Estudando o Espiritismo

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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Fora da Caridade não Há Salvação - Slides

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Jesus e a caridade - Slides

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Caridade integral

Caridade integral

José Marcelo Gonçalves Coelho

À questão 893, de O Livro dos Espíritos, Kardec indagava aos luminares espirituais qual seria a mais meritória das virtudes; ao que os espíritos responderam ser aquela que nasce da mais desinteressada caridade.

Habitualmente, quando falamos em caridade, pensamos em assistência material, muito embora não seja somente esse o seu significado, como veremos. E ao falarmos em caridade material, lembramo-nos de sua mais elementar manifestação, que é a esmola, que, a propósito, foi alvo da questão 888, daquela mesma obra, em que Kardec assim questionava:

Que se deve pensar da esmola?

“Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada física e moralmente: embrutece-se. Uma sociedade que se baseie na lei de Deus e na justiça deve prover a vida do fraco, sem que haja para ele humilhação. Deve assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida à mercê do acaso e da boa-vontade de alguns.”

Diante de tão incisiva resposta, o Codificador acrescentava (888-a):

Dar-se-á reproveis a esmola?

“Não; o que merece reprovação não é a esmola, mas a maneira por que habitualmente é dada. O homem de bem, que compreende a caridade de acordo com Jesus, vai ao encontro do desgraçado, sem esperar que este lhe estenda a mão.

E complementam:

“... Nem sempre o mais necessitado é o que pede. O temor de uma humilhação detém o verdadeiro pobre, que muita vez sofre sem se queixar. A esse é que o homem verdadeiramente humano sabe ir procurar, sem ostentação”.

Uma vez, então, indo ao encontro daquele que necessita “sem que haja para ele humilhação”, por que meio podemos avaliar se estamos de fato praticando uma caridade satisfatória?

Na passagem evangélica intitulada “A oferta da viúva pobre” (Mc 12: 41 a 44), já exaustivamente estudada, Jesus nos demonstrou que a importância da caridade material não se avalia pela quantia que se dá, mas, sim, pelo sentimento de desprendimento com que se dá — pode-se dar muito ou pouco, com muito ou pouco amor.

Entretanto, importa ressaltar que a distribuição indiscriminada de recursos nem sempre resulta na prática da caridade responsável.

A esse respeito, Kardec, à questão 896, também da primeira obra basilar, indagava:

“Há pessoas desinteressadas, mas sem discernimento, que prodigalizam seus haveres sem utilidade real, por lhes não saberem dar emprego criterioso. Têm algum merecimento essas pessoas?”

Tendo obtido a seguinte elucidação:

“Têm o do desinteresse, porém não o do bem que poderiam fazer. O desinteresse é uma virtude, mas a prodigalidade irrefletida constitui sempre, pelo menos, falta de juízo. A riqueza, assim como não é dada a uns para ser aferrolhada num cofre forte, também não o é a outros para ser dispersada ao vento. Representa um depósito de que uns e outros terão de prestar contas, porque terão de responder por todo o bem que podiam fazer e não fizeram, por todas as lágrimas que podiam ter estancado com o dinheiro que deram aos que dele não precisavam.”

Por extensão de raciocínio, se, em sã consciência, entregarmos certo recurso financeiro nas mãos de quem dele se utilizará de maneira irresponsável, para alimentar vícios ou excessos de qualquer ordem, certamente estaremos contribuindo para a queda de alguém; e contribuir para a queda de alguém jamais será considerado um ato de caridade.

Por outro lado, sem reduzir em momento algum a importância da caridade material, os Espíritos, à questão 886, novamente da primeira obra básica,nos afirmam, peremptoriamente, que o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus, se traduz por “benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições alheias e perdão das ofensas”.Eis aí a caridade moral, que também deve ser exercida sempre que possível, mas, também, mediante certas precauções.

Oportunamente, recordamo-nos de um episódio relatado pelo Espírito André Luiz, no capítulo 31, de sua obra intitulada Nosso Lar, psicografada por Chico Xavier, em que a questão da responsabilidade no exercício da caridade nos foi exemplificada de modo bastante significativo.

Encontravam-se André Luiz e Narcisa em Nosso Lar, quando uma figura de mulher se aproxima de um dos acessos daquela colônia implorando por socorro, em lamentável condição espiritual. Imediatamente o Vigilante-Chefe é convocado, e, ao examinar atentamente a recém-chegada das regiões umbralinas, afirma que, naquele momento, a triste criatura não poderia receber o socorro desejado. Confessando-se escandalizado, como muito provavelmente nós mesmos nos mostraríamos, André Luiz indaga se não seria faltar aos deveres cristãos abandonar aquela sofredora à própria sorte; ao que o responsável pela segurança aduz que assim agira por haver detectado cinqüenta e oito pontos escuros que maculavam o perispírito daquela entidade, e que correspondiam a exatamente cinqüenta e oito crianças por ela assassinadas ao nascerem, umas por golpes esmagadores, outras por asfixia.

Ao ser cientificada sobre o motivo que lhe impedia a entrada, a desafortunada criatura, antes aparentemente humilde, toma-se de cólera, passando a dirigir palavras extremamente agressivas ao seu interlocutor, demonstrando o seu verdadeiro estado de espírito.

Dando curso à valiosa lição, o Vigilante-Chefe afirma que, caso a infeliz entidade lograsse acesso àquela paragem de refazimento, certamente levaria extrema desarmonia a todos quantos ali se encontravam. E concluiu asseverando: “...a infeliz será atendida alhures pela Bondade Divina, mas, por princípio de caridade legítima, na posição em que me encontro, não lhe poderia abrir nossas portas.” (grifei)

Percebemos, pelo exposto, que, muitas vezes, a caridade se cumpre de maneira efetiva quando dizemos não, pois que, assim, estaremos propiciando àquele que erra, uma oportunidade para que, através do tempo e do esforço íntimo, possa avaliar toda a amplitude das conseqüências de seus atos.

A realidade é que a vida nos acena constantemente com as mais variadas possibilidades de atuação no campo da caridade.

Assim, ela estará presente no amparo material, através do pão que alimenta; da água que mata a sede; do abrigo que acolhe; do agasalho que ameniza o frio ou do recurso financeiro que suaviza a penúria—é a caridade material.

Senti-la-emos sendo elaborada na intimidade do ser, através das ondas mentais que emitirmos sob a forma do perdão silencioso que enobrece; da prece íntima que revigora ou do amor verdadeiro que liberta; são atitudes mentais salutares que, em primeiro lugar, nos favorecem, e, lançadas no espaço, certamente beneficiarão todos a quem se dirijam, encarnados ou desencarnados—é a caridade mental.

Far-se-á vibrante através das palavras que enunciemos; muitas são as tragédias íntimas e coletivas que a cada dia podemos evitar pela palavra que, quando sábia, orienta e edifica; quando suave, sufoca o pranto; quando indulgente, atenua a culpa; quando consoladora, dissipa o sofrimento; quando plena de amor, rompe o ódio ou quando em forma de oração, nos aproxima de Deus—é a caridade verbal.

Mas se pela palavra somos caridosos, também o podemos ser quando silenciamos ante uma ofensa desatada pelo desequilíbrio ou emudecemos para ouvir um desabafo de quem por tantas vezes não encontrou quem o fizesse—é a caridade passiva.

E, por estarmos encarnados, nosso corpo também se servirá à fraternidade, através do amplexo comovido que transfunde energia; do afago paternal que envolve uma criança; de um beijo carinhoso que aproxima as almas ou de um simples aperto de mão que faz brotar o sorriso num rosto antes amargurado—é a caridade gestual.

E se Deus nos concedeu, em qualquer grau ou modalidade, a ferramenta da mediunidade, como recurso precioso de auxílio a encarnados e desencarnados, estaremos aptos a praticar a solidariedade através das faculdades mediúnicas de que dispusermos—é a caridade mediúnica.

Só nos resta, então, porfiar nos caminhos que nos levam à eliminação lenta e gradual do orgulho e do egoísmo, o que somente se fará possível através da prática da caridade, em suas múltiplas e divinas manifestações, pois que, fora dela, conforme estatui a máxima eternizada pelo Espiritismo, não há salvação; salvação essa que representa para nós, espíritas, a inevitável purificação espiritual — única finalidade de nossas sucessivas existências.

josemarcelo.coelho@bol.com.br

Referência bibliográficas:

O Livro dos Espíritos-Edição FEB (questões 886, 888, 893 e 896)
Novo Testamento-(Evangelho de Marcos, cap. 12, v. 41 a 44)
Tradução: João Ferrreira de Almeida

terça-feira, 28 de abril de 2015

A lenda da Caridade

Diz interessante lenda do Plano Espiritual que, a princípio, no mundo se espalham milhares de grupos humanos, nas extensas povoações da Terra.

O Senhor endereçava incessantes mensagens de paz e bondade às criaturas, entretanto, a maioria de desgarrou no egoísmo e no orgulho.

A crueldade agravava-se, o ódio explodia...

Diligenciando solução ao problema, o Celeste Amigo chamou o Anjo Justiça que entrou, em campo e, de imediato, inventou o sofrimento.

Os culpados passaram a resgatar, os próprios delitos, a preço de enormes padecimentos.

O Senhor aprovou os métodos da Justiça que reconheceu indispensáveis ao equilíbrio da Lei, no entanto, desejava encontrar um caminho menos espinhoso para a transformação dos espíritos sediados na Terra, já que a dor deixava comumente um rescaldo de angústia a gerar novos e pesados conflitos.

O Divino Companheiro solicitou concurso ao Anjo Verdade que estabeleceu, para logo, os princípios da advertência.

Tribunas foram erguidas, por toda parte, e os estudiosos do relacionamento humano começaram a pregar sobre os efeitos doma ledo bem, compelindo os ouvintes à aceitação da realidade.

Ainda assim, conquanto a excelência das lições propagadas repontavam dúvidas em torno dos ensinamentos de virtude, suscitando atrasos altamente prejudiciais aos mecanismos da elevação espiritual.

O Senhor apoiou a execução dos planos ideados pelo Anjo da Verdade, observando que as multidões terrestres não deveriam viver ignorando o próprio destino.

No entanto, a compadecer-se dos homens que necessitavam reforma íntima sem saberem disso, solicitou cooperação do Anjo do Amor, à busca de algum recurso que facilitasse a jornada dos seus tutelados para os Cimos da Vida.

O novo emissário criou a caridade e iniciou-se profunda transubstanciação de valores.

Nem todas as criaturas lhe admitiam o convite e permaneciam, na retaguarda, matriculados ns tarefas da Justiça e da Verdade, das quais hauriam a mudança benemérita, em mais longo prazo, mas todas aquelas criaturas que lhe atenderam as petições, passaram a ver e auxiliar doentes p obsessos, paralíticos e mutilados, cegos e infelizes, os largados à rua e os sem ninguém.

O contato recíproco gerou precioso câmbio espiritual.

Quantos conduziam alimento e agasalho, carinho e remédio para os companheiros infortunados recebiam deles, em troca, os dons da paciência e da compreensão, da tolerância e da humildade e, sem maiores obstáculos, descobriram a estrada para a convivência com os Céus.

O Senhor louvou a caridade, nela reconhecendo o mais importante processo de orientação e sublimação, a benefício de quantos usufruem a escola da Terra.

Desde então, funcionam, no mundo, o sofrimento, podando as arestas dos companheiros revoltados: a doutrinação informando aos espíritos indecisos quanto às melhores sendas de ascensão às Bênçãos Divinas; e a caridade iluminando a quantos consagram ao amor pelos semelhantes, redimindo sentimentos e elevando almas, porque, acima de todas as forças que renovam os rumos da criatura, nos caminhos, humanos, a caridade é a mais vigorosa, perante Deus, porque é a única que atravessa as barreiras da inteligência e alcança os domínios do coração.


