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Estudando o Espiritismo
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domingo, 5 de agosto de 2012
JESUS ANDA SOBRE A ÁGUA - Pastorino
Mat. 14:24.33
24. E o barco estava agora no
meio do mar (a muitos está-
dios da terra) açoitado pelas
ondas, porque o vento era
contrário.
25. À quarta vigília da noite ele
veio ter com eles, caminhando sobre o mar.
26. Os discípulos ao vê-lo a andar sobre o mar ficaram
aterrorizados e exclamaram:
"é um fantasma', e gritaram
de medo.
27. Mas Jesus imediatamente
lhes falou: "Tende coragem,
sou eu, não temais"!
28. Respondendo-lhe, disse Pedro: "Se és tu, senhor, ordena que eu vá a ti por cima
das águas".
29. E ele disse: "Vem". E saindo
Pedro do barco, andou sobre
as águas para ir ter com
Jesus.
30. Quando porém sentiu o vento forte, teve medo e, come-
çando a submergir, gritou:
"salva-me, Senhor"!
31. No mesmo instante, estendendo a mão, segurou-o e
disse-lhe: "ó pequena fé, por
que duvidaste"?
32. E entrando ambos no barco,
cessou o vento.
33. Então os que estavam no
barco prostraram-se ante
ele, dizendo: "verdadeiramente és um Filho de Deus".
Marc. 6:47-52
47. À tardinha achava-se o barco no meio do mar, e ele sozinho em terra.
48. E viu-os embaraçados em
remar, porque o vento lhes
era contrário; e pela quarta
vigília da noite foi ter com
eles, andando sobre o mar, e
queria passar-lhes adiante.
49. Vendo-o eles, porém, a andar sobre o mar, pensaram
que era um fantasma e gritaram,
50. porque todos o viram e ficaram aterrorizados. Mas no
mesmo instante falando
com eles, disse: "Tende coragem, sou eu, não temais"!
51. E veio a eles no barco e cessou o vento; e eles se encheram de grande pasmo.
52. Pois não haviam compreendido a demonstração dos
pães; ao contrário, o cora-
ção deles estava endurecido.
João, 6; 16-21
16. Chegada a tarde, desceram seus discípulos ao
mar,
17. e, entrando num barco,
atravessaram o mar para
ir a Cafarmaum. E já se
tornara escuro, e Jesus
ainda não tinha vindo ter
com eles.
18. E o mar, ao sofrer grande
vento, se agitava.
19. Tendo remado uns vinte e
cinco a trinta estádios, viram a Jesus andando sobre o mar e aproximando-se do barco, e ficaram
com medo.
20. Mas ele lhes disse: "sou
eu, não temais"!
21. Desejavam então recebê-
lo no barco, e imediatamente o barco chegou à
terra para onde iam.
Pelo texto de João, compreendemos que os discípulos desceram à praia e permaneceram perto do barco, onde ficaram esperançosos de que Jesus viesse alcançá-los. Entretanto, "já se tornara escuro e Ele
não viera". Resolveram, então, partir.
Uma vez embarcados, os discípulos encontram vento contrário bastante forte, o que era comum no
lago (cfr. visto antes) , tanto que não haviam chegado à outra margem "na quarta vigília da noite", isto
é, entre 3 e 6 h da manhã. Após o domínio romano na Palestina, os israelitas passaram a dividir a noite
(de 18 às 6 h) em quatro vigílias (em vez de três como era tradicional entre eles), vigílias essas iguais
no comprimento, sendo mais longas no inverno quando as noites eram maiores, e bem menores no
verão. A primeira (das 18 às 21 h.), a noite; a segunda (das 21 às 24 h), a noite fechada; a terceira (das
24 às 3 h) o cantar do galo; e a quarta ( das 3 às 6 h) a alvorada ou manh„.
Ora, à "noitinha" (opsÌas), do montículo onde se achava, Jesus já vira os discípulos a lutar contra o
vento; e a travessia, mesmo na parte mais larga do lago (12 km) era feita, no máximo, em 2 a 3 horas.
E ali eles não estavam na parte mais larga. Mas, às 3 ou 4 horas da manhã eles só haviam avançado
"25 a 30 estádios" (segundo João), anotação que parece ter sido introduzida em Mateus posteriormente, pois só aparece em alguns manuscritos ("a muitos estádios da terra"). O estádio media cerca de 185
metros; portanto, eles só se haviam adiantada cerca de 5 km da margem.
Continuava a luta contra o vento, e os discípulos remavam esforçadamente, para alcançarem rápido a
outra margem, talvez imaginando que o Mestre seguiria a pé e lá chegaria antes deles, para esperá-los.
