
Clique aqui para ler mais: http://www.forumespirita.net/fe/outros-temas/alteridade-so-o-espiriritismo-pode-melhor-estuda-la-e-aplica-la-seriamente/#ixzz5LpbKhTjr
Ética da Alteridade
“Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa? Não procedem assim também os publicanos? Se apenas os vossos irmãos saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que do que os outros? Não fazem outro tanto os pagãos?”
(S.Mateus, cap.V, vv.46 e 47.)
A escola dos relacionamentos é o convite da vida para a vitória sobre o egoísmo. Viver é de todos, conviver é de poucos, e conviver bem é para quantos disponham encetar nova jornada ante a nossa condição de “cidadãos do universo.”
Cada pessoa que passa pela nossa vida, ainda que superficial e circunstancialmente, é portadora de uma mensagem de vida para nós. Não existem relações casuais.
A boa convivência é quesito de qualidade de vida. Quem a experimenta sorri mais, tem melhor tônus muscular, forra-se do cansaço dos agastamentos, logra melhor nível de sono, vence facilmente a rotina, imuniza-se contra o tédio, amplia sua criatividade e viver na atmosfera da paz.
Livros desatualizam, eventos fecham ciclos, instituições extinguem-se e as tarefas são recursos didáticos, mas os relacionamentos perpetuam na consciência, são as únicas realidades plausíveis de todo o cosmo doutrinário, é a essência do Espiritismo em nós.
Por isso, temos que aprofundar conceitos em torno da alteridade no melhor encaminhamento das nossas questões de amor ao próximo, seja nas atividades educativas da doutrina, seja nas forjas disciplinadoras da sociedade.
Concebamos a alteridade, sem rigor técnico, como sendo a singularidade pertinente a cada criatura. Naturalmente, o conjunto das singularidades humanas estabelece a diversidade. Essa diversidade nos solicita, perante os sábios Códigos do Criador, uma ética nas relações que reflita os princípios de pluralidade natural para a harmonia e evolução.
Assinalemos, assim, de forma compreensível, que a “ética da alteridade” é a nossa capacidade de relativizarmo-nos perante as diferenças das quais os outros são portadores, convivendo em paz com nossos diferentes e suas diferenças, rendendo-lhes respeito e amor na forma como são e se expressam, nas suas particularidades.
Reconhecemos a melhoria das nossas condições pessoais através desse preito espontâneo de reverência, a quem quer que seja, sem que tenhamos que perder a identidade íntima, mantendo-a sempre resguardada pela definição de propósitos e coerência como características de criaturas espiritualmente saudáveis. Ética de alteridade não significa concordar com tudo ou aprovar tudo, ela não nos retira o senso de valor moral enobrecedor, pois nem toda alteridade está engajada nas sendas do bem. Por exemplo: algumas comunidades aferradas ao folclore manterão rituais ou festas que, para o progresso social, em nada cooperam objetivamente, trazendo algum benefício somente para aqueles que fazem cultos a lendas e tradições. Nosso “dever alteritário”, contudo, é respeitar a diferença, buscar aprender algo sobre a “essência do outro” – uma razão profunda e Divina para aquele comportamento, algo “invisível aos olhos” como acentua o inspirado Antoine de Saint Exupéry.
Portanto, perante diferenças sociais, corporais, intelectuais ou de que natureza for, adotemos a ética da alteridade e vivamos em paz.
Muitas pessoas nutrem um terrível vazio existencial porque querem existir mudando o outro, querem se realizar no outro, acham que têm as respostas para ele, querem “anular a diferença” alheia para se sentirem bem.
Por isso é tão comum encontrarmos deficiências no próximo. Sempre achamos que se ele mudasse nisso ou naquilo tudo seria melhor e ele, inclusive, seria mais feliz. Esse é o velho hábito da intromissão perniciosa nas desconhecidas terras do mundo da diversidade, que queremos moldar a gosto pessoal, talhando a igualdade importuna ou contraria os interesses. Muitos conflitos nascem exatamente nesse ato de apropriação indevida da conduta e da forma de ser do próximo. Não sabendo considerar-lhe a singularidade, tentamos combater a diferença ou, o que é pior, adotamos a indiferença...
Pensemos urgentemente na construção da conduta de alteridade em nossas relações.
Prezemos as diferenças e honremo-las com a ética da fraternidade, esse o roteiro saudável proposto por Jesus em Sua sábia interrogação: Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa?
Do livro Unidos pelo Amor – Ética e Cidadania à Luz dos Fundamentos Espíritas
Psicografia de Wanderley S. de Oliveira
Espíritos: Ermance Dufaux e Cícero Pereira
Clique aqui para ler mais: http://www.forumespirita.net/fe/auto-conhecimento/etica-da-alteridade/#ixzz5LpW0tcCl
(S.Mateus, cap.V, vv.46 e 47.)
A escola dos relacionamentos é o convite da vida para a vitória sobre o egoísmo. Viver é de todos, conviver é de poucos, e conviver bem é para quantos disponham encetar nova jornada ante a nossa condição de “cidadãos do universo.”
Cada pessoa que passa pela nossa vida, ainda que superficial e circunstancialmente, é portadora de uma mensagem de vida para nós. Não existem relações casuais.
A boa convivência é quesito de qualidade de vida. Quem a experimenta sorri mais, tem melhor tônus muscular, forra-se do cansaço dos agastamentos, logra melhor nível de sono, vence facilmente a rotina, imuniza-se contra o tédio, amplia sua criatividade e viver na atmosfera da paz.
Livros desatualizam, eventos fecham ciclos, instituições extinguem-se e as tarefas são recursos didáticos, mas os relacionamentos perpetuam na consciência, são as únicas realidades plausíveis de todo o cosmo doutrinário, é a essência do Espiritismo em nós.
Por isso, temos que aprofundar conceitos em torno da alteridade no melhor encaminhamento das nossas questões de amor ao próximo, seja nas atividades educativas da doutrina, seja nas forjas disciplinadoras da sociedade.
Concebamos a alteridade, sem rigor técnico, como sendo a singularidade pertinente a cada criatura. Naturalmente, o conjunto das singularidades humanas estabelece a diversidade. Essa diversidade nos solicita, perante os sábios Códigos do Criador, uma ética nas relações que reflita os princípios de pluralidade natural para a harmonia e evolução.
Assinalemos, assim, de forma compreensível, que a “ética da alteridade” é a nossa capacidade de relativizarmo-nos perante as diferenças das quais os outros são portadores, convivendo em paz com nossos diferentes e suas diferenças, rendendo-lhes respeito e amor na forma como são e se expressam, nas suas particularidades.
Reconhecemos a melhoria das nossas condições pessoais através desse preito espontâneo de reverência, a quem quer que seja, sem que tenhamos que perder a identidade íntima, mantendo-a sempre resguardada pela definição de propósitos e coerência como características de criaturas espiritualmente saudáveis. Ética de alteridade não significa concordar com tudo ou aprovar tudo, ela não nos retira o senso de valor moral enobrecedor, pois nem toda alteridade está engajada nas sendas do bem. Por exemplo: algumas comunidades aferradas ao folclore manterão rituais ou festas que, para o progresso social, em nada cooperam objetivamente, trazendo algum benefício somente para aqueles que fazem cultos a lendas e tradições. Nosso “dever alteritário”, contudo, é respeitar a diferença, buscar aprender algo sobre a “essência do outro” – uma razão profunda e Divina para aquele comportamento, algo “invisível aos olhos” como acentua o inspirado Antoine de Saint Exupéry.
Portanto, perante diferenças sociais, corporais, intelectuais ou de que natureza for, adotemos a ética da alteridade e vivamos em paz.
Muitas pessoas nutrem um terrível vazio existencial porque querem existir mudando o outro, querem se realizar no outro, acham que têm as respostas para ele, querem “anular a diferença” alheia para se sentirem bem.
Por isso é tão comum encontrarmos deficiências no próximo. Sempre achamos que se ele mudasse nisso ou naquilo tudo seria melhor e ele, inclusive, seria mais feliz. Esse é o velho hábito da intromissão perniciosa nas desconhecidas terras do mundo da diversidade, que queremos moldar a gosto pessoal, talhando a igualdade importuna ou contraria os interesses. Muitos conflitos nascem exatamente nesse ato de apropriação indevida da conduta e da forma de ser do próximo. Não sabendo considerar-lhe a singularidade, tentamos combater a diferença ou, o que é pior, adotamos a indiferença...
Pensemos urgentemente na construção da conduta de alteridade em nossas relações.
Prezemos as diferenças e honremo-las com a ética da fraternidade, esse o roteiro saudável proposto por Jesus em Sua sábia interrogação: Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa?
Do livro Unidos pelo Amor – Ética e Cidadania à Luz dos Fundamentos Espíritas
Psicografia de Wanderley S. de Oliveira
Espíritos: Ermance Dufaux e Cícero Pereira
Clique aqui para ler mais: http://www.forumespirita.net/fe/auto-conhecimento/etica-da-alteridade/#ixzz5LpW0tcCl
Etapas da Alteridade - Ermance
“Necessária é a variedade das aptidões, a fim de que cada
um possa concorrer para a execução dos desígnios da Providência,
no limite do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais.”
O Livro dos Espíritos - Questão 804
Alteridade, uma palavra que merece atenção nos programas de educação e melhora à luz do Espiritismo humanitário.
Consideremo-la como sendo a singularidade alheia, o distinto, aquilo que é “outro”, a diferença que marca a personalidade de nosso próximo.