Autor
Meimei

Médium
Chico Xavier

Espiritismo, caridade e fé

http://arquivoconfidencial.blogspot.com.br/2009/03/espiritismo-caridade-e-fe.html

Caridade sob a ótica espírita

Caridade sob a ótica espírita


Após a saída do Egito, Moisés passou a conviver com o seu povo no deserto, onde as frequentes queixas e revoltas, aliadas aos rigores climáticos, fatores determinantes da fome e da sede, eram a realidade diária.

A esmagadora maioria dos hebreus, devido à crueldade da escravidão, encontrava-se revoltada, brutalizada e reduzida à egoística satisfação das necessidades primárias.

Pais vendiam os seus filhos, as mulheres eram tratadas como alimárias, os velhos eram abandonados.

Nessas circunstâncias, em que o lado animal do homem sobressai, só a dor e o instinto de conservação conseguem domá-lo.

Daí a severa legislação mosaica contida no Código da Aliança (Êxodo capítulos 21 a 24).

Leis estas, temporárias, elaboradas para determinado período histórico daquele povo, onde a disciplina deveria suplantar tudo mais.

Não prejudicareis à viúva e ao órfão. Se os prejudicardes, eles clamarão a mim e eu os ouvirei; minha cólera se inflamará e vos farei perecer pela espada; vossas mulheres ficarão viúvas e vossos filhos, órfãos. (Êxodo, 22: 22 a 24)

Perecer pela espada. A justiça feita pelo fio da espada não nos parece um dos atributos divinizadores do Pai. Sem dúvida nenhuma, muitas das leis foram escritas por Moisés. Apresentar um Deus “vingativo” foi a única forma de redirecionar o comportamento dos ex-escravos.

A disciplina precede a espontaneidade, já nos alertou Emmanuel. De fato, a princípio adotamos determinados comportamentos por disciplina: um “bom dia” à caixa do supermercado, ao gari, um “por favor” antes de nossas solicitações, um “obrigado” àqueles que nos ajudaram, etc. Com o tempo estas atitudes incorporam-se ao nosso dia a dia de forma espontânea. Natural.

Caridade de Jesus

O Espírito Emmanuel, no capítulo 16, de Roteiro, psicografado por Francisco Candido Xavier, diz:

O Mestre não se limita a ensinar o bem. Desce ao convívio da multidão e materializa-o com o próprio esforço. Cura os doentes na via pública, sem cerimônia, e ajuda a milhares de ouvintes, amparando-os na solução dos mais complicados problemas de natureza moral, sem valer-se das etiquetas de culto externo.

E conclui em Caminho, Verdade e Vida, capítulo 106:

Jesus é o nosso Mestre nas ocorrências mínimas. E se ouvimo-Lo recomendando estejamos prontos a dar “a qualquer” que pedir (Lucas, 6:30), vemo-Lo atendendo a todas as criaturas, mas segundo as necessidades.

De fato, Jesus proporcionou a cada situação e a cada personalidade o que necessitavam. Concedeu:

Bem aventuranças aos aflitos;
Advertências aos vendilhões;
Deu alegrias nas botas de Caná; e
Repreensões em assembléias dos discípulos.

Caridade depois de Jesus pode ser:

- Paliativa: consiste na utilização de recurso para atenuar um mal ou adiar uma crise.

- Educativa: é a utilização de um conjunto de normas pedagógicas tendentes ao desenvolvimento geral do corpo e do espírito.

A esmola

Mais uma vez ouçamos Emmanuel em Caminho, Verdade e Vida, ainda no capítulo 106:

O ato de dar é dos mais sublimes nas operações da vida; entretanto, muitos homens são displicentes e incompreensíveis na execução dele.

Alguns distribuem esmolas levianamente, outros se esquecem da vigilância, entregando seu trabalho a malfeitores. (Grifei)

Quando agimos de forma leviana, de maneira precipitada, não raro esquecemos imprudentemente a vigilância.

A riqueza, assim como não é dada a uns para ser aferrolhada num cofre forte, também não o é a outros para ser dispensada ao vento. – LE questão 896.

A prodigalização não traduz desprendimento dos bens materiais.

Paulo em sua epístola aos Romanos, no capitulo 14, versículo 15, assim se manifesta sobre o comportamento leviano:

Mas, se por causa da comida se contrista teu irmão, já não andas conforme o amor. Não destruas por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu.

A esmola ou até mesmo a ajuda, o socorro, não devem ser objeto de tristeza ou humilhação para o assistido. Este gesto de assistência social, antes de tudo, deve estar revestido de amor ao próximo. Assim, não pode ser fruto da precipitação, mas resultante de um labor bem planejado.

Na questão 888 de “O Livro dos Espíritos”, a Espiritualidade Superior assim se manifesta ao Codificador com relação àquele que pede esmolas:

Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada física e moralmente: embrutece-se. Uma sociedade que se baseie na lei de Deus e na justiça deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação. Deve assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem deixar a vida a mercê do acaso e da boa vontade de alguns.

O forte deve trabalhar para o fraco. Não tendo este família, a sociedade deve fazer as vezes desta. É a lei de caridade. LE questão 685 ”a”.

Através do trabalho o homem tem infinitas lições necessárias à evolução. Aprende:

a trabalhar em equipe;
a ter responsabilidade, observando os horários estabelecidos, desenvolvendo satisfatoriamente as tarefas sob sua condução;
a ter respeito pelo chefe e pelos colegas;
a ter humildade recebendo e observando as orientações recebidas de seus superiores;
a ter criatividade e iniciativa;
a lidar com situações imprevistas;

Na questão 255 de “O Consolador” Emmanuel nos esclarece quanto à Caridade espiritual e material assim dizendo:

Todo serviço da caridade desinteressada é um reforço divino na obra da fraternidade humana e da redenção universal.

Entretanto nos adverte:

Urge, contudo, que os espiritistas sinceros, esclarecidos no Evangelho, procurem compreender a feição educativa dos postulados doutrinários, reconhecendo que o trabalho imediato dos tempos modernos é o da iluminação interior do homem, melhorando-se-lhe os valores do coração e da consciência. (Grifei)

E conclui.

As obras da caridade material somente alcançam a sua feição divina quando colimam a espiritualização do homem, renovando-lhe os valores íntimos, porque, reformada a criatura humana em Jesus Cristo, teremos na Terra uma sociedade transformada.

Allan Kardec em sua nota à questão 685 ”a” assim fala da educação:

Há um elemento que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. (Grifei)

Na questão 256 de “O Consolador” Emmanuel ao falar sobre esmola material assim se expressa:

Ninguém, decerto, poderá reprovar o ato de pedir e, muito menos, deixará de louvar a iniciativa de quem dá a esmola material;

Mas nos adverte:

Todavia é oportuno considerar que à medida que o homem se cristianiza, iluminando as suas energias interiores, mais se afasta da condição de pedinte para alcançar a condição elevada do mérito, pelas expressões sadias do seu trabalho.

E esclarece:

No mecanismo de relações comuns, o pedido de uma providência material tem o seu sentido e a sua utilidade oportuna, como resultante da lei de equilíbrio que preside o movimento das trocas no organismo da vida.

E por fim conclui:

A esmola material, porém, é índice da ausência de espiritualização nas características sociais que a fomentam.

Allan Kardec - ESE cap. XV – item 8 nos adverte que:

A máxima – Fora da caridade não há salvação consagra o princípio da igualdade perante Deus e da liberdade de consciência.

De fato, a caridade – que é o amor em ação, personifica a lei de igualdade, uma vez que, através da assistência social, fazemo-nos iguais. Se temos o cobertor que nos aquece nos dias mais frios, o assistido também o terá.

Na recomendação: "Dai antes esmola do que tiverdes" - (Lucas, 11:41), Jesus nos mostra que a caridade é muito mais que distribuição de valores e bens materiais. Portanto, a caridade sem recurso materiais, notadamente sem dinheiro, consiste em:

Extinguir todos os pensamentos inferiores que lhe são sugeridos;
Ante a maledicência retrair-se recordando pequenas virtudes do ausente;
Ante à cólera fácil quietar-se considerando-a uma enfermidade a ser tratada;
Não reagir aos insultos alheios continuando a tratar o ofensor com a fraternidade habitual;
Desfazer as nuvens da incompreensão, reparando a tranquilidade de alguém;

A sublimidade da virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal, pelo bem do próximo, sem pensamento oculto. A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade, - LE questão 893.

Por fim não podemos esquecer que para Jesus o verdadeiro sentido da palavra caridade, consistia em:

Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas. – LE, questão 886.

Jesus seja sempre conosco.

Marcos José Ferreira da Cruz Machado
Belo Horizonte (MG)
Dezembro/2012

A caridade sob o ponto de vista da Doutrina Espírita

http://www.searabendita.org.br/site/datafiles/uploads/palestras/2000/a_caridade_sob_o_ponto_de_vista_da_doutrina_espirita.pdf

Fora da Caridade não há salvação

http://bibliadocaminho.com/ocaminho/Tematica/EE/Estudos/EadeP1T3M4R3.htm

EXERCÍCIO DE COMPAIXÃO

EXERCÍCIO DE COMPAIXÃO

Se fosses o pedinte agoniado que estende a mão à bondade pública...

Se fosses a mãezinha infeliz, atormentada pelo choro dos filhinhos que desfalecem de fome...

Se fosses a criança que vagueia desprotegida à margem do lar...

Se fosses o pai de família, atribulado, ante a doença e penúria que lhe devastam a casa...

Se fosses o enfermo desamparado, suplicando remédio...

Se fosses a criatura caída em desvalimento, implorando compreensão...

Se fosses o obsidiado, carregando inomináveis suplícios interiores, para desvencilhar-se das trevas...

Se fosses o velhinho atirado às incertezas da rua...

Se fosses o necessitado que te roga socorro, decerto perceberias com mais segurança a função da fraternidade para sustento da vida.

Se estivéssemos no lado da dificuldade maior que a nossa, compreenderíamos, de imediato, o imperativo da caridade incessante e do auxílio mútuo.

Reflitamos nisso. E nós, que nos afeiçoamos a estudos diversos, com vistas à edificação da felicidade e ao aperfeiçoamento do mundo, façamos quanto possível, semelhante exercício de compaixão.


pelo Espírito Albino Teixeira - Do livro: Caminho Espírita, Médium: Francisco Cândido Xavier - Espíritos Diversos.

Em Torno da Caridade

Em Torno da Caridade

Não olvides que a caridade, é o coração no teu gesto.

*

Espalharás o ouro a mancheias, entretanto, se não sabes emoldurar de carinho a tua manifestação de bondade, as moedas de tua bolsa serão, muitas vezes, escárnio e humilhação, sobre a dor dos infortunados.

*

Ensinarás a verdade, com segurança, contudo, se a tua palavra não estiver temperada com a brandura da paciência, quase sempre, o teu verbo, apesar de nobre e culto, não passará de azorrague no semblante ferido de teus irmãos.

*

Recorda que a Providência Infinita nos estende o socorro do Céu de mil modos, em cada instante do dia, e descerrando tua alma à Grande Compreensão, não admitas que a sombra te avilte o culto da gentileza.

*

Muitos dão, mas raros sabem dar.

O pão, misturado de reprimendas, amarga mais que o fel e a lição, que se ajusta a críticas e reproches, pode ser comparada à tela preciosa que a ironia apedreja.

*

A beneficência não se levanta por bandeira de superfície.

*

Vale mais a tua frase, vasada em solidariedade e entendimento, para o companheiro que jaz sob o gelo de desanimo, que todos os tesouros amoedados da Terra.

*

Vale mais teu braço amigo ao irmão caído no precipício do sofrimento, que a mais ampla biblioteca do mundo em cintilações verbalistas na tua boca.

*

Lembra-te de que só o amor pode curar as chagas da penúria e da ignorância e aprende a doá-lo aos que te rodeiam, nas maneiras em que te exprimes, porque a caridade não é uma voz que fala, mas um poder que irradia.

