Estudando o Espiritismo

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domingo, 12 de dezembro de 2010

Espiritismo e Ciência - O que é Ciência

CONCEITO

 Há um grande desconhecimento, mesmo no seio da comunidade cientifica, do que seja realmente Ciência. O conceito de ciência foi sendo refinado ao longo do tempo a partir do século XVII, quando começou a surgir o que hoje se entende por ciência, e a grande maioria dos membros da comunidade cientifica ainda se encontra apegado a conceitos inteiramente ultrapassados pelas modernas pesquisas da Historia da Ciência e da Filosofia da Ciência.


 A PALAVRA CIÊNCIA E SEUS SIGNIFICADOS

Passemos agora a um outro tópico: os significados da palavra "Ciência". Vários são os sentidos que esta palavra pode ter, obviamente relacionados entre si. "Ciência" significa conhecimento, sendo usada com significado geral ("o fruto da árvore da ciência do bem e do mal") ou restrito ("a ciência de fazer papagaios de papel"). Significa um determinado tipo de conhecimento já consagrado como tal, como a Física, a Química, a Biologia, etc. Significa a atividade através da qual se obtém este conhecimento ("fazer ciência" = realizar uma determinada atividade científica). Significa também o conjunto de pessoas empenhadas na atividade científica: "a comunidade científica". Quando se diz que a "ciência aceita a tese de que há outros mundos também habitados", está se querendo dizer que a comunidade dos cientistas (ou parte dela) aceita esta tese, pois obviamente não há ainda um estudo científico, no sentido convencional do termo, sobre outros mundos habitados.

Nem sempre porém a comunidade científica é homogênea e coesa. os cientistas são pessoas que em suas atividades profissionais buscam objetividade, precisão, rigor lógico, etc., porém fora dessas atividades são pessoas comuns, com todas idiossincrasias, prenoções e preconceitos do vulgo. Kardec já comenta isto na Introdução de O Livro dos Espíritos e em O que é o Espiritismo. Bertrand Russell, conhecido filósofo do século XX, menciona em um de seus textos (A perspetiva Científica, trad. J. B. Ramos, Cia. Ed. Nacional. 1956):

“Se algum de vossos amigos for um cientista, acostumado a maior precisão quantitativa em suas experiências, e que possua a mais recôndita capacidade de inferir, podereis sujeitá-lo a pequena experiência sem dúvida significativa. Caso escolherdes em palestra como assunto política, teologia, impostos sobre a renda, corretagem, a vaidade das classes trabalhadoras e outros tópicos de natureza semelhante, provocareis sem dúvida uma explosão e ireis escutá-lo expressar opiniões que não forram verificadas, com um dogmatismo que nunca poderia expressar com relação a resultados que fossem fundados em suas pesquisas de laboratório.”

CIÊNCIA E MÉTODO CIENTÍFICO

Talvez a maneira mais sucinta de caracterizar o conhecimento científico é descrever como ele estuda e não o que ele estuda. A ciência poderia em principio estudar qualquer coisa: A estrutura do átomo, a origem do universo, a existência do mundo espiritual, o processo pelo qual aprendemos uma língua, etc. Em tese todas as “ciências” , as naturais ou sociais, deveriam usar o mesmo método, embora possam lançar mão de técnicas diferentes.

Um método pode ser definido como uma série de regras para tentar resolver um problema. No caso do método científico, estas regras são bem gerais. Há um método para testar criticamente e selecionar as melhores hipóteses e é nesse sentido que podemos questionar se há um método científico.

O Mito da Observação Pura – O EMPIRISMO


Segundo essa corrente filosófica, representada por Francis Bacon (1561), Jonh Lock  (1632) e David Hume (1711), nascemos com um cérebro “vazio”, que recolhe passivamente as informações recebidas pelos órgãos dos sentidos, isto é, todo conhecimento provém das experiências sensoriais. Outros conhecimentos podem ser elaborados internamente através de associações, porém esse novo conhecimento seria menos seguro, pois não provém da experiência diretamente.
Posteriormente, o filosofo Bertrand Russel (1872-1970) sugeriu que a partir de nossas sensações ou experiências mais elementares- poderíamos com o auxilio da lógica, construir o conhecimento cientifico. A partir dessa idéia surgiu o movimento conhecido como positivismo lógico. Seguiram assim com o pensamento indutivista de Hume, declarando que as sentenças que não puderem ser verificadas empiricamente estão fora da fronteira do conhecimento, e  devem ser discutidas pela ciência, questões metafísicas como a existência de Deus, a natureza dos conceitos universais (tempo, espaço, etc) e a essência das coisas, etc.
A primeira critica as idéias acima foi estabelecida por Imanuel Kant (1724-1804). Para ele os conceitos de tempo e espaço não dependiam da experiência pessoal (conhecimento a priori) e o conhecimento sintético (como a geometria euclidiana) eram os únicos conhecimentos seguros. Todos os demais conhecimentos poderiam ser falhos por depender da percepcao- pessoal sobre fenômenos externos. Atualmente os principais filósofos não concordam com Kant no que diz respeito ao seu método - O argumento transcendental, extremamente complexo e subjetivo.

O FALSEONISMO


Mais recentemente o filosofo  alemão Karl Popper, diz concordar com as criticas a Hume (indutivismo) de que por maior que seja o numero de repetições de certos eventos, não temos justificativa para acreditar que eles ocorrerão no futuro. Popper afirma que já que não se pode confirmar uma hipótese ou uma lei geral, poderíamos tentar refutá-la pela experiência e repetição. O critério da refutabilidade (falseonismo)  torna possível através de argumentos lógicos a nossa preferência por uma teoria em vez de outra. A partir dai a comunidade acadêmica considera que somente as teorias que de alguma forma possa ser testada objetivamente, como sendo uma teoria genuinamente cientifica. Áreas do conhecimento como astrologia, parapsicologia, marxismo, espiritismo, por exemplo são consideradas quando muito como pseudo-ciências.

Modernamente surgiram criticas ao falseonismo, os principais filósofos que se destacaram foram Tomhas Kuhn (1922) e Inre Lakatos.

OS PARADIGMAS – Ciência Normal x Ciência Extraordinária


Nas idéias de Kuhn o conceito de “paradigma” é fundamental. Paradigmas são realizações científicas que servem de modelo para toda a pesquisa, determinando que tipos de leis e teorias são válidos, que tipos de dados são pertinentes, que problemas serão investigados, que tipo de soluções serão propostas e até mesmo como os fenômenos podem ser percebidos. De certa forma o paradigma, em uma certa época funciona como uma “visão de mundo“, influenciando e de certa forma controlando toda a pesquisa científica. A “ciência” que se faz dentro desses limites é chamada de ciência normal.
Quando muitas anomalias se acumulam sem ser explicadas pelas teorias do Paradigma atual, este começa a ser questionado, surgindo então uma nova forma de fazer ciência, diferente da ciência normal: A ciência extraordinária ou revolucionária.  Quando um novo paradigma é finalmente aceito, a ciência passa para um  período normal: Livros são reescritos, currículos são reformulados, etc..

LAKATOS E OS PROGRAMAS DE PESQUISA CIENTÍFICA


Contrariando Popper,  Lakatos defendeu a idéia de que “são exatamente as teorias científicas mais admiradas que simplesmente falham em proibir qualquer estado observável de coisas”, ou seja, as teorias científicas seriam irrefutáveis. Portanto o critério de refutabilidade seria no mínimo insuficiente para determinar a cientificidade de uma teoria.