Nas abordagens filosóficas a alteridade tem conotações de rara beleza e profundidade demonstrando a importância da diversidade humana. Entretanto, interessa-nos mais de perto, seu enfoque ético na convivência.
O trato humano com a diferença, da qual o outro é portador, tem sido motivo para variados graus de conflitos e adversidades. Inclusive entre os seareiros da causa espírita observa-se o desafio que constitui estabelecer uma relação harmoniosa e fraterna, quando se trata de alguém que não pensa igual ou que foge aos convencionais padrões de ação e pensamento, perante as tarefas promovidas nos círculos doutrinários. Freqüentemente, a dificuldade em manter a fraternidade com as diferenças e os diferentes tem ocasionado um lamentável fenômeno comportamental na sociedade: a indiferença. A indiferença é a negação da diferença; o outro não faz diferença nenhuma, é um bloqueio deliberado ou inconsciente ao distinto, àquilo que não é o “eu”. Não havendo disposição ou mesmo possibilidade de compatibilidade entre aptidões ou no terreno do entendimento, adota-se a exclusão afetiva como suposta solução para os embates do relacionamento. Leves agastamentos e decepções arrefecem as expectativas e as frágeis amizades levando muito facilmente as criaturas à mágoa e mesmo ao revanchismo.
Conviver é, de fato, um desafio. A humanidade terrena, nesse início do terceiro milênio, começa a se preocupar em delinear nos seus projetos educacionais a habilidade de “aprender a conviver” como um dos quatro magistrais pilares para todos os conteúdos das escolas do mundo. Muito relevante essa medida, tomando por base que esse será o milênio do homem interior, em contraposição aos últimos mil anos que fundamentaram a era do homem exterior, o homem das conquistas para fora, sendo agora o momento das conquistas e vitórias íntimas: a era do amor falado, sentido e aplicado.
A indiferença provoca uma quase total ausência de solidariedade nas relações entre os homens. O egoísmo é o responsável por essa calamidade da vida humana, levando ao “esfriamento da sensibilidade” ante tanto desrespeito e violência.
Compreender as etapas da alteridade nos mecanismos afetivos, sob o prisma do progresso espiritual, é fundamental para procedermos a uma autoavaliação de nossa posição íntima.
Delineemos essas etapas do crescimento moral e espiritual em três: primeiro o desejo de melhora, posteriormente a interiorização e finalmente a transformação. Em cada uma dessas vivências dilata-se a consciência para uma concepção mais apurada daqueles que jornadeiam conosco no carreiro das experiências de cada instante. Em cada uma, a singularidade “daquele que é outro” toma uma conotação de conformidade com a maturidade afetiva e moral de cada um.
Antes de assinalarmos as características pertinentes a cada passo, deixemos claro que todo processo de mudança interior obedece a esse espírito de seqüência natural. Sem desejo de melhora não existe motivação para quaisquer empreendimentos de renovação. Sem a etapa da interiorização não se deflagra o conhecimento fidedigno do trabalho a ser efetuado na intimidade de si mesmo. E a transformação é o resultado e o objetivo para o qual todos caminhamos na evolução. Esse dinamismo interior é processual e ninguém estagia em uma ou outra etapa separadamente. No entanto, para efeitos didáticos, analisemos o que costuma suceder-se na vida afetiva ao longo dessa caminhada, dentro da relação eu e o outro, para quantos tomam contato com as luzes do Espiritismo:
Desejo de melhora – período em que nos ocupamos pelas ações no bem. Etapa marcada pelo conhecimento espiritual criando conflitos íntimos, impulsionando novos posicionamentos. A necessidade de mudança será proporcional ao nível de maturidade de cada criatura. Nessa fase o outro ainda é uma referência de incômodo, disputa e ameaça, quase um adversário para quem são dirigidas cobranças não suportáveis a si mesmo. Tal estado psicológico instiga o julgamento inflexível através da análise para fora. O principal traço afetivo é a simpatia pelos iguais, aqueles que pensam conforme pensamos, que esposam pontos de vista idênticos. Embora seja um instante de muita “convulsão” nas metas e propósitos de vida, é quando o homem se define por uma nova opção de melhora com base na vida futura, na imortalidade e na ascensão. O convite ético do Espiritismo chega-lhe como consolo e também um abalo nas convicções. Mesmo o próximo não sendo ainda respeitado na sua diferença, trata-se do início da morte da indiferença. Apesar de não aceitar os diferentes, já se incomoda com eles, querendo modificá-los: um efetivo sinal de mutação na forma de sentir. Afetivamente não é uma postura ajustada, mas é uma estrada que se abre para superar a tendência de marginalização e impulso para repensarmos a nossa individualidade, até alcançarmos a interiorização.
Interiorização – se na fase anterior a prioridade era a ação, aqui o aprendiz das questões do espírito volta-se para estudar suas reações íntimas. O conhecimento sai da esfera puramente intelectiva para o campo das reflexões sentidas, motivando a busca de estados mentais de harmonia. O “outro” promove-se à condição de espelho das necessidades de nosso aperfeiçoamento, uma extensão de nós próprios que deflagra o processo educativo; afetivamente toma a conotação daquele que nos leva a novos e mais elevados sentimentos. Esse é o estado psicológico da busca de entendimento e do autoconhecimento, uma análise para dentro. Há uma dilatação da sensibilidade para com a diferença alheia, seguida de mais intensa aceitação, disposição para o perdão e a concórdia. Começa-se assim a compreensão da importância que tem a diversidade de aptidões. O desigual passa a ser visto como alguém importante para o nosso crescimento pessoal. A maleabilidade, a assertividade, a empatia e outras habilidades emocionais passam a ser usadas com mais intensidade. Todas essas posturas sedimentam valores novos no rumo da transformação.
Transformação – os valores interiorizados atingem o campo dos sentimentos, é a mudança real. O outro é alteridade, distinção; é o estado psicológico do amor em que a diferença do outro passa ser incondicionalmente aprovada e, mais que isso, compreendida como indispensável lição de complementaridade. Nessa etapa aprende-se não só a aceitar os diferentes como se consegue aprender com eles, amá-los na sua maneira de ser. É a etapa da felicidade. O outro jamais poderá ser motivo para decepções e mágoas. Ainda que as tenhamos saberemos como lidar bem com essas emoções. A autonomia e a liberdade não permitem amarras e dependência, opressão e sentimentalismo. Aprende-se o auto-amor e por conseqüência ama-se sem sofrimento, sem sacrifícios; ama-se porque o amor é preenchedor e isso, definitivamente, basta. Jesus, na Parábola do Semeador, quando fala dos vários terrenos em que foram distribuídas as sementes, deixa-nos um tratado sobre a alteridade e suas etapas. Os solos da narrativa correspondem aos níveis evolutivos em que cada qual dará frutos, conforme suas possibilidades.
O aprendizado da reforma íntima, inevitavelmente, percorre esses degraus de aprimoramento. A análise sincera dos sentimentos que se movimentam na esfera dos corações nessa marcha de crescimento nos permitirá proceder ao conhecimento de si próprio com mais êxito. Não esqueçamos, em nosso favor, que em qualquer tempo e lugar, diferenças não são defeitos, os diferentes necessariamente não são oponentes, e a indiferença é o recolhimento egoísta do afeto na escura masmorra do desamor. Nossa harmonia é construída no cultivo das virtudes da indulgência, da fraternidade e do acolhimento. Ação, reação, transformação: caminhos da alteridade.
Morte da indiferença, autoconhecimento, amor:
caminhos da felicidade.
Em quaisquer etapas: sempre alteridade na erradicação do personalismo.
Hosanas às diferenças e aos diferentes!
Wanderley S. de Oliveira/Espírito Ermance Dufaux
Livro “Mereça Ser Feliz”
Clique aqui para ler mais: http://www.forumespirita.net/fe/mensagens-de-animo/etapas-da-alteridade-11573/#ixzz5Lp80vsJa
um possa concorrer para a execução dos desígnios da Providência,
no limite do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais.”
O Livro dos Espíritos - Questão 804
Alteridade, uma palavra que merece atenção nos programas de educação e melhora à luz do Espiritismo humanitário.
Consideremo-la como sendo a singularidade alheia, o distinto, aquilo que é “outro”, a diferença que marca a personalidade de nosso próximo.
Nas abordagens filosóficas a alteridade tem conotações de rara beleza e profundidade demonstrando a importância da diversidade humana. Entretanto, interessa-nos mais de perto, seu enfoque ético na convivência.
O trato humano com a diferença, da qual o outro é portador, tem sido motivo para variados graus de conflitos e adversidades. Inclusive entre os seareiros da causa espírita observa-se o desafio que constitui estabelecer uma relação harmoniosa e fraterna, quando se trata de alguém que não pensa igual ou que foge aos convencionais padrões de ação e pensamento, perante as tarefas promovidas nos círculos doutrinários. Freqüentemente, a dificuldade em manter a fraternidade com as diferenças e os diferentes tem ocasionado um lamentável fenômeno comportamental na sociedade: a indiferença. A indiferença é a negação da diferença; o outro não faz diferença nenhuma, é um bloqueio deliberado ou inconsciente ao distinto, àquilo que não é o “eu”. Não havendo disposição ou mesmo possibilidade de compatibilidade entre aptidões ou no terreno do entendimento, adota-se a exclusão afetiva como suposta solução para os embates do relacionamento. Leves agastamentos e decepções arrefecem as expectativas e as frágeis amizades levando muito facilmente as criaturas à mágoa e mesmo ao revanchismo.
