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Estudando o Espiritismo
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domingo, 31 de março de 2013
Divórcio e Espiritismo
Divórcio e Espiritismo
Sérgio Biagi Gregório
1) O que entende por divórcio?
Casamento é qualquer projeto de vida em comum entre pessoas de sexos diferentes. O divórcio é o rompimento legal do casamento. Diz-se também das dissensões entre marido e mulher ou entre amigos. Exemplo: dado o seu mau caráter, está em divórcio com todos.
2) Qual a diferença entre divórcio e repúdio?
Os romanos tinham duas formas: divortium (que dependia do consentimento de ambos os cônjuges); repudium (repúdio), que dependia da vontade de um dos cônjuges.
3) Como era o casamento e o divórcio na Roma antiga?
Na Roma antiga, era costume casar-se e descasar-se. As mulheres contavam os anos pelo número de maridos. César, por exemplo, repudiou sua mulher com a simples alegação de que “a mulher de César não deve ser suspeita a ninguém”. Observava-se, também, que era uma honra para a mulher ter tido um único marido. Nesse caso, em seu túmulo ia a seguinte lápide: “não teve senão um marido”.
4) Como estão as estimativas de casamento e divórcio no Brasil e no mundo?
Nos Estados Unidos, 50% dos casamentos acabam em divórcio. Na União Européia, a cada 30 segundos um casamento é dissolvido. Por cada dois casamentos, há um que se rompe. De acordo com Censos e pesquisas do Registro Civil do IBGE, o número de divorciados no Brasil tem aumentado ao longo do tempo. Em 1980 houve 41.140 divórcios; em 1991, 378.469; em 2000, 2.319.595. Esses números representaram, respectivamente, 0,03, 0,26 e 1,37% da população. Presentemente, a cada 6 novos casamentos há 1 divórcio.
5) Qual é a definição do direito canônico sobre a indissolubilidade do casamento?
A definição dada para a indissolubilidade é: “A propriedade em virtude da qual o matrimônio não pode dissolver-se, senão pela morte de um dos cônjuges”. (conf. Can., 1118)
6) Para os judeus, o divórcio aparece em que citação bíblica?
O divórcio como direito masculino é encontrado em Deut. 24, 1-4. O item 24,1 está assim descrito: “Quando um homem tomar uma mulher, e se casar com ela, então será que, se não achar graça em seus olhos, por nela achar cousa feia, ele lhe fará escrito de repúdio, e lho dará na sua mão, e a despedirá de sua casa”.
7) Onde buscar os argumentos cristãos no novo testamento?
As convicções cristãs estão firmadas nas próprias palavras do Cristo, que só no adultério via motivo para o divórcio (Mat., 19,9)
8) Deve-se facilitar o divórcio entre as criaturas?
O Espírito Emmanuel, comentando a passagem evangélica sobre o divórcio, diz-nos que “partindo do princípio de que não existem uniões conjugais ao acaso, o divórcio, a rigor, não deve ser facilitado entre as criaturas”. Entende-se que o regime monogâmico é o que melhor se presta para a evolução do ser encarnado.
9) Não separar o que Deus uniu. Comente.
No casamento, o que é de Natureza Divina é a união dos sexos e a Lei do Amor para operar a renovação dos seres que morrem; mas as condições que regulam essa união são de ordem humana, sujeita aos costumes de cada povo.
10) Que tipo de reflexão o Espírito André Luiz nos faz acerca da noção de lar?
O Espírito André Luiz, no livro Nosso Lar, diz-nos que o lar é como um triângulo reto nas linhas do plano de evolução divina. “A reta vertical é o sentimento feminino, envolvido nas inspirações criadoras da vida. A reta horizontal é o sentimento masculino, em marcha de realizações no campo do progresso comum. O lar é o sagrado vértice onde o homem e a mulher se encontram para o entendimento indispensável”.
São Paulo, 23 de agosto de 2010
Em forma de palestra: http://www.sergiobiagigregorio.com.br/palestra/divorcio-e-espiritismo.htm
Apresentação em PowerPoint: http://www.sergiobiagigregorio.com.br/powerpoint/doutrina/divorcio-e-espiritismo.ppt
Mais textos em PowerPoint: http://www.sergiobiagigregorio.com.br/powerpoint/powerpoint.htm
Entrevista com Dalva Souza
ENTREVISTAS
P: - Qual a posição do espiritismo com relação ao divórcio? Se optamos pela separação, não estamos transferindo nossa missão para com nosso companheiro para outra época (vidas), ou seja, estamos deixando de lado nosso "carma" por utilizarmos nosso livre-arbítrio de forma equivocada, sem tentar solucionar os problemas mais caridosamente?
R: - Não deveríamos nos prender ao conceito de carma. Essa é uma posição da filosofia oriental que tem aproximações com a Lei de Causa e Efeito apresentada pelo Espiritismo, mas há distinções em relação ao entendimento isso na prática.
Quando se usa o termo carma, há uma conotação de fatalidade, enquanto que a Doutrina enfatiza a possibilidade de minimização ou eliminação das ocorrências de sofrimento, mediante uma ação positiva no bem. Vamos esclarecer bem essa questão do divórcio:
A separação e o divórcio possibilitam a resolução dos conflitos que se estabelecem na vida das pessoas que estão ligadas por compromisso formal ou vínculos legais, mas não mais se entendem, nem se amam. Na nossa cultura, essa opção é acompanhada de grande sofrimento. Parte desse sofrimento decorre do próprio processo de ruptura e parte resulta de questões culturais. Quando as pessoas se casam, geralmente, acreditam que estão dando um passo definitivo, pretendem viver juntas por longo tempo e realizam, por isso, grande investimento energético na relação, construindo elos fortes. Na separação, esses laços energéticos se rompem, o que repercute dolorosamente sobre a alma.
Esse sofrimento é inerente ao processo e, quando o casal se decide pela separação, não dá para fugir dele, é preciso enfrentá-lo com serenidade. Mas há ainda o outro sofrimento, que resulta do ideário cultural sobre a indissolubilidade do matrimônio. Podemos atenuar esse último, se desenvolvermos uma visão crítica da cultura em que vivemos.
A Doutrina Espírita nos ensina a ver o divórcio de uma maneira mais adequada. Os Espíritos, ao falarem sobre o assunto, criticaram claramente as amarras culturais que dificultam a vida dos casais. Destacam eles que a determinação legal de indissolubilidade do casamento é um erro e perguntam: “Julgas, porventura, que Deus te constranja a permanecer junto dos que te desagradam?”(LE – q.940)
Depreende-se dos ensinos deles que Deus determina a união dos seres pelo amor, para que se crie no lar uma psicosfera favorável ao desenvolvimento sadio dos filhos que porventura venham a ter. “No meio espírita, costuma-se dizer que as pessoas não devem optar pelo divórcio, porque estarão adiando o pagamento de uma dívida e terão no futuro, por isso mesmo, maior dificuldade para efetuar esse pagamento. Talvez isso se aplique ao indivíduo que é inconseqüente e irresponsável no direcionamento de suas energias amorosas, mas não se pode generalizar e achar que em todas as situações esse critério seja adequado. Na verdade, há casos em que o mal maior seria as pessoas permanecerem vinculadas a um compromisso que não desejam mais e, por isso, perderem a alegria de viver e a possibilidade de realizações espirituais significativas para sua própria evolução. Somente aquele que está vivendo o problema poderá decidir, consultando sua própria consciência, qual o melhor caminho a seguir.
“O conselho dos Espíritos é sempre no sentido de desenvolver as qualidades da alma para possibilitar um ajustamento harmonioso entre os componentes do grupo familiar e, quando se instala o conflito, a recomendação é de que se procurem todos meios de resolução do problema antes de optar pela separação. (Esse tema está mais desenvolvido no livro “Conflitos Conjugais”- edição FEEES/2002)
P: - Como entendeis o ciúme?
R: - O ciúme é gerado em nós pelo egoísmo, que produz um impulso de dominar o outro, tomar posse dele, retê-lo apenas para atender às nossas
necessidades. É preciso esforçar-se para superar essa manifestação que pode ser muito nociva à relação afetiva. Se você tem uma convivência harmoniosa com seu marido, lute para preservar isso. Evite manifestações de ciúme, controle seus impulsos. Procure entender as raízes da sua insegurança. O estudo espírita é precioso recurso, para que possamos nos educar emocionalmente. Não se acomode, acreditando que seu temperamento é assim mesmo, ou que é difícil mudar. As mudanças psicológicas só dependem de vontade firme. Ore, pedindo aos Mentores Espirituais a ajuda necessária, eles nunca se negam a amparar-nos, quando sentem em nós a sinceridade de propósitos. Uma terapia bem conduzida também pode ajudar bastante.
P: - Em uma relação conjugal, se um encontra-se insatisfeito, às vezes até frustrado em relação ao seu parceiro, pois é comum que prevaleça as vontades de um sobre as do outro, esta pessoa encontra-se "presa" a seu parceiro, tendo que resgatar futuramente pelo erro de se relacionar com alguém que não deu certo, ou a separação seria o caminho correto? Neste caso, também haveria futuramente algum tipo de resgate?
R: - Em resposta a uma questão a ele endereçada sobre o divórcio, Emmanuel afirmou: “Muitos dizem que o divórcio é válvula de escape para evitar o crime e não ousamos contestar. Casos surgem nos quais ele funciona, por medida lamentável, afastando males maiores, qual amputação que evita a morte, mas será sempre quitação adiada, à maneira de reforma no débito contraído.(1)
“Percebe-se no texto a metáfora: casal em conflito é corpo doente. Quando uma pessoa adoece, deve buscar todas as formas de tratamento para obter a cura, mas há casos em que o órgão doente chega a comprometer todo o organismo e, antes que ocorra o óbito, apela-se para a cirurgia como recurso extremo, para salvar a vida do indivíduo. Assim também com o casal, é preciso tratar a relação, utilizando-se todas as formas possíveis: diálogo, terapia psicológica, terapia espiritual, mas, se a relação está tão doente, que compromete a saúde e o equilíbrio das pessoas, podendo levá-las a situações extremas que raiam pela destruição de si mesmas ou de outrem, o divórcio surge como a cirurgia que possibilita uma sobrevida para os dois, ainda que limitada algumas vezes pelos traumas e sofrimentos que produz.”
“Talvez a inferência existente no meio espírita de que as pessoas não devem optar pelo divórcio, porque estarão adiando o pagamento de uma dívida e terão no futuro, por isso mesmo, maior dificuldade para efetuar esse pagamento, tenha nascido da leitura inadequada de textos como esse que transcrevemos, de Emmanuel, mas observemos: no texto dele, não se encontra a idéia de que, ao reformar o débito, o devedor venha a ter maior dificuldade de efetuar o pagamento. Não podemos nos esquecer de que o amigo espiritual está usando uma linguagem metafórica, não se pode interpretar isso dentro do contexto das dívidas que assumimos no mundo, em que o cobrador faz incidir juros sobre juros na cobrança. Em termos afetivos, o que ficamos devendo ao outro é o carinho, o amor, a atenção que não lhe pudemos dar na relação conjugal. Contudo, quem diz que não poderemos fazê-lo em funções afetivas diferentes: mãe/pai e filho, irmãos, amigos?”
(Trecho de “Conflitos Conjugais” - publicação FEEES/2003)
Pode-se acrescentar aqui que, na relação conjugal, não deve prevalecer a vontade de um em detrimento da vontade do outro. Ninguém deve abrir mão de si mesmo, silenciar sempre e reprimir seus desejos, anulando-se na relação. Isso inviabiliza a continuidade da vida a dois. Você faz isso por um tempo, mas não consegue fazer todo tempo. Uma vida é uma oportunidade ímpar de crescimento e o casamento é um exercício maravilhoso, para o desenvolvimento de nossas potencialidades. Anular-se não leva a essa realização, por isso, quando alguém se anula, mais cedo ou mais tarde, a relação se torna inviável.
1. EMMANUEL – Leis de Amor – cap. IV
P: - Gostaria de saber porque alguns casais se dão tão bem, enquanto outros, mesmo se amando, vivem um inferno.
