Pare e pense: de vez em quando, é necessário dar uma pausa no conteúdo da própria vida e analisar o que está acontecendo.
Ao pararmos para refletir, colocando-nos como espectadores da própria história, assistimos as cenas que a vida construiu conosco. Muitas destas passagens nos fazem reviver alegrias e emoções de um tempo memorável, mas nem só de boas lembranças é feito o passado. Existem outras cenas nas quais os momentos difíceis e dolorosos também passam diante de nossos olhos e, mesmo depois de muito tempo, ainda podemos sentir o gosto amargo daquele sofrimento ou dor.
Independentemente da história pessoal de cada um, devemos lembrar que somos nós quem construímos nossa própria história, que somos o personagem principal no teatro da vida. Cada ser é a principal célula criadora de seu próprio destino. O roteiro da vida não está completamente escrito, pois, além daquelas tarefas previamente estabelecidas pelo plano espiritual superior, que visam o resgate de nossos erros do passado, existem algumas lacunas à espera de serem preenchidas de acordo com as escolhas que nos permitimos fazer.
Então, se há uma parcela de tempo destinada à recuperação de laços partidos em função de atitudes cometidas anteriormente, uma outra parcela de tempo nos é reservada para que, com o calor de nossas mãos e palavras, possamos construir obras de luz que permitirão auxiliar a todos que estejam próximos de nós, além de contribuirmos com nossa lapidação íntima, rumo a um estágio mais avançado em espírito. A história de vida é escrita pelo indivíduo, portanto, somos os co-produtores de nossa própria peça. Mas além de construirmos nossa própria história, participamos simultaneamente nas peças de outros companheiros, como coadjuvantes.
Ser o próprio redator e personagem principal nos leva a concluir que somos responsáveis diretos por cada ato e cada cena de que participamos. Caso olhemos para trás e recordemos de fatos que nos entristecem ou envergonham, devemos lembrar que cada uma das atitudes que foram tomadas eram equivalentes ao grau de compreensão e percepção que tínhamos na época.
Hoje, após várias experiências, aprendemos quais os caminhos que nos machucam e quais nos conduzem à paz e à felicidade. Entretanto, existem muitos outros trajetos que ainda não descobrimos e que trilharemos muito em breve. Diante de tudo isso, se temos consciência de que somos nós quem dirigimos e protagonizamos a própria história, é nosso dever torná-la repleta de vitórias, conquistas e alegrias, assim como eliminar as passagens dramáticas e as experiências dolorosas.
Mudando o destino
De modo geral, todos os infortúnios, desavenças, doenças e até mesmo desgraças nascem de pontos insignificantes, que, muitas vezes, são alimentados no inconsciente por anos a fio, aspectos estes identificados como sentimento de culpa, remorso, raiva, mágoa, ódio etc. Se cortamos a quota de abastecimento e nos recusamos a ver essas desarmonias crescerem, elas desaparecem de forma natural. Para isso, basta apenas que modifiquemos a postura e o comportamento íntimo.
Porém, não é fácil a tarefa de mudar velhos hábitos de agir, sentir e pensar. Isto exige disciplina, amor, dedicação, perdão e boa vontade. A dificuldade acontece porque os velhos padrões se aderem às profundezas da personalidade, como se criassem raízes. Assim, quando desejamos modificá-los, é como se estivéssemos ferindo nossa própria pele. Mudar é como se tornar um outro indivíduo, perder a identidade que conhecemos.
Ninguém consegue percorrer uma légua em uma passada só. Para chegarmos ao nosso objetivo, devemos buscar encurtar a distância da chegada a cada passo, renovando forças e nos alimentando com coragem para podermos ganhar mais e mais metros. A luta deve ser diária para não sucumbirmos frente ao desânimo, pois aquele que duvida das próprias forças vacila e cai na frustração.
Toda mudança deve ser realizada aos poucos. Os hábitos são a somatória de várias e várias repetições. Para eliminar os velhos hábitos, é preciso se associar ao tempo, pois somente ele é capaz de assegurar a colheita do que um dia foi a semeadura. O hábito só pode ser extraído da personalidade ao ser substituído por outros novos, já que não existe possibilidade de vazios na vida.
