Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

PARÁBOLA DO SEMEADOR - Atonis Soraggi



“EIS AÍ QUE SAIU O QUE SEMEIA A SEMEAR.....” JESUS (MATEUS, 13: 1-9)

Eis uma das mais importantes parábolas do mestre, relatando as diversas fases do desenvolvimento humano, relacionando-as com nossa capacidade de entendimento de seus ensinamentos.
O Mestre é o verbo de Deus, e suas palavras são sementes de luz. Elas brotam em nossas almas, criam raízes, crescem , florescem e frutificam, de acordo com o nível moral de onde nos encontramos: fora do caminho, no meio das pedras, entre espinhos, ou na terra fecunda das experiências milenares. Semeiam verdades libertadoras, e nós, sementes de Deus vamos sendo cultivados “no silêncio dos nossos pensamentos”, para “quando soar a hora do repouso, e a trama escapar de nossas mãos, germinar a preciosa semente” (ESE-cap. 6 – item 6).
É com a força de muitas existências que vamos entendendo os ensinamentos de Jesus, como múltiplos raios de luz , a incidirem sobre as potencialidades do nosso ser. Para facilitar, ele reduz suas palavras a imagem reais de nossas diversas disposições no processo evolutivo.
“Todo aquele que ouve a palavra do reino de Deus e não a entende, vem o mal e arrebata o que se semeou no coração”.
Somos criados almas simples e ignorantes, para crescer em amor e sabedoria. A virgindade intelectual, os instintos de conservação, reprodução, destruição e progresso são algumas das condições iniciais do crescimento, como sementes a se desenvolverem ao infinito, atraídas pelo amor de Deus. Algo parecido com a semente de uma árvore divina, que irá romper seu envoltório, brotar, crescer em direção à luz, florescer e gerar sempre melhores frutos, a favor do próximo e da vida.

No principio de nossa escalada espiritual ensaiamos inúmeras experiências para um dia ingressarmos no entendimento gradativo da vida. Reverenciamos e temos os fenômenos naturais. O nosso entendimento é confuso. Agimos e reagimos, guiados pelos instintos, em função da necessidade de sobrevivência, à semelhança dos animais. A inteligência dá seus primeiros passos e quase nada relaciona – tudo é estranho e obscuro, mas vamos acumulando experiências, selecionando e automatizando as reações mais eficazes. Pouco nós dominamos, mas conservamos certa pureza dentro das rudes relações com os iguais e com o meio. Não articulamos pensamentos e palavras. O instinto de conservação e as experiências, num meio selvagem, nos obrigam à união. Aí temos, de forma tosca, o início de nossa evolução como gente e espírito. Somos nômades, tribais, predadores, umbilicalmente ligados à natureza. Nossa evolução é vagarosa. Não diferenciamos o bem e o mal.
A partir de um certo estágio, a evolução terrena passou a necessitar de estímulos mais refinados. Migram para a terra espíritos adiantados em inteligência e conhecimento, a fim de liderarem nosso progresso. Exilados de outros mundos, esses irmãos implementaram idéias de comunidade, trabalho, organização social, política econômica e religiosa. Trouxeram o progresso mais rápido e também os vícios do egoísmo e do orgulho, causas de seus exílios para um mundo primitivo. Vieram suar pela própria regeneração. Os primitivos cresceram em entendimento material, mas sem acesso aos mistérios religiosos, aos quais se sujeitaram. Espíritos missionários nasceram entre os diversos povos antigos, transmitindo ensinamentos de ordem moral. Veio Moisés, iniciando pelos egípcios, que se encarregou de reunir o povo judeu, libertando-o da servidão egípcia, guiando-o através do deserto, em busca da terra prometida sob um Deus único e sob os mandamentos da lei.
É uma fase marcante do processo humano, onde se dá a intervenção do espiritual no terreno, até hoje não percebida pela ciência materialista – nem entendida pelas vertentes religiosas tradicionais. Estas preferiram mitificar a vida espiritual, submetendo o entendimento das revelações aos interesses terrenos.
Por mais que tenhamos crescido, a maioria da humanidade ainda não chegou ao estágio da fé raciocinada. Continua presa aos dogmas da existência única, embora, intuitivamente, acredite na lógica das vidas sucessivas, com boas noções sobre a lei de causa e efeito.
Mesmo assim, a humanidade respira sob o poder da fé mágica, vivendo de mitos,ídolos e mistérios.

Nesta fase pós-primitiva, nos seus derradeiros capítulos na Terra, a maioria supervaloriza a segurança ilusória das posses. A materialidade contamina as relações afetivas, e o poder corrompe muitos corações. A antiga lealdade grupal e substituída pelos interesses circunstanciais. Poucos escapam desse drama, verdadeiro filtro da evolução humana. A maioria não se interessa pela verdade, vivendo como crianças espirituais. O mal prevalece nessa fase inferior.
“Mas, o que recebeu a semente no pedregulho, este é o que ouve a palavra, e logo a recebe com gosto; porém ele não tem em si raiz, e quando enfrenta a tribulação e a perseguição por amor da palavra, logo se escandaliza”.
Nesta segunda etapa, não temos raízes profundas na terra espiritual, faltam-nos enxertos de outras experiências existenciais. Somos ambivalentes, incapazes de grandes vôos. A morte não nos liberta da vida terrena.

