Estudando o Espiritismo

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domingo, 10 de maio de 2015

Humanização e ética

http://www.scielo.br/pdf/rbem/v33n2/13.pdf

O que é Humanização

O que é Humanização:

Humanização é a ação ou efeito de humanizar, de tornar humano ou mais humano, tornar benévolo, tornar afável.

A humanização é um processo que pode ocorrer em várias áreas, como Ciências da Saúde, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Exatas, etc. Sempre que ocorre, a humanização cria condições melhores e mais humanas para os trabalhadores de uma empresa ou utilizadores de um serviço ou sistema.

O processo de humanização implica a evolução do Homem, pois ele tenta aperfeiçoar as suas aptidões através da interação com o seu meio envolvente. Para cumprir essa tarefa, os indivíduos utilizam recursos e instrumentos como forma de auxílio. A comunicação é uma das ferramentas de grande importância na humanização.

Humanização na Saúde
A humanização na saúde implica uma mudança na gestão dos sistemas de saúde e seus serviços. Essa mudança altera o modo como usuários e trabalhadores da área da saúde interagem entre eles. A humanização na área da saúde tem como um dos seus principais objetivos fornecer um melhor atendimento dos beneficiários e melhores condições para os trabalhadores.

Humanizar a saúde também significa que as mentalidades dos indivíduos vão sofrer mudanças positivas, criando novos profissionais mais capacitados que melhoram o sistema de saúde.

Humanização e SUS
A humanização é um assunto tão importante na área da saúde que em 2003 foi lançado o HumanizaSUS,  que representa a Política Nacional de Humanização (PNH), que tem como objetivo melhorar o Sistema Único de Saúde.

Para alcançar um patamar mais elevado na área da saúde, o HumanizaSUS pretende inovar na área da saúde. De acordo com o Ministério da Saúde as principais inovações são:

Valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores;
Fomento da autonomia e do protagonismo desses sujeitos e dos coletivos;
Aumento do grau de co-responsabilidade na produção de saúde e de sujeitos;
Estabelecimento de vínculos solidários e de participação coletiva no processo de gestão;
Mapeamento e interação com as demandas sociais, coletivas e subjetivas de saúde;
Defesa de um SUS que reconhece a diversidade do povo brasileiro e a todos oferece a mesma atenção à saúde, sem distinção de idade, etnia, origem, gênero e orientação sexual;
Mudança nos modelos de atenção e gestão em sua indissociabilidade, tendo como foco as necessidades dos cidadãos, a produção de saúde e o próprio processo de trabalho em saúde, valorizando os trabalhadores e as relações sociais no trabalho;
Proposta de um trabalho coletivo para que o SUS seja mais acolhedor, mais ágil e mais resolutivo;
Compromisso com a qualificação da ambiência, melhorando as condições de trabalho e de atendimento;
Compromisso com a articulação dos processos de formação com os serviços e práticas de saúde;
Luta por um SUS mais humano, porque construído com a participação de todos e comprometido com a qualidade dos seus serviços e com a saúde integral para todos e qualquer um.

