Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus?
"Não, esse é um sentido que lhe falta."
Será concedido ao homem, um dia, compreender o mistério da Divindade?
"Quando o seu Espírito não for mais obscurecido pela matéria e, por sua perfeição, tiver se aproximado dela, então a verá e compreenderá." A inferioridade das faculdades humanas não permite ao homem compreender a natureza íntima de Deus. Na infância da Humanidade, ele o confundiu muitas vezes com a criatura, cujas imperfeições lhe atribui. Entretanto, à medida que o seu senso moral se desenvolve, seu pensamento penetra mais a fundo na essência das coisas e ele adquire uma idéia mais justa e mais conforme à legítima razão, embora sempre incompleta."
Embora a natureza íntima de Deus seja impossível ao nosso entendimento, podemos estimar algumas de suas perfeições?
"Sim, algumas. O homem as compreende melhor, à medida que se eleva além da matéria; então, terá condições de compreendê-las."
Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberana-mente justo e bom, não temos uma idéia completa de seus atributos?
"Sob o ponto de vista humano, sim, porque acredita-se tudo poder abarcar; mas há coisas além da inteligência do mais inteligente dos homens e para as quais a sua linguagem, limitada às suas idéias e às suas sensações, não tem forma de expressão. A razão lhes diz que Deus deve ter essas perfeições em grau supremo, porque se tivesse uma só de menos, ou que não fosse a um grau infinito, não seria superior a tudo e, por conseqüência, não seria Deus. Por estar acima de todas as coisas, Deus não deve estar sujeito a qualquer vicissitude e não pode ter qualquer imperfeição que a imaginação possa conceber."
Deus é Eterno; se tivesse tido um começo, teria saído do nada ou teria sido criado por um ser anterior. É assim que, pouco a pouco, remontamos ao infinito e à eternidade.
É Imutável; pois se estivesse sujeito às mudanças, as leis que regem o Universo não teriam nenhuma estabilidade.
É Imaterial; sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria; de outro modo, Ele não seria imutável, pois estaria sujeito às transformações da matéria.
É Único; se existissem vários deuses, não haveria unidade de visão nem de poder na ordenação do Universo.
É Todo-Poderoso; porque é único. Se não tivesse o poder soberano, haveria algo mais poderoso ou tão poderoso quanto Ele, que assim não teria feito todas as coisas e as que não fizesse seriam a obra de um outro Deus.
É Soberanamente Justo e Bom; a sabedoria providencial das leis divinas se revela nas menores coisas como nas maiores e essa sabedoria não nos permite duvidar da sua justiça nem da sua bondade.
Panteísmo (O Livro dos Espíritos - questões 14 à 16)
Deus é um ser distinto, ou seria, segundo opinam alguns, a resultante de todas as forças e de todas as inteligências do Universo reunidas?
"Se assim o fosse, Deus não existiria, porque seria o efeito e não a causa; Ele não pode ser, ao mesmo tempo, tanto uma quanto outra. Deus existe, não se pode duvidar, isso é essencial. Creiam-me, pois ir mais além seria lançar-se num labirinto de onde não se poderia sair. Este conhecimento não os tornaria melhores, mas porventura mais orgulhosos, porque acreditariam saber o que na realidade não sabem. Deixem, portanto, de lado todos esses sistemas e teorias; há muitas coisas que cabe aos homens desembaraçar-se. Isto lhes será mais útil do que pretender penetrar no que é impenetrável."
O que pensar da opinião segundo a qual todos os corpos da Natureza, todos os seres, todos os planetas e sistemas do Universo seriam partes da Divindade, constituindo por seu conjunto, a própria Divindade, ou seja, o que presumir da doutrina panteísta?
"O homem, incapaz de tornar-se Deus, quer ao menos ser uma parte de Deus."
Os que professam essa doutrina pretextam nela encontrar a demonstração de alguns dos atributos de Deus. Os mundos sendo infinitos, Deus é, por isso mesmo, infinito; o vazio ou o nada não existindo em parte alguma, Deus está por toda a parte; estando Deus em toda a parte - pois que tudo é parte integrante de Deus - dá a todos os fenômenos da Natureza uma razão de ser inteligente.
O que se pode opor a este raciocínio?
"A razão. Reflita-se maduramente e não será difícil reconhecer-lhe o absurdo." Essa Doutrina faz de Deus um ser material que, embora, dotado de uma inteligência suprema, seria a nossa própria projeção, em larga escala. Se constituído de matéria que se transforma sem cessar, Deus não teria nenhuma estabilidade; estaria sujeito a todas as vicissitudes e necessidades da humanidade; faltar-lhe-ia um dos atributos essenciais da Divindade: a imutabilidade. Não podemos ligar as propriedades da matéria à idéia de Deus, sem que o rebaixemos em nosso pensamento. Todas as sutilezas do sofisma não chegariam a resolver o problema de sua natureza íntima. Não sabemos tudo o que Ele é, mas sabemos o que não pode ser, pois essa teoria opõe-se aos seus atributos; confunde a criatura com o criador, como se quiséssemos que uma máquina engenhosa fosse uma parte integrante do mecânico que a tenha concebido.
