Estudando o Espiritismo

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quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

MONISMO OU DUALISMO


Sócrates, Platão e Aristóteles também defendiam as realidades do espírito e da matéria.

O monismo e o dualismo são duas das correntes filosóficas que caracterizam as diversas possibilidades humanas de compreender a obra divina.

O dualismo esteve majoritariamente presente na filosofia da antigüidade. Segundo Aristóteles, no século VII foi criada a religião masdeísta, na antiga Pérsia, de caráter dualista, sob a inspiração do profeta Zoroastro. Sócrates e Platão também eram dualistas, defendendo a existência de uma realidade do espírito e outra da matéria. Com o amadurecimento intelectual do homem, inclusive com uma compreensão mais justa do universo, a proposta monista avançou para alcançar adeptos e defensores na nossa cultura contemporânea. O filósofo holandês Baruch de Spinosa, no século XVII, acompanhando o pensamento cartesiano de René Descartes, enquadra sua compreensão de Deus e da criação na unidade monista. Já no século XIX é a vez do naturalista alemão Haeckel construir suas teses fundamentais da doutrina monista. Agora, mais recentemente, com as descobertas da física quântica, alguns autores acham estar definitivamente sepultada qualquer possibilidade de defesa do pensamento dualista. Mas será ... ? A doutrina espírita seria dualista ou monista ..?

Bem .... acho que essa resposta não existe na sua concepção simplista. Isto porque as doutrinas dualistas e monistas são muito vastas, compreendendo hipóteses diferenciadas quanto ao objeto em análise. Assim sendo o espiritismo é monista em um aspecto e deve ser dualista em outro. O dualismo e o monismo discorrem sobre a unidade ou não de comando no universo, mas também sobre a unidade ou não do elemento primitivo. Quanto à unidade de comando no universo, o espiritismo é monista. A doutrina codificada por Allan Kardec não preconiza a existência de dois poderes independentes, o do Bem e o do Mal.

Ao contrário, fala de um Deus único, imutável e todo poderoso, e estabelece a existência do bem e do mal não institucionalizados, mas como um estado conseqüente ao cumprimento ou não das leis soberanas estabelecidas por Deus, ou seja, em decorrência da adequação do homem à ordem única do universo estabelecida no seu poder central. Tudo tende para Deus, ainda que momentaneamente pareça dele se afastar. Contudo, a nossa saudável polêmica começa quanto à unicidade de um elemento básico à criação.

Segundo "O Livro dos Espíritos", questão 27, há dois elementos gerais no universo, a matéria e o espírito, e acima de tudo Deus. Refletindo com mais conhecimento de causa sobre o assunto em "A Gênese" - já que este livro foi editado 11 anos depois - Allan Kardec formula conceitos muito claros, no capítulo XI, itens I a 9. Afirma o codificador: "Desde que a inteligência e o pensamento não podem ser atributos da matéria, chega-se, remontando-se dos efeitos à causa, à conclusão de que o elemento material e o elemento espiritual são os dois princípios constitutivos do universo.

Individualizado, o elemento espiritual constitui os seres chamados Espíritos, como, individualizado, o elemento material constitui os diferentes corpos da natureza, orgânicos e inorgânicos'". Nesta definição dos elementos gerais do universo Kardec deixa explícita a postura dualista do Espiritismo, em relação a este aspecto da criação divina, como dissemos atrás. E não digam que Kardec se referia ao mundo espiritual e à matéria densa, pois no mesmo livro, no capítulo VI, item 7, ele afirma sobre o elemento material: "Logo, quer a substância que se considere pertença aos fluidos propriamente ditos, isto é, aos corpos imponderáveis, quer revista os caracteres e as propriedades ordinárias da matéria, não há, em todo o universo, senão uma única substância primitiva: o cosmo, ou matéria cósmica dos uranógrafos."

Chegada a esta conclusão, temos que admitir que ela pode não ser a verdade definitiva, e que com o tempo tenhamos que rever tal postura. Este o caráter progressista e permanentemente correlato às descobertas científicas que o espiritismo adota.