http://www.significados.com.br/humanizacao/

HUMANIZAÇÃO

http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/hum.html


Eduardo Henrique Passos Pereira Regina Duarte Benevides de Barros
No campo das políticas públicas de saúde ‘humanização’ diz respeito à transformação dos modelos de atenção e de gestão nos serviços e sistemas de saúde, indicando a necessária construção de novas relações entre usuários e trabalhadores e destes entre si.
A ‘humanização’ em saúde volta-se para as práticas concretas comprometidas com a produção de saúde e produção de sujeitos (Campos, 2000) de tal modo que atender melhor o usuário se dá em sintonia com melhores condições de trabalho e de participação dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde (princípio da indissociabilidade entre atenção e gestão). Este voltar-se para as experiências concretas se dá por considerar o humano em sua capacidade criadora e singular inseparável, entretanto, dos movimentos coletivos que o constituem.
Orientada pelos princípios da transversalidade e da indissociabilidade entre atenção e gestão, a ‘humanização’ se expressa a partir de 2003 como Política Nacional de Humanização (PNH) (Brasil/Ministério da Saúde, 2004). Como tal, compromete-se com a construção de uma nova relação seja entre as demais políticas e programas de saúde, seja entre as instâncias de efetuação do Sistema Único de Saúde (SUS), seja entre os diferentes atores que constituem o processo de trabalho em saúde. O aumento do grau de comunicação em cada grupo e entre os grupos (princípio da transversalidade) e o aumento do grau de democracia institucional por meio de processos co-gestivos da produção de saúde e do grau de co-responsabilidade no cuidado são decisivos para a mudança que se pretende.
Transformar práticas de saúde exige mudanças no processo de construção dos sujeitos dessas práticas. Somente com trabalhadores e usuários protagonistas e co-responsáveis é possível efetivar a aposta que o SUS faz na universalidade do acesso, na integralidade do cuidado e na eqüidade das ofertas em saúde. Por isso, falamos da ‘humanização’ do SUS (HumanizaSUS) como processo de subjetivação que se efetiva com a alteração dos modelos de atenção e de gestão em saúde, isto é, novos sujeitos implicados em novas práticas de saúde. Pensar a saúde como experiência de criação de si e de modos de viver é tomar a vida em seu movimento de produção de normas e não de assujeitamento a elas.
Define-se, assim, a ‘humanização’ como a valorização dos processos de mudança dos sujeitos na produção de saúde.
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GÊNESE DO CONCEITO
Por ‘humanização’ entende-se menos a retomada ou revalorização da imagem idealizada do Homem e mais a incitação a um processo de produção de novos territórios existenciais (Benevides & Passos, 2005a).
Neste sentido, não havendo uma imagem definitiva e ideal do Homem, é preciso aceitar a tarefa sempre inconclusa da reinvenção da humanidade, o que não pode se fazer sem o trabalho também constante da produção de outros modos de vida, de novas práticas de saúde.
Tais afirmações indicam que na gênese do conceito de ‘humanização’ há uma tomada de posição de que o homem para o qual as políticas de saúde são construídas deve ser o homem comum, o homem concreto. Deste modo, o humano é retirado de uma posição-padrão, abstrata e distante das realidades concretas e é tomado em sua singularidade e complexidade. Há, portanto, na gênese do conceito, tal como ele se apresenta no campo das políticas de saúde, a fundação de uma concepção de ‘humanização’ crítica à tradicional definição do humano como “bondoso, humanitário” (Dicionário Aurélio). Esta crítica permite argüir movimentos de ‘coisificação’ dos sujeitos e afirmar a aventura criadora do humano em suas diferenças. ‘Humanização’, assim, em sua gênese, indica potencialização da capacidade humana de ser autônomo em conexão com o plano coletivo que lhe é adjacente.
Para esta capacidade se exercer é necessário o encontro com um ‘outro’, estabelecendo com ele regime de trocas e construindo redes que suportem diferenciações. Como o trabalho em saúde possui “natureza eminentemente conversacional” (Teixeira, 2003), entendemos que a efetuação da ‘humanização’ como política de saúde se faz pela experimentação conectiva/ afectiva entre os diferentes sujeitos, entre os diferentes processos de trabalho constituindo outros modos de subjetivação e outros modos de trabalhar, outros modos de atender, outros modos de gerir a atenção.