Conviver é, de fato, um desafio. A humanidade terrena, nesse início do terceiro milênio, começa a se preocupar em delinear nos seus projetos educacionais a habilidade de “aprender a conviver” como um dos quatro magistrais pilares para todos os conteúdos das escolas do mundo. Muito relevante essa medida, tomando por base que esse será o milênio do homem interior, em contraposição aos últimos mil anos que fundamentaram a era do homem exterior, o homem das conquistas para fora, sendo agora o momento das conquistas e vitórias íntimas: a era do amor falado, sentido e aplicado.
A indiferença provoca uma quase total ausência de solidariedade nas relações entre os homens. O egoísmo é o responsável por essa calamidade da vida humana, levando ao “esfriamento da sensibilidade” ante tanto desrespeito e violência.
Compreender as etapas da alteridade nos mecanismos afetivos, sob o prisma do progresso espiritual, é fundamental para procedermos a uma autoavaliação de nossa posição íntima.
Delineemos essas etapas do crescimento moral e espiritual em três: primeiro o desejo de melhora, posteriormente a interiorização e finalmente a transformação. Em cada uma dessas vivências dilata-se a consciência para uma concepção mais apurada daqueles que jornadeiam conosco no carreiro das experiências de cada instante. Em cada uma, a singularidade “daquele que é outro” toma uma conotação de conformidade com a maturidade afetiva e moral de cada um.
Antes de assinalarmos as características pertinentes a cada passo, deixemos claro que todo processo de mudança interior obedece a esse espírito de seqüência natural. Sem desejo de melhora não existe motivação para quaisquer empreendimentos de renovação. Sem a etapa da interiorização não se deflagra o conhecimento fidedigno do trabalho a ser efetuado na intimidade de si mesmo. E a transformação é o resultado e o objetivo para o qual todos caminhamos na evolução. Esse dinamismo interior é processual e ninguém estagia em uma ou outra etapa separadamente. No entanto, para efeitos didáticos, analisemos o que costuma suceder-se na vida afetiva ao longo dessa caminhada, dentro da relação eu e o outro, para quantos tomam contato com as luzes do Espiritismo:
Desejo de melhora – período em que nos ocupamos pelas ações no bem. Etapa marcada pelo conhecimento espiritual criando conflitos íntimos, impulsionando novos posicionamentos. A necessidade de mudança será proporcional ao nível de maturidade de cada criatura. Nessa fase o outro ainda é uma referência de incômodo, disputa e ameaça, quase um adversário para quem são dirigidas cobranças não suportáveis a si mesmo. Tal estado psicológico instiga o julgamento inflexível através da análise para fora. O principal traço afetivo é a simpatia pelos iguais, aqueles que pensam conforme pensamos, que esposam pontos de vista idênticos. Embora seja um instante de muita “convulsão” nas metas e propósitos de vida, é quando o homem se define por uma nova opção de melhora com base na vida futura, na imortalidade e na ascensão. O convite ético do Espiritismo chega-lhe como consolo e também um abalo nas convicções. Mesmo o próximo não sendo ainda respeitado na sua diferença, trata-se do início da morte da indiferença. Apesar de não aceitar os diferentes, já se incomoda com eles, querendo modificá-los: um efetivo sinal de mutação na forma de sentir. Afetivamente não é uma postura ajustada, mas é uma estrada que se abre para superar a tendência de marginalização e impulso para repensarmos a nossa individualidade, até alcançarmos a interiorização.
Interiorização – se na fase anterior a prioridade era a ação, aqui o aprendiz das questões do espírito volta-se para estudar suas reações íntimas. O conhecimento sai da esfera puramente intelectiva para o campo das reflexões sentidas, motivando a busca de estados mentais de harmonia. O “outro” promove-se à condição de espelho das necessidades de nosso aperfeiçoamento, uma extensão de nós próprios que deflagra o processo educativo; afetivamente toma a conotação daquele que nos leva a novos e mais elevados sentimentos. Esse é o estado psicológico da busca de entendimento e do autoconhecimento, uma análise para dentro. Há uma dilatação da sensibilidade para com a diferença alheia, seguida de mais intensa aceitação, disposição para o perdão e a concórdia. Começa-se assim a compreensão da importância que tem a diversidade de aptidões. O desigual passa a ser visto como alguém importante para o nosso crescimento pessoal. A maleabilidade, a assertividade, a empatia e outras habilidades emocionais passam a ser usadas com mais intensidade. Todas essas posturas sedimentam valores novos no rumo da transformação.
Transformação – os valores interiorizados atingem o campo dos sentimentos, é a mudança real. O outro é alteridade, distinção; é o estado psicológico do amor em que a diferença do outro passa ser incondicionalmente aprovada e, mais que isso, compreendida como indispensável lição de complementaridade. Nessa etapa aprende-se não só a aceitar os diferentes como se consegue aprender com eles, amá-los na sua maneira de ser. É a etapa da felicidade. O outro jamais poderá ser motivo para decepções e mágoas. Ainda que as tenhamos saberemos como lidar bem com essas emoções. A autonomia e a liberdade não permitem amarras e dependência, opressão e sentimentalismo. Aprende-se o auto-amor e por conseqüência ama-se sem sofrimento, sem sacrifícios; ama-se porque o amor é preenchedor e isso, definitivamente, basta. Jesus, na Parábola do Semeador, quando fala dos vários terrenos em que foram distribuídas as sementes, deixa-nos um tratado sobre a alteridade e suas etapas. Os solos da narrativa correspondem aos níveis evolutivos em que cada qual dará frutos, conforme suas possibilidades.
O aprendizado da reforma íntima, inevitavelmente, percorre esses degraus de aprimoramento. A análise sincera dos sentimentos que se movimentam na esfera dos corações nessa marcha de crescimento nos permitirá proceder ao conhecimento de si próprio com mais êxito. Não esqueçamos, em nosso favor, que em qualquer tempo e lugar, diferenças não são defeitos, os diferentes necessariamente não são oponentes, e a indiferença é o recolhimento egoísta do afeto na escura masmorra do desamor. Nossa harmonia é construída no cultivo das virtudes da indulgência, da fraternidade e do acolhimento. Ação, reação, transformação: caminhos da alteridade.
Morte da indiferença, autoconhecimento, amor:
caminhos da felicidade.
Em quaisquer etapas: sempre alteridade na erradicação do personalismo.
Hosanas às diferenças e aos diferentes!
Wanderley S. de Oliveira/Espírito Ermance Dufaux
Livro “Mereça Ser Feliz”
Clique aqui para ler mais: http://www.forumespirita.net/fe/mensagens-de-animo/etapas-da-alteridade-11573/#ixzz5Lp80vsJa
Alteridade - Fórum
Textos retirados do Forum Espírita, nesta página:
http://www.forumespirita.net/fe/o-evangelho-segundo-o-espiritismo/o-que-significa-alteridade/#.W1Io69JKhPY
Alteridade é um termo que vem sendo cada vez mais utilizado não apenas nos meios espíritas, e seu significado reflete uma nova mentalidade, aquela que irá vigorar na civilização que deverá transformar a terra num mundo de regeneração, porque se refere à aceitação das diferenças; também significa a não-indiferença, o aprender com os diferentes, o amar e acolher o outro, aceitando e respeitando as suas diferenças.
É uma palavra que representa, em sua profundidade, as leis cósmicas de convívio entre os seres.
A pessoa que a vivencia passa a ser mais fraterna em todos os sentidos, deixando de criticar, julgar, agredir, excluir, desprezar ...
Quanto aos relacionamentos nos meios espíritas, segundo as palavras de Bezerra: "A diversidade é uma realidade irremovível da Seara e seria utopia e inexperiência tratá-la como joio. Imprescindível propalar a idéia do ecumenismo afetivo entre os seareiros, para que a cultura da alteridade seja disseminada e praticada no respeito incondicional a todos os segmentos".
---- ----
Alteridade é um termo que foi cunhado pela Antropologia. Vem do radical alter, ou seja, "o outro". E esse termo foi aplicado no intuito de defender as sociedades primitivas (indígenas) que foram quase todas dizimadas pelo "homem branco", "civilizado".
Hoje, a palavra alteridade ganhou novos sentidos e interpretações, sendo estendido o seu significado para outras áreas.
Com relação a nós aqui, alteridade significa respeitar a opinião do outro e não impor a nossa verdade pessoal, como se ela fosse universal, como muitos pretendem aqui.
Alteridade é uma coisa que raramente encontramos entre grupos e pessoas fundamentalistas, seja na ciência, na religião ou em grupos de debates.
Esse tema seu é muito importante porque ele nos traz uma reflexão: por que queremos impor ao outro o nosso modo de pensar?? É nesse contexto que surgem muitas dissidências e até embates acalorados.
"Discordar", não concordar, divergir, opinar diferente é um direito de todos.
Já o não reconhecimento da alteridade significa nos colocar em uma posição em que nós supostamente estaríamos certos e, o outro errado.
Não existe nenhuma verdade! pois a partir do momento em que a pessoa disser "a verdade existe", e passar com isso, a descrevê-la minuciosamente, já estará falando da sua verdade, e não da VERDADE.
"Eu sou a verdade, o caminho e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim" (Jesus)
Veja que, a verdade, seria apreender e praticar os ensinamentos de Jesus. Mas no momento em que se começa a teorizar sobre ela, já se começa a construir uma verdade idiossincrática, ou seja, que diz respeito apenas a um conjunto de opiniões pessoais de um indivíduo.
