Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

MARIA MADALENA, A INJUSTIÇADA



Maria Madalena é uma personagem que sempre gerou polêmica nos meios religiosos, muito mais em função da falta de atenção aos relatos do Evangelho e também por causa da campanha de difamação levada a efeito contra ela a partir do século VI. Precisamos ter o cuidado de checar as informações antes de sairmos por aí repetindo o que determinado orador disse ou o que um certo autor escreveu. O Espiritismo é uma doutrina que convida os seus adeptos ao raciocínio, ao estudo, à pesquisa e à utilização do bom senso. Portanto, não podemos transformar pontos de vista ou opiniões pessoais em verdades incontestáveis. Assim sendo, o que nos propomos neste trabalho despretensioso é fazer justiça a esta personagem, através de um estudo um pouco mais aprofundado da Boa Nova de Jesus.
Sabemos que durante séculos a Igreja Católica passou para seus fiéis a imagem de Maria Madalena como sendo a prostituta arrependida, conceito este que também vigora nos ambientes protestantes. Ao contrário do que dizem os teólogos, muitos exegetas, historiadores e pesquisadores da Bíblia dizem que Madalena foi um dos principais discípulos de Jesus. Talvez aí esteja o verdadeiro motivo da tentativa de difamação: a Igreja jamais aceitaria uma mulher com cargo de destaque na sua hierarquia eclesiástica.P
ara embasar nossa opinião recorremos a vários trechos do Evangelho. Antes é necessário um esclarecimento: Mateus e João foram testemunhas oculares dos fatos vivenciados pelo Mestre. Segundo informações do Espírito Emmanuel, no livro Paulo e Estêvão, psicografado por Francisco Cândido Xavier, Marcos, cujo primeiro nome é João, era sobrinho do discípulo Barnabé e registrou as memórias de Simão Pedro. Já Lucas, que era médico, amigo e fiel escudeiro do apóstolo Paulo, elaborou seus registros a partir das lembranças de Maria de Nazaré e das histórias que ouviu.
Mateus e Marcos citam Maria Madalena, pela primeira vez, durante o processo de crucificação do Mestre e na ressurreição de Jesus:
Mateus 27:55-61 - Também estavam ali, olhando de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galiléia para o ouvir; entre as quais se achavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu. Ao cair da tarde, veio um homem rico de Arimatéia, chamado José, que também era discípulo de Jesus. Esse foi a Pilatos e pediu o corpo de Jesus. Então Pilatos mandou que lhe fosse entregue. E José, tomando o corpo, envolveu-o num pano limpo, de linho, e depositou-o no seu sepulcro novo, que havia aberto em rocha; e, rodando uma grande pedra para a porta do sepulcro, retirou-se. Mas achavam-se ali Maria Madalena e a outra Maria, sentadas defronte do sepulcro.
Mateus 28:1 - No fim do sábado, quando já despontava o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro.
Marcos 15:40-47 - Também ali estavam algumas mulheres olhando de longe, entre elas Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago o Menor e de José, e Salomé; as quais o seguiam e o serviam quando ele estava na Galiléia; e muitas outras que tinham subido com ele a Jerusalém. Ao cair da tarde, como era o dia da preparação, isto é, a véspera do sábado, José de Arimatéia, ilustre membro do sinédrio, que também esperava o reino de Deus, cobrando ânimo foi Pilatos e pediu o corpo de Jesus. Admirou-se Pilatos de que já tivesse morrido; e chamando o centurião, perguntou-lhe se, de fato, havia morrido. E, depois que o soube do centurião, cedeu o cadáver a José; o qual, tendo comprado um pano de linho, tirou da cruz o corpo, envolveu-o no pano e o depositou num sepulcro aberto em rocha; e rolou uma pedra para a porta do sepulcro. E Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde fora posto.
Marcos narra que, depois da ressurreição, o Mestre apareceu primeiro à Maria Madalena, “da qual tinha expulsado sete demônios”.