Lakatos afirma que um programa de pesquisa científica deve ter um núcleo principal rígido com os princípios da teoria, e um cinturão de hipóteses protetoras que podem sofrer adaptações/ no decorrer do desenvolvimento da ciência. Esse conjunto de preposições devem ser coerentes entre si e devem poder prever fatos novos, além de apresentar desenvolvimentos significativos no programa de pesquisa e em suas teorias.
O  núcleo  rígido  (hard   core)  de  um  programa   e  aquilo  que essencialmente o identifica  e caracteriza,  constituindo-se de uma ou mais hipóteses teóricas. Eis alguns exemplos. O núcleo rígido da cosmologia aristotélica  inclui,  entre  outras,  as  hipóteses  da finitude e esfericidade do Universo, a impossibilidade do vazio, os movimentos naturais,  a incorruptibilidade  dos céus.  O  núcleo da astronomia copernicaniana consiste das  assunções de que  a Terra gira sobre si mesma em um dia  e em torno do Sol em  um ano, e de que os demais planetas também  orbitam o Sol.  O da  mecânica newtoniana é formado das três leis dinâmicas e da lei da gravitação universal. O da teoria especial da relatividade, o principio da relatividade e a constância da velocidade da luz; o da teoria da evolução de Darwin-Wallace, o mecanismo da seleção natural. Por "uma decisão metodológica de seus protagonistas" (Lakatos 1970, p. 133), o núcleo  rígido de um programa  de pesquisa é "decretado" não-refutável. Possíveis discrepancias com  os resultados empíricos são eliminadas pela modificação das hipóteses do cinturão protetor.

     Como podemos  notar  da  citação acima,  os  modernos  conceitos de ciência, mais realistas, deixam transparecer   o caráter claramente humano da ciência, que  passa a ser  então vista como  um fruto das convicções de um grupo social (que "decreta" que o núcleo rígido de seu programa de pesquisa é não-refutável), com todo o seu conteúdo de crenças  e  des-crencas  e,  portanto,  de  subjetivismo. Enfim, assume-se claramente  a  realidade  de  que  não  existe  um método 100%  "objetivo e seguro" de se fazer ciência.


 O  MÉTODO CIENTÍFICO


A FILOSOFIA DO MÉTODO

O homem  é um animal curioso e inteligente, sente a necessidade de resolver problemas  e explicar fenômenos. Tem sede de saber e compreender a si próprio. A ciência é uma forma de conhecer  o mundo, de tentar conhecer mais, de desvendar os mistérios da natureza. Não é o único caminho para tentar captar a realidade e se por um lado, podemos estabelecer alguns critérios  práticos utilizado em nosso dia–a-dia  o chamado senso comum por um outro lado, há também muito em comum entre essa diversas formas de tentar compreender o mundo.
O que melhor caracteriza o conhecimento científico não é o que ele estuda, mas como estuda. A ciência pode ou poderia estudar desde a estrutura do átomo até o processo de aprendizado de uma língua. Portanto não é o objeto de estudo que é importante, mas a forma. O método pelo qual estudo este objeto.                                                                                                            
Podemos discutir se há unidade de métodos nas diversas ciências; matemática e lógica, possuem certas características  próprias diferentes das demais ciências. Também é discutível, se as ciências humanas sociais como sociologia  a psicologia, valem-se do mesmo método, embora possa lançar mão de técnica diferente.

CARACTERÍSTICAS

É oportuno apresentar aqui as características do método científico, que também se aplica ao mesmo tempo ao método, filosófico com pequenas restrições, por se tratar de objeto não material. São as seguintes características básicas da ciências e do método científico, tomando como referência principalmente as idéias de Karl Popper e o seu Falseonismo, do qual faremos uma revisão no próximo roteiro:

a)    O conhecimento cientifico é conjectural: não há veredas inquestionáveis – qualquer teoria pode vir a ser refutada  e substituída por outra melhor.
b)    A atividade científica começa a partir de um problema , e não de observações puras ou coletas de dados. O problema, por sua vez, nasce de lacunas ou falhas em uma teoria prévia (ou expectativas , hipóteses ,etc.).
c)    Para resolvermos um problema formulamos hipóteses .As hipóteses e teorias guiam nossas  observações e nossos testes, ou seja, nossas tentativas de refutá-las.

d)    Se a hipótese, lei ou teoria resistir ao teste, ela será aceita, provisoriamente, como possivelmente verdadeira – mas jamais poderá ser definitivamente comprovada, nem sua probabilidade aumentará  com a repetição do experimento.
e)    Uma hipótese será considerada científica se for possível imaginar uma situação que a refute, uma vez que as hipóteses e as teorias  científicas –embora não sejam logicamente refutáveis. Entretanto a  decisão de aceitar ou não uma refutação é sempre conjetural.
f)     O aprendizado científico ocorre por ensaio e erro e não por indução: testamos e criticamos nossas hipóteses, substituindo-as por outras melhores em caso de refutação. A nova hipótese gera novos problemas e, dessa forma, o conhecimento científico progride.
g)    Nas explicações científicas, utilizamos, além das condições iniciais, leis gerais que afirmam em que condições os fenômenos devem ocorrer  e que podem ter tanto um caráter causal como um caráter probabilístico.
h)   As teorias se valem de modelos e procuram refletir, de forma parcial, simplificada e hipotética, aquilo que ocorre na natureza. Uma teoria deve ser logicamente coerente e compatível com outras teorias científicas.
i)     Quanto mais geral, profunda, simples  e preciso for uma hipótese, lei ou teoria, mais acontecimentos ela proíbe, maior seu conteúdo empírico, sua testabilidade, sua refutabilidade  é menor que sua probabilidade inicial. Logo, maior a chance de nosso conhecimento avançar. Por isso, não devemos fugir á refutação  através de hipóteses ad hoc que diminuam o conteúdo empírico e a refutabilidade de uma hipótese ou teoria.
j)      Quanto mas rigoroso for um teste, maior a chance  de refutarmos uma hipótese. Por isso, devemos nos valer de experiências controladas e de medidas. Além disso,as experiências controladas – juntamente  com a possibilidade  de repetição do experimento por outro pesquisador – contribuem para a objetividade científica.
k)    Hipóteses ou leis probabilísticas podem ser testadas  se admitirmos que elas excluem eventos  altamente improváveis. Se um evento desse tipo ocorrer , consideraremos a hipótese ou lei em questão, refutada.
l)     Correlações estatísticas não indicam necessariamente causas. Somente uma teoria representacional, valendo-se de conceitos não observáveis, pode fornecer um apoio mais profundo para leis fenomenológicas e generalizações empíricas.
m)  Se uma teoria entrar em conflito com os resultados de um teste , o ”culpado” pela  contradição pode se encontrar  tanto entre os princípios fundamentais da teoria, como entre as hipóteses adicionais  ou entre as teorias auxiliares , utilizados para estabelecer as condições iniciais e construir o experimento . Para encontrá-los teremos  de nos valer de teste independentes e, se não for possível descobrir o culpado através deles, teremos de esperar que uma nova teoria explique os resultados obtidos.
n)   Quando mais impossível – á luz das teorias aceitas – for uma previsão, mais severamente ela poderá ser testada, e maior será o grau de corroboração  atingido pela hipótese ou teoria se suas previsões  se confirmarem.
o)    Uma nova teoria será melhor que uma teoria antiga de for capaz de explicar tudo que esta já explicava e, além disso ,prever fatos novos, formular previsões mais precisas – corrigindo as previsões anteriores – refutar algumas dessas previsões e ainda estabelecer os limites dentro dos quais a teoria antiga poderá ser utilizada na prática. Para que o nosso conhecimento progrida, também é necessário que a nova teoria seja corroborada .
p)    Embora o grau de corroboração não nos diga nada sobre o desempenho futuro de uma teoria, o mais racional é escolher a teoria mais corroborada uma vez que ela é, também, a teoria que melhor resistiu ás críticas, - pois a atitude racional é, essencialmente, uma atitude crítica . No entanto, é  discutível afirmar que as teorias mais corroboradas são também as de maior verossimilitude, isto é, as que mais se aproximam da verdade. Apesar disso, devemos buscar teorias cada vez mais amplas, precisas, profundas e possivelmente verdadeiras (no sentido de que resistiram, até o momento, a severas tentativas de refutação).
q)    Se abdicarmos da discussão crítica, das idéias de objetividade, verdade, refutabilidade, etc.. estaremos não apenas impedindo o progresso do conhecimento, mas também estimulando decisões dogmáticas e arbitrárias, baseadas no uso da força e da autoridade.
r)     Para que um conhecimento seja considerado científico, ele deve ser considerado conjectural, procurando-se criticar suas idéias através de argumentos lógicos e procurado refutar suas hipóteses através de testes severos.
s)    Devido a ausência de testes controlados, a busca de leis gerais precisas e profundas ,e ao emprego reduzido da lógica , o conhecimento comum é eficaz apenas dentro de certos limites, possuindo um nível crítico inferior ao do conhecimento científico.
t)     As pseudociências caracterizam-se pelo uso pouco freqüente do método crítico, tendo, portanto, um caráter estático e dogmático. Uma vez que seus seguidores, não raros, acham que descobriram a verdade, elas não se modificam muito ao longo do tempo , tornando-se, consequentemente, impermeáveis a críticas.                                                                  
DIVISÃO EPISTEMOLÓGICA

Uma distinção  importante  no  estudo  “epistemológico”  das teorias cientificas, e  que nos  será útil  no  restante deste  trabalho, e aquela entre  teorias "construtivas"  e  teorias "fenomenológicas". Essa distinção diz respeito a natureza das proposições da teoria, e consequentemente  ao  tipo  de  explicação  que  fornecem  para  os fenômenos.