R: - Porque as pessoas são diferentes. Deus nos criou assim absolutamente diferentes, cada um é um e, portanto, cada um reage de uma maneira própria diante dos desafios da vida. Além disso, precisamos considerar que o amor não é um elemento mágico que consegue cobrir nossas imperfeições. Ainda não aprendemos a amar como Jesus exemplificou. Nossa manifestação de afeto está condicionada ao nível evolutivo em que estamos, daí essa diversidade que você observou.
P: - Gostaria de saber como fazemos para achar forças para não sermos impacientes, frios, indiferentes e outros mais para com a pessoa que amamos, mas que convivemos por anos...
R: - Há muitas coisas boas a se fazer, para que, depois de anos de casamento, a gente ainda tenha a disposição psicológica para investir na relação. Um recurso muito bom é começar a fazer juntos uma coisa prazerosa e diferente, nunca antes experimentada, como, por exemplo: praticar um esporte, fazer aula de dança, iniciar um curso, participar de atividades beneficentes, etc. Qualquer atividade desafiadora, que ambos aceitem fazer com prazer, será fonte de novas trocas e renovará a motivação, sobretudo é preciso ter claro que o amor não estará em nossas vidas, a não ser que queiramos colocá-lo nela e a felicidade não é algo que vamos encontrar um dia, num futuro distante, mas uma opção que podemos fazer agora.
P: - Gostaria de saber por que muitas pessoas mas na sua maioria homens colocam o seu orgulho acima de seus sentimentos mais belos.
R: - Somos Espíritos criados simples e ignorantes, mas com potencial para atingir a plenitude de ser. Essa é uma lição básica do Espiritismo. O caminho evolutivo é longo. Vivendo muitas vidas, iremos preenchendo nossos vazios internos com as virtudes que precisamos fazer germinar e crescer. Enquanto isso, nossas manifestações na vida de relação com os nossos semelhantes mostram as imperfeições predominantes em nós mesmos. Segundo os Espíritos, o orgulho e o egoísmo são as duas raízes de todos os males. Ainda estão muito presentes em nosso mundo, porque a Terra é um planeta de provas e expiações, e os Espíritos que aqui encarnam, considerando aquele caminho evolutivo de que falamos, estão mais próximos do início da jornada que do seu fim. Precisamos ter paciência com o outro, porque também estamos no mesmo barco. Temos nossas próprias fragilidades. Ter paciência, contudo, não é acomodar-se com as coisas como estão, ao contrário, é trabalhar para que mudem, mudando primeiro a nós mesmos.
P: - O que se deve fazer apos tentar de toda maneira não destruir um lar, mas o parceiro de qualquer forma não quer nem saber, o que ele quer mais é que o mundo se acabe? Como agir?
R: - Não podemos fazer a parte que cabe ao outro. Será preciso respeitar a escolha dele, seja ela qual for. Se você tem consciência de que fez o que estava no seu limite fazer, chame o companheiro para um diálogo maduro.
Explique sua posição com calma. Diga-lhe o quanto ele é importante para você e que seu esforço tem sido no sentido de encontrar um caminho que ambos possam trilhar juntos. Espere que ele fale e procure entender a posição dele. Peça a ajuda espiritual pela oração, ampare-se na amizade de pessoas confiáveis e prossiga vivendo, minha amiga. Deus que tudo vê, não a deixará sem amparo nos momentos difíceis.
P: - Quais são as principais causas dos conflitos conjugais?
R: - Há um trecho no livro “Conflitos Conjugais” que responde a essa indagação:
“Precisamos nos conscientizar de que as pessoas, apesar de terem nascido numa mesma cultura e, às vezes, até do mesmo pai e da mesma mãe, diferem na maneira de perceber, pensar, sentir e agir, porque são Espíritos que têm sua trajetória própria, sua individualidade. As diferenças individuais são inevitáveis, mas essas diferenças não são, em si mesmas, boas nem más, e deveríamos considerá-las valiosas, porque propiciam maior riqueza à interação humana. Das diferenças nascem as discussões, as tensões e insatisfações e os conflitos interpessoais. A partir de idéias e percepções diferentes, as pessoas se antagonizam.”
As causas dos conflitos conjugais estão também aí. Na pesquisa que empreendemos e resultou no livro, encontramos as seguintes fontes de conflito na relação matrimonial: adultério, alcoolismo, obsessão, divórcio, luxúria, falta de diálogo, egoísmo, diferença religiosa e ciúme.
P: - Conflitos conjugais são "Carmas"?
R: - Não. A palavra carma tem uma conotação de castigo e fatalidade que não cabe aqui. Conflitos são ocorrências naturais da vida de relação, são inevitáveis na experiência dos seres encarnados em mundos de provas e expiações, mas não são patológicos, nem destrutivos. Há muitos aspectos positivos no conflito. Podemos dizer que um conflito previne a estagnação e estimula o interesse, pois, quando ele se apresenta, instiga a nossa curiosidade em olhar para o outro, a fim de entender suas manifestações.
Queremos saber porque o outro pensa e sente de forma diferente. O conflito é positivo também, porque descortina os problemas e, assim, possibilita encontrar soluções.”
P: - Como superar traumas que acabam gerando sérios conflitos conjugais?
R: - Primeiro, precisamos querer mesmo superar. Há pessoas que gostam do papel de vítima. Se quisermos superar, podemos procurar ajuda na casa espírita, pois todas oferecem o atendimento fraterno e o tratamento espiritual, que nos darão idéias novas a respeito de nós mesmos e da vida, para superarmos o limite pelo qual ainda estamos vendo o problema. Há também a possibilidade de obter ajuda com os terapeutas do mundo. Alguns casos atendidos por nós e relatados no livro “Conflitos Conjugais” nos mostram que os Espíritos recomendam terapia para as pessoas, cuja problemática se enraíza em processos inconscientes e que não conseguirão trabalhar esses arquivos internos sozinhas.
P: - Por que existem tantos conflitos conjugais? Maridos bêbados, esposas tiranas, ciúmes doentios, infidelidade, incompreensão, falta de diálogo, ausência de cumplicidade... Olho ao redor e apesar de todos terem se casado porque quiseram, os conflitos são enormes...Ficam enormes...Será que todos erraram ao se casar?
R: - Não é que as pessoas erram, ao se casarem. O que ocorre é uma ausência completa de preparação para o casamento. As pessoas entram nessa experiência com um ideário romântico que não sustenta ninguém no embate com a realidade, mas o fator determinante desse quadro difícil que você descreve está em nós mesmos. As imperfeições das almas num mundo como o nosso são muitas e dificultam as nossas relações afetivas. Precisamos começar a nos preocupar em educar para o amor, única maneira de minimizar esses problemas.
P: - Há pessoas espíritas que permanecem casadas em uniões difíceis, tristes por acharem que é o "seu carma". Isto está certo? Até que ponto deve-se permanecer casado por causa de um carma ou se separar independente do carma?
R: - Já comentamos anteriormente os motivos pelos quais não devemos nos prender ao conceito de carma. O que devemos considerar é que o casamento é uma coisa séria e a opção pela separação não deve ser tomada, sem que se tente de todas as formas resolver as dificuldades.
O conselho dos Espíritos aos casais é sempre no sentido de que devem desenvolver as qualidades da alma para possibilitar um ajustamento harmonioso entre os componentes do grupo familiar e, quando se instala o conflito, a recomendação é de que se procurem todos meios de resolução do problema antes de optar pela separação. Mas eles não dizem que as pessoas estão impedidas de se separarem. Há situações que se tornam insustentáveis, contudo só os que estão vivendo o problema podem decidir o caminho a seguir. Não nos cabe incentivar as separações, nem aconselhar a pessoa a permanecer casada custe o que custar.
P: - Existe algum livro atual que poderia nos esclarecer sobre os conflitos
conjugais?
R: - Há muitos livros que trabalham com o tema casamento na bibliografia espírita e na bibliografia não espírita. Todos, de alguma maneira, acabam tratando dos conflitos conjugais e propondo alguns caminhos de solução. Nos livros que escrevi: “Os Caminhos do Amor”, “Os Caminhos da Liberdade” e “Conflitos Conjugais”, há uma bibliografia no final. Você poderá consultar essas relações como ponto de partida para suas pesquisas.
P: - O que fazer quando a crise existencial que atinge o cônjuge resvala pra você e ele começa a achar que não é feliz por sua causa?
R: - O melhor caminho é o tratamento espiritual. Procure uma casa espírita da sua confiança e peça ajuda. O passe e a água fluidificada lhes darão um reforço energético, para superar a provação. As reflexões doutrinárias ampliarão a perspectiva de análise do problema e é possível que o cônjuge infeliz acabe encontrando as verdadeiras raízes da sua infelicidade. Além
disso, se houver a influenciação por espíritos inferiores, eles serão tratados.
Se vocês ainda não fazem a reunião semanal de estudo do Evangelho no lar, inicie imediatamente, para que os bons Espíritos trabalhem a ambiência do lar, garantindo a presença de fatores energéticos edificantes. Se o outro não aceitar a sugestão, faça você o tratamento e coloque o nome dele para irradiação à distância. Os terapeutas do mundo também podem ajudar bastante.
P: Quando sua prova é pesada com sua família, devemos correr,ou sentenciar nossas vontades para fazer a vontade do bem geral da família?
R: - Geralmente essa sensação de carregar um pesado fardo, em relação à vida familiar se fundamenta nos débitos que internalizamos de vidas passadas, por não termos resolvido a contento nossos compromissos afetivos. A vida está dando uma nova chance. Precisamos aprender a ver dentro de nós mesmos, sondar os motivos verdadeiros da nossa infelicidade, para que possamos superá-la. Deus não quer a nossa infelicidade, portanto o que nos infelicita não é determinação d’Ele, mas algo que nasceu de nossas próprias escolhas. Você pode escolher agora quitar-se com sua consciência, pela dedicação ao grupo familiar. Mas isso só vale, se você conseguir encontrar a alegria de estar fazendo isso. Fazer as coisas como um animal que carrega pesada canga e se dirige ao matadouro, não vai adiantar nada. Procure ajuda espiritual e, se estiver se sentindo muito frágil, socorra-se com os terapeutas do mundo. Correr não é o melhor caminho para resolver os desafios da vida.
P: - Quando saber a hora em que o relacionamento se desgastou ao ponto de um divórcio?
R: - Emmanuel, com a comparação da relação conjugal a um corpo doente, deu uma indicação bem clara. Se a relação está tão doente que está adoecendo também as pessoas envolvidas, inviabilizando sua encarnação, degenerando em agressões físicas ou morais, e, se já foram tentados todos os caminhos de resolução do problema, sem êxito, é hora de optar pelo divórcio, como recurso extremo, para garantir a continuidade do projeto encarnatório.
P: - Participei de um Forum não espírita e, sim, com foco na Medicina sobre
Sexualidade masculina e foi divulgado o resultado de uma pesquisa onde dizia que nos casamentos atuais a maioria dos homens se recusavam a separação por ter "ele" mais necessidade hoje de manter uma família e que essa não era a preocupação maior da mulher que a pesquisa revela que a separação se dá mais pela falta do afeto. Achei muito interessante essa revelação e gostaria que você na visão espírita falasse um pouco.
R: - O ser humano é um animal racional, dotado de pensamento contínuo que necessita de uma complementação psicofisiológica que lhe garanta a estabilidade emocional e nada melhor que um relacionamento sexual saudável para essa manutenção. Contudo o relacionamento que procurasse apenas uma atividade animal dissiparia energias, não traria satisfação íntima de plenitude. Por isso, todos buscam a parceria amorosa que possa garantir essa troca em níveis de estabilidade e segurança. Constituir uma família, pela definição de uma parceria amorosa estável é algo muito bom e acredito que seja a motivação predominante tanto do homem, quanto da mulher, ao decidirem casar-se. Do ponto de vista do Espiritismo, homens e mulheres são iguais perante Deus. Não há Espírito masculino e Espírito feminino. O Espírito não tem sexo. Mas há diferenças no aspecto psicológico, pois cada um tem um papel a desempenhar no cenário da vida. A encarnação em corpos de polaridade masculina permite o desenvolvimento de valores diferentes daqueles que são desenvolvidos na encarnação feminina. Há diferenças também culturais. Há uma herança cultural proveniente do sistema patriarcal que contamina as relações amorosas em nossa sociedade.