*

Abraça a fé que te enobrece a existência e segue o valioso roteiro que as sua revelações te traçam à luta, mas não te esqueças de içar o coração, na marcha cotidiana, para que a tua vida seja, realmente, um poema de luz e fraternidade, consoante a lição do poema de luz e fraternidade, consoante a lição do Mestre Divino que, ainda mesmo na cruz, foi o amor generoso e triunfante, atravessando o vale escuro da morte, para convertê-la em eterna ressurreição.

Pelo Espírito Emmanuel

XAVIER, Francisco Cândido. Caridade. Espíritos Diversos. IDE. Capítulo 24.

CARIDADE E ASSISTÊNCIA SOCIAL ESPÍRITA: IMBRICAÇÕES DO “AUXÍLIO” E DA “AÇÃO CIDADÔ.

http://www.humanas.ufpr.br/portal/antropologia/files/2012/11/DECKER-NETO-Norberto1.pdf

Assistência Social e Espiritismo

Assistência Social e Espiritismo

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Histórico. 4. Assistência Social no Centro Espírita Ismael: 4.1. Posição da Assistência Social no Organograma do Centro Espírita Ismael; 4.2. Funcionamento de um Dia de Trabalho; 4.3. Financiamento do Trabalho Assistencial. 5. Ação Social Espírita: 5.1. Pública e Privada; 5.2 Missão do Espiritismo; 5.3. Não Confundir os Meios com os Fins; 6. Subsídios para Alicerçar a Ação Social Espírita. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é refletir sobre a ação social. Sendo assim, a nossa peça oratória comportará uma visão histórica do termo, a estruturação da Assistência Social no Centro Espírita Ismael e os subsídios que a Doutrina Espírita nos oferece para praticá-la a contento.

2. CONCEITO

Assistência – do lat. Assistentia. Ato ou efeito de assistir a alguma coisa.

Assistência Social – Conjunto de medidas – reforço alimentar, creche, serviços de saúde etc – através das quais o Estado procura atender a certas necessidades das pessoas que normalmente não dispõem de meios para fazer frente a elas, ainda que em nível mínimo. (Dicionário de Ciências Sociais)

Voluntário – Segundo definição das Nações Unidas, “o voluntário é o jovem ou o adulto que, devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte de seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem-estar social, ou outros campos...”

3. HISTÓRICO

O fato de na antiguidade não haver asilos nem orfanatos como os encontramos hoje, não é motivo para afirmarmos que a Assistência Social não existia. Registros históricos mostram que os Egípcios – 5000 anos a.C. – respeitavam o próximo e reverenciavam os mortos, os Babilônios – 3000 anos a.C. – dispensavam consolo aos aflitos e não separavam os casais de escravos, os Hindus (na pessoa de Buda) – 600 anos a.C. – ensinavam por parábolas a tolerância, a igualdade e a bondade e os Chineses (pela influência de Confúcio) – 600 anos a.C. – ensinavam a bondade e a lealdade, a fim de se alcançar um ideal superior.

Afigura-se que somente depois da aceitação do Cristianismo como religião legal é que os povos do passado trataram de organizar instituições de assistência com caráter oficial e permanente. Com Jesus Cristo a assistência resplandece em cada ato, como está gravado nas páginas do Evangelho, abrangendo o tríplice sentido de universalidade: 1) alcança a todos os homens: escravos, inimigos e perseguidos; 2) estende-se além do campo material, atendendo também às necessidades morais e espirituais, visando ao mesmo tempo o corpo e a alma; 3) penetra todas as instituições, dilatando o conceito de justiça e de fraternidade.

O Evangelho de Jesus dá a base para a verdadeira caridade e amplia o conceito de amor ao próximo, conforme se depreende dos ensinos: O Bom Samaritano (Lucas X: 25-37); “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei também a eles...” (Mateus VII:12); “Tratai todos os homens como quereríeis que eles vos tratassem.” (Lucas VI:31); O que é necessário para salvar-se (Mateus XXV:31-46); O amor aos inimigos (Mateus V:43-47; Lucas VI:32-36).

Com o surgimento da Revolução Industrial (séc. XVIII), o Capitalismo (séc. XIX) e os avanços da globalização na época atual, em que muitos empregos e ocupações foram se extinguindo, o desemprego passou a imperar e com ele a necessidade daqueles que têm mais auxiliar os que têm menos.

O Espiritismo, com Allan Kardec, traz nova luz à tarefa assistencial, realçando a responsabilidade de seus seguidores pelo preceito “Fora da Caridade não há Salvação”

A primeira campanha promovida por entidade espírita de que se tem notícia foi realizada por Kardec através da Revista Espírita (janeiro de 1863) com o objetivo de arrecadar recursos para socorrer os operários de Rouen, França, vitimados por rigoroso inverno. Graças às doações recebidas foi possível levar alguma tranqüilidade a inúmeras famílias em provação.

No Brasil, muitos foram os espíritas cuja dedicação e amor, no campo assistencial, se transformaram em exemplo. Entre eles, destacam-se Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo, Anália Franco e Batuíra.

Adolfo Bezerra de Menezes (1831-1900) – apóstolo do Espiritismo. Como médico, dedicou-se, com grande desapego e amor, à assistência aos doentes e a todos que o procuravam necessitados de auxílio.

Eurípedes Barsanulfo (1880-1918), natural de Sacramento-MG, educador, espírita, dotado de diversas faculdades mediúnicas, dedicou sua vida à educação do jovem, aos aflitos e abandonados pela sorte. Atendia a todos que o procuravam e ainda, em momentos de folga, saía pelos arrabaldes da cidade a socorrer doentes, assistindo os necessitados de toda ordem e pregando a doutrina do amor ao próximo.

Anália Franco (1856-1919), emérita educadora, se entregava, de corpo e alma, à prática do bem. Fundou e supervisionou mais de 70 asilos, creches e escolas espalhadas por vários Estados brasileiros. A síntese do seu pensamento era: “O nosso fim é procurar diminuir cada vez mais em nosso meio a necessidade da esmola pelo desenvolvimento da educação e do trabalho, de que provém o bem-estar e a moralidade das classes pobres. Eduquemos e amparemos as pobres crianças que necessitam de nosso auxílio, arrancando-as das trilhas dos vícios, tornando-as cidadãos úteis e dignos para o engrandecimento de nossa pátria.”

Antonio Gonçalves da Silva – “Batuíra” (...- 1909), português, veio para o Brasil ainda criança e, como imigrante, aqui cresceu e desenvolveu sua obra de dedicação ao próximo. Em 1873, por ocasião da epidemia de varíola, assistiu aos doentes e flagelados com verdadeiro espírito de renúncia, dando não apenas o remédio, mas também o pão, o teto e o agasalho. (Manual de Apoio da FEB)

4. ASSISTÊNCIA SOCIAL NO CENTRO ESPÍRITA ISMAEL

4.1. POSIÇÃO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO ORGANOGRAMA DO CENTRO ESPÍRITA ISMAEL

O organograma é o quadro geométrico representativo das unidades de uma organização ou serviço e indica os limites das atribuições de cada uma delas. Assim, no topo do quadro está a Diretoria Executiva, em seguida os Departamentos e abaixo destes, os Sub-Departamentos.

O topo do organograma do Centro Espírita Ismael pode ser visualizado abaixo:

Diretoria Executiva

DEPCOM

DEPIJM

DEPAE

DEPAS

DEPOE

DEPED

DEPEV



DEPCOM - Departamento Comercial
DEPIJM - Departamento de Infância, Juventude e Mocidade
DEPAE - Departamento de Assistência Espiritual
DEPAS - Departamento de Assistência Social
DEPOE - Departamento de Orientação e Encaminhamento (Entrevista)
DEPED - Departamento de Ensino Doutrinário
DEPEV - Departamento de Eventos



O organograma do  Departamento de Assistência Social do Centro Espírita Ismael pode ser visualizado abaixo:



Departamento de Assistência Social

Gestantes

Famílias

Orientação
 Profissional

Costura



1) Gestantes – Setor em que se compõe o enxoval, que será distribuído  às gestantes carentes, depois de terem freqüentado 12 reuniões. Um enxoval é constituído de mijãozinho, meias, blusa, chupeta...

2) Famílias (alimento) – As gestantes cadastradas (aproximadamente 80 famílias) recebem cestas básicas – compostas de arroz, feijão, óleo, açúcar, sal etc. – por um período de 3 a 4 meses.

3) Orientação Profissional – Com aulas de pintura em tecido, tricô, crochê, bordados, a Assistência Social do C. E. I. procura incentivar o trabalho, inclusive como alternativa de renda, pela venda das peças produzidas.
4) Setor de Costura – Confeccionam-se roupas para: 1) composição das peças do enxoval; 2) serem vendidas no BAZAR permanente.

4.2. FUNCIONAMENTO DE UM DIA DE TRABALHO

1) Todas as gestantes participam de um trabalho de Assistência Espiritual, recebendo orientações para a vivência cristã e passes espirituais.

2) Enquanto as gestantes ouvem as palestras, seus filhos participam da evangelização infantil, com os respectivos passes espirituais. Além disso, tomam lanche, suco e periodicamente ganham brinquedos usados. No início do ano letivo, o Centro Espírita Ismael auxilia com doação de material escolar.

3) Após a reunião é facultativo às gestantes e freqüentadoras carentes terem aula de pintura em tecido, tricô, crochê, bordados, com alternativa de geração de renda.

4) Ao término das reuniões, as gestantes tomam lanche e suco.

5) Periodicamente recebem a visita de um Psicólogo ou Assistente Social, os quais ministram aulas sobre saúde, higiene, prevenção de doenças venéreas e AIDS.

6) Há sorteios variados e, duas vezes por mês, faz-se uma "feirinha", em que escolhem as roupas que foram doadas. O restante dessas roupas é enviado à Casa de David.

7) Distribuem-se cestas básicas e enxoval, conforme programação.

4.3. FINANCIAMENTO DO TRABALHO ASSISTENCIAL

Recebemos doações em dinheiro e em espécie. As doações em espécie são feitas diretamente nas dependências do Centro.

Destino das doações:

1) Quando o material está em bom estado, guarda-se para os Chás Beneficentes;
2) Material mais ou menos bom, guarda-se para um Bazar mensal;
3) Material em estado regular é posto no Bazar diário, sendo que nos dias do atendimento às gestantes, faz-se uma "feirinha", em que as gestantes escolhem os objetos que lhes interessam e levam-nos gratuitamente.
5. AÇÃO SOCIAL ESPÍRITA

5.1. PÚBLICA E PRIVADA

A ação social espírita fundamenta-se no voluntariado que, à semelhança da “Casa do Caminho”, procura levar reconforto material e espiritual aos mais necessitados. Nesse mister, diferencia-se do Serviço Social governamental, pois enquanto este visa dar apenas o alimento, aquele procura ver o  indivíduo como um todo, no sentido de fazer-lhe desabrochar os germes de sua evolução espiritual.

5.2 MISSÃO DO ESPIRITISMO

Considerando que a missão precípua do Espiritismo visa à “transformação da humanidade pela melhoria das massas por meio do gradual aperfeiçoamento dos indivíduos”, todo o auxílio feito ao próximo deve ser acionado dentro de um programa que tenha por objetivo o reequilíbrio moral; a reintegração social e a educação espiritual.

Assim, de acordo com os pressupostos codificados por Allan  Kardec, devemos não só dar o alimento que mata a fome, o agasalho que supre o frio, mas também o reconforto espiritual da palavra esclarecedora, que estimula o nosso irmão menos aquinhoado materialmente a caminhar com os próprios pés.

5.3. NÃO CONFUNDIR OS MEIOS COM OS FINS

Um dos grandes erros da humanidade é a confusão entre os meios e os fins. À pergunta, qual é o fim da religião, responderíamos que é para salvar almas, fazer a pessoa evoluir, conhecer melhor a Deus. Dentro desse raciocínio, qual é o fim do Espiritismo? Transformação do indivíduo? Burilamento interior? Mas será que os meios empregados tendem para este fim?

