http://www.humbertopinheiro.com.br/v1/2016/08/11/liberdade-igualdade-e-fraternidade-sob-a-otica-espirita/
Márcio Barbosa
Liberdade, Igualdade e Fraternidade Sob a Ótica Espírita
A Revolução Francesa consagrou a tríade como símbolo de sua defesa, embora o próprio movimento revolucionário, que derrubou o absolutismo do reinado, não tivesse compreendido e levado para o campo da prática o verdadeiro sentido e importância das três palavras.
Liberdade, Igualdade e Fraternidade, ligadas ou separadamente, são aspirações não somente para a vida individual, mas também para as organizações sociais dos povos e nações, e, consequentemente, para toda a Humanidade, já que sua internalização encerra o mais alto ideal para a conduta humana.
Sob a ótica espírita, considerando-se que o amor é a síntese da mensagem moral de Jesus e por isso deve estar na base do progresso para a renovação intima, a ordem natural da trilogia deveria ser: Fraternidade, Igualdade, Liberdade.
A fraternidade deve ser o primeiro pensamento, como geratriz da liberdade e da igualdade de todos. É ela o inverso do egoísmo, uma das chagas humanas das sociedades de todas as épocas. É também uma das formas de exercício do amor ao próximo, significando caridade com benevolência, indulgência, compreensão e tolerância.
É o caminho a trilhar para compreensão e devotamento uns aos outros, construindo a convivência de irmãos, filhos do mesmo Criador. Portanto, a liberdade e a igualdade, no verdadeiro sentido que encerram essas palavras, na vida comum, dependem da conquista da fraternidade e da sua vivência.
Essa síntese nos envolve com à grande aspiração da reeducação moral da Humanidade, para que ela possa chegar à fase de um mundo regenerado, como decorrência da divina lei do progresso.
No entanto, nossa sociedade parece locomover-se ainda distante do ideal de transformação pela fraternidade. Em pleno século XXI, após dois mil anos da presença de Jesus, com seus ensinos superiores sobre o amar a Deus e ao próximo como a si mesmo, a Humanidade pouco evoluiu moralmente, continuando os homens egoístas e orgulhosos, procurando as nações impor seus interesses às demais, utilizando as guerras para obterem a paz.
O olhar encontra-se para fora, são buscas de prestígio e de interesses materiais. Enquanto isso, as religiões tradicionais, em lugar de se esforçarem pela prevalência da fraternidade e do entendimento entre elas, vivem conflitos entre si por obter predominância sobre as concorrentes, com as graves consequências divulgadas pela grande mídia.
Se o mundo exercesse a fraternidade, as raças e os indivíduos, como consequência dos ensinos morais do Cristo e de todos os que aceitaram suas lições de vida, há muito teriam desaparecido os conflitos.
No que tange as violências, nosso mundo pouco evoluiu. Basta analisar a origem das incompreensões entre as nações e suas guerras, preparando-se os governos não para a paz e a cooperação, mas para as soluções conflituosas e violentas.
Do ponto de vista histórico, na primeira metade do século XX ocorreram duas guerras mundiais, envolvendo múltiplas nações. Nos séculos anteriores sempre estiveram presentes a violência e as imposições dos países mais fortes, sem respeito à liberdade dos mais fracos.
Percebemos enfim, que são impraticáveis a liberdade e a igualdade sem a presença e vivência da fraternidade, quer entre os indivíduos, quer no seio das famílias e de toda a sociedade. Assim, é pela prática da fraternidade legítima que se cria para todos – nações, famílias e indivíduos – a igualdade e a liberdade, com a paz, a ordem e a compreensão sem prejuízo da hierarquia, que terá como princípio e fundamento o progresso moral e intelectual daqueles que detiverem as maiores responsabilidades.
A fraternidade sintetiza, assim, o amor recíproco de todos os homens, ensinado pelo Cristo, acima do qual só deve prevalecer o amor a Deus, a causa primária de todas as coisas, a Inteligência Suprema do Universo.
Com a ausência da fraternidade legítima torna-se impraticável tanto a igualdade quanto a liberdade. Não se deve entender a igualdade como se todas as pessoas fossem iguais, o que seria uma pretensão utópica, uma vez que as criaturas humanas são diferentes e se encontram em posições evolutivas diferenciadas, cada indivíduo vivenciando a experiência adequada a seu amadurecimento moral.
A igualdade é um sentimento que permite a cada um tratar seu semelhante, qualquer que seja sua posição social, ou condição de vida, de forma igual, com amor, com compreensão, sem nenhuma discriminação ou acepção pessoal.
O orgulho, que leva o homem a julgar-se superior, pretendendo o domínio e a primazia em todas as situações, inclusive no confronto com seus semelhantes é obstáculo à igualdade. Considerar-se igual aos seus irmãos, companheiros de jornada, situados em níveis diferentes, tem sido para o homem uma pretensão inatingível, enquanto não conseguir superar seu orgulho.
A liberdade por sua vez faz parte do Espírito, ao ser criado por Deus simples e ignorante, mas dotado de livre-arbítrio, inteligência e vontade. Mas no campo social, o reconhecimento da liberdade natural sempre encontrou obstáculos, em decorrência do egoísmo e do orgulho predominantes na imensa maioria dos habitantes da Terra.
A tríade egoísmo, orgulho e ignorância são os obstáculos naturais, os inimigos da fraternidade, da igualdade e da liberdade. Enquanto esses três princípios não forem reunidos para deles resultarem o mútuo apoio e a necessária solidariedade, nenhuma organização social será justa, equânime e aberta ao progresso.
Impérios, poderes absolutistas, riquezas acumuladas à custa da escravidão e da exploração dos mais fracos, domínios de povos e nações pela força das armas e da violência, todas essas formas ilusórias de dominação têm existido e foram registradas pela história da Humanidade.
Entretanto, no decorrer dos séculos e milênios, ruíram os impérios, enfraqueceu-se o absolutismo e desapareceram muitas formas injustas de dominação, substituídas por outras que também não subsistirão, numa demonstração clara de que o homem ainda não encontrou a forma correta e justa para suas organizações sociais.
Torna-se evidente que, neste mundo de expiações e provas conforme nossa assevera o espiritismo, faltam os elementos essenciais da fraternidade, da igualdade e da liberdade, sobre os quais possam ser construídos os justos e sólidos edifícios sociais e para que surja a verdadeira solidariedade entre todos os povos, independentemente das raças a que pertençam.
A solução começa no intimo de cada criatura, no coração de cada ser humano. A educação intelectual e moral constitui a base para se resolver tão vasta questão.
Se a educação intelectual já foi reconhecida como necessária, o mesmo não ocorre com a educação moral, apesar de Jesus, tê-la enfatizado em seus ensinos, que Ele sintetizou no amor a Deus e ao próximo.
A fraternidade constitui a prática do amor, se assemelhando com a caridade que envolve a benevolência, a indulgência e o perdão das ofensas. Amor, fraternidade, caridade são os sentimentos que se opõem ao egoísmo, ao orgulho e a vaidade.
É para a implantação desses valores morais que Jesus deixou no mundo suas lições e exemplos em forma de ética, convidando a todos nós à prática da sua mensagem, tendo a auto iluminação como consequência natural advinda do cumprimento do nosso dever em construirmos uma sociedade fraterna, igualitária e livre.
Muita Paz!
Márcio Barbosa, Administrador de empresas, Professor e Palestrante Espírita vinculado a União Espírita de Vitória da Conquista e trabalhador do Centro Espírita Francisco de Assis.
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