TEORIAS FENOMENOLÓGICAS:

Classificam-se como  tais as teorias cujas proposições se refiram  "exclusivamente" a  propriedades e relações empiricamente acessíveis  entre os  fenômenos  ("Fenômeno": aquilo que aparece aos sentidos). Essas  proposições descrevem, conectam e integram  os  fenômenos,  permitindo  a  dedução  de  conseqüências empiricamente  observáveis. Exemplos importantes   de   teorias fenomenológicas são  a  termodinâmica,  a  teoria  da  relatividade especial e a teoria da seleção natural de Darwin-Wallace.


TEORIAS CONSTRUTIVAS:

Em contraste  com as teorias fenomenológicas, as teorias construtivas envolvem proposições referentes a entidades e processos inacessíveis  a observação  direta, que  são postulados com o objetivo de explicar os fenômenos através de sua "construção" a partir dessa suposta  estrutura fundamental subjacente. Exemplos característicos desse  tipo de  teoria são  a mecânica  quântica, a mecânica estatística,  o eletromagnetismo,  a genética  molecular e grande parte das teorias químicas.
E importante observar que essas duas categorias de teoria não são conflitantes, no sentido de que e possível que um mesmo conjunto de fenômenos seja tratado por duas teorias, uma fenomenológica e outra construtiva; nesse caso,  a ultima  vai alem  da primeira  no nível explicativo, desse  modo complementando-a.  Há de  tal  situação um exemplo notável na  física, que  e a coexistência  da termodinâmica com a mecânica estatística."
                                                     

 

CONCLUSÃO


A ciência não é uma coleção  de fatos e teorias definitivamente estabelecidas, mas um conhecimento racional – porque crítico-, conjectural, provisório ,sempre capaz de ser questionado e corrigido.A ciência  não é uma representação completa e perfeita de fenômenos diretamente observáveis , mas uma reconstrução idealizada e parcial da realidade, que explica o visível pelo invisível.
O cientista não realiza uma observação pura e imparcial dos fatos, mas uma observação guiada por hipóteses e teorias .O  cientista não descobre nem verifica hipóteses por procedimentos indutivos, mas inventa  conjecturas ousadas, surgida de sua imaginação, que serão testadas o mais severamente possível, através de tentativas de refutação que façam uso de experimentos controlados. Desse modo, ele busca teoria cada vez mais amplas, precisas, profundas, de maior grau de corroboração ,com maior poder preditivo e, talvez, mais próximas da verdade . Finalmente , a visão de ciências exposta neste trabalho pode e deve ser criticada .Novos critérios para avaliar hipóteses e teorias científicas devem (e estão sendo ) proposto. É desnecessário dizer que estes critérios, por sua vez, devem também ser criticados, visto que a ausência de discussão crítica e a aceitação passiva e dogmática de um conjunto de idéias e teorias é a não ciência, é pseudociência, enfim, a negação do espírito crítico e da racionalidade do homem. 



Estudo sobre Lakatos


CONSIDERAÇÕES SOBRE O MÉTODO

Neste roteiro é apresentado anotações sobre os modernos conceitos de ciência do filósofo  Silvio Chibeni, a destacarem-se para  esta parte dos estudos os artigos  "Concepções  de  Ciência". No seu trabalho intitulado Concepções de Ciência o filósofo oferece-nos de maneira  clara e  didática os modernos  conceitos de Ciência, os quais cito abaixo:

"Do que  vimos sobre  as  limitações das  concepções  indutivista e falseacionista de ciência,  transparece que  representam as teorias cientificas  e   suas   relações   com   a   experiência   de  modo demasiadamente simples  e  fragmentário.  A  inspeção  da natureza, gênese e  desenvolvimento das  teorias cientificas  reais evidencia que devem ser consideradas como "estruturas" complexas e dinâmicas, que  nascem  e  se  elaboram  gradativamente,  em  um  processo  de influenciação reciproca  com  a experiência,  bem  como  com outras teorias. Essa visão da ciência e  ainda suportada por argumentos de ordem filosófica e metodológica.

Se  é  verdade  que  as  teorias  cientificas  devem  apoiar-se  na experiência -  embora não  dos modos  descritos pelo  indutivismo e pelo falseacionismo -, residindo mesmo nela  a sua principal raison d'etre, não é menos verdade que  a busca, condução, classificação e analise dos dados empíricos requer diretrizes teóricas." (Obs: raison d'etre = razão de ser).

Por fim,  em contraste  com o  que propões  a visão  indutivista (e talvez  também  a  falseacionista),   as  teorias  cientificas  não se consistem de  meros aglomerados  de leis  gerais.  Devem incorporar ainda regras metodológicas  que disciplinem a  absorção de impactos empíricos desfavoráveis, e norteiem as pesquisas futuras com vistas ao seu aperfeiçoamento."

PROGRAMA DE PESQUISA

O filósofo Imre  Lakatos sistematizou  de maneira  interessante as características da  ciência  que vimos  discutindo,  introduzindo a noção de "programa cientifico de pesquisa". Iniciaremos nossa breve e simplificada exposição das idéias centrais de Lakatos recorrendo a este parágrafo do citado  livro de Chalmers (CHALMERS,  A.F. What is this Thing  called  Science? St.  Lucia,  University  of Queensland Press, 1976, p. 76):

Um "programa de pesquisa"  lakatosiano é uma  estrutura que fornece um guia para futuras pesquisas, tanto de uma maneira positiva, como negativa.  A  "heuristica  negativa"  de   um  programa  envolve  a estipulação de que  as assunções  básicas subjacentes  ao programa, que formam  o  seu "núcleo  rígido",  não devem  ser  rejeitadas ou modificadas. Esse núcleo rígido e resguardado contra falseações por um "cinturão protetor" de hipóteses auxiliares, condições iniciais, etc. A "heurística positiva" constitui-se  de prescrições não muito precisas que indicam como  o programa deve ser  desenvolvido...  Os programas  de   pesquisa   são   considerados   "progressivos"   ou "degenerantes",  conforme   tenham  sucesso,   ou  persistentemente fracassem, em levar a descoberta de novos fenômenos.

CLEO RÌGIDO
O  núcleo  rígido  (hard   core)  de  um  programa   é  aquilo  que essencialmente o identifica  e caracteriza,  constituindo-se de uma ou mais hipóteses teóricas. Eis alguns exemplos. O núcleo rígido da cosmologia aristotélica  inclui,  entre  outras,  as  hipóteses  da finitude e esfericidade do Universo, a impossibilidade do vazio, os movimentos naturais,  a incorruptibilidade  dos céus.  O  núcleo da astronomia copernicana consiste das  assunções de que  a Terra gira sobre si mesma em um dia  e em torno do Sol em  um ano, e de que os demais planetas também  orbitam o Sol.  O da  mecânica newtoniana e formado das três leis dinâmicas e da lei da gravitação universal. O da teoria especial da relatividade, o principio da relatividade e a constância da velocidade da luz; o da teoria da evolução de Darwin-Wallace, o mecanismo da seleção natural.

