(Jiddu Krishnamurti, livro Comentários sobre o viver)
3 - Maledicência e preocupações
Que extraordinária semelhança entre a
maledicência e a preocupação! Tanto uma, como outra, são o produto da mente inquieta. A mente inquieta necessita de variedade de expressões e ações, precisa estar ocupada, ter sensações cada vez mais intensas, interesses passageiros, e a maledicência contém todos esses ingredientes de que a mente carece.
A maledicência é a verdadeira antítese do empenho ardoroso. Falar de outrem, caçoando ou ultrajando, é uma fuga de si mesmo, e a fuga é que é a causa da inquietação. A fuga, por sua própria natureza, é agitação.
O interesse nos assuntos alheios parece ocupar a maioria das pessoas, e isso se expressa no gosto com que leem toda a sorte de revistas e jornais, com suas colunas de mexericos, notícias de assassínios, divórcios, etc.
Assim como nos preocupamos com o que os outros pensam de nós, assim também temos muito interesse em saber de tudo o que lhes diz respeito; e nascem daí, as formas grosseiras e sutis de esnobismo e a subserviência à autoridade. E tornamo-nos, então, cada vez mais extrovertidos, e interiormente vazios.
E quanto mais extrovertidos, mais necessitamos de sensações e distrações, resultando daí uma mente sempre inquieta, incapaz de profunda investigação e descobrimento.
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