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Estudando o Espiritismo
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segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Máscaras e personas - Adenáuer
“Bem-aventurados os humildes de espírito.
Porque deles é o reino dos céus.” Mateus,
5:3.
Quando pronunciou as palavras acima, certamente o
Cristo se referia àqueles humildes em aprender as verdades
eternas e que se colocavam predispostos a entender o
sentido e significado da Vida, sem a arrogância
característica dos que acreditam já saber de tudo. Pobres em
espírito ou pobres de espírito são expressões que podem ser
interpretadas de formas distintas. Não importa se
encontramos aspectos distintos numa mesma coisa, pois em
tudo pode se obter um significado único. E, neste caso, ele é
a necessária condição de ignorância para dispor-se a
aprender.
Ele se referia a um estado de espírito, a uma condição
consciente de se colocar diante do mundo, a uma atitude
frente ao novo e ao desconhecido. Novamente ele busca
dirigir-se ao ser humano psicológico muito mais do que ao
ser humano social, ao interno mais que ao externo. Como
naquela época em que aquelas palavras foram pronunciadas,
também hoje o ser humano ainda se encontra preso ao
mundo exterior, ao mundo da matéria, a que se apega como
se fosse a única realidade possível. Ciente dessa condição, o
Cristo endereça sua mensagem alertando o ser humano da
necessidade de que ele busque colocar sua mentedistanciada de uma condição que lhe impeça a visão da
realidade espiritual. Condição esta possível graças à
humildade e ao desejo sincero de aprender. É como se ele
nos convidasse a sempre ver as coisas sob a ótica do
espiritual.
Ele costumava colocar que o ser humano deveria se
assemelhar à criança nas suas atitudes, devendo aproximarse de sua pequenez a fim de alcançar o reino dos céus (leiase: alcançar um estado evolutivo melhor). Por que não
igualar-se tão somente a um adulto responsável? A que
atributo ele se referia, presente numa criança e desejável de
existir num adulto? Arriscamos dizer que os preconceitos
oriundos da educação costumam embotar a plenitude da
capacidade de aceitar o novo.
Ser como uma criança é ter a condição não
preconceituosa diante daquilo que se deve aprender. É
buscar a ingenuidade e espontaneidade da criança.
Do ponto de vista psicológico é colocar sua mente
sem a máscara social. É desvestir-se dos condicionamentos
externos que impedem o aprendizado pelo Espírito.
Colocar-se de forma preconceituosa é reter as coisas no
nível do ego, impedindo, pelos mecanismos de defesa, o
Self de filtrar o que deve ir ao Espírito.
As máscaras sociais, ou personas, colocam a mente
numa condição de assimilação parcial, face as preocupações
em se relacionar com o externo, inibindo parcial ou
totalmente, a relação com o Self. Colocar-se como criança é
permitir desabrochar o Eu interno, ou Self, cuja condição de
centro regulador e organizador da psiquê, permite a
utilização não conflitante do ego e das personas.
A inocência da criança é um estado psíquico de total
confiança no futuro, de ausência de medo e de
disponibilidade plena para a Vida. O Cristo se referia a esse estado de espírito como condição psíquica para
conhecermos as leis de Deus e evoluirmos.
Nas relações com o próximo, a ingenuidade da criança
é desejável, pois atenua o poder da mágoa ou do revide. A
vingança é fruto da instabilidade psíquica, caracterizada
pela assunção de um ou mais complexos à consciência, sem
o devido equilíbrio do ego. Os complexos são o ponto de
apoio das obsessões espirituais. Não revidar é não se sentir
atingido diante da ofensa, que, em realidade, atinge seu
emissor. O pobre de espírito coloca sua mente a serviço do
Bem, e não dos objetivos do ego ou de alguma persona
assumida.
O estado de espírito que não se assemelha ao da
criança possibilita que a mente crie barreiras para se
defender do mundo, não captando as leis espirituais a partir
das experiências vividas. Colocar-se assim, é não precisar
perdoar, pois não se sentiu agredido.
