Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

4 AFIRMAÇÕES PARA UM SUICIDA EM POTENCIAL (III)


SUICÍDIO: 4 AFIRMAÇÕES PARA UM SUICIDA EM POTENCIAL (III)

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"Quando nossa vida é um mal para nós mesmos e não é um bem para ninguém, é permitido que dela nos livremos"(JJRousseau, "Nouvelle Heloise")
3-Você está se sentindo um peso na vida das pessoas que ama (ou que já sentiu amar) e quer livrá-las desse peso. Acha que elas estarão melhor sem v., mas isso não é uma verdade. Faria tanto bem a todos que vs---pois todos os mais próximos estão nessa situação e não apenas o suicida em potencial---conseguissem superar esse momento mais difícil! V. tem dúvidas quanto à sua importância na vida dessas pessoas? Eu não tenho, ainda que todos o neguem.
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É bem verdade que tende a haver uma grande e mútua hostilidade nas relações dos suicidas em potencial com as pessoas mais próximas. O sentimento de exclusão e, em muitos casos, o desejo de punição das pessoas amadas (através do suicídio) é também uma constante. Não o desconhecemos, mas nosso papel é, sem negar essa evidência---até porque tudo isso costuma ser muito evidente---dar mais valor, assinalar e frisar a outra face desses terríveis ressentimentos. Por isso, foi tão apropriada denominação: "Sobreviventes do Suicídio" aplicada por um grupo de pesquisadores brasileiros aos parentes e/ou amigos muito próximos de um suicida. Nesses casos, todos morreram um pouco com aquela morte e, por um bom tempo talvez apenas sobrevivam, torturando-se p ermanentemente.
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As situações mais difíceis que enfrentamos foram aquelas nas quais podia-se perceber um discurso generalizado---denunciado por expressões diversas---de que todos os envolvidos sentiam ser o suicídio a única solução para alguns dramas que atingiam todos à volta. É um sentimento natural, especialmente em situações que se arrastam há longo tempo. Há que estimular sua verbalização, ainda que se disparem reações hostis de um ou outro lado (do próprio e/ou familiares). É um engano achar que o falar em sentimentos eleva os riscos. Há no suicídio uma componente importante daquilo que os psicanalistas chamaram ATUAÇÃO, conceito que implica transformar em condutas (em geral de risco) conflitos inconscientes sentidos como de impossível concientização e verbalização. Conseguir que se os verbalizem pode mudar o curso de muitas dessas situações. Quem, em nossa área, não acredita n o poder da palavra deveria considerar mudar de atividade:
"Uma boa palavra, rapaz/É assim que um homem faz..." (C. Velloso)
Mas o que seria, então, uma BOA PALAVRA? Adulações adocicadas? Decididamente elas não funcionam para com pessoas que chegaram àquele tipo de situação. Boa palavra é aquela que se encontra profundamente com um sentimento e que o expressa na sua plenitude*. Essa é a razão pela qual até um "palavrão" poderia ser considerado, em certas circunstâncias, uma boa palavra: todo sentimento precisa encontrar as suas palavras e nós que aprendamos a lidar com eles. Qualquer coisa contrária a isso seria uma defesa da alexitimia**.
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Sem qualquer dúvida é a certeza da nossa importância na vida dos semelhantes que mantém a nossa própria vida, embora alguns transfiram esse sentimento para animais de estimação. Se o instinto individual de sobrevivência fosse o mais poderoso, o suicídio seria um contrassenso. O instinto gregário é muito mais forte e seu colapso ameaça agudamente a sobrevivência individual. Há relatos de biólogos acerca de golfinhos adoentados que, quando se tornam um estorvo para o seu grupo---uma vez que os outros são obrigados a se revezar para mantê-lo à flor da água---atiram-se sobre pedras. Até mesmo a lenda do "cemitério de elefantes" estaria baseada nesse aparente fato: quando um elemento doente sente ter se tornado um problema (dificultando a migração obrigatória), afasta-se para morrer sozinho.
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Dessa forma, e contrariamente ao que parece, todo suicídio seria associado a algum altruísmo. Queiram ou não, fazemos parte de uma imensa comunidade humana com a qual temos algum compromisso. Nesse sentido, o trabalho costuma ser seu aspecto mais palpável. A elevação das taxas de suicídio entre pessoas mais idosas e aposentadas (especialmente em sociedades muito competitivas, onde as pessoas são tratadas como meras peças de uma engrenagem e não como pertencentes a uma cultura) teria uma forte relação com esse fato.
Estamos conscientes de que essas palavras podem até "glamourizar" o suicídio.
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"Aquilo que não me destrói me fortalece" (Nietzsche)
"A dificuldade pode ser o trampolim do forte ou a pedra do túmulo do fraco" (Balzac)
4- Esse momento em que v. tem a sensação de que todos os caminhos se fecharam; de que desceu como que um manto de sombra sobre a sua vida, para a qual não vê qualquer perspectiva, pode e deverá passar. Muitas pessoas que produziram obras de valor para a humanidade passaram por situação de quase suicídio e somente depois disso sua obra atingiu maior grandeza: L.Tostói, que mandou que se escondessem todas as cordas e afastassem as armas de fogo quando sua esposa engravidou de seu primeiro filho; A. Kurosawa, que teria feito uma tentativa logo após o fracasso do seu "Dodeskaden" (1970); JW Goethe, no período de seu "Wether"; o violinista Y. Heifetz, após uma crítica demolidora teria também pensado em se matar, e tantos outros. Valorize esse momento! Talvez nele esteja concentrado também o que v. tem de melhor. Para morrer, sempre haverá tempo. Evitemos, o mais possí vel, esse caminho sem volta.
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Ninguém está livre de sentir que algumas vidas entraram em uma espécie de "beco sem saída". Nós, entretanto, não temos o direito de dar curso a essa idéia/sentimento. Precisamos criticá-la duramente. Há nisso: um julgamento precipitado, a partir de uma situação cujos meandros mais profundos desconhecemos; uma onipotência um tanto tola, pois partimos do princípio de que sabemos e dominamos as condições necessárias para a preservação da vida; uma explicação forçada para aliviar nosso próprio fracasso; além da não crença na capacidade da própria vida de se recontruir, até mesmo quando menos se espera. Ninguém o demonstrou de maneira tão profunda quanto os grandes russos: F. Dostoiévski na maioria de suas obras, especialmente em "Crime e Castigo" e L. Tolstói em "Ressurreição" e outros. É bem verdade, porém, que vários de seus personagens cometeram o suicídio.
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Conclusão em outro texto.
*Muito se escreveu a respeito da relação entre "as palavras e as coisas" e da maneira como os seres humanos como que asreificam, tomando-as pelas coisas em si. Gastamos muito tempo falando do mundo concreto que nos cerca, e esquecemo-nos de uma outra relação, muito mais íntima e direta das palavras: com os nossos sentimentos e as situações sociais por nós vividas. Com uma enorme frequência, as palavras têm sido usadas mais para esconder nossos sentimentos do que para sua revelação. Toda a educação ocidental tem sido dirigida para que escondamos e disfarcemos nossos sentimentos. Quando, aparentemente por engano (ato falho), expressamos um sentimento mais profundo e "inconveniente" em uma situação qualquer, dizemos que "fomos traídos" pelas palavras. Talvez grande parte de nosso mal estar social e pessoal resida no esforço p ara que nossas áreas "muito racionais" do HEsquerdo escamoteiem o que se passa no HDireito.
**Significa, quase literalmente: "sem palavras para os sentimentos". É termo híbrido (mistura grego e latim), mas, apesar disso, é de muita propriedade.

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