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sábado, 7 de julho de 2012
Falar mais sobre suicídio ajuda na prevenção, dizem especialistas
SAÚDE A falta de diálogo e reflexão sobre o tema, ainda tabu no Brasil, aumenta o sofrimento psíquico Por: Cida de Oliveira, Rede Brasil Atual Publicado em 05/07/2012, 08:35 Última atualização às 09:10 Características pessoais, somadas ao sofrimento inerente à vida, podem levar a desequilíbrios emocionais profundos (João Correira Filho/Arquivo RBA)) São Paulo – Enquanto a população brasileira cresceu 17,8% entre 1998 e 2008, o número de homicídios aumentou 19,5% e o de óbitos por acidentes de transporte, 26,5%. Porém, o suicídio teve crescimento de 33,5% no mesmo período, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Embora o Brasil não esteja entre os países com maiores médias, o dado se torna preocupante quando é levado em conta o tamanho da população brasileira. Além disso, é crescente o número de pessoas em algumas regiões do Rio Grande do Sul e sobretudo entre os indígenas, que se enforcam, se intoxicam com medicamentos e agrotóxicos, como o chumbinho (substância também usada como veneno contra ratos), que disparam contra si próprios armas de fogo ou saltam de grandes alturas. Considerado problema de saúde pública, o suicídio é definido como ato de deliberadamente tirar a própria vida. “No entanto, nem todas as pessoas que põem fim à própria vida estão em condições emocionais e mentais para tomar essa decisão sem a interferência de um problema mental ou falsas crenças”, diz Neury Botega, professor de Medicina da Universidade de Campinas (Unicamp) no documentário Suicídio no Brasil, realizado pelo Grupo de Pesquisa e Prevenção do Suicídio (PesqueSui), do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Seu coordenador, o pesquisador Carlos Eduardo Estellita-Lins, é organizador do livro Trocando seis por meia dúzia – Suicídio como emergência do Rio de Janeiro, lançado esta semana no Rio de Janeiro. Conforme especialistas, o suicídio é resultado de uma combinação perigosa de depressão, alcoolismo, traços de impulsividade e outros problemas mentais, além da perda de esperança no futuro, da fé, dos sonhos utópicos. A maioria das vítimas brasileiras é de adultos jovens, do sexo masculino. Para José Belisário Filho, psiquiatra especializado em infância e adolescência que também participa do documentário da Fiocruz, o período correspondente à infância encolheu e a adolescência aumentou. “Pela própria transitoriedade da fase, surgem no período mais ideações suicidas”, diz. Segundo ele, estudos mostram que o número de casos em idade escolar aumentou em comparação com o do século passado. “As pessoas têm medo de falar disso. E os jovens acham que têm algo de muito errado com eles quando têm esses pensamentos. Se eles pudessem dialogar sobre isso, iriam ver que muitos pensam ou pensaram como eles em algum momento da vida”, diz o especialista. “O problema não é ter o pensamento suicida, mas não saber o que fazer com ele. Falta preparação dos adolescentes e jovens para o sofrimento”, completa Neury Botega, que considera que a falta de diálogo sobre suicídio é como jogar para debaixo do tapete um problema e ser surpreendido mais tarde por um caso fatal que poderia ter sido evitado. Ainda segundo os especialistas, os serviços de saúde devem oferecer medidas para aumentar as chances de reflexão e ampliar as possibilidades de saídas para a angústia e para o sofrimento e que, assim, a pessoa em sofrimento psíquico encontre outras alternativas além do fim de sua própria existência. Entre as medidas de prevenção apontadas estão campanhas divulgadas pela imprensa e, principalmente, a restrição de acesso aos meios letais, como o chumbinho, um agrotóxico usado como raticida que tem causado muitas mortes. Em alguns países, como a Austrália, houve redução nas taxas de suicídio depois de amplas campanhas e do desarmamento da população. Em outros, há sucesso com a colocação de barreiras em plataformas de trens e metrôs e de intervenções em grandes edificações, como a colocação de redes, além da embalagem de comprimidos em cartelas-bolha em vez de soltos, em vidros. “Com isso dá tempo de chegar alguém enquanto a pessoa destaca comprimido por comprimido. Há uma chance de socorro”, diz Marcelo Tavares, do Núcleo de Intervenção ao Suicídio da Universidade de Brasília (UnB). “A menor dificuldade que se coloca para o salto de uma janela, de um parapeito, pode levar a pessoa a refletir melhor se vale mesmo a pena aquele esforço”, diz Marcelo. Seis por meia dúzia O livro Trocando seis por meia dúzia – Suicídio como emergência do Rio de Janeiro é resultado de três anos de pesquisa realizada nos polos de emergência psiquiátrica do Rio de Janeiro. Relata o atendimento aos pacientes que atentam contra a sua própria vida nas emergências dos hospitais da cidade, e aborda as dificuldades dos profissionais de saúde desde a recepção até o atendimento pelo psiquiatra e, principalmente, a constatação da inexistência de serviços preparados para esta demanda. O livro traz ainda depoimentos de profissionais, de sobreviventes e de camelôs que vendem o chumbinho, veneno dos mais procurados por suicidas, sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e vendido livremente.
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