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Um menino entra na lojinha de animais e pergunta o preço dos filhotes à venda.
- Entre 30 e 50 dólares, respondeu o dono.
O menino puxou uns trocados do bolso e disse:
- Mas, eu só tenho 3 dólares...
- Poderia ver os filhotes?
O dono da loja sorriu e chamou Lady, a mãe dos cachorrinhos, que veio correndo, seguida de cinco bolinhas de pêlo.
Um dos cachorrinhos vinha mais atrás, com dificuldade, mancando de forma visível.
O menino apontou aquele cachorrinho e perguntou:
- O que é que há com ele?
O dono da loja explicou que o veterinário tinha examinado e descoberto que ele tinha um problema na junta do quadril - mancaria e andaria devagar para sempre.
O menino se animou e disse com enorme alegria no olhar:
- Esse é o cachorrinho que eu quero comprar!
O dono da loja respondeu:
- Não, você não vai querer comprar esse.
Se quiser realmente ficar com ele, eu lhe dou de presente.
O menino emudeceu e, com os olhos marejados de lágrimas, olhou firme para o dono da loja e falou:
- Eu não quero que você o dê para mim.
Aquele cachorrinho vale tanto quanto qualquer um dos outros e eu vou pagar tudo.
Na verdade, eu lhe dou 3 dólares agora e 50 centavos por mês, até completar o preço total.
Surpreso, o dono da loja contestou:
- Você não pode querer realmente comprar este cachorrinho.
Ele nunca vai poder correr, pular e brincar com você e com os outros cachorrinhos.
O menino ficou muito sério, acocorou-se e levantou lentamente a perna esquerda da calça,
deixando à mostra a prótese que usava para andar...
Olhou bem para o dono da loja e respondeu:
- Veja... não tenho uma perna...
Eu não corro muito bem e o cachorrinho vai precisar de alguém que entenda isso.
Às vezes desprezamos as pessoas com que convivemos todos os dias, por causa dos seus "defeitos", quando na verdade somos tão iguais ou pior do que elas.
Desconsideramos que essas mesmas pessoas precisam apenas de alguém que as compreendam e as amem, não pelo que elas poderiam fazer, mas pelo que realmente são.
Amar a todos é difícil, mas não impossível.
"Nunca saberei o suficiente de algo, para que em algum momento de minha vida deixe de ser um aprendiz"
Autor desconhecido ou ignorado
O mesmo tema, vários artigos, para ajudar a alguém que está preparando uma exposição ou estudando um assunto
Estudando o Espiritismo
Observe os links ao lado. Eles podem ter artigos com o mesmo tema que você está pesquisando.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
O dia dos Namorados ou Marido perfeito
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Rosas vermelhas eram as suas favoritas, seu nome também era Rose.
E todo ano no dia dos namorados seu marido as enviava, atadas com lindos
enfeites. Mesmo no ano em que ele morreu, as rosas foram entregues em
sua porta.
O cartão dizia:
"Seja minha namorada"... como nos anos anteriores".
Cada ano ele enviava suas rosas e o cartão sempre dizia:
"Eu te amo mais este ano do que no ano passado. Meu amor por você
sempre aumentará com o passar dos anos."
Ela sabia que aquela seria a última vez que as rosas apareceriam E pensava:
* " Ele encomendou as rosas adiantado".
Seu amado marido não sabia que ele iria....mas, já estava próximo ao dia
dos namorados e sempre gostou de preparar as coisas com antecedência;
pois se estivesse muito ocupado, tudo funcionaria perfeitamente.
Ela ajeitou as flores, colocou-as num vaso especial e depois, colocou o
vaso ao lado do retrato sorridente dele. Sentou por horas na cadeira
favorita dele, enquanto olhava para sua fotografia e as rosas lá.
Um ano havia passado e tinha sido difícil viver sem seu companheiro. Em
solidão e isolamento havia sido transformado seu destino e então, na mesma
hora de sempre, como no Dia dos Namorados anterior, a campainha tocou,
e lá estavam as rosas, esperando em sua porta.
Ela levou-as para dentro e as olhou chocada então, foi ao telefone e ligou
para a floricultura. O dono atendeu e ela perguntou-lhe se poderia
explicar... porque alguém faria isso com ela causando tanta dor?
* "Eu sei que seu marido faleceu a mais de um ano __ disse o dono, "eu
sabia que ligaria e quereria saber. As flores que recebeu hoje foram pagas
adiantadas. Seu marido sempre planejou adiante, ele não deixava nada
imprevisto. Existe um pedido que eu tenho arquivado aqui e ele pagou
adiantado, você vai recebê-las todos os anos e tem outra coisa que você
deveria saber, ele escreveu um pequeno cartão especial... fez isso no ano
passado. E como eu descobri que ele não estava mais aqui... Aí está o
cartão".
Ela agradeceu e desligou, e suas lágrimas caíram copiosamente, seus dedos
tremiam, enquanto avançava devagar para pegar o cartão, em silêncio total,
ela lia o que ele havia escrito..
* "Oi, meu amor, eu sei que faz um ano que eu me fui, espero que não
tenha sido tão ruim pra você superá-lo, sei que deve estar solitária e que a
dor é grande, mas se fosse diferente, eu sei como eu me sentiria.
O amor que nós tivemos fez a minha vida ser maravilhosa. Eu amei
você mais do que as palavras podem dizer, você foi a esposa perfeita. Você
foi amiga e amante e me deu tudo o que precisei. Eu sei isto foi há apenas
um ano, mas por favor tente não ficar triste.
Eu quero que você seja feliz, mesmo quando banhada em lágrimas, por
isso é que as rosas serão enviadas durante anos. Quando você recebê-las,
pense na felicidade que tivemos juntos, e como fomos abençoados.
Eu sempre amei você e sei que sempre vou amá-la. Mas, meu amor, você
tem que continuar a ser feliz, você ainda está viva. Por favor.... tente
achar a felicidade, enquanto vive o resto dos seus dias. Eu sei que não é
fácil, mas eu espero que ache algum modo.
As rosas irão todos os anos, e só irão parar quando sua porta não
mais atender, quando o entregador parar de bater, ele irá cinco vezes nesse
dia, caso você tenha saído, mas depois desta última visita, quando ele não
tiver mais dúvidas, ele levará as rosas ao lugar onde eu o instrui e
colocará as rosas onde nós estaremos juntos novamente."
Autor desconhecido ou ignorado
Rosas vermelhas eram as suas favoritas, seu nome também era Rose.
E todo ano no dia dos namorados seu marido as enviava, atadas com lindos
enfeites. Mesmo no ano em que ele morreu, as rosas foram entregues em
sua porta.
O cartão dizia:
"Seja minha namorada"... como nos anos anteriores".
Cada ano ele enviava suas rosas e o cartão sempre dizia:
"Eu te amo mais este ano do que no ano passado. Meu amor por você
sempre aumentará com o passar dos anos."
Ela sabia que aquela seria a última vez que as rosas apareceriam E pensava:
* " Ele encomendou as rosas adiantado".
Seu amado marido não sabia que ele iria....mas, já estava próximo ao dia
dos namorados e sempre gostou de preparar as coisas com antecedência;
pois se estivesse muito ocupado, tudo funcionaria perfeitamente.
Ela ajeitou as flores, colocou-as num vaso especial e depois, colocou o
vaso ao lado do retrato sorridente dele. Sentou por horas na cadeira
favorita dele, enquanto olhava para sua fotografia e as rosas lá.
Um ano havia passado e tinha sido difícil viver sem seu companheiro. Em
solidão e isolamento havia sido transformado seu destino e então, na mesma
hora de sempre, como no Dia dos Namorados anterior, a campainha tocou,
e lá estavam as rosas, esperando em sua porta.
Ela levou-as para dentro e as olhou chocada então, foi ao telefone e ligou
para a floricultura. O dono atendeu e ela perguntou-lhe se poderia
explicar... porque alguém faria isso com ela causando tanta dor?
* "Eu sei que seu marido faleceu a mais de um ano __ disse o dono, "eu
sabia que ligaria e quereria saber. As flores que recebeu hoje foram pagas
adiantadas. Seu marido sempre planejou adiante, ele não deixava nada
imprevisto. Existe um pedido que eu tenho arquivado aqui e ele pagou
adiantado, você vai recebê-las todos os anos e tem outra coisa que você
deveria saber, ele escreveu um pequeno cartão especial... fez isso no ano
passado. E como eu descobri que ele não estava mais aqui... Aí está o
cartão".
Ela agradeceu e desligou, e suas lágrimas caíram copiosamente, seus dedos
tremiam, enquanto avançava devagar para pegar o cartão, em silêncio total,
ela lia o que ele havia escrito..
* "Oi, meu amor, eu sei que faz um ano que eu me fui, espero que não
tenha sido tão ruim pra você superá-lo, sei que deve estar solitária e que a
dor é grande, mas se fosse diferente, eu sei como eu me sentiria.
O amor que nós tivemos fez a minha vida ser maravilhosa. Eu amei
você mais do que as palavras podem dizer, você foi a esposa perfeita. Você
foi amiga e amante e me deu tudo o que precisei. Eu sei isto foi há apenas
um ano, mas por favor tente não ficar triste.
Eu quero que você seja feliz, mesmo quando banhada em lágrimas, por
isso é que as rosas serão enviadas durante anos. Quando você recebê-las,
pense na felicidade que tivemos juntos, e como fomos abençoados.
Eu sempre amei você e sei que sempre vou amá-la. Mas, meu amor, você
tem que continuar a ser feliz, você ainda está viva. Por favor.... tente
achar a felicidade, enquanto vive o resto dos seus dias. Eu sei que não é
fácil, mas eu espero que ache algum modo.
As rosas irão todos os anos, e só irão parar quando sua porta não
mais atender, quando o entregador parar de bater, ele irá cinco vezes nesse
dia, caso você tenha saído, mas depois desta última visita, quando ele não
tiver mais dúvidas, ele levará as rosas ao lugar onde eu o instrui e
colocará as rosas onde nós estaremos juntos novamente."
Autor desconhecido ou ignorado
A História de Mark
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Ele estava na primeira 3ª série em que eu lecionei na escola Saint Mary's em Morris, Minn. Todos os 34 alunos eram importantes para mim, mas Mark Eklund era um em um milhão. Muito bonito na aparência, mas com aquela atitude 'é bom estar vivo' que fazia mesmo uma travessura interessante.
Mark falava incessantemente. Eu tinha de lembrá-lo a toda hora que conversar sem pedir licença não era permitido. O que me impressionava muito, porém, era sua resposta sincera toda vez que eu precisava
chamar sua atenção pelas travessuras : "Obrigado por me corrigir, Irma!" Eu não sabia o que fazer disto, mas ao invés me acostumei a ouvir esta frase muitas vezes ao dia. Uma manha eu já estava perdendo a paciência quando o Mark falava repetitivamente, e eu cometi um erro de professor principiante.
Olhei para o Mark e disse- "Se você disser mais uma palavra, eu taparei sua boca com fita adesiva!" Passaram-se dez segundos quando Chuck deixou escapar- "O Mark está conversando de novo." Eu não havia pedido a nenhum dos alunos para me ajudar a cuidar do Mark, mas como dei o aviso da punição na frente de toda a classe, eu de tomar uma atitude. Eu lembro a cena como se fosse hoje. Eu caminhei até a minha mesa, deliberadamente abri minha gaveta, e peguei um rolo de fita adesiva. Sem dizer uma palavra, fui
até a mesa do Mark, destaquei dois pedaços de fita e fiz um X sobre a boca dele. Voltei, então, para a frente da sala de aula. Assim que olhei para o Mark para ver o que estava fazendo, ele piscou para mim. Isto foi o
suficiente!! Eu comecei a rir. A turma aplaudiu assim que retornei a mesa do Mark, removi a fita, e encolhi meus ombros. Suas primeiras palavras foram- "Obrigado por me corrigir, Irmã." Recebi uma proposta para
assumir uma turma de 1º grau de matemática no final do ano.
Os anos passaram, e antes que eu soubesse, Mark estava na minha turma novamente. Ele estava mais bonito que nunca e tão educado. Uma vez que teria de escutar atentamente minhas explicações na "nova matemática", ele não falou tanto na nona série, como fez na terceira. Numa Sexta-feira, as coisas não pareciam boas. Havíamos trabalhado duro a semana toda em cima de um conceito matemático, eu senti que os alunos estavam tensos, frustrados com eles mesmos, e nervosos uns com os outros. Eu tinha de parar
este mau humor antes que fugisse do meu controle. Então pedi a eles que listassem os nomes dos colegas de classe em duas folhas de papel, deixando um espaço entre cada nome. Daí eu disse a eles para pensarem na coisa mais legal que eles poderiam dizer sobre cada um dos seus colegas e escrever na lista.
Isto levou o restante do período de aula para terminar esta tarefa, e à medida que iam deixando a sala, cada um foi me entregando suas listas. O Charlie sorriu. O Mark disse - "Obrigado por me ensinar Irma. Tenha um
bom final de semana." Naquele Sábado, escrevi o nome de cada aluno numa folha separada, e listei o que cada os outros haviam escrito sobre cada indivíduo. Na Segunda-feira eu entreguei as listas para cada um dos Alunos.
Logo, toda a sala estava sorrindo. "Mesmo?" Eu ouvi um sussurros.
"Eu nunca pensei que eu significasse tanto para alguém!" "Eu não sabia que outros gostavam tanto de mim." Ninguém nunca mais mencionou sobre estes papéis em sala de aula. Nunca soube se eles discutiram sobre o
assunto depois da aula, ou com seus pais, mas não importava. O exercício atingiu o seu objetivo. Os alunos estavam felizes com eles mesmos e com os outros novamente. Aquele grupo de estudantes seguiu caminho.
Vários anos mais tarde, depois de retornar das minhas férias, meus pais se encontram comigo no aeroporto. No caminho de volta para casa, minha mãe me fez as perguntas usuais sobre a viagem, o tempo, minhas experiências em geral. Houve uma pausa na conversa. Minha mãe deu uma olhada para meu pai e disse- "Pai?" Meu pai limpou a garganta como sempre fez antes de dizer algo importante. "Os Eklunds ligaram ontem à noite," ele começou.
"Mesmo?" eu disse. "Eu não soube deles por anos. Eu fico imaginando como está o Mark."
O meu pai respondeu em baixo tom - "Mark foi morto no Vietnã," "O funeral é amanha, e os pais dele gostariam que você fosse." A partir deste dia, eu marquei o ponto exato da freeway I-494 quando o meu pai me deu a notícia sobre o Mark. Eu nunca havia visto um militar num caixão antes. Mark estava tão bonito, tão maduro. Tudo o que pude pensar naquele momento foi - "Mark, eu daria todas as fitas adesivas do mundo se você pudesse falar comigo."
A igreja estava cheia de amigos do Mark. A irmã do Chuck cantou "The Battle Hymn of the republic." Por que teve de chover no dia do funeral? Já era difícil o suficiente estar ao lado da sepultura. O pastor recitou as
orações normais e o trompete soou. Um a um aqueles que amavam Mark
aproximaram-se do caixão pela última vez e o borrifaram com água benta. Eu fui a última a abençoar o caixão. Enquanto eu estava ali, um dos
soldados que carregava um manto se aproximou e perguntou - "Você foi professora de matemática do Mark?" Eu concordei e continuei a olhar o caixão. "Mark falava muito sobre você." ele disse.
Depois do funeral, a maior parte dos colegas de Mark dirigiram-se para a fazenda de Chuck para o almoço. Os pais do Mark estavam lá, obviamente esperando por mim. "Nós queremos lhe mostrar algo" disse o pai,
tirando a carteira dele do bolso. "Eles acharam isto com o Mark quando ele foi morto. Achamos que você reconheceria." Abrindo a carteira, ele cuidadosamente removeu dois folhas de caderno bem velhas que foram
obviamente remendadas com fita, dobrados e desdobrados muitas vezes.
Eu já sabia, sem ter de olhar para elas, que se tratava daqueles papéis onde eu listei as coisas boas que cada um dos colegas do Mark haviam escrito sobre ele. "Muito obrigado por fazer isso." disse a mãe de Mark. "Como você pode ver, Mark apreciou muito." Os colegas do Mark começaram a se aproximar de nós. Charlie sorriu timidamente e disse - "Eu ainda tenho a minha lista. Está na primeira gaveta da minha escrivaninha em casa." A esposa do Chuck disse - "O Chuck me pediu para colocar a lista dele no nosso
álbum de casamento." "Eu tenho a minha também." disse Marilyn. "Está no meu diário." Então Vicki, uma outra colega, pegou a sua lista toda amassada do bolso e a mostrou para o grupo. "Eu sempre a carrego comigo." disse Vicki sem mover um cílio. "Eu acho que todos nós guardamos nossas listas."
Foi quando então, eu realmente sentei e chorei. Eu chorei por Mark e por todos seus amigos que nunca o veriam novamente.
Escrito por: Sister Helen P. Mrosla.
Ele estava na primeira 3ª série em que eu lecionei na escola Saint Mary's em Morris, Minn. Todos os 34 alunos eram importantes para mim, mas Mark Eklund era um em um milhão. Muito bonito na aparência, mas com aquela atitude 'é bom estar vivo' que fazia mesmo uma travessura interessante.
Mark falava incessantemente. Eu tinha de lembrá-lo a toda hora que conversar sem pedir licença não era permitido. O que me impressionava muito, porém, era sua resposta sincera toda vez que eu precisava
chamar sua atenção pelas travessuras : "Obrigado por me corrigir, Irma!" Eu não sabia o que fazer disto, mas ao invés me acostumei a ouvir esta frase muitas vezes ao dia. Uma manha eu já estava perdendo a paciência quando o Mark falava repetitivamente, e eu cometi um erro de professor principiante.
Olhei para o Mark e disse- "Se você disser mais uma palavra, eu taparei sua boca com fita adesiva!" Passaram-se dez segundos quando Chuck deixou escapar- "O Mark está conversando de novo." Eu não havia pedido a nenhum dos alunos para me ajudar a cuidar do Mark, mas como dei o aviso da punição na frente de toda a classe, eu de tomar uma atitude. Eu lembro a cena como se fosse hoje. Eu caminhei até a minha mesa, deliberadamente abri minha gaveta, e peguei um rolo de fita adesiva. Sem dizer uma palavra, fui
até a mesa do Mark, destaquei dois pedaços de fita e fiz um X sobre a boca dele. Voltei, então, para a frente da sala de aula. Assim que olhei para o Mark para ver o que estava fazendo, ele piscou para mim. Isto foi o
suficiente!! Eu comecei a rir. A turma aplaudiu assim que retornei a mesa do Mark, removi a fita, e encolhi meus ombros. Suas primeiras palavras foram- "Obrigado por me corrigir, Irmã." Recebi uma proposta para
assumir uma turma de 1º grau de matemática no final do ano.
Os anos passaram, e antes que eu soubesse, Mark estava na minha turma novamente. Ele estava mais bonito que nunca e tão educado. Uma vez que teria de escutar atentamente minhas explicações na "nova matemática", ele não falou tanto na nona série, como fez na terceira. Numa Sexta-feira, as coisas não pareciam boas. Havíamos trabalhado duro a semana toda em cima de um conceito matemático, eu senti que os alunos estavam tensos, frustrados com eles mesmos, e nervosos uns com os outros. Eu tinha de parar
este mau humor antes que fugisse do meu controle. Então pedi a eles que listassem os nomes dos colegas de classe em duas folhas de papel, deixando um espaço entre cada nome. Daí eu disse a eles para pensarem na coisa mais legal que eles poderiam dizer sobre cada um dos seus colegas e escrever na lista.