Voltando nossos olhares para a ciência, o "Princípio da incerteza" elaborado pelo cientista alemão Werner Heisenberg, em 1926, e até hoje sustentando a física moderna, marcou irrevogavelmente a forma de percepção do mundo, determinando o fim de um modelo de universo determinístico, nos moldes de Laplace. Baseado neste princípio reformulou-se a mecânica de Newton para o surgimento da mecânica quântica, introduzindo o elemento da imprevisibilidade às experiências que descrevem o universo. Ou seja, foi observado que a medição da velocidade e da posição de partículas subatômicas em sistemas semelhantes, iniciados da mesma maneira, não apresentavam um único resultado mas uma diversidade de resultados possíveis e incapazes de serem especificados por sistema.

Tentando explicar esses fenômenos surgiu a hipótese da existência de um domínio diretor, imanente à estrutura atômica, organizando-a e dando-lhe individualidade comportamental.

Esta hipótese vem reforçar a teoria espírita da existência do mundo espiritual com seres espirituais que, na visão da ciência, seriam o fruto da associação dos agentes diretores das partículas que formam os átomos, as moléculas, as células, resultando em um agente diretor para a estrutura corporal.

Claro que ainda há uma imensa diferença filosófica de uma para a outra, mas a cada dia a ciência acadêmica aproxima-se da constatação da realidade espiritual. Nesse domínio diretor estão localizadas as várias regiões do mundo espiritual, bem como lá estão vinculados, pela lei da sintonia, os espíritos com seus corpos espirituais ou perispíritos. Até aí tudo bem. Tanto a realidade da matéria densa quanto a do mundo espiritual têm a mesma base de formação que é o princípio material.

Isso poderia ser, para nós espíritas, motivo de alegria e esperança. Na verdade o é, mas mesclada por uma preocupação que surge, a nosso ver, em decorrência da precipitação.

Alguns escritores e oradores espíritas, pesquisadores do assunto, e mesmo com formação acadêmica ligada à área em questão - declino de citar nomes pois contesto a tese e não pessoas - vêm defendendo idéias de caráter pessoal, supondo, segundo tenho entendido, que neste domínio diretor, o espírito, compreendido na conceituação Kardequiana como individualização do princípio espiritual, também tem sua estrutura forjada no mesmo princípio que a matéria universal, supondo-se, assim, um caráter monista para a criação.

Alguns há ainda que concluem sobre a realidade de Deus como se ele fosse o domínio diretor do universo e, como corolário da hipótese monista que defendem, o próprio universo. Mero retorno ao panteísmo de Spinosa. Esta hipótese se anula a si mesma no raciocínio de que se tudo fosse oriundo de um único princípio, princípio esse que não tem estabilidade, se deteriora e se transforma por ação de forças externas, jamais haveria eternidade de vida e nem perenidade das conquistas adquiridas para a individualidade espiritual. Seria a tácita aceitação das doutrinas materialistas.

Por outro lado, apesar do avanço da ciência e das promissoras descobertas que evidenciam a realidade espiritual, não existe, por enquanto, nenhuma razão para se rejeitar a proposta dualista de Allan Kardec. O fato de se estar desvendando a intimidade atômica, encontrando a causalidade da vida, não nos autoriza a negar a existência do princípio espiritual essencialmente diferente do princípio material. Por não tê-lo alcançado não significa a sua não existência. Aliás, sempre dissemos isso aos cientistas materialistas: "se o espírito ainda não foi demonstrado em laboratório, não quer dizer que ele não exista". E, agora, estamos a tentar encaixar sua concepção em uma hipótese reducionista materialista.

Temos avançado muito no campo das descobertas da ciência, isso é verdade. Mas o que nos falta saber deveria ser o suficiente para soterrar nosso ímpeto de buscar conclusões precipitadas.

O tempo dos deuses da natureza ou do Deus antropomórfico já vai longe para nós espíritas. Mas a real compreensão acerca de Deus está reservada para um futuro longínquo, quando o homem "não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria. Quando, pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá". ("O Livro dos Espíritos", item 11).

João da Silva Carvalho Netto - R.I.E.

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