Talvez o que essa pesquisa esteja revelando em relação à mulher seja resultado do momento histórico que estamos vivendo.
Estão as mulheres emergindo de um passado de submissão e subalternidade e começam a ocupar seu espaço, participando mais decisivamente da construção de um novo estilo de vida. As pesquisas sociológicas provam que a supremacia masculina foi obtida pela violência. O homem, dotado pela natureza de maior força física, utilizou esse recurso para dominar e oprimir o mais fraco. A mulher, fisicamente mais frágil, porém portadora de maior sensibilidade, tem sabido adaptar-se aos diferentes contextos, exercendo sempre uma influência disfarçada no meio social, adestrando-se nas sutilezas da sedução e do envolvimento. Embora neste século tenhamos caminhado a passos largos em diversas direções de progresso, esse jogo de força e sedução ainda predomina nas relações entre homem e mulher, gerando distorções e conflitos sempre crescentes.
O futuro definirá caminhos de igualdade para o homem e a mulher em todos os planos da vida social. Esse equilíbrio de forças permitirá que também na vida a dois haja maior harmonia, mas por enquanto há um grande desafio a vencer, porquanto o mundo em transição representa um contexto de turbulência que dificulta a todos nós o equilíbrio nas relações afetivas. Os estudos espíritas podem nos ajudar a entender com mais clareza tudo isso. Quando as demais ciências vencerem o preconceito em relação às pesquisas espíritas, certamente alcançaremos a possibilidade de construir a sociedade renovada pela qual tanto ansiamos.
P: - Gostaria de saber o que leva um homem espirita que aparentemente tem uma excelente vida conjugal, assim ele diz que tem, a trair a esposa?
R: - Em síntese, diríamos que a causa são as imperfeições morais que ele ainda não conseguiu corrigir, mas poderemos detalhar alguns fatores que favorecem esse comportamento: 1o - a falta de disciplina das próprias energias sexuais, o desejo surge como resposta à vivência que valoriza a matéria e o imediatismo da vida transitória no corpo físico. 2o – a falta de maturidade do senso moral, que determina uma ligação perispírito/corpo, com um ascendente do corpo sobre o Espírito. 3o – falta de educação afetiva. Durante a formação desse homem, prevaleceram valores machistas: homem que é homem prova isso pela performance sexual. 4o – as facilidades do momento por que passa a sociedade.
Com a liberação feminina, a mulher tornou-se alguém também com propósitos de vivência afetivo-sexual desvinculada do comprometimento formal. As mulheres procuram mais, investem na sensualidade e manifestam um comportamento liberado, não se importando se o parceiro é casado ou não. Além disso, a mídia pela propaganda veicula uma mensagem forte de incentivo à prática sexual desvinculada do compromisso moral.
O que é preciso ressaltar, contudo, é que um homem que seja a encarnação de um Espírito já moralizado não se deixará arrastar pelos impulsos das paixões, ou pelas influências do contexto social em que vive. Prevalece, pois, como causa do comportamento mencionado a inferioridade moral dos Espíritos encarnados na Terra. O conhecimento da Doutrina Espírita, por si só, não altera o comportamento do indivíduo. A partir desse conhecimento, cada um deverá empenhar-se em sua própria reforma moral.
P: - No meio Espírita é muito difícil quando um casal resolve separar, ainda mais quando o homem ou a mulher ou ambos tem dentro da casa espírita funções de relevância como Presidente, Diretores ...O que você poderia falar sobre esse assunto já que é irremediável a separação quando todas as possibilidades já foram tentadas?
R: - O preconceito ainda é muito forte na sociedade e o movimento espírita, sendo produzido por seres formados por essa sociedade, carrega também essas características. É preciso organizar seminários, simpósios, mesas redondas, enfim, dinâmicas que permitam uma discussão desses assuntos, a partir de uma leitura mais adequada da Doutrina Espírita, para que possamos vencer os preconceitos e criar um movimento mais compatível com o espírito da Doutrina, que é de conscientização, responsabilidade e respeito à liberdade que cada um tem de escolher seu próprio caminho. Jesus disse: “Meus discípulos serão reconhecidos por muito se amarem.” O comportamento preconceituoso contra os que se separam, isolando-os dos trabalhos que poderiam apoiá-los em momentos tão difíceis não é um comportamento amoroso.
P: - Se um relacionamento conjugal sobrevive a várias separações, e mesmo que se sinta uma mudança dos sentimentos (por exemplos, se o que sentimos pela pessoa hoje difere do amor que devotávamos antes, passando a ser quase um amor fraterno, menos carnal, a despeito da libido que essa pessoa ainda nos desperte), pode significar que esse cônjuge tem comprometimento direto com nosso plano reencarnatório? Ou seja, se isto pode ocorrer, mas paralelamente ocorra um sentimento de comprometimento por outra pessoa, de nossa parte, diante da possibilidade de retomar o antigo relacionamento, qual caminho seguir, quando se pretende atender ao plano prévio? Há como identificar qual compromisso seguir, de acordo com o planejamento? Podemos ter acesso a ele, no caso específico de uma escolha de natureza afetiva?
R: - Um planejamento é um roteiro que traçamos, antes de encarnar, para desenvolvimento de potenciais que trazemos em estado latente. Como isso aconteceu anteriormente à tomada do corpo físico, as informações estão em nossa memória profunda e funcionam como uma voz interior que nos adverte, quando estamos nos desviando do rumo que pretendíamos seguir. Quanto mais apegados à matéria, menos teremos condições de acessar as informações que estão nesses arquivos mais profundos e maior será a probabilidade de erro. Por isso recomendaram os Espíritos o auto-conhecimento. Conhecer-se é analisar os próprios impulsos, os próprios sentimentos, sondar as razões pelas quais agimos de um modo e não de outro. Quando estamos envolvidos nesse processo, desenvolvemos nossa identificação com o ser espiritual que somos, vencemos os limites da matéria e podemos ouvir com mais clareza a voz interior que nos orienta e encaminha para o bem. Portanto a única pessoa que pode responder adequadamente à sua indagação é você mesmo. Lembre-se de que temos muitos contatos afetivos construídos, ao longo de muitas vidas. Podemos reencontrar muitos amores numa encarnação, mas devemos ter seriedade de propósitos e comprometimento com aquela pessoa a quem prometemos fidelidade e parceria.
P: - Serão as diferenças de visão e atuação entre duas pessoas que se amam, o que se poderia entender por conflitos, quando não conseguem chegar a um só termo, prova de que devem cultivar a relação, como forma de aprendizado para ambos?
R: - Exatamente. A relação é um exercício excelente, para aprimoramento das nossas potencialidades. Precisamos entender que somos diferentes e, por isso, temos percepções diversas de um mesmo fato, temos opiniões e sentimentos diferentes. Respeitar as diferenças e saber dialogar sobre elas é o caminho para fazer do conflito uma fonte de crescimento. O conflito é natural e pode ser até muito positivo. O ruim é a radicalização e o antagonismo, que nos fazem ver o outro como adversário.
P: - O que fazer, diante de uma certeza de diferença de grau evolutivo entre duas pessoas que se amam e pretendem se casar: a que entende essa diferença deve interromper o curso dos acontecimentos ou deve insistir na relação? Se esta intuitivamente sente que não é o momento certo para esse encontro, não estará impondo um mal à outra?
R: - As diferenças de grau evolutivo serão certamente fonte de muitos conflitos na vida a dois, mas se existir amor verdadeiramente, aquela pessoa que se encontra num nível maior saberá auxiliar a outra, sem humilhá-la, a crescer também. A solidariedade é lei divina. Os mais fortes devem amparar os mais fracos, afirmam os Espíritos. Mas gostaria de alertar quanto à ilusão que nos faz ver as coisas de uma forma distorcida. O que lhe faz concluir que há diferença de grau evolutivo? Isso é muito complexo e você pode estar fazendo uma leitura inadequada de si mesmo e da outra pessoa. Procure ajuda para entender a situação. Converse com pessoas mais experientes que conhecem você e a outra pessoa, ouça os conselhos dos mais velhos. Se necessário, recorra a uma terapia para se conhecer melhor, antes de tomar uma decisão.
P: - Se diante de um momento conflituoso, um dos cônjuges sente necessidade de romper o compromisso, de se afastar por ser um problema de ordem individual, e com isso cause grande sofrimento ao outro, estará incorrendo em erro, estará fazendo mal aquela pessoa, mesmo que entenda essa atitude como necessária?
R: - A separação é sempre uma fonte de sofrimento, por mais que a gente tente minimizar isso. Não há como evitar a dor da ruptura dos laços energéticos construídos pelo investimento afetivo que as pessoas fazem motivadas pelas promessas do tempo de namoro. Naturalmente que aquele que rompe assume a responsabilidade pelas conseqüências do rompimento, por isso é preciso ter muito claro para si mesmo que esse é o melhor caminho, antes de tomar a decisão. Daí a recomendação de Emmanuel de que se faça todo o esforço possível para manter os laços afetivos e apenas se apele para a separação, quando a relação estiver tão comprometida, que determine a destruição do projeto de crescimento afetivo das pessoas envolvidas.
Não se perturbe tanto pela questão do erro. Errar faz parte da vida dos seres encarnados em mundos de provas e expiações e todos aprendemos também com os nossos erros. O que não podemos é permanecer no caminho errado, mesmo depois de esclarecidos quanto aos nossos equívocos.
P: - Qual o papel do matrimônio nos planos de Deus para nós?
R: - Deus nos criou simples e ignorantes, mas aptos a atingirmos a plenitude de ser. Nesse processo de crescimento, as relações afetivas desempenham um papel preponderante. O homem que se isola não cresce. Nós nos aprimoramos é no contato com os nossos semelhantes. Na vida de relação, aprendemos a lidar com os sentimentos, os impulsos, os desejos, e, assim, vamos nos aperfeiçoando. A princípio, vivendo em bandos, os homens se relacionavam sexualmente de modo promíscuo. O casamento foi uma instituição que normatizou a vida sexual das criaturas, definindo responsabilidades. As leis sociais servem para dar diretrizes às ações das criaturas, permitindo a elas a disciplina necessária ao trabalho que precisam realizar em prol de sua própria evolução.
Uma sociedade em que se abolisse o casamento e a vida familiar, como dizem os Espíritos, geraria um recrudescimento do egoísmo. Viver em família, com responsabilidade e comprometimento, desenvolve os valores da alma. O casamento é, pois, um exercício maravilhoso para o desenvolvimento da nossa capacidade de amar.
P: - Qual o papel da mulher em relação à solução dos conflitos conjugais, segundo a visão espírita?
R: - Afirmam os Espíritos que, perante Deus, são iguais o homem e a mulher, pois a ambos outorgou o Pai o discernimento do bem e do mal e a capacidade de progredir. Mas ensinam também que as diferenças observadas na organização física servem para designar a homens e mulheres funções específicas no agrupamento humano. Esclarecem que as funções atribuídas à mulher são mesmo mais importantes do que aquelas legadas ao homem, uma vez que cabe à mulher influir mais decisivamente sobre os seres que renascem, transmitindo-lhes as primeiras noções da vida. Para desempenhar a função que lhe cabe no seio da família, a mulher foi dotada de mais intuição e sensibilidade, por isso, se ela quiser, poderá utilizar essa potencialidade, para entender como o marido se sente e favorecer a harmonização na relação conjugal.
P: - Existe de verdade sob a ótica espírita os casamentos acidentais?
R: Não existem casamentos acidentais, porque não há acaso. Tudo o que nos acontece é resultado da lei de ação e reação. O que podemos dizer é que nem sempre cumprimos o que definimos em nosso planejamento de vida, aquele que fizemos antes de encarnar. O casamento resulta de uma escolha que as pessoas estão fazendo e essa escolha pode ser equivocada, pois não há uma orientação em nossa cultura, para que os jovens saibam com mais clareza os motivos verdadeiros de suas escolhas. Geralmente, o apego aos valores transitórios da vida, acabam nos situando na superfície da experiência e nos deixamos levar pelas aparências, ou por outros motivos ligados às questões transitórias. Não nos conhecemos verdadeiramente e, por isso, tomamos decisões muito inadequadas.