Isto levou o restante do período de aula para terminar esta tarefa, e à medida que iam deixando a sala, cada um foi me entregando suas listas. O Charlie sorriu. O Mark disse - "Obrigado por me ensinar Irma. Tenha um
bom final de semana." Naquele Sábado, escrevi o nome de cada aluno numa folha separada, e listei o que cada os outros haviam escrito sobre cada indivíduo. Na Segunda-feira eu entreguei as listas para cada um dos Alunos.
Logo, toda a sala estava sorrindo. "Mesmo?" Eu ouvi um sussurros.
"Eu nunca pensei que eu significasse tanto para alguém!" "Eu não sabia que outros gostavam tanto de mim." Ninguém nunca mais mencionou sobre estes papéis em sala de aula. Nunca soube se eles discutiram sobre o
assunto depois da aula, ou com seus pais, mas não importava. O exercício atingiu o seu objetivo. Os alunos estavam felizes com eles mesmos e com os outros novamente. Aquele grupo de estudantes seguiu caminho.
Vários anos mais tarde, depois de retornar das minhas férias, meus pais se encontram comigo no aeroporto. No caminho de volta para casa, minha mãe me fez as perguntas usuais sobre a viagem, o tempo, minhas experiências em geral. Houve uma pausa na conversa. Minha mãe deu uma olhada para meu pai e disse- "Pai?" Meu pai limpou a garganta como sempre fez antes de dizer algo importante. "Os Eklunds ligaram ontem à noite," ele começou.
"Mesmo?" eu disse. "Eu não soube deles por anos. Eu fico imaginando como está o Mark."
O meu pai respondeu em baixo tom - "Mark foi morto no Vietnã," "O funeral é amanha, e os pais dele gostariam que você fosse." A partir deste dia, eu marquei o ponto exato da freeway I-494 quando o meu pai me deu a notícia sobre o Mark. Eu nunca havia visto um militar num caixão antes. Mark estava tão bonito, tão maduro. Tudo o que pude pensar naquele momento foi - "Mark, eu daria todas as fitas adesivas do mundo se você pudesse falar comigo."
A igreja estava cheia de amigos do Mark. A irmã do Chuck cantou "The Battle Hymn of the republic." Por que teve de chover no dia do funeral? Já era difícil o suficiente estar ao lado da sepultura. O pastor recitou as
orações normais e o trompete soou. Um a um aqueles que amavam Mark
aproximaram-se do caixão pela última vez e o borrifaram com água benta. Eu fui a última a abençoar o caixão. Enquanto eu estava ali, um dos
soldados que carregava um manto se aproximou e perguntou - "Você foi professora de matemática do Mark?" Eu concordei e continuei a olhar o caixão. "Mark falava muito sobre você." ele disse.
Depois do funeral, a maior parte dos colegas de Mark dirigiram-se para a fazenda de Chuck para o almoço. Os pais do Mark estavam lá, obviamente esperando por mim. "Nós queremos lhe mostrar algo" disse o pai,
tirando a carteira dele do bolso. "Eles acharam isto com o Mark quando ele foi morto. Achamos que você reconheceria." Abrindo a carteira, ele cuidadosamente removeu dois folhas de caderno bem velhas que foram
obviamente remendadas com fita, dobrados e desdobrados muitas vezes.
Eu já sabia, sem ter de olhar para elas, que se tratava daqueles papéis onde eu listei as coisas boas que cada um dos colegas do Mark haviam escrito sobre ele. "Muito obrigado por fazer isso." disse a mãe de Mark. "Como você pode ver, Mark apreciou muito." Os colegas do Mark começaram a se aproximar de nós. Charlie sorriu timidamente e disse - "Eu ainda tenho a minha lista. Está na primeira gaveta da minha escrivaninha em casa." A esposa do Chuck disse - "O Chuck me pediu para colocar a lista dele no nosso
álbum de casamento." "Eu tenho a minha também." disse Marilyn. "Está no meu diário." Então Vicki, uma outra colega, pegou a sua lista toda amassada do bolso e a mostrou para o grupo. "Eu sempre a carrego comigo." disse Vicki sem mover um cílio. "Eu acho que todos nós guardamos nossas listas."
Foi quando então, eu realmente sentei e chorei. Eu chorei por Mark e por todos seus amigos que nunca o veriam novamente.
Escrito por: Sister Helen P. Mrosla.
A palavra
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Era uma vez um pescador chamado Drid. Era um homem distinto, era vigoroso, de ar franco e seu olhar, quando ele ria, era tão vivo quanto o sol. Ora, eis o que lhe aconteceu:
Uma manhã, quando ele andava ao longo da praia, com sua vara de pesca sobre as costas, o rosto ao vento e os pés na areia molhada pelo movimento das ondas, encontrou em seu caminho um crânio humano. Esta parte humana depositada entre as algas secas, excitou imediatamente seu humor alegre e brincalhão. Ele parou diante do crânio, se inclinou e disse:
- Crânio, pobre crânio quem te conduziu até aqui?
Ele riu, não esperando nenhuma resposta. No entanto os maxilares esbranquiçados da peça se abriram num rangido e o pescador escutou esta simples frase:
- A palavra...
Drid saltou para trás; ficou um momento afoito como um animal assustado; depois vendo a cabeça do velho defunto tão imóvel e inofensiva quanto uma pedra, pensou ter-se enganado por algum sussurro da brisa, reaproximou-se prudentemente e repetiu, a voz tremendo, sua questão:
- Crânio, pobre crânio, quem te conduziu até aqui?
- "A palavra..." respondeu o interpelado, desta vez com um quê de impaciência
dolorosa, e uma indiscutível clareza.
Então Drid levou os punhos ao peito, soltou um grito de pavor; recuou, os olhos esbugalhados, deu meia volta e correu com os braços para o céu, como se mil diabos estivessem em seu encalço. Ele correu assim até sua aldeia.
Entrou como um raio nos aposentos de seu rei. O rei era um homem gordo que estava majestosamente sentado à mesa, degustando sua refeição matinal. Drid caiu a seus pés e, todo suado e arfando, disse:
- "Rei, na praia, lá longe, há um crânio que fala".
- "Um crânio que fala!", exclamou o rei. "Homem, estás sóbrio?"
- "Sóbrio, eu? Misericórdia eu não bebi desde ontem mais que uma cabaça de leite de cabra... Rei venerado, eu te suplico que acredite em mim, e eu ouso novamente afirmar que encontrei agora há pouco, quando eu ia à minha pesca cotidiana, um crânio tão perfeitamente falante como qualquer ser vivente".
- "Eu não acredito em nada disto, respondeu o rei. No entanto é possível que tu digas a verdade. Neste caso, não quero arriscar-me a ser o último a ver e ouvir esta considerável manifestação de um morto. Mas te previno: se por engano ou má intenção tu foste levado a vir contar-me uma lorota, homem de nada, tu o pagarás com tua cabeça!"
- "Eu não temo tua cólera, rei perfeito, porque sei bem que não menti", disse Drid, correndo já em direção à porta.
O rei estralou os dedos, tomou seu sabre, colocou-o na cintura e se foi trotando atrás de sua guarda, com Drid, o pescador.
Caminharam ao longo do mar até o monte de algas onde estava o crânio. Drid se inclinou e acariciando amavelmente sua fronte rochosa disse:
- "Crânio, eis diante de ti o rei da minha aldeia. Peço, por favor, diga-lhe algumas palavras de boas vindas".
Nenhum som saiu das mandíbulas de osso. Drid se ajoelhou, o coração batendo mais rápido.
- "Crânio, por piedade, fale. Nosso rei tem uma orelha fina, um murmúrio lhe será suficiente. Diga-lhe, eu te suplico, quem te trouxe até aqui".
O crânio miraculoso não pareceu entender mais que um crânio vulgar; permaneceu tão firmemente depositado quanto o mais medíocre dos crânios, tão mudo quanto um crânio imperturbavelmente instalado na sua definitiva condição de crânio, sob o grande sol entre as algas secas. Pois, calou-se obstinadamente.
O rei, fortemente irritado por ter sido incomodado por nada, tirou seu sabre da cintura com um rápido movimento.
- "Maldito mentiroso!", disse ele.
E sem outro julgamento, de um golpe certeiro arrancou a cabeça de Drid. Após o que, voltou reclamando para os seus assuntos de rei, ao longo das ondas.
Então, enquanto o rei se distanciava, o crânio abriu enfim seus maxilares rangendo e disse à cabeça do pescador que, rolando sobre a areia, viera juntar-se à sua, face contra face:
- "Cabeça, pobre cabeça, quem te conduziu até aqui?"
A boca de Drid se abriu, a língua de Drid saiu entre seus dentes e a voz de Drid respondeu:
- "A palavra".
Era uma vez um pescador chamado Drid. Era um homem distinto, era vigoroso, de ar franco e seu olhar, quando ele ria, era tão vivo quanto o sol. Ora, eis o que lhe aconteceu:
Uma manhã, quando ele andava ao longo da praia, com sua vara de pesca sobre as costas, o rosto ao vento e os pés na areia molhada pelo movimento das ondas, encontrou em seu caminho um crânio humano. Esta parte humana depositada entre as algas secas, excitou imediatamente seu humor alegre e brincalhão. Ele parou diante do crânio, se inclinou e disse:
- Crânio, pobre crânio quem te conduziu até aqui?
Ele riu, não esperando nenhuma resposta. No entanto os maxilares esbranquiçados da peça se abriram num rangido e o pescador escutou esta simples frase:
- A palavra...
Drid saltou para trás; ficou um momento afoito como um animal assustado; depois vendo a cabeça do velho defunto tão imóvel e inofensiva quanto uma pedra, pensou ter-se enganado por algum sussurro da brisa, reaproximou-se prudentemente e repetiu, a voz tremendo, sua questão:
- Crânio, pobre crânio, quem te conduziu até aqui?
- "A palavra..." respondeu o interpelado, desta vez com um quê de impaciência
dolorosa, e uma indiscutível clareza.
Então Drid levou os punhos ao peito, soltou um grito de pavor; recuou, os olhos esbugalhados, deu meia volta e correu com os braços para o céu, como se mil diabos estivessem em seu encalço. Ele correu assim até sua aldeia.
Entrou como um raio nos aposentos de seu rei. O rei era um homem gordo que estava majestosamente sentado à mesa, degustando sua refeição matinal. Drid caiu a seus pés e, todo suado e arfando, disse:
- "Rei, na praia, lá longe, há um crânio que fala".
- "Um crânio que fala!", exclamou o rei. "Homem, estás sóbrio?"
- "Sóbrio, eu? Misericórdia eu não bebi desde ontem mais que uma cabaça de leite de cabra... Rei venerado, eu te suplico que acredite em mim, e eu ouso novamente afirmar que encontrei agora há pouco, quando eu ia à minha pesca cotidiana, um crânio tão perfeitamente falante como qualquer ser vivente".
- "Eu não acredito em nada disto, respondeu o rei. No entanto é possível que tu digas a verdade. Neste caso, não quero arriscar-me a ser o último a ver e ouvir esta considerável manifestação de um morto. Mas te previno: se por engano ou má intenção tu foste levado a vir contar-me uma lorota, homem de nada, tu o pagarás com tua cabeça!"
- "Eu não temo tua cólera, rei perfeito, porque sei bem que não menti", disse Drid, correndo já em direção à porta.
O rei estralou os dedos, tomou seu sabre, colocou-o na cintura e se foi trotando atrás de sua guarda, com Drid, o pescador.
Caminharam ao longo do mar até o monte de algas onde estava o crânio. Drid se inclinou e acariciando amavelmente sua fronte rochosa disse:
- "Crânio, eis diante de ti o rei da minha aldeia. Peço, por favor, diga-lhe algumas palavras de boas vindas".
Nenhum som saiu das mandíbulas de osso. Drid se ajoelhou, o coração batendo mais rápido.
- "Crânio, por piedade, fale. Nosso rei tem uma orelha fina, um murmúrio lhe será suficiente. Diga-lhe, eu te suplico, quem te trouxe até aqui".
O crânio miraculoso não pareceu entender mais que um crânio vulgar; permaneceu tão firmemente depositado quanto o mais medíocre dos crânios, tão mudo quanto um crânio imperturbavelmente instalado na sua definitiva condição de crânio, sob o grande sol entre as algas secas. Pois, calou-se obstinadamente.
O rei, fortemente irritado por ter sido incomodado por nada, tirou seu sabre da cintura com um rápido movimento.
- "Maldito mentiroso!", disse ele.
E sem outro julgamento, de um golpe certeiro arrancou a cabeça de Drid. Após o que, voltou reclamando para os seus assuntos de rei, ao longo das ondas.
Então, enquanto o rei se distanciava, o crânio abriu enfim seus maxilares rangendo e disse à cabeça do pescador que, rolando sobre a areia, viera juntar-se à sua, face contra face:
- "Cabeça, pobre cabeça, quem te conduziu até aqui?"
A boca de Drid se abriu, a língua de Drid saiu entre seus dentes e a voz de Drid respondeu:
- "A palavra".
Uma questão de pontuação
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Um homem rico estava muito mal. Pediu papel e pena. Escreveu assim:
Deixo meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada aos pobres.
Morreu antes de fazer a pontuação. A quem deixava ele a fortuna? Eram quatro concorrentes.
1) O sobrinho fez a seguinte pontuação:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres.
2) A irmã chegou em seguida. Pontuou assim o escrito:
Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres.
3) O alfaiate pediu cópia do original. Puxou a brasa pra sardinha dele:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres.
4) Aí, chegaram os descamisados da cidade. Um deles, sabido, fez esta interpretação:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do alfaiate? Nada! Aos pobres.
Assim é a vida. Nós é que colocamos os pontos. E isso faz a diferença.
Um homem rico estava muito mal. Pediu papel e pena. Escreveu assim:
Deixo meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada aos pobres.
Morreu antes de fazer a pontuação. A quem deixava ele a fortuna? Eram quatro concorrentes.
1) O sobrinho fez a seguinte pontuação:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres.
2) A irmã chegou em seguida. Pontuou assim o escrito:
Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres.
3) O alfaiate pediu cópia do original. Puxou a brasa pra sardinha dele:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres.
4) Aí, chegaram os descamisados da cidade. Um deles, sabido, fez esta interpretação:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do alfaiate? Nada! Aos pobres.
Assim é a vida. Nós é que colocamos os pontos. E isso faz a diferença.
Amor, fartura ou sucesso
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Uma mulher saiu de sua casa e viu três homens com longas barbas brancas
sentados em frente ao quintal dela. Ela não os reconheceu. Depois de observar por algum tempo disse:
- Acho que não os conheço, mas devem estar com fome. Por favor entrem e
comam algo.
- O homem da casa está ? Perguntaram.
- Não, ela disse, está fora.
- Então não podemos entrar. Eles responderam.
A noite quando o marido chegou, ela contou-lhe o que aconteceu.
- Vá diga que estou em casa e convide-os a entrar.
A mulher saiu e convidou-os a entrar.
- Não podemos entrar juntos. Responderam.
- Por que isto ? - Ela quis saber - Um dos velhos explicou-lhe :
- Seu nome é Fartura. Ele disse apontando um dos seus amigos e mostrando o
outro, falou:
- Ele é o Sucesso e eu sou o Amor. E completou:
- Agora vá e discuta com o seu marido qual de nós você quer em sua casa.
A mulher entrou e falou ao marido o que foi dito. Ele ficou arrebatado e
disse:
- Que bom! Ele disse:
- Neste caso vamos convidar Fartura. Deixe-o vir e encher nossa casa de
fartura.
A esposa discordou:
- Meu querido, por que não convidamos o Sucesso ?
A filha do casal que ouvia do outro canto da sala apresentou sua sugestão:
- Não seria melhor convidar o Amor? Nossa casa então estará cheia de amor.
- Atentamos pelo conselho de nossa filha - disse o marido para a esposa - Vá
lá fora e chame o amor para ser nosso convidado.
A mulher saiu e perguntou aos três homens:
- Qual de vocês é o amor? Por favor entre e seja nosso convidado.
O amor levantou-se e seguiu em direção à casa. Os outros dois levantaram-se
e seguiram-no. Surpresa a senhora perguntou-lhes:
- Apenas convidei o Amor, por que vocês entraram?
Os velhos homens responderam juntos :
- Se você convidasse o Fartura ou o Sucesso, os outros dois esperariam aqui
fora, mas se você convidar o Amor, onde ele for iremos com ele. Onde há
amor, há também fartura e sucesso !!!
Autor: Desconhecido
Uma mulher saiu de sua casa e viu três homens com longas barbas brancas
sentados em frente ao quintal dela. Ela não os reconheceu. Depois de observar por algum tempo disse:
- Acho que não os conheço, mas devem estar com fome. Por favor entrem e
comam algo.
- O homem da casa está ? Perguntaram.
- Não, ela disse, está fora.
- Então não podemos entrar. Eles responderam.
A noite quando o marido chegou, ela contou-lhe o que aconteceu.
- Vá diga que estou em casa e convide-os a entrar.
A mulher saiu e convidou-os a entrar.
- Não podemos entrar juntos. Responderam.
- Por que isto ? - Ela quis saber - Um dos velhos explicou-lhe :
- Seu nome é Fartura. Ele disse apontando um dos seus amigos e mostrando o
outro, falou:
- Ele é o Sucesso e eu sou o Amor. E completou:
- Agora vá e discuta com o seu marido qual de nós você quer em sua casa.
A mulher entrou e falou ao marido o que foi dito. Ele ficou arrebatado e
disse:
- Que bom! Ele disse:
- Neste caso vamos convidar Fartura. Deixe-o vir e encher nossa casa de
fartura.
A esposa discordou:
- Meu querido, por que não convidamos o Sucesso ?
A filha do casal que ouvia do outro canto da sala apresentou sua sugestão:
- Não seria melhor convidar o Amor? Nossa casa então estará cheia de amor.
- Atentamos pelo conselho de nossa filha - disse o marido para a esposa - Vá
lá fora e chame o amor para ser nosso convidado.
A mulher saiu e perguntou aos três homens:
- Qual de vocês é o amor? Por favor entre e seja nosso convidado.
O amor levantou-se e seguiu em direção à casa. Os outros dois levantaram-se
e seguiram-no. Surpresa a senhora perguntou-lhes:
- Apenas convidei o Amor, por que vocês entraram?
Os velhos homens responderam juntos :
- Se você convidasse o Fartura ou o Sucesso, os outros dois esperariam aqui
fora, mas se você convidar o Amor, onde ele for iremos com ele. Onde há
amor, há também fartura e sucesso !!!
Autor: Desconhecido
Se você acredita, parece verdade!!
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Quantas vezes já dissemos: " Eu sou assim mesmo " ou " É, as coisas são assim ". Essas frases na realidade estão dizendo que isso é o que acreditamos como verdade para nós, e geralmente aquilo em que acreditamos não passa da opinião de outra pessoa que incorporamos no nosso sistema de crenças. Sem dúvida, ele se ajusta a todas as outras coisas em que cremos.
Você é uma dessas pessoas que acordam numa certa manhã, vêem que está chovendo e dizem: "Que dia miserável"?
Não é um dia miserável. É apenas um dia molhado. Se usarmos as roupas apropriadas e mudarmos nossa atitude, podemos nos divertir bastante num dia chuvoso. Agora, se nossa crença for a de que dias de chuva são miseráveis, sempre receberemos a chuva de mau humor. Lutaremos contra o dia em vez de acompanharmos o fluxo do que está acontecendo no momento.
Não existe "bom" ou "mau" tempo, existe somente o clima e nossas reações individuais a ele.
Se queremos uma vida alegre, precisamos ter pensamentos alegres. Se queremos uma vida próspera, precisamos ter pensamentos de prosperidade. Se queremos uma vida com amor, precisamos ter pensamentos de amor.Tudo o que enviamos para o exterior, mental ou verbalmente, voltará a nós numa forma igual.