Uma vez, perguntaram a Che Guevara: "Che, fale-nos algo sobre a revolução", e ele respondeu: "Eu prefiro fazê-la, do que falar sobre ela". Com a verdade é a mesma coisa.
Nesse contexto, a alteridade é mais importante do que a "verdade",
Um abraço,
Renato
-----//------
alteridade
al.te.ri.da.de
sf (lat alter+dade) Estado ou qualidade do que é outro, distinto, diferente.
Logo, e como diz o Renatão, ganhou outro sentido ou sentido diverso por extensão diria.
Em nosso meio alteridade significa que mesmo discordando deve um respeitar ao pensamento do outro.
E é o que não se vê quando muitas técnicas escamoteadas fazem com que as vezes quem preste mais atenção aos meandros dos textos, veja um que discorde, "educadamente" dizendo gatos e lagartos do outro...
Abraços,
Moura
---//----
O discurso antropológico sobre a alteridade é como se fosse uma poderosa metralhadora ("metralhadora cheia de raiva", uma paródia a "metralhadora cheia de mágoas" do Cazuza) contra o discurso oficial da ciência sobre a "cultura ocidental" e sobretudo em relação aos padres e seu papel como "civilizadores" dos povos "atrasados".
Isso já rendeu combates ferrenhos no seio da academia. Vejamos isto: quando um pajé de uma tribo prepara um líquido mágico a partir de uma planta venenosa, e aplica em uma pessoa para curar uma doença, ou, em caso alternativo, para matar alguém, a concepção que se tem da cura, é que, ela foi obtida pelas orações que se fizeram durante o seu preparo, e não porque a planta é venenosa.
Qual o papel da santa e científica ciência nesse contexto?? ----> é "explicar" isso ao pajé da tribo: "não, seu ignorante, o que mata a pessoa é o veneno da planta, e não as orações que são feitas durante o seu preparo". Mais ou menos isso.
E, em que momento o antropólogo se encontra com a razão?? Ora, se o "conhecimento científico" das sociedades primitivas fosse falso, logo eles teriam se auto-exterminado.
Em outras palavras, para a Antropologia do Conhecimento, o conhecimento científico da civilização moderna (nós) é apenas um entre outros. Ele não é o conhecimento, é um conhecimento.
É conhecido também, esse tipo de postura dos civilizados ante os "selvagens", como etnocentrismo, ou seja, a cultura ocidental moderna seria a única forma de expressão simbólica válida, e não somente isso, seria superior e a única detentora da "verdade".
Isso rendeu um quebra-pau na academia durante longas décadas, e só não continuou porque dizimaram todas as sociedades primitivas.
Bom, diante do exposto acima, cabe concluir que a alteridade pode sim, ser utilizada no contexto antropológico, pois será que já não existe aquele tipo de fanatismo espírita que corre lá dizer que "Allan Kardec antecipou, pelos Espíritos, verdades que a ciência só iria comprovar posteriormente??" (Sérgio Thiesen e outros).
Nesse sentido, os próprios Espíritos Superiores seriam "etnocêntricos" e passariam ao largo da alteridade quando dizem que "o vosso mundo é o mundo das sensações, o verdadeiro mundo é o mundo espírita".
Bom, é fácil dizer isso quando se está desencarnado...
Pois então, alteridade para nós muda um pouco: não se trata de doutrinar uma suposta "cultura espírita" inserida dentro do movimento espírita.
Não não... trata-se sim :D do contrário o Moura não estaria a combater o espiritolismo hehehheee
Moura, Moura, cadê a alteridade?? ;D
Nesse contexto do discurso antropológico da alteridade, o discurso espírita ocupa o primeiro lugar, quando se trata de não levar em conta a alteridade.
Esse post meu pode ter complicado as coisas, mas é só para mostrar - para algum alter que estiver lendo esse texto - que o Espiritismo realmente "aceita tudo o que a ciência comprova". O Espiritismo é profundamente etnocêntrico quando se trata de dizer que nós somos um povo mais adiantado em relação aos indígenas. Defender o discurso espírta numa aula de Antropologia é o mesmo que se tornar inimigo de todos, e num programa de Mestrado e Doutorado, é pedir para ser banido do programa ;D
O Espiritismo surge um pouco antes da Teoria da Evolução (OLE em 1857 e Origin of Species em 1859. Apesar do conceito evolução ser diverso em ambos, o discurso etnocêntrico se encontra presente tanto em Kardec quanto em Darwin. Mas, não vamos mexer nesse vespeiro não, se é que eu já não cutuquei ele...
Pois é...
Fui....
----///---------
Mas, voltando, a alteridade no meio espírita é simplesmente saber conviver com as diferenças. Mas isto é complicado, porque sempre haverá aqueles que apontam o corrompimento da pureza doutrinária pelos espíritas que sofreram influência das tradições católicas dentro do Movimento Espírita (Na verdade eles não têm culpa disso).
E, como se irá recriminar as pessoas que querem alertar sobre isso, quando na verdade elas estão corretas??
Ainda assim, temos que "agir com certa alteridade".
Eu diria que, nesse fórum, o grande problema da "falta de alteridade" é entre espíritas e espiritualistas.
Mas agora está tudo bem: depois que se abriu o Estudo do Mês com o "homem de bem" (ali há alteridade), os espiritualistas debandaram (infelizmente, porque a gente aprende com eles também).
E para não me delongar muito: a falta de alteridade no movimento espírita se deve á falta de estudo das Obras Básicas, e também devido às já citadas influências católicas dentro do ME (Movimento Espírita).
Alteridade: temos que saber conviver com as diferenças, é isso.
Um abraço,
Renato
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http://www.forumespirita.net/fe/o-evangelho-segundo-o-espiritismo/o-que-significa-alteridade/#.W1Io69JKhPY
Alteridade é um termo que vem sendo cada vez mais utilizado não apenas nos meios espíritas, e seu significado reflete uma nova mentalidade, aquela que irá vigorar na civilização que deverá transformar a terra num mundo de regeneração, porque se refere à aceitação das diferenças; também significa a não-indiferença, o aprender com os diferentes, o amar e acolher o outro, aceitando e respeitando as suas diferenças.
É uma palavra que representa, em sua profundidade, as leis cósmicas de convívio entre os seres.
A pessoa que a vivencia passa a ser mais fraterna em todos os sentidos, deixando de criticar, julgar, agredir, excluir, desprezar ...
Quanto aos relacionamentos nos meios espíritas, segundo as palavras de Bezerra: "A diversidade é uma realidade irremovível da Seara e seria utopia e inexperiência tratá-la como joio. Imprescindível propalar a idéia do ecumenismo afetivo entre os seareiros, para que a cultura da alteridade seja disseminada e praticada no respeito incondicional a todos os segmentos".
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Alteridade é um termo que foi cunhado pela Antropologia. Vem do radical alter, ou seja, "o outro". E esse termo foi aplicado no intuito de defender as sociedades primitivas (indígenas) que foram quase todas dizimadas pelo "homem branco", "civilizado".
Hoje, a palavra alteridade ganhou novos sentidos e interpretações, sendo estendido o seu significado para outras áreas.
Com relação a nós aqui, alteridade significa respeitar a opinião do outro e não impor a nossa verdade pessoal, como se ela fosse universal, como muitos pretendem aqui.
Alteridade é uma coisa que raramente encontramos entre grupos e pessoas fundamentalistas, seja na ciência, na religião ou em grupos de debates.
Esse tema seu é muito importante porque ele nos traz uma reflexão: por que queremos impor ao outro o nosso modo de pensar?? É nesse contexto que surgem muitas dissidências e até embates acalorados.
"Discordar", não concordar, divergir, opinar diferente é um direito de todos.
Já o não reconhecimento da alteridade significa nos colocar em uma posição em que nós supostamente estaríamos certos e, o outro errado.
Não existe nenhuma verdade! pois a partir do momento em que a pessoa disser "a verdade existe", e passar com isso, a descrevê-la minuciosamente, já estará falando da sua verdade, e não da VERDADE.
"Eu sou a verdade, o caminho e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim" (Jesus)
Veja que, a verdade, seria apreender e praticar os ensinamentos de Jesus. Mas no momento em que se começa a teorizar sobre ela, já se começa a construir uma verdade idiossincrática, ou seja, que diz respeito apenas a um conjunto de opiniões pessoais de um indivíduo.
Uma vez, perguntaram a Che Guevara: "Che, fale-nos algo sobre a revolução", e ele respondeu: "Eu prefiro fazê-la, do que falar sobre ela". Com a verdade é a mesma coisa.
Nesse contexto, a alteridade é mais importante do que a "verdade",
Um abraço,
Renato
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alteridade
al.te.ri.da.de
sf (lat alter+dade) Estado ou qualidade do que é outro, distinto, diferente.
Logo, e como diz o Renatão, ganhou outro sentido ou sentido diverso por extensão diria.
Em nosso meio alteridade significa que mesmo discordando deve um respeitar ao pensamento do outro.
E é o que não se vê quando muitas técnicas escamoteadas fazem com que as vezes quem preste mais atenção aos meandros dos textos, veja um que discorde, "educadamente" dizendo gatos e lagartos do outro...
Abraços,
Moura
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O discurso antropológico sobre a alteridade é como se fosse uma poderosa metralhadora ("metralhadora cheia de raiva", uma paródia a "metralhadora cheia de mágoas" do Cazuza) contra o discurso oficial da ciência sobre a "cultura ocidental" e sobretudo em relação aos padres e seu papel como "civilizadores" dos povos "atrasados".