O que se precisa saber, contudo, é que depois de feita a escolha e estabelecido o vínculo, mesmo que ele não seja a realização do plano anteriormente traçado, ele não é um acidente, pois resultou da escolha feita com uso do livre-arbítrio e, por isso mesmo, passou a haver um compromisso que deverá ser encarado com seriedade.
P: - Como perdoar, de verdade, uma traição? Apesar de continuar casada e feliz depois de ter sido traída, as vezes, choro, sofro e fico magoada por ter passado por isso.
R: - Modifique seu pensamento, não permitindo que voltem à tona as lembranças infelizes. Se os fatos já ficaram no passado, por que ficar revivendo-os pela imaginação?
Kardec ensina o seguinte:"Quando o Espírito encarnado se lembra, sua memória lhe apresenta, de certo modo, a fotografia do fato que ele procura. Em geral, os encarnados que o cercam nada vêem; o álbum se acha em lugar inacessível ao olhar deles; mas, os Espíritos o vêem e folheiam conosco. Em dadas circunstâncias, podem mesmo, deliberadamente, ajudar a nossa pesquisa ou perturbá-la" (1).
A tendência de ficar lembrando as coisas ruins pode indicar uma influência espiritual negativa. Procure pensar nas coisas boas que existem em sua vida e deixe de vez o passado para trás. Lembre-se de que ser feliz é uma escolha que fazemos a cada dia.
(1) ALLAN KARDEC - Obras Póstumas. Primeira Parte: Fotografia e Telegrafia do Pensamento.
P: - É possível em um casamento quando há traição, mentiras por parte do marido, haver uma chance de reconciliação?
R: - Acredito que sim, desde que ambos se comprometam e reconstruir a relação com honestidade. Do lado do marido, precisará haver um esforço grande no sentido de alcançar a disciplina das próprias energias sexuais e, do lado da esposa, uma disposição para esquecer os maus acontecimentos, para que a esperança seja o sentimento predominante na intimidade, orientando a reconstrução. O tratamento espiritual poderá ajudar muito. O casal deve procurar uma casa espírita de sua confiança para ir semanalmente tomar os passes e obter a ajuda espiritual. A terapia com psicanalista e psicólogo também seria um bom recurso.
P: - Os conflitos conjugais começam muitas vezes por cada um dos cônjuges exigir do outro, isto é não "dar-se" ao outro sem esperar nada em troca. A minha questão é, como evitar estes conflitos sendo uma das partes irresponsável nas suas tarefas? Será do agrado de Deus uma parte sobrecarregada e ainda por cima não reclamar?
R: - Não. Deus não quer a infelicidade de suas criaturas, mas a relação a dois é uma construção que ele delega a nós. Precisamos assumir nossa responsabilidade e definir posições. Quando as pessoas se casam, estão movidas por um ideal romântico irrealizável, não se prepararam antes para o casamento, não conversaram sobre os encargos na construção de um lar. Depois do casamento, é preciso sair do nevoeiro da ilusão, para encarar a realidade. Algumas pessoas não conseguem fazer isso. Preferem assumir um comportamento irresponsável e inconseqüente. Nesse caso, é preciso dialogar, fazer acordos, dispor-se sempre a analisar o problema, sem agredir o outro, sem fazer cobranças. Chame o companheiro para uma conversa séria. Fale de como a relação é importante para você, porque o amor que os uniu ainda existe. Depois tente firmar um acordo, definindo a parte de um e de outro. A partir daí, faça a sua parte e, se ele não fizer a dele, deixe sem fazer, porque, se você começar a fazer tudo, ele vai acomodar-se novamente. Volte ao diálogo sempre que necessário, mas fale com amor e não com irritação e agressividade. Acusações, lamúrias, queixas, xingamentos não ajudam em nada na resolução de conflitos.
P: - Devemos nos calar diante dos erros do parceiro? Exemplo, quando humilha, dizendo que somos incapazes, inclusive na frente dos filhos, é melhor nos calarmos, e deixar que os mesmos tirem suas conclusões?
R: - Quando essa atitude acontece, é sinal que a relação já vem com problemas há mais tempo, sem que os dois tenham se decidido a encarar de frente a dificuldade que se instalou. Está faltando diálogo na vida conjugal, o que é fundamental para ajustar duas personalidades que estão desejando permanecer unidas. O melhor caminho é começar a dialogar. Você deve dizer claramente como essa atitude dele está afetando você. Fale de seu sentimento com sinceridade, mas faça isso em conversa particular. A atitude de desrespeito dele não pode ser desconsiderada, pois ele poderá extrapolar os limites da agressão verbal, partir para outros tipos de agressão e criar dificuldades maiores. Faça-se respeitar. Seja amorosa, porém firme em suas posições.
P: - Como abordar o defeito do cônjuge?
R: - Para fazermos isso, necessitamos analisar a nós mesmos, nossos padrões de vida, nossos hábitos, nossas atitudes cotidianas, para constatar que também temos muitos defeitos. A partir daí, devemos nos perguntar como gostaríamos que os outros agissem conosco, em relação às nossas próprias deficiências. Jesus ensinou: Fazei aos outros o que gostaríeis que eles vos fizessem. Devemos usar esse critério, para saber como atuar junto ao cônjuge, para conscientizá-lo dos aspectos que precisa aprimorar em si mesmo. Se agir assim, vai naturalmente encontrar o melhor caminho a seguir, porque, sendo honesto consigo mesmo, qualquer um vai reconhecer que não gostaria de ser criticado, de receber recriminações na frente de terceiros, de ser punido com a indiferença, ou coisas do mesmo gênero.
O BOM SENSO DE KARDEC EM RELAÇÃO AO DIVÓRCIO
O BOM SENSO DE KARDEC EM RELAÇÃO AO DIVÓRCIO
Wellington Balbo*
Acredito que a separação conjugal é um dos processos mais dolorosos a que estamos sujeitos na Terra. Quando o casal tem filhos então, a dor toma proporções gigantescas.
Sentimento de fracasso, vazio e culpa são algumas das sensações que transitam pelo coração daqueles que se propõem a separar as “escovas de dentes”.
Sofrem todos: filhos e cônjuges, familiares e amigos.
A família é, pois, reestruturada completamente a partir da ausência de um dos cônjuges. Dúvidas que surgem, temores, receios... Como educar os filhos de agora em diante? Mudará nossa relação? E os amigos em comum, será que ainda teremos contato?
Enfim, é uma nova vida, um recomeço...
Diria que um recomeço mais complicado também sob o aspecto financeiro, porquanto as despesas multiplicam-se em velocidade vertiginosa.
No entanto, prosseguir é preciso.
Por isso mesmo o ideal é o entendimento de marido e esposa, a compreensão, o apoio mútuo.
A união de homem e mulher visa, naturalmente, a evolução daqueles espíritos ligados pelos laços do matrimônio.
Portanto, sou a favor da reconciliação sempre que possível, sou partidário de que a separação deve se dar apenas em casos extremos.
Todavia, pela falta de entendimento dos objetivos da existência humana e, principalmente, a dureza de nossos corações, conforme acentua Jesus, os casos de casamentos que chegam ao nível do insustentável, gerando agressões físicas e verbais ainda existem. Nessas circunstâncias a separação do casal é inevitável.
Melhor a separação do que cultivar as feridas abertas constantemente pela imaturidade humana que transforma o lar em ringue.
Fui casado por 10 anos e dessa união tive dois filhos. Separamo-nos e posso afirmar a dificuldade que enfrentei. Todavia, depois dos obstáculos hoje me sinto melhor e em paz.
Reitero que sou a favor do entendimento. Separação só mesmo em casos extremos.
Muita gente, ao saber de minha separação, fez o seguinte alerta:
Você está desertando de seu compromisso!
Apenas lamentei:
Uma pena, mas na atual conjuntura a separação foi inevitável. Em realidade já estávamos separados há tempos. Próximos geograficamente, distantes emocionalmente.
Como fez com diversos temas que inquietam as pessoas, Allan Kardec também analisou o divórcio. Em O Evangelho segundo o Espiritismo, diz o codificador:
O divórcio é lei humana que tem por objeto separar legalmente o que já, de fato, está separado. Não é contrário à lei de Deus, pois que apenas reforma o que os homens hão feito e só é aplicável nos casos em que não se levou em conta a lei divina.
O bom senso de Kardec é notável. Óbvio: o divórcio apenas legaliza a distância imposta pela falta de entendimento.
Embora não seja o ideal, o divórcio pode, não raro, salvar vidas. Quando o respeito perde seu espaço para as agressões a relação torna-se insustentável, até por uma questão de segurança à integridade física dos cônjuges a separação configura-se como medida prudente.
Amigo leitor, melhor adiar um compromisso do que se comprometer ainda mais perante as leis divinas.
Muita gente afirma que suportará seu companheiro pelo resto da vida para ver-se livre dele em posterior existência. Ledo engano, porquanto suportar o outro não é o que Jesus espera de nós.
O mestre quer que nos amemos uns aos outros, pois apenas o amor liberta. Quem aspira liberdade cultiva o amor.
Se alguma experiência trago em face da separação conjugal é a de que devemos utilizar o tempo de namoro como abençoada oportunidade de conhecer as pessoas que pretendemos nos unir em matrimônio. Quais suas aspirações e objetivos? Temos afinidades além da paixão carnal? Gostamos de conversar, bater papo? Temos sonhos em comum? O ciúme ultrapassa os limites do razoável?
Na época do namoro são diversos questionamentos interiores que podemos fazer para que as chances de sucesso conjugal aumentem, possibilitando-nos, assim, construir uma família alicerçada na harmonia.
Eis a importância de planejar os passos capitais da existência. O casamento é um deles, por isso deve ser planejado com zelo e carinho, calma e prudência. Assim o passar dos anos e o arrefecimento da paixão não serão passaportes para o triste “suportar o cônjuge”, pois amá-lo verdadeiramente é o objetivo principal, na certeza de que conquistamos um amigo para a eternidade.
Contei o fato relacionado à minha vida porque considero importante compartilhar as experiências para que mais pessoas tomem nota e, se possível, beneficiem-se do que já vivemos.
Separar é muito complicado, por isso, amigo leitor, pense bem, analise e reflita com muito cuidado antes de dar o importante passo do casamento em sua vida.
*Wellington Balbo é de Bauru, SP, e trabalha no Centro Espírita Joana D'Arc, sendo colaborador da mídia espírita escrita, tendo publicado vários livros.
DIVÓRCIO, DESQUITE, SEPARAÇÃO, COMO QUEIRAM. - 2/2
Acompanhei o enterro de meu corpo. Parentes e amigos cumprinham aquele dever indiferentes. Não recebi uma prece sequer. No entanto comentavam vivamente o meu desquite, suas causas, suas conseqüências, o que aumentava minha vergonha e acendia meu remorso.
Fiquei só no cemitério. Sentei-me no túmulo e pus-me a chorar.Aproximou-se de de mim uma quadrilha de maníacos sexuais, tentando agarrar-me. Não sabendo como me livrar deles, clamei pelo meu marido.
'-Teu marido?! Pois hás de vê-lo!'- Exclamaram rindo e afastando-se.
E chorando, recordei os belos sonhos de noivado; por onde andaria ele?
E pecebi que me movia; era como se eu deslizasse, como se escorregasse por uma aldeira, sempre para baixo, posto que suavemente.
Penetrei num vale sombrio, nevoento, donde partiam gemidos, gritos estentóricos, imprecações, gargalhadas de loucura. Parei perto de um espírito vestido de trapos apodrecidos, de barba e cabelos hirsutos, tendo no lado esquerdo do peito, uma ferida sanguinolenta.
Era o meu marido. Não me reconheceu.A mesma força que me fizera descer, segurava-me ali, junto dele, embora eu trabalhasse por fugir. E no meu desepero uma voz irônica falou em meu ouvido: ' Divóricio aqui não vale'.
Consumida de remorso e de dor, sentei ao seu lado, apoiando-lhe a cabeça em meu regaço. Ele tinha visões ante as quas esbravejava. Quanto tempo assim permanecemos: Ele a bracejar e urrar, eu a chorar perdidamente? Não o sei. Alguém murmurou ao meu lado:' Recorra à prece'.
