Mola mestra do Espiritismo e de algumas outras doutrinas filosóficas que, desvencilhadas dos conceitos meramente dogmáticos, oferecem ao homem uma visão pluridimensional de si mesmo, a reforma íntima se destaca como a mais importante meta traçada pelo homem rumo à sua libertação plena, ou seja, superação de tudo aquilo que lhe aprisiona ao sofrimento. Trata-se, como define muito precisamente, o espírito Ermance Dufaux, através da psicografia de Wanderley Oliveira, de um trabalho processual, ou seja, uma ação sequencial e sem fim traçado por cada um de nós na incessante busca de lidarmos com as características da nossa personalidade melhorando traços que se manifestam a cada existência de nossos espíritos mergulhados na vida material.
Nessa saga permanente do espírito mergulhado no plano físico, em que normalmente somos embevecidos pelo estado ilusório propiciado, sobretudo, pelas limitações sensoriais do corpo físico, o maior obstáculo que se apresenta ao nosso crescimento é, sem sombra de dúvidas, o conjunto de viciações do ego. São esses que, como nos advertem os grandes mestres da alma, a exemplo de Jesus, Buda e tantos outros, nos fazem reféns de nós mesmos, nos escravizando no vicioso jogo da busca pelo prazer e da conquista de um estado que, ilusoriamente, conceituamos como sendo de felicidade. Essa realidade danosa, vale destacar, parece ser ainda mais pungente no momento atual da história da humanidade, predominada cada vez mais pela culto ao consumo, à estética e ao poder transitório, esquecendo-nos de que a vida é regida verdadeiramente pela Lei da Impermanência.
Assim, aceitar o fato de que no processo de transitoriedade que caracteriza a vida, tudo é transformação e que é nisso que repousa a lei da evolução, é o primeiro passo para se desencadear o indispensável projeto de reforma íntima. Uma vez assimilada essa verdade suprema, como ocorre em todo processo de execução de projeto, necessário se faz, traçarem as estratégias de ações voltadas ao objetivo almejado, no caso, a libertação plena que, para alguns, dá-se o nome de salvação. No contexto conceitual do trabalho de transformação íntima, porém, vale esclarecer que, isso implica dizer que precisamos salvarmo-nos inicialmente de nós mesmos. Isso implica em salvarmo-nos num primeiro momento, do hábito de atendermos incondicionalmente às imposições dos desejos e aspirações de natureza meramente físicas e passageiras e, noutro, das sombras que carregamos dentro de nós e que ao tentar fugirmos ou negarmos, geram uma série de complicações que atormentam nossa existência e comprometem nossa personalidade.
Assim, nos orientam os espíritos superiores que, negar a si mesmo, no sentido de esvaziar-se de si mesmo, deixando cair as máscaras, praticando verdadeiramente a ética singular é o objetivo maior de renovação espiritual, nossa meta magnônima. Essa, por sua vez, além do comprometimento ético consigo mesmo, requer uma série de esforços, os quais compreendem os dispositivos reais do projeto de reforma íntima. Dentre esses, se destacam: a educação integral; estado de vigilância permanente; o rigoroso e franco processo de observação de si mesmo; a aceitação das sombras e o autoperdão.
Discorrerei sobre esses, nos próximos textos. Para uma leitura mais aprofundada acerca dessa temática, aconselho a leitura do livro: "Reforma Íntima sem martírio", de autoria do espírito Ermance Dufaux, através da psicografia de Wanderley Oliveira, obra na qual me inspirei para tratar do assusnto. Abraço fraterno e votos de luz à sua alma!
Reforma íntima e a ética da transformação (parte II) | 17.08.2012 |
"Reconhece-se o verdadeiro espírita, pela suau transformação moral", O Evangelho Segundo o Espiritismo (Capítulo 17, item 8).