Marcos 16:1-11 - Ora, passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo. E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro muito cedo, ao levantar do sol. E diziam umas às outras: Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro? Mas, levantando os olhos, notaram que a pedra, que era muito grande, já estava revolvida; e entrando no sepulcro, viram um moço sentado à direita, vestido de alvo manto; e ficaram atemorizadas. Ele, porém, lhes disse: Não vos atemorizeis; buscais a Jesus, o nazareno, que foi crucificado; ele ressurgiu; não está aqui; eis o lugar onde o puseram. Mas ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro, que ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis, como ele vos disse. E, saindo elas, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas de medo e assombro; e não disseram nada a ninguém, porque temiam. Ora, havendo Jesus ressurgido cedo no primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios. Foi ela anunciá-lo aos que haviam andado com ele, os quais estavam tristes e chorando; e ouvindo eles que vivia, e que tinha sido visto por ela, não o creram.
Conforme pode ser verificado abaixo, o evangelista Lucas somente apresenta Maria Madalena no capítulo 8 de seu Evangelho, citando-a como uma ex-obsidiada, da qual Jesus havia expulsado sete demônios (espíritos obsessores), conforme transcrito acima do Evangelho Segundo Marcos. Muitos autores dizem que Madalena era a prostituta que aparece no capítulo 7 do Evangelho Segundo Lucas. Como isso pode ser possível, se o próprio Lucas só a apresenta no capítulo seguinte???
Lucas 7:36-50 - Um dos fariseus convidou-o para comer com ele; e entrando em casa do fariseu, reclinou-se à mesa. E eis que uma mulher pecadora que havia na cidade, quando soube que ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro com bálsamo; e estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas e os enxugava com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés e ungia-os com o bálsamo. Mas, ao ver isso, o fariseu que o convidara falava consigo, dizendo: Se este homem fosse profeta, saberia quem e de que qualidade é essa mulher que o toca, pois é uma pecadora. E respondendo Jesus, disse-lhe: Simão, tenho uma coisa a dizer-te. Respondeu ele: Dize-a, Mestre. Certo credor tinha dois devedores; um lhe devia quinhentos denários, e outro cinqüenta. Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos. Qual deles, pois, o amará mais? Respondeu Simão: Suponho que é aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe Jesus: Julgaste bem. E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta com suas lágrimas os regou e com seus cabelos os enxugou. Não me deste ósculo; ela, porém, desde que entrei, não tem cessado de beijar-me os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo; mas esta com bálsamo ungiu-me os pés. Por isso te digo: Perdoados lhe são os pecados, que são muitos; porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama. E disse a ela: Perdoados são os teus pecados. Mas os que estavam com ele à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este que até perdoa pecados? Jesus, porém, disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz.
Lucas 8:1-2 - Logo depois disso, andava Jesus de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o Evangelho do reino de Deus; e iam com ele os doze, bem como algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios. Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Susana, e muitas outras que os serviam com os seus bens.
Lucas não cita que Jesus, após o seu desencarne, tenha aparecido primeiro à Madalena, só menciona que ela estava presente no sepulcro:
Lucas 24:1-11 - Mas já no primeiro dia da semana, bem de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado. E acharam a pedra revolvida do sepulcro. Entrando, porém, não acharam o corpo do Senhor Jesus. E, estando elas perplexas a esse respeito, eis que lhes apareceram dois varões em vestes resplandecentes; e ficando elas atemorizadas e abaixando o rosto para o chão, eles lhes disseram: Por que buscais entre os mortos aquele que vive? Ele não está aqui, mas ressurgiu. Lembrai-vos de como vos falou, estando ainda na Galiléia, dizendo: Importa que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressurja. Lembraram-se, então, das suas palavras; e, voltando do sepulcro, anunciaram todas estas coisas aos onze e a todos os demais. E eram Maria Madalena, e Joana, e Maria, mãe de Tiago; também as outras que estavam com elas relataram estas coisas aos apóstolos. E pareceram-lhes como um delírio as palavras das mulheres e não lhes deram crédito.
