Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

7ª. AULA DEFEITOS E VIRTUDES



I - PEDAGOGIA SITUADA
- Como é considerada a palavra virtude em nossos dias? Até parece que esse termo nem mais existe. Pouco se comenta de um modo geral sobre a virtude dos homens, no passado tão valorizada.
- Quem atualmente valoriza as qualidades virtuosas e as procura cultivar?
Bem poucos, podemos dizer; em escolas de formação religiosa busca-se ainda inculcar nos alunos os valores espirituais, nas famílias tradicionais existe ainda a preocupação com bons princípios e hábitos, retidão de caráter, o que parece incompatível com os padrões sociais e os valores mundanos que caracterizam nossos tempos. A preocupação com a ética, então, ficou para último plano, haja vista a falta de moralidade que caracteriza nossa sociedade atual.
OS DEFEITOS
1. O QUE SÃO? QUAIS SÃO?
Por defeitos entende-se, não somente os vícios, conforme já vimos, mas sobretudo nossas imperfeições do ponto de vista moral, entre as quais podemos citar: o egoísmo, o orgulho, a inveja, o ódio, a vingança, a maledicência, a impaciência e a intolerância, às quais nos referiremos em seqüência mais adiante.
2. POR QUE SUPERAR?
Porque constituem impedimentos ao progresso moral, impedimentos a uma consciência livre, na medida em que se permanece preso, escravo das próprias más tendências. Assim como existem verdadeiras cadeias psicológicas, no caso dos vícios, podemos falar também de cadeias morais, onde não mais nos apegamos ao fumo, gula e sexo, mas permanecemos escravos de maus sentimentos, ódio e orgulho, cujo fardo impede a própria felicidade. A causa de nossa infelicidade, portanto, não são os outros, mas reside dentro de nós mesmos. É impossível alcançarmos a tão almejada alegria interior, se ao mesmo tempo vivenciamos o sentimento de ódio, de vingança e o egoísmo sobretudo.
3. COMO SUPERAR?
a) É condição de uma batalha conhecer o melhor possível nossos inimigos e suas tendências para não sucumbirmos ao seu ataque. Do mesmo modo, do ponto de vista moral, cabe-nos conhecer os inimigos que na verdade habitam dentro de nós. Diz antigo ditado militar que "o preço da liberdade é a eterna vigilância"; também no campo da luta íntima é imperioso vigiar para não abrirmos brecha à ação do "inimigo".
b) Necessitamos ainda daquela ferramenta importante: a vontade. Já refletimos um pouco sobre a vontade, e vimos que ela é a tradução do nosso querer diante de algum propósito. É preciso, portanto, "querer" amar, pois o amor também é conquista de cada um. Muitas vezes o querer, sobretudo diante de ideais transformadores, não passa de impulsos fugazes, passageiros, fracos e indecisos. Todo homem pode ser bom e feliz; basta que o queira com energia e constância. Não há alma que não possa renascer, fazendo brotar novas florescências de si mesmo.
c) A vivência do amor é muito mais forte que o ódio.
Quanto mais amamos, mais nos engrandecemos, mais nos enobrecemos, e gradativamente nossos defeitos acabam por dissipar-se. Cada alma é um gerador de amor, de força, cujo domínio sobre si aumenta à medida que se eleva. Dessa forma, a superação dos defeitos supõe, no dizer de Léon Denis: conhecer, querer e amar.
AS VIRTUDES
1 - O QUE SÃO? QUAIS SÃO?
Etimologicamente, o termo virtude vem do latim virtus, que significa força. Em seu sentido original significava "coragem", "força" do guerreiro. Mais genericamente passou a significar poder ou aptidão de se fazer algo. No sentido moderno e corrente significa capacidade ou potência própria do homem, de natureza moral, disposição a prática do bem.
É assim que entre as virtudes abordaremos em seqüência as qualidades essenciais do homem de bem: caridade, humildade, desprendimento, perdão e tolerância.
A virtude, no seu grau mais elevado, abrange o conjunto de qualidades essenciais que constituem o homem de bem. (E.S.E., Cap. XVII, item 8)
Influenciada pelo momento histórico em que surgiu, a Doutrina Espírita fundamenta-se em uma ética iluminista, para a qual o conceito de virtude consiste em:
a) intenção de fazer o bem
b) desinteresse pessoal
c) capacidade ou potência moral
A) INTENÇÃO DE FAZER O BEM
Pela própria etimologia da palavra, a força permanece como sendo o fundamento da virtude, no entanto, a força no sentido moral consiste na própria vontade. É assim que no dizer de Immanuel Kant (1804) - cuja filosofia é contemporânea à Doutrina - a virtude consiste no seguinte:
A qualidade especial e o propósito elevado com que se resiste a um forte mas injusto adversário se chama coragem (fortitudo) e quando se trata do adversário que a intençâo encontra-se em nós, chama-se virtude (virtus, fortitudo moralis). (Kant, in Crítica da Razão Prática)