Tomemos, por exemplo, a doação de cestas básicas. Se, paralelamente a essa dádiva, não estivermos incentivando a pessoa a se melhorar, a se  aperfeiçoar, a  evoluir espiritualmente, estaremos apenas criando dependentes, o que contraria sobremaneira o objetivo do Espiritismo que, segundo o Espírito Emmanuel, é a libertação da consciência.

Resumindo: o alimento é o meio, a libertação da alma é fim. Saibamos distinguir um do outro.

6. SUBSÍDIOS PARA ALICERÇAR A AÇÃO SOCIAL ESPÍRITA

Na literatura espírita há diversos ensinamentos sobre a melhor maneira de praticar a caridade. Eis alguns deles.

1) P. 768 de O Livro dos Espíritos “Nenhum homem dispõe de faculdades completas e é pela união social que eles se completam uns aos outros, para assegurarem seu próprio bem-estar e progredirem. Eis porque, tendo necessidade uns dos outros, são feitos para viver em sociedade e não isolados”. No isolamento o homem se embrutece e se estiola.

2) A Parábola do Bom Samaritano, que bem compreendida, dá-nos o exato conceito do que seja a Caridade ensinada pelo Cristo.

3) P. 886 de O Livro dos Espíritos - Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus? – Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas. “O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos”.

4) Fora da Caridade não há Salvação – “Meus filhos, na sentença: Fora da caridade não há salvação, estão encerrados os destinos dos homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse estandarte eles viverão em paz; no céu, porque os que a houverem praticado acharão graças diante do Senhor”. Essa divisa é o facho celeste, a luminosa coluna que guia o homem no deserto da vida, encaminhando-o para a Terra da Promissão. Ela brilha no céu, como auréola santa, na fronte dos eleitos, e, na Terra, se acha gravada no coração daqueles a quem Jesus dirá: Passai à direita, benditos de meu Pai.  -  Paulo, o apóstolo  -  (Kardec, 1984, Cap. XV, item 10)

5) Na Obra Assistencial “Jamais reter, inutilmente, excessos no guarda-roupa e na despensa, objetos sem uso e reservas financeiras que podem estar em movimento nos serviços assistenciais”.  Não há bens produtivos em regime de estagnação. (Vieira, 1981, p. 53)

7. CONCLUSÃO

A ação social numa Casa Espírita reveste-se de particular importância. Não nos sirvamos dela para criar dependentes, mas para auxiliar cada qual a alcançar a sua libertação, tanto material quanto espiritual.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.
SILVA, B. (coord.) Dicionário de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1986.
VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita. Pelo Espírito André Luiz. 8. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1981.
www.espirito.com.br. Manual de Apoio para as Atividades do Serviço de Assistência e Promoção Social Espírita, da FEB.

São Paulo, outubro de 2002.

Caridade, a grande Virtude

Caridade, a grande Virtude

Autor: Francisco Rebouças

Toda moral ensinada por Jesus, se resume em duas simples palavras: Caridade e Humildade, isto é, nas duas maiores virtudes em que devemos concentrar todas as nossas forças em desenvolvê-las, se pretendemos erradicar de nosso espírito o egoísmo que até hoje nos mantém presos às teias da ignorância.

Em tudo que ensinou, chamou-nos a atenção apontando essas duas virtudes como sendo as que poderão nos conduzir de encontro à eterna e verdadeira felicidade. Falou-nos ele: “Bem-aventurados os pobres de espírito, isto é os simples, os humildes, porque deles é o reino dos céus; e continuou a nos ensinar; bem-aventurados os que têm puro o coração; bem-aventurados os que são brandos e pacíficos; bem-aventurados os que são misericordiosos; amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros o que gostaria que vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quiserdes ser perdoados; praticai o bem sem ostentação; julgai-vos a vós mesmos, antes de julgardes os outros; não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita”. Em todas estas passagens de seus ditos se pode tirar o ensinamento maior resumindo em caridade e humildade, eis o que não cessa de recomendar e exemplificar em todas as suas ações. Em tudo que pregou em sua passagem pelo nosso planeta, não cansou de combater o orgulho e o egoísmo que são sem dúvida as duas grandes chagas a corroer a humanidade.

O Mestre maior de todos nós não se limitou apenas a recomendar a caridade, põe-na como condição absoluta para a conquista da felicidade futura, assegurando-nos que as ações empreendidas pelos caridosos com certeza lhes assegurarão uma melhor posição no futuro quando a justiça divina nos chamar para a prestação de contas, como nos ensinou também em outra oportunidade “a cada um segundo as suas obras”.

Na Parábola do Bom Samaritano, considerado herético, mas que naquele momento pratica o amor ao próximo, Jesus coloca-o acima do ortodoxo que falta com a caridade. Não considera, portanto, a caridade apenas como uma das condições para a salvação, mas designa como condição única. Se outras houvesse que a substituíssem ele as teria ensinado. Desde que coloca a caridade em primeiro lugar, é que ela implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura, a benevolência, a indulgência, a justiça, etc., e também porque significa a negação absoluta do orgulho e do egoísmo naquele que a pratica.

O Espiritismo sendo o Cristianismo Redivivo, ou seja o cristianismo na sua pureza inicial, vem reafirmar os ensinos do seu criador com a máxima: “Fora da caridade não há salvação”, máxima essa que consagra o princípio da igualdade perante Deus, e da liberdade de consciência, deixando a todos a escolha da maneira como queiram seguir adorando o Pai Celestial, não pregando que fora do espiritismo não há salvação, pois bem sabe que o Cristo não fundou nenhuma religião, por isso mesmo respeita a liberdade de crença de todos os seus irmãos em humanidade, pois em qualquer corrente religiosa a que pertença o homem, terá aí mesmo a oportunidade de seguir os ensinamentos de Jesus.

Dediquemo-nos portanto meus irmãos à prática da caridade ensinada no evangelho de Jesus, pois ela nos ajudará não só a evitar a prática do mal, mas também nos impulsionará em direção ao trabalho no bem, e para a prática do bem uma só condição se faz indispensável: a nossa vontade, pois para a prática do mal basta apenas a inércia e a despreocupação, agradeçamos pois a Deus nosso Pai, por nos permitir encontrar em nossa estrada evolutiva a bênção de gozar da luz do Espiritismo.

Não significa achar que só os espíritas serão salvos; é que ajudando-nos a melhor compreensão dos ensinos do Cristo, ele nos faz, se seguirmos seus ensinos, melhores cristãos, confirmando por nossas ações que verdadeiros espíritas e verdadeiros cristãos são uma só e a mesma coisa, pois todos quantos praticam a caridade são discípulos de Jesus, não importando para tanto, que pertençam a esta ou àquela seita religiosa.

A CARIDADE ESPÍRITA É A ESMOLA?

A CARIDADE ESPÍRITA É A ESMOLA?





"Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade tal como a entendeu Jesus?

- Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias e perdão das ofensas". (pergunta 886, de “O Livro dos Espíritos”- Allan Kardec)


Muitos acham que nós espíritas fazemos apenas a caridade da esmola e que isso não caracteriza a autêntica vida cristã. Respeitamos o ponto de vista daqueles que pensam assim, mas acreditamos que estão enganados. Caridade para nós é mais abrangente, vai muito além da esmola.

Vejamos a explicação: A caridade no nosso entendimento pode ser MATERIAL e MORAL.

A CARIDADE MATERIAL: é quando usamos dinheiro para comprar roupas ao nu, remédio ao enfermo, alimento ao faminto, etc.
E A CARIDADE MORAL: é quando usamos nosso tempo, nosso amor para sermos úteis em creches, hospitais, asilos, escolas, é uma boa palavra, um bom pensamento, um bom ato, um bom exemplo, um sorriso, uma prece para quem sofre, é perdoar, aceitar as imperfeições alheias, é usar a bondade com todos, etc.
Do ponto de vista espírita, pode haver: esmola sem caridade, esmola com caridade e caridade sem esmola. E qualquer uma deve ser feita sem preconceito de raça, religião, posição social, etc., assim como fez o bom samaritano da parábola.
A ESMOLA SEM CARIDADE: é quando damos a esmola para nos ver livre de quem nos pede; é quando damos pensando em receber algo em troca, como em época de eleição; enfim, é a doação arrancada contra nossa vontade. A esmola sem caridade é constrangedor para quem dá, e humilhante para quem recebe (apesar de ser útil muitas vezes). Do ponto de vista do beneficiário, a caridade pode ter efeitos desastrosos. Em muitos casos, ela desmotiva o mendigo a sair de sua situação. Quanto ao doente, ele nem sequer tenta se tratar, pois a cura significaria a perda dessa fonte de dinheiro.
Em todos os casos, a mendicância priva o homem de sua dignidade. Dispensando-o de prover as suas necessidades, ela o incita à passividade. Não é suficiente ficar sentado e estender a mão para ganhar a vida.
A ESMOLA COM CARIDADE: é quando doamos em silêncio; é não esperar nada em troca daquele que está recebendo; é quando não nos identificamos ao beneficiário; e se nos identificarmos, temos que doar com alegria, sem humilhar quem recebe; é dar o peixe, mas ensinando o beneficiário a pescar, para não viciar quem pede. É conveniente oferecer o primeiro peixe (sopa, cesta básica, roupa, etc.) e, depois, somente depois, ensinarmos os companheiros a pescar. Devemos evitar acomodação, da qual teremos que dar contas à própria consciência. Precisamos primar pelo trabalho da promoção humana, auxiliando o indivíduo a libertar-se da necessidade, por meio dos estudos necessários, por meio do esforço para buscar o próprio ganha-pão. ; enfim, a esmola será meritória aos olhos de Deus dependendo do grau de pureza do conteúdo caritativo.
A CARIDADE SEM ESMOLA: é quando cultivamos as virtudes cristãs, que são “filhas do amor”, como o perdão, a humildade, a indulgencia, a piedade, a solidariedade, é não abusar do próximo, não roubar, não adulterar, fazendo aos outros o que gostamos que os outros nos façam, etc.
Existe também a caridade para conosco. Quando descobrimos que estamos neste planeta para evoluir, começamos a ter caridade para com nosso corpo físico. Pois, somos apenas inquilinos dele. Daí, passamos a cuidar melhor da nossa saúde. Deixamos de tomar bebidas alcoólicas, drogas ilícitas, exagero alimentar, sexo desregrado, etc. Afinal, como podemos dizer que amamos Deus se não respeitamos sua criação: uma delas somos NÓS.Então, para nós espíritas, não é tão simples praticar caridade, mas é fundamental. E se essa caridade não é viver o autêntico cristianismo, aguardaremos uma explicação melhor. Por isso, a bandeira do Espiritismo é: "Fora da caridade não há salvação."


"Muitas religiões se contentam com uma prece semanal, atos religiosos quinzenais, mas no Espiritismo somos "alfinetados", e ninguém escapa desde que estejamos dentro dessa "empresa", que é o Espiritismo, trabalhando . . . Não apenas glorificando o nome do Senhor, mas trabalhando muito para que a nossa fé seja realmente uma fé ativa e criativa, ao mesmo tempo." - frase de Chico Xavier


Observação de O Livro dos Espíritos questão 886: O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer todo o bem que está ao nosso alcance e que gostaríamos que nos fosse feito. Esse é o sentido das palavras de Jesus: “Amai-vos uns aos outros como irmãos”. A caridade, para Jesus, não se limita à esmola. Ela abrange todas as relações com nossos semelhantes, sejam inferiores, iguais ou superiores. Ensina a indulgência, porque temos necessidade dela, e não nos permite humilhar os outros, ao contrário do que muitas vezes se faz. Se uma pessoa rica nos procura, temos por ela mil atenções, mil amabilidades; se é pobre, parece não haver necessidade de nos incomodar. Porém, quanto mais lastimável sua posição, mais se deve respeitar, sem nunca aumentar sua infelicidade pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar o inferior aos seus próprios olhos, diminuindo a distância entre ambos.