HEURÍSTICA NEGATIVA
Por "uma decisão metodológica de seus protagonistas" (Lakatos 1970, p. 133), o núcleo  rígido de um programa  de pesquisa e "decretado" não-refutavel. Possíveis discrepâncias com  os resultados empíricos são eliminadas pela modificação das hipóteses do cinturão protetor.
Essa regra e' a heurística negativa do  programa, e tem a função de limitar, metodologicamente, a  incerteza quanto  a parte  da teoria atingida  pelas   "falseações".   Recomendando-nos   direcionar  as "refutações"  para  as   hipóteses  não-essenciais   da  teoria,  a heurística negativa representa uma regra de  tolerância, que visa a dar uma chance para os princípios  fundamentais do núcleo mostrarem a sua potencialidade. O testemunho da historia da ciência parece de fato corroborar  essa  regra,  como vimos  nos  exemplos  que demos acima. Uma certa dose de obstinação  parece ter sido essencial para salvar nossas melhores teorias cientificas dos abundantes problemas de ajuste empírico que apresentavam quando de seu nascimento.
Lakatos reconhece, porém,  que essa  atitude conservadora  tem seus limites. Quando o programa como  um todo mostra-se sistematicamente incapaz de dar conta de fatos importantes, e de levar a predição de novos fenômenos (i.e., torna-se "degenerante"),  deve ceder lugar a um programa mais adequado, "progressivo". Como  uma questão de fato histórico, nota-se que um programa nunca  e abandonado antes que um substituto melhor esteja disponível.

HEURÍSTICA POSITIVA
A heurística  positiva de  um programa  é  mais vaga  e  difícil de caracterizar  que  a  heurística  negativa.  Segundo  Lakatos,  ela consiste "de um  conjunto parcialmente  articulado de  sugestões ou idéias de como  mudar ou  desenvolver as 'variantes  refutáveis' do programa de  pesquisa, de  como modificar,  sofisticar,  o cinturão protetor 'refutável'."  (op. cit.  p.  135) No  caso  da astronomia copernicana, por exemplo, a heurística positiva indicava claramente a  necessidade  do  desenvolvimento  de  uma  mecânica  adequada  a hipótese  da  Terra  móvel,  bem  como  de  novos  instrumentos  de observação astronômica, capazes de  detectar as previstas variações no tamanho aparente dos planetas e  as fases de Vênus, por exemplo. Assim, o telescópio foi construído algumas  décadas após a morte de Copérnico pelo seu ardente defensor, Galileu, que também principiou a criação da  nova mecânica. Esta,  a seu turno,  uma vez concebida por Newton, apontou para um imenso campo aberto, no qual se deveria buscar  uma  nova  matemática,  medidas  das  dimensões  da  Terra, aparelhos para  a detecção  da forca  gravitacional  entre pequenos objetos, etc."

     Tomando o exemplo de um dos mais bem sucedidos programas de pesquisa da Física, a Mecânica Newtoniana, vemos que possui um núcleo rígido formado pelas três leis newtonianas do movimento e pela lei da gravitação universal, que a heurística negativa do programa recomenda sejam mantidas inalteradas: eventuais discrepâncias com a experiência devem ser eliminadas através de ajustes nas hipóteses auxiliares do cinturão protetor. Esse processo ocorreu várias vezes durante o desenvolvimento do programa, como quando, no século XIX, se verificou que as previsões teóricas para a trajetória do planeta Urano conflitavam com os dados da observação astronômica; ao invés de imputar esse desvio a possível falsidade das leis do núcleo rígido, assumiu-se que deveria existir um corpo celeste desconhecido perturbando a trajetória do planeta; mais tarde, foi, de fato, observada a existência desse corpo, o planeta Netuno. Assim como nesse episódio, a conjunção das heurísticas negativa e positiva do programa newtoniano levou à inúmeros desenvolvimentos: novas teorias ópticas, novos aparelhos e técnicas de observação, criação de novos ramos da Matemática etc. A partir do início de nosso século, porém, o programa tornou-se degenerante, por motivos vários que não cabe expor aqui, vindo a ser substituído pelos programas das Teorias da Relatividade e da Mecânica Quântica.

CRITÉRIOS DE DEMARCAÇÃO

Como podemos  notar  da  citação acima,  os  modernos  conceitos de ciência, mais realistas, deixam transparecer   o caráter claramente humano da ciência, que  passa a ser  então vista como  um fruto das convicções de um grupo social (que "decreta" que o núcleo rígido de seu programa de pesquisa é não-refutável), com todo o seu conteúdo de crenças  e  des-crencas  e,  portanto,  de  subjetivismo. Enfim, assume-se claramente  a  realidade  de  que  não  existe  um método "objetivo e seguro" de se fazer ciência.

"A concepção  lakatosiana de  ciência envolve  um novo  critério de demarcação entre ciência  e não-ciência.  Lembremos que  o critério indutivista considerava  cientificas  somente  as  teorias provadas empiricamente. Tal  critério  é,  como  vimos,  forte  demais:  não haveria, segundo ele, nenhuma  teoria genuinamente cientifica, pois todo conhecimento do  mundo exterior  e falível. Também  o critério falseacionista, segundo  o  qual    são  cientificas  as  teorias refutáveis,  elimina   demais:   como  nenhuma   teoria   pode  ser rigorosamente  falseada,   nenhuma   poderia   classificar-se  como cientifica.”

O critério  de demarcação  proposto  por Lakatos,  por  outro lado, adequadamente  situa  no  campo   cientifico  algumas  das  teorias unanimemente tidas  como cientificas,  como as  grandes  teorias da física. Esse critério  funda-se em duas  exigências principais: uma teoria deve, para  ser cientifica, estar  imersa em  um programa de pesquisa, e este programa deve ser  progressivo. Deixemos a Lakatos a palavra (1970,  pp. 175-6):

“Pode-se compreender  muito  pouco  do  desenvolvimento  da  ciência quando nosso paradigma de  uma porção de  conhecimento cientifico e uma teoria isolada,  como 'Todo cisne  e branco', solta  no ar, sem estar imersa em  um grande  programa de pesquisa.  Minha abordagem implica um novo critério de demarcação  entre 'ciência madura', que consiste  de  programas  de  pesquisa,  e  'ciência  imatura',  que consiste de uma colcha de retalhos de tentativas e erros ..."

"A ciência madura consiste  de programas de pesquisa  nos quais são antecipados não  apenas  fatos  novos,  mas  também  novas  teorias auxiliares;  a  ciência   madura  possui   'poder  heurístico',  em contraste com os processos  banais de tentativa  e erro." Lembremos que na  heurística positiva  de um  programa  vigoroso há,  desde o inicio, um esboço geral de como  construir os cinturões protetores: esse poder heurístico gera "a autonomia da ciência teórica".

Essa  "exigência  de  crescimento   continuo"  [progressividade  do programa] e  minha  reconstrução racional  da  exigência amplamente reconhecida  de  'unidade'  ou  'beleza'  da  ciência.  Ela  põe  a descoberto a fraqueza  de "dois" tipos  de teorização aparentemente muito diferentes  entre  si.  Primeiro,  evidencia  a  fraqueza  de programas que, como o marxismo ou o freudismo, são indubitavelmente 'unificados',  e  fornecem  um  plano  geral  do  tipo  de  teorias auxiliares que irão utilizar para a  absorção de anomalias, mas que invariavelmente criam  suas teorias  na esteira  dos fatos,  sem ao mesmo tempo anteciparem  fatos novos.  (que fatos novos  o marxismo "previu" desde,  digamos,  1917?)  Em  segundo  lugar,  ela golpeia seqüências  remendadas  de  ajustes  'empíricos'  rasteiros  e  sem imaginação, ato  freqüentes,  por  exemplo,  na  psicologia  social moderna. Tais ajustes podem,  com o auxilio  das chamadas 'técnicas estatísticas', produzir  algumas predições  'novas',  podendo mesmo evocar alguns  fragmentos  irrelevantes  de  verdade  que encerrem. Semelhantes  teorizações,  todavia,   não  possuem   nenhuma  idéia unificadora, nenhum  poder  heurístico,  nenhuma  continuidade. Não indicam nenhum programa de pesquisa, e são, no seu todo, inúteis."