Tememos o desencarne, tido como passagem mal explicada para o outro mundo. Gostaríamos de romper nossa couraça interior, buscar a luz e o ar da renovação, seguir as palavras de amor de Cristo, mas estas nos soam com escândalos contrários ao nosso personalismo. Irmãos inferiores colocam obstáculos à nossa evolução. Precisamos, antes, libertamo-nos das pedras do egoísmo e do orgulho, que endurecem nossos corações. O mal ainda prevalece sobre o bem. Deixamo-nos envolver prazerosamente pelos escândalos do desamor. As palavras do mestre soam utópicas. Transformamos Jesus em mito. Confiamos na fé sem caridade e em indulgências negociáveis para o pós-morte.
“e o que recebeu a palavra entre os espinhos, este é o que ouve a palavra, porém os cuidados deste mundo e o engano das riquezas sufocam a palavra”.
Esta terceira etapa nos lembra o moço que queria seguir o mestre, encantado com seus ensinamentos. Era cumpridor das leis mosaicas, mas incapaz de abrir mão de suas riquezas. Muitas vezes, nossos tesouros estão nos espinhos que cultivamos na vida, sem saber como viver sem eles.

É uma etapa em que ainda vacilamos. Queremos mudar, contudo sem renunciar aos interesses terrenos. Somos devotados a Deus e as riquezas, evitando reconhecer a curta existência como exercício de caridade. Todavia, já apresentamos um inicio de interesse pelas palavras do mestre. O bem começa a despontar mais forte em nossas vidas, motivadas pela necessidade de espiritualização. Nossa consciência já se incomoda com o excesso de egoísmo e o orgulho já é percebido como fonte de infelicidade. Estamos num ponto próximo do fim de nossa inferioridade espiritual.
Sentimos insatisfação com nós mesmos. O amor quer crescer em nós e já lutamos para evitar o mal. Entendemos que o amor ao próximo é uma necessidade, mas ignoramos que depende do que damos a esse próximo. Temos alguma compaixão, mas não abnegação.

Nossas necessidades, mesmo as supérfluas, são mais importantes do que o outro. A infelicidade deste nos incomoda, mas não nos mobiliza além de nossos confortos a não ser eventualmente. Preocupamo-nos mais com nossos espinhos do com os dos outros. O mal ainda é maior do que o bem, mas os sentimentos de culpa se tornam mais agudos.
“E o que recebeu a semente em boa terra, este é o que ouve a palavra e a entende, e dá fruto, e assim um dá cento, e outro sessenta, e outro trinta por um”. (Mateus, 13: 18:23).

Aí, sim, descobrimos o caminho. Atingimos o quarto estágio, mais avançado, embora inicial, de nossa evolução espiritual amadurecida. Ingressamos num processo de desilusão da matéria. A existência se torna um meio claro de aprendizado, de preparação para vôos espirituais. Começamos a combater nosso egoísmo, trabalhamos para conquistar a humildade, a fé se torna racional, adquirimos a certeza de um Deus justo e bom .
Desinteressamo-nos dos mitos e das magias, entendendo que os demônios são os males e vícios que cultivamos.

Começamos a crescer em sabedoria, amor e moralidade. Nossa consciência está mais apurada e a prática da regra áurea passa a ser necessidade. Preocupamo-nos com a felicidade alheia, e começamos a produzir os bons frutos esperados por Deus. Desponta em nós o entendimento de que também somos semeadores do bem, com necessidade de multiplicar os frutos, em beneficio dos que nos seguem e dos que nos perseguem. Nossas preces ajudam a todos.
Entendemos que, vivos na carne ou na espiritualidade, participamos todos de uma mesma humanidade, necessitada de justiça,amor e caridade. Trocamos o egoísmo pelo altruísmo, o orgulho pela humildade, a vaidade pela simplicidade, a sensualidade pela ternura, a traição pela lealdade, a indiferença pelo amor irrestrito, a esperteza pela honestidade, a dominação pela solidariedade, a fé mágica pela raciocinada, a desesperança pela certeza do amor de Deus. Nesse ponto se abrem para nós amplos horizontes espirituais, libertados pelas sementes da verdade do mestre, não mais necessitados de pedras, espinhos e escândalos.

As virtudes conquistadas despertam em nós novas potencialidades, visando outras escaladas no reino infinito do Pai.
A misericórdia de Deus e as palavras de Jesus nos lembram que todos chegaremos lá – é uma simples questão de tempo e vontade: a de sair e semear.

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