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DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO
Nos anos 90, o direito à privacidade, a confidencialidade da informação, o consentimento em face de procedimentos médicos praticados com o usuário e o atendimento respeitoso por parte dos profissionais de saúde ganham força reivindicatória orientando propostas, programas e políticas de saúde. Com isto vai-se configurando um “núcleo do conceito de humanização [cuja] idéia [é a] de dignidade e respeito à vida humana, enfatizando-se a dimensão ética na relação entre pacientes e profissionais de saúde” (Vaitsman & Andrade, 2005, p. 608).
Cresce o sentido que liga a ‘humanização’ ao campo dos direitos humanos referidos, principalmente ao dos usuários, valorizando sua inserção como cidadãos de direitos. As alianças entre os movimentos de saúde e os demais movimentos sociais, como por exemplo, o feminismo, desempenham aí papel fundamental na luta pela garantia de maior eqüidade e democracia nas relações.
A XI Conferência Nacional de Saúde, CNS (2000), que tinha como título “Acesso, qualidade e humanização na atenção à saúde com controle social”, procura interferir nas agendas das políticas públicas de saúde. De 2000 a 2002, o Programa Nacional de Humanização da Atenção Hospitalar (PNHAH) iniciou ações em hospitais com o intuito de criar comitês de ‘humanização’ voltados para a melhoria na qualidade da atenção ao usuário e, mais tarde, ao trabalhador. Tais iniciativas encontravam um cenário ambíguo em que a humanização era reivindicada pelos usuários e alguns trabalhadores e, por vezes, secundarizada por gestores e profissionais de saúde. Por um lado, os usuários reivindicam o que é de direito: atenção com acolhimento e de modo resolutivo; os profissionais lutam por melhores condições de trabalho. Por outro lado, os críticos às propostas humanizantes no campo da saúde denunciavam que as iniciativas em curso se reduziam, grande parte das vezes, a alterações que não chegavam efetivamente a colocar em questão os modelos de atenção e de gestão instituídos (Benevides & Passos, 2005a).
Entre os anos 1999 e 2002, além do PNHAH, algumas outras ações e programas foram propostos pelo Ministério da Saúde voltados para o que também foi-se definindo como campo da ‘humanização’. Destacamos a instauração do procedimento de Carta ao Usuário (1999), Programa Nacional de Avaliação dos Serviços Hospitalares (PNASH –1999); Programa de Acreditação Hospitalar (2001); Programa Centros Colaboradores para a Qualidade e Assistência Hospitalar (2000); Programa de Modernização Gerencial dos Grandes Estabelecimentos de Saúde (1999); Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (2000); Norma de Atenção Humanizada de Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru (2000), dentre outros. Ainda que a palavra ‘humanização’ não apareça em todos os programas e ações e que haja diferentes intenções e focos entre eles, podemos acompanhar a relação que vai-se estabelecendo entre humanização qualidade na atenção-satisfação do usuário (Benevides & Passos, 2005a).
Com estas direções foram definidos norteadores para a Política Nacional de Humanização (Brasil, 2004): 1) Valorização das dimensões subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão no SUS, fortalecendo o compromisso com os direitos do cidadão, destacando-se o respeito às questões de gênero, etnia, raça, orientação sexual e às populações específicas (índios, quilombolas, ribeirinhos, assentados etc); 2) Fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, fomentando a transversalidade e a grupalidade; 3) Apoio à construção de redes cooperativas, solidárias e comprometidas com a produção de saúde e com a produção de sujeitos; 4) Construção de autonomia e protagonismo de sujeitos e coletivos implicados na rede do SUS; 5) Co-responsabilidade desses sujeitos nos processos de gestão e de atenção; 6) Fortalecimento do controle social com caráter participativo em todas as instâncias gestoras do SUS; 7) Compromisso com a democratização das relações de trabalho e valorização dos profissionais de saúde, estimulando processos de educação permanente.
