Comumente, escutamos certas pessoas citando o Velho Testamento, aludindo a tão propalada proibição de Moisés a respeito da conversação dos homens com os espíritos desencarnados.
Tais indivíduos, de maneira velada ou mesmo diretamente, esboçam o intuito primordial de estarem criticando a fé espírita ou àquelas pessoas que possuem dons mediúnicos mais desenvolvidos, no entanto, alguns outros parecem realmente crer que tem muito fundamento o que dizem.
Consultemos os textos sagrados:
“Não é permitido entreter relações com eles (os Espíritos), seja imediatamente, seja por intermédio dos que os evocam e interrogam. A lei mosaica punia os gentios. Não procureis os mágicos, diz o Levítico, nem procureis saber coisa alguma dos adivinhos, de maneira a vos contaminardes por meio deles. (Cap. XIX, v. 31.) Morra de morte o homem ou a mulher em quem houver Espírito pitônico; sejam apedrejados e sobre eles recaia seu sangue. (Cap. XX, v. 27.) O Deuteronômio diz: Nunca exista entre vós quem consulte adivinhos, quem observe sonhos e agouros, quem use de malefícios, sortilégios, encantamentos, ou consultem os que têm o Espírito pitônico e se dão a práticas de adivinhação interrogando os mortos. O Senhor abomina todas essas coisas e destruirá, à vossa entrada, as nações que cometem tais crimes.” (Cap. XVIII, vv. 10, 11 e 12.).
Refletimos, porém, que o Deuteronômio foi escrito em torno do ano de 1473 a.C, ou seja, há séculos e séculos.
E por acaso não progredimos espiritualmente, desde então? Será que novas revelações não nos foram feitas com o decorrer de tanto tempo?
E ademais, se de fato existiu uma proibição neste sentido só serve para reafirmar sobre o que já sabíamos, a respeito da veracidade em torno da comunicação com os considerados mortos.
Tal impedimento não foi promulgado nos “Dez Mandamentos”; portanto, consideramos que Moisés julgou conveniente fazer uso de tal recurso na época, assim como fez com a lei do “olho por olho, dente por dente”.
Todavia, recordamos que os espíritos de Moisés e de Elias apareceram ao Cristo no Monte Tabor (Mateus 17, 1-3; Marcos 9, 2-4 e Lucas 9, 28-32).
Não seria uma tremenda incongruência a do legislador hebreu em burlar a própria norma?
Ora, compreendemos que naqueles tempos eram outras as necessidades que motivavam as Leis, assim como no dia de hoje é outra a capacidade de compreensão que muitos de nós temos a respeito das coisas do espírito.
E através desta simples constatação encontrada no Novo Testamento, em três diferentes Evangelhos, queremos dizer aos irmãos que cultivam o hábito de criticar as práticas espiritistas que os espíritos que se comunicam em nossas reuniões não são demônios.
Naturalmente, há inúmeros espíritos sofredores que frequentam as reuniões que participamos, especialmente, em torno da denominada “desobsessão”, com o objetivo precípuo de serem amparados e esclarecidos a respeito da própria situação.
Porém, mesmo dentro desta plêiade de almas sofredoras encontramos espíritos que têm a nos ensinar, pois aprendemos com o relato de suas experiências permeadas de dificuldades e padecimentos.
Por outro lado, é evidente que há amplo número de instrutores ou espíritos esclarecidos a nos orientarem em nossas atividades.
Encontram-se equivocados, no nosso singelo ponto de vista, todos àqueles que imaginam que somos nós, os encarnados, os principais dirigentes das reuniões mediúnicas que freqüentamos.
Chico Xavier, fenômeno humano e mediúnico, costumava dizer o seguinte: “O telefone só toca de lá para cá”.
Concluindo, dentro do limitado entendimento que obtemos, tanto a Bíblia como os preceitos do Espiritismo tiveram e permanecem tendo a intenção de proibir o comércio dos dons mediúnicos, para que os indivíduos portadores de certas faculdades não se percam no caminho, preocupando-se em enriquecer de maneira ilícita, fazendo do intercâmbio com os espíritos uma profissão remunerada, em benefício do próprio bolso.
Thiago Silva Baccelli é orador espírita, psicólogo clínico e graduado em Direito
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