Assim como ao resistir a um adversário exterior a nós desenvolvemos a coragem, ao resistir ao inimigo interior; ou seja, aquele que habita dentro de nós, estamos desenvolvendo a virtude. No entanto, esse "inimigo" (ou "amigo") interior apóia-se em nossa intenção. É assim que a Doutrina Espírita, assim como para Kant, o conceito de ação virtuosa está fundamentado na intenção do indivíduo. Várias são as alusões à "intenção" em O Livro dos Espíritos:
- Já vos respondi ao dizer que Deus julgaria a intenção, e que o fato em si teria pouca importância para Ele. (L.E., 672)
- Deus é justo e julga mais a intenção do que o fato. (L.E.,747)
É assim que para a ética espírita, a virtude não consiste apenas nas boas obras, mas na intenção, ou seja, não somente no que o homem faz, mas no que ele "quer" fazer efetivamennte. Não é, pois, pelo conteúdo que uma ação é considerada virtuosa, mas antes pela vontade, pela disposição de alma do indivíduo.
(..) E se eu distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e se entregasse meu corpo para ser queimado, se, todavia, nâo tivesse caridade, nada disto me aproveitaria. (Paulo, I Co., 13 :3)
É assim que o apóstolo Paulo define a verdadeira caridade; mostra-a, não somente na beneficência, mas no conjunto de qualidades do coração, na bondade e na benevolência para com o próximo. O que não é feito por afeição não produz nem bem nem mal na natureza da criatura.
B) DESINTERESSE PESSOAL
Qual a mais meritória de todas as virtudes?
- Todas têm o seu mérito, porque todas são indícios de progresso no caminho do bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento das tendências, mas a sublimidade da virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo, sem segunda intenção. A mais meritória é aquela que se baseia na caridade mais desinteressada. (L.E,893)
A parte os defeitos e os vícios, sobre os quais ninguém se enganaria, qual é o indício mais característico da imperfeição? - O interesse pessoal (..). (L.E, 895)
A questão do interesse pessoal está ligada à questão da intenção, pois importa considerar qual o móvel interior de nossas ações. A isso, Kant respondeu com propriedade:
1) Imperativo Hipotético: Consiste em se obedecer a um mandamento ou imperativo; em cumprir o dever, porém a ação está condicionada a uma recompensa (não ir para o umbral, ter uma encarnação futura feliz, medo que Deus castigue).
2) Imperativo Categórico: consiste em se respeitar uma obrigação moral pela alegria de fazê-lo, ou seja, o bem pelo bem, o amor pelo alegria de vivenciar o amor, a virtude pela virtude. A virtude não exige recompensa, ela é em si mesma, pois está ligada ao sentimento de alegria.
Aquele que faz o bem sem visar a uma recompensa na Terra, mas na esperança de que lhe seja levado em conta na outra vida, e que nessa a sua posição seja melhor, é repreensível, e esse pensamento prejudica o seu adiantamento?
- É necessário fazer o bem por caridade, ou seja, com desinteresse. (L.E., 897)
- Mas aquele que faz o bem sem segunda intenção, pelo prazer único de ser agradável a Deus e ao seu próximo sofredor, já se encontra num grau de adiantamento que lhe permitirá chegar mais rapidamente à felicidade do que o seu irmão que, mais positivo, faz o bem por cálculo e não por ardor natural do coração. (L.E., 897-a)
É assim que o homem deve buscar cumprir o dever, não porque o preserva dos males da vida, mas porque transmite à alma a alegria, o vigor necessário ao seu desenvolvimento. Nisto consiste a liberdade interior, a que liberta das prisões morais: cumprir o dever pela alegria de cumpri-lo, e não para ser reconhecido ou por recompensa exterior a si. O homem virtuoso é, portanto, alegre em si mesmo.
C) CAPACIDADE OU POTÊNCIA - DE NATUREZA MORAL
"Sede perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito." (Mt., 5:48)
"Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Sois deuses?" (jo., 10:34)
"O reino dos céus está dentro de vós. "
Todo o segredo da perfeição, da felicidade, está na conscientização progressiva das potências divinas que nos habitam. Cada um de nós é uma partícula do Absoluto, cabe-nos portanto a manifestação cada vez mais grandiosa do que em nós há de divino, e espontaneamente passaremos a um domínio sobre nós mesmos. Essa nossa participação da natureza Divina explica a necessidade irresistível do espírito de justiça, de luz, de transcendêncía. É assim que segundo Espinosa (1632) a perfeição consiste na conscientização das potencialidades do ser. É essa a proposta da educação espírita: desenvolver as potencialidades do ser pela própria conscientização de si mesmo. A prática do bem aumenta, portanto, nossas potências, ao passo que o mal diminui nossas potências. Eis o princípio da saúde física e moral.
Vemos, assim, que em todos esses sentidos persiste a idéia de força, capacidade, a permanente disposição para "querer o bem". O agir virtuoso não é, porém, ocasional e fortuito, mas deve-se tornar um hábito, fundado no desejo de continuidade e na capacidade de perseverar no bem.

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