Continuando a refletir acerca da proposta da reforma íntima que, como já foi dito anteriormente, se apresenta como o caminho mais seguro e sensato para a transformação moral e espiritual a que todos aspiramos, o espírito de Ermance Dufaux nos convida a um profundo processo de autoanálise, chamando-nos a atenção para traços característicos importantes de alguns comportamentos que costumamos esboçar no caminho da transformação pessoal e transcendental. Um deles diz respeito ao martírio que em geral brota no íntimo de cada um diante dos momentos de insucessos no que diz respeito à superação de suas más tendências e inferioridades. Algo que costuma levar muitos de nós a estados de intensa culpa e desânimo, fazendo crer que estamos incapazes de superar os nossos sentimentos inferiores.
Assim como orientam diversos outros guias espirituais e pensadores transcendentais da contemporaneidade, a exemplo de Deepack Chopra – conforme comentário postado aqui anteriormente-, Defaux aponta para esse fenômeno, alertando-nos acerca de um passos de extrema relevância no projeto de autotransformação. Trata-se da aceitação das sombras. Nos diz eles que “sem aceitação da nossa realidade presente poderemos instaurar um regime de cobrança injustas e intermináveis conosco e, posteriormente, com os outros”. É aqui que entra a necessidade da postura ética que devemos ter sempre e não apenas ao nos relacionarmos com os outros, como costumamos acreditar, imaginando que a ética diz respeito a uma ação meramente externa.
De fato, ao despertarmos para a necessidade da desafiante meta da reforma íntima, diga-se de passagem, o mais ambicioso projeto de vida -, é importante introjectarmos em nossas mentes que a mudança não implica destruir ou negarmos o que há de ruim em nós, mas sim, aprendermos a como lidar com essa parte de nossa identidade real sem nos atormentarmos.É quando, enxergarmos, por exemplo, que os erros cometidos são importantes no processo de burilamento moral e espiritual, desde que, como nos adverte o Evangelho crístico, venham acompanhados do sincero ato de arrependimento. Ninguém que não se arrependa verdadeiramente é capaz de aceitar a si mesmo, de forma plena. Trata-se de uma postura ética que devemos adotar diante de nós mesmos na proposta de transformação. E, a aceitação para ser plena, precisa do autoperdão (vice-versa). Não podemos nos esquecer de que não haveria luz se não fosse a escuridão e que, portanto, as sombras fazem parte de nosso ser, assim como a luz também. Resta-nos saber, como nos adverte o divino mestre Jesus, diante dessa dicotomia, fazermos brilhar a nossa luz, revelando em nós o ser divino que somos.
E, assim, passarmos para o segundo passo importante para a reforma íntima que é a cumplicidade com a decisão de crescer. Isso sem nos esquecermos de que a renovação espiritual é um processo gradativo e que exige muitadevoção, franqueza extrema e persistência. Cientes de que, mesmo estando no caminho certo, por vezes, tropeçaremos, cairemos diante de nossas fraquezas e quando menos percebermos, já estamos entregues às paixões, vícios e repetições dos mesmos erros. Trata-se de algo já previsto pelo maior de todos os mestres da alma, Jesus que, na oração que nos foi legada, o Pai Nosso, nos alerta para o pedido de perdão e do perigo das tentações a que estamso permanentemente nos esbarrando. Profundo conhecedor do que se passa na intimidade da alma humana, Jesus nos alerta e nos ensina a como superarmos a nós mesmos para em seguida, superarmos o mundo à nossa volta, ascendendo assim, na infinita e gradual escala da evolução espiritual.
Portanto, diante das quedas e tentativas frustadas no processo de autotransformação, não nos esqueçamos de que, primeiramente, isso faz parte de nossa limitação no atual estágio espiritual que nos encontramos e que, mais importante ainda, é estarmos cientes de que, na condição de eternos aprendizes que somos, os maiores tesouros se revelam por meio dos maiores esforços. E, nesse sentido, nos mantermos fiéis a nossos ideais mais nobres, a exemplo da conquista da superação do ego, é um passo primordial para essa ascenção transcendental. Sigamos em frente, confiantes em nós mesmos e em Deus que nunca nos desampara, sobretudo, quando trilhamos nossos passos verdadeiramente libertadores. |
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