Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O Profeta Elias, João Batista e Allan Kardec




Sérgio Fernades Aleixo

A reencarnação de Elias como João Batista é confirmada pelo estudo da semelhança existente entre ambas as personalidades, pela análise da trama da vida das duas personagens e pelos indicativos proféticos. Trata-se de espíritos austeros na fidelidade à lei, ostentando o mesmo modo de viver e até de se vestir.
Diz a escritura que Elias “era um homem vestido de pelos, e com os lombos cingidos dum cinto de couro” (2.º Rs 1:8), e que João Batista “usava uma veste de pelos de camelo, e um cinto de couro em torno de seus lombos; e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre”. (Mt 3:4.)
A correspondência cármica na trama da vida de ambos mais acentua a idéia palingenésica. O espírito que animara a personalidade de Elias sofreu a pena de talião reencarnado na figura de João Batista. Porque degolou sacerdotes de Baal, foi decapitado. Os textos bíblicos e evangélicos provam isso.
“Disse-lhes Elias: Agarrai os profetas de Baal! que nenhum deles escape: Agarraram-nos; e Elias os fez descer ao ribeiro de Quisom, onde os matou. [...] Acabe fez saber a Jezabel tudo quanto Elias havia feito, e como matara à espada todos os profetas.” (1.º Rs 18:40; 1.º Rs 19:1.)
“Festejando-se o dia natalício de Herodes, a filha de Herodias dançou no meio dos convivas, e agradou a Herodes, pelo que este prometeu com juramento dar-lhe tudo o que pedisse. E instigada por sua mãe, disse ela: “Dá-me aqui num prato a cabeça de João, o Batista”. Entristeceu-se, então, o rei; mas, por causa do juramento, e dos que estavam à mesa com ele, ordenou que se lhe desse, e mandou degolar a João no cárcere; e a cabeça foi trazida num prato, e dada à jovem, e ela a levou para a sua mãe.” (Mt 14:6-11.)
“Então Jesus lhe disse: ‘Mete a tua espada no seu lugar; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão’.” (Mt 26:52.)
“Se alguém tem ouvidos, ouça. Se alguém leva em cativeiro, em cativeiro irá; se alguém matar à espada, necessário é que à espada seja morto. Aqui está a perseverança e a fé dos santos.” (Ap 13:9-10.)
Exceto as obras de Kardec, todas as de que tivemos notícias pecam por errônea interpretação da cronologia profética de Elias.
Quando falou do Batista, o mestre assegurou: “Este é de quem está escrito [em Malaquias 3:1]: Eis aí, eu envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o teu caminho diante de ti”. (Mt 11:10.) Assim, Jesus declarou cumprido o que fora predito. O anjo, o mensageiro que viria antes do Cristo para lhe preparar o caminho estava ali. Era seu primo João Batista! Jesus assumia, pois, a sua condição de messias. Para melhor explicitar o sentido cronológico de outra profecia de Malaquias, a última do Velho Testamento, Jesus revelou a antiga identidade de seu precursor:
“[...] desde o tempo de João Batista até o presente, o reino do céus é tomado pela violência e são os violentos que o arrebatam; pois que assim o profetizaram todos os profetas até João, e também a lei. Se quiserdes compreender o que vos digo, ele mesmo é o Elias que há de vir. Ouça-o aquele que tiver ouvidos de ouvir”. (O evangelho segundo o espiritismo. IV:10. Mt 11:12-15.)
Allan Kardec assim desvelou o significado dessas palavras:
“Se o princípio da reencarnação, conforme se acha expresso em S. João, podia, a rigor, ser interpretado no sentido puramente místico, o mesmo já não acontece com esta passagem de S. Mateus, que não admite equívoco: ele mesmo é o Elias que há de vir. Não há aí figura, nem alegoria: é uma afirmação positiva. “Desde o tempo de João Batista até o presente o reino dos céus é tomado pela violência.” Que significam essas palavras, uma vez que João Batista ainda vivia naquele momento? Jesus as explica dizendo: “Se quiserdes compreender o que digo, ele mesmo é o Elias que há de vir”. Ora, sendo João o próprio Elias, Jesus alude à época em que João vivia com o nome de Elias. “Até o presente o reino dos céus é tomado pela violência”: outra alusão à violência da lei mosaica, que ordenava o extermínio dos infiéis, para que os demais ganhassem a terra prometida, paraíso dos hebreus, ao passo que, segundo a nova lei, o céu se ganha pela caridade e pela brandura.
