1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é refletirmos sobre o grau de perfectibilidade que somos capazes de alcançar nesta encarnação . Para tanto , veremos a questão dos vícios e das virtudes , o conhecimento de si mesmo e os caracteres do homem de bem .
2. CONCEITO
Perfeição – de perfectio designa o estado de um ser cujas virtualidades se encontram plenamente atualizadas ou realizadas. Em teologia , plena realização , sob o ponto de vista moral , consumação no bem que compete a cada um possuir e atuar . Assim : " Todo o homem é chamado à perfeição ou santidade ".
Moral - Da raiz latina mores = costumes , conduta , comportamento , modo de agir . É o conjunto sistemático de normas que orientam o homem para a realização do seu fim ( essência ).
A moral é a regra da boa conduta e, portanto , da distinção entre o bem e o mal . Funda-se na observação da lei de Deus . O homem se conduz bem quando faz tudo tendo em vista o bem e para o bem de todos , porque então tende a Deus . ( Pergunta 629 de O Livro dos Espíritos )
3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O Espírito , quando é criado por Deus , traz em seu bojo o germe ( potência ) da perfeição . Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos , ao estudar a Lei do Progresso — lei natural —, informa-nos de que todos os Espíritos , conscientes ou inconscientes , encarnados ou desencarnados, tendem para a perfeição .
Assim , todo o esclarecimento emanado de alguém , no sentido de estimular o nosso relacionamento em sociedade , deve ser sempre bem recebido, pois é através do contato com os outros seres humanos que temos condições de colocar em prática o conteúdo moral da Lei Divina .
No capítulo que trata da Lei de Sociedade , Kardec diz-nos que no isolamento absoluto o homem embrutece-se e se estiola.
Diante dessas orientações , todo o esforço despendido em prol do bem é um manancial que nos fortifica para toda a eternidade .
Por isso , a assertiva do Cristo : " Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito ", deve permanecer como uma idéia central para este tema .
4. VIRTUDES E VÍCIOS
4.1. A VIRTUDE É MÉDIA JUSTA
Virtudes são todos os hábitos constantes que levam o homem para o bem , quer como indivíduo , quer como espécie , quer pessoalmente , quer coletivamente .
A virtude é uma disposição adquirida voluntária , que consiste na conduta racional de um homem ponderado . Ela ocupa, segundo Aristóteles, a média entre duas extremidades , uma por excesso , a outra por falta . Ela se situa no ponto mais elevado no que se refere ao bem e à perfeição .
Na teoria da utilidade marginal decrescente, o excesso de um bem transforma-se no seu oposto . Daí, diz-se que todo o excesso é prejudicial , tanto para o bem como para o mal . Exemplo : o excesso de orgulho transforma-se em humildade ; o excesso de humildade transforma-se em orgulho . É dentro deste contexto que Aristóteles fala que devemos sempre percorrer o caminho do meio , do meio termo .
As virtudes apresentam-se como virtudes cardeais (adquiridas) – prudência , fortaleza , temperança e justiça e como virtudes teologais ( dons infusos por Deus ) – fé , esperança e caridade .
4.2. O VÍCIO É A AUSÊNCIA DA VIRTUDE
Os vícios são as ações que tendem para mal ; as virtudes são ações que tendem para o bem . No estado atual de nossa evolução moral , parece que ainda precisamos do mal para melhor conhecer o bem . É preciso que haja uma desgraça pública para nos estimular a caridade para com o próximo . Não a entronizamos ainda dentro dos nossos corações .
Além do mais , em nossa ilusão , costumamos disfarçar o mal ao máximo , para que não se torne muito evidente . Nesse sentido , à gula damos o nome de necessidade proteínica; à lascívia chamamos necessidade fisiológica; a ira é embelezada com a expressão paradoxal : " cólera sagrada "; a cobiça é encoberta com a desculpa da previdência ; a preguiça disfarçamos com a necessidade de repouso , quando não com a esperteza que faz os outros produzirem por nós .
4.3. RECOMPENSA E CASTIGO
Toda a ação boa, sendo coerente consigo mesma , traz um bem-estar , uma felicidade . Toda a ação má, ao contrário , gera um conflito e, por conseguinte , um mal-estar . Ela tem como conseqüência um castigo .
Muitas vezes , a coerência e a incoerência não são vistas de imediato , senão ao longo de muito tempo . Um exemplo é o vício do fumo . Suponha que tenhamos fumado por 20 anos , quando estávamos na flor da idade . Não sentíamos e não sofríamos as suas conseqüências . Mas , passados todos esses anos , os efeitos da nicotina e de outros poluentes começam a nos trazer problemas cardíacos e pulmonares , levando muitos seres humanos ao desencarne prematuro .
5. O CONHECIMENTO DE SI MESMO
5.1. A MAIÊUTICA SOCRÁTICA
Sócrates, filósofo grego da antiguidade , ao criar o método da introspecção , propôs-nos um exercício salutar para o conhecimento de nós mesmos . Disse-nos que o homem deve voltar-se para si a fim de tomar consciência de sua própria ignorância . Utilizava, para isso , a ironia e a maiêutica . Na ironia procurava confundir o interlocutor a respeito do conhecimento que ele pressupunha ter sobre um objeto qualquer ; na maiêutica , que em grego quer dizer vir à luz , fazia brotar um novo conhecimento , mais fecundo e mais produtivo .