Caridade e amor

Caridade e amor

Silvio Seno Chibeni



1. Introdução - Embora dicionários evidentemente não constituam fonte de informações detalhadas sobre assuntos de certa complexidade, podem por vezes ser úteis na indicação preliminar do significado de alguns termos pertinentes ao assunto. É assim que, no que diz respeito ao tema do presente artigo, podemos consultar com proveito, por exemplo, o conhecido dicionário de Aurélio Buarque de Holanda, lendo, no verbete caridade:



Caridade. [...] S.f. 1. (Ética) No vocabulário cristão, o amor que move a vontade à busca efetiva do bem de outrem [...]. 2. Benevolência, complacência, compaixão



3. Beneficência, benefício, esmola. [...]



Comentaremos alguns aspectos dessas definições ao longo deste trabalho. Por enquanto, atenhamo-nos ao fato de que o primeiro sentido do termo, pertencente ao domínio da ética, é associado pelo dicionarista ao cristianismo. Caridade, na primeira e mais fundamental acepção do termo, é, pois, um conceito criado, ou pelo menos destacado, por Jesus e seus discípulos.



Sendo assim, o passo seguinte mais natural na pesquisa do tema consiste em examinar a ocorrência da palavra na Bíblia ou, mais especificamente, no Novo Testamento. Quando ainda não existiam textos digitalizados, tínhamos o costume de consultar uma obra preparada por estudiosos protestantes chamada Chave Bíblica, um útil índice de assuntos da Bíblia. Há no mercado várias edições, de diferentes níveis de detalhe. A que possuímos é uma edição da Sociedade Bíblica do Brasil. Diz-se na página de rosto que possui quase sete mil verbetes, e que se baseia na conhecida tradução de João Ferreira de Almeida.



Qual não foi nossa surpresa ao procurarmos o verbete ‘caridade' nessa obra e não o encontrarmos! Recorremos, então, a uma versão eletrônica da Bíblia que está disponível num site espírita brasileiro, na Internet. Não tínhamos, é claro, esperança de encontrar referências à caridade no Velho Testamento. No Novo, porém, haveríamos de encontrar ao menos algumas ... Mas ali também nada achamos!



Todos sabem, no entanto, que algumas versões do Novo Testamento trazem a palavra ‘caridade'. Veio-nos à mente, por exemplo, a passagem da primeira epístola de Paulo aos coríntios, cap. 13, na qual a caridade é definida em termos belíssimos. (Essa passagem foi, aliás, transcrita e comentada por Allan Kardec no cap. 15 de O Evangelho Segundo o Espiritismo; voltaremos a ela mais adiante). Consultamos então seis edições do Novo Testamento. Eis o resultado: dentre as três cujas traduções são atribuídas a João Ferreira de Almeida apenas em uma ocorre o termo ‘caridade'; nas demais, está substituído por ‘amor'. O mistério aumentou quando verificamos que duas das edições discrepantes são editadas pelo mesmo editor, Os Gideões Internacionais! Na edição de 1977 está ‘caridade'; na edição de 1979, ‘amor'. Numa edição católica está ‘caridade'. O mesmo ocorre numa antiga edição publicada em Nova Iorque, em Português, pela Sociedade Bíblica Americana, e numa edição francesa recente da Bíblia de Jerusalém.



Ora, tudo isso pode parecer estranho. Certamente indica algo pelo menos indesejável. Textos tão importantes para a Humanidade não poderiam ser objeto de tal discrepância. Note-se que ela não se deve tão-somente a dificuldades de tradução, dadas as diferenças entre textos atribuídos ao mesmo tradutor, e até do mesmo editor.



Sem querer aprofundar um assunto complexo, a discrepância em análise deriva ao menos parcialmente de uma grave divergência teológica entre protestantes e católicos. Trata-se da questão da chamada "salvação". Simplificando, os últimos tendem a considerar que a salvação se alcança pelas obras, enquanto que para os primeiros ela seria alcançada pela fé. Essa divergência remonta aos primeiros tempos do protestantismo. Ambas as partes defendem que suas posições se apóiam em passagens evangélicas.



A inspeção isenta das passagens, porém, evidencia problemas de interpretação. Isso está claro, por exemplo, nas passagens das epístolas de Paulo em que se pretende respaldar a tese da salvação pela fé. São textos bastante difíceis, obscuros mesmo. (Veja-se, por exemplo, Rom. 3: 21-31, 5:1, Ef. 2: 8 e I Tess. 5: 9.) É, sobretudo, o seu isolamento do contexto das epístolas que favorece a interpretação protestante. Ademais, não terá porventura o Apóstolo dos Gentios exemplificado amplamente a caridade em suas ações? Ele era, aliás, a antítese da fé contemplativa. Saía pelos caminhos ásperos de seu tempo enfrentando dificuldades de toda ordem para disseminar e consolidar a mensagem cristã, auxiliando a todos por todos os meios ao seu alcance. Que expressão maior da caridade do que esclarecer e educar para o bem? E no que toca ao auxílio material, não foi Paulo quem organizou a primeira campanha internacional de solidariedade, arrecadando recursos para a Casa do Caminho de Jerusalém, conforme lemos em Paulo e Estêvão, de Emmanuel?



Não dispomos nem de material nem de competência para investigar a delicada questão das traduções da Bíblia. Todavia, não podemos deixar de notar que são justamente as edições a cargo de entidades de linha protestante as que não costumam apresentar a palavra ‘caridade'. Para dirimir ou ao menos minorar as dúvidas, parece sensato empreendermos não somente estudos lingüísticos, mas também uma análise neutra da natureza geral da mensagem cristã. Um dos traços mais importantes, senão o mais importante, que distingue o cristianismo é justamente a ênfase dada por seu criador à dimensão ativa do amor, à caridade. Ele não se fechou em si, não se retirou para nenhum mosteiro ou região especial, não fundou nem favoreceu nenhum culto, nenhuma seita. Viveu em meio aos homens - instruídos e ignorantes, orgulhosos e humildes, pobres e ricos, pecadores e virtuosos -, ajudando-os incessantemente com seus ensinos e reflexões, com seus recursos curativos e mesmo com suas admoestações.



Voltando a Paulo, e assumindo que as traduções que distinguem amor de caridade são as que mais se aproximam do sentido original, podemos, em contraposição às passagens indicadas e que serviram à interpretação favorável à tese da salvação pela fé, citar outras tantas que ressaltam as obras, como por exemplo o já citado capítulo 13 da primeira carta aos coríntios; o versículo 14 do capítulo 16 dessa mesma carta; a primeira epístola aos tessalonicenses, capítulo 4, versículo 9; e diversas outras. (Voltaremos a comentar a última passagem mais adiante.)



Pedro, em sua primeira epístola (4: 8), vai mais longe, recomendando não apenas a caridade, mas, numa eloqüente expressão, a caridade ardente: "Mas, sobretudo, tende ardente caridade uns para com os outros; porque a caridade cobre a multidão de pecados". Notemos, incidentalmente, que nessa passagem o apóstolo acrescenta que a caridade nos redime de nossos pecados, e portanto nos salva - salva de nossa própria inferioridade ou indigência espiritual, não de nenhum perigo externo. É ela que nos possibilita reparar os danos que porventura causemos aos outros e, de um modo mais geral, à harmonia do mundo. É ela que nos propicia recursos preciosos para a nossa evolução espiritual.



2. Um pouco de filosofia



Existe uma distinção filosófica entre dois conceitos que pode ser útil na análise da questão do amor e da caridade. Trata-se da distinção entre paixão e ação. Qualquer estudo do tema deve, ainda hoje, fazer menção ao livro As Paixões da Alma, de René Descartes, publicado em 1649. Para os espíritas, outra referência indispensável é a seção "Paixões" do último capítulo da terceira parte de O Livro dos Espíritos, intitulado "Da perfeição moral". Em trabalho anterior, publicado no Reformador de abril de 1998, fizemos um exame do interessante assunto. Não podendo, evidentemente, reproduzir aqui os detalhes desse texto, recomendamos ao leitor que o procure ler, para uma compreensão mais completa do que se vai seguir. (O artigo encontra-se disponível no site do Grupo de Estudos Espíritas da Unicamp: http://www.geocities.com/Athens/Academy/8482.)



De forma muito simplificada, lembraríamos apenas que o conceito filosófico de paixão não deve ser confundido com a noção hoje popular, associada a certos sentimentos desgovernados, em geral envolvendo nosso relacionamento afetivo com alguém ou com alguma coisa. Tanto Descartes como Kardec deixam claro que paixão é qualquer tipo de experiência que se faz sentir de nossa alma de forma passiva. (As palavras ‘paixão' e ‘passividade' têm a mesma origem.) Paixões, pois, se contrapõem a ações. Ações pressupõem a intervenção da vontade; paixões são algo que ocorre em nós involuntariamente, quando estamos diante de certos estímulos, externos ou internos à própria alma. Assim, por exemplo, as paixões que Descartes considera "básicas" são o amor e o ódio, a alegria e a tristeza, a admiração e o desejo; as outras resultariam de sua combinação ou modificação.



Descartes procurou explicar a ocorrência das paixões em termos de certos processos psico-fisiológicos complexos, que não vem ao caso discutir aqui. É suficiente notar que hoje em dia talvez possamos descrever esses processos como uma espécie de automatismo. Vemos uma cena cruel e automaticamente sentimos indignação. Ouvimos alguém gemer e sentimos pena. Lemos uma notícia boa e ficamos alegres. Pensamos na traição de um amigo e nos entristecemos. Refletindo sobre esses exemplos, percebemos que de fato os sentimentos descritos se apoderam de nós sem que o desejemos e, além disso, sem que possamos imediatamente alterá-los por nossa vontade. Descartes apontou e explicou essa impossibilidade do controle direto das paixões.



Quando, por meio de uma análise racional, estimamos que uma determinada paixão é prejudicial a nós ou a outros, coloca-se a questão de como então podemos domá-la. Uma medida que seguramente está ao nosso alcance é impedir que a paixão repercuta em nossas ações. Quando sentimos raiva, por exemplo, podemos sempre nos abster de agir vingativamente. Mas o sentimento em si permanece. O famoso filósofo francês indicou o que pode ser feito mesmo nesse nível íntimo. Em síntese, propôs que por uma série de artifícios podemos indiretamente controlar a paixão que incomoda. Remetemos, mais uma vez, o leitor ao referido artigo para o prosseguimento desse vasto assunto. O que já vimos basta para podermos entender um pouco melhor a distinção entre amor e caridade.



Pois bem: parece-nos claro que, não obstante intimamente associados, os conceitos de amor e de caridade distinguem-se justamente por serem, respectivamente, paixão e ação. O amor é o sentimento; brota em nós espontaneamente. A caridade é a mobilização de nossa vontade por esse sentimento, para que algo façamos em benefício de alguém ou de alguma coisa. Essa interpretação está inteiramente de acordo com a definição do dicionarista citada no início deste texto. "Caridade: ... o amor que move a vontade à busca efetiva do bem de outrem ...".



O amor muitas vezes é entendido como algo que pode esgotar-se em si mesmo e não desencadear ações caritativas. Seria o amor "contemplativo", "meditativo", tão freqüentemente associado a certas abordagens religiosas, especialmente as de origem oriental. Jesus propôs-nos algo diferente: o amor-em-ação, a caridade. Embora a superação do ódio e das mágoas seja algo fundamental em nossa evolução, se nos restringirmos ao simples querer-bem nosso sentimento estará incompleto. É justamente a sua associação à prática do bem que o completa e consolida. Nesse sentido é que a caridade talvez seja o traço diferenciador mais importante da doutrina cristã, conforme sugerimos na seção precedente.