Uma ocasião, parecendo reconhecer-me, bradou enlouquecido: 'O que fizemos de nosso lar? onde andam os nosso filhos? E recaiu em seus delírios.
Um grupo socorrista passou e recolheu-me. Hoje habito uma esfera espiritual, bem próxima à Crosta da Terrena, a qual aportam os náufragos do casamento. É uma colônia educacional. Dentre seus vários departamentos, sobressai o Departamento de Educação para o Casamento. É um edifício de rara beleza, construído de uma substância translúcida, que aos raios vigorosos do sol, ou à suavidade da lua e das estrelas, produz deslumbrantes efeitos de luz.
Resumirei, dando-lhes um pálida idéia do que lá aprendemos.
Submeti-me a um treinamento, para participar de um grupo que ampara os casais terrenos cujo casamento ameaça malograr-se, conquanto respeitemos-lhes o livre arbítrio, no qual não podemos interferir.
O tempo que me sobra, quase todo ele consagrado ao trabalho e ao estudo, posso dedicá-lo aos meus filhos encarnados e ao meu marido, que permanecerá no Vale ainda alguns anos.
O mentor de nossa Colônia, um espírito boníssimo, mostrou-me a necesidade de voltarmos à Crosta de mãos dadas novamente, para corrigirmos os erros de nossa última encarnação, bem como retificarmos os comentidos em encarnações anteriores, que praticamos juntos e que nossa separação não permitiu, fazendo com que perdêssemos essa oportunidade, e principalmente, para recebermos em nosso seio três aleijões morais, produtos do nosso divórcio.E então trilharemos o longo e penosíssimo caminho da reparação.
Nós que poderíamos ter desencarnado como pais e avós abençoados, eis o que ganhamos, eis o prêmio da nossa separação!
Continuando , digo-lhes que: Dentre a instituições respeitáveis que existem na Terra, a mais sagrada é a do casamento; nenhuma outra se lhe avantaja.As ilusões passageiras do mundo, nos fazem relegar o lar, que é um lugar santo, para um segundo ou terceiro plano, esqucidos de que os cônjujes entre si devem dar-se apoio total, os quais o darão aos filhos. E lembrarem-se de que um lar sem marido, é como um navio sem capitão.
Quando o lar é bem administrado e abriga o Amor, merece o auxílo do Alto, e assemelha-se a um Altar, onde espíritos amigos de outras vidas se acolhem, porque o lar é puro. O lar onde a discórdia reina, vira refúgio de espíritos pouco evoluídos, que dão vazão a seus instintos baixos, vicosos e perversos, diminuindo-lhe sensivelmente o padrão vibratório. E daí para o fim, é um passo curto.
Quantas vezes um dos cônjujes se esforça para agradar o outro, o qual como que não nota, não procura aproximar-se, criando assim problemas de coompreensão, que facilmente seriam evitados com um pouco mais de carinho, de atenção de parte a parte.
Uma boa palavra para o ser amado, um sorriso, um pequenino gesto de amor, valem mais, muito mais para a felicidade do lar, do que uma jóia de alto preço.
É de fazer pena, do lado de cá, assistir às aflições dos maus amridos, das más esposas responsáveis pela destruição dos lares, impedindo que se desenvolvesses espíritos programados para eles. Quando aqui abrem os olhos, é tarde, muito tarde...
Cuidem os cônjujes de que seu lar seja uma fortaleza contra os maus; cuidem dse seus atos e de suas palavras, para que haja o respeito e a compreensão mútuos, base essencial de um bom casamento.
Quem com o Cristo quer viver, não pode falir na instituição sacrossanta do casamento. Engrandeçam-se os cônjujes no santuário do lar. E os que falharam, corrijam-se que ainda é tempo. Futilidades, rusgas, incompatibilidade de gênio, desvenças que podem ser evitadas e sem custo, perdoadas. Orgulho, vaidade e outras causas que comumente se apresentam ao casal e são citadas para justificarem a separação, são tidas no pano espiritual, como motivos destruidores de oportunidades de os cônjujes se redimeirem entre si, queimando um carma comum aos dois.
O desquite em si ( ou divórico, separação, como queiram), pelas leis terrenas nada mais é do que um distrato, uma tentativa de romper antes do tempo, os elos espirituais, o laço divino do casamento. Tal qual o suicida que tenta arrebentar os laços perispíritico que o liga ao corpo e que só a morte natural romperia.
A exemplo dos suicidas, os espíritos desquitados perdem todos os seus direitos na espiritualidade. Barreiras intransponíveis se lhe formam pela frente, interceptando-lhes as ocasiões de progresso. E o motivo que os separou, continua no além túmulo, alimentando o ódio entre os cônjujes, porque o divórcio não está no carma de ninguém. E quando tomam consciência do ato praticado e da oportunidade de redenção perdida, entregam-se a desesperos inconcebíveis. Porque se houve união dos dois foi para que juntos lapidassem seus Espíritos, manchados pelos erros do passado e cometidos de parceria; para que se respeitassem mutuamente, partilhando o mais possível dos mesmos ideais.
E na seqüência do casamento, os filhos tivessem carinho e proteção, amor e orientação, enfim, braços amigos que os acalentassem, o lar de seus pais, o verdadeiro lar deles, filhos, o sentimento de mãe, que é tudo para eles, realizando assim o planejamento reencarnatório.
No além-túmulo não há distratos, nem desquites, nem divórcios, nem separação. As leis terrenas não vigem no plano espiritual. Lá os laços do matrimônio se desatam naturalmente, liberando os cônjuges, uma vez que bem cumpriram com seus deveres até o fim. E os desquitados um dia (quando, só o Altíssimo o sabe) terão de, noutra etapa reencarnatória, reconstruírem o lar que destruíram, trazendo para ele os filhos que se transviaram como conseqüência da separação dos pais, que são responsáveis pelo desencaminhamento deles, e co-réus nos erros que praticaram.
E agora uma última advertência: no sagrado instituto do casamento, os cônjuges que não se entreguem ao adultério, nem ele nem ela. O adúltero ou a adúltera, ao desencarnarem, caem nas mãos de Espíritos inferiores, obstinados no sexo, os quais os envolvem de tal maneira que os levam a terem uma vida vampiresca em espeluncas imundas terrenas.
E só com o perpassar do tempo, e com extrema dificuldade, é que conseguem libertar-se de seus captores.
O que me livrou deles foram as lágrimas de amargo arrependimento que derramei aos pés de meu marido.
Ó casais que estais trilhando a ilusória estrada da separação, parai! Voltai! Reconciliai-vos! Ela é enganosa! No fim dela há um despenhadeiro escuro."
Espírito: Clarinda, uma irmã de vocês
Autor: Eliseu Rigonatti
Livro: O Evangelho das Recordações – Memórias - pág. 157.
ESTUDO SOBRE CASAMENTO & DIVÓRCIO
ESTUDO SOBRE CASAMENTO & DIVÓRCIO
Astolfo O. de Oliveira Filho
A. O CASAMENTO
1. Conceito - Não há, em todo o direito privado, instituto mais discutido que o casamento. LINTON o define como sendo a união socialmente reconhecida entre pessoas de sexo diferente. LAURENT o chama de "fundamento da sociedade, base da moralidade pública e privada". GOETHE entende que o matrimônio é a base e o coroamento de toda cultura e LESSING diz ser o casamento "a grande escola fundada pelo próprio Deus para a educação do gênero humano", havendo, no entanto, entre filósofos e literatos os seus detratores, como SCHOPENHAUER que afirma: "em nosso hemisfério monógamo, casar é perder metade de seus direitos e duplicar seus deveres". E' conhecido no anedotário nacional o ditado que equipara o casamento a uma fórmula matemática: o casamento é uma soma de preocupações, uma subtração da liberdade, uma multiplicação de filhos e uma divisão de bens. No campo do direito civil, conceitua-se o matrimônio como a união permanente entre o homem e a mulher, de acordo com a lei, a fim de se reproduzirem, de se ajudarem mutuamente e de criarem os seus filhos.
2. Origem - Historicamente, o casamento começou a receber atenção na Roma antiga, onde se achava perfeitamente organizado. Inicialmente havia a confarreatio, casamento da classe patrícia, correspondendo ao casamento religioso. Dentre outros traços, caracterizava-se pela oferta aos deuses de um pão de trigo, costume que, modificado, sobrevive até os nossos dias, com o tradicional bolo de noiva. A confarreatio não tardou a cair em desuso e era rara já ao tempo de Augusto. A coemptio era o matrimônio da plebe, constituindo o casamento civil. Finalmente, havia o usus, aquisição da mulher pela posse, equivalendo assim a uma espécie de usucapião. O casamento religioso só foi regulamentado pela Igreja no Concílio de Trento (1545-1563). Com o tempo, em virtude de inúmeros fatores, inclusive a Reforma protestante, os Estados puseram à margem o casamento religioso e o primeiro país a dar esse passo foi a Inglaterra, ao tempo de Cromwell.
3. Formas - Historicamente, pode-se dizer que quatro formas fundamentais de casamento existiram no mundo: 1) casamento por rapto ou captura, muito comum entre as tribos que guerreavam entre si e nas civilizações antigas, embora MALINOWSKI entenda que esse tipo de casamento tenha existido mais na teoria do que na prática; 2) casamento por compra ou troca, comum entre os zulus da África, os índios americanos e os germanos; 3) casamento por determinação paterna, cultivado sobretudo pelos povos islâmicos e na China; e, por fim, 4) casamento por consentimento mútuo, em que é dispensável a autorização dos pais, salvo se os contraentes são menores.
4. Aspectos jurídicos - ROUAST entende que o matrimônio é ato complexo, ao mesmo tempo contrato e instituição. Claro que ele é mais que um contrato, mas não deixa de ser também um contrato. No Brasil, somente em 11/9/1861 foi regulado por Lei o casamento dos acatólicos, que poderia celebrar-se segundo o rito religioso dos próprios nubentes. Mas foi somente com a proclamação da República que o casamento perderia seu caráter confessional, instituindo-se no país, em 24/1/1890, com o Decreto no 181, o casamento civil. O casamento é desde então um ato solene em que três elementos são essenciais, sob pena de ser considerado inexistente: sexos diferentes, consentimento dos contraentes e celebração na forma dos arts. 192 a 194 do Código Civil. O casamento entre Nero e Sporus, mencionado por Suetônio, seria no Brasil um ato inexistente, porque é condição vital do matrimônio a diversidade de sexos dos nubentes.
5. Visão espírita do casamento - ALLAN KARDEC propôs aos Espíritos a seguinte questão: - "Será contrário à lei da Natureza o casamento?" Resposta: "E' um progresso na marcha da Humanidade". A abolição do casamento seria regredir à infância da Humanidade e colocaria o homem abaixo mesmo de certos animais que lhe dão o exemplo de uniões constantes. "A poligamia é lei humana cuja abolição marca um progresso social. O casamento, segundo as vistas de Deus, tem que se fundar na afeição dos seres que se unem. Na poligamia não há afeição real: há apenas sensualidade" (O Livro dos Espíritos, 695, 696 e 701).
6. Objetivo dos laços de família - "Há no homem alguma coisa mais, além das necessidades físicas: há a necessidade de progredir. Os laços sociais são necessários ao progresso e os de família mais apertados tornam os primeiros. Eis por que os segundos constituem uma lei da Natureza. Quis Deus que, por essa forma, os homens aprendessem a amar-se como irmãos." Qual seria, para a sociedade, o resultado do relaxamento dos laços de família? R.: "Uma recrudescência do egoísmo" (O Livro dos Espíritos, 774 e 775). ALLAN KARDEC assim se refere ao tema: "Na união dos sexos, de par com a lei material e divina, comum a todos os seres viventes, há outra lei divina, imutável como todas as leis de Deus, exclusivamente moral -- a Lei do amor. Quis Deus que os seres se unissem, não só pelos laços carnais, como pelos da alma, a fim de que a afeição mútua dos esposos se transmitisse aos filhos, e que fossem dois, em vez de um, a amá-los, cuidar deles e auxiliá-los no progresso" (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 22:3).