E acrescentou: Ouça aquele que tiver ouvidos de ouvir. Essas palavras, que Jesus tanto repetiu, claramente dizem que nem todos estavam em condições de compreender certas verdades”. (O evangelho segundo o espiritismo. IV:11.)
Após conversar com Moisés e Elias no alto de um monte, Jesus acentuou a Pedro, Tiago e João: “[...] eu vos declaro que Elias já veio; mas eles não o reconheceram, e fizeram dele o que queriam”. (Mt 17:12.) Mateus não hesitou em revelar seu entendimento do fato, dizendo: “Então compreenderam os discípulos que se referia a João Batista”. (Mt 17:13.) Se nome disso não é reencarnação, qual é?
Jesus, portanto, confirmou o cumprimento da profecia de Malaquias 3:1 em João Batista. Além disso, revelou que o mensageiro, o anjo mencionado nesse passo era o profeta Elias, referido explicitamente em Malaquias 4:5. Porém, o mestre não disse já estar cumprida em sua época esta última profecia:
“Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do Senhor; ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais, para que eu não venha e fira a terra com maldição”. (Ml 4:5-6.)
O único trecho das escrituras que parece considerar cumprida essa profecia é o dizer do anjo Gabriel ao pai do Batista:
“Não temas Zacarias, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho, a quem chamarás João, e terás gozo e alegria, e muitos se regozijarão por causa de seu nascimento, porque ele será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem bebida forte; já desde o ventre de sua mãe será cheio de um espírito santo, e converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor Deus deles. Ele irá diante do Senhor com o espírito e o poder de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos, e converter os desobedientes, de maneira que andem na prudência dos justos, a fim de preparar ao Senhor um povo dedicado”. (Lc 1:13-17.)
Informa o Prof. T. Pastorino que o jesuíta M. Zerwick estuda a questão do en grego com o sentido associativo, ou de companhia, que será sempre melhor traduzir por “com” ao invés de “em”. Assim, é melhor dizer-se: “Ele (João) irá diante do Senhor com o espírito e poder de Elias”. Isso, no dizer de Pastorino, “confirma a tese da reencarnação de Elias na personalidade de João Batista”. (Sabedoria do Evangelho. 1.º vol. p. 32.)
Quanto à segunda vinda de Elias, só se pode concluir que Gabriel usou a última profecia do Velho Testamento para revelar a identidade do mensageiro que iria diante do Senhor, e, também, para explicitar a semelhança daquela missão na personalidade de João Batista com a futura missão que o Cristo lhe daria. Nesta, sim, é que se cumpriria a profecia de Malaquias 4:5-6 (ou 3:23-24). A palavra do mestre está acima da de qualquer anjo!
Falando do presente, Jesus disse ser o Batista a reencarnação de Elias. Contudo, segundo as melhores traduções, como a de Sacy, utilizada por Kardec, também se reportou ao futuro: “Ele porém — se o quiserdes aceitar — é Elias que há-de vir”. Nas traduções de A. P. de Figueiredo, de M. de Matos Soares e de Dom V. M. Zioni não está escrito “havia de vir” e sim, “há-de vir”. Igualmente em A bíblia de Jerusalém: “deve vir”, e na Tradução do novo mundo das escrituras sagradas: “está destinado a vir”. Em tempo, anotemos que, na norma culta do português do Brasil, se escreve “há de”, diferentemente do português de Portugal: “há-de”.