CONCEPÇÃO MODERNA DE CIÊNCIA

     Fica assim apresentada uma  das concepções modernas  de ciência, as quais colocam  o  fazer  ciência  sob  uma  perspectiva  muito mais realista:  fazer  ciência  e'  uma   atividade  humana  como  outra qualquer, e como tal esta' sujeita `as convicções e julgamentos dos grupos sociais que  a realizam.  Enfim, volto  a frisar,  me parece claro que não  existe uma forma  segura e objetiva  de se extrair conhecimento cientifico mesmo a partir dos fatos. A ciência e' muito mais complexa  do  que   se  poderia   supor  a  partir   das  concepções positivistas, pois tem-se  que elaborar  teorias cientificas apesar de toda  a  subjetividade e  insegurança  intrínsecas  ao psiquismo humano.



O ESPIRITISMO COMO CIÊNCIA

 

“O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.

Allan Kardec, Qu'est-ce que le Spiritisme, Preâmbulo.

 

CIÊNCIA DO ESPÍRITO


A  inspeção   meticulosa  e   isenta  das   origens,   estrutura  e desenvolvimento do Espiritismo  revela que  ele possui  todos esses requisitos  de  uma   ciência  genuína. Allan  Kardec admiravelmente  antecipou-se as conquistas recentes da Filosofia da Ciência, e compreendeu essa realidade. Sua visão de  ciência,  exposta  explicita  e  implicitamente  em  seus escritos, corresponde  a visão  moderna e  justa . Isso teve a  conseqüência feliz de  que, ao travar  contato com uma nova ordem  de  fenômenos,  Kardec  empregou  em  sua  investigação métodos e critérios  corretos, o  que possibilitou o  surgimento de uma verdadeira Ciência do Espírito.
O corpo teórico  fundamental do  Espiritismo encontra-se delineado em  O  Livro  dos   Espíritos.  O  exame  dessa   obra  revela  sua consistência e seu  alto grau  de coesão, uma  notável concatenação das diversas  leis,  a  amplitude  de  seu  escopo,  e  o  perfeito casamento da teoria com os fatos. Ademais, ali estão implicitamente presentes  as  diretrizes   que   nortearam   os  desenvolvimentos ulteriores das investigações espíritas.  Parte significativa desses desenvolvimentos foi,  como se  sabe,  levada a  cabo  pelo próprio Kardec,  e  se  acham  completados  nas  demais  obras  que  escreveu. Consoante  com   a   natureza   de   uma   verdadeira   ciência,  o desenvolvimento experimental  e teórico  do  Espiritismo prossegue até  hoje,   pelos   esforços   de   pesquisadores   encarnados   e desencarnados."
Contrariamente ao  que alguns  críticos mal  informados  acerca do Espiritismo e  das  teorias  cientificas  contemporâneas  alegam, o Espiritismo não conflita  com qualquer uma  das teorias cientificas maduras, quer  da Física,  quer da  Química  ou da  Biologia.  É de crucial importância  notar,  como  o  fez  Kardec, que  embora  o Espiritismo seja uma ciência, ele não  se confunde com as referidas “ciências”, do mesmo  modo como  elas não se  confundem entre  si. Os domínios de fenômenos por elas tratados  não coincidem, sendo antes complementares.

BASE EXPERIMENTAL


No caso  do  principio espírita  da existência do espírito (bem  como  de vários outros  dos  princípios  básicos  do  Espiritismo), Trata-se de um principio  pertencente a classe de princípios a  que  os  filósofos  denominam  "fenomenológicos", que estão na base do edifício do conhecimento,  dado o seu alto grau de certeza. Proposições dessa classe são, por exemplo, as de que o Sol existe, de  que  o  fogo  queima e  a  cicuta  envenena,  a  de que determinado familiar veio nos  visitar no dia tal  e nos deixou uma caixa  de   bombons,   etc.   Nestes   casos,   embora  explicações alternativas  sejam  "em  principio"  possíveis,    elas  são  tão inverossímeis  que  não  merecem  o   assentimento  de  nenhum  ser racional. Notemos que a  inferência espírita diante  de um fenômeno de efeitos  intelectuais não  difere  em nada  das  inferências que fazemos a partir  dos fenômenos  ordinários. Quando, por  exemplo, o carteiro traz a  nossa casa um  papel no qual  lemos certas frases, não nos acudira a cabeça a idéia de que elas não foram escritas por um determinado  amigo, por  exemplo, quando  relatam  fatos, contem expressões e expressam pensamentos  peculiares e íntimos. Exatamente o mesmo se da com os abundantes  e variados casos de psicografia de que todos somos testemunha. Não constitui exagero, pois, afirmar-se que a constatação cuidadosa de uns poucos casos dessa espécie (como por exemplo os que  nos tem oferecido  a extraordinária mediunidade de Chico Xavier) e suficiente para eliminar qualquer duvida.
Como se  isso não  bastasse,  a base  experimental  do Espiritismo incorpora  ainda  muitos   outros  tipos   de  fenômenos,   como  a psicofonia,  a  xenoglossia,   as  materializações,   os  casos  de vidência, a  pneumatografia  e a  pneumatófonia,  etc.  Alem desses fenômenos, que  formam  uma  classe  especifica,  a  dos  fenômenos espíritas, o Espiritismo  apóia-se também, em  virtude de oferecer-lhes  explicações  cientificas,   em  uma   multidão  de  fenômenos ordinários. Referimo-nos,  por  exemplo,  as  nossas  inclinações e sentimentos, as  peculiaridades  de  nosso  relacionamento  com  as pessoas que  nos  cercam, aos  acontecimentos  marcantes  de nossas vidas, aos distúrbios da personalidade, aos efeitos psicossomáticos, aos sonhos, a evolução das espécies e das civilizações, etc.

O ESPIRITISMO É CIENTÍFICO


Evidentemente, o estatuto científico de uma teoria não pode ser decidido através da mera deliberação de se definir como uma "ciência". Esse atributo é inerente à natureza intrínseca da teoria, e não à denominação que se lhe dê. A tarefa de determinar quais as características de uma teoria são necessárias e suficientes ao seu enquadramento na categoria de ciência cabe à sub-área da Filosofia intitulada Filosofia da Ciência. Essa disciplina, assim como outros ramos do saber, vem evoluindo constantemente. Em seu caso específico, progressos essenciais ocorreram no século XX, e , mais acentuadamente, a partir da década de 60. Os trabalhos de vários filósofos, entre os quais Karl Popper, Willard Quine, Thomas Kuhn, Paul Feyerabend e Imre Lakatos, evidenciaram graves problemas na concepção de ciência que prevaleceu durante séculos, e ainda hoje é muito freqüente encontrar-se entre os não filósofos.
Muito simplificadamente, poderíamos dizer que pelo menos desde o surgimento da ciência moderna, por volta do século XVII, acreditava-se que a Ciência consistia na catalogação neutra de um grande número de "fatos", dos quais então resultariam, de maneira "espontânea", certa e infalível, as leis gerais que o regem; a reunião de tais leis constituiria então uma teoria científica.
Conforme mencionamos, essa visão "clássica" de ciência mostrou-se insustentável. Percebeu-se que a descrição, busca e classificação dos fatos necessariamente envolve pressuposições teóricas de um tipo ou de outro; que nenhuma lei teórica pode resultar lógica e infalivelmente de um conjunto de fatos, qualquer que ele seja; que uma teoria científica não é um simples amontoado de leis, sendo, antes, uma estrutura dinâmica complexa, na qual participam elementos de diversas naturezas, como resultados observacionais, hipóteses livremente concebidas, regras para o desenvolvimento futuro da teoria, decisões metodológicas, fragmentos de outras teorias etc.