Outro ponto importante que a análise filosófica esboçada acima esclarece é que, como o amor é uma paixão (no sentido filosófico do termo), não temos controle direto sobre o seu surgimento. É inútil, por exemplo, diante de um agressor simplesmente querer amá-lo. A experiência própria confirma isso, aliás. Talvez seja essa uma das razões pelas quais a Humanidade tem demorado tanto para seguir as recomendações seculares de seus líderes espirituais, unânimes em pedir-nos que nos amemos uns aos outros.



Com a noção de caridade, Jesus trouxe um elemento novo para resolvermos o problema da conquista do amor. Sendo uma ação, a caridade está sempre ao nosso alcance direto. Depende só de querermos. Se aprofundarmos esse tópico, talvez consigamos situar a caridade dentro da noção cartesiana de um processo indireto de controle de paixões. Na ausência do amor, ou na presença de um amor incipiente, ainda assim podemos ser caridosos, se reconhecermos racionalmente que é isso que nos convém. A caridade acaba, depois, desencadeando ou reavivando o amor. O nosso automatismo se redireciona. Passamos a sentir amor, na medida em que fazemos o bem.



Recorrendo a uma comparação um tanto tosca, seria como alguém que tem as mãos frias, que o mecanismo fisiológico não consegue reaquecer, e que, percebendo a inconveniência da situação, lança mão de um "artifício": aproxima as mãos do fogo. Embora o calor assim gerado seja algo externo, ele age sobre os vasos sangüíneos, dilatando-os. A circulação se normaliza, e a partir daí as mãos seguem aquecidas pela atividade do próprio corpo. A caridade inflama o amor. Uma vez inflamado, o amor realimenta a própria caridade.



Ademais, a caridade é "contagiante". Que poder de educação e despertamento têm os exemplos de amor ativo em favor do próximo! Reparemos como nas campanhas públicas para socorrer vítimas de calamidades, por exemplo, mesmo pessoas normalmente acomodadas em seu próprio "canto" mobilizam-se, entram na luta, animam-se.



Nós aqui da Terra, que ainda temos o amor integral e universal um tanto distante, precisamos não apenas dos incentivos daqueles que estão à nossa frente na escala do amor, mas também de esforços conscientes para fazer o bem. É um indispensável período de transição para a caridade pura e desinteressada. Na referida seção sobre as paixões, em O Livro dos Espíritos, enfatiza-se a importância dos esforços para que as más paixões sejam controladas. Na seção "As virtudes e os vícios", que abre o mesmo capítulo, explica-se que as virtudes são algo que conquistamos a partir de nossa conscientização. E Emmanuel salienta, numa interessante resposta dada à questão 254 de O Consolador, que "a disciplina antecede a espontaneidade".



Antes de passarmos à próxima seção, queríamos, conforme prometemos, retomar um versículo da primeira epístola de Paulo aos tessalonicenses, o versículo 9 do capítulo 4. Ele apresenta a peculiaridade de estar traduzido praticamente igual em todas as edições citadas do Novo Testamento, exceto duas, a mais antiga dos Gideões e a edição católica. Significativamente, é desse mesmo modo diferente que está no mote escolhido por Emmanuel para o capítulo 138 do livro Fonte Viva. Eis o versículo:



Quanto, porém, à caridade fraternal, não necessitais que vos escreva, visto que vós



mesmos estais instruídos por Deus que vos ameis uns aos outros.



Nas demais edições a palavra ‘caridade' é substituída por ‘amor'. Sem ter como resolver a divergência em bases puramente textuais, vejamos o que o contexto nos indica aqui, com o auxílio da análise filosófica que esboçamos.



Paulo usava suas cartas para educar, aconselhar e alertar os irmãos das comunidades cristãs nascentes. O mandamento maior do amor já era conhecido, aliás antes mesmo do ensino de Jesus. Ele é a essência da lei divina, independentemente da época ou da religião. É nesse sentido que Paulo diz que os cristãos da Tessalônica já estavam "instruídos por Deus" acerca da necessidade de se amarem. Traduzindo-se a quarta palavra como amor, o versículo faz sentido, é claro. Já estando instruídos para se amarem, Paulo não precisava recomendar-lhes de novo para que se amassem.



Mas será que Paulo iria gastar papiro para escrever algo tão trivial? Já se colocarmos caridade o versículo passa a encerrar uma mensagem interessante e tipicamente cristã. Recomendar a caridade para quem sabe que deve amar seria em princípio dispensável porque a caridade decorre do amor, é uma de suas conseqüências. Paulo estaria, então, explicitando essa relação de dependência. Seria um lembrete para que a dimensão ativa do amor não fosse esquecida. O amor acerca do qual Deus nos instruiu, por seus muitos emissários, não pode ser o amor inativo. Devidamente compreendido e vivido, esse amor deve manifestar-se na ajuda fraterna - a caridade.



Podemos, talvez, esquematizar as inter-relações entre amor e caridade por meio do seguinte diagrama:







Diagrama




Quando integral, o amor implica a caridade (seta superior). Por sua vez, a caridade desperta e reaviva o amor (seta inferior). Dada sua dimensão voluntária, a caridade é a "porta de entrada" desse "círculo virtuoso" (seta larga).



3. A caridade em O Livro dos Espíritos.



Chama a atenção que no Livro dos Espíritos a expressão 'amor e caridade' ocorra diversas vezes. Kardec tinha estilo enxuto, só usava as palavras na exata medida de sua necessidade (um exemplo a ser imitado, aliás!). Depreende-se, pois, que caridade e amor eram por ele considerados conceitos distintos, embora interligados. Isso está de acordo com o que vimos na seção precedente.



A primeira ocorrência dessa conjunção se dá logo nos Prolegômenos, no primeiro parágrafo da transcrição da mensagem dos Espíritos acerca da natureza e objetivos da obra e, de modo mais geral do Espiritismo. Nesse parágrafo, compara-se o Espiritismo a um edifício, cujas bases estavam sendo lançadas com o Livro dos Espíritos, edifício destinado a um dia "reunir todos os homens num mesmo sentimento de amor e caridade". Recebe, pois, lugar de destaque entre os objetivos do Espiritismo a implantação do amor e da caridade universais entre os homens.



Depois, a expressão 'amor e caridade' volta a ser usada diversas vezes no capitulo 11 da terceira parte, a começar de seu título: "Da lei de justiça, de amor e de caridade". Essa lei, diz a resposta à questão 648, "é a mais importante, por ser a que faculta ao homem adiantar-se mais na vida espiritual, visto que resume todas as outras". Nesse capítulo há ainda uma seção denominada "Caridade e amor do próximo", que contém diversos esclarecimentos sobre a noção de caridade, alguns dos quais serão mencionados mais adiante.



Por fim, na eloqüente enumeração das qualidades do homem de bem que se segue à resposta à questão 918 Kardec afirma, logo no início:



O verdadeiro homem de bem é o que pratica a lei de justiça, amor e caridade, na sua maior pureza. Se interrogar a própria consciência sobre os atos que praticou, perguntará se não transgrediu essa lei, se não fez o mal , se fez todo o bem que podia, se ninguém tem motivos para dele se queixar, enfim se fez aos outros o que desejara que lhe fizessem.



Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem contar com qualquer retribuição, e sacrifica seus interesses à justiça.



Deixamos, porém, ao leitor o prosseguimento da leitura desses lúcidos comentários em seu próprio exemplar do Livro dos Espíritos. Examinemos agora duas passagens em que a importância da caridade é destacada por Allan Kardec. Comecemos pelo item 8 da Conclusão. Nesse rico item Kardec compara a moral cristã à espírita, salientando a sua identidade de conteúdo e as peculiaridades de sua fundamentação. Mas esse é um outro assunto. O que nos interessa é tão-somente a frase do segundo parágrafo em que afirma que "o preceito capital" da moral do Cristo é "o da vida universal'. Notemos o qualificativo: universal, ou seja, fazer o bem a todos, indistintamente.



No capítulo "Da perfeição moral", a primeira questão (893) é sobre qual seria a mais meritória das virtudes. Depois de ressaltar o valor das demais, o Espírito acrescenta sem rebuços, no final da resposta: "A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade". Segue-se então a referida série de questões que elucidam o processo de gradual aquisição dessa caridade desinteressada.



Vejamos agora, de forma breve, algo acerca do conteúdo da seção "Caridade e amor do próximo". Ela abre com a famosa questão 886:



886. Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?



"Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas".



Essa questão e as que a seguem são bastante relevantes, visto ser comum que a palavra 'caridade' seja empregada para designar uma noção muito mais restrita do que aquela pretendida por Jesus. Caridade é confundida com a mera ajuda material ou mesmo com a esmola (como aliás, registra o dicionário Aurélio no terceiro dos significados do termo). Mesmo antes de formular as questões específicas sobre a esmola, Kardec já ressalta, no segundo parágrafo do comentário ao item 886:



A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, abrange todas as relações em que nos achamos com os nossos semelhantes sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, ou nossos superiores.



Notemos bem: a caridade abrange todas as nossas relações com os semelhantes, sejam quem sejam e estejam na posição que estejam. É por isso que a benevolência (desejar o bem), a indulgência (compreender as falhas alheias) e o perdão são apontados como parte essencial da caridade. Neste mundo de misérias que criamos na Terra, o auxilio material é importante; é indispensável, urgente mesmo. Não é tudo, porém. E pode ser o mais fácil, especialmente se os recursos sobejarem. Ceder de si, de seu orgulho, de sua vaidade, de sua ambição, de sua teimosia, de seu ciúme, a fim de que o bem geral se promova, isso exige renúncia. Doar amor, compreensão, respeito, calor humano... eis a caridade integral preconizada por Jesus-Cristo.



Ninguém discorreu de forma tão sublime acerca da essência da caridade quanto Paulo, no referido capítulo 13 da primeira carta aos coríntios, que agora transcrevemos em parte (vv 1 a 7 e 13):



Ainda que eu fale todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa ou o címbalo que retine.



Ainda que tenha o dom de profecia, que penetre todos os mistérios, e tenha perfeita ciência de todas as coisas; ainda que tenha toda a fé, até o ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada serei.



E mesmo que tenha distribuído os meus bens para alimentar os pobres e entregado meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, tudo isso de nada me servirá.



A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho.



Não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal.



Não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade.



Tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. [...]



Agora, estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; porém a maior delas é a caridade.



Essa passagem é comentada por Kardec no item 7 do capítulo 15 do Evangelho Segundo o Espiritismo. Antes de indicar o contexto em que aparece, vejamos as linhas gerais da abordagem do tema caridade nessa importante obra.



4. A caridade em O Evangelho Segundo o Espiritismo



Estamos agora diante de uma tarefa difícil. Boa parte dos capítulos do Evangelho Segundo o Espiritismo tratam, direta ou indiretamente, da caridade. Há, por exemplo, diversos capítulos dedicados ao estudo de virtudes envolvidas na caridade, como a humildade (cap. 7), a pureza de coração (cap. 8), a afabilidade e a paciência (cap. 9), a misericórdia (cap. 10), a piedade filial (cap. 14), o desprendimento dos bens terrenos (cap. 16), etc. Num plano mais geral, há os capítulos sobre o amor, "Amar o próximo como a si mesmo" (cap. 1 ) e "Amai os vossos inimigos" (cap. 12), que contêm diversas reflexões sobre a prática do amor, ou seja, sobre a caridade. Mas são sobretudo os capítulos 13 e 15 os que exploram mais a fundo a dimensão ativa do amor. O primeiro deles, "Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita", salienta o desinteresse que deve, idealmente, caracterizar todas as ações caritativas. É nesse capítulo que também se chama a atenção para a grande abrangência da noção de caridade, que vai muito além da mera ajuda material. Merecem referência especial nesse capítulo as instruções dos Espíritos, sobre a caridade material e a caridade moral, a beneficência, a piedade, os órfãos, os benefícios pagos com a ingratidão e, por fim, a beneficência exclusiva.