Extraído do livro Você pode curar sua vida
Quantas vezes já dissemos: " Eu sou assim mesmo " ou " É, as coisas são assim ". Essas frases na realidade estão dizendo que isso é o que acreditamos como verdade para nós, e geralmente aquilo em que acreditamos não passa da opinião de outra pessoa que incorporamos no nosso sistema de crenças. Sem dúvida, ele se ajusta a todas as outras coisas em que cremos.
Você é uma dessas pessoas que acordam numa certa manhã, vêem que está chovendo e dizem: "Que dia miserável"?
Não é um dia miserável. É apenas um dia molhado. Se usarmos as roupas apropriadas e mudarmos nossa atitude, podemos nos divertir bastante num dia chuvoso. Agora, se nossa crença for a de que dias de chuva são miseráveis, sempre receberemos a chuva de mau humor. Lutaremos contra o dia em vez de acompanharmos o fluxo do que está acontecendo no momento.
Não existe "bom" ou "mau" tempo, existe somente o clima e nossas reações individuais a ele.
Se queremos uma vida alegre, precisamos ter pensamentos alegres. Se queremos uma vida próspera, precisamos ter pensamentos de prosperidade. Se queremos uma vida com amor, precisamos ter pensamentos de amor.Tudo o que enviamos para o exterior, mental ou verbalmente, voltará a nós numa forma igual.
Extraído do livro Você pode curar sua vida
O Granjeiro e o Sábio
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Um granjeiro pediu certa vez a um sábio, que o ajudasse a melhorar sua granja, que tinha baixo rendimento. O sábio escreveu algo em um pedaço de papel e colocou em uma caixa, que fechou e entregou ao granjeiro, dizendo
- "Leva esta caixa por todos os lados da sua granja, três vezes ao dia, durante um ano."
Assim fez o granjeiro. Pela manhã, ao ir ao campo segurando a caixa, encontrou um empregado dormindo, quando deveria estar trabalhando. Acordou-o e chamou sua atenção. Ao meio dia, quando foi ao estábulo, encontrou o gado sujo e os cavalos sem alimentar. E à noite, indo à cozinha com a caixa, deu-se conta de que o cozinheiro estava desperdiçando os gêneros.
A partir daí, todos os dias ao percorrer sua granja, de um lado para o outro, com com seu amuleto, encontrava coisas que deveriam ser corrigidas.
Ao final do ano, voltou a encontrar o sábio e lhe disse : "Deixa esta caixa comigo por mais um ano; minha granja melhorou o rendimento desde que estou com o amuleto."
O sábio riu e, abrindo a caixa, disse :
- "Podes ter este amuleto pelo resto da sua vida."
No papel havia escrito a seguinte frase : "Se queres que as coisas melhorem deves acompanhá-las constantemente".
Um granjeiro pediu certa vez a um sábio, que o ajudasse a melhorar sua granja, que tinha baixo rendimento. O sábio escreveu algo em um pedaço de papel e colocou em uma caixa, que fechou e entregou ao granjeiro, dizendo
- "Leva esta caixa por todos os lados da sua granja, três vezes ao dia, durante um ano."
Assim fez o granjeiro. Pela manhã, ao ir ao campo segurando a caixa, encontrou um empregado dormindo, quando deveria estar trabalhando. Acordou-o e chamou sua atenção. Ao meio dia, quando foi ao estábulo, encontrou o gado sujo e os cavalos sem alimentar. E à noite, indo à cozinha com a caixa, deu-se conta de que o cozinheiro estava desperdiçando os gêneros.
A partir daí, todos os dias ao percorrer sua granja, de um lado para o outro, com com seu amuleto, encontrava coisas que deveriam ser corrigidas.
Ao final do ano, voltou a encontrar o sábio e lhe disse : "Deixa esta caixa comigo por mais um ano; minha granja melhorou o rendimento desde que estou com o amuleto."
O sábio riu e, abrindo a caixa, disse :
- "Podes ter este amuleto pelo resto da sua vida."
No papel havia escrito a seguinte frase : "Se queres que as coisas melhorem deves acompanhá-las constantemente".
domingo, 27 de junho de 2010
um 'anjo' com os pés assentes na terra
Austrália
por ABEL COELHO DE MORAISHoje
A baía de Sydney não é apenas conhecida pelo edifício da Ópera, pelos fogos-de-artifício que envolvem a sua ponte nem pela proximidade de belas praias. É também assinalada pela existência de um penhasco onde muitos vão para porem fim à vida. Para os dissuadir, lá está o 'anjo de Sydney'.
Don Ritchie muitas vezes teve de arriscar a sua vida para salvar a dos outros. Conhecido como o "anjo da guarda de Sydney", durante mais de meio século dedicou-se a vigiar um local à entrada do porto desta cidade australiana, o promontório The Gap, tristemente conhecido por ser um ponto procurado por aqueles que querem pôr termo à vida.
Apenas uma pequena vedação de um metro de altura bloqueia o acesso ao precipício. Só recentemente o município local pediu um subsídio ao Governo federal para edificar um muro de segurança mais elevado e outros sistemas de protecção.
O que não podia suceder em momento mais adequado: Ritchie anunciou que, aos 84 anos, vai reformar-se da sua função de "anjo da guarda".
"Creio que alguém irá aparecer para fazer o que tenho feito até aqui", disse na passada semana numa das entrevistas dadas aos jornais australianos e agências internacionais quando se soube que este antigo agente de seguros ia cessar a sua vigília ao The Gap.
Ritchie sabe por experiência própria o valor da vida e da morte. Nestes últimos anos, foi-lhe diagnosticado um cancro para o qual está a receber tratamento.
Marinheiro na sua juventude, Ritchie não segue uma qualquer estratégia psicanalítica nem sugere estar em condições de resolver os problemas e as causas de angústia na vida de cada um. "Apenas sorrio", explica. "De facto, muitos deles não querem pôr fim à vida. Querem principalmente que desapareça o sofrimento, a dor, por que estão a passar".
Por isso, Ritchie acredita que "alguém que seja capaz de se mostrar bondoso, de mostrar esperança, está em condições de ajudar muitas pessoas". É isso que ele faz: ofereço-lhes "uma alternativa" quando pergunta "se querem falar" e os convida para "tomarem um chá" na sua casa. "Às vezes aceitam." Claro que nem sempre conseguiu esse objectivo e nos seus tempos de maior destreza física foi forçado a impedir pessoas de saltarem enquanto a sua mulher, Moya, telefonava para a polícia. Numa das vezes, o próprio esteve quase a cair ao precipício, quando tentou impedir uma mulher de saltar. Se esta se tivesse lançado, ele teria caído primeiro.
Nesses tempos, Ritchie ajudava as equipas de salvamento a recuperarem os corpos dos que se lançavam do The Gap.
Para muitos, a localização da pequena moradia de dois andares deste casal com três filhas e três netos seria uma "maldição". A ideia de estar à janela e ver alguém do outro lado da rua saltar para o precipício não seria uma visão agradável. Mas para Ritchie e para a mulher é "uma bênção". "Acreditamos que é maravilhoso vivermos onde vivemos e ajudar as pessoas", diz Moya.
Isso mesmo reconheceu o Governo de Camberra ao entregar ao casal, em 2006, a Medalha da Ordem da Austrália, uma das mais importantes distinções civis.
Ritchie "não se deixa abater por ter morrido alguém. Já não se lembra do primeiro suicídio a que assistiu", diz a mulher. "Ele acredita que faz o melhor possível por cada pessoa, e quando as perde aceita que não havia nada a fazer naquele caso." Mas houve, pelo menos, 160 situações em que Ritchie conseguiu salvar vidas.
Num dos artigos sobre o "anjo da guarda de Sydney" era recordada uma história muitas vezes citada quando se fala do suicídio. É a história passada nos anos 70 de um homem que deixou uma mensagem no seu apartamento. Nela lia-se: "Vou andar até à ponte. Se alguém sorrir para mim durante o caminho, não saltarei." Ninguém sorriu. Aos 30 e poucos anos de idade, lançou-se da Ponte Golden Gate, em San Francisco. É esta a diferença entre a vida e a morte. É este o valor do sorriso de Don Ritchie.
terça-feira, 22 de junho de 2010
Psiquiatria e mediunismo
O olhar dos psiquiatras brasileiros sobre os
fenômenos de transe e possessão
(Revista de Psiquiatria Clínica - VOLUME 34 • SUPLEMENTO 1 • 2007 http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/)
Brazilian psychiatrists’ approaches on trance and possession phenomena Angélica A. Silva de Almeida1,2, Ana Maria G. R. Oda3, Paulo Dalgalarrondo4
1 Mestre e doutora pelo Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
2 Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde (Nupes) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
3 Pesquisadora e professora colaboradora do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.
4 Professor Titular do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.
Endereço para correspondência: Angélica A. Silva de Almeida. Rua Capitão Arnaldo de Carvalho, 693, Ap. 202 –
36036-180 – Juiz de Fora, MG.
E-mail: alexgecaio@gmail.com
Resumo
Contexto: Os fenômenos de transe e possessão despertaram o interesse da comunidade psiquiátrica brasileira, gerando posturas diversificadas.
Objetivos: Descrever e analisar como os fenômenos de transe e possessão foram tratados pelos psiquiatras brasileiros: seu impacto na teoria, na pesquisa e na prática clínica entre 1900 e 1950.
Método: Análise de artigos científicos e leigos, teses e livros sobre transes e possessões produzidos pelos psiquiatras brasileiros entre 1900 e 1950.
Resultados: Identificam-se duas correntes de pensamento entre os psiquiatras. A primeira, vinculada às Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e São Paulo, sob forte influência de autores franceses, deteve-se mais na periculosidade do espiritismo para a saúde mental. Defendia a adoção de medidas repressivas com o poder público. O segundo grupo de psiquiatras, ligado às Faculdades de Medicina da Bahia e Pernambuco, embora não desconsiderasse o caráter patológico ou “primitivo” dos fenômenos de transe e possessão, apresentou uma visão mais antropológica e culturalista. Considerando tais fenômenos como manifestações étnicas ou culturais, alguns defenderam o controle médico e a educação do povo para o abandono dessas práticas “primitivas”. Outros não consideravam os fenômenos mediúnicos como desencadeadores da loucura, mas manifestações não-patológicas de um universo cultural, além de não vinculá-los ao atraso cultural da população.
Conclusões: As religiões mediúnicas foram objeto de estudo por longo período, resultando hipóteses e práticas diferenciadas por parte da comunidade psiquiátrica brasileira, constituindo-se oportunidade privilegiada para o estudo do impacto dos fatores socioculturais na atividade psiquiátrica.
Almeida, A.A.S. et al. / Rev. Psiq. Clín. 34, supl 1; 34-41, 2007
Palavras-chave: História da psiquiatria, religião, transe, possessão e espiritismo.
Abstract
Background:Trance and possession experiences have raised interest among Brazilian psychiatrists resulting in a variety of approaches.
Objectives: To describe and analyze how Brazilian psychiatrists approached trance and possession experiences: these experiences’ impact on theory, research and clinical practice between 1900 and 1950.
Method: Analysis of papers, thesis, and books on trances and possessions written by Brazilian psychiatrists between 1900 and 1950.
Results: We detected two main approaches, the first one, related to schools of medicine in Rio de Janeiro and São Paulo, under strong influence of French researchers, focused on the dangers of spiritism to mental health. They advocated a repressive action to be enforced by governmental authorities. Psychiatrists from schools of medicine in Bahia and Pernambuco formed the second group. Although having not denied the “primitive” or pathological nature of trance and possession phenomena, they held a more anthropological and cultural approach. Some psychiatrists considered these experiences as racial or cultural manifestations, and claimed that the education and medical control of people would make them give up these primitive practices. Others have not considered that mediumistic phenoma are related to mental disorders or inferior cultural level.
Discussion: Mediumistic religions were the subject of a long-term investigation conducted by Brazilian psychiatrists resulting in diversified theories and practices which represent a valuable opportunity for the study of sociocultural factors’ impact on the psychiatric activity.
Almeida, A.A.S. et al. / Rev. Psiq. Clín. 34, supl 1; 34-41, 2007
Key-words: History of psychiatry, religion, trance, possession, spiritism.
Introdução
Na primeira metade do século XX, os alienistas julgavam-se em condições privilegiadas para definir os rumos e as regras de funcionamento da sociedade. Entre os diversos focos de investigação e análise, os fenômenos de transe e possessão, fomentados pelas religiões mediúnicas, despertaram grande interesse da comunidade psiquiátrica brasileira, gerando posturas diversificadas. Identificam-se, entre os psiquiatras, quatro abordagens sobre os fenômenos de transe e possessão: prejudiciais para a saúde mental, fraude e exploração da credulidade pública; associação com a histeria e o atraso cultural; benéficos para a restauração e manutenção da saúde, mas ainda associados ao atraso cultural; nenhuma ligação com danos para a saúde e com baixo nível cultural.
A comunidade psiquiátrica pertencente ao eixo Rio de Janeiro-São Paulo adotou uma postura mais “medicalizante”, influenciada principalmente por autores franceses. Enfatizou o papel das religiões mediúnicas como causa de loucura, chegando a considerá-la a terceira maior causa de alienação mental. O psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro Henrique Roxo criou uma nova classe diagnóstica intitulada “delírio espírita episódico”. O combate às práticas mediúnicas teve destaque como medida de promoção da “higiene mental”, cobrando a atuação do poder público no sentido de intensificar a repressão sobre tais práticas.
Alguns psiquiatras vinculados às Faculdades de Medicina da Bahia e de Pernambuco, embora geralmente considerando o caráter patológico ou “primitivo” de tais fenômenos, apresentaram uma visão mais antropológica. Destacaram os aspectos socioculturais envolvidos nos fenômenos de transe e possessão, e a busca de entendimento do comportamento humano. Essa corrente não preconizou medidas repressivas policiais nem judiciais, mas um maior respeito a essas práticas, consideradas manifestações religiosas étnicas ou culturais.
Nina Rodrigues e a possessão pelos orixás
A Entre 1896 e 1897, o médico maranhense Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) publicou suas pioneiras pesquisas sobre os fenômenos de possessão observados nos cultos afro-brasileiros dos terreiros de candomblé de Salvador (BA). O animismo fetichista dos negros baianos (1935)1 estuda a teologia e a liturgia afro-baiana, apresenta os orixás e suas atribuições no Brasil e na África, comenta os oráculos, os estados-de-santo, as cerimônias de culto público e os ritos funerários.
É importante ressaltar que sua vasta produção se insere no grande debate nacional ocorrido no período próximo da Abolição, quando o “problema do negro” passa a ser especificamente uma questão científica, vista pelas lentes da teoria da degenerescência, do determinismo climático e das crenças na inferioridade inata da “raça negra” e nos malefícios dos cruzamentos étnicos. Diante dessas teorias, os pensadores brasileiros viram-se obrigados a refletir sobre o futuro de um país mestiço de clima tropical (e, ainda, de uma república nascente sob a sombra da herança escravista), reflexão para a qual Nina Rodrigues explicitamente pretendeu colaborar (Oda, 2003).
Cientista convicto, o autor enfatiza que não pretendia alimentar as querelas que ocorriam entre “deistas e ateístas”, mas apenas estudar as manifestações religiosas “nos domínios do cognoscível” (Nina Rodrigues, 1935, p. 15), ou seja, no que se considerava então como domínios científicos.
Assim Nina Rodrigues (1935, p. 99-100, grifos no original) descreve o estado de possessão pelos orixás, também chamados santos2: “Como na possessão demoníaca, como na manifestação espírita, o santo fetichista pode apoderar-se, sob invocação especial do pai-de-terreiro, ou ainda de qualquer filho-de-santo, e por intermédio deles falar e predizer. A pessoa em quem o santo se manifesta, que está ou cai de santo na gíria do candomblé, não tem mais consciência de seus atos, não sabe o que diz, nem o que faz, porque quem fala e obra é o santo que dele se apoderou. Por esse motivo, desde que o santo se manifesta, o indivíduo que dele é portador perde a sua personalidade terrestre e humana para adquirir, com todas as honras a que tem direito, a do deus que nele se revela”.
Incorporando a discussão psicopatológica ao relato etnográfico, o autor considera o estado-de-santo relacionado ao sonambulismo provocado por sugestão. Postula que é a música, ritmada e monótona, que impele à dança e esta leva ao estado de possessão; compara o batuque dos candomblés aos métodos que produziam hipnose por fadiga da atenção (como os usados por Charcot na Salpêtrière). Salienta, ainda, os papéis da sugestão verbal, criada pela confiança ilimitada nos chefes dos terreiros e em suas palavras mágicas e pelo ambiente religioso.
Em resumo, considera como típicos da estrutura fenomenológica apresentada nos quadros de possessão: alteração qualitativa de consciência causada por sugestão e manifestada por estado sonambúlico, modificações nesse estado por meio de respostas verbais e físicas dadas às injunções sugestivas feitas por uma figura de autoridade, assunção temporária de outras identidades, confusão mental ou sonolência, além de grande desgaste físico e amnésia ao sair do processo. Além dessa forma “clássica” do estado-de-santo, observa que as manifestações poderiam ser frustras ou incompletas, mas também se prolongar em “delírio furioso e duradouro”, o que ele considera “desvios, aberrações do verdadeiro estado-de-santo” (Nina Rodrigues, 1935, p. 109).
Para Nina Rodrigues, o estado-de-santo seria sempre sugestivo, mas nem sempre histérico, pois acreditava que estados semelhantes de “estreitamento do campo de consciência” (ele usa aqui o conceito de Pierre Janet) surgiriam em outras condições mórbidas, como em neurastênicos – sujeitos em estado de esgotamentos físico e mental permanentes e progressivos – e em deficientes mentais.
Com relação aos fenômenos mediúnicos das chamadas “seitas espíritas”, surgidas em contextos urbanos modernos, o autor supôs que teriam causas e mecanismos similares aos que descrevera para os estados-de-santo, mas não os observou nem estudou em detalhes (Nina Rodrigues, 1935). Comenta sobre a “loucura espírita” em artigo sobre as “loucuras epidêmicas no Brasil” (1901), em que se vale de informações fornecidas pelo psiquiatra paulista Francisco Franco da Rocha.
A maior crítica que dirige aos praticantes do espiritismo, sobretudo aos “chefes de seita”, é a de estimularem fenômenos psicopatológicos latentes, o que sob certas condições poderia conduzir à loucura coletiva ou ao crime – crítica comum entre os alienistas europeus citados pelo médico brasileiro (Nina Rodrigues, 1939).
Sobre a religião do candomblé, a despeito de atribuir a origem de seus transes e possessões a um mecanismo mental patológico, pode-se dizer que Nina Rodrigues considerava que esses fenômenos poderiam ter valor psicológico positivo, por seus efeitos catárticos, e por se apresentarem de forma ritualizada e altamente controlada pelo grupo religioso, em especial pelos pais-de-terreiro. Além disso, pensava que tais manifestações religiosas satisfariam as necessidades emocionais “primitivas” dos seus adeptos, e não deveriam ser reprimidas.
Porém, fora desse contexto religioso estrito, costumava denunciar o abuso que “feiticeiros africanos” cometeriam, sobretudo influenciando negativamente mulheres histéricas das classes mais altas, já que as crenças em feitiços e possessões se estendiam por toda a sociedade baiana. Para sua psicologia evolucionista, tais crenças eram incompatíveis com a mentalidade dita “civilizada” (Nina Rodrigues, 1935).
Politicamente, Nina Rodrigues posicionava-se contra a repressão policial sistemática e arbitrária que os terreiros de candomblé sofriam na época, pois os considerava templos onde ocorriam manifestações religiosas, legítimas em um país que tinha assegurada a liberdade de culto3. Assim, o fato de se pautar por paradigmas científicos racialistas não o impediu de ter uma relação amistosa com seus “objetos” de estudo, em uma postura que chamaríamos hoje de paternalista (Oda, 2003).