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EMPREGO NA ATUALIDADE
A ‘humanização’ enquanto política pública de saúde vem-se afirmando na atualidade como criação de espaços/tempos que alterem as formas de produzir saúde, tomando como princípios o aumento do grau de comunicação entre sujeitos e equipes (transversalidade), assim como a inseparabilidade entre a atenção e a gestão. Este movimento se faz com sujeitos que possam exercer sua autonomia de modo acolhedor, co-responsável, resolutivo e de gestão compartilhada dos processos de trabalho.
Podemos dizer que se trata de uma
“estratégia de interferência no processo de produção de saúde, através do investimento em um novo tipo de interação entre sujeitos, qualificando vínculos interprofissionais e destes com os usuários do sistema e sustentando a construção de novos dispositivos institucionais nessa lógica” (Deslandes, 2004, p. 11).
“Trabalharmos em prol da transdisciplinaridade, buscarmos relações mais horizontalizadas de poder entre os diversos saberes (...) não descartar a clínica (...)” (Onocko Campos, 2005, p. 578), [indicam que] “em saúde (...) é sempre necessário não separar, nem dissociar a questão clínica das formas de organização do trabalho e sua (...) gestão” (Onocko Campos, 2005, p. 579).
Com a desestabilização do caráter unitário e totalitário de ‘homem’ e com a valorização da dimensão concreta das práticas de saúde, o conceito de ‘humanização’ ganha capacidade de transformação dos modelos de gestão e atenção.
Assim, ao ser proposto como política pública, o conceito de ‘humanização’ se amplia, por um lado, incorporando concepções que procuram garantir os direitos dos usuários e trabalhadores e, por outro, apontando diretrizes e dispositivos clínico-políticos concretos e comprometidos com um SUS que dá certo.
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PARA SABER MAIS
BENEVIDES DE BARROS, R. & PASSOS, E. Humanização na saúde: um novo modismo?. Interface, 9(17): 389-394, 2005a.
BENEVIDES DE BARROS, R. & PASSOS, E. A humanização como dimensão pública das políticas públicas de saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 10(3): 561- 571, 2005b.
BRASIL/MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política Nacional de Humanização, 2004. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/saude/area.cfm?id_area=390. Acesso em: 25 ago 2006.
CAMPOS, G. W. Um Método para Análise e Co-Gestão dos Coletivos: a construção do sujeito, a produção de valor de uso e a democracia em instituições – o método da roda. São Paulo: Hucitec, 2000.
CASATE, J. C. & CORRÊA, A. K. Humanização do atendimento em saúde: conhecimento veiculado na literatura brasileira de enfermagem. Rev. Lat-Am. Enfermag., 13(1): 105-111, 2005.
DESLANDES, S. F. Análise do discurso oficial sobre humanização da assistência hospitalar. Ciênc. Saúde Colet., 9(1): 7-13, 2004.
DESLANDES, S. F. A ótica de gestores sobre a humanização da assistência nas maternidades municipais do Rio de Janeiro. Ciênc. Saúde Colet., 10(3): 615-626, 2005.
ONOCKO CAMPOS, R. Humano, demasiado humano: uma abordaje del malestar em la institución hospitalaria. In: SPINELLI, H. (Org.) Salud Colectiva. Buenos Aires: Lugar Editorial, 2004.
ONOCKO CAMPOS, R. O encontro trabalhador-usuário na atenção à saúde: uma contribuição da narrativa psicanalítica ao tema do sujeito na saúde coletiva. Ciênc. Saúde Colet., 10(3): 573-583, 2005.
PUCCINI, P. T. & CECÍLIO, L. C. O. A humanização dos serviços e o direito à saúde. Cad. Saúde Pública, 20(5): 1342-1353, 2004.
TEIXEIRA, R. R. Acolhimento num serviço de saúde entendido como uma rede de conversações. In: PINHEIRO, R. &  MATTOS, R. A. (Orgs.) Construção da Integralidade: cotidiano, saberes e práticas em saúde. Rio de Janeiro: IMS/Uerj/Abrasco, 2003.
TEIXEIRA, R. R. Humanização e atenção primária à saúde. Ciênc. Saúde Colet., 10(3): 585- 598, 2005.
VAITSMAN, J. & ANDRADE, G. Satisfação e responsividade: formas de medir a qualidade e a humanização da assistência à saúde Ciênc. Saúde Colet., 10(3): 599-613, 2005.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