João também relata que Maria Madalena estava aos pés da cruz:
João 19:25 - Estavam em pé, junto à cruz de Jesus, sua mãe, e a irmã de sua mãe, e Maria, mulher de Clôpas, e Maria Madalena.
No capítulo seguinte, João relata em pormenores a aparição de Jesus à Maria Madalena:
João 20:1-18 - No primeiro dia da semana Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu que a pedra fora removida do sepulcro. Correu, pois, e foi ter com Simão Pedro, e o outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: Tiraram do sepulcro o Senhor, e não sabemos onde o puseram. Saíram então Pedro e o outro discípulo e foram ao sepulcro. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo correu mais ligeiro do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro; e, abaixando-se viu os panos de linho ali deixados, todavia não entrou. Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro e viu os panos de linho ali deixados, e que o lenço, que estivera sobre a cabeça de Jesus, não estava com os panos, mas enrolado num lugar à parte. Então entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu e creu. Porque ainda não entendiam a escritura, que era necessário que ele ressurgisse dentre os mortos. Tornaram, pois, os discípulos para casa. Maria, porém, estava em pé, diante do sepulcro, a chorar. Enquanto chorava, abaixou-se a olhar para dentro do sepulcro, e viu dois anjos vestidos de branco sentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. E perguntaram-lhe eles: Mulher, por que choras? Respondeu-lhes: Porque tiraram o meu Senhor, e não sei onde o puseram. Ao dizer isso, voltou-se para trás, e viu a Jesus ali em pé, mas não sabia que era Jesus. Perguntou-lhe Jesus: Mulher, por que choras? A quem procuras? Ela, julgando que fosse o jardineiro, respondeu-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei. Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, virando-se, disse-lhe em hebraico: Raboni!-que quer dizer, Mestre. Disse-lhe Jesus: Deixa de me tocar, porque ainda não subi ao Pai; mas vai a meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. E foi Maria Madalena anunciar aos discípulos: Vi o Senhor!-e que ele lhe dissera estas coisas.
Como fica claro perceber, o centro da polêmica é a passagem registrada em Lucas 7:36-50. O texto narra que em Cafarnaum, na residência de um fariseu, uma mulher pecadora unge Jesus com alabastro e bálsamo, lava-lhe os pés com as próprias lágrimas e os enxuga com os próprios cabelos. A mulher não é identificada pelo evangelista. Apenas é citada como uma pecadora, o que não quer dizer que fosse uma prostituta e nem que era Madalena.
Entretanto, João, testemunha ocular dos fatos, diz que quem ungiu Jesus com bálsamo e nardo puro, tendo-lhe enxugado os pés com os próprios cabelos foi Maria, irmã de Lázaro e não uma “pecadora” conforme citado por Lucas. Além disso, pelo relato de João, o fato teria acontecido em Betânia, na casa de Lázaro, Marta e Maria, e não em Cafarnaum, na casa de um fariseu, conforme narrado por Lucas. Temos duas hipóteses: João ou Lucas está errado, ou então temos dois fatos distintos, mas que nenhum deles evidencia a suposta condição de prostituta de Maria Madalena.
O interessante é que pelo relato de João no capítulo 12 de seu Evangelho, vemos Jesus cear na casa de Lázaro, Maria e Marta, e neste episódio Maria teria novamente ungido Jesus, desta vez com nardo puro, e enxugado seus pés novamente. Se levarmos em conta os capítulos 11 e 12 de João, temos três hipóteses: o capítulo 12 foi interpolado, ou seja, foi colocando à frente do capítulo 11, quando o correto seria antes, ou então Maria, irmã de Lázaro, efetuou o mesmo gesto em Jesus em duas ocasiões distintas, ou ainda, nesta segunda ocasião pode ser que a Maria referida por João seja mesmo Madalena. Mas note-se que não há nenhuma referência à prostituta.
