Estudando o Espiritismo

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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Amit Goswami: Ativista Quântico


2010-03-02
Conhecido e respeitado em todo mundo por seus trabalhos que buscam unir a ciência e a espiritualidade, Amit Goswami é considerado um dos grandes físicos do século 20.
 Wanise Martinez
 Adepto do materialismo desde os 14 anos de idade, o físico Amit Goswami sentiu, de repente, que estava seguindo por um caminho errado e que isso o estava deixando entristecido. “Na minha procura por uma ‘física alegre’”, diz o físico, ”eu encontrei o problema de uma interpretação da física quântica livre de paradoxo”. Segundo conta, essa descoberta aconteceu quando ele tinha 45 anos, durante uma conferência de física, e foi confirmada num outro momento, enquanto falava com o místico Joel Morwood. “Eu tive o insight criativo de que a consciência, e não a matéria, é o terreno no qual a existência e a ciência podem e devem ser realizadas, nessa base metafísica”. A partir daí, todo o seu trabalho de pesquisa mudou. Foi quando ele passou a estudar uma vertente da física um pouco mais espiritual.
Ph.D. em Física Nuclear, Amit Goswami foi professor do departamento de Física da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, durante 32 anos – instituição em que ocupa, atualmente, a posição de professor emérito. Hoje, ele trabalha como consultor, conferencista e pesquisador da área. O estudioso também participou do filme Quem Somos Nós?, experiência que ele acredita ter sido muito válida, pois mostrou ao público que “nos temos opções”.
 O senhor disse que a ciência e espiritualidade têm de trabalhar juntas. De que forma isso é possível?
A espiritualidade agora é vista como sendo científica. A questão importante é: ciência e religião podem trabalhar juntas? A ciência está nos ajudando a diferenciar espiritualidade e religião. A espiritualidade é um chamado natural para alguns de nós e não pode ser considerada como parte da pauta secular que separa estados e religiões. Religiões referem-se a formas de manifestar a espiritualidade em nossas vidas e existem muitos modos disso acontecer; nós devemos ser livres para investigar todas as religiões, até o ateísmo, para descobrir a espiritualidade. Esse movimento em direção ao que as pessoas estão chamando pós-secularismo é uma das mais importantes contribuições do novo paradigma da ciência integrando ciência e espiritualidade.
 A que o senhor atribui essa aproximação cada vez maior entre a ciência o conhecimento das tradições místicas espirituais?
Eu penso que a nova integração de ciência e espiritualidade é parte de uma jornada evolucionária de uma tendência racional para uma intuitiva, na qual não apenas o pensamento racional é valioso, mas também está integrado com emoções e intuições.
 De que maneira é possível fazer essa relação? Em que ponto elas se unem?
Agora que a ciência está dando suporte ao centro da sabedoria mística que existe por trás das religiões populares, estas vão deixar de ser defensivas, e a modernização que há muito é necessária a elas pode ocorrer. Muitas religiões – o Islã é a mais visível – precisam modernizar-se e reconhecer a necessidade de se abrirem e de se tornarem disponíveis não apenas para uns poucos escolhidos, mas também para as pessoas comuns, inclusive as mulheres.
 Qual é a principal relação entre a física quântica e o processo criativo existente nas pessoas?
O processo criativo humano apenas pode ser entendido quando nós reconhecemos a física quântica do movimento do pensamento. Por exemplo, o insightcriativo é um salto quântico descontínuo do pensamento, no estilo do elétron atômico que salta de uma órbita para outra sem passar através do espaço entre elas.
 O senhor acredita que a criatividade nasce com as pessoas ou é aprendida ao longo da vida? Existe alguma forma de desenvolvê-la mais rapidamente?
A criatividade é universalmente inata em nós, mas o talento, não. Nossa sociedade encoraja preferencialmente a criatividade de pessoas talentosas. Isso é um problema. Contudo, nós podemos superar a falta de talento por meio do aprendizado e percebendo que a mais admirável arena da criatividade é a criatividade interna, a criatividade devotada aos objetivos espirituais de transformação.
 Por que escolheu como foco de pesquisa estudar a relação mente-corpo por meio da cosmologia e da mecânica quântica? Qual é o seu objetivo?