7. Antecedentes espirituais: a escolha das provas - No estado errante, o Espírito "mesmo escolhe o gênero de provas que deseja sofrer; nisto consiste o seu livre arbítrio" (O Livro dos Espíritos, 258, 851 e 866). O acaso, propriamente considerado, não pode entrar nas cogitações do sincero discípulo do Evangelho (Emmanuel, O Consolador, pergunta 186). Observe-se, entretanto, que o Espírito escolhe "o gênero de provas"; os detalhes são conseqüência da posição escolhida e freqüentemente de suas próprias ações. "Somente os grandes acontecimentos, que influem no destino, estão previstos" (O Livro dos Espíritos, 259). Além disso há duas clássicas exceções à regra geral de escolha das provas: 1) quando o Espírito é simples, ignorante e sem experiência, "Deus supre a sua inexperiência, traçando-lhe o caminho que deve seguir" (O Livro dos Espíritos, 262). 2) quando possuído pela má vontade ou sendo ainda muito atrasado, Deus pode impor-lhe uma existência que sabe lhe será útil ao progresso; mas "Deus sabe esperar: não precipita a expiação" (O Livro dos Espíritos, 262-A e 337).
8. A organização da família - A dúvida relativamente à planificação espiritual do casamento pode ser desfeita com os ensinamentos seguintes, transmitidos por EMMANUEL, mentor espiritual de Chico Xavier: (1) Habitualmente somos nós mesmos quem planifica a formação da família, antes do renascimento terrestre, com o amparo e a supervisão dos instrutores beneméritos. Comumente chamamos a nós antigos companheiros de aventuras infelizes, programando-lhes a volta em nosso convívio, a prometer-lhes socorro e oportunidade, em que se lhes reedifique a esperança de elevação e resgate, burilamento e melhoria. De todos os institutos sociais existentes na Terra, a família é o mais importante, do ponto de vista dos alicerces morais que regem a vida (Emmanuel, Vida e Sexo, cap. 17). (2) O colégio familiar tem suas origens sagradas na esfera espiritual. Em seus laços, reúnem-se todos aqueles que se comprometeram, no Além, a desenvolver na Terra uma tarefa construtiva de fraternidade real e definitiva (Emmanuel, O Consolador, pergunta 175). (3) O matrimônio na Terra é sempre uma resultante de determinadas resoluções tomadas na vida do Infinito, antes da reencarnação dos Espíritos, razão pela qual os consórcios humanos estão previstos na existência dos indivíduos, no quadro escuro das provas expiatórias ou no acervo de valores das missões que regeneram e santificam (Emmanuel, O Consolador, pergunta 179). (4) E para que possam bem cumprir seus deveres, faz-se mister a mais entranhada fé em Deus, visto que na prece e na vigilância espiritual encontrarão sempre as melhores defesas (Emmanuel, O Consolador, pergunta 188). (5) Quase sempre, Espíritos vinculados ao casal interessam-se na Vida Maior pela constituição da família, à face das próprias necessidades de aprimoramento e resgate, progresso e autocorrigenda. Em vista disso, cooperam, em ação decisiva, na aproximação dos futuros pais, aportando em casa, pelos processos da gravidez e do berço, reclamando naturalmente a quota de carinho e atenção que lhes é devida (Emmanuel, Vida e Sexo, cap. 11).
9. Tipos de casamento na Terra - Diz-nos ANDRÉ LUIZ que quatro são os tipos de casamento na Terra: há uniões marcadas pelo amor; há casamentos em que a fraternidade é o sentimento dominante; existem uniões de provação e há, por fim, os casamentos criados pelo dever. O matrimônio espiritual realiza-se alma com alma. "Os demais representam simples conciliações para a solução de processos retificadores" ("Nosso Lar", psicografado por Francisco Cândido Xavier, cap. 38, pág. 212). Ainda no mesmo livro, o autor transmite-nos a informação de que "na fase atual evolutiva do planeta, existem na esfera carnal raríssimas uniões de almas gêmeas, reduzidos matrimônios de almas irmãs ou afins, e esmagadora porcentagem de ligações de resgate. O maior número de casais humanos é constituído de verdadeiros forçados, sob algemas" ("Nosso Lar", cap. 20, pág. 113). E foi por essa ocasião que ANDRÉ LUIZ tomou conhecimento da experiência de seu amigo Lísias, que se noivou no plano espiritual, preparando seu retorno à Terra, em nova encarnação. Ele ignorava até então que as bases do casamento terrestre se encontram na vida espiritual, mas sua maior surpresa foi saber que Lísias e sua noiva já haviam acumulado vários fracassos na experiência do matrimônio na Terra, em virtude da imprevidência e da falta de autodomínio, razões de sua perdição no pretérito ("O Imortal", pág. 15, abril de 1989).
Problemas propostos
Questão no. 1 - Como podemos conceituar o casamento à luz do Direito e do Espiritismo?
Questão no. 2 - Existe um planejamento espiritual acerca do casamento na Terra?
Questão no. 3 - Quantos tipos de casamento existem neste planeta de provas e expiações?
B. O DIVÓRCIO
1. Instabilidade do casamento - A instabilidade do casamento atribui-se a fatores diversos, especialmente de natureza econômica e profissional. RADBRUCH afirma que, com a progressiva emancipação econômica da mulher, existe um novo direito de família, diferente do direito clássico. A princípio, desintegra-se a família operária pela corrida da mulher às fábricas. Mais tarde, o mesmo fenômeno ocorreria com a família pequeno-burguesa, pelas necessidades advindas do trabalho e de subsistência, em virtude das crescentes dificuldades econômicas. A ausência da mulher no lar, passando para a fábrica ou escritório, tem sido reputada como uma das causas fundamentais da instabilidade presente na sociedade doméstica em diversos países e, por conseqüência, do divórcio.
2. Conceito - Em sua acepção ampla, o divórcio pode ser definido como a dissolução do vínculo conjugal, habilitando as partes a novas núpcias. No Brasil, o divórcio foi introduzido pela Lei no 6.515, de 26/12/77, cujo art. 24 diz que o divórcio põe termo ao casamento e aos efeitos civis do matrimônio religioso
3. Origens - Desde a sociedade mais antiga, o divórcio tem sido uma viva freqüência nos costumes. Na China antiga, por exemplo, admitia-se a separação, mas o marido que abandonasse a esposa, sem justa causa, recebia 8 chibatadas. Na índia, o Código de Manu permitia o repúdio da mulher pelo marido, desde que ela sofresse de moléstia incurável ou fosse viciada no uso de licores inebriantes, assim como no caso de esterilidade, depois de oito anos de casamento, e quando os filhos se perdessem, após dez anos de união conjugal. O Código de Manu declara: "A mulher, durante a infância, depende do pai; durante a mocidade, de seu marido; morto o marido, dos filhos ou, na falta destes, dos parentes próximos do marido, pois uma mulher nunca deve governar-se por si só".
4. O divórcio no tempo - Na Grécia antiga já se admitia o divórcio. Em Roma, havia o divortium, em que deveria haver mútuo consentimento, e o repudium, de iniciativa apenas do marido, sem necessidade de motivo, mas neste caso ele era obrigado a pagar uma multa. No final do Império romano era freqüente o costume do divórcio e os imperadores cristãos de Roma o permitiam. Na verdade, o divórcio exagerado e a poligamia concorreram para desintegrar profundamente o estatuto da família na Roma imperial. OZANAM relata: "Havia o divórcio dos homens de bem, o divórcio por cansaço, o divórcio dos que mudavam de esposa por ano. Havia o divórcio por cálculo, como o prova Cícero, que repudiou Terência, não porque lhe houvesse esta contristado a alma, mas porque ele precisava de novo dote para satisfazer os credores. Havia o divórcio por generosidade, como o de Catão, que, verificando que sua mulher Márcia agradava a seu amigo Hortênsio, deu-lha a título de esposa".
5. Opositores do divórcio - A Igreja passou a proibir o divórcio especialmente após o Concílio de Trento, realizado na Idade Média. Em 1930, a encíclica papal Casti Connubii reafirmou a tese da indissolubilidade do casamento, visando assim proteger os filhos. CLÓVIS BEVILÁQUA diz que o divórcio "avassala os espíritos e acaba destruindo as energias psíquicas mais úteis ao progresso moral da humanidade". DURKHEIM, em seu famoso livro "O Suicídio", mostra com dados estatísticos que o divórcio favorece o suicídio. De fato, uma pesquisa feita na Califórnia diz que 42% dos suicidas eram, no início dos anos 50, divorciados. Outros estudiosos afirmam que o divórcio é fator de loucura. Na Baviera, levantamento feito na mesma época revelou que 67% dos loucos eram divorciados.
6. Efeitos do divórcio sobre os filhos - Poucos se lembram de que no lar há, muitas vezes, filhos e que existe muita diferença entre o que eles sentem e o que os pais costumam pensar, relativamente a questões objetivas decorrentes do divórcio. A psicóloga MARISA SILVA, terapeuta de família em Curitiba, diz que há onze anos atrás, quando abriu sua clínica, era procurada apenas por casais interessados em salvar o primeiro casamento. Hoje, o quadro é completamente diferente: cerca de 70% das terapias são feitas por parceiros que estão tentando acertar o passo do segundo ou terceiro casamento. São as chamadas famílias reconstituídas, montadas a partir dos pedaços de famílias anteriores. O fenômeno ocorre em todo o país e ocupou boa parte do 1o Congresso Brasileiro de Terapia Familiar realizado recentemente em São Paulo. Os especialistas estão surpresos, porque, segundo observações dos psicólogos, os rearranjos matrimoniais costumam durar menos que os originais. Há pessoas, informam os especialistas, que já estão em seu terceiro ou quarto casamento. E os filhos são os que mais sofrem com essa situação, porque a lealdade aos pais de origem é uma das questões mais dramáticas existentes no processo de reconstrução de famílias, e que se agrava quando um dos pais tenta denegrir a imagem do outro, do qual se separou ("O Estado de S. Paulo", pág. A12, de 8/8/94).
7. Os conflitos entre pais e filhos - As divergências entre as idéias dos adultos e das crianças podem ser sintetizadas nas quatro seguintes situações decorrentes de rearranjos matrimoniais, conforme foi mostrado no 1o Congresso Brasileiro de Terapia Familiar: (1) O adulto pensa que um novo marido ou uma nova esposa será sempre um presente para o filho do primeiro casamento. As crianças nem sempre sentem por que devem dividir o amor da mãe ou do pai com uma pessoa que não conhecem direito; (2) O adulto julga que os irmãos "postiços" também são um presente, uma companhia para o filho. A criança, muitas vezes, sente dificuldade em dividir um quarto, que antes era só seu, com pessoas que não fazem parte de sua história; (3) O adulto acha que o novo cônjuge deve substituir o pai ou a mãe de origem. As crianças sentem que devem lealdade aos pais de origem e podem tornar-se hostis com quem tenta substituí-los; (4) O adulto às vezes imagina que não existe problema em deixar claro para o filho que o pai ou a mãe de origem não presta e não liga para ele. A criança sente que, embora o pai ou a mãe tenha mil restrições ao "ex", para ela ainda é uma pessoa amada e um modelo ("O Estado de S. Paulo", pág. A12, de 8/8/94).
8. O divórcio na concepção espírita - ALLAN KARDEC indagou aos Espíritos se está na lei da Natureza a indissolubilidade absoluta do casamento. A resposta: "E' uma lei humana muito contrária à da Natureza. Mas os homens podem modificar suas leis; só as da Natureza são imutáveis" (O Livro dos Espíritos, 697). JESUS, tratando do assunto, asseverou: "Eu vos declaro que todo aquele que repudiar sua mulher, se não é por causa de adultério, e casar com outra, comete adultério, e o que se casar com a que outro repudiou, comete adultério." (Evangelho de Mateus, cap. 19:3 a 9). O Codificador do Espiritismo escreveu: "Dia virá em que se perguntará se é mais humano, mais caridoso, mais moralizador reter entre si os seres que não podem viver juntos, do que lhes conceder a liberdade, e se a perspectiva de uma cadeia indissolúvel não aumentará os número das uniões irregulares" (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 22:4). E, examinando diretamente o divórcio, asseverou: "O divórcio é uma lei humana, que tem por objeto separar legalmente o que já o estava de fato, e não vai de encontro à lei de Deus, por não reformar o que os homens fizeram, nem se aplicar senão quando a lei divina não fora levada em conta. (...) Mesmo Jesus não sancionou a indissolubilidade absoluta do casamento... Jesus vai mais longe, especificando o caso em que o abandono pode ter lugar, que é o adultério. Mas onde exista uma amizade recíproca e sincera não ronda o adultério" (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 22:5).