Repentinamente percebem, assustadíssimos, um vulto branco a caminhar calmamente sobre o mar encapelado pelo vento ... O que seria? Quem seria? Olham melhor: é uma forma humana ... aproxima-se
... só pode ser um fantasma! E os fantasmas eram considerados de mau agouro (cfr. Sab. 17:4, 14-15;
Josefo, Ant. Jud. 13, 12, 1 e 17, 13, 3-5). O medo foi crescendo, eriçando os cabelos, arrepiando a pele,
e aqueles pescadores rudes, homens fortes e barbados, não tiveram outro remédio senão ... gritar "valentemente"'! ...
Penalizado, mas bem provavelmente a sorrir do susto que pregou em seus discípulos, Jesus os acalma,
recomendando-lhes "coragem" que eles demonstraram evidentemente não possuir ...
João, cujo Evangelho (e Epístolas) foram escritos com a finalidade senão primordial, pelo menos bastante clara, de combater os "docetas" (que afirmavam ser "fluídico" o corpo físico de Jesus que, segundo eles não era homem, mas um agÍnere), não acena à impressão que os discípulos tiveram de que se
tratava de um fantasma, já que o fantasma é, exatamente, um agÍnere.
Os "docetas", assim cognominados primeiramente por Teodoreto (Epist. 82) e por HipÛlio (Philosophúmena, 8, 8-11), que criaram o nome "docetas" do verbo grego dokéo, que significa "parecer",
afirmavam que Jesus n„o possuÌa corpo fÌsico de carne, mas sim "corpo fluÌdico", um "corpo de fantasma". Diziam que tudo o que fizera fora apenas "aparÍncia" e n„o realidade. N„o nascera, nem
crescera, nem comera, nem morrera na cruz. "Pareceu" que houve tudo isso, mas "n„o houve", era
tudo MENTIRA e FINGIMENTO. A raz„o em que se baseavam era a crenÁa de que tudo o que È material È imperfeito e impuro, pois È obra do "PrincÌpio do Mal", que eles identificavam com o Deus Criador do Velho Testamento, YHWH, que para eles era Satan·s. Como Jesus apresentara o "PrincÌpio
do Bem", o PAI, n„o podia ter-se submetido ao PrincÌpio do Mal, e portanto, n„o poderia ter tido corpo fÌsico carnal.
O docetismo foi combatido desde o inÌcio de seu aparecimento por uma testemunha ocular da vida de
Jesus, por seu "discÌpulo amado", Jo„o Evangelista, que protesta ardentemente contra essas inven-
Áıes absurdas; vemos a refutaÁ„o do docÌlimo em muitos passos do Evangelho de Jo„o, mas sobretudo em 1:14, e nas EpÌstolas (Primeira, 2:22; 4:2; 5:6,2.0; e Segunda, vers. 7). Combateram-no ainda
no 1.º sÈculo In·cio, nas EpÌstolas ad Trai., 9 f; ad Smyrn. 2:4; ad Ephes. 7; e Policarpo, ad Phil. 7; e
logo apÛs por Clemente, de Alexandria, Strom., 7 e Teodoreto, Haeret. Fab., 5. Modernamente volta a
pretender insinuar-se entre espiritualistas essa teoria esdr˙xulo, que contraria os pontos b·sicos do
prÛprio Espiritualismo que sÛ admite um PrincÌpio Criador, o do Bem, e que sabe que a matÈria (a
carne) È t„o nobre, pura e santa quanto o espÌrito, pois È apenas a condensaÁ„o do espÌrito; e sabe
que todas as criaÁıes divinas s„o perfeitas, inclusive a matÈria.
O velho pescador saltou do barco, sob o olhar horrorizado dos companheiros, sem pesar as consequências, e lá foi cambaleante, a equilibrar-se sobre os vagalhões ferozes; mas quando, ao chegar já perto
do Mestre Querido, se dá conta do vento violento, fica com medo. Ora, o medo é justamente a falta de
fé, a perda da confiança.. E sem fé, nada é possível construir nem realizar: ele começa a afundar e grita
apavorado por "socorro"! Jesus repreende-o suavemente (mais uma vez O entrevemos a sorrir ...): "ó
pequena fé, por que duvidaste"? E segurou-o pela mão.
Voltaram os dois a caminhar sobre as águas, e os demais discípulos quiseram que Jesus entrasse no
barco, em vez de continuar a caminhar pelo lago até a margem.
Entraram ambos, e o vento cessou. Os discípulos estavam atônitos, sem poder explicar tantas coisas
estranhas que haviam acontecido naquele dia, pois nem sequer tinham compreendido a "multiplicação
dos pães" ali, entre as mãos deles ... Então chegam a uma conclusão irrefutável: "verdadeiramente és
um filho de Deus"!