sobre o suicídio - André Trigueiro

http://www.plurale.com.br/site/noticias-detalhes.php?cod=14113&codSecao=5

André Trigueiro fala com exclusividade à Plurale sobre o suicídio, tema de seu novo livro



Por Sônia Araripe, Editoria de Plurale
Acostumado ao frisson de pedidos de fotos de fãs e ao burburinho de jovens alunos, o jornalista André Trigueiro, uma das principais vozes atualmente da mídia sustentável, está bem longe de ser uma celebridade inatingível, no sentido pejorativo do termo. Afável, cordial e, acima de tudo, engajado, Trigueiro tem procurado "mergulhar" em temas tão polêmicos quanto relevantes. Já rodou meio mundo para mostrar bons exemplos de iniciativas sustentáveis e não se cansa também de denunciar a realidade dura e crua de comunidades sem voz nos rincões deste Brasil. É, sem dúvida, um voluntário em causas que valem a pena. E não são poucas.
Autor de quatro - todos best-sellers - o jornalista, com longa trajetória de cerca de 30 anos em diferentes redações, se prepara para lançar mais um. Desta vez, de um tema realmente tabu: o suicídio. Trigueiro atua como voluntário-colaborador na ONG Centro de Valorização da Vida (CVV), entidade com 53 anos de trabalho sério na causa. No livro - "Viver é a melhor opção" -, que será lançado no próximo dia 11 de maio, na Livraria da Travessa, do Shopping Leblon, o jornalista fala de sua pesquisa e militância em torno de um assunto tão sério quanto urgente. Todos os direitos autorais do livro serão para o CVV.
"A prevenção do suicídio é um assunto urgente, e ausente. São mais de 800 mil casos por ano, 2.200 por dia, um a cada 40 segundos", adverte o autor. Nesta conversa exclusiva com Plurale, Trigueiro fala sobre a abordagem do assunto e também deixa uma mensagem otimista para quem algum dia pensou em se suicidar. "Acho importante a gente se dar conta de que toda dor, por mais aguda que seja, passa. Se demorar a passar, procuremos ajuda. Muita gente que já pensou várias vezes em se matar, hoje consegue tocar a vida muito bem sem esse pensamento."
Plurale - O livro trata de um tema-tabu. Como teve a ideia de abordar este assunto?
André Trigueiro - É desafio do bom jornalismo enfrentar tabus em nome da vida, da saúde e da paz. A prevenção do suicídio é um assunto urgente, e ausente. São mais de 800 mil casos por ano, 2.200 por dia, um a cada 40 segundos. Quase ninguém sabe que o suicídio é considerado caso de saúde pública no mundo, e também no Brasil. Outra informação importante amplamente desconhecida é a de que o suicídio é prevenível em 90% dos casos, quando há intercorrência com patologias de ordem mental diagnosticáveis e tratáveis, principalmente o transtorno de humor, popularmente conhecido como depressão. Apesar de tudo isso, permanece o tabu na sociedade e nas mídias. Suicídio continua sendo um assunto invisível, mesmo quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça em sucessivos relatórios o papel estratégico da comunicação para que se reduza o número de casos. Os profissionais de saúde sabem que prevenção se faz com informação. É possível reduzir a incidência de dengue, tuberculose, hanseníase, doenças sexualmente transmissíveis e outros males que atingem a Humanidade com informação clara e objetiva. O mesmo se dá quando o assunto é suicídio. É preciso saber o que dizem os especialistas, mapear os riscos, identificar os sinais de alerta e procurar ajuda quando necessário. Tudo isso só é possível com informação. Neste caso em particular, a informação correta pode salvar vidas. Essa é a principal contribuição do livro.
Plurale - O que o livro aponta? Os suicídios no Brasil aumentam....quais seria as suas principais causas?

André Trigueiro - As taxas oscilam muito, sempre num patamar elevado, razão pela qual o suicídio é considerado caso de saúde pública no mundo(pela OMS) e no Brasil (pelo Ministério da Saúde). O último levantamento é de 2012 , quando 804 mil pessoas cometeram suicídio no mundo, 2.200 casos por dia, um a cada 40 segundos. É um número de óbitos superior a dos homicídios ou de mortos em conflitos armados. Em números absolutos, o Brasil aparece em 8º no ranking mundial de suicídios com 11.821 óbitos por suicídio (em 2012), o que dá uma média de 32 casos por dia. A taxa de crescimento desse gênero de morte em nosso país é superior à do crescimento da população. Importante dizer que estes números não expressam a realidade das ocorrências, há na verdade muito mais suicídios acontecendo por aí, já que as próprias autoridades de saúde reconhecem o problema da subnotificação, ou seja, muitos atestados de óbito são preenchidos de maneira imprecisa, atribuindo a "causa indeterminada" ou "acidente" o que na verdade foi suicídio.

Plurale - Você acredita que há uma certa hipocrisia da sociedade em torno do suicídio? Como se empurrasse para debaixo do tapete um tema tão sério?

André Trigueiro- É um tabu, e enquanto for um assunto invisível, as estatísticas permanecerão preocupantes. No livro compartilho as orientações da OMS aos profissionais de imprensa sobre como falar de suicídio nas mídias. Entre outras recomendações, sugere-se não destacar esse tipo assunto com manchetes e fotos, não informar o meio empregado para consumar o suicídio, não enaltecer as qualidades morais do suicida, e sempre abrir espaço para as informações que aludem a prevenção. As pessoas precisam saber que o suicídio é prevenível em 90% dos casos, devem estar cientes das patologias que inspiram maior atenção e vigilância, as situações de risco, onde procurar ajuda especializada e quais os serviços de apoio emocional e prevenção do suicídio que existem no Brasil (como é o caso do Centro de Valorização da Vida, www.cvv.org.br – 141). É importante dizer que o jornalismo tem uma função social, ele precisa ser útil à sociedade, e neste capítulo da prevenção do suicídio, é preciso fazer mais e melhor

Plurale - Você é voluntário-colaborador na causa e está doando os direitos autorais para o CVV. Acha que falta um pouco mais de comprometimento de voluntários na causa?

