1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é buscar a essência de cada uma das sementes, narradas pelo evangelista, no sentido de verificar em que grau está a nossa semeadura.
2. FALAR POR PARÁBOLAS
Jesus falava por parábolas para introduzir alguém em novo assunto. Falava exotericamente, de modo obscuro, somente com relação aos aspectos mais abstratos de sua doutrina; quanto à caridade, falava claramente. Com os apóstolos, mais aptos a compreender o alcance de sua doutrina, falava mais abertamente. E, mesmo com estes, não disse tudo.
Por que não dizia toda a verdade, já que era o Mestre dos Mestres?
"Jesus, com sua afirmação, estabelecia o princípio universal que só em nossos dias seria compreendido, de que a Verdade, em qualquer campo que nos situemos, não é tarefa construtiva, mas sim conquista evolutiva. Ele apenas se colocava na posição de Mestre, de quem ensina. E quem ensina não pode ofertar o conhecimento da forma que o possui. Deve, porém, apoiar-se nas intuições de quem o escuta, para, em desenvolvendo os argumentos, trazê-lo paulatina e progressivamente, através da explicação e do exercício, até o ponto que se situa". (Curti, 1982, p. 111)
3. O TEXTO BÍBLICO
"Naquele mesmo dia, Jesus, tendo saído de casa, sentou-se perto do mar; e se reuniu ao seu redor uma grande multidão do povo; por isso ele subiu num barco, onde se sentou, todo o povo estando na margem; e lhes disse muitas coisas por parábolas, falando-lhes desta maneira:
Aquele que semeia, saiu a semear; e, enquanto semeava, uma parte da semente caiu ao longo do caminho, e vindo os pássaros do céu a comeram.
Outra caiu nos lugares pedregosos onde não havia muita terra; e logo nasceu porque a terra onde estava não tinha profundidade. Mas o Sol tendo se erguido em seguida, a queimou; e, como não tinha raízes, secou.
Outra caiu nos espinheiros, e os espinhos, vindo a crescer, a sufocaram.
Outra, enfim, caiu em boa terra, e deu frutos, alguns grãos rendendo cento por um, outros sessenta e outros trinta.
Que ouça aquele que tem ouvidos para ouvir". (Mateus, cap. 13, 1 a 9)
"Escutai vós, pois, a parábola do semeador.
Todo aquele que escuta a palavra do reino e não lhe dá atenção, o espírito maligno vem e arrebata o que havia sido semeado em seu coração; é aquele que recebeu a semente ao longo do caminho.
Aquele que recebeu a semente no meio das pedras, é o que escuta a palavra, e que a recebe na hora mesmo com alegria; mas não tem em si raízes, e não está senão por um tempo; e quando sobrevêm os obstáculos e as perseguições por causa da palavra, a toma logo como um objeto de escândalo e de queda.
Aquele que recebe a semente entre os espinhos, é o que ouve a palavra; mas em seguida, os cuidados deste século e a ilusão das riquezas sufocam em se essa palavra, e a tornam infrutífera.
Mas aquele que recebe a semente numa boa terra, é aquele que escuta a palavra, que lhe presta atenção e que dá fruto, e rende cento, ou sessenta, ou trinta por um". (Mateus, cap. 12, 18 a 23)
4. A PALAVRA DE DEUS
"A Parábola do Semeador é a parábola das parábolas: sintetiza os caracteres predominantes em todas as almas, ao mesmo tempo que nos ensina a distingui-las pela boa ou má vontade com que recebem as novas espirituais...
A semente é a palavra de Deus, a Lei do Amor, que abrange a Religião e a Ciência, a Filosofia e a Moral, inclusive os "Profetas" e se resume no ditame cristão: "Adora a Deus e faze o bem até aos teus próprios inimigos...
A Palavra de Deus, a "semente", é uma só, quer dizer, é sempre a mesma que tem sido apregoada em toda parte, desde que o homem se achou em condições de recebê-la. E se ela não atua com a mesma eficácia em todos, deriva esse fato da variedade e da desigualdade de Espíritos existentes na Terra; uns mais adiantados, outros mais atrasados; uns propensos ao bem, à caridade, à liberalidade, à fraternidade; outros propensos ao mal, ao egoísmo, ao orgulho, apegados aos bens terrenos, às diversões passageiras". (Schutel, 1979, p. 1 e 2)
5. A CASA MENTAL
Para que possamos melhor entender o alcance desta parábola, convém lembramos que o nosso cérebro é dividido em três regiões distintas. Tomemo-lo como se fosse um castelo de três andares:
subconsciente: 1.º andar, onde situamos a residência de nossos impulsos automáticos, simbolizando o sumário vivo dos serviços realizados - hábitos e automatismos;
consciente: 2.º andar, localizamos o "domínio das conquistas atuais", onde se erguem e se consolidam as qualidades nobres que estamos edificando - esforço e vontade;
superconsciente: 3.º andar, temos a "casa das noções superiores", indicando as eminências que nos cumpre atingir - ideal e meta superiores (Xavier, 1977, p. 47)
6. ANÁLISE DAS SEMENTES
6.1. SEMENTE ATIRADA AO LONGO DO CAMINHO
"Em virtude da evolução, o sistema nervoso guarda os elementos que serviram ao seu desenvolvimento. Quando acomodados, entregues ao ócio, ao relaxamento, ao livre curso de nossos impulsos automáticos, a mente opera somente sobre o subconsciente, podendo-nos redespertar forças inferiores, típicas de um estádio mais animalizado. É aí que surgem os vícios, as expressões de violência, de revolta, de cólera, ódio, vingança. As radiações que emitimos são também de poder mais baixo, o que nos estabelece intercâmbio com outras mentes em faixa vibratória correspondente...