1 Os artigos publicados inicialmente em um importante periódico cultural, a Revista Brasileira, foram reunidos neste livro, editado postumamente. Denominava-se animismo a crença que atribuiria a cada ser vivo ou coisa um espírito próprio. A antropologia cultural evolucionista considerava o fetichismo (ou feiticismo) uma das etapas da vida religiosa, anterior ao politeísmo e própria dos povos considerados primitivos (o monoteísmo seria atributo dos povos mais desenvolvidos).
2 Orixás são as muitas divindades do panteão iorubá, criadas pelo deus supremo Olodumare, mais conhecido no Brasil como Olorum, que literalmente significa o Dono do Céu (Prandi, 2001).
3 Há registros dessas defesas em estudos que seriam postumamente reunidos no livro Os Africanos no Brasil. Ali, ele comenta indignado tanto a ação ilegal da polícia quanto a posição da imprensa local sensacionalista que veiculava mentiras sobre o que seriam os terreiros (Nina Rodrigues, 1982).
Fenômenos de transe e possessão:
a antecâmara da loucura
A primeira publicação psiquiátrica brasileira que localizamos a respeito dos problemas relacionados às práticas mediúnicas é de 1896 e foi escrita por Franco da Rocha (1864-1933)4. No século XX, proliferaram as conferências, publicações e teses defendidas nas Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e São Paulo (Pimentel, 1919; Guimarães Filho, 1926; Marques, 1929; Cavalcanti, 1934). Essas manifestações foram assumindo um discurso cada vez mais radical (Giumbelli, 1997). A maioria defendia a proposição de o espiritismo5, por desencadear a loucura, ser um perigo social que deveria ser fortemente combatido. Xavier de Oliveira6 destacava que o espiritismo seria o terceiro maior “fator de alienação mental”, atrás apenas do álcool e da sífilis (Oliveira, 1931).
Em 1909, houve uma sessão da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro que tratou dos “perigos do espiritismo” (Magalhães, 1939 a,b). A mesma Sociedade voltou ao tema em 1927, tratando do “problema do espiritismo”. Após discussão, foi aprovada a proposta de se instituir uma comissão para estudar o assunto e obter leis que vetassem “essa prática prejudicial”. Não se procedeu propriamente a uma investigação dos fenômenos mediúnicos, mas a um “inquérito entre especialistas brasileiros”. Para a realização do inquérito, foram elaboradas quatro questões, enviadas para 12 pessoas: um engenheiro (professor da Escola Politécnica do Rio) e 11 destacados médicos e professores das Faculdades de Medicina e Direito do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia7. Entretanto, nenhum desses “especialistas” tinha realizado pesquisas sobre o tema, apenas reproduziram opiniões correntes.
Apesar de nenhuma pesquisa baseada na observação direta dos fenômenos ter sido apresentada, a resposta consensual foi basicamente de que a prática mediúnica seria prejudicial, principalmente desencadeando psicopatologia em predispostos. Talvez essa tenha sido a primeira pesquisa similar a um Consenso entre Especialistas (Expert Consensus) do Brasil.
Além de desencadear a loucura, as práticas espíritas também eram acusadas de induzir o suicídio (Caldas, 1929), estupro (Peixoto, 1909), homicídio e desagregação da família (Ribeiro e Campos, 1931; Oliveira, 1931).
Poucas foram as opiniões médicas dissonantes sobre as relações entre espiritismo e loucura, principalmente no eixo Rio de Janeiro-São Paulo. É marcante a quase ausência, nas publicações de cunho científico, das manifestações de médicos contrários ao conceito da loucura espírita (Cesar, 1941, 1942). Entretanto, na imprensa leiga, essas opiniões divergentes podem ser encontradas com maior facilidade. A maioria dos psiquiatras que desenvolveu argumentos de maior tolerância em relação às práticas mediúnicas esteve vinculada às Faculdades de Medicina da Bahia e de Pernambuco, como detalharemos adiante.
4 Fundador do Hospital do Juquery, um marco na história da saúde pública do estado de São Paulo. Fundador da primeira sociedade de psicanálise da América do Sul. Foi o primeiro professor da cadeira de Neuropsiquiatria da Faculdade de Medicina de São Paulo, atual USP. Assumiu o cargo no ano de 1918. Disponível em: http://ctjovem.mct.gov.br/index.php?action=/content/view&cod_objeto=11281. Consulta realizada no dia 30 de junho de 2006.
5 A palavra espiritismo, que foi criada por Allan Kardec para caracterizar a doutrina codificada por ele há exatamente 150 anos, sempre foi utilizada, especialmente no Brasil, para definir gama de manifestações mediúnicas. Tanto que freqüentemente encontramos a denominação espiritismo kardecista, espiritismo de umbanda etc. Para muitos, acreditar em espíritos, na possibilidade de intercâmbio entre os mundos “físico e espiritual” e na realização de sessões mediúnicas que viabilizassem essa comunicação eram características de uma única religião. A distinção completa entre as diversas religiões mediúnicas (candomblé, umbanda, espiritismo), embora fosse uma bandeira antiga do movimento espírita brasileiro, ainda não se concretizou até hoje.
6 Professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e médico do Hospital Nacional de Psicopatas.
Etiopatogenia da “loucura espírita”
As teorias da dissociação mental histérica e dos automatismos psicológicos, do médico e psicólogo Pierre Janet8 (1859-1947), foram as mais adotadas pelos psiquiatras para explicar a mediunidade. Janet considerava que na atividade mental normal haveria uma função de síntese que integrava as percepções sensoriais vivenciadas e transformadas em idéias conscientes. Nos histéricos, ocorreria uma fraqueza psíquica constitucional dessa função integradora, de maneira que eles eram mais sensíveis a se “dissociarem” por meio de sugestão ou em situações traumáticas; a teoria dos automatismos psicológicos explicaria os comportamentos nas crises dissociativas, quando “idéias fixas subconscientes” seriam reproduzidas (Nina Rodrigues, 1935; Morel, 1997).
Tal desagregação dos processos mentais, temporária em situações de transe, poder-se-ia tornar permanente, caminhando para a alucinação e o delírio. A maioria dos psiquiatras brasileiros concordava com a tese de que o espiritismo faria a maior parte de suas vítimas entre aqueles que já apresentassem certa predisposição psicopatológica, e muitos destes se manteriam nos limites da normalidade caso não fossem expostos repetidamente a fortes emoções (como nas sessões espíritas).
8 Pierre-Marie Janet foi um dos precursores da chamada psicologia experimental. Em O Estado Mental das Histéricas, ele expôs suas noções de campo de consciência e de seu estreitamento e de integração e fraqueza psíquicas. Desenvolveu ainda modelos explicativos comparativos entre os mecanismos psicológicos da histeria e de um estado de fraqueza psíquica que chamou de psicastenia (Morel, 1997).
Tipos clínicos: espiritopatia, mediunopatia, delírio espírita episódico...
Apesar da concordância quanto ao caráter patogênico do espiritismo, havia divergências sobre quais seriam os quadros clínicos decorrentes. A maioria pensava que seriam desencadeados transtornos mentais já descritos na literatura, mas com o colorido espírita.
Henrique de Brito Belford Roxo (1877-1969) foi o principal defensor de uma tese mais ampla quanto ao caráter psicopatogênico do espiritismo. Chegou a criar uma nova classe diagnóstica, o “delírio espírita episódico”, que foi apresentada em uma conferência médica realizada em 1936, em Paris. Seria uma doença freqüente, responsável por 5% a 10% das internações psiquiátricas. Procurava enfatizar que muitas pessoas não apresentavam perturbações mentais antes de freqüentarem as sessões espíritas (Roxo, 1938).
Controvérsias sobre a terapêutica espírita
Um outro aspecto, que também mobilizou a classe médica contra o espiritismo, dizia respeito às terapêuticas espíritas empregadas para as doenças físicas e mentais. Os perigos representados pelo espiritismo para a sociedade não ficariam restritos apenas aos riscos do desencadeamento de transtornos mentais. As atividades de cura promovidas pelos espíritas também seriam uma importante fonte de riscos para a saúde da população. Essas práticas poderiam prejudicar a população, que seria levada a acreditar no tratamento espiritual e ficaria privada de uma assistência médica adequada.
O médico Carlos Fernandes (Jornal do Commercio, 1939a, d, g; Diário da Noite, 1939b, c, e, f; O Jornal, 1939) encaminhou moções para o Governo e o Ministro da Justiça solicitando punição para os espíritas que praticassem a medicina ilegalmente e intervenção policial nos centros, fazendo cumprir os Artigos 156, 157 e 158 do Código Penal de 1890, que criminalizavam as práticas espíritas. Tais artigos garantiriam o enquadramento dos “médiuns receitistas” 9 como charlatães e suas práticas como exercício ilegal da medicina.
O debate sobre a questão da legitimidade e da legalidade das “outras” práticas de cura acompanha o processo de institucionalização da medicina brasileira desde seu início, por volta de 1830. Com relação ao fim do século XIX, Schwarcz destaca que uma questão que ocupava constantemente as páginas da revista Brazil Médico, criada em 1887, era exatamente o problema do “charlatanismo”. Na conformação de uma identidade de grupo, curandeiros, práticos e “herbalistas” surgiam como inimigos necessários, já que, ao apontar o “outro, curandeiro”, mais bem se reconhecia a “nós, médicos”
(Schwarcz, 2001, p. 222).
9 O “médium receitista” era o indivíduo que, supostamente inspirado por um espírito, diagnosticava doenças e prescrevia tratamento, na maioria das vezes, homeopático
A profilaxia da “loucura espírita”
Na década de 1930, as investigações dos psiquiatras sobre o espiritismo foram seguidas de campanhas destinadas ao seu combate, que envolviam exigências de fechamento de centros, destruição das publicações espíritas, campanhas de “esclarecimento sobre os perigos do espiritismo”, a aliança com o poder público a fim de coibir energicamente essas práticas, fazendo cumprir o Código Penal que as criminalizava, prisão ou internação dos médiuns, avaliação e prévio registro dos membros dos centros espíritas, proibição de programas de divulgação espírita e educação do povo (Oliveira, 1931; Ribeiro e Campos, 1931; Roxo, 1938, Pacheco e Silva, 1936). No entanto, os médicos queixavam-se constantemente da falta de apoio das autoridades judiciais no combate intensivo ao espiritismo
(Oliveira, 1931; Ribeiro e Campos, 1931).
Um olhar antropológico – as faculdades de Medicina da Bahia e do Recife
O médico alagoano Arthur Ramos (1903-1949), apesar de iniciar sua obra em uma perspectiva evolucionista, como evidenciado em sua tese de doutoramento, Primitivo e Loucura (1926), enveredou posteriormente por uma via mais culturalista e psicodinâmica. Com o amadurecimento de suas pesquisas, foi enfatizando fatores culturais (e abandonando os étnicos), deixando para trás a perspectiva racialista havia tempos defendida por muitos médicos e pesquisadores. Suas obras sobre cultura e religiosidade dos negros brasileiros revelaram um trabalho etnográfico e de psicologia social apurado e meticuloso, no qual buscou identificar os pontos de encontro entre a herança cultural africana (incluindo a religiosidade) e a psicologia de todo um grupo social (Ramos, 1937). Manteve, como Nina Rodrigues, o referencial teórico em que aproximou possessão à histeria vista na época segundo uma perspectiva psicodinâmica, influenciada por autores como Freud e Jung.
No Recife, o psiquiatra Ulysses Pernambucano (1892-1943), preocupado com a questão das doenças mentais nos negros, empreendeu e apoiou nos anos de 1920 e 1930 uma série de estudos estatísticos (1938) e etnográficos (Lucena, 1982). Incentivou seu primo e interlocutor intelectual Gilberto Freyre 10 a organizar o 1o Congresso Afro-Brasileiro em 1934, no Recife. Defendia uma visão tolerante em relação aos cultos afro-brasileiros 11, pois, ao que parece, não via neles a origem de transtornos mentais, mas a manifestação cultural das camadas pobres da população. Com relação ao mecanismo mental que originaria os fenômenos de possessão, Pernambucano teria adotado a proposta explicativa feita pelo antropólogo norte-americano Melville Herskovits de que estes não teriam caráter histérico nem psicopatológico, mas seriam resultado de um processo mental normal, expressões de reflexos condicionados, conforme a definição de Pavlov: um estímulo específico desencadeando sempre uma reação correspondente (Ribeiro, 1988).
Estes dois autores nordestinos, Pernambucano e Ramos, defendiam o controle médico sobre as religiões de caráter mediúnico, sobretudo sobre a sanidade mental dos seus chefes, mas eram firmemente contrários à repressão policial. Educar o povo seria a melhor solução para impedir o avanço dessas idéias místicas e primitivas.
Um aluno de Ulysses Pernambucano, René Ribeiro, a partir dos anos de 1930 (1937) e, sobretudo, na década de 1950, realizou de forma original uma série de investigações em sujeitos freqüentadores de cultos negros do Recife (1952a, 1952b, 1956), assim como entre negros pobres convertidos a Igrejas pentecostais (1957). Ele visava a “penetrar os mecanismos psicológicos de uma das formas supremas da experiência religiosa que é a possessão”. Seu trabalho incluiu uma descrição etnográfica cuidadosa dos cultos, símbolos e hierarquias relacionados a tal religiosidade, assim como o emprego cuidadoso do teste de Rorschach em sujeitos tanto em estado de vigília quanto em estado de transe 12. Para Ribeiro, as dissociações produzidas pela experiência religiosa tinham, entre outras, a finalidade de operar como um mecanismo de escape “perante uma situação de forte pressão externa”. Assim, ele concluiu ser a possessão um fenômeno normal, compreendido mediante a identificação de padrões culturais dos participantes e dos condicionamentos que as normas grupais impõem.
10 Gilberto Freyre diz que “(...) sem o inteligente e eficiente apoio que Ulysses Pernambucano deu a idéia, para a época extravagante e um tanto burlesca, nunca o tal Congresso teria se reunido”. In: Freyre G. Problemas brasileiros de antropologia. José Olympio, Rio de Janeiro, 1973.
11 Para uma breve e lúcida biografia intelectual de Ulysses Pernambucano, ver Pereira (2005).
12 René Ribeiro realizou uma utilização realmente original do teste de Rorschach. Modificou a técnica aplicando-o durante o estado-de-santo. Solicitava aos sujeitos que encarassem o procedimento como algo análogo a jogar búzios e que, no contexto de seus símbolos sagrados, falassem como se estivessem dentro do sistema divinatório. Os sacerdotes contribuíram na interpretação do material ajuntando os seus conhecimentos do sistema religioso que lideravam.
Em um trabalho posterior, Ribeiro (1957) investigou os estados de transe de negros no contexto do pentecostalismo e sua função integrativa sobre a saúde mental. Ele fala aqui de experiências extáticas cultivadas nessas igrejas (possessão pelo Espírito Santo) e de verdadeiras sessões de possessão para benefícios físico e espiritual dos membros da congregação em dificuldades com doenças ou outros males. Cita entrevistas que fez nas quais essas “pessoas de cor preta” relatam o “gozo” da possessão pelo Espírito Santo; um sujeito entrevistado disse: “(...) é um gozo que não se pode nem sondar; recebe no coração e fica até três dias sem poder falar a sua língua (...) outros têm visão; eu fiquei como entre o céu e a terra”. Outro sujeito afirmava que quando falou em línguas, o gozo foi inefável: “(...) a gente fica como criança (...) é um gozo que enche o coração”. Ainda outra entrevistada dizia que se sentia “(...) como quem estava nas chamas de fogo e falou em línguas (...) senti tanta alegria, que falei novas línguas (...) cada dia a alegria vai aumentando (...) o gozo de servir a Deus”.
Nos anos de 1960 e 1970, o psiquiatra Álvaro Rubim de Pinho (1922-1996) realizou trabalhos de psiquiatria cultural que revelaram originalidade e acurada sensibilidade cultural. Em A visão psiquiátrica do misticismo, Pinho (1975) analisou a sobreposição entre experiência mística e transtorno mental. Para o autor, “a idéia e o sentimento religioso são de todos os momentos da história. (...) Em todos, terão existido psicoses e comportamentos desviantes”. Reconhece, por outro lado, que místicos não psicóticos, frutos quase exclusivos de fatores socioculturais, existiram individualmente ou agrupados, em todas as seitas e todas as eras.
O que é particularmente importante nesse artigo é destacar a crítica de Rubim de Pinho à visão medicalizante e estreita da psiquiatria em relação a fenômenos como a possessão, a demonopatia, os transes mediúnicos e os estados-de-santo. Para ele, a psiquiatria sempre identificou esses estados como dissociação histérica. Ele diz que se os histéricos utilizam mecanismos dissociativos, de alteração da consciência, nada impede, entretanto, que pessoas psiquicamente sadias, quando acionadas por fatores culturais e religiosos, desenvolvam estados alterados de consciência sem significação patológica. Para o pesquisador, as “(...) populações dos centros espíritas e candomblés incluem imensa maioria de pessoas normais, simultaneamente com a minoria de anormais, estes em parte levados pela expectativa das curas”. Ele chama a atenção para como as atividades terapêuticas das religiões mediúnicas no Brasil atraem pessoas que freqüentemente buscam simultaneamente tanto o psiquiatra como os centros religiosos. O sucesso dessas religiões, para ele, em parte é explicado por tal função terapêutica. O psiquiatra deveria ser mais humilde e menos onipotente, esforçando-se para identificar as pessoas que realmente se beneficiam de tais intervenções religiosas.
Finalmente, em um artigo sobre os “Tratamentos religiosos das doenças mentais” (Pinho, 1975), foram estudadas em 60 pacientes psiquiátricos as concepções leigas e as formas de cura empreendidas por esse grupo. Nas concepções leigas, o autor coletou 11 categorias diferentes de etiologia, quase todas sobrenaturais, verificando que predominaram categorias como “encosto” (23%), “feitiço” (15%), “esgotamento”(12%) e “mediunidade não resolvida” (7%). Já em relação aos tratamentos, enquanto um terço da amostra iniciou a busca de ajuda com tratamento médico, dois terços buscaram inicialmente tratamentos populares. Esses foram principalmente o “candomblé de caboclo” (47%) e “centros espíritas kardecistas” (42%).
O trabalho de Rubim de Pinho foi fundamental principalmente no sentido de introduzir nas análises de psiquiatras sociais a perspectiva propriamente cultural, criticando a arrogância e a ignorância da realidade social e cultural, comuns em muitos estudos que o precederam. Ressalte-se que, na virada dos anos de 1960 e 1970, havia ainda posições claramente medicalizantes e marcadamente preconceituosas dos fenômenos religiosos de transe e possessão.
Discussão e conclusão
Até o final da primeira metade do século XX, a postura predominante entre os psiquiatras do eixo Rio de Janeiro-São Paulo foi de combate às práticas espíritas e mediúnicas em geral. Um dos fatores que podem colaborar no entendimento dessa questão é que tanto a psiquiatria quanto o espiritismo, por serem contemporâneos, procuravam legitimar os seus espaços social, cultural, científico e institucional dentro da sociedade brasileira. O espiritismo buscava se inserir não apenas no campo religioso, mas também se legitimar no campo científico. Concomitantemente, a psiquiatria, por constituir ainda uma nova área da ciência médica, lançava os alicerces para a fundação de sua hegemonia no campo científico. Dessa forma, tanto a psiquiatria quanto o espiritismo objetivaram explicar de modos diferentes questões comuns: a origem da mente, a relação mente-corpo, a loucura, modos de tratamento e prevenção. Colocavam-se em confronto duas representações sobre o ser humano e a loucura, instaurando-se assim uma franca disputa pela hegemonia de ambos os grupos no campo científico. Com isso, ao grupo vencedor seria conferida autoridade científica e intelectual para estudar e explicar a mediunidade, o funcionamento da mente e a origem das doenças mentais.