O texto grego está sem artigo. Não é, pois, uma confissão da Divindade de Jesus, como pretendem
alguns. Temos que compreender a mentalidade e a psicologia dos israelitas, sobretudo naquela época:
rigidamente monoteístas, não podiam jamais cogitar de outro Deus além do único Deus, a quem Jesus
chamava "O PAI", repetindo exaustivamente que era "o único Deus”. Entretanto, eles sabiam que havia os "filhos de mulher" (homens sujeitos ao "kyklos an·nke" ou ciclo fatal das encarnações por meio
da mulher) e os "filhos do homem” (criaturas que já se haviam libertado da evolução na etapa humana), mas havia também os "filhos de Deus" (seres excepcionais acima de qualquer classificação que
não fosse a comparação de "ligados à Divindade", os seres (que hoje chamaríamos "avatares") em que
Se manifesta a Divindade, os Cristos ou Buddhas.
Como já se achavam perto da praia, chegaram "logo" à planície de Genesaré (hoje denominada elGhoueir) que mede 6 km de comprimento por 3 de largura, na margem ocidental, exatamente entre
Ain-Tabgha e el-Medjdel (onde devia estar situada a aldeia de Betsaida da Galiléia, bem perto de
Cafarnaum. Daí a aparente contradição dos textos: Betsaida (Marc. 6:45) Genesaré (Mat. 14:34 e
Marc. 6:53) e Cafarnaum (João, 6:17). Referem-se todos eles à mesma região, uma área reduzida, com
pequenas aldeolas e cidades. Uns falam genericamente (Cafarnaum), outros dão maior precisão (Genesaré, para dizer que não desembarcaram na cidade de Cafarnaum) mas Jesus quando lhes antecipa o
local de desembarque, dá ainda maior exatidão (Betsaida).
Ocorre, muitas vezes, que a individualidade percebe a luta tit‚nica e inglÛria dos veÌculos, no oceano
do mundo, aÁoitados pelo vento borrascoso das emoÁıes descontroladas. Mas n„o atende logo, porque sabe que È necess·rio aprender a domin·-las por si mesmos. No momento oportuno, vai aproximando-se levemente, por cima das vagas altas e violentas, inatingido pelas ondas e pelo furac„o,
tranquilo em sua serenidade infinita.
Todos os grandes mÌsticos que obtiveram o Encontro Sublime, a IluminaÁ„o da alma, experimentaram
antes a terrÌvel "Noite Escura da Alma" os momentos cruciais das "Trevas Espessas" (cfr. Kempis,
Henrique de Suso, Mestre Eckhart, Jo„o da Cruz, Teresa de £vila, Ruysbroeck, Catarina de Siena,
¬ngela de Foligno, Francisco de Sales, Madame Guyon, etc. Ver o excelente estudo de Evelyn Undershill, "Mysticism", The Noonday Press, N.Y., 1955, 2.™ parte, cap. 9: "The Dark Night of the Soul",
p·gs. 380 a 412).
Quando, apÛs esse perÌodo de secura espiritual, vemos aproximar-se a figura imaterial do Cristo Interno, assustamo-nos horrorizados, temendo seja mais uma ilus„o (fantasma) de nossa mente, alguma
criaÁ„o mental nossa que n„o venha desviar da meta t„o arduamente perseguida. E gritamos apavorados, encolhendo-nos no mais recÙndito desv„o de nÛs mesmos.
A felicidade sÛ comeÁa a fazer-se sentir, quando identificamos a voz suave e inconfundÌvel do Amado
de nossa alma.
E quantas vezes atiramo-nos afoitamente aos vagalhıes enfurecidos, para mais depressa abraÁarmos
o Ser Inef·vel que È nosso Cristo Interno! Mas, no meio da viagem, quase a alcanÁar o porto seguro,
frequentemente assalta-nos a d˙vida, e sentimo-nos submergir mais uma vez, derrubados pela ventania infrene que ulula em torno de nÛs, apanhados e rodopiados pelas ondas revoltas que nos turbilhonam, arrastando-nos ao abismo ...
… quando gritamos novamente por socorro. E a m„o, sempre terna, do Amigo Incondicional, se estende, sustentando-nos acima das vagas enraivecidas.
Uma vez firmes e seguros de nossos passos, tendo em nossa m„o a m„o firme do Cristo, vemos que os
veÌculos reclamam para si a honra de carregar a Individualidade. Logo que esta penetra em nÛs mesmos, isto È, logo que conseguimos unir-nos a ela que j· reside em nÛs, cessa o vento, o mar se abranda, e imediatamente chegamos ao porto de destino aliviados e consolados (Cafarnaum = cidade do
Consolador).
Quantas vezes se repetem essas cenas, e depois de cada uma acreditamo-nos definitivamente imunes
de outros vendavais ... Mas eles voltam, e cada vez com, parece-nos, uma violÍncia maior, mais assustadora ...
Nos momentos do Encontro, ao sentirmo-nos envolvidos pela suavidade da Paz do Cristo, reconhecemos que verdadeiramente "Ele È um filho de Deus", ou seja, uma partÌcula da Divindade que vive em
nÛs e nos sustenta, sempre Amoroso e Terno, sempre Compassivo e Benevolente.
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