Publicado por Marcio-geec em 11/8/2006 (1993 leituras)
Octávio Caúmo Serrano
Engano supor que tudo podemos com base no decantado livre-arbítrio. Nosso livre-arbítrio termina quando começa o livre-arbítrio do outro.
Depois das primitivas experiências nos diferentes reinos da natureza, a partir do momento em que o espírito entra na fase humana, quando começa a ser dotado de razão, além da inteligência e instinto, desabrocha nele a liberdade de ação, o que habitualmente é chamado livre-arbítrio.
Livre-arbítrio parece significar que o homem pode fazer o que quer, pelo simples desejo de fazer, sem precisar de maiores razões ou de dar explicações a quem quer que seja.
Todavia, convém examinarmos que o homem é influenciado pela matéria. E em mundos como o nosso, o apelo material sobre o espírito ainda é bastante acentuado. Por essa razão, além de o livre-arbítrio ser mal conduzido quanto aos objetivos espirituais, as normas do mundo material impedem que certas vontades do homem possam realizar-se. Há leis naturais que ele não pode contrariar. Um exemplo típico é o desejo de voar que o homem alimenta desde os primórdios de sua existência. Máquinas estranhas, e até infantis, foram usadas por ele na tentativa de ganhar o espaço. E, observe-se, mesmo depois que ele conseguiu voar de pára-quedas, ultraleve, asa-delta, voa como quando está num avião. Depende de instrumentos, quando a sua vontade continua a de alçar vôo como fazem os pássaros, por si mesmos, batendo as próprias asas.
Já nos explica a Doutrina Espírita, que na nossa atual fase de evolução espiritual, nosso livre-arbítrio pode ser comparado ao do prisioneiro. Pode movimentar-se à vontade dentro da cela, mas estará limitado às quatro paredes. Assim é o livre-arbítrio de homem comum nos planetas como a Terra. Mais do que o livre-arbítrio, o que nos leva ao crescimento espiritual é o determinismo. Por essa lei, somos impulsionados ao progresso, queiramos ou não. Basta viver para progredir. Todo dia aprendemos algo novo. O bandido que usa a inteligência para delinqüir, está igualmente progredindo, porque aumenta o seu conhecimento. Um dia esse homem estará moralizado e o seu conhecimento e as suas atitudes serão canalizadas para o bem. A inteligência é a mesma, na realização do mal ou do bem. O Espiritismo ensina que o espírito não retrograda. Não aceita a metempsicose das doutrinas orientais, que diz que o homem pode reencarnar num animal. Pode estacionar, dizem os Espíritos, mas não perde o que conquistou. No atual estágio em que nos encontramos, diríamos que nem mesmo estacionar conseguimos. A vida nos impulsiona ao conhecimento e mesmo aquele que relute em melhorar-se moral e espiritualmente, cresce em conhecimento e inteligência, à sua própria revelia.
Vemos por vezes contestações a essa afirmativa. Se Emmanuel foi o senador romano Publius Lêntulus, para posteriormente ser o escravo Nestório, temos a impressão que houve uma involução. É preciso compreender, que tal retrocesso, no entanto, foi apenas material, dentro das escalas sociais. O espírito tinha mais conhecimento e estava mais evoluído quando habitou em Nestório do que quando se serviu do corpo do senador romano. Devido às fraquezas cometidas quando tinha poder, o irmão espiritual precisou viver modestamente para reavaliar conceitos e acelerar o aprendizado. Na hierarquia dos homens ficou inferior; na escala espiritual, já estava degraus acima.
O caminho é realmente esse. Primeiro temos que aprender a discernir para depois controlar as emoções e os sentimentos. Uma pessoa boa que não saiba lidar com o seu coração também causa danos. A mãe que impede o filho de enfrentar as dificuldades mais comuns, não o deixa passar pelas necessárias experiências para adquirir conhecimentos próprios, que faz as lições para que o filho não seja reprovado, é uma benfeitora equivocada que está desvirtuando a sua tarefa de genitora, educadora e formadora do caráter do filho.
O filho passa na escola, mas não passa na vida. Se a mãe desencarnar repentinamente, o filho ficará órfão não apenas de mãe, mas, e o que é mais grave, da capacidade de sobrevivência. Ela não o deixou ser ele mesmo, tendo afogado o seu desenvolvimento.