Resumo –
Casamento e divórcio:
* O casamento é considerado no Espiritismo um avanço na marcha da civilização.
* O divórcio só deve ser realizado em último caso, quando não existe nenhum clima de convivência entre os cônjuges.
* Separar-se por causa de filhos, ou de problemas familiares, eis um erro lamentável, que muito sofrimento imporá aos desertores.
* É lógico que o Espiritismo aceita o divórcio quando os cônjuges já se encontram irremediavelmente separados. A lei do divórcio é então uma forma jurídica de legalizar-se o que de fato já se consumou.
* Os Espíritos benfeitores sugerem-nos, contudo, que ninguém deve dar, nesse particular, o primeiro passo. Divórcio, na feliz expressão de André Luiz, é compromisso adiado, saldo a pagar na contabilidade de nossas vidas.
* Todos os problemas gerados a partir da separação conjugal pesarão na folha daquele que lhe foi a causa.
Problemas propostos
Questão no. 1 - Podemos afirmar que o divórcio é sempre o descumprimento de um programa traçado pelos cônjuges na vida espiritual, antes de seu retorno ao corpo?
Questão no. 2 - Em face do que o Espiritismo nos ensina sobre a finalidade do casamento, qual deve ser a atitude de um casal diante de um matrimônio que não caminha como se deseja?
Respostas
Posição de Emmanuel (Espírito):
"Ergueste o lar por amor e tão-só pelo amor conseguirás conservá-lo.
"Não será exigindo tiranicamente isso ou aquilo de quem te compartilha o teto e a existência que te desincumbirás dos compromissos a que te empenhaste.
"Unicamente doando a ti mesmo em apoio da esposa ou do esposo é que assegurarás a estabilidade da união em que investiste os melhores sentimentos.
"Se sabes que a tolerância e a bondade resolvem os problemas em pauta, a ti cabe o primeiro passo a fim de patenteá-las na vivência comum, garantindo a harmonia doméstica.
"Inegavelmente não se te nega o direito de adiar realizações ou dilatar o prazo destinado ao resgate de certos débitos, de vez que ninguém pode aceitar a criminalidade em nome do amor. Entretanto, nos dias difíceis do lar recorda que o divórcio é justo, mas na condição de medida articulada em última instância. E nem te esqueças de que casar-se é tarefa para todos os dias, porquanto somente da comunhão espiritual gradativa e profunda é que surgirá a integração dos cônjuges na vida permutada, de coração para coração, na qual o casamento se lança sempre para o Mais Alto, em plenitude de amor eterno." ("Na Era do Espírito", cap. 11, psicografado por Francisco Cândido Xavier.)
Posição de J. Herculano Pires:
"Entre os interesses que podem influir na determinação do casamento figuram também a vaidade e a atração sexual, ambos elementos estranhos ao amor e por isso mesmo de natureza efêmera. Em casos dessa natureza, como em vários outros, a separação se torna inevitável e o divórcio aparece então como a lei civil que serve de remédio à separação dos casais, permitindo aos pares frustrados a reconstrução do lar em bases legítimas com outros cônjuges. (...) Mas quando o lar se formou com base no amor as decepções que podem surgir têm o remédio no próprio amor. Quem ama sabe tolerar e perdoar. As dificuldades serão superadas dia a dia pelo cultivo do amor. Basta que cada cônjuge se lembre de que as frustrações são recíprocas. O mesmo acontece com o artista na realização de sua obra. O ideal está sempre acima do real. Mas o verdadeiro artista sabe disso e procura superar a sua frustração pelo esforço constante de aperfeiçoamento. O cultivo do amor é como o cultivo da arte. E quem romper um casamento de amor, por simples intolerância, não encontrará mais remédio para a sua solidão." ("Na Era do Espírito", cap. 11.)
Posição de André Luiz (Espírito):
"Divórcio, edificação adiada, resto a pagar no balanço do espírito devedor. Isso geralmente porque um dos cônjuges, sócio na firma do casamento, veio a esquecer que os direitos na instituição doméstica somam deveres iguais.
"A Doutrina Espírita elucida claramente o problema do lar, definindo responsabilidades e entremostrando os remanescentes do trabalho a fazer, segundo os compromissos anteriores em que marido e mulher assinaram contrato de serviço, antes da reencarnação.
"Dois espíritos sob o aguilhão do remorso ou tangidos pelas experiências da evolução, ambos portando necessidades e débitos, combinam encontro ou reencontro no matrimônio, convencidos de que união esponsalícia é, sobretudo, programa de obrigações regenerativas.
"Reincorporados, porém, na veste física, se deixam embair pelas ilusões de antigos preconceitos da convenção social humana ou pelas hipnoses do desejo e passam ao território da responsabilidade matrimonial, quais sonâmbulos sorridentes, acreditando em felicidade de fantasia como as crianças admitem a solidez dos pequeninos castelos de papelão.
"Surgem, no entanto, as realidades que sacodem a consciência.
(...) "Descobrem, por fim, que amar não é apenas fantasiar, mas, acima de tudo, construir. E construir pede não somente plano e esperança, mas também suor e por vezes aflição e lágrimas.
"Auxiliemos, na Terra, a compreensão do casamento como sendo um consórcio de realizações e concessões mútuas, cuja falência é preciso evitar. Divulguemos o princípio da reencarnação e da responsabilidade individual para que os lares formados atendam à missão a que se destinam.
"Compreendamos os irmãos que não puderem evitar o divórcio porquanto ignoramos qual seria a nossa conduta em lugar deles, nos obstáculos e sofrimentos com que foram defrontados, mas interpretemos o matrimônio por sociedade venerável de interesses da alma perante Deus." ("Sol nas Almas", cap. 10, psicografado por Waldo Vieira.)
Posição de Divaldo Pereira Franco:
"Digamos que há uns casamentos programados e outros que a precipitação programou. A inexperiência do jovem, a prevalência da natureza animal sobre a natureza espiritual do homem faz com que ele assuma compromissos que não estavam adredemente estabelecidos e que, ao se dar conta do engano, queira regularizar a situação. Portanto, para o mal existente, um remédio. O divórcio é uma medicação para minorar o mal, que é a desinteligência entre os cônjuges.
"Faltando a estes a elevação moral para renunciar-se em benefício da família ou para ceder a favor do seu companheiro, o divórcio vem legalizar o que moralmente já aconteceu, porque já se separaram emocionalmente ou fisicamente. Desde que acabou o amor, desfez-se o vínculo, o que não quer dizer que acabou o compromisso, porque esse pode ser postergado para uma condição de reabilitação que virá depois.
"Naqueles matrimônios que foram programados antes do renascimento, o divórcio seria um agravamento de responsabilidades. Mas, se indagará: como saber-se se tal foi um matrimônio programado antes ou se foi um matrimônio precipitado? Pela capacidade de amor e resistência dos nubentes, pode-se sabê-lo.
"O ideal seria que se chegasse até ao termo da vida com o companheiro que se elegeu; porém, na falta de valores ético-morais e espirituais para saber-se conduzir nas horas difíceis, evitando-se ligações sem amor e sem licitude, evitando-se problemas de uxoricídio e de crimes outros, melhor será legalizar a situação equívoca do que existir numa situação que se pode tornar calamitosa.
"A Doutrina Espírita vê como um `mal necessário' a solução pelo divórcio. Chegará o dia em que o homem melhor escolherá o seu companheiro, com maturidade e amor e, como conseqüência, suportará mais as vicissitudes que advenham dessa escolha, liberando-se daquilo que lhe constitui uma carga aflitiva, porque ele tem os olhos postos na vida espiritual, que é a verdadeira." (Entrevista ao jornal O IMORTAL, págs. 6 e 7, junho de 1984.)
(Relato da lenda árabe sobre o homem que queria casar-se apenas com uma mulher perfeita. Ele saíra pelo mundo à busca de sua eleita. Trinta anos depois, sem conseguir o seu intento, velho e cansado, retornou à terra natal. Um amigo o admoestou: "Então, tu viajaste trinta anos em vão! Afinal, não encontraste a mulher perfeita! Ele respondeu-lhe: "Tu te enganas, meu amigo. Eu a encontrei, sim, mas ela também estava à busca de um homem perfeito...")
Centro Espírita Meimei
Londrina, 11/8/1994.
a:divorcio
TIPOS DE CASAMENTO E DIVÓRCIO SEGUNDO O ESPIRITISMO
TIPOS DE CASAMENTO E DIVÓRCIO SEGUNDO O ESPIRITISMO
Martins Peralva no livro Estudando a Mediunidade apresenta uma divisão didática dos diferentes tipos de casamento em 5 tipos distintos:
a) Afins: São aqueles formados por parceiros simpáticos, afins, onde há uma verdadeira afeição da alma. Geralmente, eles sobrevivem à morte do corpo e mantém-se em encarnações diversas. Pouco comuns na Terra.
b) Transcendentais: São casamentos afins entre almas enobrecidas, que juntas, vão dedicar-se a obras de grande valor para a Humanidade.
c) Provacionais: São uniões entre almas mutuamente comprometidas, que estão juntas para pacificarem as consciências ante erros graves perpetrados no passado e simultaneamente desenvolverem os valores da paciência, da tolerância e da resignação. É o tipo de casamento mais comum existente no planeta Terra.
d) Sacrificiais: São aqueles que se caracterizam por uma grande diferença evolutiva entre os cônjuges. Um Espírito de mais alta envergadura que aceita o consórcio com outro menos adiantado para ajudá-lo em seu progresso espiritual.
e) Acidentais: São os casamentos que não foram programados no mundo espiritual. Obedecem apenas à afeição física, sem raízes na afetividade sincera.
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A posição espírita ante o divórcio está plenamente estabelecida nas duas obras mais conhecidas de nossa literatura: [O Livro dos Espíritos] e [O Evangelho Segundo o Espiritismo].
No Livro dos Espíritos na questão 697, Kardec pergunta se a indissolubilidade do casamento pertence a Lei de Deus ou se é apenas uma lei humana. Os Espíritos responderam: “A indissolubilidade do casamento é uma lei humana muito contrária a lei natural.” Na questão 940 os espíritos falam sobre as uniões infelizes: “As vossas leis nesse particular são erradas, pois acreditais que Deus vos obriga a viver com aqueles que vos desagradam.”
Em [ESE-cap XXII] Kardec comenta: “O divórcio é uma lei humana cuja finalidade é separar legalmente o que já está separado de fato. Não é contrária a Lei Natural, pois só virá reformar o que os homens já fizeram.” A posição de Kardec deixa-nos serenos para afirmar que o Espiritismo não é contrário à instituição do divórcio, embora não venha a estimulá-lo, nem tampouco incitá-lo nos casais com problemas de relacionamento .
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DIVÓRCIO NA VISÃO ESPÍRITA - Divaldo Franco
DIVÓRCIO NA VISÃO ESPÍRITA - Divaldo Franco
COMO O ESPÍRITA VÊ O DIVÓRCIO? Nós o vemos como uma necessidade para os problemas existentes. O ideal seria que os indivíduos se amassem sempre, a ponto de não necessitarem da separação legal. Como vivemos numa sociedade constituída dentro de estatutos e leis, é necessário que respeitemos estes estatutos. No entanto, quando os indivíduos, no caso, os nubentes, não conseguem mais se suportar, a fim de evitar males maiores, o divórcio ainda é uma fórmula para ajudar na recuperação da vida de ambos, dentro de uma problemática moral e legal.
