IDÉIAS PRINCIPAIS
A providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Ele está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às coisas mais mínimas. É nisto que consiste a ação providencial.(...)
(...) Para estender a sua solicitude a todas as criaturas, não precisa Deus lançar o olhar do Alto da imensidade. As nossas preces, para que Ele as ouça, não precisam transpor o espaço, nem ser ditas com voz retumbante, pois que, estando de contínuo ao nosso lado, os nossos pensamentos repercutem nele. Os nossos pensamentos são como os sons de um sino, que fazem vibrar as moléculas do ar ambiente.
A Providência Divina
Providência é, neste mundo, tudo o que se faz dispondo as coisas de modo que se realizem objetivos de ordem e harmonia, visando o bem e a felicidade das criaturas, com a plena satisfação das suas reais necessidades, sejam físicas ou espirituais.
Deus, em relação às suas criaturas, é a própria Providência, na sua mais alta expressão, infinitamente acima de todas as possibilidades humanas. Manifesta-se a Providência Divina em todas as coisas, está iminente no Universo e se exerce através de leis admiráveis e sábias. Tudo foi disposto pelo amor do Pai, soberanamente bom e justo, para o bem de seus filhos, desde as mais elementares providências para a manutenção da vida orgânica e a sua transmissão, garantindo a perpetuação da espécie, até a dispensam da faculdade superior do livre-arbítrio, que dá ao homem o mérito da conquista consciente da felicidade, pela prática voluntária do bem e a livre busca da verdade. Deus tudo fez e faz a bem de suas criaturas. Imprimiu-lhes na consciência as leis morais de trabalho, reprodução, conservação e destruição - esta não abusiva, mas equilibrada; como também a lei de sociedade, obedecendo à qual devem organizar-se em famílias ou em comunidades sociais, em cujo seio vão cumprir deveres, ligados todos àquelas leis morais e ainda às de progresso, igualdade e liberdade, em seu justo e mais elevado sentido e, sobretudo à lei de justiça, amor e caridade. Propicia Deus, assim, ao homem construir a própria felicidade pela livre observância dessas leis e o cumprimento dos correspondentes deveres, e ele só é infeliz quando os descumpre ou com elas se desarmoniza. Faz o homem tudo o que quer, utilizando-se do livre-arbítrio que a Divina Providência lhe oferece para construir ativa e meritoriamente o seu destino; mas é também plenamente responsável pelos atos praticados, devendo arcar com todas as conseqüências deles decorrentes, sejam estas felizes ou infelizes. Parece, então, que se opõem a Providência Divina e o livre-arbítrio humano. Mas não! Deus concede o livre-arbítrio ao homem para que ele acrescente à sua felicidade o mérito da iniciativa e espontaneidade, no trabalho, na busca do próprio bem, na livre escolha do caminho reto para conseguir. A tudo Deus realmente provê, mas não quer inativa a sua criatura, recebendo passivamente a graça divina, e sim que a busque por si mesma, conquistando através de perseverantes esforços a felicidade e o progresso. "(...) Pelo uso do seu livre-arbítrio, a alma fixa o próprio destino, prepara as suas alegrias ou dores. Jamais, porém, no curso de sua marcha - na provação amargurada ou no seio da luta ardente das paixões - , lhe será negado o socorro divino. Nunca deve esmorecer, pois, por mais indigna que se julgue; desde que em si desperta a vontade de voltar ao bom caminho, à estrada sagrada, a Providência dar-lhe-á auxilio e proteção.
A Providência é o espírito superior, é o anjo velando sobre o infortúnio, é o consolador invisível, cujas inspirações reaquecem o coração gelado pelo desespero, cujos fluidos vivificantes sustentam o viajor prostrado pela fadiga; é o farol acesso no meio da noite, para a salvação dos que erram sobre o mar tempestuoso da vida. A Providência é, ainda, principalmente, o amor divino derramando-se a flux sobre suas criaturas. Que solicitude, que previdência nesse amor! (...)"
A alma é criada para a felicidade, mas para poder apreciar essa felicidade, para conhecer-lhe o justo valor, deve conquistá-la por si própria e, para isso, precisa desenvolver as potências encerradas em seu íntimo. Sua liberdade de ação e sua responsabilidade aumentam com a própria elevação, porque, quanto mais se esclarece, mais pode e deve conformar o exercício de suas forças pessoais com as leis que regem o Universo.
A liberdade do ser se exerce, portanto, dentro de um círculo limitado: de um lado, pelas exigências da lei natural, que não pode sofrer alteração alguma e mesmo nenhum desarranjo na ordem do mundo; de outro, por seu próprio passado, cujas conseqüências lhes refluem através dos tempos, até à completa reparação. Em caso algum o exercício da liberdade humana pode obstar à execução dos planos divinos: do contrário, a ordem das coisas seria a cada instante perturbada. Acima de nossas percepções limitadas e variáveis, a ordem imutável do Universo persegue e mantém-se. Quase sempre julgamos um mal aquilo que para nós é o verdadeiro bem. Se a ordem natural das coisas tivesse de amoldar-se aos nossos desejos, que horríveis alterações daí não resultariam?
O primeiro uso que o homem fizesse da liberdade absoluta seria para afastar de si as causas de sofrimento e para se assegurar, desde logo, uma vida de felicidade. Ora, se há males que a inteligência humana tem o dever de conjurar, de destruir - por exemplo, os que são provenientes da condição terrestre - , outros há, inerentes à nossa natureza moral, que somente dor e compressão podem vencer; tais são os vícios. Nestes casos, torna-se a dor uma escola, ou, antes, um remédio indispensável: as provas sofridas não são mais que distribuição eqüitativa da justiça infalível.
Mas a Providência Divina, em relação à humanidade terrestre, ainda se manifestou quando Deus nos confiou a Jesus, como discípulos a um Mestre e como ovelhas a um pastor. Com que solicitude e paciência infinita Ele nos vem, desde então, ensinando e conduzindo, através se séculos e milênios! Não estamos em momento algum desamparados ou à nossa própria sorte abandonados.
Divina Providência, que nos acompanhas através de vidas sucessivas, objetivando o nosso progresso e a nossa ascensão, mesmo quando nos fazes sofrer - pois, se por nossa culpa e o mau exercício do livre-arbítrio, estivermos, de fato sofrendo, por força da Lei, as conseqüências dos nossos desmandos, pela própria Lei seremos devolvidos à paz e à felicidade, beneficiados pela dor redentora, enriquecidos de experiência e de sabedoria - , desde o momento em que te reconhecermos e nos conscientizarmos da tua imanência numa Lei sábia e soberana, que estabelece tudo para o nosso bem, louvamos Àquele de quem emanas, na imensidão da Sua Justiça e do Seu amor!
Bibliografia: Estudos Sistematizados da Doutrina Espírita - FEB - Programa I - Edição 1996
XAVIER, Francisco Cândido. In: Fonte Viva. Ditado pelo Espírito Emmanuel.
20 ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1995, lição 139, p. 312.
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