O livre-arbítrio, por tudo o que foi comentado, precisa ser reduzido e o determinismo ser amplo. Com o passar do tempo as posições vão se invertendo e à medida que o homem adquire maior discernimento vai se capacitando a usar o livre-arbítrio de forma mais ampla. Os espíritos superiores gozam de livre-arbítrio quase ilimitado e só dependem do determinismo no respeito às leis naturais. Quanto à vontade de ação, no entanto, são livres para exercê-la quase que por inteiro.
Muitos equívocos são observados em razão da interpretação errada do que seja o livre-arbítrio. Iludido, pensando que tudo pode, o homem pretende usar de todos os direitos, mas se esquece que ele vive coletivamente e os seus direitos não podem invadir os direitos do semelhante. Isto já a partir do lar, indo para as ruas e em qualquer situação onde nos encontremos.
Homens de grande sabedoria confessaram a sua fraqueza diante da vida. Paulo, o maior apóstolo do cristianismo, dizia frase que se tornou antológica: "Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém." Paulo lamentava suas quedas diante de tanto conhecimento que já possuía. E reagia dizendo: "Minhas quedas não são a minha derrota." Fazia como aconselha a letra da canção popular: "Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima". Era homem de grande cultura, conhecia e praticava as leis judaicas e perseguiu Jesus por não lhe compreender as intenções de amor pela humanidade. Pelo seu livre-arbítrio mandou matar Estêvão, quando se viu também abandonado pela noiva, Abigail, e teria feito o mesmo com Ananias, não fora ter cegado por ação de Jesus - espírito -, que o queria como divulgador do seu Evangelho.
O livre-arbítrio só pode ser exercido por inteiro se o autor souber comportar-se diante do semelhante. O livre-arbítrio, mais do que fazer o que se quer ou o que se gosta, consiste em fazer o que se deve. Assim, quando vemos alguém se desviando do caminho, julgando-se com o direito de fazer tudo, procuremos ajudá-lo mostrando que ele pode estar exercendo um direito, mas que esse gozo vai lhe custar muito caro, o que talvez não compense o prazer temporário.
Neste mês de abril, quando no dia 18, "O Livro dos Espíritos" completa 143 anos do lançamento da primeira edição, lembremos que com o Espiritismo nasceu o discernimento e a fé raciocinada. A partir daí, tudo deve ser cuidadosamente examinado e não podemos nos deixar enganar pelo enunciado frio das palavras. Em tudo é preciso examinar as implicações de nossas atitudes.
Engano supor que tudo podemos com base no decantado livre-arbítrio. Nosso livre-arbítrio termina quando começa o livre-arbítrio do outro.
Depois das primitivas experiências nos diferentes reinos da natureza, a partir do momento em que o espírito entra na fase humana, quando começa a ser dotado de razão, além da inteligência e instinto, desabrocha nele a liberdade de ação, o que habitualmente é chamado livre-arbítrio.
Livre-arbítrio parece significar que o homem pode fazer o que quer, pelo simples desejo de fazer, sem precisar de maiores razões ou de dar explicações a quem quer que seja.
Todavia, convém examinarmos que o homem é influenciado pela matéria. E em mundos como o nosso, o apelo material sobre o espírito ainda é bastante acentuado. Por essa razão, além de o livre-arbítrio ser mal conduzido quanto aos objetivos espirituais, as normas do mundo material impedem que certas vontades do homem possam realizar-se. Há leis naturais que ele não pode contrariar. Um exemplo típico é o desejo de voar que o homem alimenta desde os primórdios de sua existência. Máquinas estranhas, e até infantis, foram usadas por ele na tentativa de ganhar o espaço. E, observe-se, mesmo depois que ele conseguiu voar de pára-quedas, ultraleve, asa-delta, voa como quando está num avião. Depende de instrumentos, quando a sua vontade continua a de alçar vôo como fazem os pássaros, por si mesmos, batendo as próprias asas.
Já nos explica a Doutrina Espírita, que na nossa atual fase de evolução espiritual, nosso livre-arbítrio pode ser comparado ao do prisioneiro. Pode movimentar-se à vontade dentro da cela, mas estará limitado às quatro paredes. Assim é o livre-arbítrio de homem comum nos planetas como a Terra. Mais do que o livre-arbítrio, o que nos leva ao crescimento espiritual é o determinismo. Por essa lei, somos impulsionados ao progresso, queiramos ou não. Basta viver para progredir. Todo dia aprendemos algo novo. O bandido que usa a inteligência para delinqüir, está igualmente progredindo, porque aumenta o seu conhecimento. Um dia esse homem estará moralizado e o seu conhecimento e as suas atitudes serão canalizadas para o bem. A inteligência é a mesma, na realização do mal ou do bem. O Espiritismo ensina que o espírito não retrograda. Não aceita a metempsicose das doutrinas orientais, que diz que o homem pode reencarnar num animal. Pode estacionar, dizem os Espíritos, mas não perde o que conquistou. No atual estágio em que nos encontramos, diríamos que nem mesmo estacionar conseguimos. A vida nos impulsiona ao conhecimento e mesmo aquele que relute em melhorar-se moral e espiritualmente, cresce em conhecimento e inteligência, à sua própria revelia.
