Estudando o Espiritismo

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terça-feira, 26 de outubro de 2010

A VONTADE DE DEUS


Publicado por Marcio-geec em 11/8/2006 (696 leituras)
Rodolfo Calligaris

Há quem suponha que o livre arbítrio do homem seja absoluto, incontrastável, e que, no uso dessa prerrogativa, ser-lhe-ia possível fazer ou deixar de fazer o que bem entendesse, até mesmo rejeitar os planos de Deus, ou colocar-se ostensivamente contra eles, sem que houvesse meio de dobrar-lhe a cerviz.

A teologia tradicional assim o ensina e uma vasta literatura, dita cristã, também o confirma, ao apregoar que a vontade de Deus está sendo frustrada constantemente pelo homem aqui na Terra, como já o fora por grande número de anjos lá no céu.

Puro engano.

Deus quer que o homem tenha o mérito da glória para a qual o destinou e por isso, a par das revelações progressivas com que lhe há iluminado a consciência, concede-lhe relativa liberdade, a fim de que cada qual a alcance por si mesmo, pelo próprio esforço.

Insipiente, pode ele, então, tal qual o filho pródigo da parábola evangélica, enveredar por ínvios carreiros (os erros e crimes de toda espécie), distanciando-se da retidão (o cumprimento das leis de Deus) .

Cada vez, porém, que isso acontece, sofre tropeços, quedas e acúleos que c fazem retornar ao bom caminho.

Destarte, esses transviamentos temporários, com as agruras e lacerações que lhes são conseqüentes, constituem experiências que ele vai adquirindo para melhor conduzir-se no futuro e não mais fugir ao roteiro que lhe cumpre palmilhar.

A única coisa, pois, que o honrem pede escolher, a seu talante, lemos algures, é o modo de cumprir a vontade de Deus; apenas isso.

Quem, como Jesus, haja conseguido harmonizar o seu querer pessoal com a vontade divina, cumpre-a com gozo, deleitosamente, como se estivesse a participar de um esplêndido banquete. Daí as suas palavras: "O meu manjar é cumprir a vontade d'Aquêle que me enviou" (João, 4: 34).

Os que, entretanto, em razão de seu atraso espiritual, ainda se mostram recalcitrantes, uma vez escoado o "prazo de espera" que as Leis Divinas concedera a todos para que se submetam espontaneamente ao seu império, terão que cumpri-Ias, quer o queiram quer não, ainda que com sofrimento, dolorosamente, porque acima do alvedrio humano vige um Determinismo Superior, a regular e a garantir a ordem universal.

O equívoco dos que acreditam seja possível ao homem deixar de cumprir os desígnios de Deus reside na idéia corrente de que ele é "essencialmente mau", e pode querer manter-se eternamente afastado do Supremo Bem.

Essa idéia, todavia, é falsa e insustentável.

Filho de Deus, criado à "imagem e semelhança" d'Ele, o homem não é, nem poderia ser mau por natureza; pelo contrário, é "essencialmente bom", potencialmente idêntico ao Criador, e, pela evolução, dia virá - embora longínquo - em que se tornará uno com Ele.

Esta conclusão, que pode escandalizar a muitos, nada tem de extraordinária. Um recém-nascido, malgrado sua fragilidade e inconsciência, é um ser adulto em potencial. O homem, semelhantemente, em que pese a suas limitações atuais, possui em germe todas as faculdades que hão de deificá-lo. Questão de tempo, trabalho e perseverança nos bons propósitos.

Assim não fora, e o Cristo não teria feito esta exortação: “Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai Celestial”.

Há ainda um outro fator de suma importância que impede a cristalização do homem na rebeldia: o desejo de ser feliz.

A felicidade é sua maior e mais profunda aspiração.

Todo homem quer possuí-la, anseia tê-la por companheira inseparável de sua existência.

Por outro lado, não há um só que possa ter o desejo mórbido de ser infeliz para sempre, renunciando em definitivo às delícias de bem-aventurança.

Ora, como “ser feliz” é uma decorrência de “ser bom”, tanto quanto “ser infeliz” o é de “ser mau”, segue-se que o homem, por mais embrutecido e perverso que seja, há de, infalivelmente, cansar-se de sofrer, por descumprir as Leis Divinas, buscando, afinal, aquela felicidade verdadeira e indestrutível que consiste em fazer o bem, ou seja, em cumprir, com amor, a vontade do Pai Celestial.

(Revista Reformador – Agosto de 1971)

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