Além disso, particularmente não acreditamos que a Maria mencionada em João 12:1-8 seja Madalena, por uma questão muito simples. Pelo contexto observa-se claramente que o evangelista demonstrava o que fazia cada um dos três irmãos que hospedavam o Mestre: Marta servia a ceia, Lázaro estava à mesa com Jesus e Maria Lhe ungia os pés.
Também entendemos que a prostituta mencionada em Lucas 7:36-50 não poderia ser Maria Madalena. Na passagem, o evangelista informa que a mulher pecadora vivia naquela cidade, Cafarnaum, e até onde sabemos Madalena era de uma cidade da Galiléia chamada Magdala, sendo que após seu encontro com Jesus, Maria passou a segui-lo por toda a parte.
Outro detalhe: no relato de Lucas vemos o fariseu anfitrião duvidar, em pensamento, dos poderes de Jesus. Em João isso não acontece, mesmo porque o cenário da passagem é diferente. Neste é Judas Iscariotes quem reclama do gesto da mulher, dizendo que seria melhor que o bálsamo tivesse sido vendido.
João 11:1-2 - Ora, estava enfermo um homem chamado Lázaro, de Betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta. E Maria, cujo irmão Lázaro se achava enfermo, era a mesma que ungiu o Senhor com bálsamo, e lhe enxugou os pés com os seus cabelos.
João 12:1-8 - Veio, pois, Jesus seis dias antes da páscoa, a Betânia, onde estava Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos. Deram-lhe ali uma ceia; Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Então Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus, e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do bálsamo. Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de trair disse: Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres? Ora, ele disse isto, não porque tivesse cuidado dos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, subtraía o que nela se lançava. Respondeu, pois Jesus: Deixa-a; para o dia da minha preparação para a sepultura o guardou; porque os pobres sempre os tendes convosco; mas a mim nem sempre me tendes.
No livro Sabedoria do Evangelho, de autoria de Carlos Torres Pastorino, um dos maiores estudiosos do Novo Testamento, encontramos os seguintes apontamentos sobre essa personagem singular do Cristianismo:
Sabedoria do Evangelho - volume III - página 23: "A primeira é Maria Madalena, cujo cognome provém de sua aldeia natal (ou de permanência), que é Magdala (hoje El-Medjdel), na margem ocidental do lago, perto de Tiberíades. Dessa, o Evangelista esclarece que havia sido libertada de sete espíritos desencarnados (daímôn). Este simples fato não significa que ela fosse mulher de vida pública: pode ter sido apenas uma perseguida pelos inimigos do astral."
Sabedoria do Evangelho - volume VIII - página 153: "Maria, denominada a Madalena, do nome de sua aldeia natal Magdala (atual El-Medjdel) no lago de Tiberíades, a quem Jesus dedicava tão grande amor que a brindou com sua primeira aparição após levantar-se do túmulo."
Sabedoria do Evangelho - volume VIII - página 155: "Fora do círculo familiar da mãe, das duas tias e da irmã de Jesus (Salomé) e do sobrinho João, a única não parenta era Madalena, a grande apaixonada pelo Mestre, e que, uma vez tocada jamais o abandonara."
Nos alenta saber que grandes estudiosos das questões bíblicas chegaram às mesmas conclusões. Esta é também a opinião do teósofo e biblista José Reis Chaves: “Respeito quem pensa diferente de mim. O assunto é polêmico. Até o Papa São Gregório Magno fez confusão sobre esse assunto. Na minha opinião, Maria Madalena não é essa pecadora, como a pecadora ameaçada de apedrejamento e defendida por Jesus não tem nada a ver com essa pecadora do texto citado de Lucas nem com Maria Madalena. Trata-se de três Marias diferentes. Essa é também a opinião do Pastorino e outros.”
