Estudando o Espiritismo

Observe os links ao lado. Eles podem ter artigos com o mesmo tema que você está pesquisando.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Espiritismo e Ciência


Kardec não entende o Espiritismo como de competência da Ciência vigente no século XIX. Por ser materialista a abordagem científica e pelos métodos de pesquisa que procuravam as leis do elemento material, a Ciência, de então, enquanto método de pesquisa e pelos objectos de estudo que elegeu, colocava-se, em sua própria constituição, à distância do estudo do elemento espiritual, relegando-o ao campo do sobrenatural.

Afirmando que:

"Desde que a Ciência sai da observação material dos factos, em se tratando de os apreciar e explicar, o campo está aberto às conjecturas."

Kardec conclui:

"As ciências ordinárias assentam nas propriedades da matéria, que se pode experimentar e manipular livremente; os fenómenos espíritas repousam na acção de inteligências dotadas de vontade própria e que nos provam a cada instante não se acharem subordinadas aos nossos caprichos. As observações não podem, portanto, serem feitas da mesma forma; requerem condições especiais e outro ponto de partida. Querer submetê-las aos processos comuns de investigação é estabelecer analogias que não existem. A Ciência propriamente dita, é, pois, como ciência 49, incompetente para se pronunciar na questão do Espiritismo: não tem que se ocupar com isso e qualquer que seja o seu julgamento, favorável ou não, nenhum peso poderá ter. O Espiritismo é o resultado de uma convicção pessoal, que os sábios, podem adquirir, abstracção feita da qualidade de sábios. Pretender deferir a questão à Ciência equivaleria a querer que a existência ou não da alma fosse decidida por uma assembleia de físicos ou de astrónomos. Com efeito, o Espiritismo está todo na existência da alma e no seu estado depois da morte. (...) Vedes, portanto, que o Espiritismo não é da alçada da ciência." 50 ( grifos nossos)

E, por fim, complementa:

"(...) desde que se trata de uma manifestação que se produz com exclusão das leis da Humanidade, ela escapa à competência da ciência material, visto que não pode explicar-se por algarismos, nem por uma força mecânica." 51 (grifos nossos)

Nossa primeira observação a respeito desse trecho é o sentido das palavras Ciência, com "C" maiúsculo e ciência com "c" minúsculo. Pelo contexto em que ele vem utilizando esses termos, poderíamos substituir ciência com "c" minúsculo por método utilizado e então a expressão torna-se mais clara e possibilita melhor entendimento das seguintes palavras contidas em "A Génese" sobre o Espiritismo e a Ciência.

"O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente; a Ciência, sem o Espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenómenos só pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam o apoio e a comprovação." 52" - Kardec ( grifos originais)

E prossegue:

“Pela sua substância, (o Espiritismo) alia-se à Ciência que, sendo a exposição das leis da Natureza, com relação a certa ordem de factos, não pode ser contrária às leis de Deus, autor daquelas leis. (...) ”

Vemos então que a reserva colocada por Kardec ao estudo dos factos "espíritas" por parte da Ciência trata-se de uma coerência com os objectos e métodos desta própria ciência, que se auto restringiu à pesquisa dos objectos materiais e das leis que os regem, os quais são passíveis de explicação por algarismos e forças mecânicas. Os factos que se apresentavam não se enquadravam nesta ordem de fenómenos, daí a afirmação de Kardec de que o Espiritismo não era da alçada da ciência, de então, enquanto enfoque metodológico.

Entretanto, a restrição não se faz de maneira absoluta. Kardec pôde perceber que o Espiritismo estudava uma potência da Natureza, o Espírito, e que, portanto, não poderia seguir um caminho isolado. Sabia que o elemento espiritual não actuava sozinho e reconhecia que alguns tópicos estudados pelo Espiritismo, necessariamente seriam abordados pelas demais ciências. Daí a suas criteriosas observações a respeito dos pontos de contactos entre o Espiritismo e as outras ciências:

"Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrasse estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará." 53

Essas percepções acerca do Espiritismo deixam bem caracterizada a posição de Kardec com relação à estrutura do conhecimento espírita, que não é de modo algum fechado em si mesmo. Ele entendia o Espiritismo como uma representação de nossas actuais percepções acerca de uma determinada ordem de factos - os espirituais; e propunha que esta representação não fosse estática, mas continuamente actualizável como o resto do conhecimento científico.

Cabe ressaltar que a representação dos fenómenos espirituais colocada pelo Espiritismo possui como fundamento a observação de factos e a experimentação segundo as técnicas permitidas pela tecnologia vigente. Desse modo, foi na observação dos factos que o Espiritismo fundamentou sua metodologia de conhecimento.

Observemos, novamente, as palavras de Kardec a respeito do método experimental:

"As ciências só fizeram progressos importantes depois que seus estudos se basearam sobre o método experimental, até então, acreditou-se que esse método também só era aplicável à matéria, ao passo que o é também às coisas metafísicas." 54

E com relação ao Espiritismo, ele destaca:

"Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exactamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental. Factos novos se apresentam que não puderam ser explicados pelas leis conhecidas; ele (o Espiritismo) os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega às leis que os rege; depois deduz-lhe as consequências e busca as aplicações úteis." 55 (grifos nossos)

Afirmando categoricamente 56 que não são os factos que vêm a posteriori confirmar a teoria, mas a teoria é que vem subsequentemente explicar e resumir os factos, Kardec acrescenta:

"O Espiritismo, pois, não estabelece como princípio absoluto senão o que se acha evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da observação." 57

Essa posição levou o Espiritismo a uma situação de vanguarda na pesquisa dos fenómenos espirituais.

49 - Observe-se que Kardec faz uma distinção entre a Ciência - propriamente dita - com C maiúsculo e ciência com c minúsculo.
50 - KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. FEB. 56ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pgs. 28 e 29
51 - Idem . pg. 30
52 - KARDEC, Allan - A Génese. FEB 24ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pg. 21
53 - KARDEC, Allan - A Génese. FEB 24ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pgs 44 e 45.
54 - Kardec, Allan - A Génese. FEB 24ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pg. 20
55 - Kardec, Allan - A Génese. FEB 24ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pg. 20
56 - in A Génese, cap. 1 item 14.FEB 24ª ed. Rio de Janeiro. 1982
57 - KARDEC, Allan - A Génese. FEB 24ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pg. 44
58 - LAKATOS, Eva Maria e Marina de Andrade Marconi - Metodologia Científica. cap.1.pg.41. Ed.Atlas.1ªed. São Paulo. 1985

André Henrique, A revolução do Espírito - Perspectivas da ciência espírita. Natal-Brasil, 2000, pg.18

Nenhum comentário:

Postar um comentário