Como vimos, os fenômenos de transe e possessão, sobretudo os de origem afro-brasileira ou por estes influenciados, também foram objeto de estudo de vários psiquiatras de origem nordestina, resultando hipóteses e práticas diferenciadas. Evidencia-se a crescente aproximação desses médicos com as abordagens culturais de compreensão da sociedade utilizadas pela antropologia.
Ainda que não se deva traçar uma linha de continuidade direta entre o pensamento de Nina Rodrigues e o desses psiquiatras – já que se inserem em diferentes contextos sociais e científicos –, pode-se supor que sua original abordagem etnográfica dos fenômenos de possessão nos cultos afro-brasileiros tenha marcado as abordagens posteriores, inclusive as das chamadas religiões espiritistas sincréticas. Pode-se pensar que o interesse pela pesquisa empírica das manifestações culturais populares tenha sido o diferencial entre o estilo de pensamento predominante entre os citados psiquiatras nordestinos e o daqueles que habitavam o Sudeste brasileiro. Entretanto, pesquisas mais detalhadas são necessárias para verificar essas hipóteses.
A compreensão dos fenômenos mediúnicos como integrantes do universo cultural da sociedade passou a predominar nos discursos psiquiátricos carioca e paulista apenas na segunda metade do século XX. Alguns fatores parecem ter colaborado para que isso ocorresse. O primeiro seria a opção do espiritismo de se legitimar primordialmente dentro dos domínios do campo religioso brasileiro, deixando de lado muitas das suas pretensões científicas. O segundo seria a obtenção da psiquiatria de uma maior consolidação no meio acadêmico, adquirindo respeitabilidades científica e social. Por fim, houve a adoção de uma visão antropológica, influenciada pela antropologia social, no trato das questões religiosas por parte dos psiquiatras.
A religião começou, gradativamente, a ser vista como um possível agente colaborador no processo de tratamento dos considerados doentes mentais.
De fato, é possível perceber que a psiquiatria conseguiu conquistar o seu espaço nos meios acadêmico, científico, institucional e social, consolidando-se como uma disciplina autônoma e reconhecida. O espiritismo, por outro lado, legitimou-se na sociedade brasileira basicamente dentro do campo religioso.
No entanto, embora a psiquiatria tenha adquirido crescente aceitação e credibilidade em meio à sociedade, isso não impede que grande parte da população também busque tratamentos espirituais. Para esse segmento, as representações psiquiátricas e espíritas sobre os transtornos mentais são mais complementares que antagônicas. Do mesmo modo, embora a classificação da mediunidade como loucura tenha exercido influência sobre a população, não chegou a ponto de impedir a disseminação da valorização da mediunidade no Brasil. Assim, ainda que os espíritas não tenham obtido sucesso no campo científico, o espiritismo se consolidou dentro dos domínios específicos do campo religioso brasileiro como em nenhum outro lugar. Tanto é que a influência de sua visão de mundo, das relações entre a saúde e a doença, de suas propostas terapêuticas se expandiu para além do seu número de adeptos declarados (Almeida, 2007; Camargo, 1973; Aubrée e Laplantine, 1990; Damazio, 1994; Carvalho, 1994).
Finalmente, pode-se concluir que o olhar dos psiquiatras brasileiros sobre os fenômenos de transe e possessão refletiu, ao longo da história da psiquiatria neste país, noções marcadas tanto por debates intradisciplinares, de natureza psicopatológica, como por disputas sociais e ideológicas referentes ao lugar que se deveria dar às formas de religiosidade das classes médias e de segmentos pobres da população. O desenvolvimento desses embates revela várias facetas e dimensões da luta por hegemonia de distintas concepções sobre a subjetividade humana, incluindo aqui a religiosidade e o adoecimento mental.
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fenômenos de transe e possessão
(Revista de Psiquiatria Clínica - VOLUME 34 • SUPLEMENTO 1 • 2007 http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/)
Brazilian psychiatrists’ approaches on trance and possession phenomena Angélica A. Silva de Almeida1,2, Ana Maria G. R. Oda3, Paulo Dalgalarrondo4
1 Mestre e doutora pelo Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
2 Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde (Nupes) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
3 Pesquisadora e professora colaboradora do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.
4 Professor Titular do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.
Endereço para correspondência: Angélica A. Silva de Almeida. Rua Capitão Arnaldo de Carvalho, 693, Ap. 202 –
36036-180 – Juiz de Fora, MG.
E-mail: alexgecaio@gmail.com
Resumo
Contexto: Os fenômenos de transe e possessão despertaram o interesse da comunidade psiquiátrica brasileira, gerando posturas diversificadas.
Objetivos: Descrever e analisar como os fenômenos de transe e possessão foram tratados pelos psiquiatras brasileiros: seu impacto na teoria, na pesquisa e na prática clínica entre 1900 e 1950.
Método: Análise de artigos científicos e leigos, teses e livros sobre transes e possessões produzidos pelos psiquiatras brasileiros entre 1900 e 1950.
Resultados: Identificam-se duas correntes de pensamento entre os psiquiatras. A primeira, vinculada às Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e São Paulo, sob forte influência de autores franceses, deteve-se mais na periculosidade do espiritismo para a saúde mental. Defendia a adoção de medidas repressivas com o poder público. O segundo grupo de psiquiatras, ligado às Faculdades de Medicina da Bahia e Pernambuco, embora não desconsiderasse o caráter patológico ou “primitivo” dos fenômenos de transe e possessão, apresentou uma visão mais antropológica e culturalista. Considerando tais fenômenos como manifestações étnicas ou culturais, alguns defenderam o controle médico e a educação do povo para o abandono dessas práticas “primitivas”. Outros não consideravam os fenômenos mediúnicos como desencadeadores da loucura, mas manifestações não-patológicas de um universo cultural, além de não vinculá-los ao atraso cultural da população.
Conclusões: As religiões mediúnicas foram objeto de estudo por longo período, resultando hipóteses e práticas diferenciadas por parte da comunidade psiquiátrica brasileira, constituindo-se oportunidade privilegiada para o estudo do impacto dos fatores socioculturais na atividade psiquiátrica.
Almeida, A.A.S. et al. / Rev. Psiq. Clín. 34, supl 1; 34-41, 2007
Palavras-chave: História da psiquiatria, religião, transe, possessão e espiritismo.
Abstract
Background:Trance and possession experiences have raised interest among Brazilian psychiatrists resulting in a variety of approaches.
Objectives: To describe and analyze how Brazilian psychiatrists approached trance and possession experiences: these experiences’ impact on theory, research and clinical practice between 1900 and 1950.
Method: Analysis of papers, thesis, and books on trances and possessions written by Brazilian psychiatrists between 1900 and 1950.
Results: We detected two main approaches, the first one, related to schools of medicine in Rio de Janeiro and São Paulo, under strong influence of French researchers, focused on the dangers of spiritism to mental health. They advocated a repressive action to be enforced by governmental authorities. Psychiatrists from schools of medicine in Bahia and Pernambuco formed the second group. Although having not denied the “primitive” or pathological nature of trance and possession phenomena, they held a more anthropological and cultural approach. Some psychiatrists considered these experiences as racial or cultural manifestations, and claimed that the education and medical control of people would make them give up these primitive practices. Others have not considered that mediumistic phenoma are related to mental disorders or inferior cultural level.
Discussion: Mediumistic religions were the subject of a long-term investigation conducted by Brazilian psychiatrists resulting in diversified theories and practices which represent a valuable opportunity for the study of sociocultural factors’ impact on the psychiatric activity.
Almeida, A.A.S. et al. / Rev. Psiq. Clín. 34, supl 1; 34-41, 2007
Key-words: History of psychiatry, religion, trance, possession, spiritism.
Introdução
Na primeira metade do século XX, os alienistas julgavam-se em condições privilegiadas para definir os rumos e as regras de funcionamento da sociedade. Entre os diversos focos de investigação e análise, os fenômenos de transe e possessão, fomentados pelas religiões mediúnicas, despertaram grande interesse da comunidade psiquiátrica brasileira, gerando posturas diversificadas. Identificam-se, entre os psiquiatras, quatro abordagens sobre os fenômenos de transe e possessão: prejudiciais para a saúde mental, fraude e exploração da credulidade pública; associação com a histeria e o atraso cultural; benéficos para a restauração e manutenção da saúde, mas ainda associados ao atraso cultural; nenhuma ligação com danos para a saúde e com baixo nível cultural.
A comunidade psiquiátrica pertencente ao eixo Rio de Janeiro-São Paulo adotou uma postura mais “medicalizante”, influenciada principalmente por autores franceses. Enfatizou o papel das religiões mediúnicas como causa de loucura, chegando a considerá-la a terceira maior causa de alienação mental. O psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro Henrique Roxo criou uma nova classe diagnóstica intitulada “delírio espírita episódico”. O combate às práticas mediúnicas teve destaque como medida de promoção da “higiene mental”, cobrando a atuação do poder público no sentido de intensificar a repressão sobre tais práticas.
Alguns psiquiatras vinculados às Faculdades de Medicina da Bahia e de Pernambuco, embora geralmente considerando o caráter patológico ou “primitivo” de tais fenômenos, apresentaram uma visão mais antropológica. Destacaram os aspectos socioculturais envolvidos nos fenômenos de transe e possessão, e a busca de entendimento do comportamento humano. Essa corrente não preconizou medidas repressivas policiais nem judiciais, mas um maior respeito a essas práticas, consideradas manifestações religiosas étnicas ou culturais.
Nina Rodrigues e a possessão pelos orixás
A Entre 1896 e 1897, o médico maranhense Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) publicou suas pioneiras pesquisas sobre os fenômenos de possessão observados nos cultos afro-brasileiros dos terreiros de candomblé de Salvador (BA). O animismo fetichista dos negros baianos (1935)1 estuda a teologia e a liturgia afro-baiana, apresenta os orixás e suas atribuições no Brasil e na África, comenta os oráculos, os estados-de-santo, as cerimônias de culto público e os ritos funerários.
É importante ressaltar que sua vasta produção se insere no grande debate nacional ocorrido no período próximo da Abolição, quando o “problema do negro” passa a ser especificamente uma questão científica, vista pelas lentes da teoria da degenerescência, do determinismo climático e das crenças na inferioridade inata da “raça negra” e nos malefícios dos cruzamentos étnicos. Diante dessas teorias, os pensadores brasileiros viram-se obrigados a refletir sobre o futuro de um país mestiço de clima tropical (e, ainda, de uma república nascente sob a sombra da herança escravista), reflexão para a qual Nina Rodrigues explicitamente pretendeu colaborar (Oda, 2003).
Cientista convicto, o autor enfatiza que não pretendia alimentar as querelas que ocorriam entre “deistas e ateístas”, mas apenas estudar as manifestações religiosas “nos domínios do cognoscível” (Nina Rodrigues, 1935, p. 15), ou seja, no que se considerava então como domínios científicos.
Assim Nina Rodrigues (1935, p. 99-100, grifos no original) descreve o estado de possessão pelos orixás, também chamados santos2: “Como na possessão demoníaca, como na manifestação espírita, o santo fetichista pode apoderar-se, sob invocação especial do pai-de-terreiro, ou ainda de qualquer filho-de-santo, e por intermédio deles falar e predizer. A pessoa em quem o santo se manifesta, que está ou cai de santo na gíria do candomblé, não tem mais consciência de seus atos, não sabe o que diz, nem o que faz, porque quem fala e obra é o santo que dele se apoderou. Por esse motivo, desde que o santo se manifesta, o indivíduo que dele é portador perde a sua personalidade terrestre e humana para adquirir, com todas as honras a que tem direito, a do deus que nele se revela”.
Incorporando a discussão psicopatológica ao relato etnográfico, o autor considera o estado-de-santo relacionado ao sonambulismo provocado por sugestão. Postula que é a música, ritmada e monótona, que impele à dança e esta leva ao estado de possessão; compara o batuque dos candomblés aos métodos que produziam hipnose por fadiga da atenção (como os usados por Charcot na Salpêtrière). Salienta, ainda, os papéis da sugestão verbal, criada pela confiança ilimitada nos chefes dos terreiros e em suas palavras mágicas e pelo ambiente religioso.
Em resumo, considera como típicos da estrutura fenomenológica apresentada nos quadros de possessão: alteração qualitativa de consciência causada por sugestão e manifestada por estado sonambúlico, modificações nesse estado por meio de respostas verbais e físicas dadas às injunções sugestivas feitas por uma figura de autoridade, assunção temporária de outras identidades, confusão mental ou sonolência, além de grande desgaste físico e amnésia ao sair do processo. Além dessa forma “clássica” do estado-de-santo, observa que as manifestações poderiam ser frustras ou incompletas, mas também se prolongar em “delírio furioso e duradouro”, o que ele considera “desvios, aberrações do verdadeiro estado-de-santo” (Nina Rodrigues, 1935, p. 109).
Para Nina Rodrigues, o estado-de-santo seria sempre sugestivo, mas nem sempre histérico, pois acreditava que estados semelhantes de “estreitamento do campo de consciência” (ele usa aqui o conceito de Pierre Janet) surgiriam em outras condições mórbidas, como em neurastênicos – sujeitos em estado de esgotamentos físico e mental permanentes e progressivos – e em deficientes mentais.
Com relação aos fenômenos mediúnicos das chamadas “seitas espíritas”, surgidas em contextos urbanos modernos, o autor supôs que teriam causas e mecanismos similares aos que descrevera para os estados-de-santo, mas não os observou nem estudou em detalhes (Nina Rodrigues, 1935). Comenta sobre a “loucura espírita” em artigo sobre as “loucuras epidêmicas no Brasil” (1901), em que se vale de informações fornecidas pelo psiquiatra paulista Francisco Franco da Rocha.
A maior crítica que dirige aos praticantes do espiritismo, sobretudo aos “chefes de seita”, é a de estimularem fenômenos psicopatológicos latentes, o que sob certas condições poderia conduzir à loucura coletiva ou ao crime – crítica comum entre os alienistas europeus citados pelo médico brasileiro (Nina Rodrigues, 1939).
Sobre a religião do candomblé, a despeito de atribuir a origem de seus transes e possessões a um mecanismo mental patológico, pode-se dizer que Nina Rodrigues considerava que esses fenômenos poderiam ter valor psicológico positivo, por seus efeitos catárticos, e por se apresentarem de forma ritualizada e altamente controlada pelo grupo religioso, em especial pelos pais-de-terreiro. Além disso, pensava que tais manifestações religiosas satisfariam as necessidades emocionais “primitivas” dos seus adeptos, e não deveriam ser reprimidas.
Porém, fora desse contexto religioso estrito, costumava denunciar o abuso que “feiticeiros africanos” cometeriam, sobretudo influenciando negativamente mulheres histéricas das classes mais altas, já que as crenças em feitiços e possessões se estendiam por toda a sociedade baiana. Para sua psicologia evolucionista, tais crenças eram incompatíveis com a mentalidade dita “civilizada” (Nina Rodrigues, 1935).
Politicamente, Nina Rodrigues posicionava-se contra a repressão policial sistemática e arbitrária que os terreiros de candomblé sofriam na época, pois os considerava templos onde ocorriam manifestações religiosas, legítimas em um país que tinha assegurada a liberdade de culto3. Assim, o fato de se pautar por paradigmas científicos racialistas não o impediu de ter uma relação amistosa com seus “objetos” de estudo, em uma postura que chamaríamos hoje de paternalista (Oda, 2003).
1 Os artigos publicados inicialmente em um importante periódico cultural, a Revista Brasileira, foram reunidos neste livro, editado postumamente. Denominava-se animismo a crença que atribuiria a cada ser vivo ou coisa um espírito próprio. A antropologia cultural evolucionista considerava o fetichismo (ou feiticismo) uma das etapas da vida religiosa, anterior ao politeísmo e própria dos povos considerados primitivos (o monoteísmo seria atributo dos povos mais desenvolvidos).
2 Orixás são as muitas divindades do panteão iorubá, criadas pelo deus supremo Olodumare, mais conhecido no Brasil como Olorum, que literalmente significa o Dono do Céu (Prandi, 2001).
3 Há registros dessas defesas em estudos que seriam postumamente reunidos no livro Os Africanos no Brasil. Ali, ele comenta indignado tanto a ação ilegal da polícia quanto a posição da imprensa local sensacionalista que veiculava mentiras sobre o que seriam os terreiros (Nina Rodrigues, 1982).
Fenômenos de transe e possessão:
a antecâmara da loucura
A primeira publicação psiquiátrica brasileira que localizamos a respeito dos problemas relacionados às práticas mediúnicas é de 1896 e foi escrita por Franco da Rocha (1864-1933)4. No século XX, proliferaram as conferências, publicações e teses defendidas nas Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e São Paulo (Pimentel, 1919; Guimarães Filho, 1926; Marques, 1929; Cavalcanti, 1934). Essas manifestações foram assumindo um discurso cada vez mais radical (Giumbelli, 1997). A maioria defendia a proposição de o espiritismo5, por desencadear a loucura, ser um perigo social que deveria ser fortemente combatido. Xavier de Oliveira6 destacava que o espiritismo seria o terceiro maior “fator de alienação mental”, atrás apenas do álcool e da sífilis (Oliveira, 1931).
Em 1909, houve uma sessão da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro que tratou dos “perigos do espiritismo” (Magalhães, 1939 a,b). A mesma Sociedade voltou ao tema em 1927, tratando do “problema do espiritismo”. Após discussão, foi aprovada a proposta de se instituir uma comissão para estudar o assunto e obter leis que vetassem “essa prática prejudicial”. Não se procedeu propriamente a uma investigação dos fenômenos mediúnicos, mas a um “inquérito entre especialistas brasileiros”. Para a realização do inquérito, foram elaboradas quatro questões, enviadas para 12 pessoas: um engenheiro (professor da Escola Politécnica do Rio) e 11 destacados médicos e professores das Faculdades de Medicina e Direito do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia7. Entretanto, nenhum desses “especialistas” tinha realizado pesquisas sobre o tema, apenas reproduziram opiniões correntes.
Apesar de nenhuma pesquisa baseada na observação direta dos fenômenos ter sido apresentada, a resposta consensual foi basicamente de que a prática mediúnica seria prejudicial, principalmente desencadeando psicopatologia em predispostos. Talvez essa tenha sido a primeira pesquisa similar a um Consenso entre Especialistas (Expert Consensus) do Brasil.
Além de desencadear a loucura, as práticas espíritas também eram acusadas de induzir o suicídio (Caldas, 1929), estupro (Peixoto, 1909), homicídio e desagregação da família (Ribeiro e Campos, 1931; Oliveira, 1931).
Poucas foram as opiniões médicas dissonantes sobre as relações entre espiritismo e loucura, principalmente no eixo Rio de Janeiro-São Paulo. É marcante a quase ausência, nas publicações de cunho científico, das manifestações de médicos contrários ao conceito da loucura espírita (Cesar, 1941, 1942). Entretanto, na imprensa leiga, essas opiniões divergentes podem ser encontradas com maior facilidade. A maioria dos psiquiatras que desenvolveu argumentos de maior tolerância em relação às práticas mediúnicas esteve vinculada às Faculdades de Medicina da Bahia e de Pernambuco, como detalharemos adiante.
4 Fundador do Hospital do Juquery, um marco na história da saúde pública do estado de São Paulo. Fundador da primeira sociedade de psicanálise da América do Sul. Foi o primeiro professor da cadeira de Neuropsiquiatria da Faculdade de Medicina de São Paulo, atual USP. Assumiu o cargo no ano de 1918. Disponível em: http://ctjovem.mct.gov.br/index.php?action=/content/view&cod_objeto=11281. Consulta realizada no dia 30 de junho de 2006.
