Elzio Ferreira de Souza
Livro: Divina Presença: comentários mediúnicos a João da Cruz (1992)
Editora: Circulus
Capítulo 29
MEDITAÇÃO
“Aqui neste degrau, tão solícita anda a alma, que em todas as coisas busca o Amado, em tudo quanto pensa, logo pensa no Amado, enquanto fala, em quantos negócios se oferecem, logo está a falar e tratar do Amado; quando come, quando dorme, quando vela, quando faz qualquer coisa, todo seu cuidado está no Amado”.
Noite escura - II, cap. 19:2.
João da Cruz
Quando você se dispõe à meditação, a mente descarrega todos os problemas, dificuldades, lembranças, desejos, opiniões, e você luta desesperadamente para conservar o pensamento no Divino, sem consegui-lo com exclusividade: a mente assemelha-se a um potro selvagem que não se deixa domesticar, expulsando o cavaleiro que o tenta cavalgar. A mente é bem esta montaria rebelde que não lhe permite o domínio, mas que, ao contrário, dificulta-lhe e impede-lhe de atingir os objetivos a que se propõe. Não há de que admirar-se, porque ela simplesmente vai lançando, à medida que você se aquieta, tudo o que foi armazenado durante a vida: recordações do dia, problemas não solucionados misturam-se a lembranças de períodos remotos, porque tudo emerge como se fosse o agora da vida.
Como você já percebeu, toda luta para afastar este maremoto de pensamentos, que se agitam febricitantes no momento de recolhimento, é tarefa inglória, da qual se sai muita vez abatido pensando na inutilidade dos esforços. É preciso modificar a base, se se quer renovar totalmente o edifício. O primeiro passo não é expulsar pensamentos estranhos no momento em que você se dispõe a conversar com Deus; é conversar com Deus no instante em que trata de todos os assuntos da vida “material”. Ao cuidar de negócios, pense na presença de Deus; ao falar com outrem, tenha a Deus como sua testemunha; quando formular planos, mantenha a Deus como seu orientador; em tudo o que pense, sinta em Deus a fonte de toda a energia. Leve a Deus para dentro de sua vida, de modo que, ao pensar, falar, agir, seja a presença divina a sua permanente companhia.
Não estou recomendando-lhe nenhuma utopia; aceite o jogo da mente, mas inverta a iniciativa: antes que ela lhe traga as preocupações e lembranças no período de meditação, coloque a Deus em todas elas. Transforme sua vida em uma meditação plena. Você afirma que Deus está em toda parte, o mundo é criação divina, portanto o templo de Deus é o universo; não fale apenas, pratique esta doutrina. Sinta sua comunhão com Deus no centro da própria vida “material”, pois é seu Espírito que está aí envolvido, e as conseqüências de seus atos físicos refletem-se no seu Espírito. O carma é dele, não do corpo. Não debite ao vestuário as imprudências de quem o utiliza. Destarte, você não terá mais que preocupar-se com as relutâncias da mente, pois a terá conduzido a ocupar-se com o Divino a todo tempo, e ela aprenderá com a nova alimentação que não há nada a fazer sem Deus.
Você perceberá a chama de amor crescer dentro de si a tal ponto que terá de agir para manifestar o amor de Deus: não se contentará mais em obter um encontro parcial através da oração. Toda a vida será uma oração, e os passos que você der, revelarão seu amor pelo Amado. Até seu silêncio falará dele.
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