O mestre citou Malaquias 4:5-6 para revelar a antiga identidade do mensageiro que o precedeu e indicar a nova missão deste no futuro. Mas só considerou cumprida a profecia de Malaquias 3:1. As suas palavras no monte da transfiguração e o seu testemunho sobre o Batista provam nossa tese: “É certo que Elias tem de vir e que restabelecerá todas as coisas”. (A gênese. XVII:33. Mt 17:11.) O próprio Kardec demonstrou entender o versículo como predição, fato posterior a João Batista:
“Elias já viera na pessoa de João Batista. Seu novo advento é anunciado de maneira explícita; ora, como não poderá voltar senão com um corpo novo, eis a consagração formal do princípio da pluralidade das existências”. (A gênese. XVII:34. LAKE. 18.ª edição. p. 330. Tradução de Victor Tollendal Pacheco. Apresentação e notas de J. Herculano Pires.)
Não devemos pretender que esse passo foi considerado pelo codificador como predição do evangelho só porque, nele, Jesus prevê sua morte. Kardec intitulou essa profecia “advento de Elias” e não, “morte de Jesus”. O tempo verbal em que expressou seu entendimento não deixa dúvida. Não só falou da vinda de Elias como João Batista, mas da que posteriormente a este ocorreria, para restabelecer todas as coisas. Por isso, depois do seu comentário sobre o “advento de Elias”, Kardec interpretou a “anunciação do Consolador” e integrou, uma na outra, ambas as profecias, afirmando:
“[...] o Espírito de Verdade viria tudo lembrar e, de combinação com Elias, restabelecer todas as coisas, isto é, pô-las de acordo com o verdadeiro pensamento de seus ensinos [os de Jesus]”. (A gênese. XVII:37.)
Em A gênese, I:26, Kardec co-relacionou essas profecias: a segunda vinda de Elias e o advento do Consolador. Isso prova que considerava esse advento como posterior a João Batista. Eminentes prelados também viram dessa maneira. É o caso de M. de Matos Soares: “A missão do Baptista, na primeira vinda do Salvador, é igual à missão de Elias que há-de vir ao mundo na segunda vinda de Jesus”. E ainda E. Tintori: “João é denominado Elias porque dotado do espírito e da virtude de Elias e, outrossim, pelo fato de preceder a primeira vinda do Messias, como o profeta Elias deverá preceder a segunda”.
A diferença entre a interpretação tradicional e a de Kardec está no fato de que esta inclui a reencarnação. Considera duas missões para um mesmo espírito em épocas diversas e corpos distintos. As igrejas cristãs não admitem a palingenesia. Por isso, entendem de outra forma a profecia. Mas é com acerto que identificam a vinda de Elias antes da volta de Jesus. Só erram em não aceitar que se trata de uma segunda vinda do mesmo profeta. A primeira ocorreu, pela reencarnação, em João Batista. Por serem contra a palingenesia, essas igrejas têm de recorrer a interpretações que se opõem às leis naturais. Pensam que Elias virá no mesmo “carro de fogo” que ao céu o teria levado. Depois dele, voltará Jesus, para ressuscitar das tumbas os mortos e realizar o juízo final... Passe de mágica, puro milagre.
Além de revelar que o mensageiro que o antecedeu era a reencarnação do profeta Elias, Jesus deu a conhecer a tarefa que esse espírito teria no futuro. Compreendemos que, sim, Elias veio antes do Cristo. No dizer do mestre, porém, o antigo profeta viria novamente à Terra, reencarnaria antes do “grande e terrível Dia do Senhor” a fim de restabelecer todas as coisas. Para que não restem dúvidas, analisemos esta pergunta dos discípulos a Jesus “ressuscitado”:
“Senhor, porventura chegou o tempo em que restabelecereis o reino de Israel? E ele disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos nem os momentos que o Pai reservou ao seu poder”. (At 1:6-7.)
Em oposição à mentalidade racional de Jesus, seus discípulos, ainda presos aos complexos míticos da época, entendiam que todas as profecias do mestre se realizariam em pouco tempo e que se referiam apenas a Israel. Era uma visão própria do sociocentrismo de que estavam impregnados, embora não fosse em nada correspondente à amplitude de vistas da doutrina de Jesus, amplitude, aliás, patenteada na resposta que lhes deu: “Não vos pertence saber os tempos nem os momentos que o Pai reservou ao seu poder”. Já depois da ascensão do mestre ao céu, Pedro falou a muitos no templo, profetizando:
“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que os vossos pecados vos sejam perdoados; para que venham os tempos da consolação diante do Senhor, e envie aquele Jesus Cristo que vos foi pregado, o qual convém que o céu [retenha] até os tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou antigamente pela boca dos seus santos profetas”. (At 3:19-21.)