PROGRAMA DE PESQUISA LAKATOSIANO


Imre Lakatos sistematizou as novas idéias surgidas na Filosofia da Ciência, propondo que a atividade científica desenvolve-se em torno do que denominou "programa científico de pesquisa". Um tal programa de pesquisa consiste, em termos simplificados, de um "núcleo rígido" de hipóteses teóricas básicas, suplementado por um "cinturão protetor" de hipóteses auxiliares, que serve para ligar e ajustar o núcleo aos fenômenos de que a ciência trata. A cada programa ainda estão associadas duas "heurísticas", uma "negativa", que é a decisão metodológica de se manter inalteradas as hipóteses do núcleo, e outra "positiva", que é um conjunto de sugestões ou idéias de como mudar ou desenvolver o cinturão protetor de modo que o programa dê conta de novos fenômenos e explique os já conhecidos de maneira mais precisa. Um programa de pesquisa é dito "progressivo" caso leve sistematicamente à descoberta de novos fatos, que sejam por ele explicados; caso contrário, será dito "degenerante".

O Espiritismo traz em si todas as características de um programa de pesquisa progressivo, sendo, portanto, genuinamente científico, segundo o critério lakatosiano.

Possui um núcleo rígido formado pelo:

·         princípio da existência de uma "inteligência suprema, causa primária de todas as coisas", dotada da suprema justiça e bondade;
·         pela lei de causa e feito;
·         pela imortalidade dos seres vivos;
·         por sua evolução ilimitada;
·         pela existência do livre arbítrio, a partir de determinado estágio evolutivo.

     Desse núcleo pode-se, com o auxílio da lógica ("raciocínio") e de assunções auxiliares, deduzir ("explicar") a infinidade de fenômenos de que trata o Espiritismo: os fenômenos mediúnicos e anímicos, a evolução dos seres, seus estados psicológicos, sua condição após a morte etc. Todos esses fato, analisados extensiva e objetivamente pelo Espiritismo, embasam e sancionam o corpo de seus princípios teóricos; este, a seu turno, concatena, torna inteligíveis, explica aqueles fatos.

PERSPECTIVAS DA CIÊNCIA ESPÍRITA


Com a  lucidez cientifica  que lhe  era peculiar,  Allan Kardec apontou diretrizes seguras para o desenvolvimento do Espiritismo. De um lado,  temos suas análises  que advertem contra  os métodos e procedimentos anti-científicos que  poderiam embaraçar  a marcha do Espiritismo, ou seja 1) preconceitos e interesses diversos; e 2) falta de um corpo teórico que norteie a pesquisa experimental.
Kardec legou-nos investigações paradigmáticas sobre os tópicos mais fundamentais  da ciência espírita,  que serviram de modelo pra  os  pesquisadores  que vieram  após  ele,  e  que devem continuar desempenhando essa tarefa nas pesquisas futuras. Simplificadamente, poderíamos classificar assim as áreas principais de investigação espírita:

1) Evolução do espirito: o elemento espiritual dos seres dos reinos inferiores;   origem   dos   espíritos    humanos;   encarnação   e reencarnacao; pluralidade dos mundos habitados;
2) O mundo espiritual;
3) Interação espirito-corpo:  perispirito, efeitos psicossomáticos, mediunidade;
4) Implicações morais  (uma área  cientifica e  filosófica): livre-arbítrio, lei de causa e efeito.

Note-se que  não incluímos  o tópico  "comprovação da  existência do espírito". A  razão  e'  evidente:  trata-se  de  uma  questão  já resolvida, na qual não  devem as investigações  estacionar. Foi uma etapa preliminar, e quem  não a percorreu não  pode, em boa lógica, pretender-se "espírita", ou estar realizando pesquisas "espíritas".
E'  de  lamentar  que  tal  fato   nem  sempre  seja  percebido  ou compreendido por pessoas  que militam dentro  das próprias fileiras espíritas. Os espíritas, para quem a  existência do espírito e' uma realidade  insofismável,  por  a  havermos  constatado  através  de observações e  argumentos  racionais,  devemos  deixar  aqueles que ainda não a  reconheceram a tarefa  de prová-la uma  vez mais, pela maneira que bem entendam. Mas não  devemos empenhar nossos esforços em uma  investigação redundante,  e  que deporia  contra  as nossas próprias convicções.

ANTECIPAÇÕES DE KARDEC


Allan Kardec percebeu, em admirável antecipação às conquistas recentes da Filosofia da Ciência, a importância fundamental dessa "simbiose" entre fenômeno e teoria, e expendeu extensos comentários sobre ela em várias de suas obras. Os três capítulos iniciais da primeira parte de O Livro dos Médiuns, por exemplo, são uma obra prima de argumentação filosófica que, embora visando à elucidação de uma questão ligeiramente diferente, contém valiosos elementos relevantes ao assunto que estamos analisando. Comecemos por estas considerações do Parágrafo 19:

“É crença geral que, para convencer, basta apresentar fatos. Esse, com efeito, parece o caminho mais lógico. Entretanto, mostra a experiência que nem sempre é o melhor, pois que a cada passo se encontram pessoas que os mais patentes fatos absolutamente não convenceram. A que se deve atribuir isso? É o que vamos tentar demonstrar. “

No Parágrafo 29 Kardec volta ao ponto:

“Podemos dizer que, para a maioria dos que não se preparam pelo raciocínio, os fenômenos materiais quase nenhum peso têm. Quanto mais extraordinários são esses fenômenos, quanto mais se afastam das leis conhecidas, maior oposição encontram e isto por uma razão muito simples: é que todos somos naturalmente a duvidar de uma coisa que não tem sanção racional. Cada um a considera de seu ponto de vista e a explica a seu modo [...]. “

Essa "sanção racional" é a que advém da explicação dos fatos através da teoria. No Parágrafo 34, após ressaltar a importância dos fatos na fundamentação da teoria, Kardec considera, por outro lado, que de dez pessoas novatas que assistam a uma sessão de experimentação espírita "nove sairão sem estar convencidas e algumas mais incrédulas do que antes, por não terem as experiências correspondido ao que esperavam". Prossegue então Kardec:
O inverso se dará com as que puderem compreender os fatos, mediante antecipado conhecimento teórico. Paras estas pessoas, a teoria constitui um meio de verificação, sem que coisa alguma as surpreenda, nem mesmo o insucesso, porque sabem em que condições os fenômenos se produzem e que não se lhes deve pedir o que não podem dar. Assim, pois, a inteligência prévia dos fatos não só as coloca em condições de se aperceberem de todas as anomalias, mas também de apreenderem um sem número de particularidades, de matizes, às vezes muito delicados, que escapam ao observador ignorante.
Considerações interessantes nesse mesmo sentido encontram-se também em O que é o Espiritismo. No diálogo com o Crítico (Cap. I, Primeiro Diálogo) Kardec pondera, em resposta à solicitação que este lhe faz de permissão para assistir a algumas experiências:

 “E julgais que isto vos baste para poder, ex professo, falar de Espiritismo? Como poderíeis compreender essas experiências e, ainda mais, julgá-las, quando não estudaste os princípios em que elas se baseiam? Como apreciaríeis o resultado, satisfatório ou não, de ensaios metalúrgicos, por exemplo, não conhecendo a fundo a metalurgia? “

Mais adiante, no diálogo com o Céptico (Cap. I, Segundo Diálogo, seção "Elementos de convicção") Kardec coloca a questão em termos explícitos:

“Há duas coisas no Espiritismo: a parte experimental das manifestações e a doutrina filosófica. Ora, eu sou todos os dias visitado por pessoas que ainda nada viram e crêem tão firmemente como eu, pelo só estudo que fizeram da parte filosófica; para elas o fenômeno das manifestações é acessório; o fundo é a doutrina, a ciência; eles a vêem tão grande, tão racional, que nela encontram tudo quanto possa satisfazer às suas aspirações interiores, à parte o fato das manifestações; do que concluem que, supondo não existissem as manifestações, a doutrina não deixaria de ser sempre a que melhor resolve uma multidão de problemas reputados insolúveis.
Quantos me disseram que essas idéias estavam em germe no seu cérebro, conquanto em estado de confusão. O Espiritismo veio coordená-las, dar-lhes corpo, e foi para eles como um raio de luz. É o que explica o número de adeptos que a simples leitura de O Livro dos Espíritos produziu. Acreditais que esse número seria o que é hoje, se nunca tivéssemos passado das mesas girantes e falantes ? “

A primeira sentença que destacamos revela uma vez mais que Kardec localizava o caráter científico do Espiritismo na "doutrina", na sua "parte filosófica", que, no contexto de nossa análise, deve ser entendido como aquilo a que vimos denominando "teoria". Os fatos em si não constituem a ciência.
Nosso segundo destaque mostra que Kardec já entendia o papel da teoria como dando "corpo", ou seja, coesão, inteligibilidade, aos fenômenos, que é a tarefa que Lakatos atribui aos princípios teóricos do programa de pesquisa, notadamente os de seu núcleo rígido.