Então, se tudo começa no pensamento, é necessário que, antes de qualquer atitude, as idéias sejam bem objetivas. Primeiro se muda a mente, sem pressa, mas com firmeza, pois só ela pode comandar o processo. Corremos sério risco de fracassar caso deixemos o entusiasmo momentâneo guiar nossas decisões. Ele não é o pilar no qual podemos erguer nossas realizações. O alicerce principal está no pensamento, no objetivo a ser alcançado, enfim, na certeza do que se quer obter. A força de vontade, a dedicação e a motivação devem funcionar como elementos de sustentação, como se fossem os tijolos e o cimento da construção íntima, que, juntos, ajudarão a erguer a fortaleza de nossos sonhos.
Poder de transformação
O homem tem o poder de transformar as diretrizes de seu caminho quando acorda para a realidade de suas tarefas. Desde que mude sua mente, ele acabará com as conseqüências de um passado equivocado. Um dos objetivos da existência é a modificação dos hábitos prejudiciais e, desde que esse processo aconteça, não há mais necessidade da dor e do sofrimento. Tudo é mudança de mentalidade e de perspectiva, nada está condicionado a uma lei inexorável.
Assumir o trabalho que nos cabe é um fato do qual não se pode fugir, a responsabilidade é parte integrante de qualquer ser. Quem se esquiva ou tem medo de agir não se dispõe a viver integralmente a página da vida que acaba de virar em branco. Ninguém acelera o tempo, pode apenas adiantar ou retardar seu tempo interior. As etapas seguirão seu curso, sem que ninguém possa detê-las. Então, vale a pena ficar de braços cruzados diante de tantas possibilidades?
Quanto mais lúcido for nosso poder de gerar acontecimentos, mais poderemos manipular o próprio caminho. É por isso que devemos cultivar todas as oportunidades de aprimoramento. Quanto mais seguirmos os impulsos e gostos intuitivos, aqueles ditados pelo coração, mais desenvolveremos os dons inatos, “porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mateus 6:21).
Esforcemo-nos para garantir o aprendizado gradativo ao qual cada etapa nos conduz, lembrando que olhos distraídos não captam a paisagem. É preciso enxergar o que passa despercebido para os outros, tirar conclusões, ordenar e juntar fatos e idéias, tirar sábias lições de tudo que se passa ao redor. Entretanto, isso tudo dá trabalho, exige um comportamento e uma visão menos acomodada, trabalho de ver e pensar. Circunscrita às próprias limitações, a mente se corrompe e deteriora como água parada. É por isso que a existência apresenta desafios, pois, sem eles, perderíamos a flexibilidade.
Portanto, é indispensável pensar. Se construimos nosso destino diariamente por meio dessa mesma força mental, também podemos transformá-lo. Quando alguém toma consciência de que forja todos os fatos que lhe acontecem com o espírito, passa a prestar mais atenção aos seus atos e pensamentos.
Aqueles que estão acostumados às idéias de fatalidade questionam-se sobre a possibilidade de mudança. Enfraquecidos e desorientados, não crêem no poder de mudar seus destinos. Porém, alterando o panorama das idéias, lidando apenas com energias sutis, eles comprovarão sua infinita força. Tanto os grandes feitos como as pequenas mudanças de rumo se fazem com discernimento, ação e tempo. Mas é sempre bom lembrar: aquele que não se predispõe aos serviços pequenos não conseguirá realizar os mais altos projetos. Está naquelas tarefas mais humildes a chance de exercermos a responsabilidade e a força de vontade.
Mudar o panorama das idéias é reescrever o próprio roteiro da vida. A mente é capaz de grandes realizações caso saibamos trabalhar com nossas disposições mentais e emocionais. O pensamento constrói o destino do ser humano e nunca é tarde para analisarmos e revermos nossa postura. Somente assim seremos capazes de transformar o aspecto de nossa história e alcançar a vitória tão desejada. A conquista do equilíbrio interior e a superação dos próprios limites dependem de nós.
Artigo publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição 16.
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