André Trigueiro - Acho que falta informação. Quanto mais pessoas souberem que esse problema existe, maior será a mobilização da sociedade para evitar a ocorrência de novos casos, maior será também a cobrança para que a "Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio", lançada há mais de 10 anos pelo Ministério da Saúde, saia do papel e seja uma política pública de verdade. É um efeito dominó: informação gera reflexão e atitude. Todos podemos fazer alguma coisa em favor da vida. Se o "meio ambiente começa no meio da gente", como disse certa vez um escritor goiano, o suicídio é um desastre ecológico. Quem defende a ecologia planetária, não pode descuidar da ecologia profunda. É preciso defender a vida em todos os planos da existência, que por sinal, estão interligados e são interdependentes.

Plurale - O que você diria para quem já pensou ou está pensando em se suicidar?

André Trigueiro - A maioria das pessoas já pensou alguma vez em suicídio – pelas mais diversas razões – e nunca perdeu muito tempo com essa ideia. Quando esse pensamento é recorrente, acende-se a luz amarela. Acho importante a gente se dar conta de que toda dor, por mais aguda que seja, passa. Se demorar a passar, procuremos ajuda. Muita gente que já pensou várias vezes em se matar, hoje consegue tocar a vida muito bem sem esse pensamento. Muita gente que já tentou se matar conseguiu superar esse trauma para seguir em frente com ânimo revigorado. Em boa parte dos casos quem pensa muitas vezes em suicídio se isola da família e dos amigos, vai vivendo num mundo paralelo. Isso é ruim. Considere o benefício do desabafo. Todos nós precisamos ter a chance de desabafar com alguém, falar abertamente sobre o que nos incomoda ou atormenta. O ideal é que seja alguém que nos escute sem julgamentos, condenações ou receitas prontas para resolver os nossos problemas. Em não sendo possível encontrar esse alguém – cada vez mais raro nos dias de hoje - ligue para o CVV (141) e experimente os efeitos positivos desse contato. Se nada disso lhe parecer interessante ou convincente, vale lembrar que todas as religiões ou tradições espiritualistas do ocidente e do oriente classificam o suicídio como um erro gravíssimo. Sou espírita há 30 anos e resumirei aqui o que esta doutrina em particular assinala sobre as consequências do suicídio no mundo espiritual: o arrependimento é certo, o sofrimento se agrava barbaramente e em nenhuma hipótese o autoextermínio significa alívio ou solução para os problemas. Pense nisso. Por que não se dar de presente uma nova chance? Você merece!
Agenda de lançamentos mais próximos do livro:
- Santa Maria (RS), próximo sábado, 9/5, na Feira do Livro
- Rio de Janeiro, 11/5, segunda-feira, a partir das 19h - Livraria da Travessa do Shopping Leblon
- São Paulo,18/5, segunda-feira, 18/5, com gravação de talk show da Rádio CBN das 19h às 20h e depois autógrafos - Livraria Cultura do Conjunto Nacional - Avenida Paulista 2.073

sexta-feira, 1 de maio de 2015

O surgimento do espiritismo em Vitória da Conquista

http://espiritismoconquista.blogspot.com.br/p/o-surgimento-do-espiritismo-em-vitoria.html



     Tudo começou com ERNESTO DANTAS BARBOSA e, para tanto, convém conhecer um pouco da história do mesmo. Entre os anos de 1855 e 1856, nascia na cidade de Caetité ERNESTO DANTAS BARBOSA. Desde cedo o garoto demonstrava ser possuidor de rara inteligência, que se somava a intelectualidade do pai, o professor Manoel Barbosa. Por vontade dos pais, o jovem foi motivado a se tornar padre e foi estudar em um colégio interno em Salvador. No dia em que seria ordenado padre, quando celebraria sua primeira missa, para o espanto de todos, NÃO FEZ OS VOTOS! Declarou que estava apaixonado por uma jovem que havia escolhido para ser sua esposa. Não conseguindo fazer com que Ernesto mudasse de idéia, o pai o deserdou. Ernesto então retornou para Caetité onde fundou a escola a qual foi diretor.