A inteligência de Deus se revela em Suas obras, como a de um pintor em seu quadro; mas as obras de Deus não são o próprio Deus, assim como o quadro não é o pintor que o concebeu e executou (2)" .
(2) "Estamos com Deus e somos em Deus" - com esta frase, quiseram alguns que Baruch de Espinosa (1632-1677) estaria reafirmando o panteísmo. Entretanto, Espinosa quebra a rigidez panteísta, desmembrando o conceito em 2 momentos: Natura Naturans (Deus como Natureza Criadora) e Natura Naturata (Natureza Criada), realizando assim, a idéia embrionária existente no espírito de Descartes: um Deus imanente na Criação. (N. do E.).
O Cristo Consolador (O Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. VI)
O jugo leve
1. Vinde a mim, vós todos que estais aflitos e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis o repouso de vossas almas, pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. (Mateus, XI:28-29-30)
2. Todos os sofrimentos: misérias, decepções, dores físicas, perdas de entes queridos, encontram sua consolação na fé do futuro, e na confiança na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Para aquele que, ao contrário, nada espera depois desta vida, ou que simplesmente duvida, as aflições pesam com todo o seu peso, e nenhuma esperança vem amenizar sua amargura. Foi isto o que Jesus disse: "Vinde a mim todos vós que estais fatigados, e eu vos aliviarei." Entretanto, Jesus põe uma condição para a sua ajuda e para a felicidade que promete aos aflitos. Essa condição está na própria lei que Ele ensina, seu jugo é a observação dessa lei. Mas esse jugo é leve e essa lei é suave, pois impõem como dever o amor e a caridade.
O Consolador prometido
3. Se me amais, guardai meus ensinamentos - e eu pedirei ao meu Pai e Ele vos enviará um outro consolador, a fim de que permaneça eternamente convosco: o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, e nem o conhece. Mas, vós o conhecereis, pois Ele permanecerá convosco e estará em vós. - Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará relembrar de tudo o que eu vos disse. (João, XIV:15-17 e 26)
4. Jesus promete um outro Consolador: é o Espírito da Verdade - que o mundo ainda não conhece, pois não estava maduro para compreendê-lo - e que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e lembrar aquilo que o Cristo disse. Se, então, o Espírito da Verdade deve vir mais tarde, para ensinar todas as coisas, é que o Cristo não disse tudo. Se ele fará lembrar o que o Cristo disse, é que o seu ensino foi esquecido ou mal compreendido.
O Espiritismo vem, no tempo certo, cumprir a promessa do Cristo: o Espírito da Verdade preside ao seu estabelecimento. Ele chama os homens à observância da lei; ensina todas as coisas, fazendo compreender o que o Cristo apenas disse em parábolas. O Cristo disse: "que ouçam aqueles que têm ouvidos para ouvir." O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, pois fala sem floreios nem alegorias. Levanta o véu propositadamente lançado sobre certos mistérios, vem, enfim, trazer uma suprema consolação aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, dando uma causa justa e um objetivo útil a todas as dores.
O Cristo disse: "Bem-aventurados os aflitos, pois eles serão consolados". Mas como se pode ser feliz por sofrer se não se sabe porque se sofre? O Espiritismo mostra que a causa está nas existências anteriores e na própria destinação da Terra, onde o homem expia o seu passado. Revela também o objetivo, dizendo que os sofrimentos são como as crises salutares que levam à cura, são a purificação que assegura a felicidade nas existências futuras. O homem compreende que mereceu sofrer e percebe que o sofrimento é justo. Ele sabe que esse sofrimento ajuda a sua evolução e o aceita sem lamentações, como o trabalhador aceita o trabalho que lhe assegura o salário. O Espiritismo lhe dá uma fé inabalável no futuro, e a dúvida pungente não tem mais lugar na sua alma. Fazendo-o ver as coisas do alto, a importância das vicissitudes terrenas se perde no vasto e esplêndido horizonte que ele abarca, e a perspectiva da felicidade que o espera dá a ele paciência, resignação e coragem para ir até o fim do caminho.
Assim, o Espiritismo cumpre o que Jesus disse do Consolador Prometido: dá o conhecimento das coisas, que faz o homem saber de onde vem, para onde vai e por que está na Terra, lembrança dos verdadeiros princípios da lei de Deus e consolação pela fé e pela esperança.
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