5 A palavra espiritismo, que foi criada por Allan Kardec para caracterizar a doutrina codificada por ele há exatamente 150 anos, sempre foi utilizada, especialmente no Brasil, para definir gama de manifestações mediúnicas. Tanto que freqüentemente encontramos a denominação espiritismo kardecista, espiritismo de umbanda etc. Para muitos, acreditar em espíritos, na possibilidade de intercâmbio entre os mundos “físico e espiritual” e na realização de sessões mediúnicas que viabilizassem essa comunicação eram características de uma única religião. A distinção completa entre as diversas religiões mediúnicas (candomblé, umbanda, espiritismo), embora fosse uma bandeira antiga do movimento espírita brasileiro, ainda não se concretizou até hoje.
6 Professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e médico do Hospital Nacional de Psicopatas.
Etiopatogenia da “loucura espírita”
As teorias da dissociação mental histérica e dos automatismos psicológicos, do médico e psicólogo Pierre Janet8 (1859-1947), foram as mais adotadas pelos psiquiatras para explicar a mediunidade. Janet considerava que na atividade mental normal haveria uma função de síntese que integrava as percepções sensoriais vivenciadas e transformadas em idéias conscientes. Nos histéricos, ocorreria uma fraqueza psíquica constitucional dessa função integradora, de maneira que eles eram mais sensíveis a se “dissociarem” por meio de sugestão ou em situações traumáticas; a teoria dos automatismos psicológicos explicaria os comportamentos nas crises dissociativas, quando “idéias fixas subconscientes” seriam reproduzidas (Nina Rodrigues, 1935; Morel, 1997).
Tal desagregação dos processos mentais, temporária em situações de transe, poder-se-ia tornar permanente, caminhando para a alucinação e o delírio. A maioria dos psiquiatras brasileiros concordava com a tese de que o espiritismo faria a maior parte de suas vítimas entre aqueles que já apresentassem certa predisposição psicopatológica, e muitos destes se manteriam nos limites da normalidade caso não fossem expostos repetidamente a fortes emoções (como nas sessões espíritas).
8 Pierre-Marie Janet foi um dos precursores da chamada psicologia experimental. Em O Estado Mental das Histéricas, ele expôs suas noções de campo de consciência e de seu estreitamento e de integração e fraqueza psíquicas. Desenvolveu ainda modelos explicativos comparativos entre os mecanismos psicológicos da histeria e de um estado de fraqueza psíquica que chamou de psicastenia (Morel, 1997).
Tipos clínicos: espiritopatia, mediunopatia, delírio espírita episódico...
Apesar da concordância quanto ao caráter patogênico do espiritismo, havia divergências sobre quais seriam os quadros clínicos decorrentes. A maioria pensava que seriam desencadeados transtornos mentais já descritos na literatura, mas com o colorido espírita.
Henrique de Brito Belford Roxo (1877-1969) foi o principal defensor de uma tese mais ampla quanto ao caráter psicopatogênico do espiritismo. Chegou a criar uma nova classe diagnóstica, o “delírio espírita episódico”, que foi apresentada em uma conferência médica realizada em 1936, em Paris. Seria uma doença freqüente, responsável por 5% a 10% das internações psiquiátricas. Procurava enfatizar que muitas pessoas não apresentavam perturbações mentais antes de freqüentarem as sessões espíritas (Roxo, 1938).
Controvérsias sobre a terapêutica espírita
Um outro aspecto, que também mobilizou a classe médica contra o espiritismo, dizia respeito às terapêuticas espíritas empregadas para as doenças físicas e mentais. Os perigos representados pelo espiritismo para a sociedade não ficariam restritos apenas aos riscos do desencadeamento de transtornos mentais. As atividades de cura promovidas pelos espíritas também seriam uma importante fonte de riscos para a saúde da população. Essas práticas poderiam prejudicar a população, que seria levada a acreditar no tratamento espiritual e ficaria privada de uma assistência médica adequada.
O médico Carlos Fernandes (Jornal do Commercio, 1939a, d, g; Diário da Noite, 1939b, c, e, f; O Jornal, 1939) encaminhou moções para o Governo e o Ministro da Justiça solicitando punição para os espíritas que praticassem a medicina ilegalmente e intervenção policial nos centros, fazendo cumprir os Artigos 156, 157 e 158 do Código Penal de 1890, que criminalizavam as práticas espíritas. Tais artigos garantiriam o enquadramento dos “médiuns receitistas” 9 como charlatães e suas práticas como exercício ilegal da medicina.
O debate sobre a questão da legitimidade e da legalidade das “outras” práticas de cura acompanha o processo de institucionalização da medicina brasileira desde seu início, por volta de 1830. Com relação ao fim do século XIX, Schwarcz destaca que uma questão que ocupava constantemente as páginas da revista Brazil Médico, criada em 1887, era exatamente o problema do “charlatanismo”. Na conformação de uma identidade de grupo, curandeiros, práticos e “herbalistas” surgiam como inimigos necessários, já que, ao apontar o “outro, curandeiro”, mais bem se reconhecia a “nós, médicos”
(Schwarcz, 2001, p. 222).
9 O “médium receitista” era o indivíduo que, supostamente inspirado por um espírito, diagnosticava doenças e prescrevia tratamento, na maioria das vezes, homeopático
A profilaxia da “loucura espírita”
Na década de 1930, as investigações dos psiquiatras sobre o espiritismo foram seguidas de campanhas destinadas ao seu combate, que envolviam exigências de fechamento de centros, destruição das publicações espíritas, campanhas de “esclarecimento sobre os perigos do espiritismo”, a aliança com o poder público a fim de coibir energicamente essas práticas, fazendo cumprir o Código Penal que as criminalizava, prisão ou internação dos médiuns, avaliação e prévio registro dos membros dos centros espíritas, proibição de programas de divulgação espírita e educação do povo (Oliveira, 1931; Ribeiro e Campos, 1931; Roxo, 1938, Pacheco e Silva, 1936). No entanto, os médicos queixavam-se constantemente da falta de apoio das autoridades judiciais no combate intensivo ao espiritismo
(Oliveira, 1931; Ribeiro e Campos, 1931).
Um olhar antropológico – as faculdades de Medicina da Bahia e do Recife
O médico alagoano Arthur Ramos (1903-1949), apesar de iniciar sua obra em uma perspectiva evolucionista, como evidenciado em sua tese de doutoramento, Primitivo e Loucura (1926), enveredou posteriormente por uma via mais culturalista e psicodinâmica. Com o amadurecimento de suas pesquisas, foi enfatizando fatores culturais (e abandonando os étnicos), deixando para trás a perspectiva racialista havia tempos defendida por muitos médicos e pesquisadores. Suas obras sobre cultura e religiosidade dos negros brasileiros revelaram um trabalho etnográfico e de psicologia social apurado e meticuloso, no qual buscou identificar os pontos de encontro entre a herança cultural africana (incluindo a religiosidade) e a psicologia de todo um grupo social (Ramos, 1937). Manteve, como Nina Rodrigues, o referencial teórico em que aproximou possessão à histeria vista na época segundo uma perspectiva psicodinâmica, influenciada por autores como Freud e Jung.
No Recife, o psiquiatra Ulysses Pernambucano (1892-1943), preocupado com a questão das doenças mentais nos negros, empreendeu e apoiou nos anos de 1920 e 1930 uma série de estudos estatísticos (1938) e etnográficos (Lucena, 1982). Incentivou seu primo e interlocutor intelectual Gilberto Freyre 10 a organizar o 1o Congresso Afro-Brasileiro em 1934, no Recife. Defendia uma visão tolerante em relação aos cultos afro-brasileiros 11, pois, ao que parece, não via neles a origem de transtornos mentais, mas a manifestação cultural das camadas pobres da população. Com relação ao mecanismo mental que originaria os fenômenos de possessão, Pernambucano teria adotado a proposta explicativa feita pelo antropólogo norte-americano Melville Herskovits de que estes não teriam caráter histérico nem psicopatológico, mas seriam resultado de um processo mental normal, expressões de reflexos condicionados, conforme a definição de Pavlov: um estímulo específico desencadeando sempre uma reação correspondente (Ribeiro, 1988).
Estes dois autores nordestinos, Pernambucano e Ramos, defendiam o controle médico sobre as religiões de caráter mediúnico, sobretudo sobre a sanidade mental dos seus chefes, mas eram firmemente contrários à repressão policial. Educar o povo seria a melhor solução para impedir o avanço dessas idéias místicas e primitivas.
Um aluno de Ulysses Pernambucano, René Ribeiro, a partir dos anos de 1930 (1937) e, sobretudo, na década de 1950, realizou de forma original uma série de investigações em sujeitos freqüentadores de cultos negros do Recife (1952a, 1952b, 1956), assim como entre negros pobres convertidos a Igrejas pentecostais (1957). Ele visava a “penetrar os mecanismos psicológicos de uma das formas supremas da experiência religiosa que é a possessão”. Seu trabalho incluiu uma descrição etnográfica cuidadosa dos cultos, símbolos e hierarquias relacionados a tal religiosidade, assim como o emprego cuidadoso do teste de Rorschach em sujeitos tanto em estado de vigília quanto em estado de transe 12. Para Ribeiro, as dissociações produzidas pela experiência religiosa tinham, entre outras, a finalidade de operar como um mecanismo de escape “perante uma situação de forte pressão externa”. Assim, ele concluiu ser a possessão um fenômeno normal, compreendido mediante a identificação de padrões culturais dos participantes e dos condicionamentos que as normas grupais impõem.
10 Gilberto Freyre diz que “(...) sem o inteligente e eficiente apoio que Ulysses Pernambucano deu a idéia, para a época extravagante e um tanto burlesca, nunca o tal Congresso teria se reunido”. In: Freyre G. Problemas brasileiros de antropologia. José Olympio, Rio de Janeiro, 1973.
11 Para uma breve e lúcida biografia intelectual de Ulysses Pernambucano, ver Pereira (2005).
12 René Ribeiro realizou uma utilização realmente original do teste de Rorschach. Modificou a técnica aplicando-o durante o estado-de-santo. Solicitava aos sujeitos que encarassem o procedimento como algo análogo a jogar búzios e que, no contexto de seus símbolos sagrados, falassem como se estivessem dentro do sistema divinatório. Os sacerdotes contribuíram na interpretação do material ajuntando os seus conhecimentos do sistema religioso que lideravam.
Em um trabalho posterior, Ribeiro (1957) investigou os estados de transe de negros no contexto do pentecostalismo e sua função integrativa sobre a saúde mental. Ele fala aqui de experiências extáticas cultivadas nessas igrejas (possessão pelo Espírito Santo) e de verdadeiras sessões de possessão para benefícios físico e espiritual dos membros da congregação em dificuldades com doenças ou outros males. Cita entrevistas que fez nas quais essas “pessoas de cor preta” relatam o “gozo” da possessão pelo Espírito Santo; um sujeito entrevistado disse: “(...) é um gozo que não se pode nem sondar; recebe no coração e fica até três dias sem poder falar a sua língua (...) outros têm visão; eu fiquei como entre o céu e a terra”. Outro sujeito afirmava que quando falou em línguas, o gozo foi inefável: “(...) a gente fica como criança (...) é um gozo que enche o coração”. Ainda outra entrevistada dizia que se sentia “(...) como quem estava nas chamas de fogo e falou em línguas (...) senti tanta alegria, que falei novas línguas (...) cada dia a alegria vai aumentando (...) o gozo de servir a Deus”.
Nos anos de 1960 e 1970, o psiquiatra Álvaro Rubim de Pinho (1922-1996) realizou trabalhos de psiquiatria cultural que revelaram originalidade e acurada sensibilidade cultural. Em A visão psiquiátrica do misticismo, Pinho (1975) analisou a sobreposição entre experiência mística e transtorno mental. Para o autor, “a idéia e o sentimento religioso são de todos os momentos da história. (...) Em todos, terão existido psicoses e comportamentos desviantes”. Reconhece, por outro lado, que místicos não psicóticos, frutos quase exclusivos de fatores socioculturais, existiram individualmente ou agrupados, em todas as seitas e todas as eras.
O que é particularmente importante nesse artigo é destacar a crítica de Rubim de Pinho à visão medicalizante e estreita da psiquiatria em relação a fenômenos como a possessão, a demonopatia, os transes mediúnicos e os estados-de-santo. Para ele, a psiquiatria sempre identificou esses estados como dissociação histérica. Ele diz que se os histéricos utilizam mecanismos dissociativos, de alteração da consciência, nada impede, entretanto, que pessoas psiquicamente sadias, quando acionadas por fatores culturais e religiosos, desenvolvam estados alterados de consciência sem significação patológica. Para o pesquisador, as “(...) populações dos centros espíritas e candomblés incluem imensa maioria de pessoas normais, simultaneamente com a minoria de anormais, estes em parte levados pela expectativa das curas”. Ele chama a atenção para como as atividades terapêuticas das religiões mediúnicas no Brasil atraem pessoas que freqüentemente buscam simultaneamente tanto o psiquiatra como os centros religiosos. O sucesso dessas religiões, para ele, em parte é explicado por tal função terapêutica. O psiquiatra deveria ser mais humilde e menos onipotente, esforçando-se para identificar as pessoas que realmente se beneficiam de tais intervenções religiosas.
Finalmente, em um artigo sobre os “Tratamentos religiosos das doenças mentais” (Pinho, 1975), foram estudadas em 60 pacientes psiquiátricos as concepções leigas e as formas de cura empreendidas por esse grupo. Nas concepções leigas, o autor coletou 11 categorias diferentes de etiologia, quase todas sobrenaturais, verificando que predominaram categorias como “encosto” (23%), “feitiço” (15%), “esgotamento”(12%) e “mediunidade não resolvida” (7%). Já em relação aos tratamentos, enquanto um terço da amostra iniciou a busca de ajuda com tratamento médico, dois terços buscaram inicialmente tratamentos populares. Esses foram principalmente o “candomblé de caboclo” (47%) e “centros espíritas kardecistas” (42%).
O trabalho de Rubim de Pinho foi fundamental principalmente no sentido de introduzir nas análises de psiquiatras sociais a perspectiva propriamente cultural, criticando a arrogância e a ignorância da realidade social e cultural, comuns em muitos estudos que o precederam. Ressalte-se que, na virada dos anos de 1960 e 1970, havia ainda posições claramente medicalizantes e marcadamente preconceituosas dos fenômenos religiosos de transe e possessão.
Discussão e conclusão
Até o final da primeira metade do século XX, a postura predominante entre os psiquiatras do eixo Rio de Janeiro-São Paulo foi de combate às práticas espíritas e mediúnicas em geral. Um dos fatores que podem colaborar no entendimento dessa questão é que tanto a psiquiatria quanto o espiritismo, por serem contemporâneos, procuravam legitimar os seus espaços social, cultural, científico e institucional dentro da sociedade brasileira. O espiritismo buscava se inserir não apenas no campo religioso, mas também se legitimar no campo científico. Concomitantemente, a psiquiatria, por constituir ainda uma nova área da ciência médica, lançava os alicerces para a fundação de sua hegemonia no campo científico. Dessa forma, tanto a psiquiatria quanto o espiritismo objetivaram explicar de modos diferentes questões comuns: a origem da mente, a relação mente-corpo, a loucura, modos de tratamento e prevenção. Colocavam-se em confronto duas representações sobre o ser humano e a loucura, instaurando-se assim uma franca disputa pela hegemonia de ambos os grupos no campo científico. Com isso, ao grupo vencedor seria conferida autoridade científica e intelectual para estudar e explicar a mediunidade, o funcionamento da mente e a origem das doenças mentais.
Como vimos, os fenômenos de transe e possessão, sobretudo os de origem afro-brasileira ou por estes influenciados, também foram objeto de estudo de vários psiquiatras de origem nordestina, resultando hipóteses e práticas diferenciadas. Evidencia-se a crescente aproximação desses médicos com as abordagens culturais de compreensão da sociedade utilizadas pela antropologia.
Ainda que não se deva traçar uma linha de continuidade direta entre o pensamento de Nina Rodrigues e o desses psiquiatras – já que se inserem em diferentes contextos sociais e científicos –, pode-se supor que sua original abordagem etnográfica dos fenômenos de possessão nos cultos afro-brasileiros tenha marcado as abordagens posteriores, inclusive as das chamadas religiões espiritistas sincréticas. Pode-se pensar que o interesse pela pesquisa empírica das manifestações culturais populares tenha sido o diferencial entre o estilo de pensamento predominante entre os citados psiquiatras nordestinos e o daqueles que habitavam o Sudeste brasileiro. Entretanto, pesquisas mais detalhadas são necessárias para verificar essas hipóteses.
A compreensão dos fenômenos mediúnicos como integrantes do universo cultural da sociedade passou a predominar nos discursos psiquiátricos carioca e paulista apenas na segunda metade do século XX. Alguns fatores parecem ter colaborado para que isso ocorresse. O primeiro seria a opção do espiritismo de se legitimar primordialmente dentro dos domínios do campo religioso brasileiro, deixando de lado muitas das suas pretensões científicas. O segundo seria a obtenção da psiquiatria de uma maior consolidação no meio acadêmico, adquirindo respeitabilidades científica e social. Por fim, houve a adoção de uma visão antropológica, influenciada pela antropologia social, no trato das questões religiosas por parte dos psiquiatras.
A religião começou, gradativamente, a ser vista como um possível agente colaborador no processo de tratamento dos considerados doentes mentais.
De fato, é possível perceber que a psiquiatria conseguiu conquistar o seu espaço nos meios acadêmico, científico, institucional e social, consolidando-se como uma disciplina autônoma e reconhecida. O espiritismo, por outro lado, legitimou-se na sociedade brasileira basicamente dentro do campo religioso.
No entanto, embora a psiquiatria tenha adquirido crescente aceitação e credibilidade em meio à sociedade, isso não impede que grande parte da população também busque tratamentos espirituais. Para esse segmento, as representações psiquiátricas e espíritas sobre os transtornos mentais são mais complementares que antagônicas. Do mesmo modo, embora a classificação da mediunidade como loucura tenha exercido influência sobre a população, não chegou a ponto de impedir a disseminação da valorização da mediunidade no Brasil. Assim, ainda que os espíritas não tenham obtido sucesso no campo científico, o espiritismo se consolidou dentro dos domínios específicos do campo religioso brasileiro como em nenhum outro lugar. Tanto é que a influência de sua visão de mundo, das relações entre a saúde e a doença, de suas propostas terapêuticas se expandiu para além do seu número de adeptos declarados (Almeida, 2007; Camargo, 1973; Aubrée e Laplantine, 1990; Damazio, 1994; Carvalho, 1994).
Finalmente, pode-se concluir que o olhar dos psiquiatras brasileiros sobre os fenômenos de transe e possessão refletiu, ao longo da história da psiquiatria neste país, noções marcadas tanto por debates intradisciplinares, de natureza psicopatológica, como por disputas sociais e ideológicas referentes ao lugar que se deveria dar às formas de religiosidade das classes médias e de segmentos pobres da população. O desenvolvimento desses embates revela várias facetas e dimensões da luta por hegemonia de distintas concepções sobre a subjetividade humana, incluindo aqui a religiosidade e o adoecimento mental.
Referências
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Porque somos contra o Aborto?
Como cristãos que somos, não podemos de forma alguma compactuar com mais esse absurdo que está sendo cometido contra a sociedade da qual fazemos parte e devemos por isso mesmo ser respeitados nos nossos mais nobres sentimentos de decência e dignidade; a proposta de aprovação da nova Lei do Aborto, que, além de indecente, é o mais cruel e desumano desrespeito à vida do nosso semelhante, particularmente de alguém que não tem sequer como se defender dessa brutal e criminosa covardia.
O feto que se desenvolve no útero de sua mãe, está no mais sagrado e sublime espaço a ele concedido por Deus para que se desenvolva com saúde, amor, e segurança, para as finalidades superiores designadas a ele pelo nosso Pai Maior, que são seu crescimento e desenvolvimento como SER IMORTAL pertencente à mesma família a que também pertence sua mãe, a família universal.