5.2. HERANÇA E AUTOMATISMO
O princípio inteligente estagiando no reino mineral adquiriu a atração ; no reino vegetal , a sensação ; no reino animal , o instinto ; no reino hominal, o livre-arbítrio , o pensamento contínuo e a razão . Hoje , somos o resultado de toda essa herança cultural.
Nosso passado histórico propiciou-nos a automatização de hábitos e atitudes . É nossa herança , que começa desde o reino mineral . Há hábitos positivos e negativos . Os positivos devem ser incrementados; os negativos , extirpados. A função da reforma íntima , no seu sentido amplo , é melhorar o reflexo condicionado, arquitetado pelo nosso Espírito .
A lei do progresso exige que o princípio inteligente vá-se despojando dos liames da matéria . Para que tenhamos um olhar crítico , devemos libertar-nos da obscuridade da matéria , consubstanciada no egoísmo , no orgulho e no interesse próprio . (Xavier, 1977, p. 39)
5.3. COMO CONHECER-SE
De acordo com Peres , no capítulo I do seu Manual Prático do Espírita , podemos nos conhecer :
a) pela dor . A dor é teleológica e leva consigo um destino . Por ela podemos saber o que fomos e, também , o que tencionamos ser . Ela é sempre positiva ; no sofrimento, estamos purgando algo ou preparando-nos para o futuro .
b) convívio com o próximo . Podemos avaliar-nos, observando as reações dos outros com relação às nossas atitudes .
c) auto-análise. A auto-análise fundamenta-se numa cosmovisão transcendental da vida . A compreensão integral do homem se apoia em três esteios fundamentais : filosófico : paz com a verdade ; o psicológico : paz consigo mesmo ; religioso : paz com o ser transcendental .
São técnicas que permitem o homem chegar a autenticidade de sua doença , não de tirar o homem da doença .
As questões 919 e 919A de O Livro dos Espíritos auxiliam-nos a praticá-la. Santo Agostinho sugere que todas as noites devíamos revisar o dia para ver como fomos em pensamentos , palavras e atos .
6. CARACTERES DO HOMEM DE BEM
O verdadeiro homem de bem é aquele que :
a) Pratica a lei de justiça , de amor e de caridade em sua maior pureza .
b) Tem fé em Deus , submetendo-se a sua vontade à Dele.
c) Tem fé no futuro ; por isso , coloca os bens espirituais acima dos bens temporais .
d) Sabe que todas as vicissitudes da vida são provas ou expiações , e as aceita sem murmurar .
e) Possuído pelo sentimento de caridade , faz o bem pelo bem , sem esperança de recompensa , e sacrifica o seu interesse pela justiça .
f) É bom para com todos , porque vê irmãos em todos os homens , sem exceção de raças ou de crenças .
g) Em todas as circunstancias, a caridade é o seu guia .
h) Não tem ódio , nem rancor , nem desejo de vingança .
i) É indulgente para com as fraquezas alheias, porque sabe que ele mesmo tem necessidade de indulgência .
j) Não se compraz em procurar os defeitos alheios , nem em colocá-los em evidência .
k) Estuda as suas próprias imperfeições e trabalha , sem cessar , em combatê-las.
l) Aproveita sempre as ocasiões para ressaltar as qualidades dos outros , e não as suas .
m) Se Deus lhe deu o poder e a riqueza , olha essas coisas como um depósito do qual deve usar para o bem , e disso não se envaidece porque sabe que Deus , que lhos deu, também poderá retirá-los.
n) Se a ordem social colocou homens sob sua dependência , ele os trata com bondade e benevolência , porque são seus iguais perante Deus ; usa de sua autoridade para erguer-lhes o moral e não para esmagar com o seu orgulho ; evita tudo o que poderia tornar a sua posição subalterna mais penosa . (Kardec, 1984, cap. XVII, item 3)
7. CONCLUSÃO
Voltemo-nos para dentro de nós mesmos . Esta atitude , sendo constante , auxiliar-nos-á sobremaneira , a atingir a perfeição relativa de que somos capazes . Tomando consciência de nossa ignorância , como nos ensinou Sócrates, confiaremos mais em nossos valores , o que nos propiciará um relacionamento mais saudável com os outros membros da sociedade .
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
PERES , N. P. Manual Prático do Espírita . São Paulo: Pensamento , 1984.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo . 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos . 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.
XAVIER, F. C. e VIEIRA, W. Evolução em Dois Mundos , pelo Espírito André Luiz, 4. ed., Rio de Janeiro , FEB, 1977.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo . 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.
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XAVIER, F. C. e VIEIRA, W. Evolução em Dois Mundos , pelo Espírito André Luiz, 4. ed., Rio de Janeiro , FEB, 1977.
http://www.ceismael. com .br/ artigo / artigo 092.htm
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