Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

9ª. AULA INVEJA E DESPRENDIMENTO



I - PEDADOGIA EM SITUAÇÃO
Busquemos indagar por que em algumas vezes temos sentimento de inveja ou ciúmes. Quais as causas que nos levam a deixar-se envolver por tal sentimento? Será por apego, por inconformação? É possível sermos felizes em profundidade, quando ainda invejamos o próximo? Que tipo de sentimento experimentamos nesses momentos?
II - POR QUE SUPERAR
Inveja e ciúme! Felizes os que não conhecem esses dois germes vorazes. Com a inveja e o ciúme não há calma, não há repouso possível. Para aquele que sofre desses males, os objetos da sua cobiça, de seu ódio e do seu despeito se erguem diante dele como fantasmas que não o deixam em paz e o perseguem até no sono. O invejoso e o ciumento vivem em um estado de febre contínua. (L.E, 933)
Os sofrimentos materiais são, às vezes, independentes de nossa vontade, mas a inveja, o ciúme, todas as paixões são suplícios voluntários, que tornam o homem escravo de seus próprios sentimentos. Às vezes, a inveja não tem um objeto determinado, mas há pessoas que se mostram naturalmente ciumentas de todos aqueles que parecem estar em um plano superior, seja do ponto de vista material, social, profissional e até mesmo espiritual. Há aqueles que se sentem diminuídos diante daqueles que se elevam, e que saem da vulgaridade, mesmo quando não tenham nenhum interesse direto, mas simplesmente porque não podem atingir o mesmo plano. Tudo aquilo que está acima de seu horizonte os incomoda. No entanto, como é possível praticar o "amar ao próximo como a si mesmo", se ainda se pretende elevar-se acima dos outros? Tal sentimento paralisa a sensibilidade amorosa da alma. Como ser feliz, como vivenciar a alegria do amor e ao mesmo tempo se comprazer em ver o próximo em uma situação inferior? Será que isso satisfaria nossa consciência perante os homens, ou perante Deus?
Em obediência à verdade, tendes purificado as vossas almas para praticardes um amor fraterno sincero. Amai-vos, pois, uns aos outros, ardentemente e do fundo do coração (..). Deponde, pois, toda malicia, toda astúcia, fingimentos, Invejas e toda espécie de maledicência. (I Pe., 7:22 e 2: 7)
Onde há inveja não pode haver amor. No ciúme há mais amor-próprio do que amor verdadeiro. Importa pois superar esse sentimento, se quisermos nos libertar espiritualmente das cadeias que nós mesmos criamos, pois o homem é o único artifice de seus próprios sentimentos morais. A inveja não consiste em uma maldade, mas antes uma fragilidade do Espírito que se deixa consumir por desejos inconsistentes, ao invés de fortalecer-se na convicção dos valores eternos que enobrecem o Espírito. Que virtude mais humilde e feliz sentir-se grato por tudo que se é, que se tem! Que alegria não carecer de nada! Alegria esta que é tanto mais pura, quanto menos dependentes somos.
III - CAUSAS
A) O DESEJO, O APEGO, A AMBiÇÃO
A primeira causa do sentimento de inveja é o desejo de possuir algo que vemos em alguém ou na propriedade de alguém, Platão já dizia que se não existe uma sociedade ideal é porque o homem vive desejando o que não tem. Isso se explica pelo apreço que se dá aos valores transitórios da existência. Só temos inveja pela 'Importância que damos às coisas deste mundo.
Aprendeí a contentar-vos com pouco. (E.S.E" Cap. XVI, item 14)
O mais rico é o que tem menos necessidades. (L. E., 926)
Quem quiser pois, ser verdadeiramente rico, não aumente a riqueza material apenas, mas diminua a idéia na cabeça. Na verdade, não é pobre o que tem pouco, mas sim o que deseja muito. A inveja ou o ciúme é um sentimento moral que parte de nossos pensamentos. Ciumento é aquele que coloca lentes de aumento em coisas insignificantes. Invejoso é aquele que faz de pequenas, grandes coisas; que transformam momentos passageiros e ilusórios, em verdades eternas.
B) INCONFORMAÇÃO
"Não sejamos ávidos de vanglória. Nada de provocação, nada de invejas entre nós. "(GI., 5:26)
Na raiz do sentimento de inveja está uma certa inconformação com nossa situação (seja profissional, social, espiritual), em relação a alguém em uma posição superior. No entanto, quando se conhece a causa de nossas aflições, o pobre não tem motivos para acusar a Providência, nem para invejar os ricos, e estes não o têm para se vangloriarem do que possuem (E.S.E., Cap. XVI, item 8). Cada qual possui riquezas, posição social, etc., por sua vez, para exercitar-se no seu uso. É importante, pois, nos conscientizarmos de que as atuais condições da nossa existência, escolhidas e programadas na Espiritualidade, são as que melhores resultados nos podem proporcionar no resgate dos desacertos do passado:
Invejais os prazeres dos que vos parecem os felizes do mundo. Mas sabeís, por acaso, o que lhes está reservado? ( ... ) (L.E., 926)
Pergunta-se, comumente, por que Deus concede a fortuna a pessoas incapazes de frutificar para o bem de todos. Ora, essa é uma prova da bondade de Deus, que dá condições infinitas a cada um de chegar ao bem por seus próprios esforços. Importa, porém, o uso que se faz das dádivas que nos são acrescentadas por empréstimo de Deus; o que hoje não as têm, já as teve no passado; e o que hoje as possui, poderá não tê-las amanhã. É essa a mensagem essencial da "Parábola dos Trabalhadores da Última Hora", quando os que haviam trabalhado o dia todo revoltam-se contra o pai de família:
"( .. ) Eu quero dar a este último tanto quanto a ti (..). Porventura vês com mau olho que eu seja bom?" (M t, 20:74-75)
Essa inconformação é decorrente de nossa limitada compreensão da Lei de Causa e Efeito. A falta de resignação é própria daqueles que desconhecem a justiça divina. A Lei do Amor é a mesma para todos, porém suas conseqüências variam de acordo com a qualidade interior, a intensidade de amor que imprimimos ao nosso trabalho, independente da quantidade exterior (aparente) para o mundo.
IV - CONSEQÜÊNCIAS
A) Por vezes, ao constatarmos nos outros algo que desejaríamos possuir, manifestamos, mesmo sem perceber, uma vibração de ódio gratuito para com eles, como se fossem culpados pela nossa condição - quando na verdade, a causa está em nós mesmos. Importa, pois, vigiar nossos sentimentos, para não prejudicar terceiros.
B) Por outro lado, o sentimento de inveja prejudica também a nós mesmos:
''Se tua mão te serve de escândalo, cortai-a." (Mc, 9:43)
No sentido evangélico, a palavra "escândalo" é muito ampla. Nesse caso, significa o resultado efetivo do mal moral. Com essa afirmação, Jesus ressalta a necessidade de destruirmos em nós toda causa de escândalo, ou seja, o mal. É necessário arrancar do coração todo sentimento impuro ou tendência viciosa, para não prejudicar ao próximo nem a si mesmo.
V - COMO SUPERAR? - O DESPRENDIMENTO
Geralmente o homem possui uma preocupação excessiva com os bens materiais, enquanto dá pouca importância ao aperfeiçoamento moral, o único que será levado em conta na eternidade. Há bens infinitamente mais preciosos que os do mundo, e esse pensamento deve nos ajudar a nos desprender deles. Quanto menos importância dermos às coisas do mundo, menos sensíveis seremos à inveja e menos sofreremos pela nossa condição.
O homem só é infeliz, geralmente, pela importância que liga as coisas deste mundo. A vaidade, a ambição e a cupidez fracassada o fazem infeliz. Se ele se elevar acima do círculo estreito da vida material se elevar seu pensamento ao infinito, que é o seu destino, as vicissitudes da Humanidade lhe parecerão mesquinhas e pueris ( ... ) (L.E., 933)
Não se trata de não desfrutar das coisas do mundo. É próprio do homem sábio usar as coisas e ter nisso a maior alegria possível. O que importa é não depender, não apegar-se às coisas mundanas, ou seja, permanecer senhor de seus sentimentos, em vez de escravo.
Importa, portanto, querermos ser mais puros, por ser mais livres; mais alegres porque mais controlados; mais serenos porque menos dependentes. Se não tivermos muito, contentemo-nos com pouco, persuadidos de que os que menos necessitam da abundância, desfrutam-na com maior prazer. Em uma sociedade simples, o pão e a água não faltam quase nunca, mas na sociedade rica, o ouro e o luxo sempre faltam. Como ser felizes, uma vez que somos insatisfeitos? Na verdade, não é o ter pouco que importa, é o poder interior, o contentamento; isto é uma virtude.
Que virtude mais feliz e mais humilde, que graça mais neecessária do que a de sentir-se feliz pelo que se é e pelo que se tem, ou seja, ser grato. A força do amor-próprio, no entanto, está na raiz do apego. Ao supervalorizarmos os bens mundanos, estamos vivenciando o amor a si, ao passo que na alegria sentida por tudo que o outro é e possui, está o amor ao próximo, e no reconhecimento por tudo que somos e possuímos, está o amor a Deus.
Portanto, a inveja e o carecer deslustram o amor, ao passo que apenas o sentimento de gratidão pode nutrir nosso impulso feliz de generosidade - não uma gratidão afetiva apenas, mas uma gratidão ativa.

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