Quando disse que Elias viria para restabelecer, ou restaurar todas as coisas, o mestre se referiu ao futuro realmente. Atos dos apóstolos, como se pode ver, não deixa dúvidas acerca da época em que se daria esse grande evento profético.
A restauração de todas as coisas não dizia respeito aos códigos de uma sociedade cuja pátria se constituísse nacional e fisicamente, e cujo estabelecimento fosse patrocinado pela força de uma intervenção bélico-miraculosa de Deus. Relacionava-se à fraternidade irrestrita de uma república universal de almas, viventes, alternadamente, na Terra e no além, sob a égide de imutáveis leis de justiça, amor e bondade, expressões de um Deus que é Pai comum de todas elas. O supremo mestre sabia que, sendo modelo dessa proposta divina, sua doutrina, na verdade espiritual que lhe constitui a essência mesma, não seria aceita pela maioria dos homens, senão pela força de prejudiciais adaptações. Foi essa a violência cultural sofrida pelo cristianismo desde que se tornou religião do Estado romano.
O restabelecimento de todas as coisas era, nos domínios da presciência de Jesus Cristo, a futura e necessária restauração de sua doutrina. O mestre se faria sentir espiritualmente, acompanhado de seus mensageiros. Encarnados ou não, eles anunciariam a chegada dos “tempos” e “momentos” que o Pai havia “reservado ao seu poder”, dos “tempos da consolação diante do Senhor”. Deus nos enviaria novamente o seu amado filho e tudo estaria restabelecido no coração dos que se cientificassem dessa Verdade.
Nada, nada define melhor do que isso o espiritismo! Pelo menos para quem lhe conhece de fato os alcances e características. Sérios e perseverantes estudos das obras de Kardec demonstram ser mesmo ele o Elias que estava destinado a vir para restabelecer todas as coisas quanto ao cristianismo do Cristo. O codificador do espiritismo deixou patenteada essa revelação em seus textos, apesar de o ter feito com a mais absoluta discrição de sua têmpera cristã. Esse grave tema envolve seu relacionamento espiritual com o próprio Jesus de Nazaré.
1.º — Prefácio de O evangelho segundo o espiritismo. Lemos as seguintes palavras de O Espírito de Verdade:
“Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos”.
Quem fala é exatamente Jesus, o único espírito digno de se declarar a Verdade. (Jo 14:6.) Para confirmação disso, basta consulta ao item 48 de O livro dos médiuns. Ao refutar o “sistema unispírita”, Kardec trata Jesus por “Espírito da Verdade”, “santo entre todos”. Em Obras póstumas (Imitação do Evangelho. Ségur, 9 de agosto de 1863), Kardec ouve de um espírito amigo:
“Acaba a tua obra e conta com a proteção do teu guia, guia de todos nós [...]. Conta conosco e conta sobretudo com a grande alma do mestre de todos nós, que te protege de modo muito particular”.
Ora! Profetizara Pedro que, nos tempos do restabelecimento de todas as coisas, haveria consolação diante do Senhor, a presença do próprio Jesus Cristo se faria sentida. Evidentemente, trata-se do advento do Espírito de Verdade, “o verdadeiro Consolador”. (A gênese. I:42.)
2.º — Número 16 do capítulo XXIII de O evangelho segundo o espiritismo. Allan Kardec, parafraseando Jesus, afirma:
“[...] quando o campo estiver preparado, eu vos enviarei o Consolador, o Espírito de Verdade, que virá restabelecer todas as coisas, isto é, que dando a conhecer o sentido verdadeiro das minhas palavras, que os homens esclarecidos poderão enfim compreender, porá termo à luta fratricida que desune os filhos do mesmo Deus. Cansados, afinal, de um combate sem resultado, que consigo traz unicamente a desolação e a perturbação até ao seio das famílias, reconhecerão os homens onde estão seus verdadeiros interesses, com relação a este mundo e ao outro”.