Fizemos uma pesquisa em várias obras espíritas e selecionamos o pensamento de alguns autores encarnados e desencarnados sobre Madalena:
•    “Dentre os vultos da Boa Nova, ninguém fez tanta violência a si mesmo, para seguir o Salvador, como a inesquecível obsidiada de Magdala. Nem mesmo“morta” nas sensações que operam a paralisia da alma; entretanto, bastou o en¬contro com o Cristo para abandonar tudo e seguir-lhe os passos, fiel até ao fim, nos atos de negação de si própria e na firme resolução de tomar a cruz que lhe competia no calvário redentor de sua existência angustiosa. É compreensível que muitos estudantes investi¬guem a razão pela qual não apareceu o Mestre, pri¬meiramente, a Pedro ou a João, à sua Mãe ou aos amigos. Todavia, é igualmente razoável reconhecer¬mos que, com o seu gesto inesquecivel, Jesus rati¬ficou a lição de que a sua doutrina será, para todos os aprendizes e seguidores, o código de ouro das vidas transformadas para a glória do bem. E ninguém, como Maria de Magdala, houvera transformado a sua, à luz do Evangelho redentor.” (Francisco Cândido Xavier / Emmanuel – Caminho, Verdade e Vida – capítulo 92 – Madalena).
•    “Para muitos, Maria de Magdala era a mulher obsidiada e inconveniente; mas para ele surgiu como sendo um formoso coração feminino, atribulado por indizíveis angústias, que, compreendido e amparado, lhe espalharia no mundo o sol da ressurreição.” (Francisco Cândido Xavier / Emmanuel – Palavras de Vida Eterna – capítulo 35 – Observemos Amando).
•    “Para muita gente, Maria de Magdala era mulher sem qualquer valor, pela condição de obsidiada em que se mostrava na vida pública; no entanto, Ele via Deus naquele coração feminino ralado de sofrimento e conver¬teu-a em mensageira da celeste ressurreição.” (Francisco Cândido Xavier / Emmanuel – Religião dos Espíritos – capítulo 11 – Pureza).
•    “Entre as que haviam descido aos vales da pertur¬bação e da sombra, encontramos em Madalena o mais alto testemunho de soerguimento moral, das trevas para a luz.” (Francisco Cândido Xavier / Emmanuel – Religião dos Espíritos – capítulo 52 – A Mulher Ante o Cristo).
•    “Maria de Magdala, tresmalhada na obsessão, recupe¬ra o próprio equilíbrio e, apagando-se na humildade, converte-se em mensageira de esperança e ressurreição.” (Francisco Cândido Xavier / Emmanuel – Seara dos Médiuns – capítulo 4 – Ante a Mediunidade).
•    “Desejando exalçar a missão da mulher, não vacila em estender mãos amigas à Madalena, reconhecidamente dominada por sete gênios sombrios.” (Francisco Cândido Xavier / Emmanuel – Irmão – capítulo 16 – Perante o Mundo).
•    “(..) que restauraste o equilíbrio de Madalena (...).” (Francisco Cândido Xavier / Emmanuel – Justiça Divina – capítulo: Oração na Festa das Mães).
•    “(...) usa a bondade fraternal para com Madalena, a obsidiada,(...).” (Francisco Cândido Xavier / Emmanuel – Roteiro – capítulo 15 – Evangelho e Individualidade).
•    “Maria de Magdala, embora os equívocos sucessi¬vos, após conhecer Jesus passou a cultivar a pureza e tornou-se um símbolo da vitória da razão sobre a paixão.” (Divaldo Pereira Franco / Joanna De Ângelis – Convites da Vida – capítulo 44 – Convite à Pureza).
•    “(...) ou a obsidia¬da de Magdala que rompeu em definitivo a noite interior para que a Sua luz a incendiasse por dentro, haurindo n’Ele o combustível que a manteria em claridade con¬tínua até a vitória final.” (Divaldo Pereira Franco / Amélia Rodrigues – Luz do Mundo – capítulo 1 – Boa Nova).