Na impossibilidade de comentarmos aqui todos esses tópicos, preferimos centralizar a nossa análise no outro capítulo sobre a caridade, o capítulo 15, "Fora da caridade não há salvação", pela relação direta que apresenta com as seções precedentes deste trabalho. Se o Evangelho Segundo o Espiritismo representa um dos pontos altos de toda a obra kardequiana, este certamente está entre seus capítulos de maior relevância. Qualquer tentativa de resumi-lo certamente implicará distorções e perdas. Qualquer acréscimo que se lhe queira fazer corre o risco de ser redundante. Dessa forma, não nos abalançaremos aqui nem a uma coisa nem a outra, recomendando vivamente ao leitor que o releia na íntegra, estudando e meditando cada uma de suas frases. Procuraremos tão-somente indicar a extraordinária concatenação dos tópicos, apontando sua inserção no contexto das análises que fizemos aqui.



Esse foi um dos capítulos que menos alterações sofreu da primeira edição, de 1864, intitulada Imitação do Evangelho segundo o Espiritismo, para a terceira edição, definitiva, de 1866. Com a exceção do acréscimo de um pequeno parágrafo elucidativo no final do item 7 (na numeração da terceira edição), os textos foram mantidos na íntegra. Apenas as citações do Novo Testamento, que na primeira edição se encontravam agrupadas no início, foram didaticamente distribuídas ao longo do capítulo, nos locais pertinentes. Mencionamos esse fato porque parece-nos significativo indício da perfeição do texto. Mesmo o exigente Kardec, que tanto procurava aprimorar suas obras ao longo das sucessivas edições, viu muito pouco a ser mudado aqui.



O capítulo abre com duas importantes transcrições dos evangelhos de Mateus e Lucas, ambas acerca da questão da "salvação", ou da conquista da "vida eterna", ou ainda, na interpretação espírita desse conceito, da "felicidade futura". Certamente isso liga-se ao conhecimento que Kardec tinha de que essa questão estava histórica e conceitualmente ligada à da caridade, conforme apontamos no início. Em ambos os trechos citados Jesus situa claramente a caridade como a via exclusiva da salvação. O primeiro descreve a alegoria do juízo final (Mt. 25: 31-46). Na síntese de Kardec, "ao lado da parte acessória ou figurada do quadro, há uma idéia dominante: a da felicidade reservada ao justo e a da infelicidade que espera o mau". (Note-se que na passagem o termo 'justos' é explicitamente usado para designar os que foram caridosos com o próximo necessitado.)



O segundo trecho é a famosa parábola do bom samaritano (Lc. 10: 25-37). Novamente, é a caridade pura e independente de qualquer fé (os samaritanos eram considerados heréticos pelos judeus) que é dada como a "condição única" para a salvação, visto que ela "implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura, a benevolência, a indulgência, a justiça, etc. e porque é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo".



Vem depois a seção sobre "um mandamento maior". Conforme já observamos, esse mandamento é comum ao Velho e ao Novo Testamentos, podendo também ser identificado, em outras roupagens, nas demais religiões da humanidade. Quando perguntado a respeito, Jesus simplesmente lembrou o que já estava na Lei, o amor a Deus e o amor ao próximo. O que acrescenta é a afirmação de que o segundo mandamento "é semelhante ao primeiro" (Mt. 22: 35- 40). Kardec comenta essa importante frase, asseverando, em síntese, que "não se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar o próximo, nem amar o próximo sem amar a Deus". Há, pois, essencialmente um só mandamento, "o mandamento maior". Recordamo-nos aqui dos versículos 20 e 21 do capítulo 4 da primeira epístola de João: "Se alguém diz: Eu amo a Deus, e aborrece a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. E dele [Deus] temos este mandamento, que quem ama a Deus ame também a seu irmão."



Mas o que faz essa referência à lei do amor num capítulo sobre a caridade? A resposta está no vínculo entre amor e caridade que indicamos na seção 3, vínculo destacado por Kardec no comentário da passagem evangélica sobre o mandamento maior. É no final desse comentário que aparece o primeiro enunciado do famoso princípio:



"FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO".



A propósito da caridade implicitamente contida no mandamento maior, vale abrir um parêntese para lembrar que, numa outra ocasião em que Jesus foi questionado sobre o assunto, apresentou o mandamento numa versão diferente: "Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam", acrescentando: "pois é nisso que consistem a lei e os profetas" (Mt. 7:12). Nessa versão, conhecida como a "regra áurea", está explícito o caráter ativo do mandamento, ou seja, a caridade. Kardec cita e comenta essa passagem no capítulo 11 do Evangelho segundo o Espiritismo, 'Amar o próximo como a si mesmo".



Ciente da velha polêmica teológica, em que se pretendeu usar palavras atribuídas a Paulo para justificar a tese da salvação pela fé, Kardec transcreveu, no item 6 desse capítulo, o trecho da primeira carta do apóstolo aos coríntios que reproduzimos no final da seção precedente. Dá ao tópico o título "Necessidade da caridade, segundo S. Paulo". Seria uma provocação? Certamente que não, pois provocações e polêmicas eram incompatíveis com seu equilíbrio, sua serenidade e seu espírito cristão. Foi, sim, a exposição firme e inequívoca de uma das conseqüências da análise espírita da moral e da religião, talvez a conseqüência de maior importância para a Humanidade.



Apesar dessa concordância da análise espírita com parte da interpretação católica da questão da caridade - a saber, a importância das obras para a salvação - , Kardec exerce a seguir a sua imparcialidade, criticando a máxima católica de que "Fora da Igreja não há salvação". Após a refutação enérgica desse princípio, estende a crítica à máxima associada, "Fora da verdade não há salvação". Ambos os princípios são mostrados não apenas carecer de fundamentação evangélica e racional, mas também serem nocivos ao bem da Humanidade, já que induzem ao sectarismo, à intolerância e ao obscurantismo.



O capítulo é encerrado com uma eloqüente comunicação mediúnica do próprio Paulo, em que o princípio-síntese "Fora da caridade não há salvação" e o papel do Espiritismo na sua implantação são comentados com palavras de grande profundidade, que não nos atreveríamos a resumir aqui. Tome, leitor amigo, seu exemplar de O Evangelho segundo o Espiritismo agora mesmo, e não adie o privilégio de poder fruir a beleza e a transcendência de um texto como esse.



Obras citadas

Bíblia. Trad. João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro, Sociedade Bíblica do Brasil, s.d.

Bíblia. Trad. da Vulgata e anotado por Matos Soares. 5ª ed., São Paulo, Pia Sociedade de São Paulo, s.d. (reimprimatur 1951).

Chave Bíblica. Brasília, Sociedade Bíblica do Brasil, 1970.

Chibeni, S. S. As paixões: Uma breve análise filosófica e espírita. Reformador, abril de 1998, p. 112-15 e 125-27.
Descartes, R. Les Passions de l´Âme. ln: Adam, C. e Tannery, P. (eds.) Oeuvres de Descartes. Tomo XI, p. 291-497. Paris, Vrin, 1967. @(As paixões da alma. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Jr. ln: Descartes - Obra Escolhida, p. 295-404. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1973.)

Emmanuel. O Consolador (Médium Francisco Cândido Xavier.) 8ª ed., Rio de janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1940.

--- Fonte Viva (Médium Francisco Cândido Xavier.) 9ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1956.

--- Paulo e Estêvão. (Médium Francisco Cândido Xavier.) 16ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1945.

FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 1ª ed., Rio de Janeiro, Nova Fronteira s.d.

Kardec, A. O livro dos Espíritos. Trad. de Guillon Ribeiro. 43ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.

----.Imitation de l´Évangile selon le Spiritisme Reprodução fotomecânica do original francês. Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1979.

--- O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. de Guillon Ribeiro. 111ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.

La Bible de Jérusalem. Paris, CERF, 1998.

Novo Testamento. Trad. segundo o original grego. Sociedade Bíblica Americana, Nova York, s.d.

Novo Testamento. Salmos e Provérbios. Trad. João Ferreira de Almeida. Os Gideões Internacionais, edições de 1977 e 1979.

Da lei de justiça, amor e caridade

http://bvespirita.com/Das%20Leis%20Morais%20-%20Da%20Lei%20de%20Justi%C3%A7a,%20Amor%20e%20Caridade%20(SEF).pdf

A FÉ E A CARIDADE


O ESPÍRITO PROTETOR, como se intitulou o autor da mensagem, faz uma afirmação, difícil de aceitar à primeira leitura: “Eu vos disse, recentemente, meus queridos filhos, que a caridade sem a fé não seria suficiente para manter entre os homens uma ordem social capaz de fazê-los felizes. Deveria ter dito que a caridade é impossível sem a fé”.

Pelo texto, compreende-se que ele se refere à fé em Deus, nas Suas leis, na vida futura, à fé religiosa.

Todavia, sabemos que existem, e sempre existiram, pessoas sem fé em Deus, sem fé religiosa, que usaram de caridade para com o próximo.

Mas, a caridade a que ele se refere é a do amor em ação, ou seja, é aquela que leva o homem às renúncias de si mesmo em favor de outros; aquela, exercida com abnegação, com dedicação, colocando as necessidades alheias acima das suas; aquela que sacrifica todo o interesse egoísta para pensar nos interesses alheios; aquela que se compraz, sente prazer em beneficiar, não precisando de satisfações pessoais para sentir-se contente, colocando a sua felicidade no ato de tornar os outros felizes; aquela que leva o homem a esquecer-se de si para lembrar-se de outros.

Essa caridade, somente a fé firme e segura em Deus, no seu amor, na sua justiça, na sua sabedoria, nas suas leis, é capaz de vivenciar, “porque nada além dela nos faz carregar com coragem e perseverança a cruz desta vida”.

A fé consciente, inabalável, leva o homem a compreender a transitoriedade da vida na Terra, dando, aos valores materiais, a importância relativa que eles têm para o Espírito imortal, não se prendendo a eles, mas buscando usá-los em favor de outros, a fim de suavizar os sofrimentos alheios.

Somente uma fé religiosa, bastante firme e segura, é capaz de demonstrar ao homem que ele está na Terra para desenvolver-se, intelectual e moralmente, desviando-o da busca ávida de uma felicidade nos prazeres materiais, que lhe dão apenas a ilusão de ser feliz.

Vivemos em um mundo, “aparentemente” injusto, visto apenas do ponto de vista de uma única existência.

Todavia, analisando sob o ponto de vista das vidas sucessivas, compreendemos que as “aparentes” injustiças, são os efeitos dos males praticados nesta vida ou em outras: é a lei de ação e reação, ou de causa e efeito, acontecendo, a fim de auxiliar o aperfeiçoamento espiritual do homem.

Mas, não estamos condenados a viver assim, eternamente. À medida que os homens da Terra forem se desenvolvendo, moralmente, tanto quanto intelectualmente, as dores e os sofrimentos vão se tornando menores até se tornarem desnecessários.

Aí, nosso mundo se tornará um mundo melhor, mais fraterno, mais solidário, com preocupações de paz e felicidade para todos, em todos os aspectos.

Até lá, necessário é desenvolver a fé raciocinada, que sabe quem somos quem fomos o que seremos o que aqui devemos fazer e como fazer, para, no desenvolvimento do amor em nós, vivenciarmos o amor ao próximo.

Até lá, precisamos exercitar a solidariedade, a fraternidade, a tolerância, a generosidade, todas as facetas da caridade, uns para com os outros, como pudermos, aperfeiçoando-nos nos valores espirituais que só a fé religiosa tem condição de despertar, de fazer desabrochar.

Até lá, precisamos aprender a viver na diversidade de gostos, de interesses, de tendências, de necessidades, que esta humanidade apresenta, exercitando-nos na caridade que a fé religiosa estimula, porque “somente à custa de concessões e de sacrifícios mútuos, é que podeis manter a harmonia entre elementos tão diversos”.

 A felicidade plena não existe na Terra, pela própria imperfeição dos seus habitantes.

Todavia, pode-se gozar de uma felicidade relativa, dedicando-se à prática do bem, sem perder tempo em procurá-la onde não está.