Como cientista, nunca me senti contente com o compromisso que muitos cientistas que vêem valor na espiritualidade tendem a aceitar – ou seja, ser um cientista e acreditar no materialismo científico de segunda a sexta-feira, e  tornar-se um crente na metafísica espiritual no fim de semana. Eu acredito que existe apenas um mundo e uma percepção do mundo. Agora, eu descobri que isso é assim. Meu objetivo é trazer esse ponto de vista monístico para a forma como vivemos e em torno da qual nossa sociedade é construída. Conseqüentemente, estou pondo em prática um movimento chamado “ativismo quântico”.
 Como o senhor lida com as críticas, tanto pelo lado da ciência quanto do místico e religioso?
Com paciência. Tanto a ciência quanto a religião estão confortáveis em seus respectivos casulos. A idéia de uma mudança de paradigma é desconfortável para as pessoas que estão no poder. O novelista Upton Sinclair disse algo a respeito: se as pessoas estão conseguindo viver sem entender algo, torna-se difícil fazê-las entender. Os jovens são tão livres para pensar como são os jovens de coração, que não possuem interesses adquiridos.O ativismo quântico é dirigido a essas pessoas.
 Por que o princípio da incerteza é fundamental em nossa consciência?
O princípio da incerteza aponta que as interações materiais só podem gerar possibilidades. Uma consciência não material é necessária para converter possibilidades em realidades.
 O senhor afirmou em uma entrevista ao programa Roda Viva, aqui no Brasil, que os cientistas normalmente dizem que a ciência deve ser objetiva, mas que o senhor percebeu que a ciência deve ser objetiva somente até certo ponto. Que ponto é esse? O senhor acredita que a ciência pode adentrar o universo da subjetividade sem perder seu foco principal de pesquisa?
A ciência pode ser objetiva quando está lidando com números grandes para os quais tudo o que você precisa são as probabilidades que a física quântica torna possível calcular. Porém, na importante área da criatividade, incluindo espiritualidade, eventos únicos são importantes, e a subjetividade passa a ter destaque. Nesse sentido, a própria evolução é parcialmente objetiva, darwiniana; mas aí existem as lacunas fósseis, que significam eventos descontínuos de saltos quânticos criativos nos quais tem papel a subjetividade de espécies inteiras.
 O senhor acredita que a ciência unida à espiritualidade pode melhorar a relação existente entre os seres humanos, e entre os humanos e o planeta?
Sim, mostrando que nós somos todos um, toda a biota planetária (biota = conjunto de todos os seres vivos de uma região). A nova ciência está dando um novo significado à expressão “ecologia profunda”.
 De que forma as pessoas podem encontrar a cura para suas doenças na própria consciência?
Se a doença está no nível da energia vital ou mental, a cura também deve ocorrer nesses níveis. Essa cura é a cura quântica que se deve aos saltos quânticos em nossos pensamentos e sentimentos.
 A espiritualidade tem mais possibilidade de curar do que a ciência ou as duas devem trabalhar juntas?
Podem-se obter muitas vantagens em trabalhar juntos. A ciência médica material nos ajuda a ganhar tempo precioso, que é necessário para conseguir saltos quânticos conscientes, insights de cura.
 Em seu livro Evolução Criativa das Espécies (Ed. Aleph), o senhor fala dos equívocos nas teorias tradicionais evolucionistas. Qual o senhor acha que é o principal deles?
A mais importante concepção errônea é que a teoria de evolução contínua do darwinismo possa explicar as lacunas fósseis (a descontinuidade nas linhagens fósseis evolucionárias).
 O senhor acredita em Deus ou na existência de uma força superior?
Sim. E não é apenas uma crença. Está respaldada tanto por investigações científicas quanto por minhas próprias experiências de vida.
 Quais são os seus projetos futuros como físico? E como espiritualista?
Como físico quântico, eu quero aplicar a ciência à consciência, a nossos sistemas sociais, desenvolver uma economia espiritual. Como uma pessoa espiritual, eu sou um ativista quântico.
 O que o senhor gosta de fazer nas horas livres?
Caminhar na natureza com minha esposa. Ler romances históricos. Meditar.
 O senhor se sente realizado profissionalmente? O que ainda deseja fazer?
Bem... a mudança de paradigma ainda não está completa. Eu espero viver o bastante para vê-la se completar. Eu quero inspirar pessoas a seguir o ativismo quântico, a usar os princípios quânticos para transformar a si mesmos e a sociedade.
  
Livros de Amit Goswami no Brasil
A Física da Alma (Ed. Aleph)
O Universo Autoconsciente (Ed. Aleph)
O Médico Quântico (Ed. Cultrix)
Criatividade Quântica (Ed. Aleph)
Evolução Criativa das Espécies (Ed. Aleph)
A Janela Visionária (Ed. Cultrix)

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