Quando conheci o Chico, o que mais me impressionou foi a sua sabedoria. A mediunidade estuante parecia a medida certa para abalar incréus. O lápis adquiria asas em suas mãos. Havia, entretanto, algo mais essencial que o fenômeno: era a vida. Em diversos momentos, fiquei a refletir: “onde começava o Emmanuel, onde parava o Chico?” A alegria que lhe escorria dos olhos e dos lábios, o jeito mineiro de falar, a simplicidade de cada gesto, acompanhando as palavras, não conseguiam ocultar a sabedoria com que se expressava. Ninguém lutou tanto para seguir à risca as palavras do Batista: “é preciso que ele cresça e que eu diminua”, pois à medida que se encolhia, tornava-se maior. Queria ser apenas um cisco para apagar-se mais, esquecendo-se de que assim conseguia penetrar mais facilmente as janelas fechadas de nossas almas. Costumava “calar-se” para que Emmanuel pudesse expor o pensamento sem sua interferência. Permito-me seguir o seu exemplo, reproduzindo as palavras de um amigo espiritual para sintetizar a sua permanência entre nós: “Sua vida é um cartão-postal do Infinito”.
A história de uma música que fala sobre os presidiários que
trabalhavam nos canaviais as margens do Rio Brazos, chamado também Rio de los
Brazos de Dios pelos antigos exploradores espanhóis, é o 11º rio mais longo dos
Estados Unidos da América com 2060 km entre a nascente Blackwater Draw, Condado
de Curri, Novo México até desaguar no Golfo do México.´
The Walkers alcançou os topos das paradas radiofônicas com
"There's no more corn on the Brazos" (Não há mais milho no Brazos) em
1971, sendo que Brazos é nome de um famoso rio do Texas, EUA, ao redor do qual
existem algumas prisões que se tornaram notórias por acolher presos negros.
Ali, eles eram colocados para trabalhar praticamente em .escravo, em extensas
plantações de cana, para produzir melaço que era vendido para grandes empresas
de produtos alimentícios, repetindo episódios de opressão social típicos ainda
da época da escravatura (estamos falando do período compreendido entre as
décadas de 1910-1920 nos EUA).
A letra da música, cita, por exemplo, diversos corpos de presidiários
encontrados nas estradas próximas do Rio Brazos, bem como o caso de um preso
mais resistente que foi vilmente espancado até ficar cego (no trecho:
"Captain don't you do me like you've done for Shine... Well you´ve driven
that bully till he went stone-blind" - Capitão, não faça comigo o que você
fez com o Shine... Bem, você judiou daquele encrenqueiro até ele ficar
totalmente cego).
Ainda faz referências ao estupro de mulheres negras às
margens do rio, e à desmedida exploração dos recursos naturais, até seu
completo esgotamento: o título diz que "não há mais milho no Brazos",
pois os homens "moeram tudo em melaço".
A música, seguindo uma linha de melodias de protesto (música folk), muito
popular nos anos 60 e 70, era na verdade derivada de uma canção norte-americana
tradicional chamada "Ain't no more cane on the Brazos", que continha
praticamente os mesmos versos, mas se referia a cana (cane) na letra original,
ao invés de milho (corn).
Não se sabe bem porque, mas os Walkers resolveram trocar "cana" por
"milho". De qualquer forma, com seu canto lamurioso, introduzido por
flautas melancólicas e um ritmo ponteado pelos ruídos de correntes sendo
arrastadas, "No more corn..." se tornou o maior (e único) êxito dessa
banda esquecida.