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Estudando o Espiritismo
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domingo, 31 de março de 2013
Casamento, Divórcio e Culpa
Recebemos uma mensagem, da qual reproduzimos o essencial:
(...) "hoje estamos namorando, mas temos muita pena dela, as vezes remorso, culpa pelo sofrimento dela, e nos amamos, quero saber se vamos pagar todo esse sofrimento ocorrido, nunca desejamos mal a ela, sentimos que nosso amor e verdadeiro" (...)
É ainda motivo de alguma confusão para quem se interessa por Espiritismo, a questão do divórcio, e das suas possíveis consequências reencarnatórias.
A maior parte das pessoas que se interessam por Espiritismo são oriundas de famílias católicas, e foram elas próprias católicas durante muitos anos. E todos sabemos que o Catolicismo condena o divórcio, não o admitindo sequer e afastando dos sacramentos os católicos que se divorciem, e fazendo assim pesar sobre as suas cabeças uma culpa sem remissão.
Como não somos católicos, não nos cabe questionar esses procedimentos. As nossas fontes para uma análise do problema são a nossa consciência, o senso-comum, e, dado que o Espiritismo é o Cristianismo Redivivo, temos como fonte a palavra de Jesus.
Em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", uma das cinco obras basilares da Doutrina Espírita, é analisado pormenorizadamente o "não separe o homem o que Deus uniu". Entendem os Espíritos, e entendemos nós em consciência, que o sentido desta passagem bíblica é o de que ninguém deve separar duas pessoas que se amam, seja em nome de raça, religião, fortuna, ou qualquer outro tipo de preconceito.
Ninguém pode separar o que está já separado de facto. Há casos de casais que permanecem unidos anos a fio, mas apenas na aparência, pois afectivamente a separação já se consumou há muito.
O que fazer nesses casos? Jesus nunca celebrou casamentos, não mandou que se celebrassem nem ditou regras para os mesmos. O casamento, à época de Jesus, era, tanto para Romanos como para Judeus, um acordo firmado na afinidade entre dois seres e na disposição mútua de fazerem vida em comum. O Direito era simples e claro nessa matéria, admitindo a separação com justa causa, decidida entre cônjuges. A figura do "casamento indissolúvel" é uma criação eclesiástica posterior, a par com as missas, as confissões, e tantos ouros preceitos religiosos.
O Espiritismo não "encoraja" o divórcio, nem leva o casamento de ânimo leve. Não existe "casamento espírita". para os espíritas, o essencial de qualquer casamento, seja ele religioso, civil ou informal, é o amor e a lealdade.
O Espiritismo não prescreve regras de vida. Por isso, neste caso como em todos os outros, cabe a cada um e a cada par, decidir de acordo com a sua consciência, pesando bem os prós e os contras da decisão.
Na nossa óptica, não existe qualquer tipo de fatalidade no divórcio. O pensamento católico que subsiste em muitos de nós ainda nos leva a temer o "castigo divino", por via de algo que, no fundo, consideramos uma desobediência às leis de Deus. Ainda nos acorre a ideia de que mais tarde vamos "pagar" por causa de nesta vida termos querido pôr termo a uma situação de infelicidade e procurar viver mais felizes.
No entanto, nada na doutrina espírita nos diz que será assim. Nada nos obriga a viver um casamento sem amor, ou, pior, um casamento em que reine o ódio, a violência, ou inclusive haja perigo de alguma ocorrência grave para um ou ambos os cônjuges.
Observado o superior interesse dos filhos, caso os haja, e tendo concluído ambos que estão esgotadas as tentativas de uma vida em comum feliz e harmoniosa, a separação não nos parece uma solução pior do que manter um casamento de fachada, em nome do "parece bem ou parece mal" ou de qualquer convenção religiosa.
Estamos convictos de que, em última análise, para Deus contará a pureza das intenções de cada um. O que decidirmos em consciência será o melhor, pois é o melhor que conseguimos, com a inteligência e discernimento que possuímos.
Todos os dias erramos. Erramos até em coisas que só Deus sabe que estão erradas, já que nós ainda nem o descortinamos. Erramos em coisas que sabemos que estão erradas, mas que ainda não conseguimos evitar. O divórcio, contudo, parece ser uma daquelas situações que bulem com o que de mais recôndito existe no nosso ser, pois que mexe com a busca da Felicidade, algo que tradicionalmente associamos ao "pecado", tal como associamos o sofrimento a uma hipotética "virtude".
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