Vemos por vezes contestações a essa afirmativa. Se Emmanuel foi o senador romano Publius Lêntulus, para posteriormente ser o escravo Nestório, temos a impressão que houve uma involução. É preciso compreender, que tal retrocesso, no entanto, foi apenas material, dentro das escalas sociais. O espírito tinha mais conhecimento e estava mais evoluído quando habitou em Nestório do que quando se serviu do corpo do senador romano. Devido às fraquezas cometidas quando tinha poder, o irmão espiritual precisou viver modestamente para reavaliar conceitos e acelerar o aprendizado. Na hierarquia dos homens ficou inferior; na escala espiritual, já estava degraus acima.
O caminho é realmente esse. Primeiro temos que aprender a discernir para depois controlar as emoções e os sentimentos. Uma pessoa boa que não saiba lidar com o seu coração também causa danos. A mãe que impede o filho de enfrentar as dificuldades mais comuns, não o deixa passar pelas necessárias experiências para adquirir conhecimentos próprios, que faz as lições para que o filho não seja reprovado, é uma benfeitora equivocada que está desvirtuando a sua tarefa de genitora, educadora e formadora do caráter do filho.
O filho passa na escola, mas não passa na vida. Se a mãe desencarnar repentinamente, o filho ficará órfão não apenas de mãe, mas, e o que é mais grave, da capacidade de sobrevivência. Ela não o deixou ser ele mesmo, tendo afogado o seu desenvolvimento.
O livre-arbítrio, por tudo o que foi comentado, precisa ser reduzido e o determinismo ser amplo. Com o passar do tempo as posições vão se invertendo e à medida que o homem adquire maior discernimento vai se capacitando a usar o livre-arbítrio de forma mais ampla. Os espíritos superiores gozam de livre-arbítrio quase ilimitado e só dependem do determinismo no respeito às leis naturais. Quanto à vontade de ação, no entanto, são livres para exercê-la quase que por inteiro.
Muitos equívocos são observados em razão da interpretação errada do que seja o livre-arbítrio. Iludido, pensando que tudo pode, o homem pretende usar de todos os direitos, mas se esquece que ele vive coletivamente e os seus direitos não podem invadir os direitos do semelhante. Isto já a partir do lar, indo para as ruas e em qualquer situação onde nos encontremos.
Homens de grande sabedoria confessaram a sua fraqueza diante da vida. Paulo, o maior apóstolo do cristianismo, dizia frase que se tornou antológica: "Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém." Paulo lamentava suas quedas diante de tanto conhecimento que já possuía. E reagia dizendo: "Minhas quedas não são a minha derrota." Fazia como aconselha a letra da canção popular: "Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima". Era homem de grande cultura, conhecia e praticava as leis judaicas e perseguiu Jesus por não lhe compreender as intenções de amor pela humanidade. Pelo seu livre-arbítrio mandou matar Estêvão, quando se viu também abandonado pela noiva, Abigail, e teria feito o mesmo com Ananias, não fora ter cegado por ação de Jesus - espírito -, que o queria como divulgador do seu Evangelho.
O livre-arbítrio só pode ser exercido por inteiro se o autor souber comportar-se diante do semelhante. O livre-arbítrio, mais do que fazer o que se quer ou o que se gosta, consiste em fazer o que se deve. Assim, quando vemos alguém se desviando do caminho, julgando-se com o direito de fazer tudo, procuremos ajudá-lo mostrando que ele pode estar exercendo um direito, mas que esse gozo vai lhe custar muito caro, o que talvez não compense o prazer temporário.
Neste mês de abril, quando no dia 18, "O Livro dos Espíritos" completa 143 anos do lançamento da primeira edição, lembremos que com o Espiritismo nasceu o discernimento e a fé raciocinada. A partir daí, tudo deve ser cuidadosamente examinado e não podemos nos deixar enganar pelo enunciado frio das palavras. Em tudo é preciso examinar as implicações de nossas atitudes.
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