•    “(...) Maria Ma¬dalena que Jesus livrou de sete irmãos inferiores (...)”. (Eliseu Rigonatti – O Evangelho da Meninada – capítulo 30 – As mulheres que serviam Jesus com os seus bens).
•    “Não condenou Madalena, nem a mulher que lavou seus pés com as suas lágrimas. (...) Quem era a mulher adúltera? Alguns pesquisadores dizem que era Maria de Magdala. Outros que era a mulher que lavou os pés de Jesus com as suas lágrimas. Outros que Maria de Betânia, irmã de Marta e Lázaro. Somos de opinião que não era nenhuma delas, mas uma outra mulher. Como ficou consagrado que Madalena era prostituta, embora N. A. Wilson, no livro “Jesus – Uma Biografia”, afirme que não há provas de que Madalena fosse mulher de vida irregular – e a mulher do vaso de alabastro fosse comprovadamente prostituta – elas não poderiam ser a mulher adúltera, pois mulheres livres não adulteravam, nem as solteiras, mas, somente as noivas e as casadas, conforme já vimos anteriormente.” (Amílcar Del Chiaro Filho – Estudo Dinâmico do Evangelho – segunda edição).
•    “Maria Madalena, pela sua predisposição em mudar a direção de sua vida, foi libertada do jugo de uma legião de espíritos obsessores.” (Paulo Alves de Godoy – A Verdade Vos Libertará – publicado no Jornal O Clarim em 15/06/1971).
Ainda em busca da Verdade, pesquisamos também os chamados Evangelhos Apócrifos, os quais para as Igrejas Católica e Protestante não são de “inspiração divina”. Neles encontramos trechos interessantes, como os dois abaixo:
Evangelho de Felipe - A companheira de Cristo é Maria Madalena. O Senhor amava Maria mais do que todos os discípulos e a beijava freqüentemente na boca. Os discípulos viram-no amando Maria e lhe disseram: Por que a amas mais que a todos nós? O Salvador respondeu dizendo: Como é possível que eu não vos ame tanto quanto a ela? (...) Eram três que acompanhavam o Senhor: sua mãe Maria, a irmã dela, e Madalena, que é chamada de sua companheira. Com efeito, era Maria sua irmã, sua mãe e a sua esposa".
Introdução do Evangelho de Madalena - Depois de ter dito isso, Maria Madalena se calou, pois até aqui o Salvador lhe tinha falado. Mas André respondeu e disse aos irmãos: Dizei o que tendes para dizer sobre o que ela falou. Eu, de minha parte, não acredito que o Salvador tenha dito isso. Pois esses ensinamentos carregam idéias estranhas. Pedro respondeu e falou sobre as mesmas coisas. Ele os inquiriu sobre o Salvador: Será que ele realmente conversou em particular com uma mulher e não abertamente conosco? Devemos mudar de opinião e ouvirmos ela? Ele a preferiu a nós? Então Maria Madalena se lamentou e disse a Pedro: Pedro, meu irmão, o que estás pensando? Achas que inventei tudo isso no mau coração ou que estou mentindo sobre o Salvador? Levi respondeu a Pedro: Pedro, sempre fostes exaltado. Agora te vejo competindo com uma mulher como adversário. Mas, se o Salvador a fez merecedora, quem és tu para rejeitá-la? Certamente o Salvador a conhece bem. Daí a ter amado mais do que a nós. É antes, o caso de nos envergonharmos e assumirmos o homem perfeito e nos separaremos, como Ele nos mandou, e pregarmos o Evangelho, não criando nenhuma regra ou lei, além das que o Salvador nos legou. Depois que Levi disse essas palavras, eles começaram a sair para anunciar e pregar.