Isso já rendeu combates ferrenhos no seio da academia. Vejamos isto: quando um pajé de uma tribo prepara um líquido mágico a partir de uma planta venenosa, e aplica em uma pessoa para curar uma doença, ou, em caso alternativo, para matar alguém, a concepção que se tem da cura, é que, ela foi obtida pelas orações que se fizeram durante o seu preparo, e não porque a planta é venenosa.
Qual o papel da santa e científica ciência nesse contexto?? ----> é "explicar" isso ao pajé da tribo: "não, seu ignorante, o que mata a pessoa é o veneno da planta, e não as orações que são feitas durante o seu preparo". Mais ou menos isso.
E, em que momento o antropólogo se encontra com a razão?? Ora, se o "conhecimento científico" das sociedades primitivas fosse falso, logo eles teriam se auto-exterminado.
Em outras palavras, para a Antropologia do Conhecimento, o conhecimento científico da civilização moderna (nós) é apenas um entre outros. Ele não é o conhecimento, é um conhecimento.
É conhecido também, esse tipo de postura dos civilizados ante os "selvagens", como etnocentrismo, ou seja, a cultura ocidental moderna seria a única forma de expressão simbólica válida, e não somente isso, seria superior e a única detentora da "verdade".
Isso rendeu um quebra-pau na academia durante longas décadas, e só não continuou porque dizimaram todas as sociedades primitivas.
Bom, diante do exposto acima, cabe concluir que a alteridade pode sim, ser utilizada no contexto antropológico, pois será que já não existe aquele tipo de fanatismo espírita que corre lá dizer que "Allan Kardec antecipou, pelos Espíritos, verdades que a ciência só iria comprovar posteriormente??" (Sérgio Thiesen e outros).
Nesse sentido, os próprios Espíritos Superiores seriam "etnocêntricos" e passariam ao largo da alteridade quando dizem que "o vosso mundo é o mundo das sensações, o verdadeiro mundo é o mundo espírita".
Bom, é fácil dizer isso quando se está desencarnado...
Pois então, alteridade para nós muda um pouco: não se trata de doutrinar uma suposta "cultura espírita" inserida dentro do movimento espírita.
Não não... trata-se sim :D do contrário o Moura não estaria a combater o espiritolismo hehehheee
Moura, Moura, cadê a alteridade?? ;D
Nesse contexto do discurso antropológico da alteridade, o discurso espírita ocupa o primeiro lugar, quando se trata de não levar em conta a alteridade.
Esse post meu pode ter complicado as coisas, mas é só para mostrar - para algum alter que estiver lendo esse texto - que o Espiritismo realmente "aceita tudo o que a ciência comprova". O Espiritismo é profundamente etnocêntrico quando se trata de dizer que nós somos um povo mais adiantado em relação aos indígenas. Defender o discurso espírta numa aula de Antropologia é o mesmo que se tornar inimigo de todos, e num programa de Mestrado e Doutorado, é pedir para ser banido do programa ;D
O Espiritismo surge um pouco antes da Teoria da Evolução (OLE em 1857 e Origin of Species em 1859. Apesar do conceito evolução ser diverso em ambos, o discurso etnocêntrico se encontra presente tanto em Kardec quanto em Darwin. Mas, não vamos mexer nesse vespeiro não, se é que eu já não cutuquei ele...
Pois é...
Fui....
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Mas, voltando, a alteridade no meio espírita é simplesmente saber conviver com as diferenças. Mas isto é complicado, porque sempre haverá aqueles que apontam o corrompimento da pureza doutrinária pelos espíritas que sofreram influência das tradições católicas dentro do Movimento Espírita (Na verdade eles não têm culpa disso).
E, como se irá recriminar as pessoas que querem alertar sobre isso, quando na verdade elas estão corretas??
Ainda assim, temos que "agir com certa alteridade".
Eu diria que, nesse fórum, o grande problema da "falta de alteridade" é entre espíritas e espiritualistas.
Mas agora está tudo bem: depois que se abriu o Estudo do Mês com o "homem de bem" (ali há alteridade), os espiritualistas debandaram (infelizmente, porque a gente aprende com eles também).
E para não me delongar muito: a falta de alteridade no movimento espírita se deve á falta de estudo das Obras Básicas, e também devido às já citadas influências católicas dentro do ME (Movimento Espírita).
Alteridade: temos que saber conviver com as diferenças, é isso.
Um abraço,
Renato
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Paulo e Tiago: A Ética da Alteridade
ANTONIO AUGUSTO NASCIMENTO
acnascimento@terra.com.br
Santo Ângelo, RS (Brasil)
“Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como o Cristo vos perdoou, assim fazei
vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade, que é o
vínculo da perfeição.” Cl 3,13-14
Uma séria crise abateu-se sobre o movimento cristão dos primeiros dias. Tiago e vários seguidores eram partidários da circuncisão apoiados na lei mosaica, enquanto Paulo e outros defendiam a total independência do Evangelho.
A circuncisão era um rito exterior, um “sinal de pacto”, a ser posto em todos os descendentes masculinos de Abraão, a fim de ficar como memorial da Aliança que Yahweh, assim, estabelecia com seu povo. Significava um compromisso tanto com o povo de Israel, como com o próprio Deus de Israel. Rejeitar a circuncisão resultava em ser “expulso” do seu povo (Gn 17,10-14). Os estrangeiros que desejassem entrar na comunhão com o povo de Israel e com o seu Deus, bem como celebrar a Páscoa e participar de outras bênçãos, tinham de submeter-se a este rito, a circuncisão, qualquer que fosse a sua idade (Gn 34,14-17, 22; Ex 12,48). A circuncisão foi tornada um requisito obrigatório da lei mosaica. “E, no oitavo dia, se circuncidará ao menino a carne do seu prepúcio” (Lv 12,13). Isso era tão importante que, se o oitavo dia caísse no altamente respeitado Sábado, ainda assim se devia realizar a circuncisão (Jo 7, 22-23). João Batista, Jesus e Paulo foram circuncidados ao “oitavo dia” (Lc 1,59; 2,21; Fl 3,5).
Paulo compreendeu a questão com rara profundidade e manteve viva preocupação, observando as polêmicas que surgiam em torno desse assunto, bem como dos alimentos puros e impuros, e a determinação dos judeus cristãos de não se sentarem à mesa de refeições comuns com os cristãos gregos, nem frequentar-lhes os lares. Como ele temia, o problema ameaçava de ruptura a comunidade cristã e colocava em perigo o trabalho que vinha realizando entre os gentios.(1)
Os irmãos de Jerusalém, que nunca tinham saído de sua terra e não compreendiam a situação dos gentios, não consideravam os conversos do gentilismo como verdadeiros cristãos, afirmando que não poderiam ter sido aceitos sem antes admitir a lei mosaica.
Essa questão não preocupava os judeus convertidos, tampouco os prosélitos (2) convertidos. Entretanto, na comunidade de Antioquia, que era constituída, em sua grande maioria, por cristãos com origem no paganismo (3), cujos laços com o judaísmo eram muito fracos, surgiam sérias dificuldades.
Jesus prometera aperfeiçoar a Lei - Para estes, sujeitarem-se ao rito da circuncisão ou à ritualística da lei mosaica constituía-se em fardo inaceitável, reduzindo a experiência da liberdade cristã à estreiteza da sinagoga e negando a universalidade da mensagem de salvação de Jesus.
Havia por trás de tudo isso um grave e duplo problema, um de cunho religioso, outro de caráter social. Se continuasse assim, teríamos cristãos de primeira classe ou cristãos inteiros e meio-cristãos, criando no cristianismo nascente dois agrupamentos: um interior e outro exterior. A visão judaizante, concentrada em Jerusalém e liderada por Tiago, afirmava que Jesus nascera sob a Lei de Moisés, e que dissera não ter vindo anulá-la, mas dar-lhe cumprimento, assim como afirmara que ela se cumpriria até o último til e o último iota (4) (Mt 5, 17-18).
Esqueciam-se de que Jesus havia prometido aperfeiçoar a Lei e que em muitas passagens expressou-se assim: “Os antigos diziam... mas eu vos digo” (Mt 5, 21-22; Jo 8).
Emmanuel resgata e aclara esses momentos na sua magnífica obra Paulo e Estêvão, apresentando-nos no capítulo V - Lutas pelo Evangelho – as discussões mais críticas e decisivas, as quais nos trazem excelente material de reflexão e aprendizado a nós que buscamos estar preparados para os episódios de crise que ocorrem em nossas vidas e mesmo no seio das instituições espíritas, entre seus trabalhadores.
“As reuniões espíritas oferecem grandíssimas vantagens, por permitirem que os que nela tomam parte se esclareçam, mediante a permuta de ideias, pelas questões e observações que se façam, das quais todos aproveitam. Mas, para que produzam todos os frutos desejáveis, requerem condições especiais, que vamos examinar, porquanto erraria quem as comparasse às reuniões ordinárias.” (O Livro dos Médiuns – cap. XXIX – item 324.)
A proposta destes apontamentos simples é identificarmos nos embates entre os pensamentos de Tiago e Paulo, com a mediação de Simão Pedro, a ética da alteridade.
Ética, segundo o dicionarista Aurélio Buarque de Holanda, é o conjunto de normas e princípios que norteiam a boa conduta humana; estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana, do ponto de vista do bem e do mal.
