ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, Minas Gerais (Brasil)
Verdadeira caridade
“A Lei de Amor extingue as misérias sociais.” - Lázaro
A cena foi constrangedora... Compungiu-nos o coração ver aquele jovem de apenas vinte e dois anos ser conduzido pela polícia, com as mãos algemadas para trás, causando tumulto e curiosidade dentro da agência bancária... Aquelas mãos que poderiam estar sendo utilizadas para a semeadura do bem ou compulsando as folhas de um livro nobre estavam imobilizadas como medida preventiva contra a fuga.
Chegam-nos, então, à mente, as palavras registradas em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XI, item 4: “Caridade para com os criminosos”.
Os comentários se atropelaram dentro do nervosismo gerado pelo triste acontecimento: “Tomara que ele tome umas boas borrachadas”; “ladrão devia ter as mãos cortadas”; “não tenho pena de ladrão” etc. Tais eram as palavras de ordem. Raros os que se abstiveram de comentários desairosos...
As criaturas estão realmente ainda muito distantes de ver e sentir como Jesus: além das aparências.
Imaginamos, então, o que faríamos se estivéssemos no lugar daquele jovem. Se tivéssemos reencarnado no mesmo meio, recebido durante os primeiros e mais importantes anos de vida as mesmas desorientações e negligências dos pais que se somam às tendências atávicas do Espírito ancestral, que faríamos? Teríamos resistido ou cederíamos à tentação do roubo?!...
Como seriam hoje os circunstantes que anatematizavam o jovem infeliz se os seus caminhos fossem os mesmos trilhados por ele? Era de se esperar pelo menos um pouco de indulgência de quem (aparentemente) recebeu boa educação e melhor berço.
Quanta falta faz o Espiritismo na vida das pessoas!...
Quanta falta faz a prática do Espiritismo nas pessoas que o conhecem!...
Sem pieguismos e sem deixar-nos envolver pelas vibrações malsãs que carregavam o ambiente, conquanto achando que o jovem devia pagar pelo delito, uma onda de ternura e carinho invadiu nosso coração e procuramos canalizar tais vibrações na direção daquele jovem. Quem sabe, aquele infausto acontecimento iria frenar suas atividades infelizes? Era jovem, teria ainda toda uma vida pela frente... Afinal, não ensina a novel Doutrina Espírita que devemos ter caridade para com os criminosos?
Ficamos, então, pensando: quão importante e nobre é a tarefa abençoada das Casas Espíritas que se desdobram na evangelização dos jovens, numa verdadeira profilaxia, cortando no nascedouro as más tendências inatas e direcionando-as para uma vida sadia e plena de bênçãos.
Colocamo-nos no lugar dos pais daquele jovem e imaginamos como deve ser triste ver o filho querido que acalentamos desde a mais tenra infância e para o qual sonhávamos um porvir risonho ser conduzido algemado, cabisbaixo e aterrorizado para as grades de uma prisão!...
É grande a responsabilidade dos pais. E quantos pais (espíritas?!) nem ao menos se preocupam em levar os filhos às aulinhas de evangelização, perdendo assim, preciosa oportunidade de oferecer-lhes subsídios valiosíssimos para a vida de adultos nesses tempos tão difíceis. É uma omissão que pode custar muito caro. Não convém arriscar...
Sentimos, então, a cada dia, que a honra e a glória de ser espírita é um talento que não podemos enterrar. Temos que multiplicá-lo, a exemplo dos dois servos fiéis da parábola.
É imprescindível divulgar o Espiritismo, vez que, segundo Emmanuel, a maior caridade que podemos fazer-lhe é exatamente a sua propagação.
Estivesse já nas mentes e corações o conhecimento espírita, jamais ouviríamos aqueles comentários descaridosos e o mundo agitado de hoje por múltiplas convulsões sociais teria mais paz, mais harmonia, mais felicidade, mais honestidade, menos corrupção, menos crimes, menos tragédias de variegado matiz...
Sem o conhecimento espírita jamais passaria pela nossa mente que aquele jovem “é tanto nosso próximo, como o melhor dos homens; sua alma transviada, revoltada, foi criada, como a nossa, para se aperfeiçoar e que, orando por ele, quem sabe conseguiria sair do lameiro?” (1)
Desconhecendo o Evangelho de Jesus, desconheceríamos também a portentosa lição do “bom samaritano” que socorreu um estranho quando os que deveriam fazê-lo se omitiram. A situação era a mesma: os pais se omitiram e ali estava o necessitado de ajuda à mercê da polícia, esperando mão amiga para socorrê-lo no infortúnio que cavara com as próprias mãos.
Com o Espiritismo sabemos que a verdadeira caridade não consiste apenas na esmola que se dá, nem mesmo nas palavras de consolação que lhe aditemos. Não, não é apenas isso o que Deus espera de nós, que nos proclamamos cristãos.
A caridade sublime, apregoada e exemplificada pelo Mestre, também consiste na benevolência de que usamos sempre e em todas as coisas para com o próximo.
Referência:
(1) KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 125. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, cap. XI, item 14.
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