No início do Cristianismo a importância de Maria Madalena era reconhecida pela Igreja. A Igreja Oriental dizia que Madalena era "igual a um apóstolo" e a Igreja Ocidental declarou que ela era o "apóstolo dos apóstolos". Porém, foi na Igreja Latina, em meados dos séculos VI e VII, que alguns padres e escritores eclesiásticos começaram a difamação, ligando Madalena à figura da prostituta arrependida. A hierarquia machista da Igreja não poderia, de forma alguma, admitir que uma mulher fosse a personagem de maior destaque no colégio apostólico de Jesus. A repercussão foi tão grande que até o papa Gregório fez a maior confusão neste assunto. Ele considerou que a adúltera salva pelo Mestre de um apedrejamento, Maria irmã de Lázaro e Maria Madalena fossem a mesma pessoa e, como se não bastasse, divulgou como sendo verdadeira a condição de Madalena como prostituta.
Face ao exposto e por tudo que pesquisamos, chegamos às seguintes conclusões:
1.    Maria Madalena era uma obsidiada da qual Jesus expeliu os espíritos infelizes que a atormentavam. A partir de então ela seguiu o Mestre em todos os seus passos, até mesmo durante o drama do calvário. Jamais o abandonou, ao contrário de vários outros discípulos, inclusive apóstolos. Madalena assistiu a crucificação de Jesus na sexta e no domingo seguinte foi ao túmulo. Foi a primeira pessoa para quem Jesus apareceu, em sua gloriosa ressurreição espiritual. Depois deste episódio, Madalena não é mais citada nem em Atos dos Apóstolos e nem em nenhuma das epístolas. Estes fatos são incontestáveis, pois estão rigorosamente de acordo com os Evangelhos.
2.    Há duas versões: a primeira diz que ela viveu seus últimos dias em Éfeso, depois de ter cuidado por muitos anos de leprosos nas redondezas de Jerusalém. Teria desencarnado nos braços de Maria, mãe de Jesus. Esta é a versão aceita pela maioria das correntes cristãs. Uma outra versão, totalmente rejeitada pelas Igrejas Católica e Protestante, diz que ela, Lázaro, José de Arimatéia e outros foram para Marselha, no sul da França, quando os cristãos começaram a ser perseguidos violentamente em toda a Judéia. Madalena estaria grávida de Jesus, sendo que seus descendentes deram origem aos Merovíngios, que governaram a França por muitos anos. Na cidade de Marselha, em sua homenagem, foi construída a Igreja de Santa Maria Madalena.
3.    Nem os Evangelhos canônicos e nem os apócrifos, em momento algum, sequer insinuam que Maria Madalena era uma prostituta ou pecadora pública, mas todos são unânimes em identificá-la apenas como uma obsidiada. Se nem mesmo os evangelistas escreveram que Madalena era prostituta, qualquer outra informação, mesmo de caráter mediúnico, deve ser analisada com muito critério e bom senso.
4.    Maria Madalena era um dos principais apóstolos de Jesus, se é que não era o principal. Se, depois do Mestre, ela não fosse a figura mais importante daquele grupo, Jesus não teria aparecido a ela em primeiro lugar. Ele teria aparecido para Pedro, para João, o mais amado, para Tiago, que foi o primeiro líder da Casa do Caminho ou então para sua querida mãe. Mas não, o Mestre se mostrou primeiramente àquela mulher corajosa e amorosa, que melhor entendia as Suas palavras e que, sem dúvida alguma, representa o símbolo maior daqueles que aprendem com Jesus e colocam Seus ensinamentos em prática.
Queridos amigos, precisamos olhar para Maria Madalena com outros olhos, com outra concepção. Ela não é mais a prostituta arrependida que queriam que víssemos nela. Não! Ela é apóstola do Cristo! É esta a verdadeira posição desta mulher de qualidades excepcionais, a que mais encarnou os ensinamentos de Jesus, a sublime injustiçada a qual esperamos ter contribuído para que sua verdadeira imagem resplandeça junto aos corações sinceros e amantes da Verdade.
Valdir Pedrosa – Dezembro / 2008

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