O desafio de conviver com quem pensa diferente - Alteridade é a qualidade ou natureza do que é outro, diferente. Podemos entender que alteridade é colocar-se no lugar do outro numa relação interpessoal, com consideração, valorização, identificação, e dialogar com o outro. O exercício da alteridade se aplica aos relacionamentos tanto entre indivíduos como entre grupos culturais religiosos, científicos, étnicos etc. Portanto, o estabelecimento de uma relação de paz com os diferentes, a capacidade de conviver bem com a diferença da qual o outro é portador, isso é a ética da alteridade.
A prática da alteridade conduz da diferença à soma nas relações interpessoais entre os seres humanos.
Alteridade é uma palavra que vem ganhando uso acentuado nos meios sociais do século XXI, entretanto a palavra em si não serve para nada, se não for acompanhada da prática.
“Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa? Não procedem assim também os publicanos? Se apenas os vossos irmãos saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que os outros? Não fazem outro tanto os pagãos?” (Mt 5, 46-47 – O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XII – item 1.)
O desafio de conviver com os que pensam diferente de nós, com os contrários, e aprender a respeitá-los e amá-los na sua diversidade, constitui, ainda e significativamente, um desafio ético nos centros espíritas e para seus dirigentes e colaboradores.
Para isso não precisamos desistir de nossa visão e de defendê-la, como vemos em Paulo e Estêvão, na página 471, durante a discussão de Barnabé e Paulo:
“O ambiente carregara-se de nervosismo. Os gentios de Antioquia fitavam o orador, enternecidos e gratos. Os simpatizantes do farisaísmo, ao contrário, não escondiam seu rancor, em face daquela coragem quase audaciosa. Nesse instante, de olhos inflamados por sentimentos indefiníveis, Barnabé tomou a palavra, enquanto o orador fazia uma pausa, e considerou:
— Paulo, sou dos que lamentam tua atitude neste passo. Com que direito poderás atacar a vida pura do continuador de Cristo Jesus?"
A palestra do ex-rabino era rude e franca - "Isso, inquiria-o ele em tom altamente comovedor, com a voz embargada de lágrimas. Paulo e Pedro eram os seus melhores e mais caros amigos.
Longe de se impressionar com a pergunta, o orador respondeu com a mesma franqueza:
— Temos, sim, um direito: — o de viver com a verdade, o de abominar a hipocrisia, e, o que é mais sagrado — o de salvar o nome de Simão das arremetidas farisaicas, cujas sinuosidades conheço, por constituírem o báratro escuro de onde pude sair para as claridades do Evangelho da redenção.
A palestra do ex-rabino continuou rude e franca. De quando em quando, Barnabé surgia com um aparte, tornando a contenda mais renhida.
Entretanto, em todo o curso da discussão, a figura de Pedro era a mais impressionante pela augusta serenidade do semblante tranquilo.”
As diferenças entre os posicionamentos não devem ser, necessariamente, rotuladas de defeitos ou servirem de referências para causar a indiferença ou a separação, somente porque não compreendemos as escolhas e a trajetória do outro, o que certamente conseguiremos equacionar melhor ao adquirirmos a ética da alteridade.
Pela relação alteritária é possível estabelecer uma relação pacífica e construtiva com os diferentes, na medida em que se identifique, entenda e aprenda a aprender com o contrário.
Para que o processo de aprendizado da alteridade aconteça, contudo, devemos atentar para alguns aspectos das diferenças:
a) Identificação – para isso devemos eliminar quaisquer preconceitos e ater-nos na real identificação dos posicionamentos do outro, sabendo que dependem da sua estrutura psíquica, formada ao longo das múltiplas experiências desta e de outras vidas;
b) Entendimento – procurarmos entender as razões conscientes e, até mesmo, as inconscientes (medos, anseios e motivações), para que não façamos avaliações superficiais ou definitivas e fechadas, que nos impeçam de ampliar a compreensão da postura do outro e da diferença identificada;
c) Aprendizado – esta fase permite-nos a acessibilidade mútua, a receptividade aos sentimentos do outro, facultando-nos uma relação de aprendizado e a aproximação pelos aspectos que nos unem, permitindo que o esclarecimento e o amadurecimento pelas experiências vividas ao longo do tempo tragam–nos a sabedoria.
Pedro tinha diante de si um dilema difícil - Podemos aprender muito sobre a identificação das diferenças neste relato de Emmanuel sobre os pensamentos de Simão Pedro:
“Naqueles rápidos instantes, o Apóstolo galileu considerou a sublimidade da sua tarefa no campo de batalha espiritual, pelas vitórias do Evangelho. De um lado estava Tiago, cumprindo elevada missão junto do judaísmo; de suas atitudes conservadoras surgiam incidentes felizes para a manutenção da igreja de Jerusalém, erguida como um ponto inicial para a cristianização do mundo; de outro lado estava a figura poderosa de Paulo, o amigo desassombrado dos gentios, na execução de uma tarefa sublime; de seus atos heroicos derivava toda uma torrente de iluminação para os povos idólatras. Qual o maior a seus olhos de companheiro que convivera com o Mestre e dele recebera as mais altas lições? Naquela hora, o ex-pescador rogou a Jesus lhe concedesse a inspiração necessária para a fiel observância dos seus deveres.”
Pedro também ajuda-nos na experiência do entendimento do outro:
“Era preciso ser justo, sem parcialidade ou falsa inclinação, O Mestre amara a todos, indistintamente. Repartira os bens eternos com todas as criaturas. Ao seu olhar compassivo e magnânimo, gentios e judeus eram irmãos. Experimentava, agora, singular acuidade para examinar conscienciosamente as circunstâncias. Devia amar a Tiago pelo seu cuidado generoso com os israelitas, bem como a Paulo de Tarso pela sua dedicação extraordinária a todos quantos não conheciam a ideia do Deus justo.
O ex-pescador de Cafarnaum notou que a maioria da assembleia lhe dirigia curiosos olhares. Os companheiros de Jerusalém deixavam perceber cólera íntima, na extrema palidez do rosto. Todos pareciam convocá-lo à discussão. Barnabé tinha os olhos vermelhos de chorar e Paulo parecia cada vez mais franco, verberando a hipocrisia com a sua lógica fulminante. O Apóstolo preferiria o silêncio, de modo a não perturbar a fé ardente de quantos se arrebanhavam na igreja sob as luzes do Evangelho; mediu a extensão da sua responsabilidade naquele minuto inesquecível. Encolerizar-se seria negar os valores do Cristo e perder suas obras; inclinar-se para Tiago seria a parcialidade; dar absoluta razão aos argumentos de Paulo não seria justo. Procurou arregimentar na mente os ensinamentos do Mestre e lembrou a inolvidável sentença: — o que desejasse ser o maior fosse o servo de todos. Esse preceito proporcionou-lhe imenso consolo e grande força espiritual.”
Pedro então se levantou e pediu a palavra - O aprendizado da alteridade demonstrado por Pedro, ao longo dos anos, foi determinante para o equacionamento da questão fundamental:
“Quando o ex-pescador reconheceu que as divergências prosseguiriam indefinidamente, levantou-se e pediu a palavra, fazendo a generosa e sábia exortação de que os Atos dos Apóstolos (capítulo 15º, versículos 7 e 11) fornecem notícia:
— Irmãos — começou Pedro, enérgico e sereno —, bem sabeis que, de há muito, Deus nos elegeu para que os gentios ouvissem as verdades do Evangelho e cressem no seu Reino.
O Pai, que conhece os corações, deu aos circuncisos e aos incircuncisos a palavra do Espírito Santo. No dia glorioso do Pentecostes as vozes falaram na praça pública de Jerusalém, para os filhos de Israel e dos pagãos. O Todo-Poderoso determinou que as verdades fossem anunciadas indistintamente. Jesus afirmou que os cooperadores do Reino chegariam do Oriente e do Ocidente. Não compreendo tantas controvérsias, quando a situação é tão clara aos nossos olhos.
O Mestre exemplificou a necessidade de harmonização constante: palestrava com os doutores do Templo; frequentava a casa dos publicanos; tinha expressão de bom ânimo para todos os que se baldavam de esperança; aceitou o derradeiro suplício entre os ladrões. Por que motivo devemos guardar uma pretensão de isolamento daqueles que experimentam a necessidade maior? Outro argumento que não deveremos esquecer é o da chegada do Evangelho ao mundo, quando já possuíamos a Lei. Se o Mestre no-lo trouxe, amorosamente, com os mais pesados sacrifícios, seria justo enclausurarmo-nos nas tradições convencionais, esquecendo o campo de trabalho? Não mandou o Cristo que pregássemos a Boa Nova a todas as nações? Claro que não poderemos desprezar o patrimônio dos israelitas. Temos de amar nos filhos da Lei, que somos nós, a expressão de profundos sofrimentos e de elevadas experiências que nos chegam ao coração através de quantos precederam o Cristo, na tarefa milenária de preservar a fé no Deus único; mas esse reconhecimento deve inclinar nossa alma para o esforço na redenção de todas as criaturas.”