     Segundo os poucos registros que se tem a respeito, por volta de 1890, mudou-se para a então IMPERIAL VILA DA CONQUISTA que, anos depois, passou a se chamar Cidade da Conquista e só em 21 de dezembro de 1943 que recebeu o nome de Vitória da Conquista. Morava na fazenda Jequitibá, localizada mais ou menos há 30 quilômetros da sede. Casou-se com Umbelina Maria de Oliveira, viúva do Sr. Manoel Fernandes de Oliveira. Não tinha diploma universitário, mas era possuidor de uma inteligência sem igual. Era considerado “o maior talento entre os homens leigos do sertão”. Educador, músico, escritor, falava fluentemente o Inglês, o Francês, o Italiano, o Espanhol e o latim, além de possuir vasto conhecimento sobre Astronomia, Geografia e História Universal, além de apreciador da poesia e de música clássica. Tocava violão por meio de partituras.

     Tendo acesso aos jornais de outros Estados, era um vasto conhecedor da doutrina espírita e, dizem, tinha até um exemplar da primeira edição do Livro dos Espíritos. Colaborou em muitos jornais da cidade e foi o redator chefe do jornal conquistense “A Notícia”. 

     Homem de caráter sem igual e de uma bondade que encantava a todos, chegou a receber o título de Coronel, mesmo sem ser militar. Fato que só acontecia com pessoas com alto conceito perante a sociedade. 

     Na própria fazenda inaugurou uma escola e começou a difundir os ensinamentos espíritas entre todos os que o cercavam. Médium de efeitos físicos e de cura, realizou prodígios que correram os quatro cantos do sertão. Teve como amigo e companheiro de ideal espírita o CORONEL FRANCISCO SOARES DE ANDRADE (Coronel Chicão) na qual a casa desse servia como ponto de discussão sobre assuntos relacionados ao espiritismo. Certamente teria sido a casa do Coronel Chicão, o local onde se plantou a primeira semente para o surgimenmto do primeiro centro espírita da cidade. 

     Intelectuais da antiga vila esperavam ansiosos pelo entrave espírita desses dois espíritos pré-determinados à difusão do espiritismo em nossa cidade. Os assuntos sobre a revelação dos espíritos, aos poucos passaram a fazer parte dos “serões” (conversas) entre as famílias distintas. Já no final do século XIX, desafiando o catolicismo reinante e dominante na época, juntamente com o Dr. João Dantas Barreto e com o farmacêutico César Vieira de Andrade, fundou a primeira instituição espírita organizada. O Centro Espírita Conquistense. Com o passar dos anos, os simpatizantes e adeptos fundaram a Filarmônica Espírita Aurora, iniciaram também uma tipografia objetivando a publicação de uma gazeta quinzenal, além de atividades aos menos favorecidos. As poesias e contos de Ernesto Dantas se transformaram no livro “Traços Crassos” que foi publicado em 1924 pelo filho dele Antônio Barbosa Dantas. 

     Livre pensador, Ernestro Dantas Barbosa usou da capacidade poética para exaltar as novas luzes do espiritismo e as perseguições que a mesma sofria pela Igreja Católica. No poema intitulado “Cantilenas” ficou uma marca dessa particularidade:

     “ Nobre povo, acorda! É tempo! Abre os olhos! Fita a luz!
     De verdade trilha a senda que o progresso nos conduz!
     Irmão despertai! Alerta escutai, que a voz da razão
     Percorre a amplidão!
     Deixai os antros da ignorância, onde o clero se mantém! 
     Foge do mal que vem das trevas, segue a luz que gera o bem!
     Se o teu suor locupleta o clero que nada faz,
     É porque, de olhos fechados, a seus pés curvado estás!
     Paladino da mentira, verdugos sem coração!
     Não sabem os que te exploram, o que seja compaixão!
     Infernos, penas eternas, satanás e confissão.
     Eis de Roma as ímpias armas, a monstruosa invenção!
     Nunca foram tais torpezas, ensinadas por Jesus!
     Justiça, amor, liberdade, legou-nos Ele na cruz!
     Esse julgo que te avilta, arranca e quebra de vez!
     Dos lares varre essa lepra, imita o povo francês!
     Eis! Os tempos são chegados, diz o céu, a terra, o ar!
     Dessa Igreja corrompida, para sempre baquear!”

     Ernesto Dantas Barbosa, desencarnou no dia 26 de maior de 1921.