Diferentemente dos primeiros tempos do cristianismo, hoje não é necessário, para o verdadeiro cristão, o sacrifício da vida, mas faz-se premente “o sacrifício do egoísmo, do orgulho e da vaidade. Triunfareis se a caridade vos inspirar e fordes sustentados pela fé”.

Leda de Almeida Rezende Ebner
Dezembro / 2009

O Espiritismo é Amor e Caridade


Caros irmãos espíritas, venho mostrar-vos a rota, fazer-vos ver o objetivo. Possam minhas palavras, por mais fracas que sejam, permitir que compreendais a sua grandeza! Mas outros virão depois de mim, que vo-la mostrarão também, e cuja voz, mais poderosa que a minha, terá para as nações o estrondo retumbante da trombeta. Sim, meus irmãos, Espíritos, mensageiros de Deus para estabelecer o Seu reino na Terra, logo surgirão entre vós e os conhecereis por sua sabedoria e pela autoridade de sua linguagem. À sua voz, os incrédulos e os ímpios serão tombados de admiração e de estupor, e curvarão a cabeça, pois não ousarão tratá-los de loucos. Meus irmãos, não vos posso revelar ainda tudo quanto vos prepara o futuro! Mas, aproxima-se o tempo em que todos os mistérios serão desvendados, para confundir os maus e glorificar os justos.

Enquanto ainda é tempo, revesti-vos, pois, da túnica branca: sufocai todas as discórdias, pois que as discórdias pertencem ao reino do mal, que vai ter fim. Que vos possais confundir todos numa mesma família e vos dar, do fundo do coração e sem pensamento premeditado, o nome de irmãos. Se, entre vós, houver dissidências, causas de antagonismo; se os grupos, que devem todos marchar para um objetivo comum, estiverem divididos, eu o lamento, sem me preocupar com as causas, sem examinar quem cometeu os primeiros erros e me coloco, sem vacilar, do lado daquele que tiver mais caridade, isto é, mais abnegação e verdadeira humildade, pois aquele a quem falta a caridade está sempre em erro, ainda que coberto de algum tipo de razão, porquanto Deus maldiz a quem diz a seu irmão: Raca. Os grupos são indivíduos coletivos que devem viver em paz, como os indivíduos, se, realmente, são espíritas; são os batalhões da grande falange. Ora, em que se tornaria uma falange, cujos batalhões se dividissem? Os que vissem os outros com olhos ciumentos provariam, só por isso, que estão sob má influência, desde que o Espírito do bem não pode produzir o mal. Como bem o sabeis, reconhece-se a árvore pelos seus frutos. Ora, o fruto do orgulho, da inveja e do ciúme é um fruto envenenado que mata quem dele se nutre.

O que digo das dissidências entre os grupos, digo-o igualmente para as que pudessem existir entre os indivíduos. Em semelhante circunstância, a opinião de pessoas imparciais é sempre favorável àquele que dá provas de maior grandeza e generosidade. Aqui na Terra, onde ninguém é infalível (o grifo é nosso), a indulgência recíproca é uma consequência do princípio de caridade que nos leva a agir para com os outros como gostaríamos que os outros agissem para conosco. Ora, sem indulgência não há caridade, sem caridade não há verdadeiro espírita (o grifo é nosso).



Allan Kardec, Viagem Espírita em 1862, Discursos pronunciados nas Reuniões
Gerais dos Espíritas de Lyon e Bordeaux – item III – 1ª ed. – FEB.



Ao refletirmos sobre as sábias palavras de Kardec, percebemos que esse Espírito de escol, que tinha os olhos sempre voltados para o futuro, já alertava para a necessidade da reforma íntima, da criatura permitir-se impregnar do verdadeiro ensino do Cristo.

É chegada a hora de nos reconhecermos como irmãos. Deixar para trás as cizânias, olhar para o outro com o verdadeiro sentimento cristão; ajudar a crescer ao invés de derrubar. Seguir avante, todos unidos num só pensamento: Amor e Caridade. Em torno desta bandeira, que todos os verdadeiros espíritas se congreguem, e serão fortes, porquanto a união faz a força. [Allan Kardec].

Continuando com o pensamento de Kardec: Como reconhecer de que lado está a verdade? Desde que o Espiritismo é Amor e Caridade, conhecereis a verdade pela prática desta máxima.

Ainda que os tempos sejam de turbulência, não devemos temer. Eles são passageiros e nos convidam a refletir sobre o verdadeiro sentido de nossa tarefa. O espírita verdadeiro não se deixa mover pela ambição, nem pelo amor-próprio, diz Kardec.

Companheiros! É chegada a hora das grandes mudanças em nosso planeta. Assistimos à partida desta geração, mesclada com a chegada da geração nova, de Espíritos imbuídos das melhores intenções, onde reinarão a paz, a justiça e a fraternidade…

Sigamos a marcha da evolução, imbuídos de nossos melhores sentimentos, de nossos melhores esforços para contribuir neste ideal. Que o amor de Jesus nos ilumine e se irradie de nossos corações para nossos irmãos.

Caridade é a alma do Espiritismo: Revista Espírita – Dezembro de 1868:

Caridade é a alma do Espiritismo: Revista Espírita – Dezembro de 1868:

Qual é, pois, o laço que deve existir entre os espíritas? Eles não estão unidos entre si por nenhum contrato material, por nenhuma prática obrigatória. Qual o sentimento no qual se deve confundir todos os pensamentos?

É um sentimento todo moral, todo espiritual, todo humanitário: o da caridade para com todos ou, em outras palavras: o amor do próximo, que compreende os vivos e os mortos, pois sabemos que os mortos sempre fazem parte da Humanidade.

A caridade é a alma do Espiritismo; ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes, razão por que se pode dizer que não há verdadeiro espírita sem caridade.

Mas a caridade é ainda uma dessas palavras de sentido múltiplo, cujo inteiro alcance deve ser bem compreendido; e se os Espíritos não cessam de pregá-la e defini-la, é que, provavelmente, reconhecem que isto ainda é necessário.

O campo da caridade é muito vasto; compreende duas grandes divisões que, em falta de termos especiais, podem designar-se pelas expressões Caridade beneficente e caridade benevolente. Compreende-se facilmente a primeira, que é naturalmente proporcional aos recursos materiais de que se dispõe; mas a segunda está ao alcance de todos, do mais pobre como do mais rico. Se a beneficência é forçosamente limitada, nada além da vontade poderia estabelecer limites à benevolência.

O que é preciso, então, para praticar a caridade benevolente? Amar ao próximo como a si mesmo. Ora, se se amar ao próximo tanto quanto a si, amar-se-o-á muito; agir-se-á para com outrem como se quereria que os outros agissem para conosco; não se quererá nem se fará mal a ninguém, porque não quereríamos que no-lo fizessem.

Amar ao próximo é, pois, abjurar todo sentimento de ódio, de animosidade, de rancor, de inveja, de ciúme, de vingança, numa palavra, todo desejo e todo pensamento de prejudicar; é perdoar aos inimigos e retribuir o mal com o bem; é ser indulgente para as imperfeições de seus semelhantes e não procurar o argueiro no olho do vizinho, quando não se vê a trave no seu; é esconder ou desculpar as faltas alheias, em vez de se comprazer em as pôr em relevo, por espírito de maledicência; é ainda não se fazer valer à custa dos outros; não procurar esmagar ninguém sob o peso de sua superioridade; não desprezar ninguém pelo orgulho.

Eis a verdadeira caridade benevolente, a caridade prática, sem a qual a caridade é palavra vã; é a caridade do verdadeiro espírita, como do verdadeiro cristão; aquela sem a qual aquele que diz: Fora da caridade não há salvação, pronuncia sua própria condenação, tanto neste quanto no outro mundo.

Quantas coisas haveria a dizer sobre este assunto! Que belas instruções não nos dão os Espíritos incessantemente! Não fosse o receio de alongar-me em demasia e de abusar de vossa paciência, senhores, seria fácil demonstrar que, em se colocando no ponto de vista do interesse pessoal, egoísta, se se quiser, porque nem todos os homens estão ainda maduros para uma completa abnegação, para fazer o bem unicamente por amor do bem, digo que seria fácil demonstrar que têm tudo a ganhar em agir deste modo, e tudo a perder agindo diversamente, mesmo em suas relações sociais; depois, o bem atrai o bem e a proteção dos Espíritos bons; o mal atrai o mal e abre a porta à malevolência dos maus.

Mais cedo ou mais tarde o orgulhoso será castigado pela humilhação, o ambicioso pelas decepções, o egoísta pela ruína de suas esperanças, o hipócrita pela vergonha de ser desmascarado; aquele que abandona os Espíritos bons por estes é abandonado e, de queda em queda, finalmente se vê no fundo do abismo, ao passo que os Espíritos bons erguem e amparam aquele que, nas maiores provações, não deixa de se confiar à Providência e jamais se desvia do reto caminho; aquele, enfim, cujos secretos sentimentos não dissimulam nenhum pensamento oculto de vaidade ou de interesse pessoal.

Assim, de um lado, ganho assegurado; do outro, perda certa; cada um, em virtude do seu livre-arbítrio, pode escolher a sorte que quer correr, mas não poderá queixar-se senão de si mesmo pelas conseqüências de sua escolha.

Crer num Deus Todo-Poderoso, soberanamente justo e bom; crer na alma e em sua imortalidade; na preexistência da alma como única justificação do presente; na pluralidade das existências como meio de expiação, de reparação e de adiantamento intelectual e moral; na perfectibilidade dos seres mais imperfeitos; na felicidade crescente com a perfeição; na eqüitativa remuneração do bem e do mal, segundo o princípio: a cada um segundo as suas obras;

na igualdade da justiça para todos, sem exceções, favores nem privilégios para nenhuma criatura; na duração da expiação limitada à da imperfeição; no livre-arbítrio do homem, que lhe deixa sempre a escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade das relações entre o mundo visível e o mundo invisível; na solidariedade que religa todos os seres passados, presentes e futuros, encarnados e desencarnados;

considerar a vida terrestre como transitória e uma das fases da vida do Espírito, que é eterno; aceitar corajosamente as provações, em vista de um futuro mais invejável que o presente; praticar a caridade em pensamentos, em palavras e obras na mais larga acepção do termo;

esforçar-se cada dia para ser melhor que na véspera, extirpando toda imperfeição de sua alma; submeter todas as crenças ao controle do livre-exame e da razão, e nada aceitar pela fé cega; respeitar todas as crenças sinceras, por mais irracionais que nos pareçam, e não violentar a consciência de ninguém; ver, enfim, nas descobertas da Ciência, a revelação das leis da Natureza, que são as leis de Deus: eis o Credo, a religião do Espiritismo, religião que pode conciliar-se com todos os cultos, isto é, com todas as maneiras de adorar a Deus.

É o laço que deve unir todos os espíritas numa santa comunhão de pensamentos, esperando que ligue todos os homens sob a bandeira da fraternidade universal.

Com a fraternidade, filha da caridade, os homens viverão em paz e se pouparão males inumeráveis, que nascem da discórdia, por sua vez filha do orgulho, do egoísmo, da ambição, da inveja e de todas as imperfeições da humanidade.

O Espiritismo dá aos homens tudo o que é preciso para a sua felicidade aqui na Terra, porque lhes ensina a se contentarem com o que têm. Que os espíritas sejam, pois, os primeiros a aproveitar os benefícios que ele traz, e que inaugurem entre si o reino da harmonia, que resplandecerá nas gerações futuras.

Os Espíritos que nos cercam aqui são inumeráveis, atraídos pelo objetivo que nos propusemos ao nos reunirmos, a fim de dar aos nossos pensamentos a força que nasce da união. Ofereçamos aos que nos são caros uma boa lembrança e o penhor de nossa afeição, encorajamentos e consolações aos que deles necessitem.

Façamos de modo que cada um recolha a sua parte dos sentimentos de caridade benevolente, de que estivermos animados, e que esta reunião dê os frutos que todos têm o direito de esperar.

-Allan Kardec.