A alteridade nos ensina a tratar bem a todos – “Abandonar o gentio à própria sorte seria criar duro cativeiro, ao invés de praticar aquele amor que apaga todos os pecados. É pelo fato de muito compreendermos os judeus e de muito estimarmos os preceitos divinos, que precisamos estabelecer a melhor fraternidade com o gentio, convertendo-o em elemento de frutificação divina. Cremos que Deus nos purifica o coração pela fé e não pelas ordenanças do mundo. Se hoje rendemos graças pelo triunfo glorioso do Evangelho, que instituiu a nossa liberdade, como impor aos novos discípulos um jugo que, intimamente, não podemos suportar? Suponho, então, que a circuncisão não deva constituir ato obrigatório para quantos se convertam ao amor de Jesus-Cristo, e creio que só nos salvaremos pelo favor divino do Mestre, estendido generosamente a nós e a eles também.”
Podemos aprender muito com esses embates entre Paulo e Tiago nas “Lutas pelo Evangelho” e, principalmente, com a segura e experiente liderança de Simão Pedro.
“A exortação do ex-pescador dava margem a numerosas interpretações; se falava no respeito amoroso aos judeus, referia-se também a um jugo que não podia suportar. Ninguém, todavia, ousou negar-lhe a prudência e bom senso indubitáveis. (...) Havia em tudo, agora, uma nota de satisfação geral. As observações de Pedro calaram fundo em todos os companheiros.”
Não nos esqueçamos de que não temos mérito nenhum em tratar bem a quem nos trata bem também, mas sim em tratar bem a quem não nos trata bem. Pela relação de alteridade é possível tratarmos bem a todos, independentemente de como nos tratam. O crescimento é eminente quando lidamos com aqueles que pensam, sentem e agem diferentemente da gente, numa relação alteritária.
Somente atingiremos a alteridade se nos dispusermos a, diante do diferente, parar, olhar, ouvir com atenção, ponderar com calma e, somente, após isso, agir com equilíbrio e determinação, sempre apoiados no bom senso e na fé raciocinada à luz do Consolador Prometido.
Notas:
(1) Gentios: povos ou nações não israelitas.
(2) Prosélito: converso, isto é, alguém que abraçou o judaísmo, sendo circuncidado, se homem.
(3) Paganismo: é um termo geral, normalmente usado para se referir a tradições religiosas politeístas.
(4) Iota: é a nona letra do alfabeto grego.
Fontes:
XAVIER, Francisco Cândido. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 36.ed. Rio de Janeiro:FEB, 2001. cap. V.
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 112. ed. Rio [de Janeiro]:FEB, 1996. cap. III – item 2.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. - ed. 112. ed. Rio [de Janeiro]:FEB,. cap. XXIX. item 324.
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Santo Ângelo, RS (Brasil)
“Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como o Cristo vos perdoou, assim fazei
vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade, que é o
vínculo da perfeição.” Cl 3,13-14
Uma séria crise abateu-se sobre o movimento cristão dos primeiros dias. Tiago e vários seguidores eram partidários da circuncisão apoiados na lei mosaica, enquanto Paulo e outros defendiam a total independência do Evangelho.
A circuncisão era um rito exterior, um “sinal de pacto”, a ser posto em todos os descendentes masculinos de Abraão, a fim de ficar como memorial da Aliança que Yahweh, assim, estabelecia com seu povo. Significava um compromisso tanto com o povo de Israel, como com o próprio Deus de Israel. Rejeitar a circuncisão resultava em ser “expulso” do seu povo (Gn 17,10-14). Os estrangeiros que desejassem entrar na comunhão com o povo de Israel e com o seu Deus, bem como celebrar a Páscoa e participar de outras bênçãos, tinham de submeter-se a este rito, a circuncisão, qualquer que fosse a sua idade (Gn 34,14-17, 22; Ex 12,48). A circuncisão foi tornada um requisito obrigatório da lei mosaica. “E, no oitavo dia, se circuncidará ao menino a carne do seu prepúcio” (Lv 12,13). Isso era tão importante que, se o oitavo dia caísse no altamente respeitado Sábado, ainda assim se devia realizar a circuncisão (Jo 7, 22-23). João Batista, Jesus e Paulo foram circuncidados ao “oitavo dia” (Lc 1,59; 2,21; Fl 3,5).
Paulo compreendeu a questão com rara profundidade e manteve viva preocupação, observando as polêmicas que surgiam em torno desse assunto, bem como dos alimentos puros e impuros, e a determinação dos judeus cristãos de não se sentarem à mesa de refeições comuns com os cristãos gregos, nem frequentar-lhes os lares. Como ele temia, o problema ameaçava de ruptura a comunidade cristã e colocava em perigo o trabalho que vinha realizando entre os gentios.(1)
Os irmãos de Jerusalém, que nunca tinham saído de sua terra e não compreendiam a situação dos gentios, não consideravam os conversos do gentilismo como verdadeiros cristãos, afirmando que não poderiam ter sido aceitos sem antes admitir a lei mosaica.
Essa questão não preocupava os judeus convertidos, tampouco os prosélitos (2) convertidos. Entretanto, na comunidade de Antioquia, que era constituída, em sua grande maioria, por cristãos com origem no paganismo (3), cujos laços com o judaísmo eram muito fracos, surgiam sérias dificuldades.
Jesus prometera aperfeiçoar a Lei - Para estes, sujeitarem-se ao rito da circuncisão ou à ritualística da lei mosaica constituía-se em fardo inaceitável, reduzindo a experiência da liberdade cristã à estreiteza da sinagoga e negando a universalidade da mensagem de salvação de Jesus.
Havia por trás de tudo isso um grave e duplo problema, um de cunho religioso, outro de caráter social. Se continuasse assim, teríamos cristãos de primeira classe ou cristãos inteiros e meio-cristãos, criando no cristianismo nascente dois agrupamentos: um interior e outro exterior. A visão judaizante, concentrada em Jerusalém e liderada por Tiago, afirmava que Jesus nascera sob a Lei de Moisés, e que dissera não ter vindo anulá-la, mas dar-lhe cumprimento, assim como afirmara que ela se cumpriria até o último til e o último iota (4) (Mt 5, 17-18).
Esqueciam-se de que Jesus havia prometido aperfeiçoar a Lei e que em muitas passagens expressou-se assim: “Os antigos diziam... mas eu vos digo” (Mt 5, 21-22; Jo 8).
Emmanuel resgata e aclara esses momentos na sua magnífica obra Paulo e Estêvão, apresentando-nos no capítulo V - Lutas pelo Evangelho – as discussões mais críticas e decisivas, as quais nos trazem excelente material de reflexão e aprendizado a nós que buscamos estar preparados para os episódios de crise que ocorrem em nossas vidas e mesmo no seio das instituições espíritas, entre seus trabalhadores.
“As reuniões espíritas oferecem grandíssimas vantagens, por permitirem que os que nela tomam parte se esclareçam, mediante a permuta de ideias, pelas questões e observações que se façam, das quais todos aproveitam. Mas, para que produzam todos os frutos desejáveis, requerem condições especiais, que vamos examinar, porquanto erraria quem as comparasse às reuniões ordinárias.” (O Livro dos Médiuns – cap. XXIX – item 324.)
A proposta destes apontamentos simples é identificarmos nos embates entre os pensamentos de Tiago e Paulo, com a mediação de Simão Pedro, a ética da alteridade.
Ética, segundo o dicionarista Aurélio Buarque de Holanda, é o conjunto de normas e princípios que norteiam a boa conduta humana; estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana, do ponto de vista do bem e do mal.
O desafio de conviver com quem pensa diferente - Alteridade é a qualidade ou natureza do que é outro, diferente. Podemos entender que alteridade é colocar-se no lugar do outro numa relação interpessoal, com consideração, valorização, identificação, e dialogar com o outro. O exercício da alteridade se aplica aos relacionamentos tanto entre indivíduos como entre grupos culturais religiosos, científicos, étnicos etc. Portanto, o estabelecimento de uma relação de paz com os diferentes, a capacidade de conviver bem com a diferença da qual o outro é portador, isso é a ética da alteridade.
A prática da alteridade conduz da diferença à soma nas relações interpessoais entre os seres humanos.
Alteridade é uma palavra que vem ganhando uso acentuado nos meios sociais do século XXI, entretanto a palavra em si não serve para nada, se não for acompanhada da prática.
“Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa? Não procedem assim também os publicanos? Se apenas os vossos irmãos saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que os outros? Não fazem outro tanto os pagãos?” (Mt 5, 46-47 – O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XII – item 1.)
O desafio de conviver com os que pensam diferente de nós, com os contrários, e aprender a respeitá-los e amá-los na sua diversidade, constitui, ainda e significativamente, um desafio ético nos centros espíritas e para seus dirigentes e colaboradores.
Para isso não precisamos desistir de nossa visão e de defendê-la, como vemos em Paulo e Estêvão, na página 471, durante a discussão de Barnabé e Paulo:
“O ambiente carregara-se de nervosismo. Os gentios de Antioquia fitavam o orador, enternecidos e gratos. Os simpatizantes do farisaísmo, ao contrário, não escondiam seu rancor, em face daquela coragem quase audaciosa. Nesse instante, de olhos inflamados por sentimentos indefiníveis, Barnabé tomou a palavra, enquanto o orador fazia uma pausa, e considerou:
— Paulo, sou dos que lamentam tua atitude neste passo. Com que direito poderás atacar a vida pura do continuador de Cristo Jesus?"
A palestra do ex-rabino era rude e franca - "Isso, inquiria-o ele em tom altamente comovedor, com a voz embargada de lágrimas. Paulo e Pedro eram os seus melhores e mais caros amigos.
