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Recentemente, em palestra sobre o tema “Amai os vossos inimigos”, ouvi uma abordagem muito interessante a respeito.
Começa pela indagação de quem são os nossos inimigos.
Normalmente nós só reconhecemos como nossos inimigos o outro, aquele que nos magoa, que interfere em nossas vidas, que impedem que façamos algo que nos dá prazer, por exemplo.
A palestrante, no entanto, nos fez refletir sobre o fato de que, muitas vezes em nossas vidas nós somos nossos próprios inimigos quando agimos de forma a nos prejudicar, seja física, emocional ou espiritualmente.
Em o livro “Jesus e Atualidade”, de Joanna de Angelis, por Divaldo Franco, encontramos o seguinte texto:
“Há modelos para todos os nivelamentos de indivíduos com injustificável desprezo pela sua identidade humana.
Sufocado pela falta de humanidade, o homem busca refúgio … temendo enfrentar-se.
Permanece na multidão, sofrendo de insuportável soledade.
Vê inimigos em toda parte e busca afastá-los, usando artifícios segregacionistas de vários tipos, …
Os inimigos mais cruéis, todavia, permanecem no imo das próprias criaturas, que os vitalizam com o orgulho, o egoísmo e o disfarce da acomodação social aparente.
Jesus soube identificá-los, como jamais alguém logrou fazê-lo em tal profundidade.
Ouvia os Seus interlocutores, que embora dissimulassem os motivos reais que os assinalavam, não conseguiram passar despercebidos.
A Sua (de Jesus) posição moral impunha-se-lhes … e Ele os enfrentava com amor ou energia, conforme a circunstância e a intenção de que se revestissem; sempre, porém, generoso.
Levava cada um a auscultar-se e adentrar-se, a fim de extirpar as matrizes do mal em desenvolvimento.
Logo depois, estimulava-os ao crescimento pessoal, desarticulando os mecanismos mentais e sociais que conspiravam para a decadência geral…”
Sugere-nos Joanna de Angelis:
“Não temas enfrentar as tuas sombras, esses inimigos que vigem em ti mesmo.
Fortalece o ânimo e concentra-te em Jesus, a própria terapia atuante.
Deixa que a tua emoção O alcance.
Não tenhas medo destes adversários com os quais convives sem saber.
Identifica-os, um a um, desembaraçando-te logo após da pressão que exercem sobre ti.
Recupera a tua humanidade, sendo tu mesmo.
Convive com todos no teu grupo social, mas preserva-te, sem seguir os modelos fabricados pelo consumismo devorador e neurotizante.
Permanece aberto à renovação.
Desprovido de prevenções perturbadoras, gozarás de otimismo, fator essencial a uma vida sadia e a um inter-relacionamento social saudável.”
Em um outro livro1, um romance, encontrei uma passagem em que a personagem foi ao encontro de uma oportunidade de aprendizado espiritual onde exercitou a meditação e recebeu ajuda de orientadores nesse caminho de auto conhecimento e reforma interior.
Em certo momento desse caminhar, ela identificou em si mesma vários “inimigos” que a impediam de prosseguir sua vida de forma saudável e compreendeu que precisava libertar-se para prosseguir sua caminhada espiritual.
A forma que encontrou para essa libertação foi muito especial. Identifica-se sobremaneira com a forma sugerida pelo Mestre.
Em processo meditativo e em oração, ela procurou cada um de seus “inimigos” internos e a cada um que identificava procedia ao exercício de oferecer-lhe o seu coração mentalizando-o envolvido pelo seu amor dizendo a si mesma que compreendia sua fragilidade, mas que a partir daquele momento queria libertá-lo e permitir que ele encontrasse o caminho do amor em seu coração.
Ao final desse exercício sentiu uma paz interior intensa e a presença do amor por sua própria vida.
Muitas vezes precisamos enfrentar nossa sombra, reconhecer a sua existência para então exercitarmos a nossa libertação. Enquanto mantivermos os nossos “inimigos” velados eles permanecerão em nós, fortalecidos a cada instante, tornando-se verdadeiros obstáculos ao nosso crescimento e evolução. No entanto, caso nos predispusermos a nos libertar teremos que reconhecer a sua existência e dar a eles a oportunidade de serem libertados e consequentemente proporcionaremos a nossa própria libertação.
Já nos dizia o Mestre “Conheça e verdade e a verdade vos libertará.”
O caminho já nos foi oferecido há muitos séculos, resta a nós querer tomar esse caminho como objetivo de vida e seguirmos em busca da nossa libertação e da nossa felicidade.
Texto do livro “Reflexões Evangélicas”, de Elda Evelina Vieira, pela Bookess Editora – www.bookess.com.br/profile/eldaevelina
1 – “Comer, Rezar, Amar”, de Elizabeth Gilbert, editora Objetiva
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