Jesus nosso Modelo e Guia, nos ensinou pessoalmente quando aqui esteve, que "devemos amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos", acrescentando ainda que deveremos amar até mesmo os nossos inimigos, ensejando a todos nós a modificação de nossa visão sobre o nosso próximo, que não passa de nosso irmão equivocado e ignorante das Leis de amor e caridade, que são as Leis mais importantes na relação entre os indivíduos.
No Evangelho de Marcos, Cap. X, vv. 13 a 16, nos dá exemplo de amor e respeito pelas criancinhas, conforme o texto abaixo:
Simplicidade e pureza de coração
1. Bem-aventurados os que têm puro o coração, porquanto verão a Deus. (S. Mateus, cap. V, v. 8.);
2. Apresentaram-lhe então algumas crianças, a fim de que ele as tocasse, e, como seus discípulos afastassem com palavras ásperas os que lhas apresentavam, Jesus, vendo isso, zangou-se e lhes disse: "Deixai que venham a mim as criancinhas e não as impeçais, porquanto o reino dos céus é para os que se lhes assemelham. - Digo-vos, em verdade, que aquele que não receber o reino de Deus como uma criança, nele não entrará." - E, depois de as abraçar, abençoou-as, impondo-lhes as mãos. (S. MARCOS, cap. X, vv. 13 a 16.).
Os espíritos Superiores nos aclaram muito bem sobre essa passagem do Evangelho acima citada, explicando-nos de forma simples e direta, para que não tenhamos qualquer tipo de dúvida sobre o assunto nos itens 3 e 4 seguintes:
3. A pureza do coração é inseparável da simplicidade e da humildade. Exclui toda idéia de egoísmo e de orgulho. Por isso é que Jesus toma a infância como emblema dessa pureza, do mesmo modo que a tomou como o da humildade.
Poderia parecer menos justa essa comparação, considerando-se que o Espírito da criança pode ser muito antigo e que traz, renascendo para a vida corporal, as imperfeições de que se não tenha despojado em suas precedentes existências. Só um Espírito que houvesse chegado à perfeição nos poderia oferecer o tipo da verdadeira pureza. E exata a comparação, porém, do ponto de vista da vida presente, porquanto a criancinha, não havendo podido ainda manifestar nenhuma tendência perversa, nos apresenta a imagem da inocência e da candura. Daí o não dizer Jesus, de modo absoluto, que o reino dos céus é para elas, mas para os que se lhes assemelhem.
4. Pois que o Espírito da criança já viveu, por que não se mostra, desde o nascimento, tal qual é? Tudo é sábio nas obras de Deus. A criança necessita de cuidados especiais, que somente a ternura materna lhe pode dispensar, ternura que se acresce da fraqueza e da ingenuidade da criança. Para uma mãe, seu filho é sempre um anjo e assim era preciso que fosse, para lhe cativar a solicitude. Ela não houvera podido ter-lhe o mesmo devotamento, se, em vez da graça ingênua, deparasse nele, sob os traços infantis, um caráter viril e as idéias de um adulto e, ainda menos, se lhe viesse a conhecer o passado.
Aliás, faz-se necessário que a atividade do princípio inteligente seja proporcionada à fraqueza do corpo, que não poderia resistir a uma atividade muito grande do Espírito, como se verifica nos indivíduos grandemente precoces. Essa a razão por que, ao aproximar-se-lhe a encarnação, o Espírito entra em perturbação e perde pouco a pouco a consciência de si mesmo, ficando, por certo tempo, numa espécie de sono, durante o qual todas as suas faculdades permanecem em estado latente. E necessário esse estado de transição para que o Espírito tenha um novo ponto de partida e para que esqueça, em sua nova existência, tudo aquilo que a possa entravar. Sobre ele, no entanto, reage o passado. Renasce para a vida maior, mais forte, moral e intelectualmente, sustentado e secundado pela intuição que conserva da experiência adquirida.
A partir do nascimento, suas idéias tomam gradualmente impulso, à medida que os órgãos se desenvolvem, pelo que se pode dizer que, no curso dos primeiros anos, o Espírito é verdadeiramente criança, por se acharem ainda adormecidas as idéias que lhe formam o fundo do caráter. Durante o tempo em que seus instintos se conservam amodorrados, ele é mais maleável e, por isso mesmo, mais acessível às impressões capazes de lhe modificarem a natureza e de fazê-lo progredir, o que toma mais fácil a tarefa que incumbe aos pais. O Espírito, pois, enverga temporariamente a túnica da inocência e, assim, Jesus está com a verdade, quando, sem embargo da anterioridade da alma, toma a criança por símbolo da pureza e da simplicidade.
A Doutrina Espírita, sendo a maior antagonista do materialismo, vem nos esclarecer sobre lado espiritual do ser humano, de forma a nos dar ciência das nossas responsabilidades diante das Sábias e Imutáveis Leis Divinas, da qual faz parte a Lei de "nascimento e morte" a que todos estamos submetidos, e que não nos furtaremos aos mecanismos de reparação de todo e qualquer ato que praticarmos contra suas determinações.
Do Livro dos Espíritos, pinçamos estas poucas mais suficientes questões, para que não nos equivoquemos nem nos deixemos levar pelas sugestões maldosas das trevas, que procuram nos influenciar de forma a aceitar essa idéia doentia e infeliz, da prática criminosa do aborto, como se já não bastassem as incontáveis maneiras de se praticar crimes contra a vida, as quais todos testemunhamos diariamente através dos vários veículos de comunicação.
358. Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação?
"Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por isso que impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando."
359. Dado o caso que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe dela, haverá crime em sacrificar-se a primeira para salvar a segunda?
"Preferível é se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe."
360. Será racional ter-se para com um feto as mesmas atenções que se dispensam ao corpo de uma criança que viveu algum tempo?
"Vede em tudo isso a vontade e a obra de Deus. Não trateis, pois, desatenciosamente, coisas que deveis respeitar. Por que não respeitar as obras da criação, algumas vezes incompletas por vontade do Criador? Tudo ocorre segundo os seus desígnios e ninguém é chamado para ser juiz."
Obstáculos à reprodução
693. São contrários à lei da Natureza as leis e os costumes humanos que têm por fim ou por efeito criar obstáculos à reprodução?
"Tudo o que embaraça a Natureza em sua marcha é contrário à lei geral."
a) - Entretanto, há espécies de seres vivos, animais e plantas, cuja reprodução
indefinida seria nociva a outras espécies e das quais o próprio homem acabaria por ser vítima. Pratica ele ato repreensível, impedindo essa reprodução?
"Deus concedeu ao homem, sobre todos os seres vivos, um poder de que ele deve usar, sem abusar. Pode, pois, regular a reprodução, de acordo com as necessidades. A ação inteligente do homem é um contrapeso que Deus dispôs para restabelecer o equilíbrio entre as forças da Natureza e é ainda isso o que o distingue dos animais, porque ele obra com conhecimento de causa. Mas, os mesmos animais também concorrem para a existência desse equilíbrio, porquanto o instinto de destruição que lhes foi dado faz com que, provendo à própria conservação, obstem ao desenvolvimento excessivo, quiçá perigoso, das espécies animais e vegetais de que se alimentam."
694. Que se deve pensar dos usos, cujo efeito consiste em obstar à reprodução, para satisfação da sensualidade?
"Isso prova a predominância do corpo sobre a alma e quanto o homem é material."
880. Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem?
"O de viver. Por isso é que ninguém tem o de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal."
Por tudo isso que aqui colocamos, e por outros tantos conhecimentos e motivos que temos, é que não nos cansaremos de lutar contra a possibilidade de ver um crime contra a humanidade ser cometido, acobertado por falsas e equivocadas Leis aprovadas por quem está colocado justamente para defender os inocentes e indefesos e garantir com dignidade o direito maior de qualquer ser humano: "o direito de viver".
Esquecem-se, de que já necessitaram do bendito empréstimo de um útero que os abrigou, e que se esse insano desejo de ver o aborto legalizado pelas Leis do nosso País, já tivesse sido aprovado antes de seus nascimentos, provavelmente não estariam eles por aí, a defenderem a morte em detrimento da VIDA, e mais, não param para pensar que mais tarde terão que retornar, e que poderão colher os frutos amargos de suas próprias semeaduras, onde com certeza lamentarão a infeliz e doentia idéia que defenderam e ajudaram a se tornar uma Lei.
São esses mesmos, defensores do crime pelo ABORTO, que vão às ruas pedir PAZ, clamar contra os abusos cometidos contra seus mesquinhos interesses, e que logo após, deixam de lado a máscara utilizada nas passeatas pela PAZ, e assumem suas verdadeiras posturas de castradores da vida.
Francisco Rebouças
Portal do Espiritismo.
Fontes: E.S.E. - Feb - 112ª Edição. Cap. VIII, Itens 1 e 2;
O Livro dos Espíritos - FEB - 76ª Edição.
O feto que se desenvolve no útero de sua mãe, está no mais sagrado e sublime espaço a ele concedido por Deus para que se desenvolva com saúde, amor, e segurança, para as finalidades superiores designadas a ele pelo nosso Pai Maior, que são seu crescimento e desenvolvimento como SER IMORTAL pertencente à mesma família a que também pertence sua mãe, a família universal.
Jesus nosso Modelo e Guia, nos ensinou pessoalmente quando aqui esteve, que "devemos amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos", acrescentando ainda que deveremos amar até mesmo os nossos inimigos, ensejando a todos nós a modificação de nossa visão sobre o nosso próximo, que não passa de nosso irmão equivocado e ignorante das Leis de amor e caridade, que são as Leis mais importantes na relação entre os indivíduos.
No Evangelho de Marcos, Cap. X, vv. 13 a 16, nos dá exemplo de amor e respeito pelas criancinhas, conforme o texto abaixo:
Simplicidade e pureza de coração
1. Bem-aventurados os que têm puro o coração, porquanto verão a Deus. (S. Mateus, cap. V, v. 8.);
2. Apresentaram-lhe então algumas crianças, a fim de que ele as tocasse, e, como seus discípulos afastassem com palavras ásperas os que lhas apresentavam, Jesus, vendo isso, zangou-se e lhes disse: "Deixai que venham a mim as criancinhas e não as impeçais, porquanto o reino dos céus é para os que se lhes assemelham. - Digo-vos, em verdade, que aquele que não receber o reino de Deus como uma criança, nele não entrará." - E, depois de as abraçar, abençoou-as, impondo-lhes as mãos. (S. MARCOS, cap. X, vv. 13 a 16.).
Os espíritos Superiores nos aclaram muito bem sobre essa passagem do Evangelho acima citada, explicando-nos de forma simples e direta, para que não tenhamos qualquer tipo de dúvida sobre o assunto nos itens 3 e 4 seguintes:
3. A pureza do coração é inseparável da simplicidade e da humildade. Exclui toda idéia de egoísmo e de orgulho. Por isso é que Jesus toma a infância como emblema dessa pureza, do mesmo modo que a tomou como o da humildade.
Poderia parecer menos justa essa comparação, considerando-se que o Espírito da criança pode ser muito antigo e que traz, renascendo para a vida corporal, as imperfeições de que se não tenha despojado em suas precedentes existências. Só um Espírito que houvesse chegado à perfeição nos poderia oferecer o tipo da verdadeira pureza. E exata a comparação, porém, do ponto de vista da vida presente, porquanto a criancinha, não havendo podido ainda manifestar nenhuma tendência perversa, nos apresenta a imagem da inocência e da candura. Daí o não dizer Jesus, de modo absoluto, que o reino dos céus é para elas, mas para os que se lhes assemelhem.
4. Pois que o Espírito da criança já viveu, por que não se mostra, desde o nascimento, tal qual é? Tudo é sábio nas obras de Deus. A criança necessita de cuidados especiais, que somente a ternura materna lhe pode dispensar, ternura que se acresce da fraqueza e da ingenuidade da criança. Para uma mãe, seu filho é sempre um anjo e assim era preciso que fosse, para lhe cativar a solicitude. Ela não houvera podido ter-lhe o mesmo devotamento, se, em vez da graça ingênua, deparasse nele, sob os traços infantis, um caráter viril e as idéias de um adulto e, ainda menos, se lhe viesse a conhecer o passado.
Aliás, faz-se necessário que a atividade do princípio inteligente seja proporcionada à fraqueza do corpo, que não poderia resistir a uma atividade muito grande do Espírito, como se verifica nos indivíduos grandemente precoces. Essa a razão por que, ao aproximar-se-lhe a encarnação, o Espírito entra em perturbação e perde pouco a pouco a consciência de si mesmo, ficando, por certo tempo, numa espécie de sono, durante o qual todas as suas faculdades permanecem em estado latente. E necessário esse estado de transição para que o Espírito tenha um novo ponto de partida e para que esqueça, em sua nova existência, tudo aquilo que a possa entravar. Sobre ele, no entanto, reage o passado. Renasce para a vida maior, mais forte, moral e intelectualmente, sustentado e secundado pela intuição que conserva da experiência adquirida.
A partir do nascimento, suas idéias tomam gradualmente impulso, à medida que os órgãos se desenvolvem, pelo que se pode dizer que, no curso dos primeiros anos, o Espírito é verdadeiramente criança, por se acharem ainda adormecidas as idéias que lhe formam o fundo do caráter. Durante o tempo em que seus instintos se conservam amodorrados, ele é mais maleável e, por isso mesmo, mais acessível às impressões capazes de lhe modificarem a natureza e de fazê-lo progredir, o que toma mais fácil a tarefa que incumbe aos pais. O Espírito, pois, enverga temporariamente a túnica da inocência e, assim, Jesus está com a verdade, quando, sem embargo da anterioridade da alma, toma a criança por símbolo da pureza e da simplicidade.
A Doutrina Espírita, sendo a maior antagonista do materialismo, vem nos esclarecer sobre lado espiritual do ser humano, de forma a nos dar ciência das nossas responsabilidades diante das Sábias e Imutáveis Leis Divinas, da qual faz parte a Lei de "nascimento e morte" a que todos estamos submetidos, e que não nos furtaremos aos mecanismos de reparação de todo e qualquer ato que praticarmos contra suas determinações.
Do Livro dos Espíritos, pinçamos estas poucas mais suficientes questões, para que não nos equivoquemos nem nos deixemos levar pelas sugestões maldosas das trevas, que procuram nos influenciar de forma a aceitar essa idéia doentia e infeliz, da prática criminosa do aborto, como se já não bastassem as incontáveis maneiras de se praticar crimes contra a vida, as quais todos testemunhamos diariamente através dos vários veículos de comunicação.
358. Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação?
"Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por isso que impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando."
359. Dado o caso que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe dela, haverá crime em sacrificar-se a primeira para salvar a segunda?
"Preferível é se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe."
360. Será racional ter-se para com um feto as mesmas atenções que se dispensam ao corpo de uma criança que viveu algum tempo?
"Vede em tudo isso a vontade e a obra de Deus. Não trateis, pois, desatenciosamente, coisas que deveis respeitar. Por que não respeitar as obras da criação, algumas vezes incompletas por vontade do Criador? Tudo ocorre segundo os seus desígnios e ninguém é chamado para ser juiz."
Obstáculos à reprodução
693. São contrários à lei da Natureza as leis e os costumes humanos que têm por fim ou por efeito criar obstáculos à reprodução?
"Tudo o que embaraça a Natureza em sua marcha é contrário à lei geral."
a) - Entretanto, há espécies de seres vivos, animais e plantas, cuja reprodução
indefinida seria nociva a outras espécies e das quais o próprio homem acabaria por ser vítima. Pratica ele ato repreensível, impedindo essa reprodução?
"Deus concedeu ao homem, sobre todos os seres vivos, um poder de que ele deve usar, sem abusar. Pode, pois, regular a reprodução, de acordo com as necessidades. A ação inteligente do homem é um contrapeso que Deus dispôs para restabelecer o equilíbrio entre as forças da Natureza e é ainda isso o que o distingue dos animais, porque ele obra com conhecimento de causa. Mas, os mesmos animais também concorrem para a existência desse equilíbrio, porquanto o instinto de destruição que lhes foi dado faz com que, provendo à própria conservação, obstem ao desenvolvimento excessivo, quiçá perigoso, das espécies animais e vegetais de que se alimentam."
694. Que se deve pensar dos usos, cujo efeito consiste em obstar à reprodução, para satisfação da sensualidade?
"Isso prova a predominância do corpo sobre a alma e quanto o homem é material."
880. Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem?
"O de viver. Por isso é que ninguém tem o de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal."
Por tudo isso que aqui colocamos, e por outros tantos conhecimentos e motivos que temos, é que não nos cansaremos de lutar contra a possibilidade de ver um crime contra a humanidade ser cometido, acobertado por falsas e equivocadas Leis aprovadas por quem está colocado justamente para defender os inocentes e indefesos e garantir com dignidade o direito maior de qualquer ser humano: "o direito de viver".
Esquecem-se, de que já necessitaram do bendito empréstimo de um útero que os abrigou, e que se esse insano desejo de ver o aborto legalizado pelas Leis do nosso País, já tivesse sido aprovado antes de seus nascimentos, provavelmente não estariam eles por aí, a defenderem a morte em detrimento da VIDA, e mais, não param para pensar que mais tarde terão que retornar, e que poderão colher os frutos amargos de suas próprias semeaduras, onde com certeza lamentarão a infeliz e doentia idéia que defenderam e ajudaram a se tornar uma Lei.
São esses mesmos, defensores do crime pelo ABORTO, que vão às ruas pedir PAZ, clamar contra os abusos cometidos contra seus mesquinhos interesses, e que logo após, deixam de lado a máscara utilizada nas passeatas pela PAZ, e assumem suas verdadeiras posturas de castradores da vida.
Francisco Rebouças
Portal do Espiritismo.
Fontes: E.S.E. - Feb - 112ª Edição. Cap. VIII, Itens 1 e 2;
O Livro dos Espíritos - FEB - 76ª Edição.
BALADA DE UM FETO
Foi um momento de gozo em pequeno quarto escuro,a música romântica inspirando paixões,causava arrepios.Dentro em pouco, um novo ser mergulhava no ventre, suspirando – "Ma... mãe".
O tempo avança. Sinais diferentes.A gravidez se estabelece.No claustro materno, o ser se regozija,está seguro e protegido.
Mas eis que vem a ordem — "É necessário expulsá-lo". Não tem a quem recorrer, não sabe o que pensar, nem podia acreditar. Sua voz não é ouvida, sua presença é negada. Corações endurecidos têm ouvidos cerrados.
As mães dão a vida por seus filhos, como chamar a quem deseja matá-lo? Ao coração empedrado do pai, nem em sonhos podia falar: preso estava às contas e prazeres.
A escolha fora uma opção de amor. No tempo, era preciso apagar as mágoas do passado, eliminar tristezas, linchar o ódio, fazer crescer a união embalada na esperança.
Existiam milhões de ventres no mundo, reservatórios de vida e de luz, aquele fora o eleito sem o aleatório lotérico nem a casualidade da ocasião.
Agora era o dilema. E pensava: "Por que Jesus nascera e Maria não o abortara? Que teria sido do mundo se ela o rejeitasse?" Podia escutar o pensamento da mãe por dentro de si mesmo: "Ele não era Jesus..." E tinha em parte razão.
Mas para que mãe seu filho não é um menino Jesus, carregado dia e noite, quase de encontro ao peito? Não é, por isso, que as mães adoram seus filhos?
Ouvira uma idéia estranha, alguma coisa tenebrosa: "E se fosse um Hitler, um Mussolini, um Átila..., não seria melhor que tivessem sido abortados? Estes são mais prováveis que Jesus."
Não podia chorar porque ainda não tinha lágrimas; o pequeno corte labial, no entanto, abriu-se como num grito prima: "Milhões destes tiranos não valem um Jesus. Eles foram abortos na evolução. Quem os cria, senão o ódio, o rancor, o egoísmo? Quando se os implanta na cadeia da vida, destruindo fetos, que se pode esperar dos que renascem? Teria sido seu corpo concebido num momento de ódio? Não ouvira juras de amor entre a exaltação dos beijos? Como poderiam qualificá-lo agora de o Indesejado, se fora fruto do desejo?"