O Cristo dizia que “Se alguém quer ser o primeiro,
será o último e servo de todos.”
15
, referindo-se, numa
perspectiva psicológica, ao complexo de superioridade que
normalmente carregamos no inconsciente, e, às vezes, na
consciência. Ser servo é não permitir que o complexo de
superioridade assuma a consciência, determinando a
conduta e impedindo uma percepção adequada da realidade.
Nesse sentido, o Cristo pode ser chamado Terapeuta, que
significa “servidor de Deus”, isto é, aquele que cura em
nome de Deus. Ele é aquele que serve a Deus sem o
complexo de superioridade que infla o ego, atingindo alguns
“missionários” que se acreditam superiores aos outros.
Servir é, então, o remédio, segundo as palavras do
Cristo, e servir a Deus é a grande terapia para o ser humano.
Podemos dizer que o trabalho em favor da Vida é a maior
15
Marcos, 9:35.terapia que se pode aplicar a si mesmo. Quem quiser
enfrentar seus conflitos internos deve começar pela
caridade. O bem que fazemos aos outros é o bem que
fazemos a nós mesmos. Servir ao próximo é o começo da
própria cura. Quando é feito com sinceridade e equilíbrio é
caminho de libertação. É importante ajudar ao próximo
naturalmente, e não apenas como integrante de uma
instituição religiosa ou social, qualquer que seja.
Em continuidade ao trecho citado anteriormente, o
evangelhista recolhe a seguinte afirmativa do Cristo: “...
porque aquele que entre vós for o menor de todos, esse é
que é grande.”
16
Essa colocação também pode ser vista
como uma alusão aos complexos que se revezam entre a
consciência e o inconsciente. Quando atribuímos poder ao
ego, inflacionando-o, reduzimos a capacidade de aprender
pelo Self. Quando diminuímos o poder do ego, ampliamos a
capacidade do Self em apreender a realidade. O indivíduo ao
elevar-se sem méritos, atribui poder ao ego, inflando-o;
dessa forma, vive-se a vida do ego, e não a do Self.
Quem deliberadamente exalta suas qualidades, mesmo
que as possua, torna-se orgulhoso e vaidoso de si. Esse
orgulho cada vez mais estimulado inibe o conhecimento de
si mesmo e impede a percepção da sombra, isto é, de suas
qualidades negativas e do que desconhece da própria
personalidade.
A psicologia do Cristo é cristalina quando a aplicamos
ao nosso mundo interior. Não há como fugir de si mesmo. A
humildade facilita o processo de autopercepção e de
manifestação do Self. O orgulho embota a visão do Espírito,
cegando-o à compreensão da realidade.
Quando o orgulho aparece, através da auto-elevação
do ego, surge a primazia de uma das personas consolidadas
16
Lucas, 9:48.nas encarnações anteriores. Essas personas inconscientes se
tornam uma espécie de sub-personalidade. O indivíduo vive
artificialmente pela manifestação de uma subpersonalidade, emergida pela energia demasiada atribuída
ao ego que lhe dá sustentação. Essa sub-personalidade é
nucleada por um ou mais complexos. Como exemplo
podemos ver nas pessoas que, em outras encarnações
estiveram em posições sociais importantes, mas que na atual
encarnação não ocupam lugar de destaque na sociedade,
poderá permitir que, pela inflação do ego, essa subpersonalidade assuma a consciência.
Quando não adicionamos excessiva energia ao ego,
ampliamos a percepção de nossas próprias limitações,
permitindo que enxerguemos a nossa sombra, antes
inconsciente.
Da mesma forma, a simplicidade facilita a percepção
dos complexos inconscientes, trazendo-os equilibradamente
à consciência sem que eles predominem sobre o ego. Na
humildade o verdadeiro Eu sobressai-se, para que o Espírito
possa crescer, desenvolver-se e alcançar sua plenitude.
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