CIÊNCIA   X   ESPIRITISMO


Três outros aspectos importantes no desenvolvimento do Espiritismo foram enfatizados por Kardec. No item VII da  Introdução de O Livro  dos Espíritos, Kardec afirma que "o  Espiritismo não  e' da  alçada da  ciência". Evidentemente, trata-se aqui  das  ciências  acadêmicas, ou  seja,  da  Física, da Química e da Biologia. O argumento para tal assertiva baseia-se nas peculiaridades do objeto de  estudo e métodos do  Espiritismo e das referidas ciências, assunto este tratado acima. Vale a pena reproduzir  aqui, por  sua  propriedade, o  arrazoado  que, no texto, antecede a assertiva em questão:
As ciências ordinárias assentam  nas  propriedades da matéria, que se pode experimentar e manipular livremente. Os fenômenos espíritas repousam na ação de inteligências dotadas  de vontade própria e que nos provam a cada  instante não se acharem  subordinadas aos nossos caprichos. As observações não podem, portanto,  ser feitas da mesma forma; requerem  condições  especiais  e  outro  ponto  de partida. Querer  submetê-las  aos   processos  comuns   de  investigação  é estabelecer analogias que não existem. A ciência propriamente dita, é, pois, como ciência, incompetente para  se pronunciar na questão do Espiritismo: não tem que se ocupar com isso, e qualquer que seja o seu julgamento, favorável ou não, nenhum peso poderá ter.”
As relações  entre  o  Espiritismo e  as  ciências  ordinárias são, antes, de complementaridade, como também notou Kardec. No parágrafo 16 do Capitulo I de A  Gênese, lemos a seguinte  frase, ao final de uma extensa argumentação:  "O Espiritismo e  a ciência completam-se reciprocamente".
O segundo aspecto importante  a ser notado  liga-se parcialmente ao precedente: Kardec  observa  que  não  apenas  existe  uma relativa autonomia entre o Espiritismo e as  ciências ordinárias como também os cientistas das academias  não estão, pelo simples  fato de serem cientistas, mais  capacitados  do  que as  demais  pessoas  para se pronunciar nas  questões  relativas ao  Espiritismo.  O  assunto e' abordado, entre outros lugares, em uma  das respostas ao Céptico de O que e' o Espiritismo (Cap. I, Segundo dialogo, seção "Oposição da ciência"). Vejamos estes trechos significativos:

"Concordai, também, que ninguém pode ser  bom juiz naquilo que esta fora de sua competência. Se quiserdes edificar uma casa, confiareis esse trabalho  a  um  musico?  Se  estiverdes  enfermo, far-vos-eis tratar por um arquiteto?  Se estais a braços  com um processo, ides consultar um dançarino? Finalmente, quando se  trata de uma questão
de teologia,  alguém ira  pedir  a solução  a  um químico  ou  a um astrônomo? Não; cada um em sua especialidade. (...)"
"A ciência enganou-se quando quis experimentar  os Espíritos como o faz com  uma  pilha voltaica;  foi  mal sucedida,  como  devia ser, porque agiu pressupondo uma analogia que  não existe; e depois, sem ir mais longe, concluiu  pela negação, juízo temerário  que o tempo se encarrega de ir emendando diariamente,  como já o fez com tantos outros. (...)"
"As  corporações   cientificas  não   devem,  nem   jamais  deverão pronunciar-se nesta questão; ela  esta tão fora dos  limites do seu domínio como a de decretar se Deus existe ou não; e', pois, um erro tomá-las aqui por juiz."

Kardec lembra aqui que cada um  é competente em sua especialidade, que alguém que haja se especializado no estudo de determinada ordem de fenômenos materiais (um físico ou  um biólogo, por exemplo), não adquire, "por esse  simples fato",  competência para  se pronunciar sobre uma ordem de fenômenos completamente  diferentes,  "a menos", obviamente, que essa pessoa tenha se dedicado séria e longamente ao seu estudo. Não devemos,  pois, cair no erro  freqüente hoje em dia de atribuir aos cientistas das academias uma superioridade que eles de fato não possuem na avaliação das pesquisas espíritas.

Por  fim,  Kardec  tomou  um  extremo   cuidado  em  preservar,  e recomendar a  preservação, da  coerência e  integridade  da ciência espírita, pela não-intromissão em  sua estrutura teórico-conceitual de  elementos  heterogêneos,   oriundos  de   outros  programas  de pesquisa. Kardec  dotou  o Espiritismo  de  um  arsenal conceitual-nomológico próprio, e  qualquer desenvolvimento  da teoria espírita deve fazer-se  recorrendo-se  aos  seus  elementos,  ou,  se  algum acréscimo se  fizer  necessário,  o  elemento  adicionado  não pode conflitar com  as leis  básicas bem  estabelecidas  do Espiritismo. Notemos que  precauções  semelhantes são  tomadas  na  evolução das ciências ordinárias. No  caso do  Espiritismo, é  admirável  que ao propor o referido corpo de conceitos  e leis, Kardec teve a lucidez de   não   admitir   elementos   demasiadamente   vulneráveis   às transformações futuras das ciências. É assim  que o Espiritismo é uma teoria fenomenológica,  pelo menos em  seus fundamentos. Kardec não  se  aventurou,  por   exemplo,  a  formular   modelos  para  o perispirito, ou explicações  técnicas para  os fenômenos mediúnicos em termos de conceitos e princípios vulneráveis das ciências de seu tempo. Retrospectivamente, vemos  agora que  isso providencialmente preservou o  Espiritismo das  reviravoltas profundas  ocorridas nas ciências, durante as primeiras décadas de nosso século. Espelhando-nos na  atitude prudente  de Kardec,  não  devemos, por  nossa vez, procurar fazer  o  que ele  não  fez, e  prematuramente  associar o Espiritismo   às    teorias    cientificas  contemporâneas.    A progressividade  do  Espiritismo,   uma  de   suas  características essenciais, dado  que é  uma ciência  que se  apóia em  fatos, não significa a  absorção irrestrita  de qualquer  teoria  que apareça.
Essa advertência foi claramente exposta no parágrafo 55 do Capitulo I de A Gênese (grifamos):

"Entendendo com todos os ramos da  economia social, aos quais dá o apoio das  suas próprias  descobertas, [o  Espiritismo] assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que seja, "desde  que  hajam  atingido  o  estado   de  verdades  praticas  e abandonado o domínio da utopia", sem o que se suicidaria."





CONSIDERAÇÕES SOBRE METODOLOGIA


Os fatos espíritas  são perfeitamente  estudados via teoria cientifica (a própria Doutrina Espírita), e são genuinamente científicos. O contrario é SIM falso.  Foi dito que a `metodologia científica' exige  que  um  fato,  para  ser  cientifico  (isto é, analisável via ciência), necessita ser  universal, quer dizer, seja reprodutível até  a exaustão  por qualquer  cientista,  a qualquer momento  e  em  qualquer  parte  do  mundo  (implicitamente  também acrescente, reprodutível  em  laboratório...). Essa  idéia  foi, na verdade, criada  por  conveniência  para não  se  estudar  os fatos espíritas. Esses fatos, por  si só, são  suficientes para provocar uma revisão  profunda na  idéia que  se  tem em  geral do  mundo, e aqueles que  não  estão  dispostos a  fazer  tal  revisão  lançam e lançaram mão  de  diversos  argumentos, desde  a  negação  pura dos fatos, os  argumentos de  charlatanismo e  truque,  até argumentos aparentemente mais  sofisticados  como esse.  Uma  simples analise, porem, mostra sua fraqueza:

- Por acaso a  Meteorologia e' feita de  fenômenos repetitiveis por qualquer um,  sob as  condições exigidas  pelo  `método cientifico' proposto  por  tal   argumento?  Alguém     pode  reproduzir  em laboratório uma tempestade ou um furacão?  Será que a Meteorologia não é feita de  fatos científicos e, consequentemente,  não e' uma ciência?