A parte da semente jogada ao pé do caminho, que é comida pelas aves, representa a Palavra do Plano Maior recebida, sem que nos modifique, ou sem que nos desperte a ação". (Curti, 1982, p. 103)
6.2. SEMENTE QUE CAI NOS PEDREGAIS E NOS ESPINHEIROS
O pedregal e o espinheiro representam a pouca base de nosso vaso interior para a assimilação da palavra divina. Podemos comparar-nos ao aluno na escola: quando não temos base, não conseguimos acompanhar o restante da classe. A semente, no caso da parábola, está relacionada com a questão intrínseca de ser religioso e ter uma religião. Ter uma religião é seguir o que o pastor diz, o que o padre prega e o que os tribunos falam. Ser religioso é modificar-se interiormente para as novas verdades. Nesse sentido, o apontamento de Emmanuel é assaz pertinaz, pois diz que "Nas experiências religiosas não é aconselhável repousar alguém sobre a firmeza espiritual dos outros; enquanto o imprevidente descansa em bases estranhas, provavelmente estará tranqüilo, mas, se não possui raízes de segurança em si mesmo, desviar-se-á nas épocas difíceis, com a finalidade de procurar alicerces alheios". (Xavier, 1973, cap. 124)
O Irmão X, em Pontos e Contos, conta a história cujo título é o "Semeador Incompleto". Tratava-se de um pregador que ensinava, mas sentia-se incompreendido. Aos poucos foi perdendo o brilho da palavra. Desencarna. Vai ao mundo espiritual como o pregador incompreendido. Depois de algum tempo, recebe a presença do Senhor. Este lhe diz: "Se atiraste tantas sementes a esmo, que fazias do solo? Acreditas que o Supremo Criador conferiu eternidade ao pântano e ao espinheiro? Que dizer do lavrador que planta desordenadamente, que não retira as pedras do campo, nem socorre o brejo infeliz? É fácil espalhar sementes porque os princípios sublimes da vida procedem originariamente da Providência Divina. A preparação do solo, porém, exige cooperação direta do servo disposto a contribuir com o próprio suor". (Xavier, 1978, cap. 22)
6.3. SEMENTE QUE CAI EM TERRENO FÉRTIL
A imagem relativa à semente que caindo no solo fértil produzirá dando frutos: um a cem, outro a sessenta e outro a trinta, no que nos concerne, diz respeito àquela palavra que, em nos encontrando atentos e receptivos, se assenta em fundamentos que nos são próprios, sólidos e bem estruturados.
A semente que cai em terreno fértil pode, também, ser comparada à expansão do nosso "eu", ou seja, quanto mais pessoas comungam com os nossos ideais do bem, tanto mais a semente cresce em fortaleza.
7. A SEMENTE E O ESPÍRITA
Allan Kardec comentando a parábola do semeador diz: "Ela encontra uma aplicação, não menos justa, nas diferentes categorias de espíritas. Não é o emblema daqueles que se apegam senão aos fenômenos materiais, e deles não tiram nenhuma conseqüência, porque vêem neles senão um objeto de curiosidade? Daqueles que não procuram senão o brilho das comunicações dos Espíritos, e não se interessam por elas senão quando satisfazem sua imaginação, mas que, depois de as ter ouvido, são tão frios e indiferentes quanto antes? Que acham os conselhos muito bons e os admiram, mas deles fazem aplicação nos outros e não em si mesmos? Dos que, enfim, para quem essas instruções são como a semente caída na boa terra e produzem frutos?" (1984, p. 226)
8. CONCLUSÃO
Os ensinamentos contidos nesta parábola fazem-nos refletir sobre a função primordial de cada um de nós na potencialização do outro. Assim, se arrotearmos o campo mental daqueles que nos ouvem, estaremos edificando em terra firme, e a palavra divina produzirá a cento por um.
9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
CURTI, R. Bem-Aventuranças e Parábolas. São Paulo, FEESP, 1982.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.
SCHUTEL, C. Parábolas e Ensinos de Jesus. 11. ed., São Paulo, O Clarim, 1979.
XAVIER, F. C. Caminho, Verdade e Vida, pelo Espírito Emmanuel. 6. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1973.
XAVIER, F. C. No Mundo Maior, pelo Espírito André Luiz. 7. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.
XAVIER, F. C. Pontos e Contos, pelo Espírito Irmão X. 4. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1978.
São Paulo, abril de 2000
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