Note-se a preocupação de Kardec com as contendas religiosas existentes mesmo no seio das famílias. Segundo Malaquias 4:6, Elias viria para converter o coração dos pais aos filhos e dos filhos aos pais.
3.º — Número 26 do capítulo I de A gênese. Assim se exprime o querido mestre lionês:
“[...] o Cristo acrescenta: “Muitas das coisas que vos digo ainda não as compreendeis e muitas outras teria a dizer, que não compreenderíeis; por isso é que vos falo por parábolas; mais tarde, porém, enviar-vos-ei o Consolador, o Espírito de Verdade, que restabelecerá todas as coisas e vo-las explicará todas”. (S. João, caps. XIV, XVI; S. Mat., cap. XVII)”.
O codificador menciona entre parênteses os capítulos do Evangelho segundo João nos quais Jesus fala do Consolador e, também, o capítulo do Evangelho segundo Mateus no qual o Cristo se refere ao segundo advento de Elias, assinalando-lhe a missão de restabelecer todas as coisas. Se o codificador relacionou, assim juntos, tais capítulos dos dois evangelistas é que, forçosamente, via neles uma importante ligação. Qual?
4.º — Número 37 do capítulo XVII de A gênese. Kardec, explicando a importante ligação existente entre S. João, capítulos XIV e XVI, e S. Mateus, capítulo XVII, é quase explícito em dizer que era uma reencarnação do espírito que outrora animou as personalidades dos profetas Elias e João Batista:
“Sob o nome de Consolador e de Espírito de Verdade, Jesus anunciou a vinda daquele que havia de ensinar todas as coisas e de lembrar o que ele dissera. Logo, não estava completo o seu ensino. E, ao demais, prevê não só que ficaria esquecido, como também que seria desvirtuado o que por ele fora dito, visto que o Espírito de Verdade viria tudo lembrar e, de combinação com Elias, restabelecer todas as coisas, isto é, pô-las de acordo com o verdadeiro pensamento de seus ensinos”.
O Espírito de Verdade, bem como seus comandados, estavam de combinação exatamente com Allan Kardec. Era ele o codificador da terceira revelação da lei de Deus aos homens, cuja finalidade central era o restabelecimento do cristianismo do Cristo.
5.º — Número 65 do capítulo XVII de A gênese. Allan Kardec demonstra sua criticidade mesmo em relação à doutrina apostólica, assim se exprimindo:
“[...] Jesus tinha razão de declarar aos seus discípulos: ‘Há muitas coisas que não vos posso dizer, porque não as compreenderíeis’, dado que o progresso das ciências era indispensável para uma interpretação legítima de algumas de suas palavras. Certamente os apóstolos, S. Paulo e os primeiros discípulos teriam estabelecido de modo muito diverso certos dogmas se tivessem os conhecimentos astronômicos, geológicos, físicos, químicos, fisiológicos e psicológicos que hoje possuímos. Daí vem o ter Jesus adiado a complementação de seus ensinos e anunciado que todas as coisas haviam de ser restabelecidas”.
Segundo o codificador, o espiritismo é a complementação dos ensinos de Jesus. Não só os restabelece como também os desenvolve. Ensina aquilo que os apóstolos, à época, não puderam transmitir mais perfeitamente. E dizemos “à época” porque, a exemplo de Jesus, eles também voltaram, quer desencarnada, quer reencarnadamente. É o que revela o espírito do poeta alemão Henri Heine:
“Mais de um patriarca, mais de um profeta, mais de um discípulo do Cristo, mais de um pregador da fé cristã se encontram no meio deles [dos espíritas], porém, mais esclarecidos, mais adiantados, trabalhando, não já na base e sim na cumeeira do edifício”. (O evangelho segundo o espiritismo. XX:3.)
Quem tiver ouvidos, ouça! Demonstramos aqui o verdadeiro caráter da revelação espírita, bem como, dele inseparável, a autêntica têmpera da missão de Allan Kardec. Embora não a fosse, o mestre lionês veio ao mundo mais uma vez, como outrora, a fim de testificar da luz que ilumina todo homem: Cristo Jesus. (Jo 1:6,8.)

(In: Reencarnação, Lachâtre, 1999.)

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