-  Alguém    viu  em  laboratório  experimentos  em  colisão  de galáxias? Será que  já se conseguiu  reproduzir,  a  vontade, a explosão do  Big Bang  ? Será'  que  a Cosmologia  não  e' ciência? Percebam que a simulação por computadores  é possível, mas isso é pura teoria!

- Em  1987  houve a  explosão  de uma  estrela  próxima,  dentro da galáxia.   Os   astrônomos   e   astrofísicos   montaram   diversos experimentos para a medição da variação  do fluxo de neutrinos pela explosão. Muitas conclusões perfeitamente  cientificas e aceitáveis foram tiradas, sobre um fenômeno  absolutamente incontrolável e que ocorreu uma só vez!! Só' Deus sabe quando ocorrera' novamente.

- Alguém  já' presenciou  inumares  vezes o  aparecimento  de novas espécies de animais e  plantas (grandes taxas)?  Entretanto a teoria da evolução das  espécies e tomada  em alto conceito,  e repousa em grande  parte  sobre  observação  e  analise  de  eventos  passados (incontrolaveis...), vindas da Paleontologia.

Se fossemos  usar  tal  metodologia  cientifica  de  limitação  dos estudos a apenas os fenômenos reprodutíveis facilmente por qualquer um, muito  diversa  seriam  as  ciências,  e  muita  gente  estaria desempregada.  Os  meteorologistas,   astrofísicos,  cosmologistas, evolucionistas e paleontólogos aplaudiriam com prazer os dizeres de Kardec quanto  aos  fenômenos  espíritas que  se  aplicam  também a muitos fenômenos  materiais: "...  não se  produzem à vontade; é necessário que os colhamos  de passagem, é observando  muito e por muito tempo  que se  descobre uma  porção de  provas que  escapam a primeira vista, sobretudo, quando não se está familiarizado com as condições em que se  pode encontrá-los, e ainda  mais quando se vem com o espírito prevenido"  ( O que e'  Espiritismo, 15a resposta ao critico, Cap  I, 1o  dialogo). De  acordo  com (1)  vemos  que essa pretensa metodologia  faz  parte  de  uma  doutrina  epistemologica bastante antiga, o  Indutivismo, que, por  diversos argumentos pode ser mostrada como sendo insatisfatória e  como fazendo parte de uma noção idealizada  de  ciência,  contraria  ao  que  se  constata na Historia da Ciência, e ao próprio  `motus operandi' das ciências em si. Vejamos agora os fatos espíritas. Tomemos o exemplo da psicografia. E' certo  que  o  fenômeno completo  não  pode  ser  reproduzido à vontade  como  se  faz  evaporar  a   água  por  aquecimento.  Mas, convenhamos, é um fenômeno relativamente controlável. Por exemplo, tendo-se bem claro em mente os mecanismos e forcas envolvidas nesse fenômeno, é  possível enfraquecê-lo  ou fazê-lo  inatuável. Kardec enfatizou muito  bem a  relevância de  certos fatores  morais, tais como o tipo de concentração dos presentes na sala onde se realiza a sessão, o  tipo  de  vibração presente  e  a  intenção  com  que se pretende  observá-lo,   que   podem   ter   papel   fundamental  no desenvolvimento dos fatos psicográficos. Está claro que o controle é muito maior do que no caso  da explosão de uma estrela distante, os mecanismos de  especificação na teoria de  Darwin. Alem disso é um  fenômeno  que   sensibiliza  diretamente   os  nossos  sentidos ordinários, quer  dizer,  nos  não  precisamos  de  aparelhos  para observá-lo (embora alguns pretendem usar  aparelhos...). Em suma e' um fenômeno de impossível contestação racional.
Houveram  no  passado  muitos   médiuns  que  produziram  fenômenos extraordinários. Maior  foi o  numero dos  sábios que  não quiseram ver. Tudo isso por  que o estudo  da teoria é  de fato fundamental para que  haja  boa  ciência.  É  necessário  estudarmos  para avaliarmos todas  as  suas  conseqüências,  e  possíveis aplicações futuras. É necessário  estudarmos a  Doutrina Espírita com  zelo e profundidade para talvez  descobrirmos que  ela já nos  responde a muitas coisas, não e' necessário  buscar em complicações adicionais e  argumentos  rebuscados,  que  passam  por   toda  uma  trama  de argumentos e  fenômenos para  nos certificarmos  das  realidades do espírito. A  simplicidade  deve  sempre ser  buscada.  Essa  é, na verdade, a assinatura de toda grande  teoria cientifica. As teorias da Física  demonstram  esse  fato;  elas  são  impressionantemente simples em  suas estruturas,  belas em  sua  descrição do  mundo de fenômenos próprios. Assim  também e'  o Espiritismo.  O Espiritismo tem um  caráter progressivo,  isto e',  ele  aceita os  cânones das ciências ordinárias quanto aos fenômenos  materiais. Eu acredito que ele é a expressão máxima que  podemos vislumbrar de uma teoria que nos explique  o mecanismo  das forcas  espirituais.  Ha' certamente muitas coisas que não  sabemos sobre essas forcas,  mas nosso nível evolutivo não permite que uma revolução  cientifica se instale nele aponto de  modificar a  maneira atual  de entendermos  e aceitarmos seus princípios. Nisso não há dogmatismo,  se assim fosse todos os cientistas  seriam  dogmáticos,  porque  eles  não  abandonam  seus princípios por  qualquer  fenômeno anômalo  que  se  apresente; há inumeráveis exemplos dentro da Historia das Ciências. Uma revolução cientifica dentro do Espiritismo ainda está para acontecer, depois que tivermos progredido  muito moralmente, e  tivermos estudado com imparcialidade seus ensinos com respeito ao  mundo e meditarmos com profundidade nas conseqüências desses mesmos ensinos.


O OBJETIVO DO ESPIRITISMO


Não poderíamos encerrar  estes apontamentos sem  mencionar um ponto de crucial  importância,  sobre o  qual  Kardec não  se  cansava de insistir: O objetivo  essencial do  Espiritismo é tornar  melhor o homem, convencendo-o, através dos fatos e  da razão, de que somente o comportamento evangélico  lhe assegurará  um porvir feliz.  E é nessa tarefa de esclarecimento que a  ciência espírita é chamada a desempenhar a  sua  mais  importante  tarefa,  conforme  lemos  nos comentários que  o Codificador  tece as  Questões 147  e 148  de "O Livro dos Espíritos":

"A missão do  Espiritismo consiste  precisamente em  nos esclarecer acerca desse futuro, em fazer com que, até certo ponto, o toquemos com o dedo  e o  penetremos com o  olhar, não  mais pelo raciocínio somente, porem pelos fatos. Graças  às comunicações espíritas, não se trata mais de uma simples  suposição, de uma probabilidade sobre a qual cada  um conjeture à  vontade, que os  poetas embelezem com suas fiches, ou  cumulem de  enganadoras imagens alegóricas.  É a realidade que nos aparece, pois que  são os próprios seres de além-túmulo que nos vem descrever a situação  em que se acham, relatar o que fazem,  facultando-nos assistir,  por assim  dizer, a  todas as peripécias da nova  vida que  lá vivem  e mostrando-nos,  por esse meio a sorte inevitável  que nos esta reservada,  de acordo como os nossos méritos  e deméritos.  Haverá  nisso alguma  coisa  de anti-religioso? Muito ao contrario, porquanto os incrédulos encontram ai a fé  e  os  tíbios  a  renovação  do  fervor  e  da  confiança. O Espiritismo é, pois, o  mais potente auxiliar da  religião. Se ele aí está, é porque Deus o permite, e o permite para que as nossas vacilantes esperanças se revigorem e  para que sejamos reconduzidos à senda do bem pela perspectiva do futuro."



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