Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Duas Unções Diferentes

Paulo Alves Godoy. O evangelho por dentro. Editora:  Livraria e Editora Humberto de Campos – FEESP. Ano:  1 edição, 1989. Pgs: 82, 97 a 99 e 137 a 138


Maria de Betânia, Espírito dócil e dedicado, muito achegada a Jesus, propiciou-nos o espetáculo grandioso de, após ter lavado os pés do Mestre com lágrimas e com perfume, ter enxugado-os com seus cabelos, merecendo, apesar da crítica de um dos apóstolos, as célebres palavras de Jesus: "Muitos pecados lhe são perdoados, por­que ela muito amou."


"Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-me os pés com ungüento."
(Lucas, 7:46)

Os Evange1hos registram dois eventos diferentes, acontecidos em circunstâncias diversas, em datas opostas; o fato de um dos pro­tagonistas principais, de ambos os casos, se chamar Simão tem levado a acreditar-se que o caso aconteceu uma só vez.
Logo no início de Sua missão pública, possivelmente na cidade de Naim, na Galiléia, Jesus Cristo foi convidado a visitar a casa de um fariseu chamado Simão. Narra o evangelista Lucas (7:37) que, estando o Mestre ali acomodado, chegou uma mulher pecadora, da cidade, levando um vaso de alabastro com ungüento puro; abaixou-se e começou a regar-lhe os pés com lágrimas, enxugando-os com seus cabelos. Em seguida, pôs-se a beijar Seus pés e a ungi-los com ungüento.
O fariseu Simão, que certamente havia convidado Jesus com segunda intenção, com o intuito de  apanhá-lo em alguma falta, con­jeturou: Este homem certamente não é profeta, pois, do contrário, saberia que a mulher que o toca é uma pecadora.
Vendo o pensamento negativo que se aninhara no coração de Simão, Jesus Cristo propôs-lhe uma parábola: Um certo credor tinha dois devedores, um lhe devia quinhentos dinheiros e outro cinqüenta.. E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois, qual deles o amará mais?
Simão respondeu prontamente: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. Diante dessa resposta () Mestre disse: julgas­te bem.
E, voltando-se para a mulher, disse a  Simão: vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta re­gou-me os pés com lágrimas, e enxugou-os com seus cabelos. Não me deste ósculo, mas esta, desde que entrou, não tem cessado de me beijar os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-me os pés com ungüento, porque ela muito amou.
Como Magdala, também na Galiléia, era uma cidade não muito distante de Naim, tudo sugere que a protagonista desse fato foi Maria Madalena.
Outro evento, descrito por outros Evangelistas, ocorreu uma semana antes do sacrifício do Calvário, ou seja, quase três anos depois. Ocorreu em Betânia, na Judéia, não muito distante de Je­rusalém. Nesta ocorrência, quem convidou Jesus também se chamava Simão, mais conhecido por Simão, o leproso, um amigo da família de Lázaro, que residia naquele vilarejo.
Então Maria de Betânia, irmã de Lázaro e de Marta, tomando um arratel de ungüento de nardo puro, de alto preço, ungiu os pés de Jesus, e enxugou-os com seus cabelos, enchendo a casa com o cheiro de ungüento.
O apóstolo Judas Iscariotes disse: Por que não se vendeu este ungüento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres? Jesus, ouvindo esse comentário do apóstolo, disse: Por que afligis esta mulher? Pois praticou uma boa ação para comigo, porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre.
Não se pode jamais confundir Maria Madalena com Maria de Betânia. Afirma o evangelista Lucas: Algumas mulheres que haviam sido curadas de Espíritos malignos e de enfermidades: Maria, cha­mada Madalena, da qual saíram sete Espíritos trevosos, Joana, mulher de Khouza, procurador de Herodes, e Suzana, e muitas outras que o serviam com suas fazendas.(Lucas, 8:1-3)
Esta afirmação de Lucas deixa claramente transparecer que Maria Madalena, quando conheceu Jesus, era uma mulher que pos­suía muitos bens e trajava-se ostentosamente. Maria de Betânia, por sua vez, era uma mulher humilde, pobre, que vivia com seus dois irmãos Lázaro e Marta, na pacata vila de Betânia, não muito distante de Jerusalém, lar que era freqüentemente visitado por Jesus, quando se dirigia aquela vila.
Também não se pode confundir Maria Madalena com a Mulher Adultera (João, 8:3-11), pois não consta que Maria fosse casada. Ela, na realidade, havia-se transviado nos caminhos da vida, mas não era adúltera.
Os antigos judeus tinham penalidades terríveis para as mulheres e homens adúlteros, principalmente o apedrejamento em praça pú­blica. O caso narrado pelo evangelista João aconteceu nas proximi­dades do Templo de Jerusalém, e Jesus, com a célebre sentença: Atire a primeira pedra quem estiver sem pecados. livrou a mulher de um terrível apedrejamento.
Não consta de nenhuma passagem evangélica que Maria Mada­lena, que seguiu Jesus até o seu sacrifício na cruz, e posteriormente acompanhou os apóstolos, tenha sido ameaçada de lapidação, pena­lidade que acometia todas as mulheres reconhecidamente adúlteras.
Bittencourt Sampaio, um dos grandes espíritas do século pas­sado, contemporâneo e amigo do Dr. Bezerra de Menezes, em sua obra "A Divina Epopéia", comentando a diferença entre as duas ocorrências, escreveu: Em conseqüência destas diferenças, a maior parte dos intérpretes das letras sagradas admite duas unções distintas. Não se confunda. pois, a ação praticada por Maria, irmã de Marta e de Lázaro, com a da pecadora em casa do Fariseu, numa cidade da Galiléia, no começo da missão de Jesus.
Em testemunho do que afirma, Bittencourt Sampaio mencionou vários exegetas dos Evangelhos, dentre eles Tholuck, Lucke e Olshau­sen, Hase e outros.

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