HOJE O ÍNDICE DE SEPARAÇÃO DE CASAIS ESTÁ AUMENTANDO CONSIDERAVELMENTE. QUAL SERIA A CAUSA DESSE DESAJUSTE ENTRE OS CÔNJUGES? Desestrutura da personalidade humana. O matrimonio se transformou em uma atitude de irresponsabilidade em que dois parceiros se buscam para a prática do sexo, sem maiores conseqüências e sem maiores despesas. Por efeito, essa imaturidade comportamental e a falta da responsabilidade psicológica para dividir espaços tem sido responsável pela troca de casais e de parceiros, e naturalmente, pela dissolução da família. Enquanto o homem não se estruturar interiormente, todos os seus passos serão frágeis, correndo graves riscos de destruição. O problema da família é o problema ético da sociedade. É o resultado do homem solitário de criatura interior, da crença na imortalidade da alma que conscientiza o homem da justiça divina, que lhe dá dignidade, e, da reencarnação, que lhe demonstra que todo atentado à vida, ao dever e às leis soberanas do Cosmos ele terá que regularizar em próxima oportunidade. (Do livro – Entrevistas & Lições)
"Há os que decidam não casar-se mais, para viver aventuras sexuais. Neste caso, é melhor que o indivíduo case-se novamente, para que não se comprometa com as leis divinas." (J. Raul Teixeira)
O DIVÓRCIO NA VISÃO DO ESPIRITISMO
O DIVÓRCIO NA VISÃO DO ESPIRITISMO
O casamento é um compromisso de muita responsabilidade, mas infelizmente o homem tem confundido sua encarnação com se fosse uma excursão para piquenique qualquer, vendo-o como um banquete dos sentidos. Daí, o panorama melancólico que tem invadido muitos lares.
Tanto o homem como a mulher, deveriam conscientizar-se de que a Terra ainda não realiza casamento de anjos. O ser humano é cheio de imperfeições, é um misto de sombra e luz do ponto de vista espiritual, que na convivência conjugal, deixa cair a máscara, mostrando-se tal qual o é.
Para que o casamento consiga sobreviver às dificuldades naturais da marcha, há necessidade de atração espiritual e de existência de laços de afeto entre ambos, tornando-os verdadeiramente unidos por Deus, submissos à Sua Lei.
A união fruto do interesse, muito própria da sociedade insincera e alicerçada em poderes aquisitivos, baseada na conveniência social, na beleza física, na fortuna, ou unicamente no sexo, está fadada ao insucesso.
Antes de chegar ao porto do destino, os interessados na vida a dois deveriam passar por duas estações importantíssimas, a do namoro e a do noivado, fases em que o relacionamento entre ambos se aprofunda, dando ensejo a que se conheçam melhor.
Quando a realidade do lar se tornar diferente daquela do período do namoro, ou do noivado, devem entrar em jogo por parte de um dos cônjuges, os valores espirituais da fé, da paciência, o espírito de renúncia e abnegação e uma grande coragem, para que o casamento doente se possa recuperar e a família permanecer a salvo do naufrágio total.
Acima dos direitos individuais estão os direitos familiares, principalmente quando envolvem filhos, as maiores vítimas, cuja educação necessita imperiosamente da assistência e da presença atuante de ambos os cônjuges.
O casal que busca o recurso da separação nada mais faz que adiar o resgate de um débito, agravando os esforços do pagamento, pelas suas noções de irresponsabilidade.
Deixou-nos o Codificador, com o bom senso que lhe é peculiar, um capítulo especial sobre o divórcio no Evangelho Segundo o Espiritismo, onde afirma ser ele nada mais que uma medida humana, que objetiva separar aquilo que espiritualmente já estava separado.O espírita esclarecido, homem ou mulher, deve aprender a renunciar, a benefício de sua paz e do seu reajuste, pois sabe que não existem na Terra uniões legalizadas ou não, que não tenham vínculos graves no princípio da responsabilidade assumida em comum.
Sabe que se fugir hoje ao resgate, voltará amanhã, na companhia daquele ou daquela de quem procura agora afastar-se.
O divórcio jamais deve ser facilitado ou estimulado. Todos os esforços e sacrifícios possíveis devem ser empregados entre os cônjuges para que ele não se concretize, a não ser que o relacionamento se torne impraticável, chegando mesmo, ao perigo do crime ou do suicídio.
Nestes casos ele funcionará como medida lamentável, afastando males maiores, semelhantes à amputação que evita a morte, mas que sempre será uma quitação adiada, diante da Lei de Causa e Efeito e que terá um dia que ressarcir.
A separação constitui atitude que nunca deve ser assumida antes de profunda análise e demorada meditação que levem à plena consciência das responsabilidades envolvidas.
Mas se apesar de todas as tentativas e sacrifícios possíveis de preservar o lar desta hecatombe infeliz, um dos cônjuges exigindo sua liberdade, recusar-se a conviver com o outro, lesando-o nos seus interesses mais profundos, contrairá pesados débitos das leis divinas. E se, por desequilíbrio oriundo da solidão, o cônjuge abandonado vier a tomar caminhos mais infelizes ainda, todas as duplicatas serão contabilizadas no fórum da consciência do cônjuge irresponsável.
A criatura humana precisa tomar muito cuidado com as chamadas “lesões afetivas”, pois ninguém tem o direito de brincar com os sentimentos de ninguém. Precisa amadurecer, preparar-se para o amor e se educar, para ser feliz. Toda atitude de leviandade, mormente no campo sentimental, é uma dívida dolorosa que o homem ou a mulher vêm a contrair.
O Espiritismo não é doutrina do não e sim da responsabilidade. Viver é escolher, é optar, é decidir.Somos livres para escolher, mas responderemos por essa escolha. Na lei divina, a semeadura é voluntária; mas a colheita é sempre obrigatória.
Bem-aventurado, pois, todo aquele que, apesar dos entraves e das lágrimas do caminho sustentar nos ombros, ainda mesmo desconjuntados e doloridos, a bendita carga das próprias obrigações.
Fonte:
Nas pegadas de um anjo Jerônimo Mendonça
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DIVÓRCIO
DIVÓRCIO
"O divórcio é lei humana que tem por objeto separar legalmente o que já, de fato, está separado. Não é contrário à lei de Deus, pois que apenas reforma o que os homens hão feito e só é aplicável nos casos em que não se levou em conta a lei divina." (Item 5, do Cap. XXII, de "O Evangelho Segundo o Espiritismo".)
Partindo do princípio de que não existem uniões conjugais ao acaso, o divórcio, a rigor, não deve ser facilitado entre as criaturas.
É aí, nos laços matrimoniais definidos nas leis do mundo, que se operam burilamentos e reconciliações endereçados à precisa sublimação da alma.
O casamento será sempre um instituto benemérito, acolhendo, no limiar, em flores de alegria e esperança, aqueles que a vida aguarda para o trabalho do seu próprio aperfeiçoamento e perpetuação. Com ele, o progresso ganha novos horizontes e a lei do renascimento atinge os fins para os quais se encaminha.
Ocorre, entretanto, que a Sabedoria Divina jamais institui princípios de violência, e o Espírito, conquanto em muitas situações agrave os próprios débitos, dispõe da faculdade de interromper, recusar, modificar, discutir ou adiar, transitoriamente, o desempenho dos compromissos que abraça.
Em muitos lances da experiência, é a própria individualidade, na vida do Espírito, antes da reencarnação, que assinala a si mesma o casamento difícil que faceará na estância física, chamando a si o parceiro ou a parceira de existências pretéritas para os ajustes que lhe pacificarão a consciência, à vista de erros perpetrados em outras épocas. Reconduzida, porém, à ribalta terrestre e assumida a união esponsalícia que atraiu a si mesma, ei-la desencorajada à face dos empeços que se lhe desdobram à frente. Por vezes, o companheiro ou a companheira voltam ao exercício da crueldade de outro tempo, seja através de menosprezo, desrespeito, violência ou deslealdade, e o cônjuge prejudicado nem sempre encontra recursos em si para se sobrepor aos processos de dilapidação moral de que é vítima.
Compelidos, muita vez, às últimas fronteiras da resistência, é natural que o esposo ou a esposa, relegado a sofrimento indébito, se valha do divórcio por medida extrema contra o suicídio, o homicídio ou calamidades outras que lhes complicariam ainda mais o destino. Nesses lances da experiência, surge a separação à maneira de bênção necessária e o cônjuge prejudicado encontra no tribunal da própria consciência o apoio moral da auto-aprovação para renovar o caminho que lhe diga respeito, acolhendo ou não nova companhia para a jornada humana.
Óbvio que não nos é lícito estimular o divórcio em tempo algum, competindo-nos tão-somente, nesse sentido, reconfortar e reanimar os irmãos em lide, nos casamentos de provação, a fim de que se sobreponham às próprias suscetibilidades e aflições, vencendo as duras etapas de regeneração ou expiação que rogaram antes do renascimento no Plano físico, em auxílio a si mesmos; ainda assim, é justo reconhecer que a escravidão não vem de Deus e ninguém possui o direito de torturar ninguém, à face das leis eternas.
O divórcio, pois, baseado em razões justas, é providência humana e claramente compreensível nos processos de evolução pacífica.
Efetivamente, ensinou Jesus: "não separeis o que Deus ajuntou", e não nos cabe interferir na vida de cônjuge algum, no intuito de arredá-lo da obrigação a que se confiou. Ocorre, porém, que se não nos cabe separar aqueles que as Leis de Deus reuniu para determinados fins, são eles mesmos, os amigos que se enlaçaram pelos vínculos do casamento, que desejam a separação entre si, tocando-nos unicamente a obrigação de respeitar-lhes a livre escolha sem ferir-lhes a decisão. (Emmanuel - Vida e Sexo - Chico Xavier). PRÓXIMO
Casamento e Divórcio
Casamento e Divórcio
Divórcio, edificação adiada, resto a pagar no balanço do espírito devedor. Isso geralmente porque um dos cônjuges, sócio na firma do casamento, veio a esquecer que os direitos na instituição doméstica somam deveres iguais.
A Doutrina Espírita elucida claramente o problema do lar, definindo responsabilidades e entremostrando os remanescentes do trabalho a fazer, segundo os compromissos anteriores em que marido e mulher assinaram contrato de serviço, antes da reencarnação.
Dois espíritos sob o aguilhão do remorso ou tangidos pelas exigências da evolução, ambos portando necessidades e débitos, combinam encontro ou reencontro no matrimônio, convencidos de que união esponsalícia é, sobretudo, programa de obrigações regenerativas.
Reincorporados, porém, na veste física, se deixam embair pelas ilusões de antigos preconceitos da convenção social humana ou pelas hipnoses do desejo e passam ao território da responsabilidade matrimonial, quais sonâmbulos sorridentes, acreditando em felicidade de fantasia como as crianças admitem a solidez dos pequeninos castelos de papelão.
Surgem, no entanto, as realidades que sacodem a consciência.
Esposo e esposa reconhecem para logo que não são os donos exclusivos da empresa. Sogro e sogra, cunhados e tutores consangüíneos são também sócios comanditários, cobrando os juros do capital afetivo que emprestaram, e os filhos vão aparecendo na feição de interessados no ajuste, reclamando cotas de sacrifício.
O tempo que durante o noivado era todo empregado no montante dos sonhos, passa a ser rigorosamente dividido entre deveres e pagamentos, previsões e apreensões, lutas e disciplinas e os cônjuges desprevenidos de conhecimento elevado, começam a experimentar fadiga e desânimo, quanto mais se lhes torna necessária a confiança recíproca para que o estabelecimento doméstico produza rendimento de valores substanciais em favor do mundo e da vida do espírito.
Descobrem, por fim, que amar não é apenas fantasiar, mas acima de tudo, construir. E construir pede não somente plano e esperança, mas também suor e por vezes aflição e lágrimas.
Auxiliemos, na Terra, a compreensão do casamento como sendo um consórcio de realizações e concessões mútuas, cuja falência é preciso evitar.
Divulguemos o princípio da reencarnação e da responsabilidade individual para que os lares formados atendam à missão a que se destinam.
Compreendamos os irmãos que não puderem evitar o divórcio porquanto ignoramos qual seria a nossa conduta em lugar deles, nos obstáculos e sofrimentos com que foram defrontados, mas interpretemos o matrimônio por sociedade venerável de interesses da alma perante Deus.
Autor: André Luiz
Psicografia de Waldo Vieira. Do livro: Sol nas Almas
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