Longe de se impressionar com a pergunta, o orador respondeu com a mesma franqueza:
— Temos, sim, um direito: — o de viver com a verdade, o de abominar a hipocrisia, e, o que é mais sagrado — o de salvar o nome de Simão das arremetidas farisaicas, cujas sinuosidades conheço, por constituírem o báratro escuro de onde pude sair para as claridades do Evangelho da redenção.
A palestra do ex-rabino continuou rude e franca. De quando em quando, Barnabé surgia com um aparte, tornando a contenda mais renhida.
Entretanto, em todo o curso da discussão, a figura de Pedro era a mais impressionante pela augusta serenidade do semblante tranquilo.”
As diferenças entre os posicionamentos não devem ser, necessariamente, rotuladas de defeitos ou servirem de referências para causar a indiferença ou a separação, somente porque não compreendemos as escolhas e a trajetória do outro, o que certamente conseguiremos equacionar melhor ao adquirirmos a ética da alteridade.
Pela relação alteritária é possível estabelecer uma relação pacífica e construtiva com os diferentes, na medida em que se identifique, entenda e aprenda a aprender com o contrário.
Para que o processo de aprendizado da alteridade aconteça, contudo, devemos atentar para alguns aspectos das diferenças:
a) Identificação – para isso devemos eliminar quaisquer preconceitos e ater-nos na real identificação dos posicionamentos do outro, sabendo que dependem da sua estrutura psíquica, formada ao longo das múltiplas experiências desta e de outras vidas;
b) Entendimento – procurarmos entender as razões conscientes e, até mesmo, as inconscientes (medos, anseios e motivações), para que não façamos avaliações superficiais ou definitivas e fechadas, que nos impeçam de ampliar a compreensão da postura do outro e da diferença identificada;
c) Aprendizado – esta fase permite-nos a acessibilidade mútua, a receptividade aos sentimentos do outro, facultando-nos uma relação de aprendizado e a aproximação pelos aspectos que nos unem, permitindo que o esclarecimento e o amadurecimento pelas experiências vividas ao longo do tempo tragam–nos a sabedoria.
Pedro tinha diante de si um dilema difícil - Podemos aprender muito sobre a identificação das diferenças neste relato de Emmanuel sobre os pensamentos de Simão Pedro:
“Naqueles rápidos instantes, o Apóstolo galileu considerou a sublimidade da sua tarefa no campo de batalha espiritual, pelas vitórias do Evangelho. De um lado estava Tiago, cumprindo elevada missão junto do judaísmo; de suas atitudes conservadoras surgiam incidentes felizes para a manutenção da igreja de Jerusalém, erguida como um ponto inicial para a cristianização do mundo; de outro lado estava a figura poderosa de Paulo, o amigo desassombrado dos gentios, na execução de uma tarefa sublime; de seus atos heroicos derivava toda uma torrente de iluminação para os povos idólatras. Qual o maior a seus olhos de companheiro que convivera com o Mestre e dele recebera as mais altas lições? Naquela hora, o ex-pescador rogou a Jesus lhe concedesse a inspiração necessária para a fiel observância dos seus deveres.”
Pedro também ajuda-nos na experiência do entendimento do outro:
“Era preciso ser justo, sem parcialidade ou falsa inclinação, O Mestre amara a todos, indistintamente. Repartira os bens eternos com todas as criaturas. Ao seu olhar compassivo e magnânimo, gentios e judeus eram irmãos. Experimentava, agora, singular acuidade para examinar conscienciosamente as circunstâncias. Devia amar a Tiago pelo seu cuidado generoso com os israelitas, bem como a Paulo de Tarso pela sua dedicação extraordinária a todos quantos não conheciam a ideia do Deus justo.
O ex-pescador de Cafarnaum notou que a maioria da assembleia lhe dirigia curiosos olhares. Os companheiros de Jerusalém deixavam perceber cólera íntima, na extrema palidez do rosto. Todos pareciam convocá-lo à discussão. Barnabé tinha os olhos vermelhos de chorar e Paulo parecia cada vez mais franco, verberando a hipocrisia com a sua lógica fulminante. O Apóstolo preferiria o silêncio, de modo a não perturbar a fé ardente de quantos se arrebanhavam na igreja sob as luzes do Evangelho; mediu a extensão da sua responsabilidade naquele minuto inesquecível. Encolerizar-se seria negar os valores do Cristo e perder suas obras; inclinar-se para Tiago seria a parcialidade; dar absoluta razão aos argumentos de Paulo não seria justo. Procurou arregimentar na mente os ensinamentos do Mestre e lembrou a inolvidável sentença: — o que desejasse ser o maior fosse o servo de todos. Esse preceito proporcionou-lhe imenso consolo e grande força espiritual.”
Pedro então se levantou e pediu a palavra - O aprendizado da alteridade demonstrado por Pedro, ao longo dos anos, foi determinante para o equacionamento da questão fundamental:
“Quando o ex-pescador reconheceu que as divergências prosseguiriam indefinidamente, levantou-se e pediu a palavra, fazendo a generosa e sábia exortação de que os Atos dos Apóstolos (capítulo 15º, versículos 7 e 11) fornecem notícia:
— Irmãos — começou Pedro, enérgico e sereno —, bem sabeis que, de há muito, Deus nos elegeu para que os gentios ouvissem as verdades do Evangelho e cressem no seu Reino.
O Pai, que conhece os corações, deu aos circuncisos e aos incircuncisos a palavra do Espírito Santo. No dia glorioso do Pentecostes as vozes falaram na praça pública de Jerusalém, para os filhos de Israel e dos pagãos. O Todo-Poderoso determinou que as verdades fossem anunciadas indistintamente. Jesus afirmou que os cooperadores do Reino chegariam do Oriente e do Ocidente. Não compreendo tantas controvérsias, quando a situação é tão clara aos nossos olhos.
O Mestre exemplificou a necessidade de harmonização constante: palestrava com os doutores do Templo; frequentava a casa dos publicanos; tinha expressão de bom ânimo para todos os que se baldavam de esperança; aceitou o derradeiro suplício entre os ladrões. Por que motivo devemos guardar uma pretensão de isolamento daqueles que experimentam a necessidade maior? Outro argumento que não deveremos esquecer é o da chegada do Evangelho ao mundo, quando já possuíamos a Lei. Se o Mestre no-lo trouxe, amorosamente, com os mais pesados sacrifícios, seria justo enclausurarmo-nos nas tradições convencionais, esquecendo o campo de trabalho? Não mandou o Cristo que pregássemos a Boa Nova a todas as nações? Claro que não poderemos desprezar o patrimônio dos israelitas. Temos de amar nos filhos da Lei, que somos nós, a expressão de profundos sofrimentos e de elevadas experiências que nos chegam ao coração através de quantos precederam o Cristo, na tarefa milenária de preservar a fé no Deus único; mas esse reconhecimento deve inclinar nossa alma para o esforço na redenção de todas as criaturas.”
A alteridade nos ensina a tratar bem a todos – “Abandonar o gentio à própria sorte seria criar duro cativeiro, ao invés de praticar aquele amor que apaga todos os pecados. É pelo fato de muito compreendermos os judeus e de muito estimarmos os preceitos divinos, que precisamos estabelecer a melhor fraternidade com o gentio, convertendo-o em elemento de frutificação divina. Cremos que Deus nos purifica o coração pela fé e não pelas ordenanças do mundo. Se hoje rendemos graças pelo triunfo glorioso do Evangelho, que instituiu a nossa liberdade, como impor aos novos discípulos um jugo que, intimamente, não podemos suportar? Suponho, então, que a circuncisão não deva constituir ato obrigatório para quantos se convertam ao amor de Jesus-Cristo, e creio que só nos salvaremos pelo favor divino do Mestre, estendido generosamente a nós e a eles também.”
Podemos aprender muito com esses embates entre Paulo e Tiago nas “Lutas pelo Evangelho” e, principalmente, com a segura e experiente liderança de Simão Pedro.
“A exortação do ex-pescador dava margem a numerosas interpretações; se falava no respeito amoroso aos judeus, referia-se também a um jugo que não podia suportar. Ninguém, todavia, ousou negar-lhe a prudência e bom senso indubitáveis. (...) Havia em tudo, agora, uma nota de satisfação geral. As observações de Pedro calaram fundo em todos os companheiros.”
Não nos esqueçamos de que não temos mérito nenhum em tratar bem a quem nos trata bem também, mas sim em tratar bem a quem não nos trata bem. Pela relação de alteridade é possível tratarmos bem a todos, independentemente de como nos tratam. O crescimento é eminente quando lidamos com aqueles que pensam, sentem e agem diferentemente da gente, numa relação alteritária.
Somente atingiremos a alteridade se nos dispusermos a, diante do diferente, parar, olhar, ouvir com atenção, ponderar com calma e, somente, após isso, agir com equilíbrio e determinação, sempre apoiados no bom senso e na fé raciocinada à luz do Consolador Prometido.
Notas:
(1) Gentios: povos ou nações não israelitas.
(2) Prosélito: converso, isto é, alguém que abraçou o judaísmo, sendo circuncidado, se homem.
(3) Paganismo: é um termo geral, normalmente usado para se referir a tradições religiosas politeístas.
(4) Iota: é a nona letra do alfabeto grego.
Fontes:
XAVIER, Francisco Cândido. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 36.ed. Rio de Janeiro:FEB, 2001. cap. V.
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 112. ed. Rio [de Janeiro]:FEB, 1996. cap. III – item 2.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. - ed. 112. ed. Rio [de Janeiro]:FEB,. cap. XXIX. item 324.
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