Enquanto pensava essas coisas, notou que o fio da vida se esvaia, pouca coisa poderia fazer. Agarrar-se ao ventre, colar-se ao corpo da que o expulsava, lutar, lutar, até tirar-lhe a vida e esperá-la do outro lado? Não."
Outra vez, quis chorar, mas não pôde: os que amam não destroem, e ele viera em nome do amor. Ele a marcaria apenas com o selo da saudade (o que, por engano, chamam de complexo de culpa): pelo resto da vida, pensaria nele, sem saber quem poderia ter sido: ‘um Beethoven, um Mozart, um Einstein, ou um João Ninguém, dissolvido, na multidão?’ Ah! Seria sempre "seu pequeno Jesus" jogado no lixo.
Autor: Élzio Ferreira de Souza
O tempo avança. Sinais diferentes.A gravidez se estabelece.No claustro materno, o ser se regozija,está seguro e protegido.
Mas eis que vem a ordem — "É necessário expulsá-lo". Não tem a quem recorrer, não sabe o que pensar, nem podia acreditar. Sua voz não é ouvida, sua presença é negada. Corações endurecidos têm ouvidos cerrados.
As mães dão a vida por seus filhos, como chamar a quem deseja matá-lo? Ao coração empedrado do pai, nem em sonhos podia falar: preso estava às contas e prazeres.
A escolha fora uma opção de amor. No tempo, era preciso apagar as mágoas do passado, eliminar tristezas, linchar o ódio, fazer crescer a união embalada na esperança.
Existiam milhões de ventres no mundo, reservatórios de vida e de luz, aquele fora o eleito sem o aleatório lotérico nem a casualidade da ocasião.
Agora era o dilema. E pensava: "Por que Jesus nascera e Maria não o abortara? Que teria sido do mundo se ela o rejeitasse?" Podia escutar o pensamento da mãe por dentro de si mesmo: "Ele não era Jesus..." E tinha em parte razão.
Mas para que mãe seu filho não é um menino Jesus, carregado dia e noite, quase de encontro ao peito? Não é, por isso, que as mães adoram seus filhos?
Ouvira uma idéia estranha, alguma coisa tenebrosa: "E se fosse um Hitler, um Mussolini, um Átila..., não seria melhor que tivessem sido abortados? Estes são mais prováveis que Jesus."
Não podia chorar porque ainda não tinha lágrimas; o pequeno corte labial, no entanto, abriu-se como num grito prima: "Milhões destes tiranos não valem um Jesus. Eles foram abortos na evolução. Quem os cria, senão o ódio, o rancor, o egoísmo? Quando se os implanta na cadeia da vida, destruindo fetos, que se pode esperar dos que renascem? Teria sido seu corpo concebido num momento de ódio? Não ouvira juras de amor entre a exaltação dos beijos? Como poderiam qualificá-lo agora de o Indesejado, se fora fruto do desejo?"
Enquanto pensava essas coisas, notou que o fio da vida se esvaia, pouca coisa poderia fazer. Agarrar-se ao ventre, colar-se ao corpo da que o expulsava, lutar, lutar, até tirar-lhe a vida e esperá-la do outro lado? Não."
Outra vez, quis chorar, mas não pôde: os que amam não destroem, e ele viera em nome do amor. Ele a marcaria apenas com o selo da saudade (o que, por engano, chamam de complexo de culpa): pelo resto da vida, pensaria nele, sem saber quem poderia ter sido: ‘um Beethoven, um Mozart, um Einstein, ou um João Ninguém, dissolvido, na multidão?’ Ah! Seria sempre "seu pequeno Jesus" jogado no lixo.
Autor: Élzio Ferreira de Souza
Fila Indiana
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Para mim os homens caminham pela face da Terra em fila indiana
Cada um carregando uma sacola na frente e outra atrás.
Na sacola da frente, nós colocamos as nossas qualidades.
Na sacola de trás guardamos os nossos defeitos.
Por isso durante a jornada pela vida, mantemos os olhos fixos nas virtudes
que possuímos, presas em nosso peito.
Ao mesmo tempo, reparamos impiedosamente nas costas do companheiro que está
adiante, todos os defeitos que ele possui.
E nos julgamos melhores que ele, sem perceber que a pessoa andando atrás de
nós, está pensando a mesma coisa a nosso respeito.
Mude ainda dá tempo, e não esqueça...
Para mim os homens caminham pela face da Terra em fila indiana
Cada um carregando uma sacola na frente e outra atrás.
Na sacola da frente, nós colocamos as nossas qualidades.
Na sacola de trás guardamos os nossos defeitos.
Por isso durante a jornada pela vida, mantemos os olhos fixos nas virtudes
que possuímos, presas em nosso peito.
Ao mesmo tempo, reparamos impiedosamente nas costas do companheiro que está
adiante, todos os defeitos que ele possui.
E nos julgamos melhores que ele, sem perceber que a pessoa andando atrás de
nós, está pensando a mesma coisa a nosso respeito.
Mude ainda dá tempo, e não esqueça...
Perceba o que você tem!
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O dono de um pequeno comércio, amigo do grande poeta Olavo Bilac,
abordou-o na rua:
- Sr. Bilac, estou precisando vender o meu sítio, que o Senhor tão bem conhece.
Poderia redigir o anúncio para o jornal?
Olavo Bilac apanhou o papel e escreveu:
"Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer
no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeiro. A casa banhada pelo sol nascente oferece a sombra tranqüila das tardes, na varanda".
Meses depois, topa o poeta com o homem e pergunta-lhe se havia vendido o sítio.
- Nem pense mais nisso, disse o homem. Quando li o anúncio é que percebi a
maravilha que tinha.
Moral da história:
Às vezes, não descobrimos as coisas boas que temos e vamos longe, atrás
da miragem de falsos tesouros
(autor desconhecido)
O dono de um pequeno comércio, amigo do grande poeta Olavo Bilac,
abordou-o na rua:
- Sr. Bilac, estou precisando vender o meu sítio, que o Senhor tão bem conhece.
Poderia redigir o anúncio para o jornal?
Olavo Bilac apanhou o papel e escreveu:
"Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer
no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeiro. A casa banhada pelo sol nascente oferece a sombra tranqüila das tardes, na varanda".
Meses depois, topa o poeta com o homem e pergunta-lhe se havia vendido o sítio.
- Nem pense mais nisso, disse o homem. Quando li o anúncio é que percebi a
maravilha que tinha.
Moral da história:
Às vezes, não descobrimos as coisas boas que temos e vamos longe, atrás
da miragem de falsos tesouros
(autor desconhecido)
O que é o Amor ?
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Numa sala de aula, havia várias crianças.
Quando uma delas perguntou à professora: Professora, o que é o amor ?
A professora sentiu que a criança merecia uma resposta à altura da pergunta inteligente que fizera.
Como já estava na hora do recreio, pediu para que cada aluno desse uma volta pelo pátio da escola e
trouxesse o que mais despertasse nele o sentimento de amor.
As crianças saíram apressadas e, ao voltarem, a professora disse:
Quero que cada um mostre o que trouxe consigo.
A primeira criança disse : Eu trouxe esta flor, não é linda?
A segunda criança falou : Eu trouxe esta borboleta.
Veja o colorido de suas asas, vou colocá-la em minha coleção.
A terceira criança completou : Eu trouxe este filhote de passarinho.
Ele havia caído do ninho junto com outro irmão. Não é uma gracinha?
E assim as crianças foram se colocando.
Terminada a exposição, a professora notou que havia uma criança que tinha ficado quieta o tempo todo.
Ela estava vermelha de vergonha, pois nada havia trazido.
A professora se dirigiu a ela e perguntou:
Meu bem, por que você nada trouxe?
E a criança timidamente respondeu:
Desculpe, professora. Vi a flor e senti o seu perfume.
Pensei em arrancá-la, mas preferi deixá-la para que seu perfume exalasse por mais tempo.
Vi também a borboleta, leve, colorida.
Ela parecia tão feliz que não tive coragem de aprisioná-la.
Vi também o passarinho caído entre as folhas, mas, ao subir na árvore, notei o olhar triste de sua mãe e preferi devolvê-lo ao ninho.
Portanto professora, trago comigo o perfume da flor, a sensação de liberdade da borboleta e a gratidão que senti nos olhos da mãe do passarinho.
Como posso mostrar o que trouxe?
A professora agradeceu a criança e lhe deu nota máxima, pois ela fora a única que percebera que só podemos trazer o amor no coração.
Autora da Mensagem: Eliane de Araujoh (Escritora)
Extraída do Livro: "Historias para sua Criança Interior" - Editora Roka
Numa sala de aula, havia várias crianças.
Quando uma delas perguntou à professora: Professora, o que é o amor ?
A professora sentiu que a criança merecia uma resposta à altura da pergunta inteligente que fizera.
Como já estava na hora do recreio, pediu para que cada aluno desse uma volta pelo pátio da escola e
trouxesse o que mais despertasse nele o sentimento de amor.
As crianças saíram apressadas e, ao voltarem, a professora disse:
Quero que cada um mostre o que trouxe consigo.
A primeira criança disse : Eu trouxe esta flor, não é linda?
A segunda criança falou : Eu trouxe esta borboleta.
Veja o colorido de suas asas, vou colocá-la em minha coleção.
A terceira criança completou : Eu trouxe este filhote de passarinho.
Ele havia caído do ninho junto com outro irmão. Não é uma gracinha?
E assim as crianças foram se colocando.
Terminada a exposição, a professora notou que havia uma criança que tinha ficado quieta o tempo todo.
Ela estava vermelha de vergonha, pois nada havia trazido.
A professora se dirigiu a ela e perguntou:
Meu bem, por que você nada trouxe?
E a criança timidamente respondeu:
Desculpe, professora. Vi a flor e senti o seu perfume.
Pensei em arrancá-la, mas preferi deixá-la para que seu perfume exalasse por mais tempo.
Vi também a borboleta, leve, colorida.
Ela parecia tão feliz que não tive coragem de aprisioná-la.
Vi também o passarinho caído entre as folhas, mas, ao subir na árvore, notei o olhar triste de sua mãe e preferi devolvê-lo ao ninho.
Portanto professora, trago comigo o perfume da flor, a sensação de liberdade da borboleta e a gratidão que senti nos olhos da mãe do passarinho.
Como posso mostrar o que trouxe?
A professora agradeceu a criança e lhe deu nota máxima, pois ela fora a única que percebera que só podemos trazer o amor no coração.
Autora da Mensagem: Eliane de Araujoh (Escritora)
Extraída do Livro: "Historias para sua Criança Interior" - Editora Roka
sexta-feira, 18 de junho de 2010
O Burro
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No tempo em que não havia automóveis, na cocheira de um famoso palácio real, um burro de carga curtia imensa amargura, em vista das pilhérias dos companheiros de apartamento.
Reparando-lhe o pêlo maltratado, as fundas cicatrizes do lombo e a cabeça tristonha e humilde,
aproximou-se formoso cavalo árabe que se fizera detentor de muitos prêmios, e disse, orgulhoso:
- Triste sina a que recebeste! Não invejas minha posição em corridas?
Sou acariciado por mãos de princesas e elogiado pela palavra dos reis!
- Pudera! - exclamou um potro de fina origem inglesa:
- como conseguirá um burro entender o brilho das apostas e o gosto da caça? O infortunado animal recebia os sarcasmos, resignadamente.
Outro soberbo cavalo, de procedência húngara, entrou no assunto e comentou:
- Há dez anos, quando me ausentei de pastagem vizinha, vi este miserável sofrendo rudemente nas mãos do bruto amansador.
É tão covarde que não chegava a reagir, nem mesmo com um coice.
Não nasceu senão para carga e pancadas. É vergonhoso suportar-lhe a companhia.
Nisto, admirável jumento espanhol acercou-se do grupo, e acentuou sem piedade:
- Lastimo reconhecer neste burro um parente próximo.
É animal desonrado, fraco, inútil, não sabe viver senão sob pesadas disciplinas.
Ignora o aprumo da dignidade pessoal e desconhece o amor-próprio.
Aceito os deveres que me competem até o justo limite; mas se me constrangem a ultrapassar as obrigações, recuso-me à obediência, pinoteio e sou capaz de matar.
As observações insultuosas não haviam terminado, quando o rei penetrou o recinto, em companhia do chefe das cavalariças.
- Preciso de um animal para serviço de grande responsabilidade, informou o monarca, um animal dócil e educado, que mereça absoluta confiança. O empregado perguntou:
- Não prefere o árabe, Majestade?
- Não, não - falou o soberano, é muito altivo e só serve para corridas em festejos oficiais sem maior importância.
- Não quer o potro inglês?
- De modo algum. É muito irrequieto e não vai além das extravagâncias da caça.
- Não deseja o húngaro?
- Não, não. É bravio, sem qualquer educação. É apenas um pastor de rebanho.
- O jumento espanhol serviria? - insistiu o servidor atencioso.
- De maneira nenhuma. É manhoso e não merece confiança.
Decorridos alguns instantes de silêncio, o soberano indagou:
- Onde está meu burro de carga?
O chefe das cocheiras indicou-o, entre os demais.
O próprio rei puxou-o carinhosamente para fora,
mandou ajaezá-lo com as armas resplandecentes de sua Casa e confiou-lhe o filho ainda criança, para longa viagem.
E ficou tranqüilo, sabendo que poderia colocar toda a sua confiança naquele animal...
Assim também acontece na vida.
Em todas as ocasiões, temos sempre grande número de amigos, de conhecidos e companheiros,
mas somente nos prestam serviços de utilidade real aqueles que já aprenderam a servir,
sem pensar em si mesmos.
No tempo em que não havia automóveis, na cocheira de um famoso palácio real, um burro de carga curtia imensa amargura, em vista das pilhérias dos companheiros de apartamento.
Reparando-lhe o pêlo maltratado, as fundas cicatrizes do lombo e a cabeça tristonha e humilde,
aproximou-se formoso cavalo árabe que se fizera detentor de muitos prêmios, e disse, orgulhoso:
- Triste sina a que recebeste! Não invejas minha posição em corridas?
Sou acariciado por mãos de princesas e elogiado pela palavra dos reis!
- Pudera! - exclamou um potro de fina origem inglesa:
- como conseguirá um burro entender o brilho das apostas e o gosto da caça? O infortunado animal recebia os sarcasmos, resignadamente.
Outro soberbo cavalo, de procedência húngara, entrou no assunto e comentou:
- Há dez anos, quando me ausentei de pastagem vizinha, vi este miserável sofrendo rudemente nas mãos do bruto amansador.
É tão covarde que não chegava a reagir, nem mesmo com um coice.
Não nasceu senão para carga e pancadas. É vergonhoso suportar-lhe a companhia.
Nisto, admirável jumento espanhol acercou-se do grupo, e acentuou sem piedade:
- Lastimo reconhecer neste burro um parente próximo.
É animal desonrado, fraco, inútil, não sabe viver senão sob pesadas disciplinas.
Ignora o aprumo da dignidade pessoal e desconhece o amor-próprio.
Aceito os deveres que me competem até o justo limite; mas se me constrangem a ultrapassar as obrigações, recuso-me à obediência, pinoteio e sou capaz de matar.
As observações insultuosas não haviam terminado, quando o rei penetrou o recinto, em companhia do chefe das cavalariças.
- Preciso de um animal para serviço de grande responsabilidade, informou o monarca, um animal dócil e educado, que mereça absoluta confiança. O empregado perguntou:
- Não prefere o árabe, Majestade?
- Não, não - falou o soberano, é muito altivo e só serve para corridas em festejos oficiais sem maior importância.
- Não quer o potro inglês?
- De modo algum. É muito irrequieto e não vai além das extravagâncias da caça.
- Não deseja o húngaro?
- Não, não. É bravio, sem qualquer educação. É apenas um pastor de rebanho.
- O jumento espanhol serviria? - insistiu o servidor atencioso.
- De maneira nenhuma. É manhoso e não merece confiança.
Decorridos alguns instantes de silêncio, o soberano indagou:
- Onde está meu burro de carga?
O chefe das cocheiras indicou-o, entre os demais.
O próprio rei puxou-o carinhosamente para fora,
mandou ajaezá-lo com as armas resplandecentes de sua Casa e confiou-lhe o filho ainda criança, para longa viagem.
E ficou tranqüilo, sabendo que poderia colocar toda a sua confiança naquele animal...
Assim também acontece na vida.
Em todas as ocasiões, temos sempre grande número de amigos, de conhecidos e companheiros,
mas somente nos prestam serviços de utilidade real aqueles que já aprenderam a servir,
sem pensar em si mesmos.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
A fábula do vento e o sol
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O vento e o sol começaram a discutir quem era mais forte. O vento disse: "vou provar que sou o mais forte. Vê aquele velhinho lá em baixo? Aposto que consigo tirar o casaco dele mais depressa que você". Assim o sol se escondeu detrás de uma nuvem e deixou o vento soprar até quase se transformar em um furacão. Porém quanto mais forte soprava, tanto mais o velhinho se embrulhava no casaco.
Finalmente o vento se acalmou e desistiu. Quando o sol ressurgiu, apenas sorriu levemente para o velhinho, e este secando o suor da testa com a mão, tirou o casaco.
O astro-rei disse então ao vento:
" A bondade e a amabilidade são sempre mais fortes que a fúria e a
violência.
O vento e o sol começaram a discutir quem era mais forte. O vento disse: "vou provar que sou o mais forte. Vê aquele velhinho lá em baixo? Aposto que consigo tirar o casaco dele mais depressa que você". Assim o sol se escondeu detrás de uma nuvem e deixou o vento soprar até quase se transformar em um furacão. Porém quanto mais forte soprava, tanto mais o velhinho se embrulhava no casaco.
Finalmente o vento se acalmou e desistiu. Quando o sol ressurgiu, apenas sorriu levemente para o velhinho, e este secando o suor da testa com a mão, tirou o casaco.
O astro-rei disse então ao vento:
" A bondade e a amabilidade são sempre mais fortes que a fúria e a
violência.
NUNCA MAIS EU RECLAMO
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De volta à meados dos anos 70...
Um homem esta viajando e para em um posto de gasolina em meio a um torrencial aguaceiro. Ele confortavelmente sentado dentro de seu carro seco, enquanto um homem, que assobiava alegremente enquanto trabalhava, encheu seu tanque debaixo daquela chuva terrível.
Quando o cliente estava partindo, como que se desculpando, disse,
- Sinto muito que você tenha que estar aí fora com este tempo.
O atendente respondeu,
- Não me aborrece nem um pouco. Quando eu estava lutando no Vietnã eu prometi a mim mesmo que se um dia eu conseguisse sair vivo daquele lugar, eu seria tão grato que nunca mais reclamaria sobre qualquer coisa novamente. E assim tem sido e nada me aborrece.
Assumir a responsabilidade por nossas atitudes é parte da construção de uma vida íntegra e feliz.
De volta à meados dos anos 70...
Um homem esta viajando e para em um posto de gasolina em meio a um torrencial aguaceiro. Ele confortavelmente sentado dentro de seu carro seco, enquanto um homem, que assobiava alegremente enquanto trabalhava, encheu seu tanque debaixo daquela chuva terrível.
Quando o cliente estava partindo, como que se desculpando, disse,
- Sinto muito que você tenha que estar aí fora com este tempo.
O atendente respondeu,
- Não me aborrece nem um pouco. Quando eu estava lutando no Vietnã eu prometi a mim mesmo que se um dia eu conseguisse sair vivo daquele lugar, eu seria tão grato que nunca mais reclamaria sobre qualquer coisa novamente. E assim tem sido e nada me aborrece.
Assumir a responsabilidade por nossas atitudes é parte da construção de uma vida íntegra e feliz.
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