Estudando o Espiritismo

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sábado, 25 de dezembro de 2010

A Providência Divina - ESDE antigo

A Providencia é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Ele está em toda parte, tudo vê e tudo preside, mesmo às coisas mais mínimas. É nisto que consiste a ação providencial.
Como pode Deus, tão grande, tão poderoso, tão superior a tudo, imiscuir-se em pormenores ínfimos, preocupar-se com os menores atos e os menores pensamentos de cada indivíduo? Esta a interrogação que a si mesmo dirige o incrédulo, concluindo por dizer que, admitida a existência de Deus, só se pode admitir, quanto à sua ação, que ela se exerça sobre as leis gerais do Universo; que este funcione de toda a eternidade em virtude dessas leis, às quais toda criatura se acha submetida na esfera de suas atividades, sem que haja mister a intervenção incessante da Providência.
Providência é, neste mundo, tudo o que se faz dispondo as coisas de modo que se realizem objetivos de ordem e harmonia, visando o bem e a felicidade das criaturas, com a plena satisfação das suas reais necessidades, sejam físicas ou espirituais.
Deus, em relação às suas criaturas, é a própria Providência, na sua mais alta expressão, infinitamente acima de todas as possibilidades humanas. Deus tudo fez e tudo faz a bem de suas criaturas. Imprimiu-lhes na consciência as leis morais de trabalho, reprodução, conservação e destruição - esta não abusiva, mas equilibrada - como também a lei de sociedade, obedecendo a qual, devem organizar-se em famílias ou em mais amplas comunidades sociais, em cujo seio vão cumprir deveres, ligados todos àquelas leis morais e ainda às de progresso,igualdade e liberdade, em seu justo e mais elevado sentido e, a própria felicidade pela livre observância dessas leis e o cumprimento dos correspondentes deveres, e ele só é infeliz quando descumpre ou com elas se desarmoniza. Faz o homem tudo o que quer, utilizando-se do livre- arbítrio que a Divina Providência lhe confere para construir ativa e meritoriamente o seu destino; mas é também plenamente responsável pelos atos praticados, devendo arcar com todas as conseqüências deles decorrentes, sejam estas felizes ou infelizes. Parece, então, que se opõem à Providência Divina e o livre-arbítrio humano. Mas não! Deus concede o livre-arbítrio ao homem para que ele acrescente à sua felicidade o mérito da iniciativa e espontaneidade, no trabalho, na busca do próprio bem, na livre escolha do caminho reto para o conseguir. A tudo Deus realmente provê, mas não quer inativa a sua criatura, recebendo passivamente a Graça Divina, e sim que a busque por si mesma, conquistando através de perseverantes esforços a felicidade e o progresso. Pelo uso do seu livre-arbítrio, a alma fixa o próprio destino, prepara as suas alegrias ou dores. Jamais, porém, no curso de sua marcha - na provação amargurada ou no seio da luta ardente das paixões -, lhe será negado o socorro divino. Nunca deve esmorecer, pois, por mais indigna que se julgue; desde que em si desperta a vontade de voltar ao bom caminho, à estrada sagrada, a Providência dar-lhe-á auxilio e proteção.
A Providência é o Espírito Superior, é o Anjo velando sobre o infortúnio, é o Consolador invisível, cujas inspirações reaquecem o coração gelado pelo desespero, cujos fluidos vivificantes sustentam o viajor prostrado pela fadiga; é o farol aceso no meio da noite, para a salvação dos que erram sobre o mar tempestuoso da vida. A Providência é, ainda, principalmente, o Amor Divino derramando-se a flux sobre suas criaturas. Que solicitude, que previdência nesse amor!
A alma é criada para a felicidade, mas, para poder apreciar essa felicidade, para conhecer-lhe o justo valor, deve conquista-la por si própria e, para isso, precisa desenvolver as potências encerradas em seu próprio íntimo. Sua liberdade de ação e sua responsabilidade aumentam com a própria elevação, porque, quanto mais se esclarece, mais pode e deve conformar o exercício de suas forças pessoais com as leis que regem o Universo.
A liberdade do ser se exerce, portanto, dentro de um círculo limitado: de um lado, pelas exigências da lei natural, que não pode sofrer alteração alguma e mesmo nenhum desarranjo na ordem do mundo; de outro, por seu próprio passado, cujas conseqüências lhes refluem através dos tempos, até a completa reparação. Em caso algum o exercício da liberdade humana pode obstar a execução dos planos divinos: do contrário, a ordem das coisas será a cada instante perturbada. Acima de nossas percepções limitadas e variáveis, a ordem imutável do Universo prossegue e mantem-se. Quase sempre julgamos um mal aquilo que para nós é o verdadeiro bem. Se a ordem natural das coisas tivesse de amoldar-se aos nossos desejos, que horríveis alterações daí não resultariam?
O primeiro uso que o homem fizesse da liberdade absoluta seria para afastar de si as causas de sofrimento e para se assegurar, desde logo, uma vida de felicidade. Ora, se há males que a inteligência humana tem o dever de conjurar, de destruir - por exemplo, os que são provenientes da condição terrestre -, outros há inerentes à nossa natureza moral, que somente dor e compreensão podem vencer; tais são os vícios. Nestes casos, torna-se a dor uma escola ou, antes, um remédio indispensável: as provas sofridas não são mais que distribuição eqüitativa da justiça infalível.
Mas a Providência Divina, em relação à Humanidade terrestre, ainda se manifestou quando Deus nos confiou a Jesus, como discípulos a um Mestre e como ovelhas a um Pastor. Com que solicitude e paciência infinita Ele nos vem, desde então, ensinando e conduzindo, através de séculos e milênios! Não estamos em momento algum desamparados ou à nossa sorte abandonados.
Divina Providência, que nos acompanhas através de vidas sucessivas, objetivando o nosso progresso e a nossa ascensão, mesmo quando nos fazes sofrer - pois, se por força da Lei, as conseqüências dos nossos desmandos, pela própria Lei seremos devolvidos à paz e à felicidade, beneficiados pela dor redentora, enriquecidos de experiência e de sabedoria -, desde o momento em que Te reconhecemos e nos conscientizamos da Tua imanência numa Lei Sábia e Soberana, que estabelece tudo para o nosso bem, louvamos Àquele de quem emanas, na imensidão da Sua Justiça e do Seu Amor!
Allan Kardec - "A Gênese"

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