Estudando o Espiritismo

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sábado, 25 de dezembro de 2010

Provas da Existência de Deus

A ação de Deus se desvela no Universo, tanto no mundo físico quanto no mundo moral; não há um único ser que não seja objeto de sua solicitude.  Nós a vimos manifestar-se nessa majestosa lei do progresso que preside à evolução dos seres e das coisas, levando-os a um estado sempre mais perfeito.  Essa ação se mostra igualmente na história dos povos.  Pode-se seguir, através dos tempos, essa marcha grandiosa, esse impulso da humanidade para o bem, para o melhor.  Sem dúvida, há nesta marcha secular muito desfalecimentos e recuos, muitas horas tristes e sombrias; não se deve, porém, esquecer de que o homem é livre em suas ações.  Seus males são quase sempre a conseqüência de erros, de seus estados de inferioridade.
Não é uma escolha providencial que designa os homens destinados a produzir as grandes inovações, os descobrimentos que contribuem para o desenvolvimento da obra civilizadora?  Esses descobrimentos se encadeiam; aparecem, um depois dos outros, de maneira metódica, regular, à medida que podem enxertar-se com êxito aos progressos anteriores.
O que demonstra, de modo brilhante, a intervenção de Deus na História, é o aparecimento, no tempo próprio, nas horas solenes, desses grandes missionários, que vêm estender a mão aos homens e os repor na senda perdida, ensinando-lhes a lei moral, a fraternidade, o amor de seus semelhantes, dando-lhes o grande exemplo do sacrifício de si pela causa de todos...
..... E ficaremos surpreendidos e maravilhados, avançando nesta senda esquecida, de reconhecer, de descobrir que Deus não é abstração metafísica, vago ideal perdido nas profundezas do sonho, ideal que não existe, conforme o dizem Vacherot e Renan, senão quando nele pensamos.  Não; Deus é um ser vivo, sensível, consciente.  Deus é uma realidade ativa.  Deus é nosso pai, nosso guia, nosso condutor, nosso melhor amigo; por poço que lhe dirijamos nossos apelos e que lhe abramos nosso coração, Ele nos esclarecerá com a sua luz, nos aquecerá no seu amor, expandirá sobre nós sua alma imensa, sua alma rica de todas as perfeições; por Ele e n’Ele somente nos sentiremos felizes e verdadeiramente irmãos; fora d’Ele só encontraremos obscuridade, incerteza, decepção, dor e miséria moral.
(Leon Denis – O Grande Enigma)

Os grandes fatos da moderna ciência têm, por conseguinte, transformado a idéia de Deus, apresentando-o, ao demais, sob um aspecto bem diverso do encarado até agora.  Esse aspecto é ao mesmo tempo, mais grandioso e mais difícil de aprender.  E, contudo, nós podemos ao menos conceber, senão esboçar, o conjunto dessa metamorfose progressiva.
A ignorância havia humanizado Deus e a ciência diviniza-O – se é que o pleonasmo não escandaliza os senhores gramáticos.  Outrora, Deus foi homem; hoje, Deus é Deus.  A fé do carvoeiro ainda tão gabada, não é mais a verdadeira fé.  O credo quia absurdum é absurdo duplicado.  O Ser Supremo, criado à imagem do homem, hoje vê apagar-se, pouco a pouco, essa imagem, substituída por uma realidade sem forma.  Pois a forma, a definição, o tempo, a duração, a medida, o grau de potência ou atividade, a descrição, o conhecimento, não mais se aplicam a Deus e mal começam a ser percebidos. O próprio nome oculta uma idéia incompleta e preciso fora falar de Deus sem nomeá-lo.  Outrora, Júpiter empunhava o raio, Apolo conduzia o Sol, Netuno senhoreava os mares... Na idolatria dos budistas, Deus ressuscitava um morto, ouvir um surdo, crescer um carvalho numa noite, emergir d’água um afogado... Desvendava a um estático as zonas do terceiro céu, imunizava do fogo, são e salvo, um santo mártir, transportava um pregador, num abrir e fechar de olhos, a cem léguas de distância, e derrogava, a cada momento, as suas próprias, eternas leis... Ainda hoje, lá no Tibet longínquo, adoram Maitreya.  A mão deste Deus refreia as ondas enfurecidas, abençoa um exercito e amaldiçoa o rival; dirige as chuvas em rogativas de procissões e, qual hábil jardineiro, rega aqui, ensombra ali, poda acolá, ajusta, enxerta, combina, seleciona e mantém um cadastro heráldico de nomes e datas.  A maioria dos crentes em Deus o conceituam como um super-homem, alhures assentado acima das nossas cabeças, presidindo os nossos atos.   Dotado de excelente vista e não inferior ouvido, mantém as rédeas do mundo e, em caso de necessidade, chama um anjo serviçal e o envia a consertar qualquer peça desarranjada do seu mecanismo.  A darmos crédito às tradições do Damapadam e às inscrições d’Aschoca, o Buda tem um filho – Bodisatva – mediador assentado à sua direita, além de uma terceira pessoa  - Buda – Manouschi – “a realização de Deus pelo homem”.  Todos eles vivem nas alturas do Nirvana eterno, rodeados de Espíritos, tronos, apóstolos, mártires, pontífices, confessores, dominações, potências, magos do culto precursor, videntes da filosofia sakhya, que foram purificados, etc.; tudo isso eternamente esquematizado e graduado, segundo os méritos de uma vida efêmera.
A história da idéia de Deus mostra-nos que ela sempre foi relativa ao grau intelectual dos povos e de seus legisladores, correspondendo aos movimentos, aos progressos espirituais da humanidade.  Descendo pelo curso dos tempos, assistimos sucessivamente aos desfalecimentos e tergiversações dessa idéia imperecível, que, às vezes fulgurantes e outras vezes eclipsada, pode, todavia, ser identificada sempre, nos fastos da humanidade.  Notamos, então, que esta idéia relativa difere do absoluto único, sem o qual é impossível, hoje, conceber-se a personalidade divina.
Esse absoluto – importa afirmá-lo nestas últimas páginas – é o absoluto mesmo e nós não o conhecemos.  Ele não é o Varouna dos Árias, o Elim dos Egípcios, o Tien dos Chineses, o Ahoura-Mazda dos Persas, o Brama ou Buda dos Indianos, o Jeová dos Hebreus, o Zeus dos Gregos, o Júpiter dos Latinos, nem o que os pintores da Idade Média entronizaram na cúspide dos céus.
Nosso Deus é um Deus ainda desconhecido, que o era para os Vedas e para os sábios do Areópago de Atenas.  A noção de alguns eminentes pais da Igreja cristã e de alguns esclarecidos teólogos modernos, aproxima-se, mais que outras quaisquer, desse Deus desconhecido.  Mas, como compreendê-lo, quando nenhum Espírito criado, nem mesmo os anjos (se é que existem), poderiam fazê-lo?
(Camille Flammarion – Deus na Natureza)

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